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Subalternidade, Hegemonia E Filosofia Da Práxis: Observações Preliminares Sobre o


Movimento De Pessoas Com Deficiência Em Uberlândia

KÉSIA PONTES DE ALMEIDA1

NTRODUÇÃO: REVISÃO DO MÉTODO DE PESQUISA

Com relação ao desenvolvimento do meu tema de pesquisa é muito importante o


cruzamento de fontes, bem como destacar alguns pontos sobre a análise do movimento das
pessoas com deficiência pela cidadania. Para tal vou fazer uma revisão de minha metodologia
desde a construção do projeto a fim de explicar o que tenho a mão para pensar meu objeto de
pesquisa.

em primeiro lugar cogitei fazer uma explanação teórica sobre a concepção gramsciana
de Estado e a influência do jus naturalismo após a criação da Organização das Nações Unidas
e seu reflexo no Brasil, ao ponto da lei maior com relação a inclusão de pessoas com
deficiência atualmente ser a Declaração Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência,
publicada em 2006 pela ONU. Pretendia pensar as dificuldades de se implantar uma política
de inclusão tão ampla nos moldes jus naturalistas e identificar as várias bases discursivas com
relação a inclusão destas pessoas, bem como seus reflexos na cidade de Uberlândia.

Este pensamento se modificou a medida em que eu fui me aprofundando no contato


com o movimento como militante e pude revisar algumas opiniões, como por exemplo o
encaixe de conceitos na realidade estudada. Ao invés de pensar a retomada do jusnaturalismo
quero inicialmente refletir sobre o movimento das pessoas com deficiência pela sua própria
heterogeneidade, e, para tal, não quero pensá-lo propriamente pelo viés da inclusão, e sim, da
hegemonia e contra-hegemonia. Para tal pretendo iniciar no processo de escrita de minha
dissertação o pensamento sobre o movimento das pessoas com deficiência por alguns vieses:
o primeiro é sua composição muito particular composto por pessoas com e sem deficiência,
por vários tipos(física, visual, auditiva, intelectual, síndrome do espectro autista), e, por várias
esferas e instituições onde os tipos se relacionam de forma mais ou menos tensa, e por vezes,

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Universidade Federal de Uberlândia, Mestranda em História Social e Movimentos Sociais, Agência de
Fomento CAPES
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chegam até mesmo a trilhar caminhos diferenciados. Como ficaria inviável estudar a trajetória
de todos os tipos), optei por investigar os objetos que me são mais próximos: a trajetória das
pessoas com deficiência física e visual, bem como de seus aparelhos privados de hegemonia.

No processo de institucionalização da luta por direitos e da prestação de serviços,


principalmente educacionais, às pessoas com deficiência fez-se necessário a distinção entre as
instituições De, formadas pela iniciativa destas pessoas e as instituições Para, , cuja função é
prestar serviços a este segmento da sociedade. Neste trabalho optei por examinar a trajetória
das instituições de pessoas com deficiência física e visual de Uberlândia, que são as
associações ligadas a este segmento. São elas: APARU- Associação dos Paraplégicos de
Uberlândia, ADEVITRIM- associação dos Deficientes Visuais do Triângulo Mineiro, e, a
ADEVIUDI- Associação dos Deficientes visuais de Uberlândia.

Ao longo de minhas pesquisas descobri algo que me fez rever a ideia de que as
associações de pessoas com deficiência foram formadas por elas já com o objetivo político de
lutar por direitos, poisas mesmas são de diferentes naturezas, como no caso da ADEVIUDI,
que foi formada por pessoas ligadas aos clubes tradicionais de caridade (Holtari Clube e Lions
Clube, ambos ligados a maçonaria), enquanto a ADEVITRIM foi uma divisão do seguimento
das pessoas com deficiência visual para tentar se desvencilhar da tutela de pessoas sem
deficiência. As lutas internas e externas provocaram diferentes trajetórias no processo de luta
por direitos, a começar pelo número de instituições formadas por estas duas subclasses.
Enquanto no ano de 1998 chegavam pessoas, que tiveram como base de militância a APARU,
aos órgãos governamentais, as ligadas à ADEVIUDI-ADEVITRIM, ainda lutavam para sair
da tutela dos clubes de caridade.

Quanto a temporalidade optei por partir minhas análises dos anos 80, principalmente
porque em nível nacional e internacional ocorreram marcos importantes tais como o ano
internacional das pessoas com deficiência –AIPD, bem como a legalização de direitos
legítmos destas pessoas , tanto na constituição de 1988 quanto nas constituições estaduais e
municipais de 1989. Isto não significa que não irei voltar a anos anteriores para falar da
trajetória política das associações. Já nos anos 90 e 2000 irei pensar como o movimento se
desenvolveu em Uberlândia e o processo de estatização das políticas públicas, bem como a
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efetivação dos direitos conquistados na constituição federal e na lei orgânica municipal e a


relação entre a legitimação de direitos e as políticas nacionais e internacionais de garantia dos
direitos do grupo estudado.

