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Colegao Pienetens Mas Uma Enciclopedia Critica a 8 « N W.L Maar Hoje, a politica esta pranente em tndan dimension da vida wocial: ovine fala @1) poltica estudant, police enor, poltion da Igreja... Sem cont an ruirotee vss cue non referimios nos "poiicat,& "potoayern” a0 Classificamos alguma deoisho do um amigo ex Uma atitude "polica’ Neate five, Wolfgang {60 ‘Maar abre uma clareis nese amarante ce signficados. Analisirido aepacion objotives © subjetivos ligados ao term, ale now da um faire clucidative da atvidade police ria Hiri, dos gregos @ romans ao Estad moderne, * Areas de intoressa Histéra, Politica, Sociologia Wolfgang Leo Maar O QUEE POLITICA ISHN 85-11-0108 ||| || +x J brasiliense te A Maria Amalia APRESENTAGAO ica € uma referéncia permanente em to- ens6es do nosso cotidiano na medi ‘que este se desenvolve como vida em sociedade. Embora 0 termo “politica” seje muitas vezes utili- zado de um modo bastante vago, é possivel precisar s2u significado a partir das experiéneias histéricas, em que aparece envolvido. Em 1984, apés vinte anos de Presidentes impos- tos pelos militares, milhdes foram as ruas em comi- ccios por todo o pais na memorével “Campanha das Giretas”” para se manifestarem pela eleiggo direte, seoreta © universal do Presidente da Repdblice. Como se sabe, este acaberia por ser indicado por um colégio eleitoral pela via indireta, porque a maioria dos congressistas eleitos foi contréria a elei- ‘géo direta, Em 1985 este mesmo Congresso Necio- Wolfgang Leo Macr Oque é Politica nal rejeitaria a proposte de convocaglo de uma Assembigie Nacional Constituinte livre e soberana, desvinculada do Congresso Nacional, anulando as sim 05 esforeos populares para que os congrestis. ‘as no agissem em beneficio préprio, No infcio de 1986 0 governo decretou o "plano cruzedo" pro- movendo uma reforma econémnica em que se anun- ciavar beneficios & populagdo majoritaria de baixa renda, com 0 que conquistou amplo apoio nas elel- ges de 15 de novembro. Encerrado © pleito, 0 governo decretou novas medidas altamente impo pulares, levando as centrais sindicais a convocar uma greve nacional de protesto contra a politica econo: mica do governo. Em alguns lugares o exército foi 4s ruas para “garantir @ ordem @ as instituigbes", a ‘exemplo do que fez em 1964, Nao ¢ preciso se estender mais. Este breve recor- te de alguns momentos da historia recente do Bra- sil elucida exemplarmente o significado da politica através dos movimentos que visem interferir na realidade social a partir da existéncia de conflitos que nfo podem ser resolvidos de nenhuma ourra forma. A politica surge junto com a propria historia, ‘com 0 dinamismo de uma realidade em constente transformagao que continuamente se revela insufi- ciente e insatisfatéria e que nio € fruto do acato, mas resulta da atividade dos préprios homens vi vendo em sociedade, Homens que, portanto, tém todas as condigSes de interferir, destiar € dominar 0 enredo da hist6ria, Entre 0 voto e a forea das ar mas est uma gama variada de formas de ago de- an senvolvidas historicamente visando resolver confli- tos de interesses, configurendo assim 2 atividede polftica em sua Questéo fundamental: sua relagdo ‘com 0 poder. Afinal, a “politica” serve para se atingir 0 po- der? Ou’ entdo seria a “politica” simplesmente a prépria atividade exercida no plano deste poder? As eleigées — ou as armas — servem pata confir- mar ou pare transformer? (Que referencial usar para encaminhar estes ques- tes?" Parece que, de repente, a “politica” aparece — como naquela memorével “Campanha das Dire- tas" em 1984, Mas de fato ela no aparece “de epente”: jé esté 14, multifacetada, sempre pre- sente em suas relagdes com 0 Estado, com 0 po- der, com a representatividade e participario, com as ideologias, com a violéncia, seja nos sindicatos, mos tribunals, na escola, nigral, na sale de jan tar ou na reunigo partidéria. Eo que se verd a seguir. A politica eas politicas Apesar da multiplicidade de facetas 2 que se apli- ca a palavra “politica”, uma deles goza de indis- cutivel unanimidade: @ referéncia ao poder polt- tico, 8 esfera da politica institucional. Um deputa- do