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Este ensaio tem objectivo central defender a ideia segundo a qual “Deus” como ser
transcendental é produto da imaginação do homem. Afigura se relevante, desde logo, frisar que
uso o termo “Deus”como uma bitola alegórica para referir-se à religião num contexto geral.
A religião é um tema recorrente nos diferentes campos que compõem as ciências humanas, por
este motivo possibilita variadas concepções a seu respeito. A perspectiva adoptada neste trabalho
analisa a religião como fenómeno multidimensional, inserida no universo social, não como parte
independente e auto-explicativa, e, sim, como partícipe de um processo mais amplo de
construção da realidade, compreendida como historicamente construída e socialmente
significada.
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analise, depende a sociedade; uma base estratégica para controle social diante de tendências
divergentes e da expressão de impulsos perigosos para estabilidade da sociedade. O âmago do
pensamento de Durkheim, embora evidentemente funcionalista, ela repousa em uma abordagem
tipicamente essencialista. Isto pode ser notado uma vez que o sociólogo parte do princípio de que
há um componente comum, elementar, e, portanto, essencial, em todas as formas de religião,
sendo que, o método ideal para sua compreensão consiste em desvendar tais essências em suas
origens, tendo como ponto de partida as formas mais “simples” ou “menos complexas” de
religião. Durkheim (2003)
A perspectiva Durkheimeana sobre a região, pode ser encontrado no pensamento de Ludwing
Feuerbach. Este pensador advoga que o conteúdo real da religião, ou da concepção de Deus, é
antropológico; a religião é projecção, no além, da natureza humana. A religião é a primeira forma
indirecta de autoconhecimento do homem. Feuerbach chama nossa atenção para os elementos de
projecção nas concepções religiosa. Considera que, essa projecção, o homem se aliena de si
mesmo e é por isso prejudicado em sua auto realização. Este autor se assemelha à Durkheim em
um aspecto importante: ambos consideram que o conteúdo ideacional da religião é uma
projecção do homem. Durkheim, no entanto introduz e acentua a dimensão sociológica. Deus
representa a substancialização da sociedade, que apoia o moral do homem, mas também lhe
impõe algo diferente, a exterioridade e coerção. Segundo Feuerbach, esse processo projectivo é
uma fonte de alienação do homem com relação a si mesmo e, consequentemente, faz com que o
homem se torne incapaz de aceitar e desenvolver seus dotes.
Para analisar mais amplamente o problema de alienação e ilusão, consideremos a contribuição de
Marx ao assunto. Este autor refere que a religião é ópio do povo, ela é uma ilusão. A religião é
uma forma de alienação e divisão do Homem que tem como características a resignação, a
justificação transcendente da injustiça social e a compensação, no céu, das injustiças da
sociedade opressiva. A religião é obra de uma humanidade sofredora e oprimida, obrigada a
buscar consolo no universo imaginário da fé. Marx diz que a “religião apenas oferece a
libertação espiritual do homem, a libertação imaginária e ilusória.”
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Na reinterpretação que faz, define um universo social formatado por vários sistemas simbólicos
ou sistemas de ordenação, hierarquização e legitimação de significações ou visões de mundo
social e natural. Neste sentido, concorda que os sistemas simbólicos – religião, ciência, língua
cultura arte, etc. - operam como instrumentos de conhecimento e comunicação, definições
encontradas no funcional-estruturalismo e na semiologia. Mas, para além das funções sociais de
integração da sociedade num conformismo lógico (visão de Durkheim), e que sugere consenso
sobre as categorias de pensamento e o sentido da realidade social, Bourdieu ressalta a função
política do simbolismo, cuja tendência principal, é a ordenação ”gnosiológica” do mundo
encerrando uma “di-visão” ou, antes, um poder de produzir visões de mundo a partir de sua
ordenação. Ele entende os sistemas simbólicos como estruturas estruturadas (relações objetivas)
que exercem um poder estruturante, só, e, na medida em que, se encontram estruturados. Daí a
ênfase na relação dialéctica entre as estruturas estruturadas e as visões de mundo por elas
engendradas e, que, são produzidas e reproduzidas a partir da ação do sujeito.
