Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Marxista
Montevidéu, 2017.
Resumo: As teses marxistas são um ponto de referência constante para as Ciências
Sociais. A esse respeito, desdobraram-se em um impasse as distintas concepções de
Carlos Nelson Coutinho e Werneck Vianna sobre a origem da consciência socialista das
massas. De acordo com Coutinho, a teoria gramsciana não apresenta uma distinção
expressiva da proposta leninista. Fundamentalmente, ao equiparar estas concepções,
Coutinho localiza Gramsci na mesma posição de Lênin, para quem tal consciência
política seria produzida externamente à classe operária. Contudo, Vianna apresenta uma
visão distinta, ao considerar "problemática" a sustentação de uma semelhança entre as
concepções expressas por Lênin e Gramsci. Segundo o autor, a questão da consciência
apresenta-se "intrínseca e colada à estrutura". Logo, não dependeria de um ator externo
para promovê-la ou implantá-la. Os agentes envolvidos, portanto, deveriam se
manifestar externamente em termos ético-políticos para que fosse possível um efetivo
desenvolvimento da ação contra-hegemônica. Diante disso, este trabalho tem por
objetivo abordar as questões teóricas pertinentes acerca do debate dos partidos políticos
no interior da esquerda marxista através dos seus principais teóricos, em especial as
concepções de Vladimir I. Lenin e Antonio Gramsci. A partir desse mapeamento,
busca-se localizar as posições, bem como suas contribuições teóricas às questões de
formação, estrutura, dirigência e atuação coletiva consciente dos sujeitos nos partidos.
Introdução
1
Respectivamente, em Crítica à Filosofia do Direito de Hegel e os Manuscritos Econômico-Filosóficos,
produzidos respectivamente em 1843 e 1844, e, A Ideologia Alemã, o Manifesto do Partido Comunista e
o 18 Brumário. Este período é marcado, sobretudo, pela redução de seus diagnósticos deterministas.
classes é uma luta política. [...] Essa organização dos proletários em
classe e, com isso em partido político, é incessantemente abalada pela
concorrência entre os próprios operários. Mas, renasce sempre, cada
vez mais forte, mais firme, mais poderosa.” (Marx e Engels, 1982:
51).
Ainda que não fique explícita, no “Manifesto”, uma proposta de estrutura, bem
como uma organização exata para o partido revolucionário, estão localizadas nele as
postulações gerais que influenciaram os demais pensadores marxistas, produzindo
distintos posicionamentos quanto ao debate da organização do partido. No “Manifesto”,
Marx e Engels afirmam ser o proletariado a única classe capaz de ser revolucionária,
uma vez que ela combate a burguesia para garantir sua própria existência. O principal
objetivo seria o de manter a unidade entre a luta econômica e a luta política. Tal unidade
seria fundamental na medida em que, para os autores, estas reivindicações, específicas
do campo econômico, agiriam como um motor para o processo de tomada de
consciência política, logo para a organização do proletariado em partido. Dessa forma,
após as conquistas no campo econômico, a tomada do poder político ganharia força
enquanto segundo e próximo movimento dos trabalhadores.
Esta concepção na qual a classe trabalhadora é vista como o único sujeito capaz
de ser revolucionário, isto é, condutor de sua própria emancipação, também foi
defendida por Rosa Luxemburgo e Leon Trotsky. Rosa Luxemburgo é considera uma
importante liderança teórica e política do Partido socialdemocrata Alemão, além de
responsável por parte significativa do conjunto de críticas direcionadas ao Partido
Bolchevique montado por Lenin. Rosa contribuiu com o movimento operário
internacional e com a luta socialista a partir da expressão de suas ideias, tanto contra os
considerados “reformistas” no interior de seu partido quanto para os reformistas da
Segunda Internacional.