du um drgdo de sdministragdo publica sé0 poli- 10 Wolfgang Leo Mar O que ¢ Politica ticos para a totalidade das pessoas. Todas as ativi- dades associadas de algum modo a esfera institu- cional politica, @ 0 espago onde se realizam, tam- bém so politicas. Um com/cio € uma reunido politica e um partido € uma associago politica, um individuo que questiona a ordem institucional pode ser um preso politico; as ages do governo, 0 discurso de um vereador, 0 voto de um eleitor so politicos. Mas hd um outro conjunto em que a mesma pa- lavra manifestase claramente de um modo diverso. Quando se fala da politica da Igreja, isto nao se refere apenas as relagdes entre a lgreja e as institul- ‘Bes politicas, mas & existéncia de uma politica que se expressa na Igreja em relacSo @ certes questbes como a miséria, a violéncia, etc. Do mesmo modo, ica dos sindicatos nfo se refere unicamente & politica sindical, desenvolvida pelo governo para os Sindicatos, mas’ as questdes que dizem_respeito & prépria atividade do sindicato em relac8o aos seus fillados e a0 restante da sociedade. A politica femi- nista no se refere apenas 20 Estado, mas aos ho- mens e 8s mulheres em geral. As empresas tm poli ticas para realizarem determinadas metas no rela- cionamento com outras empresas, ou com os seus empregados. As pessoas, no seu relacionamento co- tidiano, desenvolvem politicas para alcancar seus objetivos nas relagdes de trabalho, de amor ou de lazer; dizer “Voc8 precisa ser mais politico” & completamente distinto de dizer ““Vocé precisa se politizar mais”, isto é, “precisa ocupar-se mais da esfera politica institucional”. Da mesma maneira, um mitsico que exclama: “eu sou um artista, no entendo de politica”, po- sicionando-se frente & arte engajada, refere-se’s po- Iitica institucional. E pode muito bem, sem incor- rer em nenhume incoeréncia, continuar: “mas tudo gue faco tem profundo sentido politico”. Ele esta fazendo uma distingio entre o valor politico ime- diato de um comicio pelas eleigdes diretas para Pre- sidente da Republica, que pretende interferir na estrutura do Poder institucional, e 0 valor politico no diretamente institucional do movimento sindi- cal, das comunidades de base da igreja, de uma pas- seata de estudantes, do movimento gay, de uma in- vasio de terras, ou de urn manifesto cultural. Néo resta divide, porém, de que este segundo significado € muito mais vago e impreciso do que 0 primeiro, A evolucéo histérica em dirego ao gigan- tismo das Instituigdes Pol ticas — o Estado onipre- sente — & acompanhada de uma politizacao geral da sociedede em seus minimos detalhes, por posicionamento didrio frente a0 Poder. Mas 20 mesmo tempo traz consigo a imposi¢ao de normas com que balizar a prépria aplicacao da palavra poli- tice; procurando determinar o que é e 0 que no é “politica”. Desta forma, oculta-se ao eleitor o seu ser politi co, atribuindo-se esta qualidade apenas ao eleito. ‘Ou entio atribui-se & pessoa um espaco e um tem- po determinado para que exerca uma atividade politica, na hora das eleigGes, quando esté na tri- buna da Camara dos Deputados depois de ter sido eleita, quando senta no paldcio para despachar com u RB Wolfgang Leo Mear O que 6 Politica 1B seus secretérios mesmo sem ter sido eleita. A pré- pria delimitagdo rigida da politica constitui, por- tanto, um produto da histéria; e este é, sem divi. da, 0’ principal motivo pelo qual no basta ater-se @ um significado geral da politica, que apagaria ‘todas as figuras com que se apresentou em sua génese, Esta delimitago operada pelo nivel institucional traz consigo alteragdes profundas ne esfera de valo- res associados & politica. Uma conjuntura institu- cional insatisfatoria, pela corrup¢do ou pela violén- Jamais dissociadas, reflete-se numa desmoraliza- ¢40 da atividade politica — politicagem — que pode feverter em apatia ou na procura de alternatives extra-institucionais como a luta armada. Ao mesmo ‘tempo, processa-se uma inversio na valoriza¢ao da atividade politica na propria esfera institucional, ‘em que ela deixa de ser um direito, pessando a ser ‘apenas um dever e uma responsabilidade, Em ou- tras palavras, & Instituigdo passa desoercebido que a sua também uma