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Opinión Jurídica - UNIVERSIDAD DE MEDELLÍN

Biopolítica e racismo ambiental no Brasil:


a exclusão ambiental dos cidadãos*

Ivy de Souza Abreu**

Recibido: Junio 4 de 2013


Aprobado: Septiembre 9 de 2013

Resumo
O presente artigo se propõe a analisar abiopolítica, sua influência nas decisões
do poder soberano e sua face excludente frente às questões ambientais.Para
isso, serão postos em discussãoo biopoder e a biopolítica, o racismo ambiental
com a exclusão dos cidadãos e a formação de grupos outsidersambientais e o
problema da seca no Nordeste brasileiro.A gestão da vida se tornou fator de
decisão nos sistemas políticos modernos e contemporâneos, o binômio “viver
e morrer” deixa as ciências biomédicas e aflora na seara política.A politização
da vida se evidencia com o racismo ambiental e com as novas categoriais da
política: estabelecidos e outsiders, cidadãos e subcidadãos, inclusão e exclusão.
Palavras-chave: biopolítica, racismo ambiental, exclusão.

*
Artigo científico apresentado ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Direitos e Garantias Fundamentais – Mestrado – da Fa-
culdade de Direito de Vitória – FDV (CAPES 4), como parte integrante das atividades da Disciplina “Teoria dos Direitos Fundamentais”,
ministrada pelo prof. Dr. Nelson Camatta Moreira.
**
Mestranda em Direitos e Garantias Fundamentais pela FDV; Bolsista da FAPES – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Espírito
Santo; Membro do Grupo de Pesquisa “Estado, Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais” da FDV; Membro do BIOGEPE
– Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Políticas Públicas, Direito a Saúde e Bioética da FDV; MBA em Gestão Ambiental; Pós
Graduada em Direito Público; Licenciada em Ciências Biológicas; Advogada; Bióloga; Professora universitária.E-mail: ivyabreu@hotmail.
com

Opinión Jurídica, Vol. 12, N° 24, pp. 97-100 - ISSN 1692-2530 • Julio-Diciembre de 2013 / 200 p. Medellín, Colombia 87
Ivy de Souza A breu

Biopolitics and environmental racism in Brazil:


the environmental exclusion of the citizens

Abstract
This article aims to analyze thebiopolitics, its influence on the decisions of the
sovereign power and its excluding face front to environmental issues. Therefore,
it will be brought to the discussion the biopower and the biopolitics, the
environmental racism with the exclusion of the citizens and the formation of the
environmental groupsoutsidersand the problem of drought in northeastern Brazil.
The management of life became deciding factor in modern and contemporany
political systems, the concepts “live and die” lets biomedical sciences and touches
on policy. The politicization of life is evident with environmental racism and the
new categorical policy: established and outsiders, citizens and under citizens,
inclusion and exclusion.
Key words: biopolitics, environmental racism, exclusion.

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Biopolítica e racismo ambiental no brasil: a exclusão ambiental dos cidadãos

Introdução Para tanto, é imperioso realizar uma análise,


inicialmente, conceitual da biopolítica e do ra-
A vida humana e suas necessidades e impli- cismo ambiental para situar o leitor nas bases
cações adquiriu status de fator decisório na teóricas, perpassando pela aplicação da teoria
política desde a modernidade. A gestão da vida de Elias e Scotson acerca dos estabelecidos e
se tornou fundamental na política: a decisão outsiders, para, enfim, com um exemplo casuís-
de fazer viver e deixar morrer que compete ao tico discutir a relação entre a biopolítica e a
soberano.É neste contexto de viver e morrer, exclusão ambiental no Brasil.
excluir e incluir, que a biopolítica se apresenta.

Neste cenário contemporâneo de biopoder e de 1. A biopolítica e o racismo ambiental: primeiros


