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RESUMO
A rodovia BR-282/SC, de classe I-A, é um importante corredor para a Região Metropolitana de Florianópolis e a
implantação de um corredor de BRT em seu canteiro central resultaria em grande melhoria para a mobilidade
urbana dessa região. Entretanto, rodovias semelhantes à BR-282/SC são percebidas pelos pedestres como
ambientes pouco atrativos, perigosos e como barreiras ao uso de serviços de transporte coletivo (TC), pois elas
são de difícil acesso, expõem o passageiro a elevados níveis de ruído, de fuligem e a elevadas temperaturas, em
decorrência do tráfego, dos materiais de pavimentação e da própria estação. Implantar uma estação no centro da
rodovia torna-se um desafio na medida em que o sistema de TC deverá possuir em seu projeto, desde a sua fase
mais inicial, medidas de mitigação dos desconfortos, para que consiga atrair passageiros para essa estação. Esta
pesquisa pretende apontar os principais problemas em um projeto de implantação de estações de BRT no
canteiro central de rodovias. Estudam-se aspectos de desconforto relacionados à pavimentação, ao desenho da
estação e à acessibilidade. O estudo proposto é formulado a partir de um estudo de caso sobre esse tipo de
inserção no canteiro central da BR-282/SC.
ABSTRACT
The BR-282/SC, class I-A highway is an important corridor to Metropolitan Region of Florianópolis and the
implementation of a BRT’s corridor at its median would result in a great improvement of urban mobility of this
region. However, pedestrians see roads like BR-282/SC as unattractive, dangerous environments and as barriers
to the use of public transport services (PT), because they are difficult to access, expose the passenger to high
levels of noise, soot and high temperatures due to traffic, paving and station materials. Deploying a station in a
highway median becomes a challenge since the PT must have in its design, from its earliest stage, measures to
mitigate discomforts in order to attract passengers to this station. The research intends to point out the main
problems in a project of implantation of BRT station in highway median. It is studied aspects of discomforts
related to pavement, station and accessibility. This study is formulated from a case study on this type of
implantation at BR-282/SC median.
1. INTRODUÇÃO
Rodovias de alto volume de tráfego, de classe I e 0, por exemplo, possuem grande potencial
para serem corredores de BRT, contendo estações em seu canteiro central, porque teriam
demanda de passageiros que justificasse economicamente a sua implantação (SADOWSKI et
al., 2016). Porém, ao mesmo tempo, essas rodovias não proporcionam um ambiente atrativo a
esses potenciais usuários.
Apesar do uso do sistema de BRT ser largamente estudado, há poucas pesquisas que se
propõem a investigar a implantação de estações de BRT no canteiro central de rodovias de
alto volume de tráfego. Esta pesquisa visa contribuir com o preenchimento desta lacuna. De
modo a formular o estudo sobre implantação de estações de BRT que sejam atrativas em
canteiro central de rodovias, realiza-se um estudo de caso na rodovia BR-282/SC em seu
trecho de ligação da BR-101/SC à ilha de Santa Catarina, Florianópolis, com
aproximadamente 6 km de extensão.
Neste trabalho, considera-se válida a diretriz do governo estadual no que tange à implantação
de estações ao longo do corredor. Portanto, serão estudados os desconfortos e soluções para
mitigá-los, como forma de projetar uma estação atrativa.
2.1. Ruído
A busca por referências na literatura acerca de ruído e seus efeitos na atratividade de um
sistema de BRT não encontrou pesquisas que tenham estudado diretamente a exposição ao
ruído em estações de BRT em canteiro central de rodovia de alto volume de tráfego. Contudo,
a análise dos valores de pressão sonora obtidos em rodovias de elevado volume de tráfego
mostra que o ruído do tráfego também é elevado e danoso à saúde humana (OUIS, 2001).
Inclusive Zannin, Diniz e Barbosa (2002) em sua pesquisa afirmam que o ruído do tráfego foi
indicado como a principal fonte de incômodo e reclamações em comparação a outras fontes
como: atividades industriais, aeroportos e ruído ambiente.
