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“Deus” Como construção social

“Deus” Como construção social

Este ensaio tem objectivo central defender a ideia segundo a qual “Deus” como ser
transcendental é produto da imaginação do homem. Afigura se relevante, desde logo, frisar que
uso o termo “Deus”como uma bitola alegórica para referir-se à religião num contexto geral.

A religião é um tema recorrente nos diferentes campos que compõem as ciências humanas, por
este motivo possibilita variadas concepções a seu respeito. A perspectiva adoptada neste trabalho
analisa a religião como fenómeno multidimensional, inserida no universo social, não como parte
independente e auto-explicativa, e, sim, como partícipe de um processo mais amplo de
construção da realidade, compreendida como historicamente construída e socialmente
significada.

Por esta lógica as contribuições teórico-conceituais e metodológicas de pensadores como Emile


Durkheim, Pierre Bourdieu e Berger e Thomas O’dea, serão utilizadas sustento teórico deste
ensaio. A escolha deve-se ao fato de que eles fundamentam suas concepções no processo de
construção e significação do mundo social, no qual a religião ocupa posição de destaque. Os
demais autores citados contribuirão para ilustrar ou conceituar aqueles princípios não trabalhados
por eles, ou, que, devido ao viés analítico colaboram com outros elementos para o estudo. A
ênfase dada aos primeiros deve-se mais ao fato de que suas teorias serviram como matrizes
teóricas, em maior ou menor grau, àqueles que se dedicam ao estudo da religião.

Perspectiva religiosa Durkheim


Durkheim, numa perspectiva funcionalista, advoga que a religião é santificação das tradições, e
corporifica as exigências da sociedade quanto ao comportamento humano, de que, em última
analise, defende a sociedade. Segundo o mesmo autor, o culto de deus é culto disfarçado da
sociedade, e grande entidade de que o indivíduo depende. Assim, a religião apresenta, através de
sua santificação e renovação de normas básicas, uma base estratégica para controle social diante
de tendências divergentes e da expressão de impulsos perigosos para estabilidade da sociedade
Segundo Durkheim1 a religião reflecte e ao mesmo tempo reforça a estrutura da sociedade a que
os seus membros pertencem, ela constitui o cimento social, é a santificação das tradições, e
corporifica as exigências da sociedade quanto ao comportamento humano, de que, em última
1 Ver: Formas elementares da vida Religiosa

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analise, depende a sociedade; uma base estratégica para controle social diante de tendências
divergentes e da expressão de impulsos perigosos para estabilidade da sociedade. O âmago do
pensamento de Durkheim, embora evidentemente funcionalista, ela repousa em uma abordagem
tipicamente essencialista. Isto pode ser notado uma vez que o sociólogo parte do princípio de que
há um componente comum, elementar, e, portanto, essencial, em todas as formas de religião,
sendo que, o método ideal para sua compreensão consiste em desvendar tais essências em suas
origens, tendo como ponto de partida as formas mais “simples” ou “menos complexas” de
religião. Durkheim (2003)
A perspectiva Durkheimeana sobre a região, pode ser encontrado no pensamento de Ludwing
Feuerbach. Este pensador advoga que o conteúdo real da religião, ou da concepção de Deus, é
antropológico; a religião é projecção, no além, da natureza humana. A religião é a primeira forma
indirecta de autoconhecimento do homem. Feuerbach chama nossa atenção para os elementos de
projecção nas concepções religiosa. Considera que, essa projecção, o homem se aliena de si
mesmo e é por isso prejudicado em sua auto realização. Este autor se assemelha à Durkheim em
um aspecto importante: ambos consideram que o conteúdo ideacional da religião é uma
projecção do homem. Durkheim, no entanto introduz e acentua a dimensão sociológica. Deus
representa a substancialização da sociedade, que apoia o moral do homem, mas também lhe
impõe algo diferente, a exterioridade e coerção. Segundo Feuerbach, esse processo projectivo é
uma fonte de alienação do homem com relação a si mesmo e, consequentemente, faz com que o
homem se torne incapaz de aceitar e desenvolver seus dotes.
Para analisar mais amplamente o problema de alienação e ilusão, consideremos a contribuição de
Marx ao assunto. Este autor refere que a religião é ópio do povo, ela é uma ilusão. A religião é
uma forma de alienação e divisão do Homem que tem como características a resignação, a
justificação transcendente da injustiça social e a compensação, no céu, das injustiças da
sociedade opressiva. A religião é obra de uma humanidade sofredora e oprimida, obrigada a
buscar consolo no universo imaginário da fé. Marx diz que a “religião apenas oferece a
libertação espiritual do homem, a libertação imaginária e ilusória.”

