Vous êtes sur la page 1sur 38
INDICE 1. Interpretaco de textos 2. Intertextualidade 3. Contexto 4. Niveis de leitura . 5. Estrutura textual 6. Possibilidades de leitura .. 7. Produgao textual .... 8. Tese .. 9. Introdugao 10. Argumentos 11. Coesdo € coeréncia 12, Adequagao vocabular 13, Progressao discursiva 14, PLanejamento . 15, Figuras de sintaxe . 16. Figuras de linguagem pg 32 17. Vicios e anomalias da linguagem .......... Pg 35 18. O que deve ser evitado numa redag&o ... pg 36 pg 10 -pg 11 -pg 13 pg 14 pg 28 pg 30 pg 31 Teed 1. Interpretagao de textos - © conhecimento de mundo Quando lemos um texto, buscamos um sentido para ele. O texto pode nos fazer rir, chorar, causar divida, compreensdo, raiva, compaixdo, calma. Isso porque ele articula em nés o que chamamos de “conhecimento de mundo”. Fazemos parte de uma sociedade, e isso causa em nds impressdes diversas no dia a dia. Cada ser numa sociedade internaliza seu conhecimento de acordo com aquilo que aprende na escola, com os amigos, com a familia, vendo televisdo, lendo livros ou jornais. Esse conhecimento, embora particularizado, segue uma rotina, um lugar-comum e tem um determinado padrao, mesmo com variagées. Cada autor, quando produz seu texto, carrega em si o seu conhecimento de mundo, que fica impresso no texto. O leitor, por seu tumo, também tem suas experiéncias, que sdo ativadas toda vez que [6 um texto, por exemplo. As questées de concurso, nao raro, trabalham com esse conceito para fazer o candidato “escorregar” ‘em padrdes pré-estabelecidos e errar itens cuja resposta representa uma impressao do leitor e ndo do texto. Uma prova pode ter um texto, por exemplo, que trata de corrupgao. Infelizmente, essa pratica é comum no Brasil e, sabendo que cada cidadao ja refletiu sobre o assunto e tem uma opinido formada sobre o tema, principalmente um candidato a um cargo pubblico, a banca utiliza um texto que narra um caso de corrupgao que foi deflagrado pela Policia Federal, expondo, inclusive, o nome da operagao, digamos, “Olho grande”. A leitura segue, entdo, afirmando que a investigacao concluiu que houve fraude em lici- tages para compra de material de uso corrente de érgao do Poder Executivo Federal. O autor opina, ainda, que 0 Governo Federal deve reprimir essas agdes para evilar que 0 patriménio publico seja lesado. Mais tarde, na questao, a banca afirma que, segundo o texto, a Presidenta Dilma Roussef deve ordenar uma investigagao para apuragao dos fatos e determinar a punigao dos culpados. O candidato apressado vai errar acreditando que 0 texto, de fato, faz essa afirmacgao, quando na ver- dade ele apresenta, de forma genérica, um anseio de todo cidaddo. Aquele que erra essa questéo expée, na verdade, seu desejo intimo de que os culpados sejam punidos no rigor da lei, mas nao perce- be que, além de o texto em momento algum fazer tal afirmagao, a presidenta tem outros recursos para combater a corrup¢ao que nao a instalagao de uma investigagdo. Na realidade, a banca reutilizou uma palavra expressa no texto com o sentido completamente deformado somente para fazer o candidato errar. A forma de escapar da armadilha é uma velha conhecida: ler com atengo 0 texto, sublinhando palavras ou expressdes-chave e retornar ao trecho sempre que solicitado pelo comando da questao. Parece que ndo, mas perde-se mais tempo fazendo o contrario, afinal, o texto se tomara mais claro a cada releitura de trechos e a revisdo nao sera necessaria. Teed ~Ainferéncia ‘A interpretagdio de um texto passa pela inferéncia, Ela é uma forma de tornar o texto mais enxuto, sem informagées intiteis e redundantes. Faz parte, entao, do processo de leitura a inferéncia, embora ela aparega somente em alguns momentos. Vamos 20 exemplo. Suponha que vocé encontre um amigo que havia anos que nao via. Ele diz que esta com pressa. Precisa ir 20 hospital porque sua mulher esta em trabalho de parto, Voc, surpreso diz “Ela esta gravida!” e ele completa “Sim, do cagula!”, Além de inferir que a mulher do seu amigo esta gravida, agora vooé pode in- ferir que o casal tem mais de um filho Fazemos isso ao interpretarmos um texto, mas, atengao! A inferéncia se da apenas quando a constatagao 6 irrefutavel, fora isso, estamos apenas