Não há um consenso entre a comunidade acadêmica que pesquisa o impacto do ruído na saúde
do ser humano sobre em que grau a exposição ao ruído causa problemas ou quais seriam esses
problemas, especificamente. Há consenso, contudo, de que o ruído causa problemas à saúde
em alguma ordem de grandeza (OMS, 2000; OUIS, 2001; PAIVA-VIANA, 2014).
A exposição ao um certo nível de pressão sonora deve estar relacionada a um tempo máximo
de exposição diária, de acordo com o ambiente em que ocorre essa exposição. De modo geral,
quanto maior o nível de ruído, menor o tempo de exposição. A NR-15 (BRASIL, 2011)
estabelece o tempo máximo de exposição diária permissível em função do nível de ruído. Se
submetido 8h a um ruído contínuo ou intermitente, este não pode ultrapassar 85 db(A). Já a
NBR-10.151 (ABNT, 2000) estabelece os limites de ruído para as áreas da cidade: 70 dB(A),
para área predominantemente industrial, no período diurno; para área mista
predominantemente residencial, 55 dB(A) (diurno) e 50 dB(A) (noturno); e, para área mista
com vocação comercial e administrativa, 60 dB(A) (diurno) e 55 dB(A) (noturno).
A partir dos níveis recomendados, cabe investigar acerca dos níveis de ruído observados em
campo, isto é, nas rodovias. Há diversas formas de investigação quanto aos níveis de ruído
observados em rodovias. Algumas medem a pressão sonora considerando todo o tráfego da
nela (PAIVA-VIANA, 2014; KAWARITA, 2008); outras medem quão ruidoso pode ser um
determinado pavimento considerando um veículo padronizado rodando a uma velocidade
padrão (CERATTI et al., 2009; CALLAI, 2011; KNABBEN, 2012). Ou ainda é possível
determinar quão ruidoso é um veículo, por exemplo, caminhões pesados geram,
aproximadamente, 86 dB(A) e 87 dB(A), a velocidades médias de 80 km/h e 100 km/h,
respectivamente (BISTAFA, 2011).
Paiva-Viana (2014) realizou medições na Marginal Pinheiros, São Paulo e obteve pressões
sonoras na ordem de 85 dB(A). Kawarita (2008), na Rodovia Raposo Tavares, São Paulo,
observou a predominância de níveis de ruído entre 75 dB(A) e 80 dB(A), tendo alguns trechos
obtidos 80 dB(A) e 85 dB(A). Na época do estudo, a rodovia Raposo Tavares possuía tráfego
diário de 160.000 veículos. Ceratti et al. (2009) avaliou o nível de pressão sonora em quatro
revestimentos diferentes existentes em rodovias estaduais (RS) e federais e identificaram que
os revestimentos mais densos são mais ruidosos.
Os estudos considerando apenas a contribuição de um único veículo não representam os
níveis de ruído da rodovia de fato, porém eles contribuem na identificação de quais
pavimentos absorvem mais ruído. Knabben (2012) comparou o desempenho da CPA e do
Microrrevestimento e observou que a CPA emite na ordem de 5 dB(A) a menos do que o
microrrevestimento nas três velocidades estudadas (60 km/h, 80 km/h e 100 km/h)
2.2. Fuligem
Fuligem é o material particulado fino (PM2,5) em suspensão no ar e é um importante poluente
atmosférico. A partir do estudo dos principais componentes da fuligem, Carr et al. (2002) e
Rakowska et al. (2014) concluíram que o tráfego rodoviário é o principal determinante das
concentrações de poluentes atmosféricos no ar nas cidades. Complementarmente, Carr et al.
(2002) observaram que estando apenas a 300 metros da fonte poluente a exposição passa a ser
relevante.
Diversos autores (CARR et al., 2002; CHINA et al., 2014; LI et al., 2015; RAKOWSKA et
al., 2014) têm pesquisado sobre a relação do tráfego rodoviário e os níveis de exposição à
poluição do ar e seus componentes aos quais as pessoas são cotidianamente submetidas. E
mostraram que há diferença significativa de exposição entre pessoas que moram próximas a
rodovias ou que permanecem boa parte do dia nelas com pessoas que estão cotidianamente
distantes.