Para tal busco entender através de entrevistas como as relações institucionais e a luta
por direitos na cidade de Uberlândia ultrapassam as estruturas criadas pelos intelectuais
coletivos e o papel destes na efetivação de direitos, na reprodução de ideias Hegemônicas e
Contra-hegemônicas, e, de práticas ideológicas. Com o fim de estabelecer critérios para
entender o movimento em um espaço temporal maior entrevistei militantes com deficiência,
que exerçam a militância a mais de 10 anos, com trajetórias diferentes, ou seja, militantes que
estão nas instituições de base, militantes que saíram desta esfera e estão nos órgãos
governamentais, militantes que se afastaram da base, militantes que estudaram e que não
completaram o ensino básico. Estabeleci pelo tipo de depoimento até 10 entrevistas, sendo
que já realizei 7 delas.

Não abordei nestes depoimentos histórias de vida, superação e a catalogação de


barreiras atitudinais que tais pessoas possam ter sofrido e passado. O ponto de partida foi o
processo de contato que os indivíduos tiveram com seus pares e com o meio institucional, e, a
partir daí pensar questões como a unidade do movimento; suas divergências internas, a
diferença entre o discurso e a prática inclusiva; como ]enfrenta as questões que envolvem a
remoção de barreiras atitudinais e arquitetônicas; sua renovação e o papel das instituições ao
atuarem como intelectual coletivo e na formação de intelectuaisorgânicos para representar o
seguimento em outras esferas.

* É importante ressaltar que utilizarei depoimentos orais e fontes orais das conferências
nas três esferas que ocorreram em 2012, algumas reuniões do Conselho Municipal da Pessoa
Portadora de Deficiência - COMPODE e registros falados feitos por mim. Eles trazem as
discordâncias sobre as propostas a serem aprovadas como prioridade de implantação e
construção de políticas públicas em Uberlândia, Minas Gerais e na União; também revelam
vários aspectos da diversidade do movimento, que eu encontrei também nos depoimentos
orais: diferenças nas trajetórias e nas demandas de acordo com o tipo de deficiência; de
opiniões das pessoas oriundas de instituições De e Para; de metodologias e formas de se
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implementar o processo de inclusão, e, além destas e outras as diferenças regionais que


configuram hegemonias e contra-hegemonias dentro do movimento em geral e dentro das
instituições que constituem esta classe e suas subclasses. Outros temas como a escolarização
dos militantes, a divisão e richa das associações de pessoas com deficiência visual, a
resistência destas pessoas ao caminho político conduzido pelos militantes com deficiência
física nos órgãos representativos e governamentais foram pontos de tensão encontrados nos
depoimentos e nas conferências municipal, estadual e federal.

Em um outro momento pretendo pensar qual a relação dos intelectuais coletivos


específicos com os representativos de todo segmento de pessoas com deficiência, como o
status de grupo dominante, dirigente ou subalterno altera e influencia estas relações, e como
os líderes destes aparelhos privados de hegemonia se veem como intelectuais coletivos de
todo segmento, e até quando isto influencia na luta por direitos na cidade de Uberlândia. A
criação do conselho municipal e o fato de desde que foi criado o mesmo ser dirigido por
pessoas com deficiência física é um ponto de tensão constante. Outro ponto que não é pacífico
é o fato de nestes espaços existirem mais pessoas sem deficiência representando o seguimento
do que pessoas com deficiência, inclusive a preocupação com a renovação do movimento é
que nestes órgãos haja mais militantes com deficiência e que os mesmos sejam dirigidos por
tais pessoas.

Ao pensar nesta heterogeneidade do movimento foi difícil para eu aceitar, pois não
queria discorrer sobre as entidades para pessoas com deficiência, mas elas constituem o saber
técnico para a prestação de serviços de habilitação e reabilitação, estimulação precoce,
também detém o monopólio sobre a transcrição, produção e distribuição dos textos em
formatos acessíveis, da produção de órteses ou materiais específicos para pessoas com
deficiência (tecnologia assistiva, regletes e punções, equipamentos para a confecção de
material didático especializado, etc.). elas são produtoras de políticas públicas mesmo se
reconhecendo como prestadora de serviços e constituem parte importante das instituições
representativas paritárias e das conferências nos três níveis.