especulando. -Aleitura O texto é um conjunto, um todo. A partir dai, percebemos que uma analise apurada de um texto requer a leitura do todo, nunca apenas de uma parte. Isso porque uma parte isolada do texto pode levar a uma interpretagao equivocada, é como uma reportagem jornalistica com foco em somente um detalhe, sem considerar nuances, contextos, testemunhas, etc. Disso depreende-se que, nas palavras de Platao e Fiorin, “para entender qualquer passagem de um texto, é necessério confronté-las com as demais partes que o compdem sob pena de dar-Ihe um signifi- cado oposto ao que ela de fato tem.” ‘Além de ser um todo, um texto néo 6 uma pega alheia a um contexto. Ele, como representagao de um conhecimento de mundo, e fazendo parte dele, esta inserido em uma rede de conexdes e denota, sempre, uma intengo por tras dele. A partir desse estudo, percebe-se que para se fazer uma leitura verdadeiramente eficaz de um texto, deve-se considerar os seguintes pontos: a) todo texto carrega consigo um conhecimento de mundo e busca estabelecer um debate com a socie- dade de forma a relacionar as experiéncias do autor com as do leitor; ) interpretar 6, sobretudo, inferir, 0 que significa que todo texto apresenta uma relagdo légica com 0 mundo; c) 0 texto deve ser visto como um todo e basear-se apenas em fragmentos isolados dele pode levar a erro de interpretagao; d) 0 texto nao € uma pega isolada, antes, faz parte de um contexto, esta inserido no mundo. Teed 2. Intertextualidade: Sabemos que os textos nao so pegas isoladas ¢ que se relacionam com outros textos, afinal, texto ¢ tudo aquilo que apresenta um sentido, sendo por articulagao da linguagem escrita, falada, pictografica, auditiva, sensorial ou visual. O importante & exprimir um sentido global inteligivel e se relacionar com 0 que conhecemos do mundo. Afinal é justamente essa caracteristica do texto em se relacionar com 0 mundo que o torna passivel de interpretagao. Mas vamos tratar aqui de um caso especial de conexdo textual que ¢ a intertextualidade. Essa relac&o entre textos € muito comum em concursos, principalmente o do Instituto Rio Branco, que cobra seu contetido em dois momentos: na interpretagdio de textos — tanto na 1® quanto na 2* fase — na proposta de redagaio, em que a banca normalmente expée um texto e pede ao candidato que redija uma redagao de acordo com o tema abordado. Bom, com isso vocé ja percebeu o que € 0 intertexto. Nada mais é que um ou varios pontos de encontro entre dois ou mais textos. Carregue esse conceito dentro de si: os textos se relacionam ativa ou passivamente e sua vida sera outra! O exemplo classico é Cangao do exilio, de Gongalves Dias ("Minha terra tem palmeiras..."), que deu origem a varias releituras, como a Cangdo do exilio de Murilo Mendes ("... nossas frutas mais gostosas / mas custam cem mil réis a duzia") e o Hino Nacional Brasileiro (“Nossos bosques tém mais vida / Nossa vida, no teu seio, mais mores”). O exemplo € perfeito porque encerra passagens que reforgam a ideia ufanista do poema de Goncalves Dias ou o subvertem, fazendo uma anilise critica do préprio poema ou da sociedade. Para uma correta percepco da intertextualidade é preferivel que o leitor tenha amplo repertério, o que 86 a pratica da leitura 6 capaz de proporcionar. (eons Continuidade dos Parques Comegara a ler 0 romance dias antes. Abandonou-o por negécios urgentes, voltou a leitura quando re- gressava de trem a fazenda; deixava-se interessar lentamente pela trama, pelo desenho dos perso- nagens. Nessa tarde, depois de escrever uma carta a seu procurador e discutir com 0 capataz uma questo de parceria, voltou ao livro na tranquilidade do escritério que dava para o parque de carvalhos. Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que 0 teria incomodado como uma irritante possibilidade de intromissdes, deixou que sua mao esquerda acariciasse, de quando em quando, o veludo verde e se pds a ler os ultimos capitulos. Sua memoria retinha sem esforgo os nomes e as ima- gens dos protagonistas; a fantasia novelesca absorveu-o quase em seguida. Gozava do prazer meio perverso de se afastar, linha a linha, daquilo que o rodeava, a sentir ao mesmo tempo que sua cabega descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mo, que além dos janeldes dangava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela trégica desunido dos herdis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movi- mento, foi testernunha do tiltimo encontro na cabana do mato. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara ferida pelo chicotago de um galho. Ela estancava admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava as caricias, nao viera para repetir as ceriménias de uma paixao se- creta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos, o punhal ficava morno junto a seu peito, € debaixo batia a liberdade escondida. Um dialogo envolvente corria pelas paginas como um riacho de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde o comego. Mesmo essas caricias que envolviam o corpo do amante, como que desejando reté-lo e dissuadi-lo, desenhavam desagradavel- mente a figura de outro corpo que era necessério destruir. Nada fora esquecido: impedimentos, azares, possiveis erros. A partir dessa hora, cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuido. O re- exame cruel mal se interrompia para que a mao de um acariciasse a face do outro. Comegava a anoitecer. Ja sem olhar, ligados firmemente @ tarefa que os aguardava, separaram-se na porta da cabana, Ela devia continuar pelo caminho que ia 0 Norte, Do caminho oposto, ele se voltou um instante para vé-la correr com o cabelo solto, Correu por sua vez, esquivando-se de arvores e cercas, até distinguir na résea bruma do crepisculo a alameda que o levaria 4 casa. Os cachorros nao deviam latir e no latiram O capataz no estaria Aquela hora, e nao estava. Pelo sangue galopando em seus ouvides chega- vam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do saldo, e entio o punhal na mao, a luz dos janelées, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeca do homem na poltrona lendo um romance. CORTAZAR, Julio. Final do jogo. Trad. Remy Gorja Filho. Rio de Janeiro, Ed. Expresso e Cultura, 1971 Teed No texto, a acomodacao do leitor-protagonista vai-se dando por meio da insergao no espace ficcional a partir do espago que o cerca. A seguir ocorre a simbiose entre personagem e 0 mundo de ficgao, com a introdugo da narrativa do romance no conto. Ao final do conto ocorre a conjungao das relacdes entre tempo e espaco. A diferenca entre a cena inicial ea final é a passagem da dimensao utépica (onirica, linear, irreal, acomodadora) para a heterotropica (inquietadora, incémoda, real). O espago da acomodagao cede lugar para o espago do incémodo. Segundo Foucault, a ilusdo constréi-se para denunciar o ilusério, isso porque as heterotropias tém o poder de justapor em um sé lugar real varios espagos, varios posicionamentos que so em si préprios in- compativeis. O espago da localizagao faz frente ao espaco do posicionamento. Para defender qualquer ponto de vista, precisamos de evidéncias para que a argumentagao nao caia no vazio. Para tanto, vamos fundamentar a interpretaco acima com trechos do texto. 1. Aacomodagao do leitor-protagonista vai-se dando por meio da inserg4o no espago ficcionall a partir do espago que 0 cerca: "Palavra por palavra, absorvido pela tragica desunido dos herdis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do ultimo encontro na cabana do mato.” 2. A seguir ocorre a simbiose entre personagem e o mundo de ficgo, com a introdugo da narrativa do romance no conto: "Primeiro entrava a mulher, receosa (...) a cabega do homem na poltrona lendo um romance.” 3. Ao final do conto ocorre a conjungao das relagdes entre tempo e espago. “Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que 0 teria incomodado como uma irritante possibilidade de intromissdes, deixou que sua m&o esquerda acariciasse, de quando em quando, o veludo verde e se pés a ler os Ultimos capitulos.” e “A porta do saldo, e ento o punhal na mao, a luz dos janel6es, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabega do homem na poltrona lendo um ro- mance.” Aargumentagaio que se segue s conclusées sobre o texto é consequéncia de estudo aprofundado na rea, que s6 um vasto repertério pode proporcionar, conforme dito anteriormente. Entretanto, seu uso aqui tem fins meramente didaticos. Uma boa analise textual