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R$ 15

P. 44 COMO OS NOSSOS "LIKES"


SERÃO USADOS NA ELEIÇÃO
DOSSIÊ
HOLLYWOOD
EDIÇÃO

319
Vertical H

P. 64 FALTA DE VERBA E MÁ GESTÃO


AMEAÇAM PLANETÁRIOS
4,7%

P. 52 O FÍSICO BRASILEIRO QUE É EM UMA DÉCADA, SÓ 52


FILMES FORAM DIRIGIDOS EDIÇÃO DE
ESPECIALISTA EM IOGA POR MULHERES P. 23 IPAD

A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ESCREVE ARTIGOS CIENTÍFICOS P. 7 FEV. 18

O Q U E O
NADA DE MIMIMI: AS MARCAS DA PERSEGUIÇÃO SOFRIDA QUANDO CRIANÇA OU ADOLESCENTE

B U L L Y I N G

F E Z C O M
NOS ACOMPANHAM PELO RESTO DA VIDA — A CIÊNCIA JÁ PROVOU

V O C Ê ?
BEST-SELLER DO N EW YORK TI M ES

F E I T O P A R A
O LIVRO PER
OS FÃS DE Masterchef
E Sex and the City
Aos vinte e poucos anos, Tess deixa sua cidadezinha
no meio do nada para tentar a vida em Nova York.
Sem grana, sem amigos e vivendo em um quartinho
alugado, ela arruma um emprego como garçonete em
um badalado restaurante de Manhattan, abrindo
a porta de entrada para um novo mundo.

NAS LIVRARIAS E EM E-BOOK

www.globolivros.com.br
PRIMEIRAMENTE
WWW.GALILEU.GLOBO.COM
QUEM FEZ A CAPA

FOTO Julia Rodrigues


ASSISTÊNCIA Silas Aguiar
POR GIULIANA DE TOLEDO #319 02.2018 LETTERING Estúdio Rufus
MAQUIAGEM Ananda Resende
MODELO Lauro Maciel (Casa Agência)

COLABORADORES DO MÊS

Guilherme
Henrique

ILUSTRADOR
tenha passado imune por um am-
biente de humilhações. Episódios ONDE NASCEU E ONDE MORA
Curitiba (PR)
de bullying são assim: quem menos
sofre, ainda assim sofre um tanto. HISTÓRICO
Formado em Design Gráfico pela UFPR,
Como dizem os pesquisadores, também estudou em Paris na Univer-
quem observa ataques com fre- sité Panthéon-Sorbonne. Atualmente é
quência e não faz nada contra — e ilustrador freelancer. Colaborou pela
primeira vez com a GALILEU na
eu nunca fiz, provavelmente porque edição 264, em julho de 2013.
tinha medo de virar um novo alvo
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
— passa a achar que a violência é Dividir e conquistar (p. 44)
normal. É uma sentença bastante
cruel, e não custei muito a compro-
vá-la diante das minhas lembranças.
Chamei à memória o caso mais
pesado de que me lembrava e perce- Guilherme
UM DIA
bi que nem me lembrava tanto assim, Aranega
QUALQUER o que já é um forte indício dessa ba- ILUSTRADOR
nalização. Não saberia contar nem o
NO ENSINO ONDE NASCEU E ONDE MORA
ano exato do Ensino Médio em que São Paulo (SP)
MÉDIO estava. Só sei bem que o corredor
HISTÓRICO
das salas dos alunos daquela faixa de Conhecido como Guira, trabalha com
idade ficou ainda mais cheio e quen- ilustração publicitária e editorial há
te que o habitual naquele intervalo. dez anos. É cofundador do Estúdio
Rufus, onde atua como diretor de
Era uma multidão querendo: 1) criação e ilustrador desde 2014.
entender que história era aquela; 2)
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO

!
ver a cara da vítima; 3) gritar seu Letterings da capa e da reportagem
nome seguido de “punheteiro”. Fi- de capa
Aqui na redação, quei no primeiro estágio, mas mui-
A nós passamos as tos estavam no segundo e/ou no
PAUSA
Na edição
últimas semanas terceiro. O menino em questão, que anterior,
respondendo men- até então eu nem conhecia, havia recomendamos
talmente — e de- caído no golpe de um colega que se
vivamente Leonardo
pois, no caso de alguns, em voz alta
o trabalho Yorka
passara por uma garota em um chat. de Aziz
e diante das câmeras, como vocês O vídeo dele nu tinha se espalhado. Ansari como ILUSTRADOR
poderão ver a partir da página 31 pesquisador
E o que aconteceu depois? Nos úl- ONDE NASCEU E ONDE MORA
do amor em
— à pergunta que se tornou o título timos dias, recorri aos meus amigos Curitiba (PR)
tempos digitais.
da reportagem de capa deste mês. mais próximos para saber que fim Em janeiro,
HISTÓRICO
“O que o bullying fez com você?” porém, ele foi
levou o sujeito, mas ninguém lembra Estuda design gráfico na UFPR e
acusado de
Minha conclusão particular, após — e agora já não acho que seja uma divide o tempo entre artes plásticas
abuso sexual
pensar nos meus anos de escola, foi e design, com foco em ilustração.
falha de memória qualquer. por uma garota
Já participou de exposições coletivas,
que me enquadro no que os espe- com quem
realizou outras individuais e ilustrou
saiu. Ele pediu
cialistas chamam de plateia. Não projetos publicitários e editoriais.
desculpas
era agressora, não era agredida, Giuliana de Toledo — Editora-chefe publicamente. O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
mas nem por isso posso dizer que gtoledo@edglobo.com.br Ilustrações do Antimatéria (p. 7)
COMPOSIÇAO
FEVEREIRO DE 2018

ANTIMATÉRIA MATÉRIAS

P.15 COLUNA
CONEXÕES CÓSMICAS

P.16 LUNETA
ASSIM NASCE UM SATÉLITE

P.19 TECHTUDO
ESCOLHA BEM SEU CELULAR

P.31 O QUE O BULLYING


FEZ DE VOCÊ?

P.07 INTELIGÊNCIAARTIFICIAL P.44 COMO O BIG DATA VAI


ESCREVE ARTIGOS MOLDAR AS ELEIÇÕES

P.11 MERCADO DE STARTUPS DE P.52 ENTREVISTA


MACONHA CRESCE NO BRASIL ROBERTO MARTINS
P.21 SÉRIE CONTA HISTÓRIA
DOS TEMPLÁRIOS

P.22 MAPA MENTAL


CULTURA AFRICANA

P.56 ENSAIO
P.12 ESPÉCIES ANTIGAS DE RESERVA DO ARVOREDO
MILHO VOLTAM A BROTAR
P.64 PLANETÁRIOS SOFREM
COM POUCOS RECURSOS

P.71 COLUNA
TUBO DE ENSAIOS
UM GIGANTE
Visitamos
fábrica na
P.72 PANORÂMICA
Europa para

P.13 GEL À BASE DE SOJA P.23 DOSSIÊ


conhecer
processo de
PODE PREVENIR O HIV HOLLYWOOD construção P.74 ULTIMATO
CONSELHO
Edição 318
DIRETOR GERAL: Frederic Zoghaib Kachar
DIRETOR EDITORIAL: Fernando Luna
DIRETOR DE AUDIÊNCIA: Luciano Touguinha de Castro
Janeiro de 2018
DIRETORA DE MERCADO ANUNCIANTE: Virginia Any

POR GIULIANA DE TOLEDO

DIRETORA DO GRUPO CASA E JARDIM, CRESCER, GALILEU, MONET


E TECHTUDO: Daniela Tófoli NAMORO OU
REDAÇÃO AMIZADE?
DIRETOR DE REDAÇÃO: Luís Alberto Nogueira
EDITORA-CHEFE: Giuliana de Toledo
EDITOR DE ARTE: Felipe Eugênio (Feu)
EDITORES: Nathan Fernandes e Thiago Tanji
REPÓRTERES: A. J. Oliveira, Felipe Floresti e Isabela Moreira
DESIGNERS: May Tanferri e Mayra Martins O ano começou com edição dedicada ao amor (e seus
ESTAGIÁRIAS: Larissa Lopes e Vitória Batistoti (texto); Thaís Solano (arte)
percalços), mas também a questões urgentes de violência,
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Carol Castro, Isadora Díaz, Leandro Saioneti,
Marília Marasciulo, Nathalia Fabro e Thássius Veloso (texto); Ana Matsusaki,
saúde e educação. Apaixonamos os conselheiros ou não?
Ananda Resende, Barlavento Estúdio, Estúdio Rufus, Helena Sbeghen, Guilherme
Henrique, Julia Rodrigues, Leonardo Yorka, Raphaela Martins e Silas Aguiar (arte);
Monique Murad Velloso (revisão)
ERA AMOR…
E-MAIL DA REDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br VEJA NO RANKING QUAIS FORAM OS CONTEÚDOS DE QUE ELES MAIS GOSTARAM

ESTRATÉGIA DIGITAL
COORDENADOR: Santiago Carrilho
DESENVOLVEDORES: Alexsandro Macedo, Fabio Marciano, Fernando Raatz, Leandro
Paixão, Marden Pasinato e William Antunes.

ESTRATÉGIA DE CONTEÚDO DIGITAL


GERENTE: Silvia Balieiro
Parabéns a toda a equipe por essa
MERCADO ANUNCIANTE 1º reportagem, que sem sensaciona-
TECNOLOGIA, TI, TELECOM, ELETROELETRÔNICOS, COMÉRCIO E VAREJO — Gerente de Negócios
Multiplataforma: Ciro Horta Hashimoto; Executivos Multiplataforma: Christian Lopes Hamburg,
Marcas da lismo demonstrou como é triste a
Cristiane de Barros Paggi Succi, Jessica de Carvalho Dias e Roberto Loz Junior. BENS DE CONSUMO, violência vida de uma região dominada pela
ALIMENTOS E BEBIDAS, MODA E BELEZA, ARQUITETURA E DECORAÇÃO — Diretora de Negócios violência e pelo tráfico.
Multiplataforma: Selma Souto; Executivos Multiplataforma: Eliana Lima Fagundes, Fátima Regina
Ottaviani, Giovanna Sellan Perez, Paula Santos Silva e Selma Teixeira da Costa. MOBILIDADE,
SERVIÇOS PÚBLICOS E SOCIAIS, AGRONEGÓCIOS, INDÚSTRIA, SAÚDE, EDUCAÇÃO, TURISMO, ÍTALLO SANTANA
CULTURA, LAZER, ESPORTE — Diretor de Negócios Multiplataforma: Renato Augusto Cassis Si-
niscalco; Executivos Multiplataforma: Cristiane Soares Nogueira, Diego Fabiano, João Carlos Meyer
Paripiranga, BA
e Priscila Ferreira da Silva; Diretora de Negócios Multiplataforma: Sandra Regina de Melo Pepe;
Executivos Multiplataforma: Dominique Pietroni de Freitas e Lilian de Marche Noffs. FINANCEIRO,
LEGAL, IMOBILIÁRIO — Diretorde Negócios Multiplataforma: Emiliano Morad Hansenn; Executivos Reportagem excelente e muito
Multiplataforma: Ana Silvia Costa e Milton Luiz Abrantes. 2º necessária, ainda mais no atual
ESCRITÓRIOS REGIONAIS — Diretora de Negócios Multiplataforma: Luciana Menezes Pereira;
Gerente Multiplataforma: Larissa Ortiz. RIO DE JANEIRO — Gerente de Negócios Multiplataforma: Dossiê Pele momento, em que as temperaturas
Rogerio Pereira Ponce de Leon; Executivos Multiplataforma: Daniela Nunes Lopes Chahim, Juliane estão absurdas em algumas regiões.
Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos. BRASÍLIA — Gerente
Multiplataforma: Barbara Costa Freitas Silva; Executivo Multiplataforma: Jorge Bicalho Felix Junior.
OPEC OFFLINE: Carlos Roberto de Sá, Douglas Costa e Bruno Granja. OPEC ONLINE: Danilo Panzarini MARIANA BORGES
e Rodrigo Pecoschi. EGCN — Consultora de Marcas: Olivia Cipolla Bolonha. DESENVOLVIMENTO CO- São Paulo, SP
MERCIALE DIGITAL— Diretorde Desenvolvimento Comercial e Digital: Tiago Joaquim Afonso. G.LAB:
Caio Henrique Caprioli e Lucas Fernandes. EVENTOS: Daniela Valente. PORTFÓLIO E MERCADO:
Rodrigo Girodo Andrade. PROJETOS ESPECIAIS: Luiz Claudio dos Santos Faria e Guilherme Iegawa.
Eu queria um botão de curtir para
AUDIÊNCIA

cada ilustração da reportagem.
Diretor de Marketing Consumidor: Cristiano Augusto Soares Santos Pós-graduação
Diretor de Planejamento e Desenvolvimento Comercial: Ednei Zampese Elas representam fielmente as
Coordenadores de Marketing: Eduardo Roccato Almeida e Patricia Aparecida Fachetti da depressão
sensações da pós-graduação.

LARISSA FEREGUETTI
Belo Horizonte, MG
Galileu é uma publicação da EDITORA GLOBO S.A. — Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar,
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Dinap — Distribuidora Nacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda. — Av. Marcos
Penteado de Ulhoa Rodrigues, 700, Tamboré, Santana de Parnaíba/SP, CEP 06543-001 Tema pertinente. Para mim,
enquanto pessoa que conheceu um

amorzão à moda antiga, foi bastan-
ATENDIMENTO AO ASSINANTE
Poxa, crush
te instrutivo. Gostei da abordagem
Disponível de segunda a sexta-feira, das 8 às 21 horas; sábados, das 8 às 15 horas. crítica do tema também.
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Papo cabeça
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O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de
Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário
compreensão.” to batido.”
de Gases de Efeito Estufa — Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de
erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE sobre
o período de referência para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a
NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
GERALDO PEREIRA RAFAEL MUNDURUCA
Curvelo, MG São Paulo, SP
07

FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS

ANTI-
MATÉ-
RIA

Fig. LY

EDIÇÃO ILUSTRADORES CONVIDADOS

02.2018 CAROL CASTRO


DESIGN
MAYRA MARTINS
1
2
ANA MATSUSAKI (AM)
LEONARDO YORKA (LY)
08

UMROBÔNO
LABORATORIO
USO DE INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL ACABA COM
Era época de Natal na Eslovênia, em 2015, quan-
do um grupo de cientistas corria contra o tempo
para concluir a análise dos tecidos do cérebro de um

AS PARTES MAIS CHATAS feto abortado. Os pesquisadores da Universidade de


Liubliana também sequenciaram a placenta da ges-
NA HORA DE ESCREVER tante, uma eslovena que esteve no Brasil meses antes

UM ARTIGO CIENTÍFICO E e apresentara sinais de zika. No final daquele ano,


quando voltou para casa e descobriu que seu feto
A JATO
Com novo

TORNA PESQUISAS MAIS tinha malformações no cérebro, optou pelo abor-


recurso, um
trabalho que

TRANSPARENTES to. O trabalho incansável valeu a pena: os médicos


foram o primeiro grupo a apresentar evidências da
levaria até
duas semanas
para ser feito é
relação entre o vírus e a microcefalia. Tanta gente concluído em
fazia aquele mesmo estudo que, se eles tivessem de- poucas horas
POR A. J. OLIVEIRA morado alguns minutos, teriam sido ultrapassados.
09

“Usamos essa história para ilustrar CADERNO NA NUVEM


como o campo científico também está Mais de 25 mil usuários de cem países di-
mudando, como tantas pessoas estão ferentes utilizam o SciNote. O Brasil está
trabalhando com ciência e quão velo- entre as dez nações que mais empregam
zes as descobertas científicas se tor- Fig. AM
o sistema, com cerca de 500 cadastros.
naram”, aponta o biólogo molecular No final do ano passado, a USP anun-
Klemen Zupancic, CEO do SciNote, um SUPERPOP ciou medidas para disseminar boas prá-
dos maiores cadernos de laboratório ele- Criado em 2012, SciNote atrai cada ticas de pesquisa e, assim, reduzir episó-
trônico do mundo. A plataforma organi- vez mais pesquisadores dios de plágios e fraudes. Uma delas foi
za dados e resultados. “É importante ter a apresentação do SciNote a toda a co-
ferramentas que ajudem não somente a munidade acadêmica. “É uma mudança
fazer a pesquisa mas também a publicá- cultural, e os próprios pesquisadores têm
-la.” Afinal, de nada adianta conduzir um de notar as vantagens”, diz José Eduardo

25 MIL
experimento e não contar os resultados Krieger, pró-reitor de pesquisa da USP.
a ninguém: a ciência só avança quando Entre os ganhos, Krieger menciona a

USUÁRIOS
o conhecimento é compartilhado. O pro- transição da pesquisa do analógico para o
blema é que, para muitos pesquisadores, digital, padronização de condutas e maior
a empolgação se perde com a etapa enfa- facilidade de acesso aos resultados. Com
donha que vem depois da pesquisa em si. essas ferramentas, os cientistas podem fa-
Resumir meses ou anos de investiga- zer home office. “Esses cadernos são docu-
ção em um artigo técnico, padronizado mentos, se retirados do laboratório podem
por 1 milhão de regras chatas, porém im- ser perdidos ou danificados”, explica. “As
portantes, pode ser uma tarefa ingrata. ferramentas eletrônicas permitem acesso à
Talvez até um pesadelo, levando em con- distância, mas só de pessoas autorizadas.”
ta a pressão das instituições de pesqui- O SciNote também facilita o ato de
sa para que se publique muito e o cres- tornar públicos os dados. Assim, a cons-
cente volume de dados com os quais os trução do conhecimento científico ganha
cientistas modernos têm de lidar — o tal mais transparência. Cada vez mais, os
do big data. Mas nem tudo está perdido: pesquisadores querem acesso não ape-
os robôs vieram para ajudar. 500 BRASILEIROS nas a artigos prontos mas também aos
“Escrever um artigo científico é difícil, Estamos entre as dez nacionalidades passos dos colegas ao longo do cami-
entediante”, conta Zupancic. O SciNote é que mais utilizam a plataforma nho — muitas vezes para reproduzi-los e
a primeira plataforma a implementar in- checar se são confiáveis. “Queremos tor-
teligência artificial (IA) para ajudar na re- nar a ciência mais verificável, ajudar com
dação de manuscritos, lançada no fim de a reprodutibilidade”, diz Zupancic, que
2017. “Vemos muita gente empolgada com se interessou por tecnologia em 2010.
que ajudam a organizar as respostas do
nosso sistema, que faz o rearranjo dos da- Naquela época, o biólogo juntou seus co-
sistema imunológico. Ele ficou surpreso
dos no formato certo”, diz. Até agora, o re- legas com a turma de TI na tentativa de
com o resultado. “Ao colocar todos os
curso de IA, chamado Manuscript Writer, estabelecer pontes entre os dois campos
dados organizadamente na plataforma,
já atraiu mais de 800 usuários, que ge- e desenvolver softwares mais amigáveis
obtém-se um rascunho muito bom”, diz.
raram mais de 200 rascunhos de papers para os cientistas. Deu certo.
Para ele, poder contar com uma ferra-
— indício de que os cientistas estão ani- Mas o lançamento do Manuscript
menta dessas torna o processo de pu-
mados com a novidade. Um deles é o bió- Writer levanta uma questão: pode a in-
blicação mais ágil e eficiente: com um só
logo alemão David Frommholz, mestre em teligência artificial se tornar tão sofis-
clique, todos os resultados do estudo são
Ciências Biomédicas pela Universidade ticada a ponto de substituir de vez os
ordenados no manuscrito. Um trabalho
Hochschule Bonn-Rhein-Sieg, no oeste pesquisadores? Não exatamente. “Ela
mecânico que levaria até duas semanas
da Alemanha. “Em geral, diria que o pes- é péssima em ser criativa”, sentencia
é concluído em poucas horas. Depois, é
quisador não gosta muito de escrever pu- Zupancic. Claro que um artigo cien-
só refinar o texto e preencher os cam-
blicações”, confessa. “Queremos publicar, tífico não é nenhuma obra literária —
pos mais “criativos”, com que a inteligên-
mas escrever é quase uma obrigação.” o estilo de linguagem importa pouco.
cia artificial ainda não dá conta de lidar.
Frommholz pôde testar o Manuscript Mas há coisas que só nosso cérebro faz,
“Tenho mais tempo para o que realmente
Writer antes do lançamento, e usou-o como criar títulos, interpretar hipóteses
importa, que é a minha pesquisa.”
para produzir um artigo sobre um novo e discutir implicações do estudo. Não
receptor de citocina, grupo de proteínas Fonte: SciNote há motivo para pânico.
10

O MENINO
DO ACRE VAI
SORRIR
Obras de Giordano Bruno
serão digitalizadas — graças à
ajuda do escritor Dan Brown

POR T. T.