Outro ponto a ser discutido é a criação da superintendência municipal da pessoa com


deficiência e mobilidade reduzida em 2010, cujo superintendente era pessoa com deficiência
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física e ocupava cargo comissionado, e que atualmente foi substituído por uma pessoa sem
deficiência, ainda não se pode medir quais serão as consequências em longo prazo, mas já
causa tensão dentro do COMPODE.

As reportagens de jornais me ajudarão a pensar como foi construída a memória do


movimento na instituição APARU, bem como as atas de reunião podem indicar pistas de
como se comportou esta instituição na luta por direitos. Infelizmente apenas a ADEVIUDI
tem alguma documentação entre atas, projetos e estatutos para que eu possa pensar a
instituição de pessoas com deficiência visual, infelizmente a ADEVITRIM não possui
qualquer tipo de documentos como atas ou qualquer documento que possa me ajudar a pensar
esta associação, a não ser os depoimentos dos militantes.

Em princípio pensei em investigar os jornais e as atas da câmara municipal desde os


anos 1988, porém isto demandaria muito trabalho para selecionar o que eu necessitaria para
pensar o movimento. Ao visitar o arquivo público resolvi deixar as atas da câmara um pouco
de lado e pesquisar nos documentos municipais a legislação voltada às pessoas com
deficiência desde 1989, após e durante a criação da lei orgânica municipal, e depois extendi
até 1972 que foi quando criaram a ADEVIUDI, antiga ASSOCEGO (Associação dos Cegos
de Uberlândia). Desta forma também ficou morosa a pesquisa, então resolvi somente
examinar as leis e seus processos e seguir algumas datas fornecidas pelos intrevistados como
a data de inauguração das associações, a promulgação da lei orgânica municipal, a criação da
secretaria de planejamento e do ensino alternativo especializado ligado a secretaria de
educação. A partir destes dados irei consultar as atas da câmara dentro destes limites
específicos. Outro ponto que os documentos oficiais e os de imprensa irão me auxiliar é a
discussão sobre a gestão participativa e até quando os intelectuais coletivos ligados ou não ao
governo atuam na luta pelo direito à acessibilidade urbana, bem como o discurso do progresso
que permeia as políticas públicas em Uberlândia.

A fim de pensar meu objeto de pesquisa trago neste trabalho três temas discutidos por
Gramsci que lançarão luz sobre o exame do movimento das pessoas com deficiência: o
comportamento dos grupos subalternos; a formação dos intelectuais; e a consciência
hegemônica e contra-hegemônica através da filosofia da práxis.
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OS GRUPOS SUBALTERNOS E A HISTORICIDADE DO MOVIMENTO DAS


PESSOAS COM DEFICIÊNCIA2

Gramsci ao analisar um movimento subalterno Italiano, chamado Lazzarettismo por


causa de seu líder Davide Lazzaretti, cujo assassinatofoi explicado por políticos com
argumentos subjetivos, folclóricos, culturais e patológicos, adverte que o movimento foi fruto
de um mal estar dos camponeses Italianos por volta de 1870, o qual possuía conotação
republicana e ao mesmo tempo religiosa e Messiânica. Segundo ele este fenômeno se deu pela
falta de participação do clero nas questões políticas e pela falta de um partido consolidado que
dirigisse as massas camponesas, as quais, não tiveram alternativa se não seguir os líderes
populares que por ventura surgissem. O líder em questão surge pelo contato que o mesmo
passa a ter com a imprensa socialista e ao mesmo tempo com questões envolvendo a
instituição igreja católica e sua atuação junto a política. Porém Gramsci relata que logo este
movimento rural se reincorpora a forma de fazer política dos grupos dominantes. (GRAMSCI,
2001:131-134).

por meio deste exemplo Gramsci afirma que a história dos grupos subalternos é
episódica e desagregada, pois as suas tentativas de vencer a oposição dos grupos dominantes é
frustrada com a iniciativa destes para manter a hegemonia e incorporar os que agem de forma
contra-hegemônica. Mesmo quando parece que os subordinados tiveram suas reivindicações
atendidas não significa que se tornaram dominantes, pois somente uma vitória permanente
faria a mudança de poder entre tais classes sociais. Mesmo com aparente vitória os
subalternos estão sempre em alerta e na defensiva, e, por esta complexidade, o historiador
deve atentar-se para os detalhes das ações autônomas deste grupo durante o processo
histórico que envolve estes sujeitos, e só podem ser compreendidas após um ciclo completo,
ou seja, após a tentativa deste grupo de efetuar uma contra-hegemonia. Por causa de sua falta
de autonomia os grupos subalternos, ao praticar suas iniciativas defensivas estão sujeitos a
leis próprias de necessidade, cujas características são simples, limitadas, e, politicamente

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Este tópico foi baseado no volume 5 dos Cadernos do Cárcere intitulado :” O risorgimento. Notas
sobre a História da Itália”, e segue a sua paginação
7

restritas, diferentes das leis históricas que dirigem e condicionam as iniciativas das classes
dominantes, pois os grupos subalternos geralmente possuem religião, cultura e etnia
dessemelhantes, isto quando não reúne diversas características em um mesmo grupo.
(GRAMSCI, 2001:135-143).