biopolítica que o racismoadquire novas feições conceitos
e assume papel de destaque, em especial com
sua faceta ambiental.O racismo ambiental ex- A primeira referência ao termo biopolítica foi
trapola as questõesmeramente raciais e étnicas, feita por Michel Foucault, “em sua conferência
abarcando as injustiças, os preconceitos e a proferida no Rio de Janeiro em 1974 e intitulada
desigualdade que afligem populações e grupos ‘O nascimento da medicina social’” (Pelbart,
vulneráveis. 2003, p. 55). A temática continuou sendo tra-
balhada pelo autor, em especial,relacionando-a
Exteriorizam-se as relações entre estabeleci- a questão da sexualidade, da medicina social e
dos e outsiders, entre vida política e vida nua do biopoder.
(homo sacer), entre cidadãos e subcidadãos,
entre opressores e oprimidos, entre incluídos Giorgio Agamben (2010; 2004) trabalha a biopo-
e excluídos. A tensão entre esses grupos pode lítica relacionando os conceitos de soberania,
ser maximizada ou mitigada de acordo com as homo sacer (via nua), campo de concentração1 e
decisões biopolíticasdo soberano. A dignidade estado de exceção2. O poder soberano deci-
humana e a igualdade se equilibram na corda de, em estado de exceção,quem caracteriza o
bamba das relações de poder frente ao estado homo sacer e, por isso, será excluído do convívio
de exceção que se naturaliza. social e ignorado em suas necessidades mais
básicas, sendo passível, inclusive, de exclusão
Éneste panorama de injustiça e exclusão que territorial e banimento para os campos de
se configura na realidade ambiental brasileira concentração.
com a formação de vários grupos de excluídos
ambientais, aqui denominados outsiders am- Agamben traz as distinções feitas pelos gregos
bientais. Um dos casos mais emblemáticos da entre zoé e bíos. O termo zoé “exprimia o simples
caracterização do outsider ambiental é a exclusão fato de viver comum a todos os seres vivos”
dos brasileiros sedentos, em especial na região (Agamben, 2010, p. 9), já bíos “indicava a forma
Nordeste do país, que enfrentam a seca e o ou maneira de viver própria de um indivíduo ou
descaso do poder soberano. de um grupo” (Agamben, p. 9). Na antiguidade
clássica, os gregos faziam a diferenciação entre
Assim, indaga-se diante do contexto biopolítico a simples vida natural, o fato de estar vivo, ser
brasileiro: Como a decisão biopolítica de não 1
“Lógica da Soberania”, “Homo sacer” e “O campo como para-
resolver a questão da seca no Brasil interfere digma biopolítico do moderno” são as três partes nas quais a
na formação de grupos outsiders ambientais e obra “Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I” sedivide
(Agamben, 2010, sumário).
no racismo ambiental? Eis a problemática que 2
O tema estado de exceção é abordado na obra “Estado de
será trabalhada neste artigo. Exceção: homo sacer II” (Agamben, 2004).

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um ser vivente e a vida qualificada, o modo de se tornou imprescindível nos sistemas políticos
vida, excluindo a zoé da política na pólis. contemporâneos.

Na modernidade, a vida nua (zoé) se transforma E é exatamente desta gestão política da vida
em fator político relevante, inclusive, fundador que a biopolítica se incumbe. Assevera Pelbart
de regimes totalitários modernos como foi o que “a vida e seus mecanismos entram nos
nazismo. O “ingresso da zoé na esfera da pólis, cálculos explícitos do poder e saber, enquanto
a politização da vida nua como tal constitui o estes se tornam agentes de transformação da
evento decisivo da modernidade, que assina- vida. A espécie torna-se a grande variável nas
la uma transformação radical das categorias próprias estratégias políticas” (Pelbart, 2003,
político-filosóficas do pensamento clássico” p. 58). A biopolítica se dirige “ao homem vivo,
(Agamben, 2010, p. 12). O ser humano passou ao homem-espécie. [...] à multiplicidade dos
a ser considerado como espécie e as interações homens enquanto massa global, afetada por
dos seres humanos entre si e com o meio, in- processos próprios da vida, como a morte, a
clusive questões naturais e biológicas que afe- produção, a doença” (Pelbart, p. 57).
tam as populações (como epidemias, taxas de
natalidade e mortalidade, doenças) se tornaram Mortalidade, natalidade, doenças, epidemias,
fatores políticos e decisórios, não mais, apenas, fome, saúde pública, imigração, emigração,
populacionais. habitação, xenofobia, racismo são proble-
mas biopolíticos enfrentados pelos governos
Michel Foucault esclarece que biopoder é “o nacionais e que pesam muito na tomada de
conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo decisões. No atual contexto biopolítico a vida
que, na espécie humana, constitui suas caracte- natural dos seres humanos se tornou um fator
rísticas biológicas fundamentais vai poder entrar decisório nas intrincadas e complexas teias do
numa política, numa estratégia política, numa poder soberano.
estratégia geral de poder” (Foucault, 2008, p. 3),
e biopolítica, ainda segundo Foucault O biopoder vai encontrar a sua máxima atuação:
“o poder é, dessa forma, expresso como um
...trata-se de um conjunto de processos controle que se estende pelas profundezas da
como a proporção dos nascimentos
consciência e dos corpos da população – e
e dos óbitos, a taxa de reprodução, a
fecundidade de uma população, etc. ao mesmo tempo através da totalidade das
São esses processos de natalidade, de relações sociais” (Hardt & Negri, 2001 p. 44).
mortalidade, de longevidade que, jus- A administração da vida, individual ou social-
tamente na segunda metade do século mente considerada, se tornou indispensável na
XVIII, juntamente com uma porção de atuação dos governos.
problemas econômicos e políticos [...],
constituíram, acho eu, os primeiros
objetos de saber e os primeiros alvos
Neste panorama de biopoder e de biopolítica
de controle dessa biopolítica (Foucault, é que o racismo toma novos contornos, inclu-
2005, p. 289). sive com o racismo ambiental. O racismo deixa
de ter apenas impacto racial estendendo-se a
As decisões políticas dos Estados perpassam preconceitos e injustiças ocorridos com grupos
pelas necessidades e implicações da vida hu- vulneráveis, sejam histórica, econômica, social
mana. “A vida entrou na história, isto é, fenô- ou ambientalmente desprotegidos.
menos da espécie humana entraram na ordem
do saber e do poder, no campo das técnicas Um triste cenário se descortina: a naturalização
políticas” (Pelbart, 2003, p. 58). A gestão da vida do preconceito, da desigualdade e do racismo,