Define a religião como sistema simbólico. Neste sentido, é um veículo de poder e política, uma
vez, que se refere à ordenação do mundo social. A estruturação do campo religioso segue,
portanto, o mesmo princípio de “di-visão”, construindo representações e organizando o mundo
social no recorte de classe que empreende nele. E, também no fato de engendrar o sentido e o
consenso em torno da lógica da inclusão/exclusão. Desse modo pela sua própria estruturação,
cumpre “as funções de inclusão e exclusão, de associação e dissociação, de integração e
distinção” (BOURDIEU, 2004, p.30).
Portanto a religião:
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Mas, enfoca a “precariedade” constante destas realidades que, por serem, socialmente
construídas, tornam necessário que os “saberes”, objetivados e interiorizados como reais, sejam
admitidos como determinantes na explicação e justificação da ordem social, ou seja, legitimados.
O autor entende estas legitimações como respostas aos questionamentos sobre os “dispositivos
institucionais”. Nesta medida propõe “o que é” e normatiza o agir social, retroagindo sobre seus
produtores, assim as realidades objetivadas podem ser interiorizadas definindo e validando a
realidade subjetiva. A exterioridade, para o autor, garante uma ordenação nas relações sociais que
se estabelecem entre os indivíduos e a interiorização possibilita a manutenção e reprodução
subjetiva do mundo social.
Neste sentido, a religião pode ser considerada historicamente o mecanismo mais eficaz de
legitimação da realidade definida colectivamente em cada contexto social que relaciona com o
cosmos sagrado às construções de mundo empírico à mercê de contingências que podem
perturbar a ordem objectivada e significada. Dessa forma, Berger (1985), observa que:
“a religião legitima as instituições infundindo lhes um status ontológico de validade
suprema, isto é, situando-as num quadro de referência sagrado e cósmico. [...]” (p. 46). A
legitimação operada na e pela religião possibilita a interpretação da ordem social como
constituída por uma realidade (um espaço) sagrada. Realidade esta que uma vez
significada possibilita superar a desordem percebida como contraditória à ordem social
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Na perspectiva de O’dea (1969) a religião como uma criação humana resulta de três
características fundamentais da existência humana: a incerteza ou a contingência; a impotência
e escassez que caracteriza a vida humana.
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Distribuições de função, recursos e prémios, que constituem a estrutura básica da sociedade, são
feitas de forma diferencial e sob condições de escassez. Por causa dessas “mazelas” a religião
afigura-se como auxílio aos homens no ajustamento. Os três fatos brutos de contingência,
impotência e escassez colocam o homem diante de pontos críticos no círculo socialmente
estruturado de comportamento diário. Como ultrapassam a experiencia comum, propõem
perguntas que só podem ser respondidas certo tipo de além. O’dea (1966, p.15)
Um outro autor que pode ser associado a perspectiva construtivista, defendida neste ensaio é
Nietczche. Segundo Nietczche apud Carvalho (2007) O Homem é o “animal doente por
excelência”. E o “ideal ascético” encontra audiência e crédito junto do animal doente ao oferecer
um sentido ao sofrimento e um remédio ao que ele possuí de insuportável. O ideal ascético foi o
ideal por excelência à falta de melhor. É a vontade de viver, de acreditar, a “todo o preço”. E se o
sentido que oferece é uma ilusão, algum sentido é melhor do que nenhum.
Considerações finais
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Referencias Bibliográficas
BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São
Paulo: Paulinas, 1985.
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BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, Perspectiva,
2004.
_______________ . A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: 2002.
CARVALHO, J. Francisco, Nietzsche E Marx Críticos Da Religião. (2007) disponível em:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n187/n187a03.pdf
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GEERTZ, Cliffort. A interpretação das culturas. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
O’DEA, Thomas, Sociologia da Religião, São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1969