O desenvolvimento da análise marxista não pode ser restrito a dominação de classe,


pois isto se aplica somente em um certo sentido. Ela depende da centralização político-
territorial e social, cuja constituição mostra as características atuais do Estado estudado e sua
relação com os grupos subalternos e o modo que estes se comportam no contexto conjuntural
em que estão inseridos. Enquanto nos Estados antigo e medieval os grupos subalternos
possuíam instituições autônomas, as quais, conviviam com outras que possuíam mais força,
porém eram parte do sistema estatal; no Estado moderno há a subordinação de tais grupos a
hegemonia das classes dirigentes que concentram as decisões em suas instituições, o que
provoca o deslocamento das autonomias das classes subalternas para organizações ligadas a
sociedade civil, como associações, partidos políticos, sindicatos e outros, os quais necessitam
aderir a política dos grupos dirigentes para se manterem e garantir a efetivação de seus
direitos e a conquista de benefícios. (GRAMSCI, 2001:136-137).

Gramsci coloca em seu texto como pensar a História bem como a relação dos
subalternos com a mesma e Quais as questões que envolvem o estudo destes grupos.

As classes subalternas, por definição, não são unificadas e não podem se unificar
enquanto não puderem se tornar “Estado”: sua história, portanto, está entrelaçada
à da sociedade civil, é uma função “desagregada” e descontínua da história da
sociedade civil e, por este caminho, da história dos Estados oú grupos de Estados.
Portanto, deve- se estudar: 1) a formação objetiva dos grupos sociais subalternos,
através do desenvolvimento e das transformações que se verificam no mundo da
produção econômica, assim como sua difusão quantitativa e sua origem a partir de
grupos sociais preexistentes, cuja mentalidade, ideologia e fins conservam por um
certo tempo; 2) sua adesão ativa ou passiva às formações políticas dominantes, as
tentativas de influir sobre os programas destas formações para impor
reivindicações próprias e as conseqüências que tais tentativas têm na determinação
de processos de decomposição e de renovamento ou de nova formação; 3) o
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nascimento de novos partidos dos grupos dominantes, para manter o consenso e o


controle dos grupos sociais subalternos; 4) as formações próprias dos grupos
subalternos para reivindicações de caráter restrito e parcial; 5) as novas
formações que afirmam a autonomia dos grupos subalternos, mas nos velhos
quadros; 6) as formações que afirmam a autonomia integral, etc. (GRAMSCI,
2001:138-139)
Desta forma, ao pensar a luta dos grupos subalternos para se tornar Estado é preciso
levar em conta suas relações internas; a maneira como algumas instituições se tornam
hegemônicas e dominam as demais e incorporam as ideias das classes dominantes; os que se
opõem a direção que as instituições hegemônicas dos subalternos seguem e influenciam os
rumos desta classe, bem como, aqueles que ajudam tais organizações a se aproximarem das
classes dirigentes e suas ideias hegemônicas. GRAMSCI, 2001:140-143).

Ao pensar no movimento das pessoas com deficiência pode-se entender sua


subalternidade pelas características dos indivíduos que o compõem. Em primeiro lugar elas
são unificadas e ao mesmo tempo desagregadas pela condição física e sensorial; relação
diferenciada que cada tipo de deficiência proporciona às pessoas e pela relação das mesmas
entre si, com outros tipos de deficiência e com pessoas sem deficiência, cujas relações
provocam intrincadas organizações de luta por direitos.

No caso específico de Uberlândia as trajetórias, desde a promulgação da constituição


federal e da lei orgânica municipal, das organizações formadas por pessoas com deficiência
foram diferentes. Em uma análise mais aprofundada os intelectuais dos vários grupos
divididos por tipo de deficiência se reuniram para reivindicar e garantir direitos nas
constituições das três esferas, porém sempre existiu uma hierarquia de intelectuais, apesar do
discurso que se pretende homogênio, nas conquistas, apesar de muitos direitos aprovados. No
caso das pessoas com deficiência sensorial seus direitos não foram contemplados da mesma
forma que os das pessoas com deficiência física.

Até metade dos anos1990 as associações de pessoas com deficiência visual viviam
uma richa entre si. Enquanto a ADEVITRIM surgiu nos anos 1980 pelo anseio de tal grupo
por autonomia, já que a ADEVIUDI era comandada por membros do Lions Clube e do Hotari
Clube, comprovada pelas falas dos militantes, esta vivia uma apatia porque a diretoria de
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pessoas sem deficiência não conseguiu se aproximar dos usuários e nem do poder público de
forma a exercer um poder contra-hegemônico.