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Biopolítica e racismo ambiental no brasil: a exclusão ambiental dos cidadãos

em todos os seus aspectos, na sociedade bra- Nos conflitos ambientais, normalmente, os


sileira. Como traz a lume Herculano: atores mais afetados são “las comunidades indí-
genas, los campesinos, las comunidades negras,
Racismo é a forma pela qual desqua- los habitantes de las zonas urbano-marginales
lificamos o outro e o anulamos como y otros grupos sociales vulnerables” (Red para
não-semelhante. [...] Assim, nosso
la Justicia Ambiental em Colombia -RJAC-,
racismo nos faz aceitar a pobreza e
a vulnerabilidade de enorme parcela 2013). Acrescente-se a este rol, as populações
da população brasileira, com pouca tradicionais, a mão-de-obra barata advinda do
escolaridade, sem renda, sem políticas êxodo rural, os moradores de aterros sanitários,
sociais de amparo e de re s gate, os catadores de lixo, os nordestinos sedentos,
simplesmente porque naturalizamos todos estes grupos são vítimas de preconceito
tais diferenças, imputando-as a ‘raças’ social e ambiental.
(Herculano, 2008, p. 17).
Dentro deste contexto se inserem as discussões
E ainda Pacheco, sobre justiça/injustiça ambiental e racismo am-
biental. As discussões sobre racismo ambiental
[...] é fundamental assumir que racismo e se iniciaram com o Movimento de Justiça Am-
preconceito não se restringem a negros, biental, nos Estados Unidos, na década de 80.
afrodescendentes, pardos ou mulatos.
Os princípios deste movimento foram aprovados
Está presente na forma como tratamos
nossos povos indígenas. Está presen- em 1991, durante “The First National People of
te na maneira como ‘descartamos’ Color Environmental Leadership Summit”, em
populações tradicionais – ribeirinhos, Washington-DC3. “La Justicia Ambiental está
quebradeiras de coco, geraiszeiros, construida sobre el principio mediante el cual
marisqueiros, extrativistas, caiçaras e, todos los pueblos y comunidades tienen dere-
em alguns casos, até mesmo pequenos cho a igual protección de las leyes y normativas
agricultores familiares. Está presente no
tratamento que damos, no Sul/Sudeste,
ambientales y de salud pública” (RJAC, 2013).
principalmente, aos brancos pobres cea-
renses, paraibanos, maranhenses... Aos A Declaração de Lançamento da Rede Brasileira
‘cabeças-chatas’ em geral, no dizer pre- de Justiça Ambiental, fruto do Colóquio Inter-
conceituoso de muitos, que deixam suas nacional sobre Justiça ambiental, Trabalho e
terras em busca de trabalho e encontram Cidadania, realizado na cidade de Niterói-RJ em
ainda mais miséria, tratados como mão- 2001, traz a lume a conceituação básica:
-de-obra facilmente substituível que, se
cair da construção, corre ainda o risco Entendemos por injustiça ambiental o
de ‘morrer na contramão atrapalhando mecanismo pelo qual sociedades des-
o tráfego’ (Pacheco, 2007, p. 7-8). iguais, do ponto de vista econômico
e social, destinam a maior carga dos
O problema do preconceito e do racismo no danos ambientais do desenvolvimento
Brasil já extrapolou as questões raciais e étnicas às populações de baixa renda, aos gru-
e se alastrou não apenas no convívio social, mas pos raciais discriminados, aos povos
étnicos tradicionais, aos bairros ope-
também na vida política no país e nas decisões rários, às populações marginalizadas e
governamentais. A motivação para exclusão vulneráveis.
de brasileiros tem as mais variadas nuances,
Por justiça ambiental, ao contrário,
seja cor da pele, local de nascimento, tipo de
designamos o conjunto de princípios e
trabalho ou ausência deste, local de residência, práticas que:
escolaridade, conta bancária, e, o que se des- 3
Os princípios estão disponíveis em: <http://www.ejnet.org/ej/
taca, a questão ambiental. principles.pdf >.

