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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Aluna: Agatha de Lima Sampaio


Polo: Nova Iguaçu
Matricula: 11112080031

2017.2
Um olhar sob a prática docente alfabetizadora a partir do PNAIC

Resumo

Este artigo busca analisar o Pacto Nacional da Educação (PNAIC) como política pública
de melhoria dos índices de alfabetização no país. Nesse sentido busca investigar como o
PNAIC foi estruturado e organizado, como tem sido desenvolvido, avaliado e quais os
resultados apresentados, assim como os aspectos negativos que precisam ser melhorados.
Para alcançar esse objetivo serão analisados documentos e dados oficiais do programa,
revisão bibliográfica de pesquisas acadêmicas sobre essa temática e relatos de partícipes
dos cursos de formação, assim como relatos da minha própria experiência como
professora alfabetizadora das redes municipais de Japeri e Duque de Caxias e participante
das formações oferecidas pelo pacto nesses municípios. Esse trabalho será concluído
através de reflexões sobre os impactos do PNAIC na prática dos professores
alfabetizadores brasileiros.

Palavras-chave
Alfabetização; políticas públicas; prática docente.

Introdução.
Esse artigo surgiu a partir de inquietações que surgiram através das minhas
experiências como professora alfabetizadora nas redes municipais de educação de Japeri
e Duque de Caxias. Em 2014, assumi a minha primeira turma como professora regente
numa escola municipal de Japeri. Era uma turma de 2º ano, e num primeiro momento me
surpreendi ao perceber que o nível de aquisição da leitura e escrita, daqueles alunos,
estava muito abaixo do esperado para aquele ano de escolaridade. Nesse mesmo ano,
participei dos encontros de formações do PNAIC que em 2014 foi de alfabetização
matemática, o que me levou a repensar sobre esse programa.
Nessa trajetória como professora alfabetizadora e estudante de pedagogia, tive a
oportunidade de conhecer e conversar com muitos professores que atuam na
alfabetização. Nesses momentos de troca, pude perceber que muitos docentes encontrar
dificuldade para elencar a melhor estratégia ou recursos metodológicos para alfabetizar.
Pesquisam, estudam, se desgastam e se sentem culpados quando o discente não consegue
aprender a ler e a escrever no tempo previsto. Ao se lançar a reflexão sobre a alfabetização
surgem muitos questionamentos: Como alfabetizar? Os ciclos de alfabetização são uma
boa ideia? Pude observar que muitos professores tem a compreensão de que práticas
alfabetizadoras tradicionais são obsoletas e não atendem as atuais demandas da sociedade,
mas muitas vezes se prendem a elas pois se sentem inseguros e despreparados para tentar
novas práticas.
Segundo dados do Censo Demográfico do IBGE, em 2010 em 38,7% de todo o
território nacional, menos de 85% das crianças estavam alfabetizadas aos 8 anos de idade.
Somente em 26,3% de todo o território nacional, mais de 95% das crianças estava
alfabetizada aos 8 anos de idade. A pesquisa também mostra que há muitas diferenças
entre as regiões brasileiras, os piores resultados são encontrados nas regiões norte e
nordeste em oposição às regiões sul, sudeste e centro-oeste que apresentam melhores
resultados.
Esses dados apontam para a necessidade de medidas que assegurem a
alfabetização das crianças até 8 anos de idade, em conformidade com a meta 5 do Plano
Nacional de Educação (PNE/2014) que propõe “alfabetizar todas as crianças, no máximo,
até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental”. Como resposta a essa
problemática foi lançado pelo Governo Federal o Pacto Nacional pela Educação na Idade
Certa (PNAIC). Não existe dúvidas de que há a necessidade de ações públicas em relação
a alfabetização no Brasil. A formação continuada dos professores alfabetizadores é um
pilar importante para que hajam melhorias sólidas. Mas como essa formação tem sido
realizada? Como tem afetado a prática docente? Será que o que tem sido feito é suficiente?
O que mais precisa ser feito?
Nesse contexto, surgiram as presentes reflexões sobre a alfabetização e o que tem
sido feito a nível de políticas públicas no Brasil contemplando essa área, em especial
trazendo um olhar sob o PNAIC e como esse programa tem afetado o trabalho docente.
O que é o PNAIC?
O Pacto Nacional pela Educação na Idade Certa – PNAIC foi criado em 2012 pelo
Ministério da Educação e tem como objetivo assegurar a alfabetização plena de todas as
crianças de até 8 anos de idade ao final do 3º ano do ensino fundamental, através da