Nos anos 2000 até meados de 2009, após se libertarem do domínio caritativo dos
grupos da alta sociedade a ADEVIUDI vivenciou a desagregação de um grupo que não
possuía uma liga que os fizesse chegar a sociedade política de forma contra-hegemônica. Por
outro lado a ADEVITRIM não se configurou como intelectual coletivo forte,e, apesar do
diálogo com a ADEVIUDI ter se estreitado após o ano de 2009 para que o seguimento
pudesse inserir seus membros nos órgãos representativos como o Conselho Municipal das
Pessoas Portadoras de Deficiência- COMPOD, na tentativa de realizar uma contra-
hegemonia, , a querela entre as duas associações continuou.

Já a APARU conseguiu formar intelectuais mais próximos da sociedade política, que


pela instrução educacional e militância entraram como funcionários da secretaria de
planejamento urbano e posteriormente nos anos 2000 dominaram os órgãos representativos de
todos os tipos de pessoas com deficiência, notadamente o conselho municipal e em 2010 a
superintendência. Além disso a APARU se configurou como referência de luta em favor das
pessoas com deficiência física, muitas vezes confundidas com todo o seguimento. no entanto
este pensamento sobre tal instituição precisa ser ponderado pois pode-se perceber que njá na
década de 2000 velhos militantes que outrora eram orgânicos e neste período também
tradicionais, voltam para liderar o movimento por direitos, pois as instituições De não
formaram novos militantes intelectivos, pensando aqui o caso da APARU. Isto ocorre porque
os rumos da militância e a forma de realizar contra-hegemonias se modificou, e cujo destino
depende da forma de criação de novos mecanismos de renovação, bem como a redefinição do
papel institucional no processo inclusivo.

Porém as conquistas em maior ou menor grau, bem como a atuação das instituições de
pessoas com deficiência não configura a caracterização deste grupo como dominante e sim
subalterno, e, que em vários momentos luta na defensiva para não perder direitos. Tem-se
como exemplo a súmula que conferem aos monoculares, pessoas que enxergam somente de
um olho, os mesmos benefícios das pessoas cegas ou com baixa visão, o que fere toda a
legislação nacional e internacional vigente no Brasil, cuja expedição a Organização Nacional
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de Cegos do Brasil não conseguiu derrubar.. Outro exemplo, desta vez com prejuízo para
todos os tipos de deficiência é atualmente a transição do governo municipal que acarretou
para o segmento um superintendente sem deficiência e sem histórico na luta do conselho
municipal e das demais instituições por direitos, o que trás uma incógnita do destino do
movimento e acarreta aos militantes a incumbência de defender e restabelecer parcerias com
as secretarias municipais para investir não só na conquista do cumprimento das leis mas para
garantir a manutenção, readequação e melhoria do que já se conquistou.

OS INTELECTUAIS E A RENOVAÇÃO DO MOVIMENTO3

As organizações sociais criam camadas de intelectuais orgânicos, os quais conferem à


instituição a homogeneidade e a consciência de seu papel político e socioeconômico na
sociedade capitalista, os quais reúnem competências técnicas referentes ao seu papel na esfera
institucional, e, dirigente, referente a sua capacidade de reunir e dirigir aglutinações da massa
de homens de tal organização, relacionando-os com as várias esferas sociais e com os outros
grupos. Eles surgem de especializações que aparecem dentro de cada classe e tem como
função abrir caminho para que a categoria que representa possa crescer, bem como organizar
os indivíduos para que possam exercer funções ao longo do processo de luta por direitos.
Quando um determinado grupo absorve intelectuais de camadas sociais tradicionalmente
vistas como produtores de conhecimento, os mesmos são chamados intelectuais tradicionais,
tais como administradores, filósofos e cientistas, cuja assimilação não provém somente das
construções intelectuais, mas sim, do conjunto de relações produzidas pela interação entre a
produção intelectual e o contexto social que está inserido o grupo que assimilou determinada
categoria de intelectuais. Estes conjuntos se formam da conexão entre as diversas coligações
sociais, principalmente as dominantes, as quais estabelecem camadas específicas de pessoas
que exercem tal função na sociedade. (GRAMSCI, 2001: 16)

Uma das características marcantes dos grupos que avançam rumo au status de classe
dominante, é a capacidade de assimilar intelectuais tradicionais e a conquista ideológica dos
mesmos em um processo de luta pela hegemonia, cuja rapidez e eficácia se mede pela

3
Este tópico foi baseado no volume 2 dos Cadernos do Cárcere intitulado :” Os intelectuais. O princípio
educativo. Jornalismo”, e segue a sua paginação
11

capacidade destes conseguirem formar seus intelectuais orgânicos simultaneamente a


assimilação dos intelectuais tradicionais. (GRAMSCI, 2001: 17-21)

As camadas de intelectuais vão desde os mais técnicos até os mais administrativos.