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a- asseguram que nenhum grupo so- de sujeitos constitucionais possibilita ao do


cial, seja ele étnico, racial ou de classe, cidadão comum se reconhecer como agente
suporte uma parcela desproporcio- ativo e legitimador do processo hermenêutico,
nal das consequências ambientais
negativas de operações econômicas,
construindo uma real e efetiva cidadania.
de decisões de políticas e de programas
federais, estaduais, locais, assim como A exclusão adquire novas feições com a for-
da ausência ou omissão de tais políticas; mação de grupos ambientalmente segregados.
b- asseguram acesso justo e equitativo, O racismo ambiental se configura de várias for-
direto e indireto, aos recursos ambien- mas e com diferentes prejuízos às suas vítimas,
tais do país; que suportam de algum modo, um impacto
c- asseguram amplo acesso às infor- ambiental negativo muito maior que as outras
mações relevantes sobre o uso dos pessoas. “El avance de las fronteras económi-
recursos ambientais e a destinação de
cas hacia nuevos territorios genera diferentes
rejeitos e localização de fontes de riscos
ambientais, bem como processos demo-
tipos de impactos ambientales que recaen
cráticos e participativos na definição de desproporcionadamente sobre algunos grupos
políticas, planos, programas e projetos sociales que protestan y resisten defendiendo
que lhes dizem respeito; sus derechos y medios de vida” (RJAC, 2013).
d- favorecem a constituição de sujeitos
coletivos de direitos, movimentos sociais Oportuna a colocação de Acselrad: “Os pobres
e organizações populares para serem estão mais expostos aos riscos decorrentes da
protagonistas na construção de modelos localização de suas residências, da vulnerabi-
alternativos de desenvolvimento, que
assegurem a democratização do acesso
lidade destas moradias a enchentes, desmoro-
aos recursos ambientais e a sustenta- namentos e à ação de esgotos a céu aberto”
bilidade do seu uso (Rede Brasileira de (Acselrad, 2000, p. 1).
Justiça Ambiental, 2001, p. 1-2).
Considerando que a injustiça social e a
degradação ambiental têm a mesma raiz,
Assim, as discussões sobre justiça ambiental haveria que se alterar o modo de distri-
buscam mostrar que “las comunidades de mi- buição – desigual – de poder sobre os
norías étnicas y de bajos ingresos enfrentan una recursos ambientais e retirar dos podero-
mayor exposición a las cargas ambientales y sos a capacidade de transferir os custos
tienen mayores limitaciones para el acceso a los ambientais do desenvolvimento para os
recursos naturales y a participar en la gestión de mais despossuídos. Seu diagnóstico as-
sinala que a desigual exposição aos riscos
los mismos” (RJAC, 2013). Gregorio Mesa Cuadros
deve-se ao diferencial de mobilidade entre
(2012) assevera que a justiça ambiental busca os grupos sociais: os mais ricos consegui-
reduzir ou eliminar as desigualdades e discrimi- riam escapar aos riscos e os mais pobres
nações que a justiça tradicional tenta explicar. circulariam no interior de um circuito de
risco (Acselrad, 2010, p. 109).
Na esteira de pensamento de Amartya Sen
(2010), a inclusão dos indivíduos e da coletivi- O tratamento desigual em relação aos grupos
dade na construção de uma teoria da justiça é ambientalmente excluídos é vergonhoso. Seja
imprescindível para que a atuação dos cidadãos pela atitude permissiva do poder público ao não
e do poder público esteja em sintonia com os impedir que estes grupos sejam diretamente
direitos humanos e com a proteção dos vulne- afetados por empreendimentos poluidores,
ráveis. Peter Häberle (1997) pactua da ideia de seja pela omissão com a ausência de políticas
abertura dos processos decisórios e construti- públicas eficazes no combate a injustiça am-
vos de teorias à sociedade. A ampliação do rol biental, seja pelo descumprimento do princípio