prescinde de tamanha pesquisa e é possivel mantendo atengao aos detalhes tais como titulo, escolha do vocabulario, tipo de sintaxe, apresentagao (em verso, em prosa, com ou sem rima, etc.), uso de artigo definido ou indefinido, entre outros. No caso em tela, 0 titulo é “Continuidade dos Parques’, que reforga a argumentagdo ja exposta. © vo- cabulario é fluido e simples, como num romance que nos entretém numa historia comum de traicao. A sintaxe reitera 0 uso do vocabulario: fluida e basica, bem como a apresentagao em prosa, no formato de pequeno conto. Por fim, 0 uso do artigo definido em “Comegara ler o romance dias antes.” revela que 0 livro ja era supostamente conhecido e, ao final, percebemos que se tratava da vida do proprio protagonis- tae por isso a preferéncia pelo definido em detrimento do indefinido. Parece dificil, mas com 0 tempo ficamos “craques” e nossos olhos automaticamente buscam as carac- teristicas comuns que ressaltam o caminho que deve ser seguido para uma adequada interpretacao. Voce provavelmente esta perguntando-se por que esta lendo tanto sobre interpretacao. Pois bem. Adi- anto que impossivel escrever bern sem saber entender o mundo ao seu redor. Interpretamos varios sinais 0 tempo inteiro e quem nao se ajusta enfrenta problemas. No servigo publico nao é diferente e por isso as bancas tém sido cada vez mais rigorosas nas redagdes ION; Teed 3. O contexto Como vimos anteriormente, todo texto 6 um pronunciamento de algo pertinente ao mundo, uma vez que se relaciona com ele por meio do debate em sociedade. Assim, ele possui um contexto, que o influencia @ 0 torna Unico. E como uma cangao de Chico Buarque da década de 1970. Sabemos que seu tema provavelmente tera rela¢ao com a ditadura e poderemos buscar nela fundamentos que apoiem essa possibilidade. Sobretudo os textos que narram situagdes nao reais, como os filmes de ficcao cientifica ou as histérias de super-herdis, Embora a saga no seja real, apresenta ‘ideais, concepg6es, anseios e temores de um povo numa determinada época” (Plato & Fiorin). Tais textos revelam o que chamamos de verossimi- lhanga. Ela é responsével por tornar um texto aparentemente irreal em algo possivel, palpavel e que leitor possa compreender. E dizer, 0 texto tem um ponto de apoio capaz de torna-lo real, por mais louco que seja. Assim, um texto passa a ser plausivel, verossimil. Ent&o, se 0 super-homem pode voar, ele também vem de outro planeta, e por isso é dotado de tal capacidade. Se o Homem Aranha pode saltar de edificios e apoiar-se numa teia de aranha, ele o faz porque sofreu um acidente que Ihe rendeu a faganha. Se a Matrix relata uma realidade paralela, toda ela é explicada por meio de linguagem de pro- gramagéo de computador. E assim, tudo passa a parecer real. Vale sempre, portanto, verificar 0 contexto historico de cada texto para ter dele sua verdadeira intengdo endo confundir, por exemplo, uma concepeao a respeito do papel da mulher na sociedade em 1930 com uma atual. eee 4, Os niveis de leitura i possivel fazer uma analise textual em trés niveis de leitura: o primeiro apresenta significados mais claros e concretos; o segundo revela intengGes ¢ tipo de abordagem e o terceiro carrega a abstragao completa do texto com seu significado real e resumido. Dessa maneira, podemos encontrar valores distintos no nivel superficial e valores convergentes no nivel profundo. Vamos ver cada plano de leitura: 1) Estrutura superficial: significados concretos e diversificados. E a constatagao de quem so os perso- nagens, qual é 0 cenario, 0 contexto, 0 tempo; 2) Estrutura intermediaria: valores dos sujeitos. Em que concordam ou discordam e como o fazem; 3) Estrutura profunda: significados mais abstratos e mais simples. Analisando profundamente um texto chegamos a dois significados abstratos opostos entre si, mas que estabelecem uma unidade textual. E como se pegassemos 0 livro “Morte e vida severina’, de Jodo Cabral de Melo Neto e analisassemos da seguinte maneira: 1) O personagem 6 um retirante chamado Severino, que vive no sertdo da Paraiba, no nordeste brasi- leiro e que vai emigrar. 