A proximidade com a fonte foi objeto de estudo de Karanasiou et al. (2008), os quais afirmam
que os ciclistas estão expostos a menores concentrações de material particulado, comparado
às pessoas dentro dos veículos. Porém, inalam doses muito maiores do que estas, devido ao
seu maior gasto energético e consequente taxa de inalação maior. O mesmo ocorreria também
com os pedestres, segundo os estudos de Li et al. (2015). Velasco e Tan (2016) e Tsai, Wu e
Chan (2008) pesquisaram as propriedades das partículas do tráfego em pontos de ônibus e
puderam concluir que a exposição à fuligem foi maior do que os níveis recomendados pela
Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016).
De modo geral, os autores concordam que, além da presença de mais árvores urbanas, a
utilização de materiais de alto albedo pode compensar, reverter e/ou mitigar os efeitos da
ICU, proporcionando maior conforto térmico para os pedestres em espaços urbanos
exteriores. Nesse sentido, alguns autores afirmam que os chamados pavimentos frios têm um
papel fundamental (SANTAMOURIS, 2013; ROMEO e ZINZI, 2013; CARPIO, 2014).
Por isso, a influência da área de abrangência na acessibilidade tem relação com o ambiente
construído, ou seja, com as condições de caminhada e a variedade de atividades nessa região
(CERVERO et al., 1995; TOWNSEND e ZACHARIAS, 2009; JIANG, ZEGRAS E
MEHNDIRATTA, 2012). Quanto maior a acessibilidade, maior será a área de abrangência da
estação e por consequência maior será a demanda de passageiros. Os estudos de Cervero e
Kockelman (1997) e Cervero et al. (2009) resumem todos os fatores importantes na interação
ambiente construído e distância caminhada, e citados nesta pesquisa, em um termo conhecido
como 5D’s: densidade populacional, diversidade do uso do solo, desenho urbano, acesso ao
destino e distância ao transporte público.
O cruzamento do corredor (segundo movimento) pode ser realizado a partir de três modos
distintos: travessias em nível, elevadas ou subterrâneas (LEVINSON et al., 2003; ARIAS et
al., 2008). Travessias em nível são feitas através de faixas de pedestres; enquanto as elevadas
por meio de passarelas, rampas, elevadores, escadas e escadas rolantes; e, as subterrâneas,
túneis. De modo geral, os pedestres preferem travessias em nível, entretanto há situações em
que o uso de travessias elevadas ou subterrâneas torna-se mais vantajoso para o sistema,
especialmente em casos de vias de alta velocidade e alto volume de tráfego e em caso de
estação implantada no canteiro central, flanqueada por vias expressas de múltiplas faixas
(ARIAS et al., 2008).
É possível adotar soluções de projeto que tornem as travessias em desnível atrativas aos
pedestres (ARIAS et al., 2008). Fornecer iluminação pública, dar visibilidade a quem utiliza a
passagem, dimensionamento adequado, com passagens largas e rampas suaves (no caso nas
passagens elevadas), disponibilizar elevadores, proteger contra enchentes (no caso de
passagens subterrâneas), coibir a ação e presença de vendedores não autorizados, são algumas
das ações mais necessárias (ARIAS et al., 2008). Adicionalmente, melhoramentos na área de
abrangência da estação também devem ser realizadas (LOUKAITOU-SIDERIS et al., 2013).
Esses melhoramentos vão desde a criação de zonas pedestrianizadas e espaços compartilhados
(CERVERO e KANG, 2010), qualificação das funções de transporte, integração modal e
intervenções paisagísticas e urbanísticas (LOUKAITOU-SIDERIS et al., 2013; McNEIL,
DUNCAN e DeVITIS, 2016).
A estação de BRT deve ser implantada no local que atrairia a maior demanda possível. Mas
para possibilitar que essa demanda seja de fato atraída para a estação, seu projeto deve incluir
ações urbanísticas sobre sua área de abrangência, de acordo com que a análise da mesma
identificou como fatores de atração e rejeição.