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Biopolítica e racismo ambiental no brasil: a exclusão ambiental dos cidadãos

da informação, seja com a inexistência de efetiva A relação entre vida natural e política se esta-
participação dos interessados -afetados- nos belece com a inclusão da vida nua (vida matável
atos decisórios, seja pela falta de acesso aos e insacrificável do homo sacer) como motivadora
recursos naturais, como é o caso dos nordes- das tomadas de decisões dos Estados mo-
tinos e a falta de água. dernos, mesmo que no sentido da exclusão
e do menosprezo, como foi no nazismo e
3. Os outsiders ambientais no brasil ainda o é hodiernamente, com o racismo, por
exemplo.
Na apresentação da obra “Os estabelecidos
e os outsiders” de Elias e Scotson (2000, p.7), Como Agamben afirma, “no homo sacer, enfim,
Federico Neiburg traz a conceituação básica nos encontramos diante de uma vida nua
de estabelecidos e outsiders. As terminologias residual e irredutível, que deve ser excluída e
establishment ou established (os estabelecidos) exposta à morte como tal, sem que nenhum
designam grupos e indivíduos que ocupam rito ou nenhum sacrifício possam resgatá-la”
posições de poder e prestígio, se consideram (Agamben, 2010, p. 100). O homo sacer não faz
um modelo moral para os demais, assim, se au- jus a qualquer esforço da sociedade para ser
topercebem como socialmente melhores. E sua resgatado de sua condição de matável, para ser
contraposição, os outsiders, são os não membros salvo de seu contexto excludente, assim como
da “boa sociedade” dos estabelecidos, os que são os outsiders.
estão fora dela, associados à anomia, violência,
delinquência e desintegração. No estudo de Elias e Scotson “constata-se que
outsiders são vistos pelo grupo estabelecido
Esta relação entre estabelecidos e outsiders de como indignos de confiança, indisciplinados
Elias e Scotson se coaduna com os conceitos e desordeiros” (Elias & Scotson, 2000, p. 27).
de subcidadania de Jessé Souza e de homo sacer Sendo assim inferiorizados e estigmatizados
de Giorgio Agamben, outrossim, se aplicando à pelos estabelecidos, o que pode enfraquecer
formação de grupos excluídos ambientais e ao e desestruturar o grupo excluído. O “estigma
racismo ambiental no Brasil. social imposto pelo grupo mais poderoso ao
menos poderoso costuma penetrar na auto-
No caso do homo sacer, para Agamben “uma
imagem deste último e, com isso, enfraquecê-lo
pessoa é simplesmente posta para fora da ju-
e desarmá-lo” (Elias & Scotson, p. 24). Além do
risdição humana sem ultrapassar para a divina”
que esta estigmatização serve como um me-
(Agamben, 2010, p. 83), sendo assim, matável,
canismo de exclusão dos não estabelecidos e
mas não sacrificável. “Soberana é a esfera na
formação de uma massa de subcidadãos.
qual se pode matar sem cometer homicídio e
sem celebrar um sacrifício e sacra, isto é, ma-
Os subcidadãos, segundo Souza detêm um habi-
tável e insacrificável, é a vida que foi capturada
tusprecário, ou seja, “seria um tipo de persona-
nesta esfera” (Agamben, p. 85). Assim, o homo
lidade e de disposições de comportamento que
sacer é uma figura intermediária entre os seres
não atendem às demandas objetivas para que,
humanos, que não podem ser sacrificados, e os
seja um indivíduo, seja um grupo social, possa
seres não humanos (animais)4, que são passíveis
ser considerado produtivo e útil [...] podendo
de sacrifícios.
gozar de reconhecimento” (Souza, 2003, p. 167).
4
Considerando-se aqui o senso comum de que os seres humanos
não são animais e estariam acima destes. Em termos biológicos
Assim, os subcidadãos situam-se abaixo dos
de classificação das espécies (taxonomia), a espécie Homo sa- considerados cidadãos (detentores de habitus
piens é do Reino Animalia (portanto, um animal), Filo Chordata, primário) e muito abaixo dos sobrecidadãos
Classe Mammalia, Ordem Primata, Família Homininae, Gênero
Homo. (detentores de habitus secundário).

Opinión Jurídica, Vol. 12, N° 24, pp. 87-100 - ISSN 1692-2530 • Julio-Diciembre de 2013 / 200 p. Medellín, Colombia 93
Ivy de Souza A breu