2) Ha diversos Severinos no Nordeste, ndo sé de nome Severino, mas Jodo, Maria, José, Jovelina, enfim, qualquer sertanejo nordestino que emigra para fugir da seca e buscar condigdes melhores de vida. 3) Seca x Agua = morte x vida. Cabe, em seguida, buscar trechos do texto que justifiquem a andlise e partir para os argumentos. Teed 5. Aestrutura textual Aestrutura profunda Como vimos anteriormente, a estrutura profunda do texto revela valores abstratos, com os quais conse- guimos chegar a uma andlise mais cabal do texto. Para tanto, precisamos reunir todos os significados que possuem algo em comum e agrupé-los para fazer uma comparagao dos valores que eles querem trazer & margem. Pois bem, se estivermos lendo, por exemplo, a historia da Chapeuzinho Vermelho, podemos reunir os significados em dois grupos; um positivo e 0 outro negativo. Vejamos: Certo (positive) Errado (negative) Chapeuzinho Vermelho Lobo Mau Mae da Chapeuzinho Falar com estranhos ‘Avo da Chapeuzinho Atender a porta com descuido Cagador Se aproveitar da inocéncia de uma crianga Adverténcias da mae Se aproveitar da inocéncia de um idoso Levar doces para a avd Mentir Defender os mais fracos Matar o Lobo Mau Se repararmos bem, apesar de o bem ser mais presente e representar o senso comum, afinal, so quatro personagens bons e apenas um ruim, 0 mau quase consegue éxito em sua empreitada, mas es- barra na “sorte” que os bons carregam consigo. Outra caracteristica que salta aos olhos ao fazermos 0 quadro é a diferenga de atitudes de pessoas jovens em relagao aos idosos e as criangas: os jovens — a mae da Chapeuzinho, 0 cagador e 0 Lobo Mau — sao os personagens que carregam a inteligéncia, 2 sabedoria, o vigor, ¢ a idosa e a crianga — Chapeuzinho e sua avé — sao inocentes, incautas, indefesas, simplorias. O uso de um texto aparentemente bobo foi proposital aqui neste estudo porque foi capaz de trazer mostra caracteristicas que néo costumamos enxergar quando lemos um texto apenas por prazer. E histéria antiga e muito conhecida, mas que provavelmente vocé nunca tinha visto por esse ponto de vista. eee 6. As possibilidades de leitura Alguns textos permitem mais de uma leitura. Sao textos que apresentam figuras com dupla interpre- taco, 0 que ndo quer dizer que nao é possivel sua interpretacao. Nesses textos, 0 leitor nao tem uma prova contundente e cabal; ele tem possibilidades de leitura. Esse recurso ¢ muito utilizado em textos humoristicos justamente por dizerem uma coisa querendo dizer outra. Por exemplo, o jornal "Meia Hora” é conhecido por publicar manchetes de duplo sentido, o que gera uma nova dicotomia: ele é amado por muitos € odiado por tantos outros. Brincadeira. Vamos la. Uma dessas manchetes foi publicada por ocasiao da declaragao do ator Fabio Assun¢ao de que se a- fastaria dos palcos para fazer tratamento contra as drogas. O "Meia Hora” nao perdeu tempo e publicou a seguinte manchete: "Fabio Assung&o dé um tempo na carreira” Essa frase nos da duas possibilidades de leitura: 1) Fabio Assunco se afastara das novelas e do teatro (carreira de ator); 2) Fabio Assungao se afastara das drogas (carreira de cocaina, que os consumidores costumam fazer para facilitar 0 uso da droga). As duas leituras s0 plausiveis, ndo excludentes e nao configuram erro porque a intengo é justamente essa. O leitor escolhe o que quer ler. Para saber se ha de fato por meio do autor inteng&o de produzir um texto com dois planos de leitura, basta analisar se ha sinais de outras “ambiguidades” ao longo do texto. No caso do jornal, sua capa ¢ conhecida por conter exatamente 0 tipo de manchete com duplo sentido para causar riso facil. Teed 7. Aprodugao textual Ao estudar as aulas anteriores, vocé péde perceber que antes de escrever é necessario aprender a ler adequadamente qual a mensagem do texto. Isso significa interpretar os dados que ele apresenta como cédigo, forma, tese, argumentos, Iéxico, personagens, sonoridade, etc. e sacar dele o seu tema. Nao é & toa que as bancas de concurso normalmente apresentam um ou mais textos e pedem para o candidato escrever sobre o tema abordado, afinal, sair do tema significa um belo e redondo zero. E mais uma ma- neira de eliminar o desavisado. Com isso, vocé aprendeu a ler interpretando, mas ndo deve se esquecer de fazer também uma leitura critica. Questione tudo o que Ié e considere todo texto