Enquanto os intelectuais culturais, cientistas e de alto comando dirigem a sociedade política
os empresários, a imprensa e outros tem como função divulgar o grupo ao qual pertencem,
difundir sua cultura e organizar as classes no âmbito da sociedade civil. Ou seja, as funções
dos intelectuais orgânicos e tradicionais são instrumentais e políticas através de relações de
consenso e coerção. A pesar dos intelectuais tradicionais geralmente se afirmarem como uma
classe autônoma em relação aos grupos, sejam eles subalternos ou dominantes, ao longo de
sua atuação pode-se perceber a qual conjunto estes intelectuais são ligados e quais culturas
defendem. (GRAMSCI, 2001: 31-53)

Um dos exemplos de formação de intelectuais e a convivência entre suas várias


categorias é a criação de partidos políticos. Sobre isto Gramsci diz:

Que todos os membros de um partido político devam ser considerados como


intelectuais é uma afirmação que pode se prestar à ironia e à caricatura; contudo, se
refletirmos bem, nada é mais exato. Será preciso fazer uma distinção de graus; um
partido poderá ter uma maior ou menor composição do grau mais alto ou do mais
baixo, mas não é isto que importa: importa a função, que é diretiva e organizativa,
isto é, educativa, isto é, intelectual. (...) Para estas finalidades, dentro de certos
limites, existe o sindicato profissional, no qual a atividade econômico- corporativa
do comerciante, do industrial, do camponês encontra seu quadro mais adequado. No
partido político, os elementos de um grupo social econômico superam este momento
de seu desenvolvimento histórico e se tornam agentes de atividades gerais, de
caráter nacional e internacional. Esta função do partido político apareceria com
muito maior clareza mediante uma análise histórica concreta do modo pelo qual se
desenvolveram as categorias orgânicas e as categorias tradicionais dos intelectuais,
tanto no terreno das várias histórias nacionais quanto no do desenvolvimento dos
vários grupos sociais mais importantes no quadro das diversas nações, sobretudo
daqueles grupos cuja atividade econômica foi predominantemente instrumental.
(GRAMSCI, 2001: 23)
Para que os órgãos deliberativos possam atuar de forma mais precisa a parte
administrativa foi dividida em duas categorias: uma orgânica deliberativa e outra técnica e
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cultural. Isto provoca a separação entre os intelectuais especialistas e os técnicos e faz com
que todas as decisões tomadas pela instituição passe primeiro por especialistas antes de serem
deliberadas. (GRAMSCI, 2001: 32-45)

Este é um ponto de tensão constante nas falas dos militantes que reclamam seu lugar
como representantes do movimento mesmo não possuindo escolaridade. Isto provoca dois
problemas essenciais: o primeiro é a participação nos conselhos de pessoas cada vez mais
especializadas, o que desvincula suas lutas da realidade daqueles que atuam e vivenciam a
realidade de trabalho institucional; a falta de especialização daqueles que atuam diretamente
com as pessoas que buscam auxílio das instituições não permite que estes possam conhecer os
mecanismos políticos de órgãos da esfera política ou até mesmo dos aparelhos privados de
hegemonia, cuja noção da efetividade de uma contra-hegemonia fica limitada.

A preocupação com a renovação do movimento é um assunto que foi amplamente


discutido nas entrevistas. Os militantes, seja nas instituições por tipo, seja nos órgãos
representativos dos vários tipos, identificam que não conseguiram formar a geração seguinte,
nem mesmo a que vivenciaram, para a sucessão nas instituições de pessoas com deficiência.
Porém ao serem questionados da forma que se deve proceder esta renovação existem
divergências imensas que chega a ser um jogo de empurra entre as associações e o conselho
municipal ao não assumir a responsabilidade pela renovação do movimento.

As instituições tem muita dificuldade de formar intelectuais orgânicos e se configura


muitas vezes nas entrevistas como um jogo de empurra entre as associações e conselho
municipal. Desta forma necessitam assimilar intelectuais tradicionais tais como professores,
funcionários públicos, secretários de educação, políticos e outros. Ocorre que quase sempre
estes intelectuais não possuem a vivência da condição de pessoas com deficiência, e quando o
são não se identificam com o movimento.