politica, assentada na sociedade com uma proposta de participagso, representagao e reso. Por esta caréncia de visio de relatividade, instaurase_um normativismo absoluto, ocultan’ do-se assim sua natureza historica, Interessa peroeber que, apesar de haver um sign- ficado predominante, que se impée em determi nadas situages, e que aparece como sendo “a” polftica, 0 ‘que existe na verdade so politicas. E apenas aparente a incoeréncia de um Ider sin- dical afirmando que a ago do movimento social de inegével expresso politica que representa “no tem sentido politico”. Ele resguarda seus flanoos em relagio ao Estado que Ihe nega o direito de fazer politica fora dos espacos especificamente de- limitados para tanto — os partidos oficiais e legais. Mas, simultaneamente, procura recuperar o signifi- cado amplo de uma politica forte fora do ambito fem que ela se desacreditou, por nfo ser represen- tetiva, por no permitir a participagao e néo ofere: cer uma direggo socialmente vatori Naquele movimento social, sem divida, pode-se nfo fazer 2 politica, mas certamente se faz uma politica, De modo andlogo, a lareja, mesmo n&o sendo uma instituiggo politica — prerrogativa do Estado secularizedo —, sempre sustenta a proposta de fazer politica, oferecendo um nivel de atuacao em que procure’ traduzir anseios e interesses sociais, Ela no pretende o poder institucional ~ 0 governo —, mas um poder politico. Existem, portanto, em um mesmo instante, vérias politicas, ou a0 menos varias "propostas politices” na sociedade. Em decorréncia, hé uma situago dindmica em que as diversas propostas relacionam'se entre si ¢ com a trama social a que procuram conferir uma expresséo politica. Situagdo dindmica essa que implica dois tipos de questdes bésicas. Em primeiro lugar, a focali- zag30 do movimento hist6rico de inter-relaciona- ‘mento das diversas pol ticas, em que se determina preponderéncia de uma delas — a chamada “poli- tica hegemdnice” — ou a situagéo delicada — que 0 que se denomina de “crise polftica’” — em que 4 Wolfgang Leo Maar nenhuma consegue impor-se. Ou entéo em que uma i perdeu a sua sustentagdo, mas nenhuma outra Possui fundamentos suficientes para se tornar uma alternativa. Em segundo lugar, cabe dedicar-se com especial carinho @ prépria conjuntura em que se desenvolve uma politica como expresso de certas situagbes em sociedade. Em outras palavras, ‘como algo que néo tem, passa a ter significado Politico. Estas duas questées se encontram, Basta exami- nar estes agentes politicos por exceléncia da socie. dade moderna que so os partidos. E certo que fazem parte do nivel pol tico institucional, e como tais se inserem na disputa pela primazia no contro- le do governo € na ocupacso do aparelho estatal. Porém, também so partidos de alguma coisa, de determinados interesses em relacdo aos quais t8m compromissos, Séo esses compromissos justamente que Ihes conferem significado, e em relacdo a estes devem traduzir_ uma importéncia no jogo parla. mentar. A politica dos partidos, portento, tem uas faces: uma em relagdo a sociedade e seus in- teresses; outra como politica de disputa do go- verno. As pelavras inglesas policy e politics, embora nGo traduzam precisamente os dois niveis em ques- t20, 830 elucidativas. Um partido & testa do gover- No ‘executa uma policy nas relagBes com os outros afses, ou no que diz respeito & sade, aos trans- Portes, & educacao; a palavra tem mais @ ver com a administragao dos negécios piiblicos, com realiza- G80 de interesses sociais. Enquanto ‘participa do O que é Politica do debate parlementar, ou da disputa pelo gover- no institucional, um partido esté no terreno da politics A questo complexa. Nao resta a menor di- vide, porém, de que na esquina da vertente institu- cional com’ a vertente social encontrase talvez © maior dos desafios politicos. Dois exemplos podero servir para situar o problema. Como explicar — e isto vale sobretudo para os palses chamados capitalistas — que nas sociedades contemporéneas mais estéveis e portanto nao ameagadas em sua institucionaliza¢ao politica, fem seu governo, no se eliminem os bolsées dé pobreza apesar de hé muito se ter atingido um Wel de riqueza que objetivamente permitiria fazé-lo? Rompemrse desta forma os compromis- sos das instituigSes com a representaco social, a cujos interesses néo atendem, embore pudessem fazé-lo. Como explicar — e isto vale sobretudo para os pases chamados de sosialistes — que em lugar algum onde se tenham firmado politicas de cunho social — educago, emprego, sade, alimentagdi transporte para todos — tenha sido possivel insti- tucionalizar formas de governo que no se sintam sempre ameagadas, € que por isso mesmo limitem a participagZo social? Se os interesses sociais sé0 atendidos, por que temer a mais ampla partici- ago nas instituigdes que deveriam representar a sociedade? 