Aquele momento em que Dan


Brown, Jorge Ben Jor e Bruno
Borges conectam-se de alguma
maneira. O autor de O Código
da Vinci fez uma doação de
300 mil euros para a Biblio-
theca Philosophica Hermetica,
instituição privada localizada
em Amsterdã, na Holanda, que
guarda mais de 20 mil volumes
de publicações relacionadas a
textos esotéricos. A maior parte
do acervo aborda a filosofia do
hermetismo, que foi estuda-
da por Hermes Trismegisto
(autor da Tábua de Esmeral-
da, nome também do célebre
Fig. LY
álbum de Ben Jor, de 1974).
A doação de Brown possibilitará

ACELERA, cala atômica de vários materiais


— do solo às células do corpo. Com
a ajuda desse enorme aparelho
a digitalização de milhares de
textos históricos que versam
sobre assuntos como alquimia,

BRASIL?
Apesar de cortes no
(que ficará em um prédio de 68
mil m² em Campinas, interior de
São Paulo) será possível estudar
individualmente cada neurônio e
astrologia e mágica. Entre as
obras está Spaccio de la Bestia
Trionfante, escrita por Giordano
Bruno e publicada em 1584.
orçamento, Sirius deve e avançar no entendimento de do- O filósofo italiano foi a figura
estar pronto até 2020 enças degenerativas, por exemplo. inspiradora de uma das grandes
Ou, também, investigar a fundo a histórias de 2017 no Brasil: a
POR THIAGO TANJI porosidade de um solo para des- saga de Bruno Borges, jovem
cobrir por que alguns tipos são tão do Acre que ficou desapare-
A ciência sofre com seguidos secos — e, assim, facilitar o plantio. cido por quase cinco meses.
cortes de investimentos. Se con- Ao custo estimado de mais de
tássemos essa história como ca- R$ 1,5 bilhão, a construção do
pítulos de Star Wars, estaríamos Sirius esbarra nos cortes de in-
na parte em que os Jedi lutam vestimentos do governo federal.
para não serem destruídos. Mas Apesar de estar ligado ao Progra-
sempre há Uma Nova Esperança: ma de Aceleração do Crescimen-
aos trancos e barrancos, o maior to (PAC), os custos operacionais
projeto científico e tecnológico do Centro Nacional de Pesquisa
desenvolvido no Brasil deve ficar em Energia e Materiais (CNPEM),
pronto para testes em 2019, com responsável pela construção do
conclusão prevista para 2020. Sirius, foram cortados em 42%.
O acelerador de partículas Ainda assim, o prédio que recebe-
Sirius será o equipamento mais rá o acelerador de partículas está
avançado do mundo na geração em estágio avançado de constru-
de luz síncrotron, que tem alto ção e os equipamentos chegarão
brilho e permite o estudo na es- ao laboratório em breve. Fig. AM
11

A erva da R$ 50 mil, assistência nas áreas de tec-


nologia, inovação, medicina e direito.

economia
Para avaliar o potencial desse merca-
do no Brasil, o Green Hub firmou par-
ceria com a New Frontier Data, empre-
sa norte-americana de análise de dados
especializada no tema. De acordo com o
relatório produzido pelas duas institui-
ções, a regulamentação injetaria bilhões
Pioneira no Brasil, aceleradora na economia do país. “Nos três primei-
de startups voltada ao mercado ros anos de uso, a cannabis medicinal
de maconha medicinal começa teria potencial de atingir 3,4 milhões de
a funcionar em São Paulo pacientes. Isso equivaleria a R$ 4,7 bi-
lhões de reais”, afirma Grecco.
POR VITÓRIA BATISTOTI* Os números foram estimados por meio
*Com supervisão de Nathan Fernandes de uma análise das cifras registradas nos
EUA após a liberação da erva em alguns
O Brasil ganhou, em dezem- estados. No cálculo foram considerados

O
bro, sua primeira acelerado- os pacientes que têm doenças crônicas
ra de startups voltada para o severas, além de câncer, fibromialgia, dis-
mercado de cannabis medi- túrbios alimentares e ansiedade.
cinal. Batizado de The Green Hub, o cen- Apesar de ainda proibida no Brasil, a
tro funciona em Santo André, no ABC utilização da maconha de forma terapêu-
Paulista. O espaço foi projetado pelo ad- tica vem avançando nos últimos tem-
ministrador de empresas Marcel Grecco, pos. Em 2015, a Agência Nacional de
de 35 anos, ainda no final de 2016, mas Vigilância Sanitária aprovou a importa-
só nos últimos meses abriu as portas ofi- ção de produtos que utilizam o canabidiol
cialmente para abrigar projetos. — derivado da maconha — para fins me-
As duas primeiras crias são o Centro dicinais. Em 2016, foi a vez de o tetrahi-
de Excelência Canabinoide (CEC), asso- drocanabinol (THC), princípio ativo da
ciação que oferece consultoria e cursos erva, ganhar autorização para prescrição
sobre a cannabis medicinal a profissio- e importação por intermédio do órgão.
nais da área médica, e a Anella, softwa- Um passo maior foi dado no ano passa-
re de gestão que indica doses adequadas do, quando a Anvisa autorizou o registro
e as melhores práticas para o uso tera- do medicamento Mevatyl, feito à base de
pêutico da erva. As empresas incubadas THC e canabidiol, indicado para pessoas
recebem, além de investimento de até Fig. LY que sofrem de esclerose múltipla.

ENQUANTO A B C D E F
ISSO...
...nos Estados Unidos, vendas
legais de maconha renderam
US$ 6,7 bilhões em 2016
MASSROOTS POTBOTICS SEEDO CANNACOPIA MEDICINAL GENOMICS EAZE
POR MARÍLIA MARASCIULO

Oito estados aprovaram o uso


medicinal ou recreacional da
O usuário diz o Não é a Com investi- Mapeia e se- Estufa ele- Aplicativo
cannabis. Só em 2017, surgi- que quer sentir única rede quencia DNAs trônica para
mento de mi- que passa
ram diversas startups dedica- e o app indica social para os lhões, startup de maconhas plantar maco- indicações ao
o tipo de can- adeptos da criou delivery cultivadas nha. O usuário paciente sobre
das ao ramo. No jogo ao lado, nabis e onde erva, mas é a por pequenos a controla por
de maconha tratamento
veja se você consegue ligar o encontrá-la. mais popular. medicinal. produtores. aplicativo. com maconha.
nome de algumas empresas Respostas: 1-D; 2-A, 3-F, 4-E, 5-C, 6-B
aos serviços oferecidos.
12

SALVAÇÃO
DA LAVOURA
Pesquisadores preservam
sementes de plantas tradicionais
dos povos indígenas e as
fornecem quando o estoque acaba

POR A. J. OLIVEIRA

Espigas de milho estavam prestes a brotar nas


terras dos índios Kayabi, no Parque Indígena
do Xingu (MT), quando uma onda de calor e es-
tiagem se abateu sobre o milharal, no início de
2017. Não sobrou planta para contar a história.
A sorte é que, há cerca de 15 anos, aquelas
sementes foram preservadas pela Embrapa
em uma estrutura chamada banco de germo-
plasma — câmaras extremamente frias que
armazenam o material genético de espécies
Fig. LY
vegetais — localizada em Sete Lagoas (MG).
Após a perda da lavoura, Siranhu, cacique da Freitas é especialista em etnobotânica e, explica França. “A ideia é que elas sejam multi-
aldeia Ilha Grande, pediu ajuda aos cientistas há 20 anos, estuda as plantas tradicionais das plicadas nas aldeias, o que lhes proporcionará
pela segunda vez. A primeira foi em 2012. etnias do Xingu. Em parceria com a Funai, atua resgatar o domínio de sua diversidade cultural.”
“Rapidinho, nós multiplicamos o material e junto aos indígenas. Para ele, a devolução das Como nenhum milho é igual a outro, certas
conseguimos encaminhá-lo”, diz Fábio Frei- sementes celebra um ciclo entre ciência e po- espécies são fundamentais para pratos típicos
tas, engenheiro agrônomo da Embrapa Re- vos tradicionais. O trabalho é fruto do esforço ou para rituais. Por motivos diversos, muitas
cursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. de vários pesquisadores, como a agrônoma Flá- desaparecem das aldeias, mas não da memó-
As sementes foram entregues à aldeia em no- via França, curadora do banco de germoplasma ria. França nunca se esquece da reação de um
vembro e crescem sadias em meio a outros na Embrapa Milho e Sorgo, que armazena 4,1 senhor indígena de outra etnia ao pegar na
cultivos, como amendoim, batata-doce, cará, mil espécies — 234 de origem indígena. “Não mão uma espiga que não via desde a infância.
feijão-fava, mandioca, algodão. é um programa de fornecimento de sementes”, “Os olhos dele brilharam, foi muito gratificante.”

Fig. AM

A Chapada dos Veadeiros, em árvores. Juntos, formaram a identificar as árvores e buscar


OURO DO
Goiás, viu mais de 30% de seu Associação Cerrado de Pé e já as sementes que podem ser co-
CERRADO
território ser queimado, em ajudaram a reflorestar mais de letadas em cada época do ano.
Coletores de sementes ajudam
outubro do ano passado. Mas 100 hectares do Parque Nacio- E o pessoal garante uma renda
a recuperar as savanas da
um grupo de 40 famílias quer nal da Chapada dos Veadeiros. extra: o quilo da semente custa
Chapada dos Veadeiros
recuperar o Cerrado — são Criada no início de 2017, em de R$ 20 a R$ 150 na venda para
POR C. C. os coletores de sementes de parceria com o ICMBio, a empresas obrigadas a fazer
gramíneas, ervas, arbustos e associação se organiza para compensações ambientais.
13

A soja pode
Fig. AM
vencer o HIV?
Fig. LY
Com uso de engenharia genética,
cientistas do Brasil, dos Estados
EXAME QUE Unidos e da Inglaterra produzem
TUDO VÊ substância contra o vírus da aids
Microsoft quer mapear sistema
imunológico e revelar doenças
graves em estágio inicial POR CAROL CASTRO

POR VITÓRIA BATISTOTI


Dentro de alguns anos, far-

D
mácias do mundo todo po-
A Microsoft tem um plano
dem passar a ter uma novi-
ambicioso: criar um exame de
dade: um gel íntimo capaz
sangue capaz de detectar várias
de evitar a transmissão do vírus da aids.
doenças, das autoimunes ao
Bastaria aplicar o produto, feito à base de
câncer, ainda no estágio inicial.
soja transgênica, pouco antes das relações
O caminho não é nada fácil.
e, pronto, proteção garantida. Simples as-
Para cada tipo de doença é pre-
sim, quase mágica — mas não é.
ciso mapear todas as respostas
O gel é fruto de uma longa pesquisa rea-
das células T, responsáveis pelas
lizada pela Embrapa Recursos Genéticos e
primeiras reações do corpo
Biotecnologia em conjunto com o Instituto
ao notar a presença de uma
Nacional de Saúde dos Estados Unidos
substância estranha. Para isso, a
(NIH, na sigla em inglês) e a Universidade
empresa contará com a parceria
de Londres. Com uso de engenharia gené-
da companhia de biotecnologia
tica, os pesquisadores extraíram cianoviri-
Adaptive Biotechnologies e com
na, uma proteína encontrada em algas, e
o uso de inteligência artificial
a incorporaram às plantas de soja. Outros
— só assim para mapear todo
geneticistas haviam conseguido acrescen-
o sistema imunológico. Depois,
tar tal substância protetora em bactérias,
bastará analisar os exames de
mas o processo todo ficava muito caro — e,
sangue de pacientes por meio
em consequência, o produto seria inviável
do software com esse mapa.
para a população mais pobre.
É na cianovirina que se esconde todo
o segredo da eficiência do gel. Essa pro-
teína se prende à capa do vírus HIV e
impede sua capacidade de ação. “A be- não nas mesmas áreas de cultivo vol-
mapa do leza da cianovirina é que ela se liga a tado para consumo animal e humano”,
sistema
imunológico três pontos diferentes da capa proteica enfatiza Rech. “Ninguém corre o risco
do HIV. Outras moléculas se ligam ape- de consumir esse alimento. Não é pre-
nas a um ponto”, explica Elíbio Rech, ciso ter medo”, declara o engenheiro.
resultado coleta de engenheiro agrônomo da Embrapa. Só não se sabe ainda em quanto tempo
sangue
Ou seja, mesmo que o vírus sofra algu- o produto poderá estar disponível. Por
ma pequena mutação, não conseguirá aqui, de acordo com Rech, algumas em-
vencer a disputa contra a cianovirina. presas já demonstraram interesse pelo
análise É nisso que apostam os cientistas. gel, mas antes é necessário que ele passe
no PC
“É importante ressaltar que a soja pela fase de testes clínicos, em que se-
será plantada em ambientes de controle, rão avaliados possíveis efeitos colaterais.
quanto mais você lê,
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realização apoio participação


CONEXÕES CÓSMICAS
POR ADILSON DE OLIVEIRA*
15

tivos são o grande problema, assim


como os riscos de acidentes — como
o de Fukushima, no Japão, em 2011.

A ELETRICIDADE
A utilização de energia solar pode
ser uma alternativa promissora para
substituir os combustíveis fósseis,

ESTÁ EM TUDO
pois é uma fonte inesgotável e gera
efeitos insignificantes de poluição.
Uma forma simples de aproveita-

NA NOSSA VIDA
mento da luz solar é o aquecimento
de água gerado por placas escuras
dispostas no telhado. Outra forma é
usar placas fotovoltaicas à base de si-
Precisamos encontrar formas eficientes de produzir lício para produção de eletricidade em
energia elétrica sem que o custo seja a geração de residências. Nesse caso, a luz arranca
mais impactos ambientais. Talvez a saída seja o sol elétrons dos átomos de silício criando
uma corrente elétrica para alimentar
os aparelhos elétricos.
A possibilidade também de utilizar
energia elétrica em automóveis é um
Em nossos lares, anos de estiagem, o processo de pro- fato cada vez mais presente. Contu-
E quase todos os dução pode ser inviabilizado. Nesse do, um dos grandes problemas é que,
equipamentos fun- caso, são utilizadas as usinas termelé- para transformar energia elétrica em
cionam com ener- tricas movidas a diesel ou gás natural, energia de movimento, há necessidade
gia elétrica. Ape- que produzem energia por meio de de se utilizarem materiais magnéticos
nas precisamos ligar a uma tomada queima de combustível para acionar com altos valores de magnetização.
e apertar alguns botões para que a turbina a gás que, acoplada a um ge- Esses ímãs são feitos de elementos
televisores, computadores, refrigera- rador, transforma também a energia chamados de “terras-raras”, cujas
dores, ares-condicionados, fornos de do movimento em energia elétrica. maiores reservas estão na China e no
micro-ondas, entre outros, realizem A alternativa da energia nuclear não é Brasil. O desafio é conseguir outros ma-
as tarefas que facilitam a nossa vida e muito diferente: só que, nesse caso, o teriais que substituam com eficiência
também geram entretenimento. calor é gerado pela fissão (quebra) de os atuais ímãs para baratear e viabilizar
A maior parte da energia elétrica núcleos de átomos de urânio. carros elétricos em larga escala.
do Brasil é produzida em usinas hi- Nos automóveis e demais veículos A eletricidade é tão presente em
drelétricas, nas quais a água desce utilizamos os combustíveis fósseis nosso cotidiano que é impossível ima-
pela represa e faz com que as turbi- ou o etanol, que também precisam ginar nossa vida sem ela. Precisamos
nas girem e produzam eletricidade. ser transformados não somente em encontrar formas eficientes de produ-
Nesse processo, ocorre a transfor- energia de movimento como também Uma zi-la — sem que o custo seja a geração
mação da energia de movimento da em energia elétrica para acionar os forma de mais impactos ambientais. Talvez a
água em energia elétrica. Para que a inúmeros dispositivos dos meios de simples de saída seja o sol, que nasce para todos.
represa continue a ter água é neces-
sário que chova. As chuvas só acon-
transporte por meio de um gerador
que alimenta uma bateria.
aprovei- Apenas precisamos aprender a utilizar
sua energia de maneira mais eficiente.
tecem porque há evaporação devido O problema tanto das termelétricas tamento
à influência do sol. A água que desce quanto dos veículos a combustão é a da luz
represa abaixo é levada de volta para emissão de grandes quantidades de solar é o
o rio pela ação do sol.
Essa forma de produção tem van-
dióxido de carbono na atmosfera, o
que tem contribuído para o aumento
aqueci-
tagens e desvantagens. A vantagem do aquecimento global. Os biocombus- mento
é que, uma vez concluída a usina, o tíveis — produzidos com plantas, que de água
processo de geração de eletricidade capturaram o carbono da atmosfera gerado
produz poucos resíduos. A desvanta-
gem é que, para haver produção con-
no processo de fotossíntese — mi-
nimizam esse problema, mas não o
por placas * ADILSON DE OLIVEIRA é professor de Física da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

tínua, dependemos das chuvas para resolvem por completo. No caso das dispostas e fundador do Laboratório Aberto de Interativi-

no telhado
dade (LAbI), voltado para o desenvolvimento
manter o nível dos reservatórios. Em usinas nucleares, os rejeitos radioa- de metodologias para divulgação científica.
16

LU-
NE-
TA
O ESPAÇO É LOGO ALI

POR A. J. OLIVEIRA

INOVAÇÃO
Fig. LY

NAS ALTURAS
Em órbita sobre o Brasil, satélite vai
melhorar telefonia e internet — e de POSIÇÃO:
47,5° W
quebra contribuirá com a ciência

POR ISABELA MOREIRA,


de Amsterdã e Toulouse*

Com 449 mil habitantes, a cidade de Toulouse,


DURABILIDADE:
na França, é charmosa e cheia de potencial: 15 ANOS
é a casa do grande campus da Airbus, onde
vários veículos e produtos são desenvolvidos.
Entre eles está o satélite SES-14, cujo princi-
pal objetivo é prestar (e melhorar) serviços de
telecomunicações nas Américas.
Quatro meses antes do lançamento, que
ocorreu em janeiro deste ano, a reportagem PESO DE LANÇAMENTO:
4,2 TONELADAS
da GALILEU teve a oportunidade de visitar as
instalações da Airbus e ver a montagem do
satélite da SES em seus estágios finais.
A entrada no galpão onde o aparelho é de-
senvolvido e testado só é permitida após o
cumprimento de algumas etapas rigorosas.
Germes não são bem-vindos: tudo é pensado
* A jornalista viajou a convite da SES.
para não infectar o ar interno. Os visitantes
têm de deixar seus pertences guardados na Em órbita, seu foco será a telecomunica- da Nasa. Segundo eles, o dispositivo tem o
recepção e, em seguida, colocar um avental ção: há várias regiões brasileiras que, longe tamanho de um forno de micro-ondas e apro-
por cima das roupas, além de cobrir a cabeça de grandes centros, têm serviços de telefonia, veitará a energia do satélite em uma missão
e os pés com toucas descartáveis. televisão e internet precários. Isso quando científica para colher mais dados sobre a re-
À primeira vista, a parte interna do galpão os têm. O satélite tem a capacidade de suprir lação entre Sol e Terra. É a primeira parceria
em nada se diferencia de um grande labo- essa demanda. “É geoestacionário, fica em do gênero que a agência espacial americana
ratório. Já o tamanho do satélite intimida. um ponto fixo acima da Terra”, explica Juran- já firmou — rendeu-lhe uma economia de até
Há computadores e cabos por todo lado, e dir Pitsch, vice-presidente de vendas para a milhões de dólares. A ciência agradece.
os cientistas e engenheiros rodeiam os apa- América Latina da SES. “Ocupa posição orbital “Começaremos nossos estudos em outubro
relhos e partes do SES-14 — os gigantescos brasileira e será controlado no Brasil, no cen- de 2018 e divulgaremos os primeiros resulta-
painéis solares e o componente central só tro de controle situado em Hortolândia (SP).” dos no início de 2019”, prevê Elsayed Talaat,
foram encaixados antes do envio para o lan- O SES-14 deu carona a um pequeno ca- cientista-chefe da Divisão de Heliofísica do
çamento, na Guiana Francesa. marada: o GOLD, comandado por cientistas Diretório de Missões Científicas da Nasa.
17

Eles não
CÉU DO MÊS
Fevereiro de 2018

estavam lá
POR GUSTAVO ROJAS
Astrofísico da UFSCar

d s t q q s s

- - - - 1 2 3

4 5 6 7 8 9 10
Fig. AM

11 12 13 14 15 16 17
Não foi dessa vez: equipe de pesquisadores descobre
que suposta megaestrutura alienígena em órbita ao 18 19 20 21 22 23 24
redor de estrela distante é, na verdade, somente pó 25 26 27 28 - - -

A LUA E O REGENTE
Em 2015, a estrela de Tabby foi Segundo Janot, é possível que sejam planetas 1
O mês começa com a Lua

E
alçada ao estrelato por abrigar ou cometas. Mais de 200 pesquisadores passaram
minguante ao lado da estrela mais
algo que parecia muito uma obra 22 meses analisando a radiação de KIC 8462852
brilhante da constelação de Leão,
de ETs engenheiros. “O ser huma- em três filtros. No período, foram registrados qua-
Regulus, “regente” em latim. Um sis-
no gosta de imaginar coisas assim, fugir para o tro eclipses. Os dados revelam que regiões do es-
tema múltiplo, com quatro estrelas.
pouco racional”, diz o astrofísico Eduardo Janot, pectro da luz oscilam a taxas distintas — isso des-
do IAG-USP. Estranhos eclipses que bloqueavam carta objetos opacos, como planetas inteiros ou
até 21% da luz do objeto KIC 8462852 sugeriam megaestruturas, e reforça o cenário de moléculas
SURGE O ANTIMARTE
que poderia haver ali uma Esfera de Dyson — en- “soltas” que interagem com partes da luz. “É a mes- 9
Na madrugada, o planeta ver-
voltório metálico para sugar a energia da estrela. ma razão pela qual o céu da Terra é azul: a atmos-
melho aparece entre a Lua e a estrela
Seria apenas mais uma ideia louca se não fera espalha os fótons azuis pelo céu”, compara.
mais brilhante de Escorpião, Antares
fizesse muito sentido, pois à medida que uma A astrofísica se beneficia muito do estudo de
(em grego, “rival de Marte”), que
civilização progride, devora mais eletricida- estrelas distantes. Um dos métodos usados é a
ganhou esse apelido porque também
de. “Se a humanidade não se autodestruir até fotometria de trânsito — instrumentos procuram
apresenta tonalidade avermelhada.
o ano 5000, não haverá usina hidrelétrica ou por oscilações no brilho para achar, por exemplo,
nuclear que dê conta”, diz Janot. “Chegará um exoplanetas. Nos próximos anos, à medida que
momento em que teremos de apelar para o Sol.” observatórios mais sofisticados entrarem em ope-
SATURNO CAI NA FOLIA
Apesar do charme da hipótese alien, passa- ração, será possível até mesmo detectar exoluas. 11
Quer aprender a encontrar
mos os últimos anos alertando o leitor incauto Dezenas de cientistas brasileiros colaboram
Saturno no céu? Então olhe para
de que as oscilações de luz reveladas pelo teles- no desenvolvimento do satélite Plato, da ESA.
a direção leste na madrugada do
cópio espacial Kepler não passariam de um fenô- Previsto para 2023, mapeará zonas habitáveis
domingo de Carnaval. Não tem erro:
meno natural. Não deu outra: estudo publicado nas estrelas mais próximas, à caça de planetas
o astro mais brilhante ao lado da
em janeiro no The Astrophysical Journal Letters rochosos e gasosos. Sim: eles também podem
Lua minguante é o planeta dos anéis.
cravou que o misterioso material em trânsito abrigar vida. “Se tiverem luas, são interessantes
entre nós e a estrela de Tabby é nada mais para a astrobiologia”, diz Janot. Quem sabe, num
que a poeira de corpos celestes destroçados. desses mundos, eles não estejam realmente lá.
O ECLIPSE DOS PINGUINS
15
Durante a tarde, haverá um
eclipse solar parcial, com melhor
Pergunta que não quer to aumento, é preciso conhecer visibilidade na Antártica. O extremo
SEM R:
calar para quem quer as constelações para saber para sul do RS conseguirá ver até 8%
DÚVIDA começar a observar o céu — tan- onde apontá-lo. Senão, o entu- do fenômeno. Mas muito cuidado:
to que a GALILEU já fez matéria siasmo azeda e vira frustração. jamais olhe diretamente para o Sol.

