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O CANTO GREGORIANO
Origem
Tal como já foi visto anteriormente, durante o século VIII, no início da formação do Império
Carolíngio e devido às invasões dos Bárbaros, o Papa Zacarias desloca-se a França para pedir apoio a
Pepino, rei do Francos.
Já em França, apercebe-se de que o canto galicano utilizado por estes é diferente do que é
praticado em Roma e quando regressa a Itália envia para França o seu director do Schola Cantorum
com o objetivo de lhes ensinar o canto romano.
Foram ainda enviados vários cantores e ao rei mandou entregar um Antifonário e um Responsorial.
Mais tarde, o filho de Pepino, Carlos Magno, apercebe-se também destas diferenças e interessa-se
por fazer uma aproximação a Roma, de tal modo que, em 789 impõe o uso da Missa e do Ofício
romano.
Assim terá surgido um novo repertório, resultante da fusão entre as tradições musicais romanas e
galicanas a que chamaram Canto Gregoriano e que irá funcionar como um elo de ligação entre os
povos, pois os cânticos passam a ser interpretados da mesma forma em todos os locais da Europa
cristã.
Os cânticos continuavam a ser conservados e reconstituídos de memória. Apenas quando o
repertório se tornou demasiado grande para ser memorizado houve necessidade de se recorrer à
notação escrita.
S. Gregório nasce em Roma numa família nobre, filho de um pai senador e de uma mãe muito
religiosa. Após a morte do seu pai, a mãe acabou por se entregar a Deus entrando na clausura do
convento (viria a tornar-se Santa Sílvia).
Gregório teve uma excelente educação e queria ser político, tendo sido nomeado perfeito de
Roma pelo Imperador Justino II em 573.
Depois da morte do seu pai e da sua mãe ter ido para o convento, deixou o cargo e transformou o
palácio deixado por seu pai num mosteiro dedicado a Santo André.
Fundou ainda mais 7 conventos e mosteiros.
Em 575 foi ordenado padre em Roma pelo Papa Pelágio II e, em
579, este envia-o para Constantinopla como embaixador papal, onde
esteve 7 anos. Voltou em 585 para viver na ordem e no mosteiro por
si fundado.
Em 590 o Papa Pelágio II morre vítima da peste e Gregório é eleito
o novo Papa.
Devido à sua preparação como político e homem culto, o papado
tornou-se pela primeira vez um estado de poder e de autoridade da
Cristandade Ocidental.
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Para o manter, Gregório dedicou-se à sua gerência, supervisionando e conduzindo negócios
internacionais e administrando os apoios financeiros. Retirou do estado eclesiástico todos os
funcionários públicos e proibiu a entrada de soldados nas ordens religiosas.
Foi um pontificado de caridade, humildade e justiça, mas também de firmeza e defesa dos
costumes cristãos. Introduziu uma política de ajuda aos pobres e aos refugiados das invasões dos
lombardos, fornecendo roupa e alimento diariamente a milhares de pessoas. As terras pertencentes
à igreja produziam bens que apenas serviam para serem doados sob a forma de esmolas e punia
quem não o fazia.
Foi declarado santo no mesmo dia em que morreu por “aclamação popular”.
Intervenção na música
S. Gregório tem uma obra literária extensa, daí ser considerado um dos Quatro Doutores da Igreja,
a par com S. Ambrósio, St. Agostinho e S. Jerónimo.
Esteve muito ligado às mudanças musicais, no sentido em que regularizou e unificou o seu uso na
liturgia, tendo organizado todo o ritual litúrgico da Igreja Romana.
Ordenou que em todos os seminários fossem treinados coros de cantores.
No século VIII surge uma lenda na qual lhe é atribuída a autoria de todos os cânticos. Segundo esta,
os cânticos teriam sido enviados por Deus através de uma pomba que lhos cantava ao ouvido e que,
por sua vez, este ditava a um monge que os escrevia. Ora, no século VIII ainda não havia notação
escrita o que parece inviabilizar esta possibilidade.
Sabemos também que nesta época era hábito da tradição gregoriana colocar acções inovadoras
sob a égide de nomes importantes.
A primeira biografia de S. Gregório foi escrita por João Diácono no séc.IX, afirmando Gregório
como o criador do Schola Cantorum e o compilador do Antifonário.
O canto gregoriano, resultante da fusão entre o canto romano exercido em Roma e o canto
galicano exercido pelos carolíngios, acabaria por fazer referência ao nome do Papa Gregório na
mesma altura em que surge a lenda que lhe atribui a autoria das melodias.
Géneros Gregorianos
2 3 4 , 2
1 5
1º hemistíquo 2º hemistíquo
1 - Entoação
2 - Tenor
3 - Flexa
4 - Mediatio
5 - Terminatio
A antífona de início era um versículo com melodia própria que se repetia depois de cada verso do
salmo. Mais tarde passou a cantar-se apenas no início e no fim.
3 – Monológico – cantilação recitada das orações e leituras que segue o ritmo e a pontuação do texto
em estilo silábico = recitativo.
Estilo Silábico – cada sílaba corresponde a uma só nota. É usado nos Hinos e nas Antífonas do
Ofício.
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Estilo Neumático – cada sílaba corresponde a 2, 3 ou 4 notas (neuma). É usado nas Antífonas da
Missa.
Estilo Melismático – cada sílaba corresponde a um neuma com muitas notas. É usado no Gradual,
no Alleluia.
RESPONSÓRIOS – são cânticos com uma forma semelhante à antífona. Consistem num versículo
curto que é cantado pelo solista e depois repetido várias vezes pelo coro entre as partes de uma
oração ou leitura das escrituras.
Mais tarde, passaram a ser cantados pelo coro apenas antes e depois da leitura.
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Os textos são em poesia religiosa e, durante a Idade Média, foram produzidos milhares de poemas
sagrados em latim que foram classificados como Hinos.
Cantava-se apenas um hino em cada ofício diário pois sempre lhes foi dado um papel menor na
liturgia oficial da Igreja.
O Lieber Usualis contém cerca de 80 hinos e o Antifonário cerca de 40 hinos, uma pequena
quantidade se compararmos com outros cânticos, o que mostra que a igreja não protegeu e foi
abolindo um dos principais tesouros musicais da Idade Média.
Desde o início, a igreja hesitou entre a aprovação ou não dos hinos, devido a duas questões:
o Por um lado acreditavam que só a Bíblia poderia fornecer textos apropriados para a liturgia.
o Por outro, sentiram o apelo popular dos Hinos. Os bispos eram censurados por não os
permitirem e alternadamente proibiam ou não o seu uso.
Apesar de durante muitos séculos a igreja ter negado o lugar dos Hinos na liturgia, estes
continuaram a ser uma das principais e mais populares composições religiosas.