15 16 Wolfgang Leo Maer O que é Politica 7 O poeta ¢ o libertador Ainda uma pequena digresséio. Que seja apenas pela tradiggo das préprias andlises do "tema as Questdes pol ticas tém sido quase sempre enfocadas num prisma que privilegia unicamente 0 coletivo Social. Néo hd por que divergir da concepogo se- gundo a qual o homem é um ser social — raziio de ser, alias, da prépria atividade politica — e que a existéncia individual apresenta-se como conse- aUéncia desta especificidade dos homens. © que no basta, porém, para explicar a fre- qiiente sensacio de camisa-de-forca com que a politica 6 encarada peles pessoas em suas dades individuais, quer na vida do artista, do Profissional competente ou do apaixonado no banco de jardim, quer na do proprio sindicalista ‘ou na do “politico"’, que encerram seu expediente Giério como se se despissem de um pesado fardo. A atividade politica passa a ser uma espécie de mal necessério, uma atividade social transforma- dora pela qual se visa a realizar certos fins utili- Zando-se de determinados_meios. Enfim, u Attlee de que hd preciséo na vida em socie- ide. Isto me parece correto, embora parcial. Trans- pira um certo objetivismo de realizacdo de metas maiores, relativas a interesses sociais. Estes podem ir do bem-estar comum & capacidade de oferecer seguranca externa e conc6rdia interna & sociedade, associadas & orgenizacao e controle das atividades do conjunto da vida social, como fungdes atribul- das comumente ao Estado’e & vida politica, para justificar e explicar a sua existéncia. Ou entéo a erspectiva de operar mudancas através do assalto a0 poder politico seria um fim que justificaria qualquer meio, submetendo hierarquicamente to- das as atividades envolvidas 8 nobreza da sua fine- lidade. Por oposi¢do a esta “objetividade” das tarefas politicas, sugere-se a existéncia de ‘insténcias © valores “subjetivos” devidamente enclausurados parte e subordinados & politica, cuja satistagao deve aguardar a realizaclo da utopia, ante o risco ue significa 0 abendono das prioridades sociais efetivas. A atividade politica caberia privilegiar 0 estudo e a transformagSo das condigSes objetivas na socie- dade que permitissem renové-la estruturalmente, com novas relagdes sociais e politicas, de modo a permitir ento a plenitude da vida individual. ‘Mas, com a égua com que se pretende lavar os interesses sublimes das suas impurezes profanas, joga-se a crianga, A esta, por mera referéncia pretenséo da objetividade, acima assinalada, pode- ‘se chamar de condicBes subjetivas. Como realizar um sentido sociel-politico, se hé um foss0 a separd- slo do sentido individual-humano, cuja travessia requer esforcos nem sempre radicados na vida real no seu desenrolar cotidiano? Como conciliar, diria alguém, 2s minhas escolhas individuais com as minhas escolhas pol ticas? E isto 1néo vale s6 para a relacéo entre 0s amigos e os com- 18 Wolfgang Leo Maar panheiros de militancia; serve também para o traba- Ihador que quer methorar o seu selério e precisa ser mobilizado para uma luta politica mais ample, cujas metas muitas vezes pouco significam 20 seul is-a-dia. Como assentar as possibilidades da luta de classes nas necessidades efetivas dos homens? Como casar a necessidade de canalizer esforgos em conjunto, com a diversidade des possibilidades individuais? Em nome de qué sustentar uma vontade que Pode implicar no secrificio do desejo? Talvez mostrando 2 falsidade deste desejo, e acenando com a realizagtio futura em maior profundidade. Com 0 que claramente no se consegue apager 0 esforeo consciente que faz