Perspectiva religiosa de Pierre Bourdieu

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A definição de religião encontrada, em Pierre Bourdieu (2002), liga-se, diretamente, a sua


concepção de realidade social. Esta realidade é percebida como um espaço multidimensional,
composto por vários campos de conhecimento e/ou representações de mundo, no interior do qual
ocorre uma luta simbólica pelo poder de ordenar e construir visões de mundo. Em sua obra
“Poder simbólico”3 fundamenta seu arcabouço teórico-conceitual na reelaboração que
empreende de conceitos de outras teorizações correntes de sua época, tais como: sistema
simbólico, poder simbólico, habitus e campo, a fim de problematizar e explicar o universo social.

Na reinterpretação que faz, define um universo social formatado por vários sistemas simbólicos
ou sistemas de ordenação, hierarquização e legitimação de significações ou visões de mundo
social e natural. Neste sentido, concorda que os sistemas simbólicos – religião, ciência, língua
cultura arte, etc. - operam como instrumentos de conhecimento e comunicação, definições
encontradas no funcional-estruturalismo e na semiologia. Mas, para além das funções sociais de
integração da sociedade num conformismo lógico (visão de Durkheim), e que sugere consenso
sobre as categorias de pensamento e o sentido da realidade social, Bourdieu ressalta a função
política do simbolismo, cuja tendência principal, é a ordenação ”gnosiológica” do mundo
encerrando uma “di-visão” ou, antes, um poder de produzir visões de mundo a partir de sua
ordenação. Ele entende os sistemas simbólicos como estruturas estruturadas (relações objetivas)
que exercem um poder estruturante, só, e, na medida em que, se encontram estruturados. Daí a
ênfase na relação dialéctica entre as estruturas estruturadas e as visões de mundo por elas
engendradas e, que, são produzidas e reproduzidas a partir da ação do sujeito.
Define a religião como sistema simbólico. Neste sentido, é um veículo de poder e política, uma
vez, que se refere à ordenação do mundo social. A estruturação do campo religioso segue,
portanto, o mesmo princípio de “di-visão”, construindo representações e organizando o mundo
social no recorte de classe que empreende nele. E, também no fato de engendrar o sentido e o
consenso em torno da lógica da inclusão/exclusão. Desse modo pela sua própria estruturação,
cumpre “as funções de inclusão e exclusão, de associação e dissociação, de integração e
distinção” (BOURDIEU, 2004, p.30).

Portanto a religião:

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“[...] contribui para imposição (dissimulada) dos princípios de


estruturação da percepção e do pensamento do mundo e, em
particular, do mundo social, na medida em que impõe um sistema
de práticas e de representações cuja estrutura objetivamente
fundada em um princípio de divisão política apresenta-se como
estrutura natural sobrenatural do cosmos” (BOURDIEU, 2004, p.
33 - 34).
Como sistema simbólico objetivado na estrutura e nas disposições a religião constrói e ordena o
pensamento, delimita o pensável, o dizível dentro do seu campo, ou seja, aquilo que é admitido
sem discussão e, dado seu efeito de consagração ou legitimação, opera uma “mudança de
natureza” no “habitus” e nas visões acerca do mundo social convertendo o ethos, definido como
“sistema de esquemas implícitos de ação”, em ética, “enquanto conjunto sistematizado e
racionalizado de normas explícitas”. Por estes aspectos a religião cumpre função ideológica já
que legitima o arbitrário na imposição de axiomas incontestáveis, sacralizados, naturalizados e
eternizados.
As funções sociais e políticas que a religião cumpre na produção e reprodução de determinada
ordem social em cada contexto histórico, ou seja, na representação e significação do universo
social devem ser analisadas na relação dialéctica entre agente social e sociedade, a fim de se
compreender as razões pelas quais certos discursos religiosos são legitimados em detrimento de
outros. Deve-se buscar o processo de construção e significação dessa legitimidade socialmente
atribuída.