parceria entre o governo Federal, universidades públicas, os estados e os municípios. No
portal do PNAIC no site do MEC, é encontrada a seguinte definição para a alfabetização
plena:
Aos oito anos de idade, as crianças precisam ter a
compreensão do funcionamento do sistema de escrita; o domínio
das correspondências grafofônicas, mesmo que dominem poucas
convenções ortográficas irregulares e poucas regularidades que
exijam conhecimentos morfológicos mais complexos; a fluência
de leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de
produção de textos escritos. (MEC, 2013)
Com o intuito de alcançar tal objetivo, o PNAIC é estruturado em quatro eixos de
atuação, que podem ser encontrados detalhadamente no portal do programa: formação;
materiais didáticos; avaliações; e gestão, mobilização e controle social. Sendo a formação
continuada de professores alfabetizadores o principal eixo. Segundo a proposta inicial do
programa, que teve início em 2013, essa formação será realizada por Instituições de
Ensino Superior (IES), através da promoção de um curso presencial de 2 anos, com carga
horária de 120 horas por ano, direcionado aos professores do ciclo de alfabetização (1º a
3º ano do Ensino Fundamental). Os cursos serão ministrados no próprio ambiente de
trabalho dos profissionais, dentro de cada município. Sendo os encontros mediados pelos
Orientadores de Estudo, que são professores da própria rede municipal e estadual, que
farão um curso específico, com 200 horas de duração por ano, ministrado pelas
universidades públicas que aderiram ao Pacto. A metodologia desse curso é baseada em
estudos e atividades práticas.
O segundo eixo do programa é referente aos materiais didáticos. São distribuídos
para as escolas das redes de ensino participantes do Pacto, um conjunto de materiais
específicos para a alfabetização, que conta com: os livros didáticos e respectivos manuais
do professor, as obras pedagógicas complementares e acervos de dicionários de língua
portuguesa, ambos entregues pelo PNLD; jogos pedagógicos de apoio à alfabetização;
obras de referência, de literatura e de pesquisa entregues pelo PNBE; e obras de apoio
pedagógico aos professores. Foi previsto também, o aumento da quantidade de jogos e
livros entregues às escolas, com o intuito de que cada turma de alfabetização tenha um
acervo acessível na própria sala de aula.
Outro eixo fundamental do Pacto são as avaliações sistemáticas, que abrangem
três elementos principais:
As avaliações realizadas continuamente pelos professores junto aos alunos,
denominados de avaliações processuais, que são debatidas durante o curso de formação.
Nos cadernos de formação do PNAIC, estão descritos cada competência e habilidades
que o professor deve avaliar em cada etapa do Ciclo.
A Provinha Brasil, que é uma avaliação externa realizada pelos alunos no início e
no final do segundo ano do Ensino Fundamental. Os professores deverão inserir os
resultados da Provinha Brasil de cada criança, num sistema informatizado no qual terão
acesso, o SISPACTO, que é um sistema que foi desenvolvido com o objetivo de
acompanhar e monitoras as ações desenvolvidas nas formações.
E a Avaliação Nacional da Educação (ANA) coordenada pelo INEP. Outra
avaliação externa aplicada a todos os alunos ao final do terceiro ano do Ensino
Fundamental nas escolas públicas. Que tem como objetivo, avaliar o nível de
alfabetização alcançado pelas crianças ao final do ciclo. Medindo o desempenho dos
alunos em três quesitos: leitura, matemática e em escrita.
E o último eixo norteador do PNAIC, denominado de Gestão, mobilização e
controle social dispõe sobre a administração do Pacto que está sustentada em quatro
esferas. Composta por: Um Comitê Gestor Nacional; uma Coordenação Institucional em
cada estado e no Distrito Federal; uma Coordenação Estadual, responsável pela
implementação e monitoramento das ações em sua rede e pelo apoio à implementação
nos municípios; e uma Coordenação Municipal, responsável pela implementação e
monitoramento das ações na sua rede. O PNAIC ainda prevê pagamento de bolsas aos
professores participantes e a premiação de boas práticas alfabetizadoras. (MEC, 2013)
Segundo informações do Ministério da Educação (MEC), 4.997 municípios
brasileiros concluíram o processo de adesão ao pacto até dezembro de 2012, o que
representa 89,8% dos municípios do país. Outros 328 aderiram parcialmente, não
concluíram o processo de adesão ou não se manifestaram, apenas oito municípios optaram
por não firmar o acordo. Esses dados mostram uma grande adesão nacional ao Pacto.