Qual é de capa para ajudar. A dúvida “Há muito o que observar a olho

o melhor esconde parte da resposta. nu ou com binóculos”, destaca

telescópio “Se está fazendo essa pergunta, Rojas, que recomenda procurar

para iniciantes? não é o momento de comprar grupos de astronomia. A dica: LUNETA SEXTAS, ÀS 17H,
LIVE NO FACEBOOK DA GALILEU.
PARTICIPE!
um telescópio — ainda”, diz vai de refletor newtoniano, com
Mateus Yan, Gustavo Rojas, astrofísico da 20 cm de abertura e montagem Bata papo ao vivo com especialistas e
via Facebook Live UFSCar. Como ele propicia mui- dobsoniana, que não tem erro. outros entusiastas da astronomia.
18

TECNOLOGIA DESCOMPLICADA

Para sua TV Aparelho da Amazon concorrente


do Chromecast coloca internet

ficar esperta
na sua televisão para uso de
serviços como Netflix e Spotify

POR ISADORA DÍAZ

mazenar arquivos. Ou seja, os apps são


instalados dentro do aparelho sem a
necessidade de utilizar um smartphone.
E ele vem com um pequeno controle.
O Amazon Fire TV Stick - O problema é a limitação da loja de
O Basic Edition chegou ao aplicativos. O YouTube, por exemplo, foi
Brasil em novembro de 2017 retirado da lá por conta de uma briga
com a promessa de “transformar” uma entre Google e Amazon. Outro softwa-
televisão comum em smart. Rival do re foi instalado no lugar — um link para
Chromecast, solução semelhante do a versão web do YouTube. Os jogos, na
Google, o aparelho se conecta ao wi-fi sua maioria, também são adaptados.
e permite usar na TV aplicativos como Ainda assim, só o fato de não precisar
Netflix, HBO GO, Amazon Prime e PRÓS E de celulares o favorece. A presença de
CONTRAS
Spotify, além de ser compatível com Aparelho não aplicativos de peso (Netflix e afins) já
jogos. Mas será que vale a pena? depende de faz dele um ótimo reprodutor de mídia
O principal ponto positivo: ao contrá- celular, como para TV. E a R$ 289, pouco mais do
o concorrente,
rio do Chromecast, que só retransmite mas sua loja de que a média de R$ 260 do Chromecast
o que roda no celular, o Fire TV Stick apps é restrita 2, essa é uma boa solução para quem
tem memória interna de 8 GB para ar- não quer gastar com uma smart TV.
19

CINCO DICAS MATADORAS PARA


NÃO ERRAR NA COMPRA

Confira a quais especificações do celular você deve ficar


atento para não comprar um aparelho ultrapassado

FULL HD QUAD-CORE

A resolução da tela indica a quantidade O processador é o cérebro do


de pixels, os pontos luminosos e colori- smartphone, já que realiza todas as
dos que compõem a imagem. operações computacionais. Por isso,
O ideal é buscar um celular com procure produtos com a inscrição
resolução full HD, pois garante melhor quad-core (com quatro núcleos para
visualização de fotos e vídeos. processamentos de dados), o que signi-
Fuja de modelos com display apenas fica que o aparelho alcança velocidades
HD (1280 x 720 pixels) — essa tec- mais elevadas e conclui tarefas com
nologia já foi superada há tempos. maior eficiência. Fuja dos dual-core.
Fig. LY

UNI-DUNI-TECH:
COMO ESCOLHER MEMÓRIA RAM DE 2 GB 32 GB DE ESPAÇO

UM CELULAR
Está difícil decidir qual será seu
Não adianta muita coisa ter um celular
com cérebro poderoso (o processador)
se o dispositivo não lembra a sequência
É na memória interna que ficarão guar-
dados seus documentos, fotos, vídeos
e músicas. Embora cada consumidor te-
próximo smartphone? Não se de ações que precisa realizar — como nha um perfil, a recomendação padrão
abrir o aplicativo de anotações ou é de, ao menos, 32 gigabytes de arma-
preocupe, a gente dá uma força
continuar tocando uma música em zenamento. Vale lembrar que parte
segundo plano. Os celulares com desse espaço é ocupada pelo sistema
memória RAM de pelo menos 2 GB e por aplicativos instalados de fábrica,
POR THÁSSIUS VELOSO
tendem a se sair melhor nesse cenário. o que reduz o total à disposição.

As dezenas de opções de celulares à venda no


Brasil podem dar um nó na cabeça do consu-
midor. As principais fabricantes — Motorola, CONEXÃO 4G
Apple, Samsung, LG, Asus e Sony — já ofere-
cem uma série de alternativas. Adicione a essa
Smartphones com conectividade 4G acessam redes
lista os telefones gringos, que fazem sucesso
de telefonia mais rápidas. Ou seja, você precisa de
entre quem cogita a importação, e a confusão menos tempo de espera para carregar as postagens
está garantida. Para guiá-lo na difícil tarefa em redes sociais e para ver vídeos. Se o 4G falhar, esses
de escolher o próximo smartphone, nós lista- telefones também podem acessar redes 3G e 2G.
mos as especificações técnicas que precisam
estar na ponta da língua. Decore esses nomes
e números para comprar o melhor celular do @techtudo_oficial /techtudo @TechTudo
mercado — e evitar acessos de raiva no futuro.
20

De olhos bem
encardidos
Terror psicológico dá o tom BAGULHOS SINISTROS
de Bile Negra, romance Conheça as influências de Oscar Nestarez
de estreia do colunista da
GALILEU Oscar Nestarez 25 % 25 %
EDGAR ALLAN POE CLIVE BARKER
POR NATHAN FERNANDES

Quem olhar fixamente para

Q
as páginas do primeiro ro-
mance de Oscar Nestarez
corre o risco de ser sugado
para um universo em que o encanto já
não existe mais. Mestre em Literatura e
Crítica Literária — e colunista de horror
do site da GALILEU —, Nestarez tem
habilidade para assustar com palavras.
E Bile Negra (Ed. Empíreo) é a maior
prova disso. Nessa obra, que reúne agi-
lidade cinematográfica, inconfidências
psicológicas e obscenidades filosóficas,
Fig. LY
o autor narra a história de Vex, um ho-
mem que, depois de passar por traumas
que abalaram sua mente, precisa traduzir
um tratado enigmático sobre a bile ne-
gra (o humor que regeria a melancolia). 5%
O terror apocalíptico que se anuncia na RUY CASTRO 16 %
vida do personagem só é denunciado pe-
GUY DE
8%
los olhos bizarros e encardidos de pesso-
MAUPASSANT
as próximas. Medo e delírio se misturam
na narrativa para mostrar o que acontece JULIO CORTÁZAR 9% 12 %
quando a realidade dá forma aos pensa-
mentos mais obscuros da mente. VIRGINIA WOOLF HP LOVECRAFT

REBELDES A falta de êxito da Marvel com na, Gert, Chase e Molly se


COM CAUSA E suas séries de super-heróis rebelam contra os próprios
SUPERPODERES pode mudar com a chegada pais, membros da organização
de Fugitivos, que estreia no criminosa Orgulho, ao mesmo
Série Fugitivos aposta em heróis canal Sony no dia 20, às 23 tempo que descobrem ter
adolescentes para salvar o horas. A obra é uma adaptação superpoderes. Com boas
delicado universo Marvel na TV da elogiada HQ criada por referências, elenco e trama,
Brian K. Vaughan e Adrian essa é a chance para que o
POR LEANDRO SAIONETI
Alphona em 2003. Na trama, estúdio vire o jogo de uma
Fig. AM
os jovens Alex, Nico, Karoli- vez por todas na telinha.
21

CURTINDO
O FAROESTE
ADOIDADO
Cidade cinematográfica
transforma-se em um
município de verdade

POR MARÍLIA MARASCIULO

A duas horas de Los Angeles, na


beira do deserto Mojave, alguns
poucos norte-americanos moram
em um Velho Oeste hollywoo-
diano. Construída nos anos
1940 pelos atores Roy Rogers,
Dick Curtis e Russell Hayden,
Pioneertown foi pensada para
ser cenário de filmes e séries
western e também para servir
como moradia para a equipe.
Por meses, lendas do cinema
norte-americano, como Gene
Autry, John Wayne, Barbara
Stanwyck e Gail Davis, viveram
em meio à paisagem pitoresca Fig. LY

de montanhas de pedras e
poeira. Anos depois, o local
atraiu turistas e uma popula-

ENTRE A CRUZ
ção fixa de curiosos. Na Mane
cido dos épicos de capa e espada. Batalhas
Street, única rua da cidade,
grandiosas, com centenas de figurantes, além
com 300 metros de extensão,
de romances proibidos, intrigas e traições que

E A ESPADA
fachadas de banco, igreja e
envolvem os Templários, a realeza e o Vatica-
cadeia se alternam com as
no. Se você pensou em algo como “jogo dos
construções reais de lojinhas,
tronos”, a intenção era justamente essa.
um hotel (dá para passar a
Knightfall leva a história dos Não por acaso, a maior parte do elenco é
noite na suíte onde John Wayne
Cavaleiros Templários à televisão formada por atores de ascendência britânica
dormia) e um restaurante ao
sem esconder a influência de GoT que procuram um lugar ao sol, com escola no
estilo saloon. Na casa de shows
teatro e currículo pontuado por participações
Pappy&Harriet’s já tocaram
POR LUÍS ALBERTO NOGUEIRA em papéis prestigiados na TV e no cinema, como
Robert Plant, Arctic Monkeys,
Tom Cullen (protagonista e líder da ordem) e
Lorde e Paul McCartney.
Os Cavaleiros Templários já contam com um Ed Stoppard (intérprete do Rei Felipe). Todo
lugar especial na cultura pop e no repertório mundo querendo ser o novo Kit Harington.
dos teóricos da conspiração depois que Dan O conflito entre os Cavaleiros Templários e
Brown recorreu a eles em O Código Da Vinci. o Papa Bonifácio 8º — Jim Carter, ator mais
Demorou para que a ordem ganhasse uma experimentado de Knightfall, com quatro
série de TV que contasse sua história entre indicações ao Emmy — esquentou o set de
os séculos 12 e 14, quando teve papel central filmagens na República Tcheca, uma repro-
nas Cruzadas durante a busca de relíquias dução detalhada das ruas antigas de Paris.
sagradas e recebeu a missão de proteger os Só que o perigo mesmo veio do fogo literal
peregrinos cristãos até Jerusalém. que derrubou toda a estrutura, causando
Mas Knightfall — A Guerra do Santo um prejuízo estimado em mais de US$ 5 mi-
Graal, que estreia em fevereiro com exibi- lhões. Graças aos céus (e aos procedimentos
ções todas as quintas-feiras, às 21h40, não corretos de segurança), ninguém se feriu.
tem objetivos meramente arqueológicos.
ESTREIA DIA 22/2,
Produzida por Jeremy Renner, o Gavião Ar- NO CANAL HISTORY
FIQUE
Fig. AM
queiro da franquia Os Vingadores, a série
Dez episódios — todas as LIGADO
possui em sua embalagem um verniz conhe- quintas-feiras, às 21h40.
22

WAKANDA PARA SEMPRE or


ra!

C
Inspirados pela estreia de Pantera Negra, novo filme sobre o herói
da Marvel que chega aos cinemas brasileiros em 15 de fevereiro, A experiência de
um homem negro g ht – S
separamos dicas do que ouvir, assistir e ler para apreciar as ao conhecer n li
influências do continente africano além da nação fictícia de Wakanda

ob
Mo
a família da

a Luz d
namorada branca
é transformada
POR ISABELA MOREIRA em um longa
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Luar
Stati de horror.
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Uma mistura de da te
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AV
ficção, história

de
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Em seu primeiro filme,
P ar a d a
e fantasia

Marsh
id o diretor de Pantera
que narra Arraes
Negra, Ryan Coogler,
a trajetória

n
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conta a história de P. Johnso
da guerreira LIVROS FILMES
jovem negro morto
Dandara dos
por policial branco.
Palmares.
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DOCUMENTÁRIOS
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anotações do

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escritor James

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Negra
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dos livros da documentário
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Se
as portas para na história dos
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outras escritoras Estados Unidos. da


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africanas no

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mercado editorial.
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Luke C
Beyonc

O herói da Marvel
(e do Harlem!) é
O rapper foi CANÇÕES um exemplo de
escolhido para
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produzir e fazer am n oon ght, Formatio h


força e resiliência
D M contra o crime
Black-is

a curadoria da
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e a corrupção. Atla
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trilha sonora de
Pantera Negra.
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França

negros de uma
universidade
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cuja maioria dos


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alunos é branca.
omic B Pr a Q E
DOSSIÊ HOLLYWOOD
REPORTAGEM NATHAN FERNANDES

ILUSTRAÇÕES HELENA SBEGHEN

DESIGN MAYRA MARTINS

A indústria cinematográfica que mais gera lucro no mundo


alimenta sonhos (e também pesadelos) há mais de cem anos;
entenda como e por que a estrela de Hollywood brilha tanto

cidade dos sonhos para al- latou a escritora Susan Sontag especificamente — foi respon-
guns, cidade do pecado para em um ensaio para o The New sável por nos fazer sorrir, cho-
muitos. Desde o lançamento das York Times. “O ponto é que, rar, amar e nos rasgar de dor
primeiras produções cinemato- para aquelas primeiras plateias, e sofrimento quando Jack ficou
gráficas em solo californiano, na a transcrição da realidade mais de fora daquela porta em Tita-
década de 1910, e da inaugura- banal — os irmãos Lumière fil- nic (afinal, tinha espaço, sim).
ção do hipnótico letreiro bran- mando A Chegada de um Trem à O encanto também saltou das
co, em 1923, ninguém fica imune Estação — foi uma experiência telas e passou a propagar o estilo
ao brilho eterno de Hollywood. fantástica. O cinema começou de vida norte-americano como o
“Em 1885, o cinema pareceu com esse encanto, de que a rea- padrão ideal a ser seguido — para
emergir por meio de dois tipos lidade pode ser transcrita com depois descobrirmos que existe
de filmes: o cinema como trans- tal imediatismo. Todo o cinema muita sujeira embaixo dos ta-
crição da vida real (o dos irmãos é uma tentativa de perpetuar petes dos grandes estúdios. De
Lumière) e o cinema como in- e de reinventar esse senso de todo modo, Hollywood continua
venção, artifício, ilusão e fan- encanto.” De fato, em mais de habitando nossas noites de sono,
tasia (de George Méliès). Mas cem anos de história, o cinema seja como sonho, seja como pe-
esses tipos não são opostos”, re- como um todo — e Hollywood sadelo. Mas indiferença nunca.

23
O FEITIÇO DO TEMPO
OS PRINCIPAIS EVENTOS QUE TORNARAM HOLLYWOOD A MECA DO CINEMA MUNDIAL

A ORIGEM O SOM E A FÚRIA LISTA NEGRA

Nasce a primeira É lançado O Cantor Artistas com ten-


obra de Hollywood, de Jazz, considerado dência à esquerda
um curta chamado o primeiro longa- são perseguidos
In Old California, do -metragem com falas nesse período
diretor D. W. Griffith e canto sincronizado conhecido como
Macartismo

1919 1929

1910 1927 1950


TEMPOS MODERNOS E O OSCAR VAI PARA...

Griffith se junta a Fundada em maio de


Charles Chaplin, Mary 1927, a Academia re-
Pickford e Douglas aliza a primeira
Fairbanks e cria a cerimônia de
United Artists entrega do Oscar

Para entender, veja...

1 2 3
CHAPLIN CANTANDO TRUMBO
NA CHUVA
A cinebiografia con- Clássico dos musicais A dura vida de um
tra a controversa mostra a mudança roteirista prestigia-
vida de um dos pio- do cinema mudo do que entrou para
neiros do cinema para o falado a lista negra

O SOL É
Mas esse foi só um dos motivos. no Brasil), o inventor chegou a
O outro foi Thomas Edison, o fa- contratar bandidos para garantir

PARA TODOS
moso criador lâmpada. Detentor que seus direitos fossem pagos.
da patente de mais de mil disposi- Para fugir dos preços abusivos,
tivos, Edison era responsável pelo a então recente indústria cinema-
desenvolvimento de vários instru- tográfica que se estabelecia resol-
Como o clima, as paisagens
mentos (aparelhos como o cine- veu fazer as malas e cruzar os Es-
e Thomas Edison ajudaram
toscópio) necessários não só para tados Unidos. Ninguém pensou
a formar Hollywood
a criação de filmes mas também que Edison seria capaz de arcar
para a projeção deles. Thomas Edison, cria- com os altos custos da viagem
Muito se fala do clima ideal de Basicamente, quem morasse dor da lâmpada, tinha para verificar o que se passava do
Hollywood. É verdade que o sol nos arredores de Nova York e qui- a patente de mais de outro lado do país. E ele não arcou
e as belas paisagens da Califór- sesse rodar qualquer produção no mil invenções, inclusi- mesmo. Em 1919, quando Charlie
nia fizeram com que os estúdios começo do século 20, deveria pa- ve as responsáveis Chaplin criou a companhia United
começassem a se estabelecer por gar a Edison pelo direito de uso. pela criação e proje- Artists, Hollywood já havia rouba-
lá, em 1915. Afinal, com tanta luz Segundo o escritor Steven Bach, ção dos filmes do o protagonismo de Nova York e
natural, era possível economizar. no livro Final Cut (sem tradução assumia sua vocação como estrela.
FRANCIS FORD COPPOLA
O diretor que tem cinco
prêmios do Oscar na estante
também conta com clássicos
como O Poderoso Chefão e
Apocalypse Now no currículo
OS BEM AMADOS

Homem de Ferro
e O Incrível Hulk dão
o pontapé inicial na
GEORGE LUCAS
nova era dos lucrati-
vos filmes de heróis Com Star Wars, o verdadei-
ro pai de Luke Skywalker
foi responsável por uma das
1995
sagas mais lucrativas do
cinema até hoje
2008
AMIGO, ESTOU AQUI

Com o lançamento
de Toy Story, a Pixar STEVEN SPIELBERG
e a Disney iniciam
Os quatro Oscars do diretor
uma nova época para
não fazem jus ao impacto
as animações
que ele causou com obras
como Tubarão, Jurassic
Park, ET e Indiana Jones

Juventude transviada JOHN MILIUS


O roteirista de Apocalypse
NOS ANOS 70, HOLLYWOOD FOI INVADIDA
Now foi um dos primeiros
POR DISPOSTOS A TOMAR O PODER profissionais da indústria
com formação
O VELHO ERA SEMPRE RUIM, o novo era sempre acadêmica em cinema
bom. Com esse mantra em mente, jovens direto-
res (veja ao lado) invadiram Hollywood na década
de 1970 e mudaram a lógica da indústria para
sempre. Eram os “movie brats” (ou “moleques
BRIAN DE PALMA
do cinema”). “A primeira vez que as restrições
de idade foram abolidas foi nos anos 70, e os jo- Com clássicos como Scarfa-
vens tiveram permissão para tomar tudo de as- ce, Os Intocáveis e Femme
salto com toda a sua ingenuidade, sua sabedoria Fatale, o diretor se esta-
e todos os privilégios da juventude”, diz Steven beleceu como um dos mais
Spielberg no livro Como a Geração Sexo Drogas ousados de sua geração
e Rock ‘n Roll Salvou Hollywood (Ed. Intrínseca),
do jornalista Peter Biskind. Até então, a maioria
dos diretores não passava de funcionários res-
ponsáveis pela marcação de atores no set que
PAUL SCHRADER
nem sequer podiam entrar na sala de montagem.
Os produtores é que detinham todo o poder. Mas Impedido pelos pais de
isso mudou com o conceito de “autor”, uma ideia assistir a filmes até os 18
vinda dos críticos franceses que reivindicava que anos, Schrader escreveu ro-
os diretores estavam para os filmes assim como teiros como o de Taxi Driver
25
os poetas estavam para a poesia. antes de começar a dirigir
NASCE
UM
PADRÃO
Como o cinema pós-Segunda Guerra
propagou o estilo de vida dos EUA

D Depois da Segunda Guerra, uma


nova liderança mundial se ergueu
sobre os escombros de uma Europa comple-
tamente destruída. E não tardou para que os
Estados Unidos se tornassem, além de potên-
cia bélica, um modelo de sociedade a ser segui-
da, o padrão do sucesso. Não à toa, o cinema
de Hollywood da década de 1950 passou a ser
visto como um dos meios ideais para propagar
ideias e comportamentos de uma sociedade
em ascendência — uma maneira de domina-
ção mais branda do que a militar.
Além da propaganda e da televisão, filmes
como A Felicidade Não se Compra (1946) ex-
punham os valores do “american way of life”,
um estilo de vida desejável numa época que
carecia de esperança. “Esse conceito está atre-
lado ao consumo e a um padrão de família, de
beleza, de gênero e de regras do que você tem
que ter e ser para ser bem-sucedido”, explica o
psicanalista Paulo R. F. Cunha, coordenador e
professor do curso de Comunicação Social da
ESPM e autor do recém-lançado American Way
of Life: Consumo e Estilo de Vida no Cinema dos
Anos 1950. “No entanto, sabemos que esse pa-
drão ideal não existe.” Para o autor, a propaga-
ção de um padrão não é necessariamente um
problema: “A questão não é mostrar algo como
uma idealização ou modelo, mas sim a falta de
discussão sobre isso. É o que a gente vê hoje
nessa questão da polarização”.

