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Ida ciencia
u leitura ..••.e escrita:
.
que a ClenCla .
rn a ver com isso?
I I r~t\R V. MACHADO LOPES
( I t\1~ FERREIRA DULAC
,-
quem pode ler e escrever? como se lê e como se escreve? quem tem "1\, ':rcnte a esta situação ...nos vemos empurrados a correr quando
acesso à leitura e à escrita? '/'r"/lIISsabemos andar. .. (Pozo, 1996, pAO) e percebemos ameaçadas
Assim parece premente a necessidade da discussão de como se 1Il1"III1H possibilidades de auto-reflexão e depensamento crítico, umã_
lê e se escreve e de como os leitores/escritores se relacionam com os quc estes meIOSapresentam o evento, interpretam, discutem e con-
textos e como criam significados a partir dos mesmos. Estas relações uu-m, frente a nossQs olhos q~penas assistem. -
texto/leitor podem ser analisadas, por exemplo, através dos motivos desenvolvimento destastecnologias, construído conforme as
que levam o leitor ao texto, tais como imposições profissionais e/ou Iol~ dn rãciãilãIiãaOe capi1ãIista, ~iulorIiiãs de domínio e con-
escolares, formação pessoal, prazer, entretenimento, necessidades co- 111 dl\ que parecem mais se opor do que ampliar as possibilidades de
tidianas, utilidade ocasional ou imediata etc. I uumcioacão hum,ana.
Em nossa sociedade, constatamos que, para muitas pessoas, a
experiência de ler e escrever, como prática cultural habitual, reduz-se
aos espaços escolares. A aprendizagem e aquisição do hábito de leitu- A minha escola tem gente de verdade
ra vêm restringindo-se ao ambiente escolar e à área de língua mater-
na, desconsiderando as possibilidades educativas de outros contextos, A importância da linguagem escrita em sit.!J1lçõesde aQrendiza-
tais como as das demais áreas e do ambiente familiar e de trabalho. 1II <.:séolaré myi~oc1ãfaJiesde as séries ~is, o aprender a k,Le-
/( Parece que nesta sociedade, onde a tradição da linguagem escri- I u-vcr é tarefa do ensino escolar. Todavia desde este nível de ensino
ta fica restrita a ambientes escolares/acadêmicos, a forma de comuni- 111 (\ nível superior e quiçá nos cursos'de pós:graduação deparamo=-
cação que predomina é a visual, mais especificamente a televisiva, que 111'1 rom professores enfrentando problemas comuns, cõmo pobreza
impõe um tipo de discurso fragmentado e descontínuo, com informa- Ir vocabulário, falta de habilidade em-colnpreender o sentido de fra-
ções descontextualizadas, em que a novidade, o impacto, o choque, a o usar sinais de pontuação, dificuldadede fazer an?~ã~Ões,jroble-
fugacidade e o ritmo incessante dão a tônica de um tipo de discurso IIII'~de leitura e compreensão de textos e!D geral.
cuja recepção não requer aprendizagem ou esforço demasiado. Mesmo frente a todos estes problemas expostos, ler e escrever são
It utificados como processos "naturais" na escola. Após a "alfabetiza-
li I (rudicional", os demais professores partem do pressuposto ele que
Tudo que a antena captar meu coração captura "IIIIINsabem ler e escrever (naturalmente) e estas "habilidades" são na-
1I111t1111ente necessárias para as áreas específicas do conhecimento. VI-
II'1llIlssandoesta visão restrita, podemos identificar a linguagem escrita _
'11111) um dos meios escolares mais usuais pelos quais aprendemos, com-
l'III'lIdemos, construímos e comunicamos o conhecimento.
, Nesta perspectiva nos restam muitos questionamentos: o desen-
I I1 v Imente da linguagem é responsabilidade apenas da área de língua
"!lIII'rna? ou corresponde a todas e a cada uma das áreas? apenas cor-
11,,11' erros ortográficos significa responsabilizar-se pelo ler e escrever
111IHIa área? as áreas de ciências necessitam, também, dar conta do
I. I o escrever?
Acreditamos que a atividade de ler e de escrever (apenas para
I IjI~I\llvi6Iverhabilidades, sem contexto), em geral, parece ser um pou-
- .-- --' - --,- _. - .-........;~.