Para Rosa, a questão da organização do movimento operário, bem como o seu
processo prático de ação não devem estar vinculados a uma ação “artificial” da
propaganda, mas sim devem ser produto do processo da luta de classes. Crítica ao
centralismo político defendido por Lenin, a autora afirmava que o centralismo
prejudicava o processo de organização mais amplo dos trabalhadores. Para Rosa,
nenhuma fórmula rígida seria capaz de resolver, ou ao menos beneficiar, o movimento
socialista se seguisse as orientações sistemáticas contidas na obra Um Passo à Frente;
Dois Passos Atrás, pois nele estava contido elemento que afastaria o principal ator da
ação da revolucinária, a classe trabalhadora.
“Sin embargo, nos parece que sería un grueso error pensar que se
podría substituir “provisoriamente” en el partido el domínio aún
irrealizable de la mayoría de los obreiros conscientes por el poder
absoluto de um comité central que actúa como por tácita “delegacion”
y remplazar el control público ejercido por las masas obreras sobre los
órganos del partido con el control opuesto del comité central sobre la
actividad del proletariado revolucionário.” (Luxemburgo in: Strada,
1971: 469).
2
A razão de se falar, aqui, em “Jovem Trotsky” é o fato de que, mais tarde, ele mudaria de posição sobre
a questão do partido e se aproximaria da posição de Lenin. Sobre esse tema, ver Deutscher, 2005.
futuro, es uma actitud de fe revolucionaria. [...] Los jacobinos são
idealistas de pies a cabeza, nosotros somos materialistas de cabeza a
los pies. (Trotsky in: Strada, 1977: 433).
No que se refere ao conhecido jornal “Iskra”, Trotsky afirmava que este continha
elementos avessos à aos interesses do proletariado. O Iskra atuava contra o
desenvolvimento da força espontânea da classe ao mesmo tempo em que impedia que os
intelectuais se misturassem e atuassem juntos de forma coesa junto à classe
trabalhadora. Os elementos que Lenin acusava como “atrasados” são considerados por
Trotsky como pensadores que caminham passo a passo de forma segura, abrindo o
caminho para os passos futuros e positivos para o movimento. Trotsky afirma não ser
possível conceber as vias do desenvolvimento social, senão através de seu próprio
fortalecimento conjunto, ou seja, por meio das condições dadas pela história.
A desconfiança de Lenin sobre a espontaneidade das massas seria, segundo o
autor, a causa da degeneração tática do Iskra que, ao defender métodos táticos
jacobinos, agrediria o caráter classista do movimento revolucionário da classe, bem
como do partido socialdemocrata. Indo mais adiante em suas críticas, assemelha a teoria
de Lenin de caráter burguês e sua política como tutelar.
Conclui afirmando que as tarefas que se colocam ao movimento revolucionário
serão alcançadas através de longas disputas políticas externas e internas à corrente
socialdemocrata. Para ele, uma organização forte e autoritária não será capaz de acelerar
ou simplificar o processo, ou seja, somente o proletário é o responsável pela ação
revolucionária.
O partido teria como tarefa organizar a luta política mais ampla, realizando o
trabalho de transformação dos militantes experientes em chefes políticos capazes de
conduzir os diversos tipos de manifestações num ideal comum no momento adequado.
Para isso seria imprescindível que o partido tivesse o conhecimento político real de sua
realidade, permitindo uma ação efetiva e objetiva do movimento revolucionário. A
derrubada do sistema autocrático se daria por meio da ação de um partido de vanguarda
ciente da realidade política, atento aos momentos propícios ao avanço da luta operária.
Lenin rejeitava as concepções que concentravam seus esforços na amenização
das contradições sociais. Esta orientação prejudicaria o processo revolucionário na
medida em que, para Lenin, limitaria a causa proletária à luta econômica. Lenin não
diminuía, contudo, o valor da espontaneidade das massas para a revolução socialista,
apenas ressaltava que a análise a ser feita deveria focar na diferença entre a objetividade
do movimento socialista.
Conclusão
BRAZ, Marcelo. Partido e Revolução 1848-1989. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. Rio
de Janeiro. Civilização Brasileira, 1999.
ELEY, Geoff. Forjando A Democracia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas, vol. 1. Lisboa e Moscou: Avante
e Progresso, 1982.
STRADA, Vittorio. (org.) Qué hacer: teoría y práctica del bolchevismo. Cidade do
México: Ediciones Era, 1977.