SAIBA MAIS ENTREVISTA COMPLETA EM


BIT.LY/CINEMA50

AMERICAN WAY
OF LIFE
Paulo R. F. Cunha
Editora Intermeios
237 páginas
R$ 50
OS REIS DO SHOW
OS GRANDES ESTÚDIOS QUE DOMINAM A CIDADE DOS SONHOS

UNIVERSAL WARNER DISNEY ALEGRIA,


US$ 5,128 BI US$ 5,135 BI US$ 6,457 BI ALEGRIA
PRINCIPAIS SUCESSOS

Meu Malvado Favorito 3 Mulher Maravilha Star Wars: Os Últimos Jedi Dona da Pixar,
(US$ 498,9 mi) (US$ 821,8 mi) (US$ 1,27 bi)
da Lucasfilm e da
Velozes e Furiosos 8 It: A coisa A Bela e a Fera Marvel, a Disney
(US$ 1,236 bi) (US$ 700,2 mi) (US$ 1,263 bi)
surpreendeu o
Corra! Liga da Justiça Guardiões da Galáxia Vol. 2 mercado em 2017
(US$ 254,6 mi) (US$ 654,8 mi) (US$ 863,7 mi)
quando anun-
ciou a compra de
parte da FOX por
US$ 52,4 bilhões.
Enquanto os exe-
7 cutivos esperam
lucros ainda maio-
res neste ano, os

6 fãs já sonham com


a inclusão de he-
róis como X-Men,
Deadpool e Quar-
5 teto Fantástico
no universo cine-

FATURAMENTO EM BILHÕES
matográfico dos

4 Vingadores.

SUSTO
BEM-VINDO
3
Além de salvar a
Terra da destrui-
ção, os super-he-
2
róis também têm
a habilidade de
salvar a vida dos
1 grandes estú-
dios. É o caso da
Warner, que viu
Mulher Maravilha
0
e Liga da Justiça
responderem por
grande parte de
seu lucro em 2017.
Outra surpresa foi
LIONSGATE FOX PARAMOUNT SONY It: A Coisa, que se
US$ 1,598 BI US$ 3,880 BI US$ 1,834 BI US$ 3,122 BI
tornou o filme de
terror com a maior
Extraordinário Logan Transformers: Homem Aranha:
(US$ 231,4 mi) (US$ 616,8 mi) O Último Cavaleiro De Volta ao Lar bilheteria de to-
(US$ 605,4 mi) (US$ 880,2 mi) dos os tempos,
O Poderoso Chefinho
(US$ 498,9 mi) ultrapassando
o clássico
27 O Exorcista.
O N
Nos últimos meses, Hollywood “Esses movimentos são de extrema im-
foi invadida por um tsunami portância porque estão tirando a legiti-
que faria Roland Emmerich midade e a normalização da violência

PERIGO
considerar a hipótese de desenvolver contra a mulher”, explica Juliana de Fa-
uma continuação para O Dia Depois de ria, criadora da ONG Think Olga. Para
Amanhã. Mas, diferentemente dos filmes a ativista, essa prática muitas vezes é

MORA
de catástrofe do diretor, a onda não aba- tida como natural para os homens —
lou prédios nem cidades, e sim a repu- tanto que várias dessas ações nem são
tação de grandes nomes da indústria ci- entendidas como violência. Talvez por
nematográfica com graves denúncias de isso, um grupo de francesas, que inclui

AO
assédio sexual. Além dos atores Kevin a atriz Catherine Deneuve, reclamou do
Spacey (que já perdeu contratos de fil- que consideram feminismo “puritano”.
mes) e James Franco (que nega as acu- “É bem problemático, pois elas não

LADO
sações), o produtor Harvey Weinstein foi fazem nenhum tipo de intersecção, não
o que mais se afogou em meio a acusa- falam sobre raça, classe. E não são to-
ções de atrizes como Gwyneth Paltrow, das as mulheres que têm o mesmo po-
Angelina Jolie e Cara Delevigne. der que elas”, explica Faria. Apesar das
O tempo para a tolerância com cri- manifestações, no entanto, a cara do
mes desse tipo parece ter acabado. Não cinema norte-americano conti-
Denúncias de assédio contra à toa, a cerimônia do Globo de Ouro de nua branca, heterossexual
nomes poderosos de Hollywood 2018, em janeiro, foi marcada pela cam- e masculina, como
mostram que o tempo dos panha Time’s Up, com atrizes vestindo m o s t ra m o s
“predadores” está contado preto em manifesto contra assédios e gráficos
pela igualdade de gênero em Hollywood. abaixo.

MULHERES MARAVILHA Número de mulheres que dirigiram filmes nos últimos dez anos*

8
8 7,5
7,3
7
6
5
4,1 4,2
4 3,6 3,7
3 2,7 2,8

2 1,9 1,9

1
0
08

09
07

10

14

16
12

13

15

17
11

ESTRELAS TOTAL FILMES DIRIGIDOS FILMES DIRIGIDOS FILMES DIRIGIDOS

ALÉM DO
DE FILMES POR MULHERES POR NEGROS POR ASIÁTICOS

151 7 6 5
TEMPO
FOX

PARAMOUNT 116 3 5 5
Mulheres, SONY 167 9 9 5
negros e
UNIVERSAL 167 8 10 2
asiáticos
DISNEY 108 5 0 13
ainda são
minoria WARNER 190 12 6 4
na indústria* LIONSGATE 98 3 18 3
OUTROS 103 5 9 1
TOTAL 1.100 52 63 38

*Relativos aos lançamentos de 2007 a 2017 dos maiores estúdios FONTE: USC Annenberg
SAIBA MAIS
AMOR EM
TEMPOS DE
ENTREVISTA COMPLETA EM
BIT.LY/TIMESUP1

GUERRA
A representação LGBTQ
no cinema ainda precisa
aprender com a TV

4% APESAR DE TODOS os esforços, o


número de personagens LGBTQ nos
filmes dos sete maiores estúdios de
Hollywood ainda é muito baixo, se-
dos filmes produ-
gundo o último relatório da ONG nor-
zidos entre 2007 e
te-americana GLAAD, que analisou os
2017 foram dirigi-
lançamentos de 2016. Ainda assim, a
dos por mulheres
instituição comemora o aumento de
quase 1% em relação ao ano anterior.
O mesmo não pode ser dito em rela-
ção ao número de personagens ne-
gros homossexuais, que diminuiu 5%.
No quesito representação, nenhum
estúdio foi classificado como “bom”
ou “excelente”. “Filmes mainstream
continuam distantes da TV e outras
mídias quando se trata de represen-
taçao LGBTQ”, diz o relatório.

18,4%
Dos 125 filmes lançados
em 2016, 23 tinham
personagens LGBTQ

83%
Maioria desses filmes
possui personagens
homens gays

35%
Pouco mais de um
terço possui perso-
nagens lésbicas

1
Apenas 1 filme possui
personagem transsexual
(Zoolander 2)

13%
Pouco mais de um
décimo tem perso-
29
nagens bissexuais
*Filmes selecionados
TOP 10 – MELHORES FILMES POR DÉCADA
ANOS 60 ANOS 70 com base nas notas
do IMDb entre os
Lawrence da Arábia O Poderoso Chefão vencedores do Oscar
de melhor filme
(1962) (1972)

ANOS 30
ANOS 00
E o Vento Levou...
O Senhor dos Anéis:
(1939)
O Retorno do Rei
ANOS 80
(2003)
ANOS 50

A Malvada (1950) Amadeus


(1984)
ANOS 20 ANOS 10

Asas 12 Anos de
(1927) ANOS 40 Escravidão
ANOS 90
(2013)
Casablanca
A Lista de Shindler
(1942)
(1993)

RANKING
DAS ESTRELAS
TOP 10 – MELHORES FILMES ELEITOS PELA REDAÇÃO DA GALILEU

10º LUGAR

Um Sonho
1º LUGAR de Liberdade
(1994)
Blade Runner:
O Caçador de
Androides 9º LUGAR
(1982)
Pulp Fiction
(1994)

8º LUGAR
4º LUGAR

Os Goonies
Cantando na
(1985)
Chuva
(1952)

3º LUGAR

E o Vento Levou...
(1939)

2º LUGAR 5º LUGAR 6º LUGAR 7º LUGAR

O Poderoso Chefão 2001: Uma Odisseia Star Wars: Uma Curtindo a Vida
(1972) no Espaço (1968) Nova Esperança (1977) Adoidado (1986)
may Tanferri
Designer
Sofri um acidente
aos 17 anos e voltei
a estudar um ano
depois. Na época,
precisava cobrir
quase todo o meu
corpo com malhas
compressivas e de
tratamento.
Enfrentei olhares,
risinhos, comentá-
rios maldosos e até
fotos! Chorei várias
vezes ao voltar para
casa e nunca tirava
o boné – achava que
assim minha expo-
sição seria menor.
Ainda tenho muita
dificuldade em di-
ferenciar um olhar
curioso ou empáti-
co de um maldoso.

31
NÃO É BRINCADEIRA DE CRIANÇA. NÃO É SÓ UMA PIADA. NÃO É MIMIMI. AGRESSÕES VERBAIS

Feu
Editor
de arte

Thaís Solano
Estagiária
de design

NAthan
fernandes
Editor

REPORTAGEM CAROL CASTRO E FELIPE FLORESTI FOTOS JULIA RODRIGUES

DESIGN FEU EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO


PODEM DEIXAR MARCAS PELO RESTO DA SUA VIDA — MESMO SE VOCÊ NÃO FOR A VÍTIMA

Felipe
Floresti
Repórter

Vitória
Batistoti
Estagiária
de jornalismo Mayra
MArtins
Designer

MEMÓRIAS Quase todo mundo já sofreu bullying. A redação da GALILEU também.


Para mostrar como o problema é comum, decidimos ilustrar as páginas com nossas histórias.
A
Com a irmã, Sofia, a história foi ou-
tra. Ela começou a apresentar sintomas
fortes de ansiedade — mordia a parte
interna da bochecha até sangrar — e
a adotar uma postura mais agressiva
com todos, inclusive em casa, com os
pais. Uma das professoras comentou
PERSONAGENS com a mãe que a menina comia duas
DESSA vezes durante os intervalos. Só não
TRAGÉDIA contou que ela havia se afastado dos
amigos e que a única pessoa com quem
QUEM É QUEM NA
conversava era a atendente da livraria
HORA DO BULLYING
da escola. Até que um dia Sofia não
AUTORES aguentou mais e pediu desesperada-
São aqueles que pra- mente para mudar de colégio. Fernan-
ticam o bullying. Em da atendeu, e só depois da mudança se
geral, vêm de famílias deu conta de que a filha sofria bullying.
desestruturadas, com É que reconhecer o bullying não é
pouco relacionamen- fácil. Em geral, todo mundo percebe
to afetivo. Empatia e que não era uma simples “brincadeira
diálogo não são seu de criança” só quando a história atinge
forte. Consequências: seu desfecho mais trágico — e não fal-
suas amizades são tam casos nos últimos tempos. A Po-
passageiras, já que lícia Civil trabalha a hipótese de que
são construídas na o adolescente que atirou nos colegas
base do medo. numa escola em Goiânia, em outubro,
foi motivado pelo bullying. Chamado
A primeira vez que Fernanda Brzezinski fez uma de fedorento, ele teria ganhado um de-
VÍTIMAS
dieta foi aos seis anos. A avó cobrava dela um cor- sodorante de presente de um colega
Os alvos dos agres-
po dentro dos padrões. E a menina absorvia toda dias antes. Outra história, mais recen-
sores quase sempre
aquela cobrança. Na escola, as piadas dos colegas te, que virou notícia no mundo todo em
são tímidos, possuem
também a estimulavam a perder peso. “Eu ainda janeiro, é a da adolescente australiana
alguma característica
era peluda, então começaram a dizer que eu pare- Ammy “Dolly” Everett, de 14 anos. Ex-
diferente do restante
cia uma foca quando ria”, relembra. Não comprava -garota-propaganda de uma marca de
da turma e sua auto-
roupas justas ou do tamanho certo; preferia camise- chapéus, a jovem se suicidou depois de
estima é baixa (por
tas e calças largas, na tentativa de esconder o corpo. constantes ataques virtuais — os pais
isso não conseguem
Na adolescência, quando frequentava a casa de uma não disseram o motivo, mas deixaram
reagir ou pedir ajuda).
amiga bem magra, na hora do lanche da tarde ela era um convite aos agressores. “Se as pes-
Têm mais chances de
proibida de comer. Fernanda só perdeu peso perto soas que pensaram que se tratava ape-
desenvolver depres-
dos 30 anos, quando teve seus dois filhos: Felipe, hoje nas de piadas e que se sentiam supe-
são e ansiedade.
com 14 anos, e Sofia, com 10. riores com o bullying constante virem
Os filhos passaram pelas mesmas dificuldades que esse post, por favor, venham ao fune-
a mãe. No ano passado, Felipe entrou em um papo ESPECTADORES ral para testemunhar a completa de-
sobre política no grupo de WhatsApp da sala de aula. São as testemunhas vastação que criaram”, escreveu Tick
Apaixonado pelo assunto, ele e os amigos discorda- dos fatos. Por medo Everett, pai da garota, no Facebook.
ram de uma colega, que pediu para encerrar a discus- de tornarem-se alvos, Só tem um detalhe: histórias extre-
são. Ela argumentou que aquela conversa era coisa optam pelo silêncio. mas como essas são exceções. Em ge-
para adultos e não para adolescentes como eles — No fim das contas, ral, os adolescentes sofrem em silêncio
como resposta, tomou uma invertida: “Mas idade para de tanto assistirem — normalmente não tomam atitudes
beijar na boca você tem, né?”. A briga não parou ali. ao bullying, acabam tão drásticas — e, por isso, os casos
Chateada, a garota adicionou amigos mais velhos no naturalizando essa crescem fora das estatísticas, desper-
grupo para defendê-la. E foi o que fizeram. Só quem violência, como se cebidos. Ainda assim, segundo pesqui-
continuou na conversa foi Felipe — e ele foi ofendido fosse parte da vida e sa do Instituto Brasileiro de Geografia
de todas as formas por causa do peso. “Você vai mor- das relações. e Estatística (IBGE) realizada em 2015
rer virgem”, ouviu. Aos prantos, mostrou a mensagem com mais de 70 mil alunos, um a cada
à mãe e perdeu a vontade de ir à escola. Só superou três adolescentes brasileiros já sofreu
parcialmente o trauma com a ajuda de psicólogos. bullying. Outros 20% admitem pra-
ticá-lo. A maior parte dos agressores e das vítimas HERANÇA DAS CAVERNAS
têm, em média, 14 anos. É a fase da puberdade, das Lá no começo da nossa história como
conquistas amorosas, e quem não se enquadra nos Homo sapiens, há uns 300 mil anos, fa-
padrões de beleza é quase sempre alvo. Não à toa, zia sentido travar disputas e usar o ar-
de acordo com a pesquisa, os principais motivos das tifício da humilhação contra adversá-
zoeiras são a aparência do corpo e do rosto. rios. Eram tempos de vacas magras, e
O problema persiste porque pais e professores ain- o macho mais ligeiro e forte ganhava
da têm muita dificuldade até em nomear o que é as fêmeas que queria — de quebra, ain-
bullying — até porque o termo surgiu e começou a ser da afastava a concorrência para longe
estudado com afinco recentemente, em 1999. É defi- das terras mais ricas e férteis. Naquela
nido como o desejo consciente e deliberado de mal- época, quanto mais escassos eram os
tratar uma pessoa e colocá-la sob tensão. A origem recursos, mais vantagem no bullying.
vem da palavra inglesa “bully”, e reme-
te a valentões, tiranos e brigões. Mas
nem todo bullying envolve briga físi-
ca — as agressões podem ser verbais, Feu
como aconteceu com Felipe, ou psico- Editor de arte
Até o fim da ado-
lógicas (isolar um colega, como fize-
lescência tive ver-
ram com Sofia). “Há pouco tempo, o gonha do meu cor-
conceito era rejeitado por não ser bem po. Não tirava a
camisa para nada.
definido. E hoje é um pouco deturpado,
Parecia que todos
tudo a gente diz que é bullying. ‘Ai, a me olhavam de um
professora não gostou do meu traba- jeito diferente — e
olhavam mesmo.
lho, sofro bullying’”, explica a psicote-
Na escola , quan-
rapeuta Quézia Bombonatto. do eu me senta-
É justamente para não transformar va, os colegas pu-
lavam, como se o
tudo em bullying que os pesquisado-
chão tivesse tre-
res definiram critérios para descrever mido. Por imposi-
o problema: comportamento agressivo ção, eu era sempre
o goleiro – afi-
ou propositalmente doloroso ao outro,
nal, gordinho não
repetido várias vezes ao longo do tem- aguenta correr.
po e caracterizado por um desequilíbrio
de poder entre pessoas. Essas situa-
ções envolvem sempre três atores, não
apenas um ou dois. Há o agressor, a ví-
tima (mais frágil e, em geral, com bai-
xa confiança e autoestima para se de-
fender) e o público. Sem a plateia para
rir ou repassar as piadinhas, nenhuma
brincadeira tem vida longa.
Na sua época — e na de seus pais,
avós, bisavós — isso já existia, só não
era chamado de bullying. Diziam que
era brincadeira e não tinha nada demais,
afinal, você (ou eles) cresceu saudável e
forte. Certo? Não exatamente. Fernanda
sabe bem as marcas que o bullying dei-
xou e que o tempo não apagou. “Como
eu fui gorda, sempre avisei meus filhos:
ou vocês emagrecem ou aceitam que serão chama-
dos de gordos, como eu fui”, conta. “E errei nisso.
Não estimulei a autoestima deles.” Mas não é só isso.
Pesquisas recentes mostram ainda que o bullying au-
menta os riscos de depressão e transtornos de ansie-
dade durante a vida toda da vítima, não apenas na in-
fância. Uma coisa, no entanto, é certa: bullying existe
35
(e causa dor às vítimas) desde sempre.
Vitória
Batistoti
Estagiária
Ao longo da vida,
ganhei vários ape-
lidos por causa da
minha orelha de
abano. Na infân-
cia , isso me afe-
tava tanto que só
usava faixa de ca-
belo e nunca ousa-
va fazer um rabo
de cavalo, nem no
calor. Cresci e acei-
tei minhas orelhas
como uma carac-
terística minha —
e não uma falha.
Hoje, amo minhas
orelhinhas e pren-
do o cabelo quan-
do sinto vontade.
explicam os pesquisadores. Com tanta vantagem,
37
não é de se estranhar que esses agressores também
sofram bem menos estresse que seus companheiros.
É por isso que, segundo o artigo dos canadenses,
agressores têm menos resfriados, tosses, dores de
garganta e problemas respiratórios que suas vítimas
e até mesmo que sua plateia — os espectadores que
assistem ao sofrimento alheio sem demonstrar em-
patia e que escolhem o lado do agressor pelo temor
de se tornarem os próximos alvos.
Uma das lutas dos estudiosos no assunto é mostrar
que os agressores não sofrem de algum tipo de distúr-
bio psicológico. Eles sabem o que fazem, e entendem
tão bem o sentimento humano que sabem como usá-lo
para machucar outras pessoas, argumentam cientistas.
Já faz tempo que deixamos de habitar cavernas, e em-
patia todos sentem — a não ser que sejam psicopatas.