do engajamento na atividade politica uma opco voluntéris, acompa- nhada do abandono de uma faceta substantiva da individualidade. Certamente 2s condigdes objetivas determinam as condigées subjetivas. Marx mostre como o modo de produgao capitalista submete de um modo t3o universal a sociedade, que as préprias relacSes entre os homens surgem ‘como relagdes “coisificadas”” entre 0 capital e a forga de trabalho, Em vez de as “coisas” servirem &S pessoas, estas acabam achando que servem &s coisas. homem distancia- “se, alheia-se em relagdo 20 significado, 20 valor que as coisas, os outros homens e ele proprio tém para si mesmo, Sua prépria vontade e seu desejo sub- metem-se a0 mecanismo inexorével da reproducso capitalista, Tomando-se um homem “alienado”, inconsciente do fato de ser ele mesmo, homem, O que é Politica O alienado: inconsciente do fato de ser ele mesmo, homer, que produz as coisas, a3 relardes entre os homens, que rodus a si mesmo. 19 20 Wolfgang Leo Maa que produz as coisas ¢ as relacdes entre os homens, que produz_a si. mesmo. Oculta-se o seu papel de elemento dinémico principal, de produtor da his- toria. A propria etividade politica aparece como relagdo entre eleitor e eleito, entre Estado e cide- dio, @ seu aspecto proprio de relagdo humana se perde, Embora o sujeito da politica seja o homem, 2 politica é a politica da lute de classes. A moral que rege a vida individual acaba submetendo-se 20 capital ~ € preciso ganhar mais — ou as regras do governo ~ isto é censurado, aquilo ¢ proibido. Para restaurar a verdade’ seria preciso uma trans- | formaggo prética, uma andlise cientifica que revele estes fatos como conseqiiéncias de determinadas politicas que também servem ao capital e no a0s homens. Se 0 problema € politico, a politica pode mudé-lo, Mas as condigbes subjetivas no sio apenas determinadas pelas condig&es objetivas. Elas tm um componente real, que no desaparece simples mente ao jogé-lo mais adiante. E, por este seu componente real, influenciam também es préprias situagbes “objetives”, que deste modo passem também a ter uma existéncia apenas relative. A sosial-democracia, com 0 seu sindicalismo apenas reivindicativo, ‘realizeva interesses efetivamente existentes, cuje satisfaco delegaria a um segundo plano o mundo das promessas. O liberalismo capi- talista_satisfaz_de fato a muitas aspiracdes indivi- duais, que n&o_séo_apenas enganos ou desejos impossiveis. Qualquer proposta politica transfor- madora que negasse a valorizaco do sentido O que é Potitica humano da existéncia individual, ou a submetesse a uma valorizago exclusiva do coletivo, que ificasse um fardo para o indiv/duo, s6 conse- guiria como adeptos 0s fanéticos. Para estes a leitura dos manuais substituiria a felicidade real. A solugio politica deve associar-se_necessari mente uma solugao civilizatéria voltada & realize ‘so de interesses humanos. Seria isto utépico? Ou haveria 2 possibilidade de associar os meios politicos — coletivos — a obje- tivos que velorizem no homem 2 sua individua- idadé © a sua especificidade? Pera Marcuse, na relagio dos meios com os fins é possivel encon- trar uma nova ética, em que os valores no so descartados apenas como meros hébitos impostos por um modo de produgdo e sua politica, nem submetem 0 individuo ao isolamento das quali- dades meramente pessoais. Plato, no Banguete, poe na boca de Sécrates | a realizagSo do futuro’ eterno no amor presente | pela paternidade. Sartre lembra que, para a bur- guesia do século XVIII, 0 sentido da vida estava em legar um cepitel a seus filhos. Pera Sartre, o sentido estaria em saber que as causas pelas quais lutava continuariam a motivar os homens, que valorizariam 0 seu papel como contribuigao. Servir para nada no futuro tornaria sem sentido huma- no o presente. Deve também haver realizacBas [4 no cotidiano imperfeito do presente, em uma politica voltada & realizago do parafso futuro. Hé uma mediagéo entre o privilégio ore atribufdo a experiéncia da 21 - Wolfgang Leo Mear 0 que é Politica 23 razéo — que diz: no é posstvel —, ora a imaginacgo do desejo — que diz: é possivel. ““Sonhar é preciso, deste que realizemos 0 sonho meticulosamente e 0 confrontemos passo a passo com a realidade”, disse Lénin. Para Max Weber “a politica consiste hum esforgo tenaz e enérgico de furar tébuas duras de madeira, Este esforco exige simultaneamente paixéo e precisdo, . . no se poderia jamais esperar © possivel se no mundo ngo houvesse sempre 2 ‘esperanca no impossivel. . . 