Isto fragiliza ainda mais a organização de luta por direitos e a aquisição de


conhecimento técnico por parte das pessoas com deficiência, cuja locomoção, escolarização,
produção de cultura e conhecimento com relação às mesmas fica prejudicado. Pode-se citar
como exemplo os ataques de órgãos governamentais e do meio acadêmico ao sistema de
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leitura e escrita natural dos cegos, o Braile, e, à Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS, BEM
COMO A ADOÇÃO DE escolas bilíngueS em que a LIBRAS seja a primeira língua falada.

Com a falta de formação de intelectuais orgânicos e com a má qualidade dos


intelectuais adicionais assimilados ocorre a separação entre a produção intelectual e a prática
de uma sociedade igualitária, pois na maioria das vezes as análises sobre o processo de
inclusão é estritamente conceitual, o que constitui políticas públicas sem a prática. Assim tem-
se vários cursos, financiamento de projetos e tecnologias assistivas que chegam às escolas
sem a formação adequada de pessoas com deficiência para estarem a frente de órgãos
específicos e de profissionais que estejam dispostos a vivenciar o processo de inclusão como
construção histórica. Isto leva a desvalorização da pessoa com deficiência como profissional,
tanto a formação de muitas pessoas para repetirem o mais do mesmo.

A FILOSOFIA, A IDEOLOGIA E AS VIVÊNCIAS DOS INDIVÍDUOS NA


CONSTRUÇÃO DE HEGEMONIAS E CONTRA - HEGEMONIAS4

A filosofia não é algo difícil e complicado praticado por profissionais de uma


determinada categoria especializada nem a prática intelectual de filósofos sistemáticos. Ela é
algo inerente ao ser humano pois todos os homens são filósofos espontâneos e está contida na
linguagem, no senso comum e na religião manifesta pelo folclore, ou seja, filosofia é a
combinação entre a visão de mundo, a consciência e a crítica feita pelos indivíduos. Com isto
os homens difundem verdades já descobertas de forma crítica e socializá-las, e, transformá-las
em fundamentos das ações praticadas durante suas vidas, transformando-as em elementos de
ordem intelectual e moral e de coordenação social.

Desta forma pode-se dizer que não há uma filosofia mas sim várias que resultam da
relação entre a lógica intelectual e as ações reais das pessoas. Assim a filosofia e a política são
inseparáveis, pois a escolha e a crítica a uma ação é um fato político. Ao analisar uma
filosofia deve-se levar em conta como esta nasceu, como se difundiu, e, porque ao seguir uma
linha de difusão ela origina várias linhas que podem ser separadas, bem como trilham
caminhos diferentes dentro desta visão de mundo .

4
Este tópico foi baseado no volume 1 dos Cadernos do Cárcere intitulado :” Introdução ao estudo da filosofia. A
filosofia de Benedetto Croce”, e segue a sua paginação
14

Pela concepção de mundo pertencemos a um grupo de indivíduos que por suas


condições sociais compartilham modos de pensar e agir e por isso somos Homens coletivos e
estamos de baixo de conformidades. Quando a visão de mundo da qual participamos não é
crítica e coerente mas ocasional e desagregada pertencemos a várias visões de mundo de
forma simultânea, ou seja, a uma variedade de massas que nos conferem uma série de
características diferenciadas e até mesmo antagônicas. A crítica é o primeiro passo para que
uma cultura se torne coerente. O processo de construção histórica também passa pela crítica e
confere assim o movimento necessário para que a visão de mundo adquira coesão. Isto ocorre
quando os indivíduos que compartilham uma mesma visão de mundo conseguem repensar
suas ações através do presente e não de questões passadas e anacrônicas, e, quanto mais
instrução e contato com outras visões de mundo maior será a crítica interna e o movimento
transformador de uma cultura com paixões elementares para outra com dimensões
conscientes, transformando assim o senso comum, composto por um conjunto de ideias e
opiniões desagregadas, em uma filosofia unitária e coerente.

Quando a filosofia se transforma em atividades práticas das quais ela é a premissa


teórica, então a chamamos de Ideologia, que é a concepção de mundo manifesta
implicitamente nas práticas culturais dos seres humanos, cujo exercício não é necessariamente
negativo como se pode notar na maioria das análises sobre a manifestação ideológica.

Uma cultura filosófica somente pode ser assim considerada pelo fato de se criar uma
cultura voltada a grupos sociais específicos mas ao elaborar uma visão de mundo diferente do
censo comum não abandona as coisas simples da vivência das pessoas e retira delas a
inspiração para responder perguntas essenciais à vivência da humanidade. Assim a filosofia se
torna em processo histórico pois deixa de ser produto de pensamentos individuais e torna-se
vida. A consciência individual dos sujeitos como parte de um grupo social se constitui de
elementos teóricos e práticos oriundos da relação entre hegemonias e contra-hegemonias que
seguem várias direções.