“Há evidências disso em pesquisas SÓ BRINCADEIRA...


sobre caçadores-coletores”, contam Luiz Guilherme Melo olhou ansioso para a lista dos
os pesquisadores Anthony Volk, Jo- alunos com quem passaria o 8º ano inteiro. Perce-
seph Camilleri, Andrew Dane e Zo- beu que os colegas, na maioria, eram mais velhos
pito Marini no artigo “Is adolescent que ele — estavam atrasados ou haviam repetido
bullying an evolutionary adaptation?” séries anteriores. Aos 13 anos, essa pequena dife-
(“O bullying entre adolescentes é uma AGRESSORES SE rença de idade é suficiente para criar
adaptação evolutiva?”, em tradução li- uma relação de poder, e ele sabia: os
TORNAM MAIS
vre). Ou seja, acabar com o moral do mais velhos comandariam a dinâmi-
colega valia muito a pena, por isso o POPULARES ca da turma. Não levou muito tempo
bullying sobreviveu e floresceu ao lon- NAS ESCOLAS — para que ele virasse o principal alvo de
go de toda a nossa história.
EM GERAL, POR bullying na sala. “Qualquer aluno que
Para provar de vez a teoria, os pes- não se enquadrasse no que conside-
quisadores analisaram se essa premis- SEREM MAIS ravam ‘descolado’ era chamado de bi-
sa de sucesso do bullying estendia-se FORTES E chinha ou veado. Se você tinha trejei-
para os tempos modernos. E descobri-
COLOCAREM tos era pior ainda”, conta o manauara.
ram o óbvio: os agressores se tornam Certa vez, quando uma das profes-
mesmo mais populares — em geral, MEDO NOS soras faltou, um grupo de alunos cer-
por serem mais fortes e amedrontarem OUTROS cou Luiz Guilherme e jogou uma revis-
os outros colegas, que preferem se jun-
COLEGAS, ta de mulher pelada sobre sua carteira.
tar a eles a encarar a mesma humilha- Queriam ver se o garoto se excitaria ou
ção das vítimas. Tanta popularidade, QUE PREFEREM não. Tentaram abrir a braguilha da cal-
no fim das contas, tem o mesmo efeito SE JUNTAR ça dele para tirar a prova. Enquanto ele sofria, a turma
na vida amorosa desses adolescentes
A ELES A toda se divertia. “Fiquei encolhido de tanta humilha-
que tinha entre os caçadores-coletores. ção. Foram poucos minutos, mas para mim durou uma
Meninos que praticam bullying atraem ENCARAR A eternidade”, relembra. Depois do episódio, os poucos
mais meninas, e vice-versa. MESMA amigos sumiram (só uma colega permaneceu presen-
A explicação para esse encanta-
HUMILHAÇÃO te), e ele passou a ter crises de ansiedade todas as ma-
mento todo por seres humanos agres- nhãs, quando se preparava para ir à escola.
sivos também vem lá dos nossos ante- DAS VÍTIMAS. Luiz Guilherme reagiu como todas as vítimas de
passados. “Os meninos exibem traços OS EFEITOS bullying: sem saber como se defender, buscou no
primários, como força física (...), que
TAMBÉM ESTÃO isolamento uma forma de proteção. E os agressores,
advertem a habilidade futura do me- como sempre, esperaram o momento propício para
nino de prover proteção. Para uma NA VIDA atacar, quando não havia qualquer figura de autori-
menina, além de despertar traços de AMOROSA: OS dade por perto (professores, diretores ou pais). Em-
atratividade e mostrar disponibilida-
‘BULLIES’ SE bora não tenha sido o caso de Guilherme, quem sofre
de de recursos, sinalizam ao menino esses ataques, independentemente do sexo, também
um futuro de fertilidade e cuidado po- DÃO MELHOR tem uma tendência maior a se envolver com drogas
tencial para tomar conta dos filhos”, QUE OS DEMAIS — de todos os tipos, lícitas (cigarro e álcool) ou não.
Mayra Martins
Designer
Fui uma criança
extremamente
magra , nada me
fazia engordar.
Não me sentia con-
fortável em vários
tipos de roupas
tudo sempre fica-
va largo. A vergo-
nha aumentou na
pré-adolescência e
virou inseguran-
ça. Mas passou.
Aprendi a amar
meu corpo, que
mudou muito des-
de então. Hoje, en-
tendo que caracte-
rísticas físicas não
definem ninguém.
Nathan
fernandes
Editor
Sempre me chama-
ram de “bicha”, de
“viadinho”. Mas o
episódio mais mar-
cante ocorreu du-
rante uma aula de
Educação Física.
Dobrei a calça e
deixei-a bem cur-
ta. Os meninos me
rodearam para me
chamar de “pega
rapaz”. Passei a
renegar qualquer
sinal da minha
homossexualidade.
Aos 22 anos, enten-
di que ser “bicha”
não era uma ofen-
sa , mas um símbo-
lo de resistência.
No ano seguinte, a turma da escola mudou no-
vamente, e o pior ano da vida de Luiz Guilherme
ficou para trás — mas não sem deixar sequelas.
Ele só conseguiu assumir sua orientação sexual
aos 28 anos. “No meu subconsciente, assumir que
sou gay era como dar razão àqueles idiotas. Passei
anos nessa negação. Toda vez que era confrontado
com esse lado, eu me lembrava das provocações”,
relata. A ansiedade, aflorada aos 13 anos, também
nunca deixou de fazer parte da vida dele, ainda que
esteja mais controlada.
Thaís solano
Estagiária É bem comum que os efeitos
Nunca me ofende- do bullying durem ao longo da
ram , mas sempre
me excluíram.
vida toda, principalmente se as
Tímida e intro- vítimas não tiverem acompa-
vertida , ficava de nhamento psicológico. Pesqui-
fora das ativida-
des e brincadeiras.
sadores do King’s College, em
Sentia-me diferen- Londres, analisaram dados de
te e estranha por 18 mil crianças disponíveis no
não me entrosar
— não me permi-
Estudo Nacional de Desenvolvi-
tiam aproximação! mento Infantil, do Centro Lon-
Não sei como co- gitudinal de Estudos do Reino
meçou , mas me es-
condi cada vez mais Unido. Essas crianças respon-
dentro de mim. Até deram sobre a vida escolar (se
hoje tenho dificul- sofriam constantes provoca-
dade em me relacio-
nar com pessoas. ções dos colegas ou não) aos 7
e aos 11 anos. Todas foram en-
trevistadas novamente ao lon-
go de várias fases da vida: com
16, 23, 33, 42, 45 e 50 anos. En-
tre as questões, contaram so-
bre problemas de saúde mental,
quantas vezes e por qual motivo
haviam procurado assistência
psicológica ou psiquiátrica [leia
sobre o estudo também na coluna
de Daniel Barros, na página 71].
Quanto mais bullying os en-
trevistados tinham sofrido na in-
fância, maiores eram os relatos
de depressão, ansiedade, pensa-
mentos suicidas ou algum outro
problema relacionado à saúde
mental na vida adulta. Aos 50
anos, essas pessoas também cos-
tumavam ter qualificações profis-
sionais piores e, em geral, leva-
vam uma vida mais solitária — a
média de solteiros entre os en-
trevistados era maior e o grupo
de amigos que davam suporte era bem mais restrito.
Outro estudo britânico, da Universidade de War-
wick, apontou ainda que o bullying na infância aju-
da a prever os riscos de suicídio entre mulheres de
25 anos. Já deu para perceber por que bullying não
pode ser tratado como uma “brincadeira de crian-
40
ça”? “É um problema de violência que precisa ser re-
ATRÁS DOS MUROS DA ESCOLA
Washington Narciso chegou à Escola Estadual Jor-
nalista David Nasser, no Jardim Macedônia, extremo
sul da capital paulista, em 2008, aos nove anos. Ne-
gro e baixinho, virou alvo fácil para bullying. Gusta-
vo Soares, dois anos mais velho, observou as fraque-
zas do menino e não deixou barato. Não só ele, mas
outros garotos do colégio começaram a tirar sarro
da cor da pele e da estatura de Washington. Então,
solvido com convivência. Todo mun- ir à escola passou a ser um sacrifício.
do diz que o bullying é ruim, mas não Washington encontrou uma maneira — não a me-
contam por quê. E inúmeras pesquisas lhor possível — de se livrar das perseguições. Apren-
mostram os efeitos nocivos dele”, diz deu que, se atacasse, deixaria de ser atacado. Quando
Luciene Regina Tognetta, professo- Gustavo se aproximava para ofendê-lo, ele entrava no
ra do departamento de Psicologia da jogo e passava a xingar o colega com quem estava.
Educação da Unesp e coordenadora “Era trairagem pura”, lembra. Dava certo: o alvo dei-
do Grupo de Estudos e Pesquisas em xava de ser ele. Em pouco tempo, Washington con-
Educação Moral (Gepem). quistou a amizade de Gustavo, entrou para a turma e
Já pesquisas sobre os efeitos do passou de vítima a agressor. Se em casa não recebia
bullying nos outros participantes — atenção dos pais, na escola construiu sua populari-
agressores e plateia — ainda são escas- dade. Não dava sossego a ninguém — até mesmo os
sas, mas sabe-se que eles também enca- colegas negros, como ele, recebiam ofensas racistas.
ram problemas mais adiante. Crianças Moleque magrelo? Ganhava logo o apelido de pau de
e adolescentes que convivem com o so-
SEGUNDO vara. Professor alto? Só podia ser chamado de poste.
frimento dos colegas passam a ver a ESTUDO FEITO Se alguém decidisse bater boca, ele “metia logo uma
violência como algo natural. “Como
NO REINO bicuda”. Se um professor tentasse falar algo, ele abria
não conseguem pensar em uma forma o Estatuto da Criança e do Adolescente para provar
de lidar com aquilo, a frustração por
UNIDO, QUEM que “não era obrigado a nada”. Cabulava aula para
não conseguirem ajudar se transforma SOFREU dormir na casa de Gustavo ou bagunçar nas praças
na naturalização da violência. Tudo vira BULLYING e, sem qualquer dedicação aos estudos, repetiu a 8ª
brincadeira”, explica Tognetta. série. Washington era o terror da escola.
Para os agressores, sobra uma vida
QUANDO Em 2014, as coisas mudaram. Victor Moraes, pro-
de solidão. “A curto prazo não há con- CRIANÇA E fessor de Matemática, ofereceu-se para fazer parte
sequências para eles. Mas essas pes- ADOLESCENTE de um projeto contra bullying da escola. Como pro-
soas não conservam as amizades. fessor mediador, passou a coordenar reuniões com
Ninguém consegue ficar submisso a
TENDE A TER, os alunos fora do horário das aulas, duas vezes por
alguém que acha que pode tudo”, afir- AOS 50 ANOS, semana. Depois de várias tentativas
ma a professora. Ou seja, essas amiza- CARREIRA frustradas, convenceu Washington a
des, construídas com base no medo, integrar o time. Sentado em uma roda
têm prazo curto para expirar. Lembra
PROFISSIO- de conversa com alguns de seus alvos,
aqueles agressores que se reuniam em NAL PIOR E o menino escutou e sentiu as lamen-
volta de Luiz Guilherme para ator- TAMBÉM UMA tações de todos eles. A mudança não
mentá-lo? No final daquele mesmo aconteceu do dia para a noite, mas
ano, a maior parte deles nem conver-
VIDA MAIS uma hora a consciência dele pesou.
sava mais. Todos haviam brigado en- SOLITÁRIA — Meses depois, parou de atormentar os
tre si. Assim, para a sorte do garoto, A MÉDIA DE outros. Hoje, aos 19 anos, já formado,
pararam de incomodá-lo. é um dos coordenadores do projeto
No fim das contas, todo mundo se
SOLTEIROS É antibullying do colégio.
dá mal — vítima, público e agressor. MAIOR ENTRE Juntos, os alunos de Moraes se
Até porque nem todo mundo vive o AS VÍTIMAS E unem para agregar colegas isolados
tempo inteiro no papel de santo. Luiz e “salvar” os agressores. Nos casos
Guilherme admite ter feito bullying
O SEU GRUPO mais graves, uma assistente social
com adolescentes mais fracos, antes DE AMIGOS
e depois de passar pela turbulenta 8ª QUE DÃO
série. É um ciclo. Mas há uma forma de
frear essa violência: estimular a convi-
SUPORTE É
REDUZIDO 41
vência saudável nas escolas.
O QUE FAZER
EM CASO DE
participa dos papos com os envolvidos. Além das BULLYING
reuniões, a turma produz, ensaia e apresenta pe-
CONFIRA DICAS DE
ças de teatro — a última delas, assistida pela GA-
ESPECIALISTAS
LILEU, conta a história trágica de uma garota que
se mata em frente às agressoras depois de passar PAIS
por meses de perseguições pesadas. Precisam começar
Os alunos da escola David Nasser passaram a analisando os valo-
conviver bem — e a se respeitar. Em poucos anos, res que promovem
o colégio público deixou de acumular casos de em casa. É preciso
violência e tornou-se referência no combate ao dar importância a
bullying na cidade. É esse tipo de iniciativa que tudo que envolve o
o Gepem, coordenado por Luciene Tognetta, es- desenvolvimento dos
timula nas escolas. “Se tenho um problema de filhos, inclusive os
violência, preciso de convivência. Não sentimentos. Aten-
adianta só abraçar a escola, fazer ges- ção a sinais, como
to de paz e espalhar cartazes”, diz. “É tristeza e raiva.
preciso haver medidas de prevenção
[com projetos que integrem e estimu- ESCOLAS
lem a convivência entre os alunos] e Têm de promover
intervenções pontuais [com auxílio de projetos de convi-
psicólogos e educadores] dentro das vência, com ativida-
escolas”, explica. “Não tem tarefa de des intencionais e
Matemática? Então vamos dar tarefas sistemáticas de pre-
de convivência.” Por mais que alguns venção à violência.
estudantes relatem falta de atenção Professores devem
em casa, é dentro do colégio, destaca proporcionar expe-
a pesquisadora, longe dos olhos dos riências de debate e
pais, que a violência acontece. Por espaços para discus-
isso, os projetos devem partir dali, são da questão.
com a ajuda dos próprios estudantes.
Em outro ponto de São Paulo, o tra- COLEGAS
dicional Colégio Bandeirantes, onde Precisam passar de
os alunos vivem uma situação social espectadores a agen-
e financeira bem diferente da dos ga- tes que melhorem o
rotos do Jardim Macedônia, também ambiente. Têm que
trava uma batalha contra o bullying. vivenciar valores mo-
Educadores e alunos voluntários do 6º rais no dia a dia, na
ao 9º anos se reúnem com os profis- escola e em casa para
sionais do Gepem para aprender sobre que possam encarar o
escuta ativa e empatia. E os jovens são bullying como violên-
treinados para agir como uma equipe cia, e não como algo
de ajuda. Quando percebem um alu- natural nas relações.
no isolado, tomam a iniciativa de se
aproximar, com cuidado. “Eles não podem che- COMUNIDADE
gar e falar ‘conta comigo’. Se fizerem isso, a pes- O silêncio nunca
soa vai achar que está mal mesmo. É outra forma afeta só quem está
LU N A D
de aproximação”, explica Marina Schwarz, orien- sendo intimidado, A CO OP
GN S
tadora educacional da escola. “Se o menino iso- já que o bullying é
IN

IQ
O B R E B ULLY

UIA

lado é bom em Matemática, por exemplo, o aluno uma violência que se


TRA DANIE

se aproxima dele pedindo ajuda nessa disciplina. desenvolve de forma PÁG. 71


A confiança e a amizade acontecem naturalmente, sistêmica. O suces-
SS

LB

aos poucos”, conta. Assim como no colégio públi-


AI

so das iniciativas AR
AM RO
LEI
co, o ambiente melhorou e os casos de violência depende da partici-
S

caíram. Sobrou mais tempo para a amizade — e pação de todos da


menos espaço para as humilhações. sociedade.
Felipe floresti
Repórter
Na minha adoles-
cência , a zoeira era
geral. Uma brecha
era suficiente. Mos-
trou sentimentos?
Bicha! Ninguém
podia vacilar. Ne-
nhuma imperfei-
ção era perdoada.
E eu , um cabeçu-
do baixinho e cheio
de espinhas, tam-
bém tomei. Como
proteção, me fe-
chei e vi minha in-
segurança crescer.
Ainda hoje não sei
direito como me
abrir com alguém.
D I V I
Capazes
de avaliar
grandes
volumes
de dados
ZONA CINZA
que nós
Discussão equili-
deixamos
brada do tema e
como
perfis de imprensa
rastros na
web, novas ZONA VERMELHA
tecnolo- Reúne os apoia-
gias de dores de Dilma
inteligên- Rousseff (PT)
cia artifi-
ZONA AZUL
cial pas-
Reúne os apoiado-
sam a
res de Aécio Neves
conhecer
(PSDB)
profunda-
mente os PONTOS ROSA
eleitores Contas controla-
e a moldar das por robôs
as novas
campanhas
políticas

E C O N Q U
POR FELIPE FLORESTI ILUSTRAÇÕES GUILHERME HENRIQUE DESIGN MAY TANFERRI
D I R

U I S T A R
Pesquisa da FGV-DAPP mostra que, dos 2.307.185 tweets que discutiam o debate da Rede Globo antes do segundo turno das eleições de
2014, realizado em 24 de outubro, cerca de 11% eram de robôs — todos localizados nos extremos dos polos de apoio aos candidatos
do subconsciente, Bernays preferia uti-
lizá-los com fins comerciais. Suas ideias
viraram prática em 1929, na parada de
Páscoa de Nova York. Ele contratou um
grupo de enfermeiras, vistas como inde-
pendentes, para aparecerem fumando em
público. Mais que tabaco, as mulheres
estavam acendendo “tochas da liberda-
de”. “Cigarros são um símbolo do pênis
e do poder sexual masculino. Mulheres
fumando seriam como se tivessem seu
próprio pênis”, disse Bernays à época.
A estratégia deu certo. Principalmen-
te para a indústria tabagista. Qualquer
um pode se enfumaçar livremente des-
de então. Mais bem-sucedidas ainda
foram as teorias de Bernays explicita-
das no livro Propaganda, publicado um
ano antes. “A manipulação inteligente e
consciente dos hábitos e opiniões das
massas é um importante elemento da so-
ciedade democrática. Aqueles que ma-
nipulam esse mecanismo não visto da
sociedade constituem um governo invi-
sível que realmente controla o poder no
nosso país. Nós somos governados, nos-
sas mentes, moldadas, nossos gostos,
formados, nossas ideias, sugeridas em
grande parte por homens de quem nun-
ca ouvimos falar”, escreveu ele.
Considerado criador das Relações Pú-
blicas, é pouco lembrado devido ao caráter
controverso de sua obra. O livro constava
na cabeceira de Joseph Goebbels, chefe da
propaganda nazista. Na década de 1950,
foi fundamental na derrubada do governo

Até o início do século 20, a sociedade não da Guatemala em prol da norte-americana


via com bons olhos mulheres fumantes. United Fruit, alardeando a ameaça comu-
Tragar um cigarro não era coisa de mu- nista. Eram fake news em modo analógico.
lher séria. O preconceito deixava metade As ideias de Bernays só tinham uma
da população fora de um lucrativo mer- barreira: conhecer a sociedade que se
cado. Edward Bernays, austríaco radi- busca influenciar. Foram centenas de
cado nos Estados Unidos e sobrinho de pesquisas em diversos países até que, en-
46
Sigmund Freud, foi escalado pela indús- tre os anos 1960 e 1970, psicólogos che-
tria para mudar a situação. garam a um modelo. Conhecido como os
Depois de uma visita à Europa, voltou 45 Grandes Cinco Fatores, o projeto utiliza
com uma cópia das teorias do pai da psi- questionários para avaliar a pessoa por
canálise. Os dois tinham certo fascínio seu nível de extroversão, grau de foco,
44
pelo inconsciente. Mas, enquanto Freud abertura a novas experiências, estabili-
buscava liberar as pessoas dos desejos dade emocional e sociabilidade.
Ao definir a condição de uma pessoa
Você é o que somadas centenas, chega-se a um resul-
em cada um desses fatores, presentes
em todos nós, é possível traçar um per-
você curte tado extremamente preciso. Segundo Ko-
sinski, 68 curtidas são suficientes para
Com 68 curtidas no
fil comportamental, inclusive de nossos adivinhar com 95% de acerto a cor da
Facebook, pesquisadores
medos, sonhos e desejos. Desde então, pele, 88% para orientação sexual e 85%
já conseguem saber
a publicidade — política ou não — usa para preferência política. Nível de inteli-
bastante sobre você
e abusa da classificação para entregar o gência, religião, uso de cigarro ou drogas
( % de precisão)
produto certo à pessoa certa. também podem ser inferidos. Com a aju-
da de inteligência artificial, sabem mais
QUE ROLEM OS DADOS 5% sobre você que seus amigos próximos
No dia 9 de novembro de 2016, um co- com base em 70 likes. Com 150, mais que
municado chamou a atenção do polonês seus pais. Para superar o companheiro,

95%
95%
Michal Kosinski. “Nossa abordagem re- 300. Com mais que isso, garantem co-
volucionária da comunicação dirigida nhecer a pessoa melhor que ela própria.
por dados performou uma participação Com o tempo, os pesquisadores da
COR DE PELE
importante na extraordinária vitória de área passaram a utilizar fontes de dados
Trump”, dizia a nota, assinada por Ale- ainda mais confiáveis. Quando você cur-
xander Nix, CEO da Cambridge Analyti- te uma página, o faz esperando que seus
ca (CA). Ele é especialista em psicome- 12%
conhecidos vejam — a tendência é escon-
tria, área da psicologia que usa modelos der detalhes vergonhosos. Mas ninguém
matemáticos para identificar os cinco fa- 88%
pensa nisso enquanto caminha rapida-

88%
tores, e sabia que essa “revolução” tinha mente com o smartphone no bolso, um
muito a ver com seu trabalho. sinal de instabilidade emocional, nem ao
Oito anos antes, durante o doutorado postar uma foto, o que indica extrover-
na Universidade de Cambridge, Kosins- ORIENTAÇÃO são. “A grande novidade, além das aná-
ki trabalhou em um aplicativo chama- SEXUAL lises em larga escala, é fazer medidas in-
do MyPersonality. A ideia era simples. diretas de comportamento”, diz Wagner
Os usuários preenchiam um questioná- de Lara Machado, pesquisador em psi-
rio sobre os cinco fatores, concordando 15%
cometria da PUC-Campinas. “São traços
ou não com afirmações como “Eu entro mecânicos, não controlados pela pessoa.”