6 preciso que as pessoas se armem sempre da forca da elma que Ihes permi- tiré ultrapassar todos os naufragios das esperangas, mas que o fagam desde o presente, sendo nao sera capazes de fazer 0 que ¢ possivel ser feito hoje. Aquele que esté convencide disto (...) possui & vocacée da political”. A propria atividade politics, longe de ser apenes voltada a uma transformacio do “mundo objetivo” com vistas a0 futuro, significa, também, 0 exercl- cio de uma atividade’transformadore da conscign- cia e das suas relagdes com o mundo, Assim as pré: ries propostas politices so repensadas em cima do que elas tem a oferecer j4, aqui e agora, Em termos que thes conferem um significado huma- no imediato real, sem que isto signifique 0 aban- dono de perspectives mediates para o futuro como metas necessérias. “A politica do corpo”, por exemplo, ac exigir a valorizagio de algo 10 individual como 0 corpo humano enquanto fonte © condico de bem-estar e prazer, puxa para o Cotidiano finalidades freqiientemente jogades 20 [__aiém. Para sar fotiz bo 6 preciso antes consiruro | | | socialismo. A meta por enquanto irreclizével jé tem componentes possiveis, que devem ser condi- Bes, © no resultados. A medida com que estas "paquenas coisas” so praticdveis, no deve mais ser estranha 0s critérios de avaliaeao de politicas menos imediatista. “ Manifestagdes como as de maio de 1968 em Pe ris — que ocorreram também em praticamente todo ‘© mundo — tinham como rezio dé ser no a posi (980 pura a determinadas instituigdes, nem 2 realize ‘ed0 de projetos alternativos futuros. Expressando © descontentamento profundo e 2 imobilidade geral a que a maioria dos homens foi condenada em. ‘face das amarras de um determinado tipo de par- ticipapdo politica institucionalizade, os manifes ‘antes procuravam um papel, no presente, que no elas imposi¢des do esforco exi a bes objetives", Que pode alguém fazer hoje, © Como pode realizar algum significado humano na sua atividede, num pais onde os politicos se reve- zam num poder aparentemente imével e inacess/- vel, onde 0 proprio emprego, quando acontece conseguF-lo, significa uma amerra para toda a vids, onde 2 ciéncia apenas banaliza e castra a imagine- ‘edo criativa e transformadora, onde os valores morais submeterse a uma ética consumista, alie- nando as relagSes humsnas em seu contetido mais profundo? Por isto, nos movimentos sociais emergentes no Brasil, muites vezes nfo se procura s6 canalizar Wolfeang Leo Mear 0 que & Politica 2s esforeos comuns para obter objetivos ainda nl exis: Tentes — por exemplo: alteragdes na politica traba thista do governo através do movimento sindical Na pratica cotidiana, a atividede politica assume @ perspective de realizar dimensoes humenas mais Profundas no relecionamento pessoal, com o res- eito & diversidade individual e a critica @ formas predeterminades de conduta. Sem isto, desvincul -se a realidade do die-a-dia do espaco de atuacdo politica. ‘A democracia, longe de se esgotar nos fins, jé precisa se apresentar nos meios. A to difundida dla de que h& necessidade de juntar esforcos, apagando diferengas, pare realizar metas em que @ diversidade posse, enfim, se destraldar, no res- eito aos interesses da individualidade,' adquire uma nova conformago. A reunio num coletivo de individualidades ‘diferentes precisa assentar Ro respeito & diversidade dos interesses isolados. Cria-se assim uma nova dimenséo social, em que 2 diversidade apresenta-se numa prética politica que relativize as arestas meis ésperas do confronto de interesses, na medida em que as.consciéncias se transformam, ¢ com elas os proprios objetivos individuais. A democracia pessa 2 se interiorizer como uma conduta pessoal, de modo que as escolhas pessoais postam encontrare com as escolhas politicas. Isto pode parecer um novo ardil do Estado. A experiéncie do poder totalitério de propostas politicas assentadas na mobilizago popular tam: bém