As vítimas da exclusão ambiental são vistas de exceção em que as decisões biopolíticas são
pela sociedade, de modo geral como outsiders, tomadas. Walter Benjamin em seu texto “Sobre
como subcidadãos. Os indígenas, os catado- o conceito de história”, alerta:
res de lixo, as marisqueiras, os moradores de
aterros sanitários, as paneleiras, os caiçaras, A tradição dos oprimidos ensina-nos que
os ribeirinhos, os catadores de coco e semen- o “estado de exceção” em que vivemos é
a regra. Temos de chegar a um conceito
tes, as comunidades tradicionais, os negros, a
de história que corresponda a essa ideia.
mão-de-obra barata advinda do êxodo rural, os Só então se perfilará diante dos nossos
pescadores, os nordestinos sedentos, dentre olhos, como nossa tarefa, a necessidade
muitos outros grupos são discriminados social de provocar o verdadeiro estado de ex-
e ambientalmente. ceção; e assim a nossa posição na luta
contra o fascismo melhorará. A hipótese
A realidade brasileira dos outsiders ambientais de ele se afirmar reside em grande parte
no fato de os seus opositores o verem
não difere dos problemas em outros países,
como uma norma histórica, em nome do
como os Estados Unidos, segundo o trabalho progresso. O espanto por as coisas a que
de Robert Bullard: assistimos “ainda” poderem ser assim no
século vinte não é um espanto filosófico.
As populações não-brancas (afroame- Ele não está no início de um processo
ricanos, latinos, asiáticos, povos das de conhecimento, a não ser o de que a
ilhas do Pacífico e povos indígenas ame- ideia de história de onde provém não é
ricanos) têm sofrido, de modo despro- sustentável (Benjamin, 2012, p. 245).
porcional, danos causados por toxinas
industriais em seus locais de trabalho ou
nos bairros onde moram. Estes grupos No atual contexto biopolítico de exclusão, em
têm de lutar contra a poluição do ar e da especial com a formação de grupos segrega-
água--subprodutos de aterros sanitários dos por motivação ambiental, como é o caso
municipais, incineradores, indústrias dos nordestinos brasileiros sedentos, fica evi-
poluentes, e tratamento, armazenagem dente que se instaurou um estado de exceção
e vazadouro do lixo tóxico (Bullard, permanente. O estado de exceção não é mais
1996, p. 1).
excepcional, se tornou a regra. E pior: o pro-
gresso acaba legitimando sua existência e sua
O racismo ambiental em sua faceta excluden-
perpetuação.
te e preconceituosa têm como consequência
a formação destes grupos excluídos, seja na
forma de outsiders ambientais, seja na forma A decisão biopolítica de retirar a humanidade
de homo sacerambiental. A exclusão pressupõe, de alguém ou de um grupo de indivíduos e de,
no mínimo, a mitigação da cidadania destes portanto, torná-lo matável, excluído, outsider é
indivíduos, quiçá a extirpação completa desta do poder soberano. O limite entre vida e mor-
cidadania, de um modo ou de outro, estes gru- te, entre inclusão e exclusão, entre cidadãos e
pos ou indivíduos acabam se caracterizando subcidadãos é uma expressão da soberania.
pela subcidadania. Entretanto, o poder soberano está fora do or-
denamento jurídico, destarte, acima da lei, em
se tratando de estado de exceção.
4. A biopolítica e o racismo ambiental no brasil
como forma de exclusão de cidadãos O soberano “tendo o poder legal de suspender
a validade da lei, coloca-se legalmente fora da
Ao se tratar de exclusão e racismo, se faz neces- lei” (Agamben, 2010, p. 22), possibilitando o pro-
sário compreender o contexto atual de estado gressivo alargamento dos limites do estado de

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Biopolítica e racismo ambiental no brasil: a exclusão ambiental dos cidadãos

exceção e consequentemente, a permissividade O problema da falta de água no Brasil é alar-