85%
em pânico facilmente”, “Eu contradigo os 85% Até aquele textão que você escreveu bê-
outros”, e obtinham seu perfil automati- bado e desistiu de mandar é lido pelo Fa-
camente. Também podiam compartilhar cebook e os dados são analisados.
dados do Facebook com os pesquisado- PREFERÊNCIA Nos últimos dois anos, a humanida-
res. Na época, o Orkut ainda era a maior POLÍTICA de produziu 90% de todos os dados de
rede social do mundo e, por isso, espe- sua história. São 2,5 quintilhões de bytes

rava-se a participação de meia dúzia de todo dia. Com a internet da coisas (co-
COM MAIS DE

300
amigos. A surpresa veio quando milhões nexão com objetos), a expectativa é que
começaram a revelar até as mais obscu- o número dispare. Em dez anos, quando
ras convicções. O trabalho terminou com 150 bilhões de sensores estiverem conec-
6 milhões de avaliações e permissão para tados, dos tênis à geladeira, o volume de
acessar 4 milhões de perfis. Com o maior dados deve dobrar a cada 12 horas.
banco de dados desse tipo já coletado,
Kosinski começou a buscar correlações. POTENCIAL
Chegou a deduções óbvias, como “ho- 300
Quando Kosinski anunciou sua invenção,
mens que curtem os cosméticos M.A.C. a imprensa tratou como uma novidade
têm mais chance de serem gays”, “os fãs “cool”. Mas ele sabia o potencial da nova
de Lady Gaga têm maior probabilidade GARANTEM CONHECER ferramenta. Mais que traçar o perfil, tinha
de serem extrovertidos”. Por si só, cada A PESSOA MELHOR criado uma forma de busca de personali-
informação não diz muito. Mas, quando QUE ELA PRÓPRIA dades. Quer vender — seja uma ideia, seja
um produto — a alguém ansioso e aves- ta GALILEU? E no Hortelões Urbanos
so a mudanças? Os algoritmos traçam o (grupo de criação de hortas) ou no site
perfil de milhões de pessoas e selecio- do ator Pedro Cardoso?
nam quem se enquadra. Antes era impos- É para preencher essa lacuna de in-
sível até mesmo para um grupo grande terpretação que a Ponte, especializada
de cientistas fazer isso manualmente. na classe C, foi escolhida. “Tivemos que
Quem também percebeu o potencial foi ‘tropicalizar’ tudo”, afirma André Torret-

Fuja da
a Strategic Communication Laboratories ta, sócio-diretor da CA Ponte. O proces-
(SCL), companhia especializada em pro- so demorou oito meses, mas tanto traba-
gramas de mudança comportamental que cilada lho compensa. Uma pesquisa da equipe
atua ao lado de governos e organizações Com cuidados, de Kosinski mostra que o emprego des-
militares em mais de 60 países. Ao iniciar é fácil ajudar a sas estratégias resulta em uma probabi-
uma nova empresa, chamada Cambridge combater lidade 40% maior de alguém clicar em
Analytics (CA), tentaram comprar o mo- as fake news um link e 50% maior de comprar alguma

delo de Kosinski. Diante de uma monta- DESCONFIE coisa. “A segmentação psicológica torna
nha de dinheiro, ele quase aceitou, mas DO EXAGERO possível influenciar um grande grupo de
desistiu ressabiado com o assumido ob- Notícias falsas geralmente pessoas com o uso de apelos persuasi-
jetivo de “influenciar eleições”. trazem nas manchetes excla- vos que atendem às necessidades da au-
O assunto permaneceu esquecido até mações e maiúsculas. diência-alvo”, diz o estudo do polonês.
novembro de 2015, quando a Leave.EU, Outras empresas por aqui também
ala radical da campanha para a saída do EVITE O MISTÉRIO apostam na ciência dos dados para
Reino Unido da União Europeia — o Brexit Títulos como “Você não vai aperfeiçoar carreiras políticas. Criada
—, anunciou a contratação da CA, com seu acreditar no que aconteceu” no início de 2016, a Social QI utiliza
inovador marketing político. Uma cópia da são os famosos caça-cliques. cinco softwares que analisam big data
metodologia de Kosinski. A fama interna- Segure a curiosidade para monitorar as redes sociais do pre-
cional da empresa veio um ano depois, na e não caia nessa. feito de São Paulo, João Dória (PSDB), e,
campanha de Donald Trump à Presidência assim, ajudar a moldar seu discurso para
dos EUA. Ela participou também de elei- CHEQUE O VEÍCULO que seja melhor entendido. Já o NOW
ções na Colômbia, na Itália, na Indonésia, Verifique sempre de onde Observatório, que iniciou sua atuação
no Quênia, entre outros países. Em 2017, vem a notícia: se é um site em janeiro deste ano, tenta popularizar
firmou parceria com a agência de publi- conhecido e confiável, se o acesso às ferramentas: oferece planos
cidade Ponte para operar no Brasil. Até revela o nome do jornalista e que vão de R$ 979 por mês para candi-
a conclusão desta reportagem, a agência se traz informações sobre os datos a vereador a R$ 19.580 para candi-
disse ter fechado participação em três proprietários da página. datos à Presidência da República.
campanhas para as eleições deste ano, Mas não fica por aí. O uso de tecnolo-
mas não revelou os nomes dos candida- CONFIRA A FONTE gias para influenciar o debate político não
tos por motivos contratuais. Colunas de opinião trazem o é novidade. Na eleição presidencial brasi-
nome do autor. Reportagens leira de 2014, 10% das interações no Twit-
VERSÃO BRASILEIRA sempre são feitas com base ter foram feitas por máquinas. Durante o
O site da Universidade de Cambridge em pesquisas e entrevistas. debate do segundo turno na Globo, 20%
disponibiliza uma versão do MyPerso- Não tem fonte, esqueça. dos comentários entre os usuários favorá-
nality, o Aplly Magic Sauce. A predição Se tem fonte, busque para veis a Aécio Neves (PSDB) foram motiva-
de personalidade, porém, é desapontado- descobrir se ela é real. dos por contas automatizadas, os bots. En-
ra. De todos os 453 likes deste repórter, tre perfis de apoio a Dilma Rousseff (PT),
conseguiram aproveitar apenas 19. Por NÃO CONFIE foram 10% [veja gráfico na p. 45]. “A tec-
curtir a página das TED Talks, série de EM NINGUÉM nologia necessária não é muita. Não preci-
conferências que acontecem no mundo Informe-se sempre em mais sa ser um hacker da Nasa”, revela um dos
todo, por exemplo, presumiram que eu de um veículo. Até sites reno- autores do levantamento, Pedro Lenhard,
seria liberal, espontâneo e tranquilo. Mas mados podem errar. O ideal é da Diretoria de Análise de Políticas Públi-
o que quer dizer minha curtida na revis- acompanhar diversos. cas da Fundação Getulio Vargas (FGV).
(Unifesp), e Pablo Ortellado, da USP,
com participantes de um protesto em
São Paulo contra o governo Dilma, em
2015, mostrou que 64% acreditavam que
o PT queria implantar um regime comu-
nista, 71% que o filho de Lula é um dos
sócios da Friboi e 53% que o PCC é um
braço armado do PT. Já em manifestação
contra o impeachment, no ano seguinte,
56,7% afirmavam que os protestos con-
tra a corrupção foram articulados pelos
EUA e 55,7% diziam que o juiz Sergio
Moro é filiado ao PSDB. Nenhum dos
pontos mencionados nas enquetes é fato.

DOIS BILHÕES DE BOLHAS


Campanhas políticas com base em dados
começaram a ser utilizadas nos EUA por
Barack Obama, em 2008, e a tendência
chegou ao ápice com Hillary Clinton em
2016. Com investimento de US$ 1,4 bi-
lhão na campanha, a candidata utilizou
dados para definir em quais eleitores de-
veria focar, onde investiria recursos e
onde deveria fazer seus comícios.
Trump fez diferente. Os candidatos
geralmente concentram seus esforços
em trazer os indecisos para seu lado.
Sua campanha inovou ao ignorar esse
grupo. Trump usou a psicometria para
encontrar seus apoiadores e os bombar-
deou com informações que ampliassem a
rejeição contra o adversário. “É uma guer-
ra virtual”, resume Hudson Golino, brasi-
leiro professor de Métodos Quantitativos
no Departamento de Psicologia na Uni-
versidade da Virgínia (EUA). Essa divisão
Desde então, os cientistas encontraram tende a favorecer o candidato mais con-
evidências da influência de robôs em to- troverso, pois passa impressão de norma-
dos os grandes debates. Comum a todos: lidade diante de ideias absurdas. “Campa-
as ações concentram-se nos extremos do nhas se baseiam em pesquisas eleitorais,
espectro político. “São usuários que já mas o eleitor de Trump tem medo ou ver-
têm a tendência de não buscar a infor- gonha de assumir”, diz Golino. Para ele, o
mação correta e tomar uma posição sem mesmo pode acontecer no Brasil com Jair
49
fazer um debate qualificado”, destaca Le- Bolsonaro (PSC). “Somente os apoiado-
nhard. “A atuação nos extremos não é res mais crédulos admitem.”
por acaso. É lá que é mais frutífera.” 48 Se o Twitter é o ambiente ideal para os
A dobradinha fake news e bots é efi- bots, já que fica fácil imitar um ser huma-
ciente. Uma pesquisa coordenada pe- no em mensagens de até 280 caracteres,
los cientistas políticos Esther Solano,
47 no Facebook, espalhar notícias que levem
da Universidade Federal de São Paulo à polarização é a alma do negócio.
rede] entendemos isso de forma cons-
ciente e o fizemos mesmo assim.”
Os algoritmos do Facebook personali-
zam o conteúdo que aparece para você.
Se você é palmeirense, a probabilidade
de clicar em uma notícia do Corinthians
é menor. A rede reconhece a tendência e
lhe fornece mais sobre o Palmeiras, o que
vai fazê-lo clicar e, consequentemente, re-
ceber cada vez mais conteúdo do alviver-
de. O mesmo acontece com temas polí-
ticos. No fim, a tela passa a refletir sua
própria opinião. É a tal da bolha.
Considerando que 2017 terminou com
mais de 2 bilhões de usuários ativos no
Facebook, a bolha provoca um impac-
to social relevante. “Os grupos não en-
tendem mais uns aos outros e se encon-
tram em crescente conflito”, afirmam
cientistas de diversas universidades eu-
ropeias em um artigo publicado na revis-
ta Scientific American. “O resultado é a
fragmentação e, possivelmente, até a de-
sintegração da sociedade.” Na mesma linha,
um dos primeiros investidores da rede
social, Roger McNamee, afirmou ao jor-
nal britânico The Telegraph que o Face-
book está criando uma cultura de medo
e raiva. “Para prender sua atenção, pe-
garam técnicas de persuasão de Edward
Bernays e Joseph Goebbels”, ressaltou.
“É um produto para viciar você.”

LI POR AÍ QUE É VERDADE


Nos EUA, a legislação permite a qualquer
empresa vender qualquer dado de qual-

Por sermos seres sociais, nosso cérebro quer cidadão. A companhia que adminis-
encara informações sobre nós mesmos tra seu cartão de crédito, por exemplo, é
48
da mesma forma que quando ganhamos livre para contar a quem pague por isso
um chocolate ou dinheiro. São recompen- quantos ingressos você comprou ao longo
sas. Pequenas doses de dopamina são li- 49 do ano, onde comprou, quanto gastou e
beradas a cada curtida ou comentário em como pagou. Uma loja pode dizer as cores
relação a algo com que concordamos. que você escolheu e falar de seu estilo.
50
O primeiro presidente do Facebook, Aqui o mercado é mais restrito. “Al-
Sean Parker, confirmou a estratégia em guns dados não estão à venda, não po-
entrevista à imprensa norte-americana. demos utilizá-los. Temos que buscar as
“É exatamente o tipo de coisa que um informações em pesquisas de opinião e
hacker como eu inventaria, pois explora jogar na rede”, conta André Torretta, da
a vulnerabilidade psicológica”, revelou. CA Ponte. A empresa faz uma combi-
“Eu e o Mark [Zuckerberg, criador da nação de dados públicos, do Serasa, do
IBGE e de listas de filiados a partidos. explícita. Esse modelo de posicionamento
Em geral, nossos dados só podem ser dúbio dos candidatos pôde ser aprendido
compartilhados em caso de anuência ex- com a última corrida eleitoral norte-ameri-
pressa. É aí que mora a pegadinha. Afi- cana. De acordo com o próprio Facebook,
nal, quem costuma ler os termos de uso a Internet Research Agency, empresa li-
que diariamente aceitamos? gada ao governo russo, pagou US$ 100
“Mesmo quando os lemos, eles não fa-
Robôs mil para impulsionar três mil postagens
lam para onde vão os dados. Só falam que
serão compartilhados com parceiros, mas
do bem de 470 contas e perfis falsos entre junho
de 2015 e maio de 2016. Mas, em vez de
Tem muita gente
quem são eles?”, diz Andréia Santos, do apoiar Donald Trump ou criticar os seus
fazendo coisas
instituto de ética digital iStart, ONG espe- adversários, a tática seguiu a cartilha da
boas com as novas
cializada em segurança na web. “As pes- divisão social e inflou o debate sobre ques-
tecnologias. Conheça
soas passaram a ver o Facebook como se tões morais, que provocam fortes emoções
algumas iniciativas
fosse um veículo noticioso”, critica a advo- no público, como direitos LGBT, controle
gada. “Estamos nos acostumando à ideia de armas e políticas de imigração.
de que um algoritmo, que não sabemos OPERAÇÃO SERENATA Um estudo da Universidade de Dart-
como funciona, decida o que vamos ou DE AMOR mouth mostrou que um em cada quatro
não ler. Até que ponto não somos respon- Criou a Rosie, inteligência norte-americanos visitou algum site de
sáveis pelas notícias falsas que lemos?” artificial que analisa dados fake news no mês que antecedeu a elei-
Algumas daquelas enquetes do tipo públicos referentes aos gas- ção. Seis em cada dez vieram do grupo
“qual personagem do Game of Thrones tos dos deputados e aponta dos 10% que tinham hábitos mais con-
você seria?” podem servir justamente possíveis irregularidades. servadores na internet, principais alvos
para coletar informações sobre os usuá- Já levou parlamentares das campanhas direcionadas. É impossí-
rios por meio de suas escolhas, além de a ressarcir os cofres vel afirmar que essas artimanhas defini-
liberar o acesso aos conteúdos do Fa- públicos 8 mil vezes. ram a eleição de Trump, mas com certeza
cebook de forma velada. Enquanto não serenatadeamor.org influenciaram. O mesmo deve acontecer
existe uma regulamentação que foque a por aqui — a depender das estratégias dos
transparência, a única forma de se pro- MUDAMOS candidatos e também de interesses es-
teger é desconfiar do que se lê. É impor- Aplicativo que propicia a trangeiros. “No século passado, Estados
tante verificar a veracidade das notícias coleta eletrônica de assina- Unidos e Rússia influenciavam ditaduras
e, para ajudá-lo nessa missão, existem turas para apoiar projetos e políticos no mundo todo”, lembra Go-
sites como o boatos.org. de lei de iniciativa popular. lino. “Hoje, a ferramenta digital permite
Também possibilita a qual- fazer isso sem pessoal físico presente.”
JOGO DE PODER quer um propor uma lei. Porém, nem tudo está perdido. Assim
A tarefa de ficar longe de notícias falsas, É necessário obter 1,5 mi- como as redes possibilitaram o avanço do
porém, deve tornar-se mais difícil à medi- lhão de assinaturas para debate de temas como machismo e homo-

da que as eleições se aproximam. O Tribu- dar início ao processo fobia, as novas tecnologias têm potencial
nal Superior Eleitoral manteve a limitação em âmbito federal. de grande impacto positivo, como mos-
da propaganda na internet. Anúncios só mudamos.org tram as plataformas Mudamos e Opera-
podem aparecer em sites de candidatos ou ção Serenata de Amor [veja mais no qua-
partidos, mas foi aberta a possibilidade do AOS FATOS dro ao lado]. Isso depende de quem está
impulsionamento pago de conteúdos nas O site especializado em por trás da tecnologia. “Tudo pode ser uti-
redes sociais. Criou-se, portanto, espaço checagem de notícias fez lizado para o mal, até o rádio, a televisão.
para publicações segmentadas a grupos uma parceria com o Face- O que precisamos fazer é evoluir como so-
de interesse das campanhas. book para criar a Fátima ciedade à medida que a tecnologia avança”,
Dessa forma, por exemplo, um candi- (“FactMachine”), inteligên- ressalta Golino. “Mas isso envolve tanta
dato pode, em teoria, até defender a lega- cia artificial que ajuda os coisa que é quase impensável educar as
lização do aborto para pessoas mais pro- usuários a checar a veraci- pessoas para a leitura crítica na internet.
gressistas e criticá-la para conservadores, dade das notícias. O Brasil está à mercê de problemas que
sem que a contradição fique inicialmente aosfatos.org talvez nem saiba que existam.”
PAPO CABEÇA
COM ROBERTO MARTINS

“Não faz sentido usar a


teoria quântica para
explicar a espiritualidade”