Figura 2: (esq. para dir.) Raios de caminhada (laranja: 400 m; amarelo: 800 m), Densidade
populacional e Densidade populacional (tons mais escuros representam maior densidade).
Utiliza-se, ainda, dados tais como: demanda e perfil de usuários da estação, informações sobre
a topografia da região, o uso do solo, levantamento da rede pedonal, cicloviária e de
transporte coletivo, dentre outras informações que forem pertinentes à caracterização da área
de estudo. A Figura 2 apresenta a representação de algumas dessas variáveis em relação ao
local de estudo.
Estima-se, a partir do raio de caminhada de 800 m (Figura 2), que a estação teria demanda de
5.501 viagens/dia para toda a RMF. Esse dado considera apenas as viagens realizadas
atualmente por transporte coletivo e que poderiam ser realizadas utilizando a Estação Koesa.
Prevendo migração de uma parcela do transporte individual para o coletivo, a demanda
potencial seria ainda maior.
Atualmente, os ônibus que trafegam pela BR-282, em tráfego misto, podem levar durante o
pico até 55 minutos para percorrer a rodovia até o Terminal Integrado do Centro de
Florianópolis (9,2 km ao todo) – destino principal da região. Por outro lado, se os ônibus
trafegassem pelo corredor, a viagem levaria 16 min, aproximadamente. E acrescentando o
tempo de caminhada e de espera na estação, ao todo, a viagem duraria, 30 min.
No estudo de caso desta pesquisa, avaliou-se, além disso, o projeto de corredor de ônibus para
a rodovia BR-282/SC e como ele, do modo como foi elaborado inicialmente, contribui ou não
na implantação de uma estação atrativa. A nova via projetada (Figura 3) possui 66,80 metros
de seção transversal (considerando todas as faixas de tráfego, calçada e ciclovia) e traz como
principal diferencial, em relação à rodovia atual, a criação de um binário na Rua Koesa com a
Av. Lédio João Martins, o qual pode ser observado na Figura 3. Também da Figura 3, infere-
se que a intersecção da rodovia BR-282/SC com essas vias será realizada por um viaduto (cor
amarela). Esse viaduto possui 164,00 metros de comprimento e desenvolve-se
planimetricamente em linha reta e em um trecho da via com inclinação altimétrica inicial de
5,48% e ao final, 0,35%, conforme Figura 4 (Consórcio Via Expressa, 2014), isto é, o viaduto
forma uma rampa ao tráfego.
O ruído, a fuligem e a sensação térmica são desconfortos aos quais os usuários de uma estação
no canteiro central de rodovia estariam expostos, e a bibliografia da área de pavimentação
oferece alternativas viáveis para atenuar os efeitos negativos dos mesmos, tais como:
pavimentos drenantes ou porosos, revestimentos fotocatalíticos e revestimentos pigmentados.
A revitalização da área de abrangência da estação, inclusive o uso do espaço abaixo da
mesma, priorizando o transporte não motorizado, pequenas atividades comerciais e áreas
verdes e de lazer, criam um ambiente mais convidativo aos potenciais usuários daquela
estação.
Acima de tudo, esta pesquisa evidencia o risco de se obter um sistema de transporte não
atrativo como consequência do equívoco do órgão com jurisdição sob a rodovia ao não incluir
a implantação de uma estação no projeto original de ampliação da mesma.
5. CONCLUSÕES
A partir do estudo de caso da estação Koesa é possível identificar duas questões centrais: a)
de modo geral, os pedestres não utilizam a BR-282 e a simples implantação de uma estação de
BRT não é suficiente para motivar as pessoas a usarem-na, de onde conclui-se a
imprescindibilidade de elaboração de um projeto que contemple a especificidade do local
onde deseja-se implantá-la e a relação que essa estação terá com sua área lindeira; b) o
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, através do consórcio de empresas
que elaborou o projeto de ampliação da BR-282 prevendo o corredor de BRT, ignora a
importância da estação e do planejamento requerido para a sua implantação, haja vista a
inclinação altimétrica do viaduto na intersecção, que impossibilita definitivamente a sua
implantação, e a não atenção à mitigação dos desconfortos apontados nesta pesquisa.
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