Perspectiva religiosa de Berger


Por sua vez Berger (1985) interessa-se pelo fenómeno religioso na medida em que este se
relaciona com esta realidade, ou antes, participa dela como produto histórico do agir humano.
Em sua obra “Dossel Sagrado”7, Berger traça os parâmetros da sua concepção. Para, ele a
sociedade é resultado do trabalho humano de construção do mundo e a religião tem lugar
destacado nesse empreender do homem. Com objectivo de relacionar a religião à construção do
mundo social analisa a sociedade em termos dialéticos. define a sociedade como um aspecto do
conjunto total dos produtos dos homens que podem ser materiais ou intangíveis e a essa
totalidade define como cultura. Na dialéctica homem/sociedade, a última estrutura sua relação

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com o homem pela interiorização a partir do processo de socialização, de compreensão dessa


objetividade colectivamente construída compartilhada, reconhecida e significada. Significado
socialmente construído, cujo objectivo é ordenar a realidade, e que confere a ela uma “qualidade
protetora”.
Para Berger (1985) quando em situações marginais ou limites esta qualidade protetora não dá
conta de significar o real abre hiatos de suspeição subjectiva sobre a “normalidade” da ordem
social admitida como óbvia. Nesse ponto introduz a religião como produto do trabalho de
construção de significação do mundo a partir do qual fundamenta um cosmos sagrado para dar
conta de aspectos precários percebidos no universo social. A religião é representação máxima da
“auto-exteriorização” do homem na construção de significados para a realidade, ou seja, “[...] é a
ousada tentativa de conceber o universo inteiro como humanamente significativo” (p. 41).
Assim, atribuí sentido e direção ao cosmos como um todo superando a percepção de que aquela
já referida “normalidade” não é tão real.

Mas, enfoca a “precariedade” constante destas realidades que, por serem, socialmente
construídas, tornam necessário que os “saberes”, objetivados e interiorizados como reais, sejam
admitidos como determinantes na explicação e justificação da ordem social, ou seja, legitimados.
O autor entende estas legitimações como respostas aos questionamentos sobre os “dispositivos
institucionais”. Nesta medida propõe “o que é” e normatiza o agir social, retroagindo sobre seus
produtores, assim as realidades objetivadas podem ser interiorizadas definindo e validando a
realidade subjetiva. A exterioridade, para o autor, garante uma ordenação nas relações sociais que
se estabelecem entre os indivíduos e a interiorização possibilita a manutenção e reprodução
subjetiva do mundo social.
Neste sentido, a religião pode ser considerada historicamente o mecanismo mais eficaz de
legitimação da realidade definida colectivamente em cada contexto social que relaciona com o
cosmos sagrado às construções de mundo empírico à mercê de contingências que podem
perturbar a ordem objectivada e significada. Dessa forma, Berger (1985), observa que:
“a religião legitima as instituições infundindo lhes um status ontológico de validade
suprema, isto é, situando-as num quadro de referência sagrado e cósmico. [...]” (p. 46). A
legitimação operada na e pela religião possibilita a interpretação da ordem social como
constituída por uma realidade (um espaço) sagrada. Realidade esta que uma vez
significada possibilita superar a desordem percebida como contraditória à ordem social

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evidenciada e objectivada. Esta visão permite compreender a legitimação operada


subjectivamente pelos indivíduos uma vez que ser contrário à ordenação religiosa do
mundo é arriscar-se a cair no contraditório e não-significativo “[...] é [...] aliar-se às
forças primevas da escuridão [...]” (BERGER, 1985, p. 52).

Perspectiva religiosa Thomas O’DEA,


O’dea (1969) numa perspectiva funcionalista, advoga que A religião, através da sua referência a
um além, e por suas crenças referentes à relação do homem com esse além, dá uma interpretação
supra-empírica de uma realidade total mais ampla. No contexto dessa realidade, as decepções e
as frustrações impostas à humanidade pela incerteza e pela impossibilidade, e pela ordem
institucionalizada da sociedade humana, adquirem significação em algum sentido final, e isso
permite a sua aceitação e o ajustamento a elas. Além disso, ao mostrar as normas e regras da
sociedade como parte de uma ordem ética mais ampla e supra-empirica, ordenada e santificada
pela prática e crença religiosas, a religião contribui para imposição de tais normas e regras
quando a sua aceitação contrária os desejos e interesses dos atingidos. Santifica as normas da
ordem estabelecida no que dominamos os “pontos críticos”, pois dá o fundamento para crenças e
orienta, coes dos homens diante da realidade que transcende o aqui-e-agora empírico da
experiencia quotidiana. O’dea (1966, p.16)

Na perspectiva de O’dea (1969) a religião como uma criação humana resulta de três
características fundamentais da existência humana: a incerteza ou a contingência; a impotência
e escassez que caracteriza a vida humana.