REPORTAGEM
Físico Roberto Martins lança primeira tradução do
NATHAN FERNANDES

sânscrito para o português de texto clássico do ioga


DESIGN
e fala da relação entre a ciência e a tradição indiana MAY TANFERRI

Quando era mais novo, na épo- e Filosofia da Ciência, o hoje professor


ca do colégio, Roberto de Andrade aposentado de Física da Universidade
Martins tinha facilidade com os núme- Estadual de Campinas (Unicamp) tam-
ros. Apaixonar-se pela física foi uma con- bém se tornou um especialista na antiga
sequência desse bom relacionamento. tradição espiritual que une posturas cor-
Mas o entusiasmo com fórmulas e equa- porais e técnicas de meditação. Com sua
ções não foi suficiente para agradar a esposa, Flávia Bianchini, ele mantém o
todos: um dos professores o considera- site Shri Yoga Devi (www.shri-yoga-devi.
va “nervoso demais” e sugeriu que pra- org), em que divulga informações sobre
ticasse ioga para se acalmar. Como não o pensamento indiano. O site chega a re-
encontrava um lugar para fazer as aulas, ceber cerca de 15 mil visitas por mês.
o aplicado estudante resolveu estudar Equilibrar-se entre os dois campos do
por conta própria os ensinamentos de conhecimento pode até parecer antagô-
José Hermógenes de Andrade Filho, um nico, mas não incomoda Martins. “Assim
dos maiores divulgadores do Hatha-Yoga como alguém pode gostar de literatura
(técnica secular indiana) no Brasil. 52 e ser matemático ou gostar de pintura
Foi assim que, além de se tornar físico, e ser biólogo, eu gosto de física e ioga.
historiador da ciência e doutor em Lógica Nem tento misturar as coisas”, explica o
professor à GALILEU. No fim de 2017,
Martins traduziu o livro Hatha-Yoga-
-Pradipika (editora Mantra, 192 páginas,
R$ 49), escrito por Svamin Svatmarama
há cerca de 500 anos. Trata-se da pri-
meira tradução diretamente do sânscri-
to (língua indo-árica antiga) para o por-
tuguês desse texto que é considerado o
mais importante e detalhado guia de prá-
ticas do ioga tradicional.
“As pessoas que vão se beneficiar do li-
vro são as que já praticam há algum tem-
po e suspeitam que exista algo mais a ser
buscado”, sugere ele, destacando que não
se trata de um manual a ser seguido so-
zinho em casa. “É como alguém entrar
numa farmácia e comprar remédios pela
embalagem — não pode. É uma coisa que
tem efeitos com os quais a pessoa pode
não estar preparada para lidar”, alerta.
semelhança com o alemão, em que se
COMO O SENHOR TRABALHOU O PROCESSO juntam as palavras formando um subs-
DE TRADUÇÃO DO LIVRO? tantivo gigante. No sânscrito também
Nas edições antigas, o que o pessoal fa- acontece isso. E em textos técnicos —
zia era traduzir tudo para o inglês ou ou- como esse —, praticamente não se usam
tra língua, sem explicar o contexto. Ao verbos. É uma coisa interessante, por-
fazer isso, você perde o significado ori- que você vai juntando substantivos, ad-
ginal. Todo texto é escrito para um de- jetivos e conectivos e a frase tem sen-
terminado público, tendo em vista o que tido sem precisar de um verbo. São
ele já conhece. Então, ao escrever esse chamadas de sentenças nominais, que
texto, o autor estava pensando no públi- só têm substantivos e adjetivos.
co indiano que já tinha essa prática, que
já conhecia o pensamento básico do hin- COMO EXPLICAR O IOGA A UMA PESSOA QUE
duísmo. Logo, ele não explica uma série NUNCA TEVE CONTATO COM A PRÁTICA?
de coisas que são óbvias para esse leitor. YOGA FITNESS Depende de quantas horas você tem
E isso é uma barreira para quem vai ler Para Martins, o ioga [risos]. Existem muitos tipos de ioga.
hoje, por isso é preciso comparar com das academias é uma O que todos eles têm em comum é que
outros textos e comparar com o que já simples fração daque- são técnicas de transformação pessoal,
conhecemos sobre o assunto para enten- le da tradição indiana. que levam ao que chamam de libertação.
der as partes mais obscuras do trabalho. “O objetivo da prática Essa libertação tem dois aspectos. O pri-
Apesar disso, não podemos ter certeza tradicional é muito meiro é escapar da roda de renascimen-
absoluta de que tudo foi decifrado. mais ambicioso.” tos — uma ideia básica do hinduísmo de
que você morre e renasce várias vezes,
E EM RELAÇÃO AO SÂNSCRITO? e existe a percepção de que isso cansa e
Toda a estrutura da língua é bem di- não leva a nada. Mas escapar desse ci-
ferente da do português. Ela tem uma Foto: Arquivo pessoal clo não é simplesmente desaparecer no
nada. É aí que entra a parte interessan- PESSOAS CHEGAM A CONCLUSÕES. JÁ NO
te, que é se unir ao absoluto. É algo pa- ORIENTE, AS PESSOAS ESTÃO MAIS PREO-
recido com uma divindade, mas não é a CUPADAS EM SENTIR AS EXPERIÊNCIAS. O
mesma coisa. São ideias completamente SENHOR CONCORDA?
diferentes do que vemos nas academias Sim, realmente, a tradição acadêmica
hoje. Na tradição indiana não existem se baseia em textos, as pessoas compa-
aulas, horários, nada disso. ram, analisam. No caso de ioga e outras
linhas indianas, não se pode ficar só nas
ENTÃO, USAR IOGA E MEDITAÇÃO COMO palavras, é preciso ir além. As vivências
CURA PARA O ESTRESSE E A ANSIEDADE É que o praticante desse ioga mais profun-
UMA IDEIA OCIDENTAL? do tem, muitas vezes, nem podem ser
Embora existam práticas que sirvam descritas, da mesma forma que não é
para reduzir o estresse, esse não era possível colocar em palavras um perfu-
o objetivo inicial. É mais ou menos me que você sentiu. Podemos usar me-
como querer usar um canhão para ma- táforas ou explorar comparações, mas
tar um mosquito. Para fazer isso, você não é uma coisa que possa ser trans-
pega uma raquete, não precisa de um mitida de forma totalmente objetiva.
canhão. O objetivo da prática tradicio-
nal é muito mais ambicioso. O que se COMO CIENTISTA, O SENHOR BUSCA CONCI-
vê por aí nas academias é uma simples LIAR CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE?
fração, uma seleção de coisas básicas, Eu não tento fazer essa relação. Está na
mais simples, que podem produzir efei- moda tentar ligar a física quântica, por
tos físicos e emocionais. Fica nisso. exemplo, à espiritualidade, mas eu não
O que costumo dizer é que deveriam ter gosto desse tipo de relação, pois acho
inventado outro nome, como o pilates, extremamente superficial. Como his-
por exemplo — que pega coisas de ioga, toriador da ciência, sei que ela muda
de musculação, de alongamento ociden- continuamente. A teoria quântica é um
tal... Ao usar o mesmo nome, as pessoas conhecimento físico temporário, que
pensam que é só aquilo e acabou, o que surgiu há um século. Daqui a dois ou
esconde uma coisa muito mais rica. três séculos, todo mundo poderá achá-
-la ridícula. É algo temporário, não é
NO LIVRO O SENHOR DIZ QUE A MEDITAÇÃO uma verdade absoluta, mas as pessoas
NÃO É UMA COISA INTUITIVA, QUE É PRECISO a usam para explicar a espiritualidade.
PRÁTICA E ALGUÉM QUE PASSE ESSE CONHE- Eu acho que não faz sentido.
CIMENTO, CERTO?
Isso, as práticas de meditação são com- MAS QUANDO FALAMOS NA TEORIA DA GRA-
plicadas, o que se faz normalmente VIDADE QUÂNTICA EM LOOP, POR EXEMPLO,
numa aula de ioga na academia é rela- OS FÍSICOS DIZEM QUE, PARA ENTENDÊ-LA,
xamento. A meditação na tradição do PRECISAMOS DESCONSTRUIR O CONCEITO
ioga indiano é um processo diferente, DE TEMPO COMO O CONHECEMOS, UMA IDEIA
em que a pessoa entra num estado alte- TAMBÉM PRESENTE NAS TRADIÇÕES ORIEN-
rado de consciência. É como o que pode TAIS. O SENHOR ACHA QUE O IOGA PODERIA
ser refletido por álcool, por drogas, por NOS AJUDAR A COMPREENDER MELHOR AL-
um estado emocional muito forte, quan- GUNS ASPECTOS DA FÍSICA?
do alguém não está no seu estado nor- Podemos fazer algumas comparações,
mal. Também pode ser semelhante ao apesar de serem coisas completamen-
estado de sono — a pessoa pode ter vi- te diferentes. As pessoas que elabo-
sões. A diferença é que ela não usou raram a teoria quântica não pratica-
nada. Ela tem a técnica para entrar IOGA AGAINST vam ioga nem meditação, elas faziam
nesse estado e sair dele quando quiser. THE MACHINE contas, eram excelentes matemáticos.
Há um objetivo, não é só por diversão. Para Martins, [O físico alemão Werner] Heisenberg
quem pratica ioga deixa bem claro que, quando começou
NO DOCUMENTÁRIO ON YOGA: A ARQUITETURA desenvolve percep- a desenvolver a teoria quântica, não sa-
DA PAZ (DISPONÍVEL NA NETFLIX), DE HEITOR ções diferentes em bia o que estava fazendo. Depois que ela
DHALIA, UM DOS ENTREVISTADOS DIZ QUE relação a si mesmo foi criada, começaram a surgir as inter-
A ESPIRITUALIDADE NO OCIDENTE É MUITO e a sua natureza pretações. E aí temos um problema de-
ACADÊMICA, É DEBATIDA, CRITICADA E AS licado: as pessoas pensam que só existe
uma interpretação, mas há muitas ou- a si mesma e a sua natureza. Uma por-
tras. Sempre que se fala da teoria, fa- ção de outras coisas vão perdendo a im-
la-se de um modo de entender, de uma portância. Muda bastante essa questão
visão, não é a própria teoria. Então são de valores que guiam a vida.
relações bem complicadas.
HÁ UMA FRASE DO FILÓSOFO AUSTRÍACO
DEPOIS DE ANOS DE PROIBIÇÃO, AS PES- LUDWIG WITTGENSTEIN QUE DIZ: “NÓS ES-
QUISAS VOLTADAS AO USO DE PSICOTRÓ- TAMOS DORMINDO, NOSSA VIDA É UM SO-
PICOS NO TRATAMENTO DE TRANSTORNOS NHO, MAS, ÀS VEZES, ACORDAMOS PARA
MENTAIS VÊM RESSURGINDO COM FORÇA. DESCOBRIR QUE ESTAMOS SONHANDO”.
É POSSÍVEL COMPARAR OS ESTADOS ALTE- COMO UM ESPECIALISTA EM IOGA TRADI-
RADOS DA MENTE CAUSADOS POR SUBS- CIONAL INTERPRETARIA ISSO?
TÂNCIAS PSICODÉLICAS COM OS PROPOR- Gosto bastante do Wittgenstein. Sei que
CIONADOS PELO IOGA? o sonho é citado o tempo todo em al-
É uma discussão muito antiga. Na dé- guns textos tradicionais indianos como
cada de 1950, o autor Aldous Huxley um exemplo do nosso estado desper-
escreveu um livro em que narra suas to. Quando uma pessoa está sonhan-
vivências com o peiote, As Portas da do, aquilo que acontece no sonho pare-
Percepção. Por causa da preparação que ce real; mas, quando ela acorda, vê que


ele próprio tinha, ele achou que essas aquilo não era real. Da mesma forma,
experiências eram muito semelhantes a uma pessoa no nosso estado desperto
coisas que havia encontrado em textos acredita que tudo o que vê é real, mas
indianos e outras fontes. Mas Huxley quando ela atinge uma consciência dife-
foi altamente criticado, pois muita gen- rente, percebe que isso não é exatamen-
te que experimentou depois dele teve
vivências completamente distintas. Isso
A nossa te real. Ela desperta, por assim dizer, da
realidade que nós consideramos real.
mostra que a substância em si não de- ignorância é
ESSA É UMA IDEIA QUE ESTÁ PRESENTE
termina o que vai ocorrer: a pessoa pode
ter revelações profundamente filosóficas
muito vasta. EM FILMES COMO MATRIX E SÉRIES COMO
ou pode acontecer qualquer outra coi- Precisamos WESTWORLD, POR EXEMPLO...
sa. O que se faz nas práticas de medi-
tação tradicional é induzir a um estado
ter humildade Sim, eu gosto da ficção científica porque
muitas vezes ela explora questões meta-
alterado de consciência, mas com uma em relação físicas e filosóficas que são fundamen-
direção determinada, que depende de
uma preparação prévia. O simples uso
àquilo que tais. E explora muito bem.

de uma droga nunca vai levar ao mes- conhecemos” NESSE SENTIDO, A FILOSOFIA OCIDENTAL ES-
mo efeito. A droga não tem direção, a TARIA MAIS PRÓXIMA DESSE TIPO DE ESPI-
direção vem da preparação da pessoa. RITUALIDADE DO QUE A CIÊNCIA?
Alguns filósofos, sim. A filosofia ocidental
TÊM SURGIDO TAMBÉM MUITOS ESTUDOS é muito ampla. Sou doutor em Filosofia,
QUE COMPROVAM AS ALTERAÇÕES POSITI- e comecei a me interessar por isso antes
VAS NO CÉREBRO E NO COMPORTAMENTO mesmo de me apaixonar pela física. Por
CAUSADAS PELA MEDITAÇÃO. COMO O SE- acaso, acabei esbarrando em Wittgenstein
NHOR VÊ ESSA VALIDAÇÃO DA CIÊNCIA? pelo caminho. Mas, se observarmos a
Tão desnecessária quanto avaliar o cére- maior parte da filosofia ocidental, os pon-
bro de uma pessoa que ouve música. Não tos de conexão com o pensamento espiri-
altera nada na percepção musical. Acho tual indiano são muito poucos.
que sou meio radical em relação a isso.
O FÍSICO CARLO ROVELLI DIZ QUE A ÚNICA
O SENHOR ACREDITA QUE ESSE TIPO DE BUS- COISA INFINITA NO UNIVERSO É A NOSSA IG-
CA POR AUTOCONHECIMENTO PODE SER UMA NORÂNCIA. O SENHOR CONCORDA?
COISA ANTAGÔNICA AO ESTILO CONSUMISTA Eu gosto disso [risos]. Uso uma frase
EM QUE BASEAMOS NOSSA VIDA? semelhante: “A minha ignorância é mui-
Com certeza, porque são desenvolvi- to vasta”. Gosto de falar isso de vez em
dos valores completamente distintos. 55 quando. Em primeiro lugar, nós preci-
Quando a pessoa pratica ioga, ela desen- samos ter certa humildade em relação
volve percepções diferentes em relação àquilo que conhecemos.
C
O
R A
E D R
S O V
O
R
Resultado de
três anos de
expedições,
livro registra
as belezas

E
da reserva
marinha
da costa
de Santa
Catarina,

D
um dos
lugares mais
desejados
para
mergulho

O
no Brasil

FOTOS JOÃO PAULO KRAJEWSKI

EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO

DESIGN MAY TANFERRI 56


01. Face norte da Ilha Deserta, uma das que compõem a
Reserva do Arvoredo; bem ao fundo, pode-se ver a
Ilha de Santa Catarina, onde fica Florianópolis.
A

U
M
A

H
O
R e meia de barco de Florianópolis, a Reserva Biológica mos que temperatura de água vamos pegar, a visibilidade,
A Marinha do Arvoredo é um dos lugares dos sonhos de a corrente…”, conta o biólogo, fotógrafo e cineasta João
mergulhadores e biólogos no Brasil. Formada por três Paulo Krajewski. “Você pode cair no Arvoredo com uma
ilhas, além de uma extensa área submarina — dos 17,6 água clara e ver paisagens incríveis, com uma abundância
mil hectares, só 2% estão em terra firme —, a região, de vida como em poucos lugares da costa brasileira. Pare-
protegida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação ce que está mergulhando no Caribe, você vê o fundo todo
da Biodiversidade (ICMBio), tem em sua característica colorido a mais de 10, 20 metros”, narra.
mais interessante também sua maior dificuldade para os “Ou pode encontrar água mais turva, com visibilidade
mergulhos: a variação das condições da água. “Quando só de 2 ou 3 metros.” Ainda assim, não significa que seja
saímos para navegar em direção ao Arvoredo, nunca sabe- um dia ruim para explorar. Pelo contrário.

02. À frente, uma garoupa-verdadeira; atrás, um


cardume de sardinhas fugindo de xareletes na Ponta
do Farol, no extremo sul da Ilha do Arvoredo.
L Próxima de
O Florianópolis,
C a Reserva Ilha
da Galé
A Biológica Marinha
L do Arvoredo é
I
formada por três
Z
ilhas e mais de 160
A
Ilha
Ç km2 de ambientes
Ilha do Deserta
à imersos no oceano. Arvoredo
O

REBIO
Arvoredo

03.
Na Ilha do Arvoredo são conhecidos oito sítios arque-
ológicos. Na imagem, aparece uma parte das repre-
59
sentações rupestres da chamada Ponta do Letreiro.
O

A
M
B
I
E
N
matéria orgânica A movimentação da T
nutrientes água leva nutrientes E
movimento da água para a superfície do mar.
Essa parte iluminada
pelo sol é chamada de
sol zona eufótica, onde
vivem seres que fazem
fotossíntese.

zona
eufótica

zona
afótica

04. O coral-sol, de tons alaranjados, tem aparência


bonita, mas é considerado um vilão; não é nativo
da costa brasileira e ameaça outros tipos de corais.
60
É justamente a riqueza de nutrientes suspensos na água, mingão Aventura no programa Domingão do Faustão. Além
responsável por ela nem sempre estar transparente, que gera do trabalho na Rede Globo, produz e filma documentários
condições de vida abundante no fundo. Bem abaixo estão sobre vida natural para canais como Animal Planet e BBC.
corais, anêmonas, esponjas, tudo muito colorido. Não que Para fazer o livro MAArE – Monitoramento Ambiental da Re-
isso seja novidade para Krajewski, que mergulhou pela pri- serva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno acrescentou no
meira vez por lá ainda 1997 — “meu 20º mergulho”, lembra. currículo mais 20 expedições ao local. A obra, publicada pela
Desde o primeiro salto, foram mais dezenas de vezes. “Vi- Universidade Federal de Santa Catarina, é resultado de um
rou meu point, todo verão eu vinha para cá. Teve ano em trabalho de mais de três anos. Além de Krajewski, responsável
que passei dez dias mergulhando”, diz o paulista que vive na pela maior parte das fotografias e por um dos capítulos do
capital catarinense, conhecido por apresentar o quadro Do- livro, envolveu-se no projeto um time de pesquisadores.

05. Krajewski registrou um grande cardume de enxadas


(também conhecidas como parus-brancos) perto
dos costões rochosos da Ilha Deserta.
“O livro do projeto foi pensado com base em dois ramos Além do livro, disponível para download gratuito no site do
que se podem usar para registrar um local. Um deles é a arte, projeto (www.maare.ufsc.br), todos os dados coletados e ana-
a fotografia, o que eu fiz. É a parte sujeita à liberdade artística. lisados estão abertos ao público na internet.
Você procura os organismos que acha mais bonitos, as cores, Para os leigos, o material é uma chance de aprender e co-
o que você quer representar daquela reserva com seu desejo nhecer a reserva ainda que a distância, já que ela não está
e sua técnica”, explica Krajewski. No outro lado estão dados aberta à visitação — os tempos de destino turístico concorri-
científicos, gráficos, mapas, imagens de satélite. O objetivo foi do ficaram para trás, atualmente somente pesquisadores têm
documentar em detalhes as condições de vida na reserva, que acesso. “O MAArE traz a parte da beleza, para empolgar as
tem esse título desde um decreto de março de 1990. Para os pessoas e mostrar o quanto esse lugar é bonito, mas, ao mes-
cientistas, essa base sólida de informações permitirá melhor mo tempo, com os dados científicos sedimenta o que se sabe
monitoramento e comparação nos próximos anos. sobre a conservação da região”, conclui o fotógrafo.

06. A imagem mostra de perto como é um ouriço-


-satélite; na Reserva do Arvoredo, os ouriços são
frequentes perto dos costões rochosos.
A

O
B
R
A

MAArE – Monitora-
mento Ambiental
da Reserva Biológica
Marinha do Arvoredo
e Entorno
Bárbara Segal,
Andrea Santarosa
Freire, Alberto Lindner,
João Paulo Krajewski e
Marcio Soldateli (org.)

UFSC
268 páginas
Gratuito

63
07. A rocha registrada nesta imagem, repleta de ascídias
coloniais e esponjas coloridas, é um ótimo exemplo
da biodiversidade da região da reserva.
REPORTAGEM NATHALIA FABRO

O Ú LT I M

DESIGN FEU E MAYRA MARTINS

64
ILUSTRAÇÕES BARLAVENTO ESTÚDIO

MO A
S A I R A PA G A
A CÚPULA
É PRECISO LUTAR CONTRA ESCASSEZ DE RECURSOS E MÁ GESTÃO PARA
QUE PLANETÁRIOS CONTINUEM A INSPIRAR JOVENS BRASILEIROS