IIvllzià, um vazio que é preenchido pelo
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que se lê do mundo, um mun-
,I li IlltI<.: é~nstruído por l1!~iode cada lelior, em cada ciência, e em cada
1 I 'lI. Desta forma acreditamos que ler e escrever é específico e, por-
.tica cfosdiversos fatos que ocorrem no cotidiano e que são veiculad !I"'IIlOS que algo sem produtos químicos não existe?), quando
'I'I,IIII()S um produto de limpeza com o prefixo bio (sabemos o que
pelos mais diversos meios como, por exemplo, os livros, as revistas,
TV e o cinema. É preciso saber discemir sobre as informações q Il'ollh;u? o que tem a ver este prefixo com o ato de limpar?). As-
I '111 i!I estes, poderíamos citar mais exemplos que nos levam a uma
"êa~m" ~oQre_nQ§~~ciso ter alguns conhecimentos-qúepe@1iÍa
10, purudoxal: enquanto a valorização social da ciência e da tec-
ler es!as informações sob ~~a perspectiyg crítica.
'1,111 nnmcntam, seu entendimento continua sendo negado à maio-
Até agora a ciência escolar parece ter apenas enriquecido o v
cabulário de alunos/as com palavras da ciência, esquecendo-se de r, "'I"lplllação (Llórens, 1991, p.13).
lacioná-las com seus significantes e atribuindo-Ihes significados v
zios, para os não iniciados na ciência. Aprende-se a respeitar a ciênci
e sua linguagem. Isto significa aprender ciência (?), isto talvez a esc •••ethor forma de enxergar no escuro
Ia fique devendo. Este não estabelecimento de relações significativ
entre o conhecimento científico trabalhado na escola e a ciência e te Ilfll nos deixa a clara necessidade de formar leitores capazes de
nologias presentes no cotidiano das pessoas e a conseqüente const 1'11,111(101' a linguagem da ciência e não apenas ledores da ciência
jj,l'I rhndo por Vifiao Frago, [1993?]). Ser leitor requer seleção,
ção do status de superioridade da ciência para a leitura do mundo, te
'10 lu h pretensão totalitária do texto escrito, estabelecimento de
propiciado a utilização aleatória da linguagem da ciência como garan
lI'lj IIno superficiais entre o que se conhece e o que se lê e requer
de qualidade de produtos e também a disseminação dos termos co
"comprovado cientificamente", "testado cientificamente" etc., co "111I1" leitura e escrita (Vifíao Frago, [1993?]). Afinal, quando es-
111111' sobre o que conhecemos ou estamos a conhecer refletimos
identificadores de um discurso de verdade, que tanto pode ser usa
'"114 ('11 pazes de qualificar nossa relação com o conhecido.
para melhorar a vida da humanidade como também pode ser utiliza
111 mportarn as modalidades de leitura ou escrita; o que importa
para iludir, enganar, vender, destruir etc. Da mesma forma que a ciê
'1111111 leitura e a escrita influenciam e determinam nossas vidas,
cia não é detentora da verdade dos fatos, também temos a clareza q
,,' IIIIN fazem sentir, ver e construir realidades. Não se trata de ler
esta não é neutra, que serve a quem a domina.
\ IVI'I', nem de viver para ler, mas sim de viver quando se lê e ler,
Identificando a ciência e a tecnologia no âmbito das construçõ
hlIH\ vive, no livro da vida (Vifiao Frago, [1993?]).
da humanidade, estamos localizando-as no espectro da cultura, po
tanto junto à pintura, à dança, à literatura, à religião, ao teatro. Log
despida do manto de superioridade e possível de ser entendida e co I h1 livros não são feitos para acreditarmos neles, mas para serem sub-
IIlIlndo~a investigações. Diante de um livro não devemos nos pergun-
preendida por todas as pessoas. Porém cabe perguntar se este carát 1;11 !l que diz, mas o que quer dizer. (Eco, 1986)
da ciência é possível dentro da sociedade que vivemos.
Nosso modelo de sociedade capitalista necessita apoiar seu p
der de decisão em pilares incontestes, como os oferecidós por esta v d'(,rências bibliográficas
são distorcida sobre a ciência, e acessíveis a poucos especialistas. P,
demos perceber que o debate técnico-científico está cada vez mais pa I, I1 () nome da rosa. Rio de Janeio: Record, 1986._, _~ ~
tando o cenário político, cumprindo a função de legitimar o poder e.
I 11'I'"I'.A importância do '~to de te;.: ~m três ãi-tig~s que se completam~
tabelecido ou contestá-lo. Podemos perceber este poder mágico que 1',"tllI: Cortez, 1993. _ '}
ciência-linguagem científica exerce sobre nós quando nos vemos su v' - -_ _ •. __
cetíveis à publicidade e compramos um detergente em pó que conté I IIIINH.~,A, Comenzando a aprender química: ideas para el diseiio cur-
/.// Mndríd: Visar, 1991.
uma enzima XXXXXase que garante sua ação branqueadora (sabem
o que fazem as enzimas? o que sua ação tem a ver com a limpeza I L , I. Aprendices y maestros. Madrid: Alianza, 1996.
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