ao regime totalitário. mante: “O nordeste brasileiro enfrenta em
2013 a maior seca dos últimos 50 anos, com
O totalitarismo moderno pode ser mais de 1.400 municípios afetados” (ONU,
definido, nesse sentido, como ainstau- 2013B). Entretanto, esta questão tem afetação
ração, por meio do estado de exceção,
internacional:
de uma guerra civil legal que permite a
eliminação física não só dos adversários
políticos, mas também de categorias As secas têm afetado principalmente
inteiras de cidadãos que, por qualquer as regiões do Chifre de África e do
razão, pareçam não integráveis ao sis- Sahel, EUA, México, Brasil, partes da
tema político (Agamben, 2004, p. 13). China e da Índia, Rússia e o sudeste
da Europa. Além disso, 168 países
afirmam ser afetados pela desertifi-
Em consonância com Benjamin, alertam Agam- cação, um processo de degradação
ben que “o estado de exceção tende cada vez do solo em terras secas que afeta a
mais a se apresentar como o paradigma de produção de alimentos e é agravado
governo dominante na política contemporânea” pela seca (ONU, 2013B).
(Agamben, 2004, p. 13) e Pelbart que “o sobera-
no é aquele que decide do valor ou da falta de A água potável e limpa, adequada e segura ao
valor da vida enquanto tal [...]” (Pelbart, 2003, p. consumo humano é de importância vital para a
64). Com a naturalização do estado de exceção sobrevivência de todas as formas de vida, dos
quaisquer categorias de cidadãos podem perder ecossistemas e para a manutenção do equilí-
seu valor e se tornarem matáveis. Qualquer um brio ecológico. “Tendo em vista a relevância
pode perder sua humanidade e se tornar o homo dos recursos hídricos e a função ecológica das
sacer. Quaisquer grupos podem ser inferioriza- nascentes e matas ciliares para a manutenção
dos e estigmatizados, transformando-se em da água potável no planeta” (Abreu & Fabriz,
outsiders. 2013B, p. 13), a tutela deste bem é primordial.
“Mas a qualidade da água em todo o mundo
Os milhares, quiçá milhões ou bilhões, de pes- é cada vez mais ameaçada à medida que as
soas que morrem pela falta de água no mundo populações humanas crescem, atividades agrí-
são um exemplo claro da inferiorização da colas e industriais se expandem e as mudanças
vida humana de alguns com a formação dos climáticas ameaçam alterar o ciclo hidrológico
aqui denominados outsiders ambientais. Este global” (ONU, 2013B).
é um problema grave no Brasil. A utilização
da biopolítica para perpetuação do estado de Ressalte-se que grupos vulneráveis arcam com
exceção no Brasil é evidente com o racismo as consequências gravosas dos danos ambien-
ambiental. tais, seja porque não têm voz – ou ninguém
quer ouvi-los –, seja porque não têm vez – ou
Segundo dados da ONU (2013A), “estima-se ninguém os deixa falar –, seja porque, em ter-
que um bilhão de pessoas carece de acesso a mos de governabilidade, estes grupos excluídos
um abastecimento de água suficiente, definido constituam apenas uma grande massa para
como uma fonte que possa fornecer 20 litros manobras políticas, nos dizeres de Sloterdijk
por pessoa por dia a uma distância não superior um “pretume de gente” (Sloterdijk, 2002, p. 11).
a mil metros”. “A previsão das Nações Unidas Sobre as vítimas do racismo ambiental recai
é de que até 2030 quase metade da população grande parcela dos ônus ambientais, seja pela
mundial estará vivendo em áreas com grande falta de recursos, seja da culpa pela degradação
escassez de água” (ONU, 2013B). do ambiente.

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Convivem ao mesmo tempo, paradoxalmente, ambiental e inserindo tais grupos no contexto


dentro do Estado Democrático de Direito, a das discussões políticas, a posição das decisões
defesa e a garantia os direitos fundamentais e biopolíticas não será mais excludente.
a possibilidade de suspensão de todos esses
direitos pelo estado de exceção. A dignidade hu- Assevera Carvalho:
mana e a igualdade como direitos fundamentais
O mundo contra o qual a crítica eco-
frente ao significado biopolítico do estado de lógica se levanta é aquele organizado
exceção: a exclusão de cidadãos, em especial, sobre a acumulação de bens materiais,
a exclusão ambiental e o consequente racismo no qual vale mais ter do que ser, no qual
ambiental. a crença na aceleração, na velocidade e
na competitividade sem limites tem sido
E pior: como estes grupos de outsiders são o preço da infelicidade humana, da des-
qualificação e do abandono de milhões
oprimidos, renegados e ignorados, inclusive e
de pessoas, grupos e sociedades que
principalmente pelo poder público, apesar de não satisfazem esse modelo de eficácia
constituírem um número enorme de indivíduos, (Carvalho, 2004, p. 68).
a consciência de sua força política acaba se
dissipando. As “massas que não se reúnem mais O que se pretende, segundo Abreu é permitir
efetivamente tendem com o tempo a perder a que as atividades humanasse desenvolvam “da
consciência de sua potencia política” (Sloterdijk, forma menos impactante possível, evitando a
2002, p. 22). “A exclusão de enorme quantidade alteração do equilíbrio ambiental e o esgota-
de setores populacionais da participação e in- mento dos recursos naturais e tomando medi-
serção [...], leva aqui, [...] a uma ‘reação em cadeia das cabíveis para minimizar o impacto gerado
de exclusões’ e, por igual, também à pobreza por essas atividades antrópicas” (Abreu, 2013A
política” (Moreira, 2010, p. 124). p. 5). A distribuição do passivo ambiental não
pode recair apenas sobre determinada categoria
Como afirma Agamben “A dupla categorial de indivíduos, socialmente excluídos.
fundamental da política ocidental não é aquela
amigo-inimigo, mas vida nua-existência política, A faceta trágica da biopolítica com o racismo
zoé-bíos, exclusão-inclusão” (Agamben, 2004, p. ambiental, a desconsideração de grupos vul-
15). E é exatamente nesta zona limítrofe que a neráveis e a formação de outsiders ambientais,
força política e a luta dos – e pelos – grupos des- pode ser redimensionada positivamente. É
privilegiados pode fazer a diferença. A defesa possível que os grupos excluídos, vistos apenas
dos direitos fundamentais dos outsiders ambien- como massa votante (número de votos) e não
tais por diferentes setores sociais, inclusive pela como cidadãos que merecem respeito e cujos
academia, pode acarretar mudanças positivas e direitos fundamentais devam ser assegurados,
pesar na tomada de decisões biopolíticas pelo deixem sua posição de outsider e retomem sua
governo. cidadania furtivamente esquecida pela máquina
estatal.
A exteriorização da insatisfação da sociedade
brasileira com a situação dos outsiders ambientais A situação precária dos brasileiros sedentos –
do nordeste se transmuta em um fator decisório. um exemplo gritante de injustiça ambiental –,
A partir do momento em que os cidadãos brasi- que outrora foi plataforma eleitoral de muitos
leiros demonstrarem sua repudia às promessas políticos – e ainda o é, pode ser mitigada com
eleitoreiras de acabar com o problema da sede a efetivação participação dos cidadãos nas
e de levar água ao sertão e apoiarem os grupos decisões biopolíticas, com a cobrança das
ambientalmente excluídos, rejeitando o racismo promessas feitas nas eleições e com a luta pela