A contingência, ou o contexto de incerteza, refere-se ao fato de que todos os empreendimentos


humanos, por mais cuidadosamente planejadas ou habilmente executados, estão sujeitos a
fracasso. E como tais empreendimentos se caracterizam frequentemente por elevado grau de
participação emocional, esse fracasso provoca um profundo sofrimento humano.

A impotência, ou contexto da impossibilidade, refere-se ao facto de que nem tudo o que os


homens desejam pode ser obtido. Os males que são de carácter intrínseco na vida humana ( a
morte, o sofrimento, coerção) perturbam a existência e nos privam de satisfações e facilidade.
Aos males que cercam os homens, através da contingência e da impotência da sua condição
natural, ‘e preciso acrescer a s frustrações e as privações intrínsecas à sociedade humana. As

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Distribuições de função, recursos e prémios, que constituem a estrutura básica da sociedade, são
feitas de forma diferencial e sob condições de escassez. Por causa dessas “mazelas” a religião
afigura-se como auxílio aos homens no ajustamento. Os três fatos brutos de contingência,
impotência e escassez colocam o homem diante de pontos críticos no círculo socialmente
estruturado de comportamento diário. Como ultrapassam a experiencia comum, propõem
perguntas que só podem ser respondidas certo tipo de além. O’dea (1966, p.15)

Um outro autor que pode ser associado a perspectiva construtivista, defendida neste ensaio é
Nietczche. Segundo Nietczche apud Carvalho (2007) O Homem é o “animal doente por
excelência”. E o “ideal ascético” encontra audiência e crédito junto do animal doente ao oferecer
um sentido ao sofrimento e um remédio ao que ele possuí de insuportável. O ideal ascético foi o
ideal por excelência à falta de melhor. É a vontade de viver, de acreditar, a “todo o preço”. E se o
sentido que oferece é uma ilusão, algum sentido é melhor do que nenhum.

Considerações finais

Convergências entre os autores


Entre os autores acima citados o sagrado aparece como elemento intrínseco ao universo
religioso, seu referente, seu conjunto de significações, seu aspecto ideológico (di-visão) e como
espaço de distinção, de oposição entre a realidade perceptível e àquela mais ampla que compõe o
universo como um todo. Mas o sagrado não tem substâncias em si mesmo, é uma construção de
significados.
O simbolismo sacralizado ou sagrado que compõe a religião, ou antes, a representa, define e
reproduz se representando e se reproduzindo nas consciências de forma directa e indirecta.
O universo religioso entendido como sistema simbólico, analisado pelos autores citados até o
momento, traz implícita a questão da construção de significações para o mundo, considerada
essencial à existência humana já que propõe à ordenação, direcção e sentido ao real. Mas em
todos está presente a questão do “vazio de significação” ou como refere Geertz (1989) “o
problema do significado” que pressupõe hiatos de significação na ordenação socialmente
construída.
A religião entendida como uma produção colectiva que encerra a memória colectada pelos
grupos que vivenciam no quotidiano. Pelo imaginário social é possível detectar as diversas
percepções que os atores têm de si mesmos e deles em relação aos outros ou como se percebem

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como partes do colectivo. Nele as identidades e objectivos são esboçados e organizados. O


imaginário é expresso por ideologias, símbolos, rituais, mitos, por seu intermédio pode-se atingir
as aspirações, medos e esperanças de um povo já que seus elementos modelam condutas e visões
de mundo estabilizando e/ou modificando a ordem social.
Em jeito de conclusão importa referir que “Deus”, ou melhor dizendo, ”religião”, é uma
construção social, com função de manter a ordem social, como refere Marx a resignação social.
Ela dá um sentido final as decepções e as frustrações impostas à humanidade pela incerteza e pela
impossibilidade, pela contingência e pela escassez. Além disso, ela santifica as normas socialmente
institucionalizadas, pois, dá o fundamento para crenças e orientações dos homens diante da realidade que
transcende o aqui-e-agora empírico da experiencia quotidiana

Referencias Bibliográficas
BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São
Paulo: Paulinas, 1985.

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BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, Perspectiva,
2004.
_______________ . A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: 2002.
CARVALHO, J. Francisco, Nietzsche E Marx Críticos Da Religião. (2007) disponível em:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n187/n187a03.pdf

DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

GEERTZ, Cliffort. A interpretação das culturas. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
O’DEA, Thomas, Sociologia da Religião, São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1969

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