Através de suas ações os indivíduos se unem a uma determinada classe para


transformar de forma prática a realidade que vivenciam, porém trazem consigo ideias
implícitas herdadas sem contestação de outros grupos sociais anteriores a eles, mas que
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interferem de forma decisiva na vida dos indivíduos em suas relações com os outros
indivíduos. A construção da identidade dos indivíduos como seres pertencentes a um
determinado grupo social ocorre primeiramente no campo da ética, depois no campo da
política e em seguida produz a elaboração superior ddas vivências reais. Quando o indivíduo
reconhece que é parte de um grupo hegemônico este atingiu a consciência política.

Nos depoimentos orais e nas diversas documentações produzidas pelas pessoas com
deficiência pode-se ver claramente o quanto todos nós somos filósofos. Muitas vezes estes
saberes não provém da teoria e sim da prática. Muitos trabalhos enfatizam que tem como
objetivo dar voz às pessoas com deficiência, porém o que prevalece são ideias puramente
conceituais.

Outro problema está em transmitir a visão de mundo que se quer deixar para as futuras
gerações de militantes, não o saber fatual mas o atuante, o político. Isto acontece pela
dispersão vivida pelas organizações d pessoas com deficiência, cuja função é preciso
repensar. De nada adianta a cópia de modelos de militância seaqueles que são parte integrante
do movimento não repensarem seu papel político como uma classe que mesmo sendo
subalterna precisa empreender forças para estar junto às classes dominantes e garantir seus
direitos.

Os conceitos ideológicos de mitificação ou divinização das pessoas com deficiência


são parte de uma cultura dominante que os pretende ora combater, ora manter, e muitas vezes
escondem descasos políticos, sociais e econômicos, ou mantém propagandas de benefícios
legalizados como leis.

A combinação entre ideologias e hegemonia dá a liga para que o movimento rompa


com as barreiras entre sua práxis e a produção intelectual, fazendo-a pensar sobre sua
condição de subalternidade e os caminhos de militância que possam seguir no futuro.

ONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante o que está posto até agora em minha pesquisa não sei até onde separo as
minhas preocupações com o rumo da militância da qual faço parte,, e, minhas considerações
como pesquisadora. O mal estar que sinto não é por mim, e sim pelas gerações futuras e como
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posso, na condição de intelectual apontar caminhos para a militância das pessoas com
deficiência.

O problema não é sermos um grupo subalternos, e sim nos pensar como tal. O
processo de construção política que reflita a frase ”nada sobre nós sem nós” é árdoa e
conflituosa, porém dar voz às pessoas com deficiência não significa apenas entrevistá-las para
formular um conceito novo de inclusão, mas levá-las à consciência de seu papel político e de
seu potencial para a construção de contra-hegemonias.

Os rumos desta pesquisa ainda não estão totalmente postos, mas o caminho que serve
de fio condutor nos leva a horizontes que nos dá esperança de uma militância que reúna teoria
e prática, intelectuais orgânicos que estejam dispostos a oferecer à sua geração o que não
tivera, toma-se como exemplo o grau de instrução tão citado nos depoimentos. E, da mesma
forma, intelectuais tradicionais compromissados com a luta e não com seu títulos acadêmicos,
com o processo de inclusão e não com conceitos vagos e distantes da realidade, que se
preocupem com as pessoas com deficiência como todo e não somente com os que estão ao seu
redor.

Diante disto fica aqui meus questionamentos e minhas angústias de minha formação
como intelectual e de meu papel como militante que não se separam e que não me deixam
afastar da luta. Fica a preocupação com os rumos das novas gerações privadas de sua escrita e
língua naturais, em oposição a uma propaganda macissa por uma inclusão teórica e
excludente. Fica a vontade de que nossas lideranças sejam respeitadas e que nos entendamos
como defensores de nossas características, da convivência com nossos pares, com um
processo inclusivo de mão dupla, e, o que me angustia mais é que isto não irá ocorrer, pois o
poder nunca será igual para todos os grupos, mas a capacidade de luta nunca é estática.

BIBLIOGRAFIA

GRAMSCI, A. Caderno 12 (1932). Apontamentos e notas dispersas para um grupo de


ensaios sobre a história dos intelectuais. Cadernos do Cárcere, v. 2, 2001. p. 13-53.
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GRAMSCI, A. Caderno 11 (1932-1933). Introdução ao estudo da filosofia. Em especial:


“Apontamentos para uma introdução e um encaminhamento ao estudo da filosofia e da
história da cultura”, p. 93-114.1n: Cadernos do cárcere, v. 1.

GRAMSCI, A. Caderno 25(1934). Às margens da história. (História dos grupos sociais


subalternos),

p. 129-147. Cadernos do Cárcere, v.5.

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