O PNAIC e o trabalho docente


A partir do diálogo com vários professores da rede municipal de Japeri, no estado
do Rio de Janeiro, durante os encontros do PNAIC nessa rede em 2014, foi possível
observar um descontentamento de muitos docentes em participar dessas formações.
A principal reclamação era o excesso de carga de trabalho. Uma vez que os
encontros eram realizados mensalmente fora do horário de trabalho, normalmente aos
sábados, ocupando o tempo livre dos professores. Outro aspecto comentado é que as
formações demandam a confecção de materiais de apoio e jogos variados, a aplicação
dessas metodologias em sala de aula, o planejamento dessas ações, e vários instrumentos
de avaliação. Acumulando assim, vários comprometimentos burocráticos, sem a
disposição de tempo hábil para a realização dessas atividades, dentro do horário de
trabalho. Lembrando que a rede municipal de Japeri não destina 1/3 de planejamento aos
docentes. Como consequência, os docentes acabam tendo que realizar essas atividades
em seus horários livres, pois são cobrados caso não realizem.
Os professores recebem uma bolsa de duzentos reais mensais para participar dos
encontros. A bolsa é uma forma de incentivar a participação dos docentes. Porém é um
valor simbólico, considerando os custos com a locomoção e alimentação, e os gastos com
a confecção dos materiais propostos nas formações. Uma vez que em muitas redes
públicas de ensino, o professor precisa custear os recursos que utiliza em sala de aula.
Na tentativa de apresentar soluções para a problemática da distorção idade-
série na alfabetização, a maioria das políticas públicas voltadas para a alfabetização tem
se pautado na formação continuada dos professores. É preciso sim que haja investimentos
públicos em formação continuada de professores. Entretanto observamos que as
formações oferecidas pelo Estado se mostram fragmentadas e emergenciais, em
contrapartida há uma grande cobrança por resultados.
É preciso se ter em mente que a docência na educação básica brasileira sofre uma
desvalorização. Baixos salários, desprestígio social, turmas lotadas, dupla ou tripla
jornada de trabalho, insuficiência de recursos pedagógicos, são alguns fatores observáveis
no cotidiano dos docentes de várias redes de ensino no território nacional. Todos esses
fatores acarretam o que Souza (2015, p.22) chama de “precarização, intensificação e
autointensificação dos professores”. Considerando que os professores acumulam várias
funções, seu trabalho não se limita as horas aulas que passam com os alunos. Muito
comumente os professores inclusive realizam diversas atividades relacionadas a sua
prática escolar fora da escola, em seu tempo livre. Em outras palavras, os cursos de
formação continuada promovidos pelo poder público, aumentam as atribuições docentes.
No discurso oficial desses programas, ouvimos constantemente o discurso de que
a preocupação é a promoção de melhorias na qualidade do ensino através da capacitação
dos professores, quando na verdade o que se tem é um controle maior sob o trabalho
docente, com cobranças em relação a aprendizagem dos alunos. (SOUZA, 2015). A
exemplo disso, um dos eixos do PNAIC é denominado avaliação, acompanhamento,
controle social, demonstrando a clara intenção de se ter um maior controle sob a prática
docente. Amaro (2013, p.40) citado por Souza (2015), corrobora com essa ideia ao
afirmar que no Brasil as avaliações externas têm sido utilizadas com o propósito principal
de “avaliar professores por meio do desempenho dos alunos, premiando-os ou punindo-
os”.
Os conteúdos do material utilizado nas formações do PNAIC são elaborados pelo
governo. Os mesmos cadernos de formação são utilizados em toda as redes municipais
que aderiram ao Pacto, independentemente de suas peculiaridades. O modelo de
atividades que precisam ser realizadas nas turmas de alfabetização, assim como a
delimitação das competências que se espera que os alunos alcancem, já chega pronta aos
encontros de formação, não sendo construídas coletivamente, apenas transmitidas.
Segundo Hypolito (2011, p. 15) citado por Souza (2015, p. 31) “o objetivo de toda
reforma, é obter o controle efetivo da sala de aula”, controle alcançado através do
currículo, aumentando a padronização por meio das avaliações e índices de
desenvolvimento, determinando assim o que deve ser ensinado, e como deve ser
ensinado, diminuindo cada vez mais a autonomia do professor e da própria escola que
acaba tendo que organizar sua prática para alcançar as metas externas delimitadas pelo
governo. Nessa perspectiva o professor assume a posição de executor de atividades pré-
estabelecidas, assumindo-se como o principal responsável por assegurar que as crianças
sejam alfabetizadas até os 8 anos de idade.
Observa-se que essa cobrança crescente em relação ao trabalho docente, muitas
vezes, não é acompanhada por ações que melhorem as condições de trabalho do professor.
Medir o sucesso da alfabetização seguindo o viés do desempenho docente,
responsabilizando-o pelos fracassos, sem considerar o contexto sociocultural da escola e
dos alunos e as condições de trabalho é unilateral e desonesto, pois ao “desviar a atenção
da sociedade culpabilizando os professores pelos problemas da educação, desvia a
atenção do real problema, que é a falta de condições de trabalho e de ensino, e, como
decorrência, da falta e condições de aprendizagem” (GHEDIN, 2004, p. 399 apud Souza,
2015, p. 27)..