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Biopolítica e racismo ambiental no brasil: a exclusão ambiental dos cidadãos

defesa dos direitos fundamentais destes serta- Daí discute-se, hodiernamente, a justiça am-
nejos que não têm força política e econômica, biental como forma de buscar a distribuição
que não têm voz, que não têm visibilidade, equânime dos recursos naturais entre as pes-
mas que têm dignidade. Estes brasileiros são soas humanas, tentando evitar que o meio
cidadãos dignos e esta condição de outsiders ambiente seja um fator de discriminação e
ambientais não lhes é justa. A subcidadania preconceito, rechaçando o racismo ambiental.
destes excluídos ambientais não pode ser aceita Os ideais de justiça ambiental ainda são per-
como natural. seguidos pelos defensores dos direitos sociais
e ambientais.

5. Considerações finais O racismo transcende o preconceito racial e


étnico e se materializa nas diferentes relações
A biopolítica se manifesta nas relações de po- sociais, com a exclusão de pessoas e grupos
der contemporâneas com a gestão da vida pelo em situação de vulnerabilidade. Um caso grave
soberano. As tomadas de decisões políticas de racismo ambiental no Brasil que se destaca
perpassam, inevitavelmente, pelos binômios é o da exclusão dos brasileiros sedentos, no
vida – morte, estabelecidos –outsiders, inclusão sentido literal, de seres humanos com sede, que
– exclusão e cidadania –subcidadania. não têm água sequer para satisfação de suas
necessidades mais básicas e mínimas.
A decisão biopolítica de fazer viver ou deixar
morrer, valorando a vida humana com a exclusão Os direitos fundamentais exsurgem na defesa
de quem tem menos ou nenhum valor é uma destes grupos ambientalmente vulnerabilizados
dimensão injusta e trágica do biopoder e da e se posicionam contra a correnteza excludente
soberania. Com a formação de grupos excluídos, da biopolítica. Os grupos outsiders ambientais
os outsiders, o racismo fica em evidência. A vida são encarados pelos políticos brasileiros não
nua, matável, descartável, irrelevante se espalha como cidadãos que precisam de apoio para
por diferentes grupos vulneráveis, inclusive, na garantia de seus direitos, mas como votos em
esfera ambiental. potencial. O título de eleitor vale mais do que
a identidade ou o cadastro de pessoa física.
A omissão e a permissividade do poder público
em relação aos problemas sócio-ambientais é Esse mar de subcidadãos que têm sede e fome
uma demonstração da biopolítica em sua faceta configura um número incrivelmente alto de vo-
excludente e discriminante. Nas balanças do so- tos para os candidatos que prometem acabar
berano, com as tomadas de decisões, algumas com a seca no sertão. A retomada da cidadania,
vidas pesam mais que outras. A vida de deter- injustamente furtada destas pessoas, serve
minadas pessoas – subcidadãos – têm menor apenas como vã promessa eleitoreira e como
relevância do que a vida de outras – cidadãos garantia de votos. A qualidade de vida destas
e sobrecidadãos. pessoas é relega a um plano anômico, sequer
discussão.
A questão da escassez água destaca-se mun-
dialmente como um problema da sociedade Não há interesse político em resolver o proble-
contemporânea e que põe em risco a civilização ma da seca no Nordeste brasileiro. O joguete
e o futuro da humanidade e do planeta. Os fato- biopolítico dos mecanismos de poder com a
res humanos que interferem o ciclo hidrológico vida destas pessoas é ultrajante. A memória
e na distribuição equitativa da água entre as dos horrores dos regimes totalitários está viva
pessoas têm papel relevante neste contexto. no mundo inteiro, mas quem se preocupa com

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