EDIÇÃO A. J. OLIVEIRA
G
mear o planetário. “Nossa estimativa
para a inauguração é 2019. Antes dis-
so teremos de aguardar a fabricação
do equipamento, treinar as equipes
e produzir o conteúdo”, diz Douglas
Aceiro, planetarista do projeto. En-
quanto o investimento não chega, o
sonho segue em órbita…
Se angariar recursos para um pla-
netário privado no coração do maior
centro financeiro da América Latina já
é complicado, no setor público os de-
safios são ainda mais astronômicos. E
é justamente nele que ficam cerca de
Gerson Francisco tinha apenas 14 anos quando 90% dos planetários fixos do país.
ganhou seu primeiro telescópio. Pouco tempo an-
tes, durante um passeio pelo Parque Ibirapuera, na FAÇA-SE A LUZ
capital paulista, ele fez uma visita ao planetário que De acordo com Paulo Sobreira, dire-
fica ali dentro, chamado Professor Aristóteles Orsini. tor da Associação Brasileira de Pla-
Apaixonou-se perdidamente pela astronomia. “Quan- netários (ABP), o grande problema é
do entrei, fiquei louco”, conta Francisco, formado em que não basta construí-los — é preci-
Física e Matemática. “Não tem nada mais inspirador so mantê-los com a tecnologia atua-
para um jovem.” Aos 68 anos, o professor aposentado lizada. E os órgãos públicos não têm
deseja trazer mais estrelas à cidade de São Paulo: está verbas para isso. “Os financiamentos
à frente do terceiro planetário paulistano, em cons- pagam só os salários dos servidores
trução na Rua Pamplona, perto da Avenida Paulista. e as contas”, afirma. “Aí os planetá-
Além das projeções astronômicas, o complexo rios envelhecem e têm dificuldades
conta com uma praça, um prédio comercial e um para apresentar novos conteúdos.”
centro de pesquisas. No local há também um char- Isso ocorre porque não há políticas
moso casarão antigo, patrimônio histórico do mu- públicas padronizadas para o geren-
nicípio que será transformado em escola de artes ciamento desses espaços. É uma ver-
e ciências. O empreendimento é privado, mas será dadeira terra de ninguém.
aberto ao público. “Isso aqui é para inspirar o jo- A maioria dos planetários no Brasil
vem”, diz. Francisco idealizou o planetário ao assu- pertencem a prefeituras, mas são re-
mir o comando da propriedade, há cerca de dez anos gulados por secretarias variadas. Os
— tempo que levou para tirar seus planos do papel. estaduais costumam ser vinculados a
Como a prefeitura atrasou dois anos para emitir o fundações ou centros culturais. Já em
alvará, o planetário só começou a ser construído de âmbito federal, estão ligados a uni-
fato em outubro de 2015. A previsão era que já es-
tivesse pronto, mas não rolou. Em janeiro de 2018,
obras na estrutura e no acabamento do auditório ain-
da eram finalizadas. É que não é nada fácil montar um
planetário: além de erguer o prédio, é preciso instalar
um ar-condicionado potente para prolongar a vida
dos aparelhos, uma cúpula especial, de alumínio mi-
croperfurado, e, é claro, o equipamento de projeção.
As peças são tão caras que parecem ser impor-
tadas de outro sistema solar — Francisco estima
que a conta ultrapasse os US$ 3 milhões. “Preciso
de patrocinador para comprar a cúpula, ao custo de
US$ 350 mil”, revela. Só o projetor custará US$ 2
milhões. Empresas podem viabilizar o empreendi-
mento com ações de marketing — uma opção é no-
versidades ou institutos reconhecidos que as duas instituições nunca tive-
pelo Ministério da Educação (MEC). ram envolvimento com política. “Os
Há também os de natureza móvel, planetários de São Paulo estão pro-
que possuem cúpula inflável e podem tegidos disso, pois é requisito que os
ser transportados com facilidade até gestores tenham mérito técnico.”
mesmo para locais remotos. Esses ge- Físico com formação em Astrono-
ralmente são privados. mia, Nascimento também estudou
Sobreira considera um problema Administração, conhecimento que
seríssimo o fato de haver muitas considera indispensável a um bom
prefeituras na gestão, pois elas não gestor de planetários. “Quando a pes-
têm mão de obra. “Os contratos são soa é muito focada na área científica,
provisórios; quando muda o prefeito, se esquece que tem de gerir — aí a
a equipe inteira é demitida, e são co- coisa pode se perder”, avalia.
locadas pessoas sem conhecimento, Como todo órgão público, os plane-
mas com apadrinhamento político”, tários devem prestar contas de seus
denuncia o diretor da ABP. “Alguns gastos. De acordo com Nascimento,
espaços no Brasil quebraram e estão o complexo paulistano precisa de pelo
fechados por causa dessa prática.” menos R$ 7 milhões por ano. Para
Inaugurado em 1957, o planetário 2018, não receberá nem metade, o que
do Ibirapuera foi o primeiro do país. só garante a manutenção básica. Ou-
Atualmente está vinculado à Secreta- tro grande problema é a remuneração.
ria do Verde e Meio Ambiente (UMA- “Meu salário atual é o mesmo que
Paz). “No âmbito histórico, isso ocorre ganhava dez anos atrás, não posso vir
porque estamos dentro de um parque, aqui pelo dinheiro”, desabafa o dire-
mas hoje entendemos a ligação com tor. Sem perspectiva de carreira, os
educação ambiental”, justifica Fernan- funcionários não duram muito tem-
do Nascimento, diretor dos dois plane- po. “Só fica um ou outro apaixonado.”
tários de São Paulo — o Prof. Aristóte- Por esses motivos, a ABP tem pe-
les Orsini e o Prof. Acácio Riberi, mais dido ajuda ao Ministério da Ciência,
conhecido como do Carmo, na zona Tecnologia, Inovações e Comunica-
leste da cidade. “São aparelhos de ções (MCTIC). “O governo nos so-
consciência da cidadania planetária.” corre com pequenos editais e nos su-
Em 60 anos, o espaço do Ibira- gere procurar deputados e senadores
puera fechou as portas duas vezes: para pedir verbas”, diz Sobreira.
entre 1999 e 2006 e de 2013 a 2016. Desde que a ABP surgiu, em 1996,
“A primeira foi necessária, porque o número de planetários no país qua-
havia muitos cupins na estrutura se sextuplicou: na época, eram cerca
de madeira”, conta. O diretor afirma de 15 fixos; hoje, já são 83, entre fi-
xos e móveis. Mas há um lado ruim.
“Existem planetários criados com
investimento do CNPq que estão
com as cúpulas rasgadas — pagaram
barato por equipamentos chineses
de baixa qualidade”, lamenta. Cole-
gas como Nascimento, do planetário
do Ibirapuera, concordam. “O polí-
tico quer levantar a obra, mas fazer
um planetário não é apenas cons-
truir um prédio redondo”, destaca.
Outro espaço de excelência é o
planetário Rubens de Azevedo, que
fica no Centro Dragão do Mar de
Arte e Cultura, em Fortaleza (CE). 67
Segundo o diretor, Dermeval Carnei- Planetários do Brasil CONHEÇA OS PRINCIPAIS ESPAÇOS DO PAÍS
ro, aproximadamente 15 mil alunos Fixos Móveis
de colégios públicos e particulares
Planetário Planetário
visitam o local todos os anos, onde da UFRR Itinerante da
aprendem ciência de forma lúdica. Boa Vista SECTI
São Luís
Fechado desde maio de 2017 devido
à quebra de um dispositivo de pro- Planetário
jeção, suas instalações estão sendo Rubens de
Azevedo
modernizadas. “A cúpula é antiga e Fortaleza
precisa de um processo químico para

Fonte: ABP
Centro de Planetário
refletir imagens digitais”, explica. Planetário
Ciências e de Parna-
Os itens retirados serão transfe- Digital de Ma- mirim
naus – NEPA/ Planetário
ridos para Crato, cidade a 400 qui- UEA/CNPq do Pará
Manaus Belém
lômetros de Fortaleza, que também
ganhará um prédio para projeções
cósmicas. “O Ceará vai ser o único
estado com três planetários digitais”,
orgulha-se. O outro fica em Sobral e Planetário
Planetário
também foi erguido por Carneiro, em Itinerante do
IFAC/CRB Museu
Planetário
2009. Em Fortaleza, a reinauguração Rio Branco Parque do
do Espaço do
Conhecimen- Saber
está prevista para março, já a abertu-
to UFMG Feira de
ra do estabelecimento em Crato deve Planetário
Belo Hori- Santana
do Pólo Astronô- Planetário de zonte
ocorrer apenas no segundo semestre. São José do
mico Casimiro Planetário
Ao todo, a reforma estrutural do Montenegro Filho Rio Preto
do RJ
Rubens de Azevedo custou R$ 230 Foz do Iguaçu (Carl Sagan)
mil. O valor do novo projetor, impor-
tado da Alemanha, é de 1,7 milhão Planetário Planetário
de euros. De acordo com o diretor, a da UFRGS da UFSC
Porto Alegre Florianópolis Planetário
aquisição de verbas com o governo
de Brotas
estadual foi rápida. “O problema é a
burocracia das licitações”, diz. No Ibi- Planetário Planetário
Professor Professor
rapuera, Nascimento enfrenta situa-
Aristóteles Acácio
ção semelhante. “Já tivemos proces- SAIBA MAIS Veja a relação completa dos planetários
do Brasil em galileu.globo.com Orsini Riberi
sos de compra de materiais simples São Paulo São Paulo
que levaram seis meses”, revela. pamentos que têm em mãos, eles são
Outra questão que paira sobre os criativos e procuram fazer as pró-
planetários brasileiros são os conteú- prias apresentações”, defende.
dos exibidos nas sessões de cúpula. A Fundação Planetário da Cidade
Nem todas as instituições possuem re- do Rio de Janeiro se destaca nesse
cursos para criar produções autorais, aspecto. O complexo tem duas uni-
e muitas das apresentações são tradu- dades: na Gávea, com duas cúpulas,
ções e adaptações do exterior. “Exis- o maior do Brasil, e em Santa Cruz,
tem centenas de filmes em inglês; mas bairro afastado da capital fluminense.
dublados, nem sequer 20”, lamenta A instituição exibe oito apresen-
Sobreira. Além disso, espetáculos tra- tações — todas autorais. Em média,
duzidos nem sempre atendem à reali- produz dois filmes novos por ano.
dade brasileira, pois são voltados para “As pessoas têm acesso a muita tec-
o céu do Hemisfério Norte. nologia, então precisamos nos rein-
Há ainda o problema da desatua- ventar para oferecer novos produtos
lização: com o tempo, o conteúdo ao público”, declara Alexandre Cher-
torna-se ultrapassado. Mesmo com man, diretor de astronomia da funda-
os desafios, Sobreira afirma que os ção. Segundo ele, filmes importados
planetaristas sempre buscam solu- também são exibidos, mas totalmente
ções. “Independentemente dos equi- adaptados para o céu do Brasil.
PARA OS OLHOS BRILHAREM tronomia dos indígenas”, comenta a
Paulo Sobreira, diretor da ABP, consi- diretora Sinaida Vasconcelos. Desde
dera as secretarias de Educação como 2014, a instituição promove o projeto
os melhores órgãos aos quais se de- Ciência Móvel, com auxílio do CNPq.
vem vincular os planetários. “É onde Uma estrutura inflável é transpor-
tem mais verba”, justifica. Mas não é só tada ao interior, muitas vezes flores-
pela grana: ele acredita que os plane- ta adentro, em incursões para dis-
tários têm caráter educativo. “A astro- seminar a ciência e realizar estudos
Planetário
do Espaço nomia é uma ciência multidisciplinar; com comunidades afastadas. Mais
Cultural da partindo dela, o estudante conhece de 20 mil estudantes, de diversas
Paraíba regiões do Pará, já participaram de
João Pessoa outras ciências”, diz. “O planetário é
como uma escola — todos os municí- uma dessas sessões ao longo dos úl-
Planetário pios do Brasil deveriam ter um.” timos três anos. “O estado é grande
Espaço e muitas escolas não conseguem ir
Ciência A opinião é quase unânime entre
Olinda os profissionais do meio. “Os plane- até o planetário”, declara Vasconce-
tários, por tradição, ficaram com a los. “A população é carente e precisa
Evento
missão de difundir a astronomia, e desse conhecimento.”
Planetário
Recife hoje são os únicos lugares, nos gran- Iniciativas como essas mostram que
des centros com poluição lumino- há algo de universal no encanto pelo
Planetário Universo. Não importa se um adoles-
sa, onde se pode olhar para o céu”,
Oberon
aponta Fernando Nascimento, dire- cente vive sob o céu poluído e sem es-
Volta
Redonda tor dos espaços de São Paulo. “Não trelas de São Paulo e outro, em meio
pode ser mero entretenimento: tem à noite escura da região amazônica: os
Planetário de
de ser um local de difusão científica, olhos de ambos brilham com a mesma
Santa Cruz
Rio de de criação e reflexão.” intensidade ao entrar em um planetá-
Janeiro rio. Cabe a políticos e empresários pro-
“Na Europa e nos Estados Uni-
dos, o planetário é considerado uma pagar ainda mais esse brilho — e ga-
das melhores aplicações de recursos rantir que ele nunca se apague.
Planetário
Órion públicos para inovação e populariza-
Ribeirão ção da ciência e tecnologia”, afirma
Pires
o idealizador dos espaços cearenses,
Dermeval Carneiro.
A abordagem de educação faz sen-
tido, já que o principal público são
crianças e adolescentes em excur-
sões escolares. O problema é que,
assim como em zoológicos, museus
ou aquários, os passeios são raros.
“Você os visita aos sete anos e de-
pois volta quando seu filho tem sete
anos”, brinca Nascimento.
Entretanto, a existência dos pla-
netários não deveria se restringir tão
somente à comunidade escolar. Em
Belém (PA), por exemplo, o Centro
de Ciências e Planetário do Pará, da
Uepa, é o único fixo não apenas do
estado como de toda a região Norte.
Em vista disso, o local tenta fazer
algo diferente: ensina ciência com
sabedoria de índios da Amazônia.
“Tentamos resgatar as culturas lo-
cais, e até já fizemos sessões de cú-
pulas sobre o conhecimento de as- 69
O QUE VOCÊ TEM DE SABER É QUE
A MINHA VIDA É DIVIDIDA EM DUAS.
HÁ O ANTES E O DEPOIS .
ANTES DE SER ESTUPRADA.
DEPOIS DE SER ESTUPRADA .
ANTES DE ENGORDAR.
DEPOISS DE ENGORDAR .
Com sinceridade imprressionante,
Roxane Gay, autora
a feminista
best-seller do New York Times ,
fala sobre como, após
a sofrer
um abuso sexual aos doze anos,
passou a utilizar seu
s próprio
corpo como um esconderijo
e
contra os seus pio
ores medos.
Ao comer compu
ulsivamente
para afastar os olharres alheios,
por anos Roxane gu
uardou sua
história apen
nas para si.
Até concebe r este livro.

www.globolivros.com.br
NAS LIVRARIAS E EM EE-BOOK
BOOK
TUBO DE ENSAIOS
POR DR. DANIEL BARROS*
71

os cães desse grupo não tinham como


parar os próprios choques. Eles rece-
biam a mesma intensidade que seus

CACHORRO
parceiros do grupo 2 (pois, quando
esses desligavam a eletricidade, to-
dos os choques cessavam), mas, como

ENCURRALADO
não sabiam dessa artimanha da ala-
vanca, para eles tanto o início quanto
o fim pareciam aleatórios.

NÃO SALTA
Uma vez condicionados dessa ma-
neira, os cachorros foram transferidos
para outra gaiola, dividida em duas
partes — um lado com chão eletrifi-
Crianças que sofrem bullying desenvolvem sensação de cado e outro não. Os dois lados eram
desamparo, como se nada pudesse cessar o sofrimento. separados por uma barreira baixa;
Não é de estranhar que se tornem adultos deprimidos quando os cães dos grupos 1 e 2 eram
colocados ali, rapidamente aprendiam
a pular de um lado para o outro para
escapar dos choques. A maioria dos
cães do grupo 3, por sua vez, nem pen-
Com certeza você de tempos em tempos durante 50 sava em saltar. Haviam aprendido que
C já ouviu gente re- anos. Descobriram que, já na década não havia esperança, afinal. Seligman
clamar que os es- de 1960, era alta a incidência de vio- cunhou, então, o termo learned hel-
tudantes de hoje lência na escola — coisas mais graves plessness, ou desamparo aprendido.
são muito mima- do que uma piada ou brincadeira. Qua- O que acontece no bullying (de ver-
dos, desfiando frases como “No meu se um terço dos alunos passava por dade) é parecido com isso. As crianças
tempo, a gente podia zoar os ami- isso ocasionalmente, e 15% com fre- sentem-se totalmente cercadas, sub-
gos. Hoje tudo é bullying”. É assim quência. É o povo da geração que diz metidas a situações muito hostis — que
mesmo: desde a Idade da Pedra toda “Na minha época, não existia esse ne- lhes parecem inevitáveis —, e com o
geração acha que seus descenden- gócio de bullying”. Imagina se existisse. tempo desenvolvem a mesma sensa-
tes pioraram. Consigo imaginar um Não é surpresa para ninguém que, na ção de desamparo. Para elas, é impos-
neandertal grunhindo: “Esses mo- vida adulta, as pessoas que passaram sível fazer qualquer coisa para cessar
leques de hoje não aguentam mais por tais problemas têm pior qualida- aquele sofrimento. Não é de estranhar
nada. No meu tempo, a gente não de de vida e muito mais chance de que se tornem adultos deprimidos.
tinha fogueira quentinha. Não havia desenvolver depressão, por exemplo. Se a história nos ensinou algo, é
essa história de bater pedrinha uma O dobro de chance, para ser preciso. que há coisas que não aprendemos
na outra — tinha que andar na flores- Mais ou menos na mesma épo- com a história. Não acho que algum
ta até achar uma árvore atingida por ca, nos anos 1960, do outro lado do dia as gerações mais velhas deixarão
um raio. Desse jeito, daqui a pouco Atlântico, um pesquisador chamado de criticar as mais novas. Até aí, tudo
nem pelo a humanidade vai ter”. Martin Seligman, interessado nos Nem toda bem. Mas, pelo menos no que se re-
Todo termo que ganha populari-
dade perde seu significado original,
mecanismos que levam à depressão,
criava um experimento que se torna-
zoeira é fere ao bullying, não devemos menos-
prezar as queixas da garotada.
e isso pode muito bem ter acontecido ria clássico. Ele e seus colegas reuni- bullying,
com o bullying. Sim, não é toda zoei- ram um grupo de cães e os colocaram mas
ra que é bullying. Mas se nem toda em três tipos de gaiolas diferentes. isso não
brincadeira pode ser condenada, isso
não faz com que o bullying não exista.
O grupo 1 ficava lá por um tempo e,
depois, era retirado. A gaiola do gru-
significa
Existe, e há bastante tempo. po 2 tinha o chão eletrificado, para que ele
Em 1958, os britânicos resolve- dar choques inesperados. Contudo, não exista.
ram acompanhar o desenvolvimento diante dos cães havia uma alavanca Existe,
de todas as crianças nascidas numa
determinada semana daquele ano.
que parava os choques. E o desafor-
tunado grupo 3 também estava num
e há * DANIEL BARROS é psiquiatra do Instituto de
Psiquiatria do HC–FMUSP, doutor em Ciências

Reuniram, assim, dados sobre quase chão eletrificado, mas ele era parea- bastante e bacharel em Filosofia. Atua com divulgação

tempo
científica em vários meios, inclusive como
18 mil bebês, e passaram a avaliá-los do com a gaiola do grupo 2. Ou seja, consultor do programa Bem Estar (TV Globo).
PANORÂMICA
FOTO JAE C. HONG

Robôs em forma de coruja, batizados de Luka, foram apresentados na feira CES, em Las Vegas, maior evento mundial de lançamentos de tecnologia. Enquanto

72
seus grandes olhos se movem, eles são capazes de ler livros para crianças. A invenção chinesa começará a ser vendida nos Estados Unidos nos próximos meses.

73
Imagem: Jae C. Hong/AP Photo/Glow Images Pesquisa: Franklin Barcelos
ULTI-
MATO PARA FAZER A DIFERENÇA
AGORA QUE VOCÊ LEU A REVISTA, DESCUBRA ALGO MAIS

LEU O DOSSIÊ DE TEM INTERESSE EM FICOU IMPRESSIONADO A ENTREVISTA COM O DEPOIS DE CONHECER
HOLLYWOOD E SE CONHECER MAIS COM A CAPACIDADE DOS ESPECIALISTA EM IOGA A SITUAÇÃO DOS
EMPOLGOU EM APRENDER INICIATIVAS CONTRA ALGORITMOS E QUER DESPERTOU SUA ATENÇÃO PLANETÁRIOS, QUER SABER
MAIS SOBRE CINEMA? O BULLYING? ENTENDÊ-LOS MELHOR? PARA A MEDITAÇÃO? MAIS SOBRE O CÉU?

Dos 1,1 mil filmes Com apenas 68 likes Atualmente no


produzidos entre seus no Facebook a Brasil existem 83
2007 e 2017, apenas rede já consegue saber planetários entre
63 foram dirigidos detalhes sobre você, fixos e móveis
por negros como cor da pele e
orientação sexual

Um a cada três Cerca de 30 minutos


adolescentes diários de meditação
brasileiros já sofreu é o tempo suficiente
bullying, e 20% para reduzir os
admitem praticá-lo níveis de estresse

CINEMA EM CASA CONTRA O BULLYING FACEBOOK TRACKING MINDFULLNESS BR CASP


Para quem é apaixonado Site criado pelo Grupo de Ferramenta colaborativa O Centro Brasileiro de O Clube de Astronomia de São
pela sétima arte, a Estudos e Pesquisas em que recolhe dados para Mindfullness e Promoção da Paulo oferece cursos gratuitos
GALILEU separou uma lista Educação Moral é o mais investigar como funcionam Saúde, da Universidade tanto para pessoas que (ainda)
com 11 cursos online gratuitos completo do Brasil sobre os algoritmos do Facebook, Federal de São Paulo (Unifesp), não sabem nada sobre
sobre o assunto, que vão desde o tema, com informações, além de contar quais das suas oferece discussões e cursos o assunto quanto para
história até técnicas recentes dicas e iniciativas com foco informações são utilizadas sobre essa técnica quem já conhece um
de animação. em prevenção e combate. pela rede social. de meditação. pouquinho do cosmos.

bit.ly/cursoscinema somoscontraobullying.org facebook.tracking.exposed mindfulnessbrasil.com astrocasp.com

Doença à vista Corra! Diga Xis Diga algo


Cientistas descobriram Depois de ganhar Corpos celestes também Para delírio dos fãs de
que, depois de apenas cidadania saudita e gostam de aparecer. astronomia, a Fox e a
cinco anos da chegada dizer (brincando) que Um ano depois de National Geographic

1 MIN.
dos europeus à América, gostaria de destruir começar a coletar e confirmaram a segunda
a civilização asteca a humanidade e que analisar dados do buraco temporada da série
foi praticamente adoraria constituir negro supermassivo Cosmos para 2019.
INFORMAÇÕES DE ÚLTIMA HORA
extinta por um tipo de família, a robô Sophia Sagittarius A*, cientistas O apresentador Neil
salmonela que matou recebeu pernas para anunciaram que imagens deGrasse Tyson, no
15 milhões de pessoas poder andar por do objeto vão poder entanto, continua
— aproximadamente aí — mas só pode ser vistas ainda em em silêncio sobre
80% da população. caminhar a 1 km/h. 2018. Vale o like. acusação de estupro.
DA AU TO R A B E ST-S E L L E R C O M M A I S D E 2 M I L H Õ E S D E L I V R O S V E N D I D O S

Um livro obrigatório
para os dias de hoje

Em Mentes ansiosas ,
a psiquiatra Ana Beatriz
Barbosa Silva aborda as
diferentes manifestações
da ansiedade.
Através de sua linguagem
objetiva e acessível,
a autora analisa as causas,
desdobramentos e possíveis
formas de lidar com esse
mal que afeta milhares de
pessoas no mundo.

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E EM E-BOOK
12 HISTÓRIAS
QUE DERRUBAM O MURO DA
N ORMA LIDADE
Em Janelas da mente, assinado em parceria com o escritor e roteirista Eduardo Mello Guimarães,
a autora best-seller Ana Beatriz Barbosa Silva mergulha no mundo fascinante da ficção, inspirada
em casos vivenciados durante sua longa experiência como psiquiatra.

NAS LIVRARIAS E EM E-BOOK www.globolivros.com.br

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