Conclusão
Garantir a alfabetização plena de todas as crianças até os 8 anos de idade no Brasil
é uma realidade distante e um grande desafio. É preciso pontuar que esses desafios estão
além da técnica de ensino e da vontade dos professores alfabetizadores. Para que ocorram
melhorias concretas na educação básica, e especificamente na alfabetização é preciso que
haja mudanças estruturais nas políticas públicas para a educação e ouvir as propostas dos
docentes.
Não basta realizar pequenos cursos de capacitação emergenciais, fragmentados e
curtos como o PNAIC, se não há programas concretos que assegurem uma formação
inicial e continuada de professores de qualidade. Se não há capacitação sólida dos
profissionais da educação e valorização do magistério com propostas de planos de carreira
dignos, somados a deterioração das condições de trabalho, não há mudança. Não existem
soluções mágicas que resolvam o problema da educação, mas existem sim, investimentos
possíveis para que essa mudança comece a ocorrer.
Concluo esse texto com o que disse Hernández em sua visita ao Brasil: “não se
pode falar em mudar a escola se ela não tem uma série de condições materiais e de
recursos que permitam realizar, com dignidade, o trabalho docente, e sem que os
professores recebam um salário justo por seu trabalho”. (HERNANDEZ, 1998, p. 10)

Referências
BORDIGNON, L. H. C.; PAIM, M. M. W. História e políticas de alfabetização e
letramento no Brasil: Breves apontamentos com enfoque para o Plano Nacional de
Educação. Momento, Rio Grande, v.14, n.1, p. 89-117, 2015.

BRASIL. Ministério da Educação. Pacto Nacional pela alfabetização na Idade Certa,


2012. Disponível em: < http://pacto.mec.gov.br/o-pacto> Acesso em: 03 jul. 2017.

HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho.


Porto Alegre: Artmed,1998.
JORNAL LETRA A. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Edição
especial analisa a implementação e a continuidade do programa. Centro de alfabetização,
Leitura e Escrita, Faculdade de Educação/UFMG. Belo Horizonte, Ano 10, nº 3,
março/abril 2014.

SOUZA, Tatiana Palamini. O Trabalho docente e os programas de formação continuada


para professores alfabetizadores. 2015. 105 f. Dissertação de Mestrado - Universidade
Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2015.

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