sugere a necessidade de uma transformagdo das consciéncies individuals. Sob o nazismo, Hitler facilmente conseguia apoio majoritério, porque aerescentava 8 Sua proposta politica uma proposta cultural em que se interiorizavgm na prOpria cons: cigneia individual os moldes autoritérios. Por outro lado, sabese que muites alternatives demo- eréticas no se firmaram — e muitas ainda tem dificuldade em se firmer —, trensformando-se em apndices de instituigdes coercitivas, por nfo edn- seguirem revelar 0 encontro de seu significado politico com o seu sentido humano. As garantias oliticas coletivas ngo se expressam com. igual abrangéncia no cotidiano em que se desenvolvem 68 interesses pessoeis. Isto revela o encontro profundo existente entre propostas politicas e propostas culturals, para que se possa reunir a hist6ria das transformagdes no "mundo objetivo” com a histérie das transforma: 088 da consciéncia. Uma cultura pode tornar-se predominante, institucionalizando-se e refluindo Sobre @ sociedede com as viseiras impostas pelo oder que se considera legel. Mas pode, também, encontrar-se na sociedade, expressando seus signi fieados humanos, para condicioner as alternativas politicas. Aqui o papel dos intelectuais & de grande Felevancia: em suas mos pode adquirir forga polit tice de direeo pare a sociedade 0 complexo con- junto de manifestacdes culturais. Preso as determinagées do eparelho institucional politico, ou portavoz das manifestagées culturais sociais, cabe & figura do intelectual a importante tarefa de ser mediador entre interesses individuais Wolfgang Leo Maar e coletivos. Ele pode formutar propostas que per- miter, jg, a confluéncia de uma politica voltada a objetives culturais no futuro e de ume cultura que contira um sentidg humano atual 2 esta politica. Os intelectuais so personagens a um termo poli ticos e culturais, conferindo representacao cultural 4 politica, e direg%o politica @ cultura. Talvez, como sugeriu Gramsci muitas vezes, facam no futuro um papel semelhante 20 desempenhado pelos Partidos Politicos, os agentes da mediagao entre a expressdo politica e a sua demanda social. Falando sobre a critica literdria e seus critérios, Gramsci formula com precisio este espago de atuacéo: “0 politico que pressiona para que @ arte con- ‘temporanea expresse explicitamente _o mundo cultural, realiza atividade politica, nfo de critica | artistica; se a sociedade cultural pela qual se luta & algo letente @ necessario, sua expanséo serd irresistivel e encontrara sous proprios artistas, Por outro lado, 6 necessério ndo esquecer que © literato deve necessariamente ter perspectives menos precisas e definidas do que o politico, Geve ser menos ‘sectario’, e ser mesmno o ‘contrério’ |. disso. Para o politico, toda imagem ‘fixada’ a prior? & reacionéria, pois considera todo movimento em seu devenir. O artista, em troca, deve ter imegens ‘fixes’ situadas de forma definitive. O politico ‘considera 0 homem como é em seu momento e como deve ser para aleancar dsterminado fim. ‘Seu trabalho consiste em fazer os homens mar- charem em frente pare sair da sua existéncia atual ecient. O que é Politica porem-se em condigao de alcangar coletivamente 0s fins propostos; ou seja, ‘adaptarem-se’ a estes fins. O_ artista representa necesséria e realistice- mente ‘o que existe’ de individual, nao confor- mista, etc., em certo momento. Por isto, do seu pontd de vista, 0 politico sempre acharé o artis: ta... & mereg dos tempos, anacrdnico, superado pelo devenir real”. : Gramsci interroga no homem, a um sé tempo libertador e poeta, a ambigiidade profunda com que se defronta em seu cotidiano. Sem propor uma concilia¢do, formal e abstrata, provoca o tema gerado por uma fragmentacdo conereta e real. Como encarar nosso "tempo de partidos, tempo de homens partidos”, nas palavras de Carlos Drummond? A historia oferece algumas pistes que enrique- cem 0 presente. Portes abertas que ndo precisam mais ser arrombades. Cada leito trilhedo é uma razio a mais para desefiar 2 imaginaco, como um novo leque de possibilidedes abertas que, se no conduz a linha a ser tracada, 20 menos Ihe jlumina (© pano de fundo. 2

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