uma forma de estudar. Antes da prova, sempre que estiver lendo algo pergunte-se sobre a veracidade do que est sendo afirmado. Lembra-se de Roland Barthes? Em sua aula, ele ensina que a lingua é fascista e que 0 cédigo nos limita, impondo regras. Ao ler um texto tendo em mente tals regras, vooé sera capaz de identificar as intengdes do autor de modo a perceber seu posicionamento em relacao ao tema proposto. Um bom exercicio para isso ¢ pegar a mesma noticia e ler em jomais diferentes. Compare, por exemplo, a revista Veja com a Le Monde Diplomatique e analise por que cada uma esconde alguns fatos e revela outros. Dispa-se dos preconceitos e faca uma leitura fria. Apartir desse ponto, vocé tera a capacidade e o discernimento necessarios para uma boa produgao tex- tual, que, segundo uma professora minha da Faculdade de Letras, depende da habilidade do autor em transformar ideias em palavras articuladas. Sabe quando pensamos em algo, mas nao conseguimos nos expressar ou no conseguimos nos expressar sem cair no lugar comum? Era a isso que ela se referia. Bom, vamos ao que interessa, afinal, estamos aqui para aperfeigoar a escrita. 8. Atese (texto dissertativo) Todo texto - eu disse 'todo texto’ - carrega consigo um sentido, um significado, um porqué de ter vindo a este mundo. Sendo nao seria texto. Seria um de nés questionando a religido, a ciéncia, 0 Big-Bang e tudo o mais. O texto nao. Ele sabe o que quer. Uma receita, um bilhete, uma carta, uma noticia, um poema Eu posso juntar varias palavras, mas, se elas nao fizerem sentido juntas, nao serve. Nao precisa ser "en- tendivel", basta ser "inteligivel". Sacou a diferenga? Sabe o codigo... Roland Barthes... entéo, eu posso quebrar regras, mas para me fazer entender tenho que usar minimamente o codigo para ter um texto. Esse sentido do texto sera apresentado em primeira mo pela tese, que nada mais é do que uma afir- mago (verbal, porque estamos tratando de produgo textual verbal) a respeito de algo. A melhor maneira de se fazer essa afirmacdo é usando, na ordem direta, 0 sujelto, 0 verbo e os complementos. Por exemplo, se vou escrever um texto sobre a legalizacdo do aborto no Brasil, devo criar uma tese a respeito do assun- to contendo o posicionamento que irei defender ao longo do texto. Entao, posso escrever (1) "A legalizacéio do aborto no Brasil é necessaria para que mulheres ndo mais morram em clinicas clandestinas." e estarei defendo a legalizacao ou (2) "Legalizar 0 aborto no Brasil é uma arbitrariedade para justificar falta de pre- vengao." e a estarei rechagando. Em qualquer dos casos meus argumentos devero seguir a légica da tese e nunca se distanciar dela: em (1) poderia apresentar indices de mortalidade de mulheres em tais clinicas, a mercantilizag3o desenfreada da medicina em casos nao fiscalizados pelo Conselho Federal e a possibllidade de o Governo acompanhar os niimeros de mortes e de abortos para alimentar suas politicas das areas de satide e social; em (2) apareceriam os crescentes indices de DSTs devido ao nao uso de pre- servativos, depoimentos de jovens que tiveram que recorrer a métodos abortivos por descuido e possivel aumento significative nos casos de aborto, quando a concepcao poderia ter sido evitada. Repare que amarrei a tese defendendo posicionamentos fechados e fui obrigada a permanecer no tema. Eu poderia ter uma tese mais frouxa e menos arriscada, do tipo "A sociedade precisa colocar em pauta a legalizac&o do aborto." ¢ eu ficaria livre, leve e solta para falar de todos os posicionamentos, incluindo pesquisas com células-tronco, os casos permitides na Constituigao e até a polémica "Bolsa-estupro”, caso 0 texto usado como ponto de partida me permitisse tal abordagem. Percebeu onde reside o problema? E agora sacou por que a tia Rachel fez duas aulas sé sobre leitura? Jé imaginou escrever uma redagdo linda e fugir do tema? E zero na boniteza. Bom, entao a tese é isso. E isto, segundo o dicionario: "Proposig¢ao que alguém expGe propondo-se discu- tila ou defendé-ta.” Atese pode ser a primeira frase do texto, coincidindo com o tépico frasal. Mas ela também pode ser a Ultima frase do primeiro paragrafo, num estilo que chamamos de "inverso" e que é perigoso, na minha humilde opiniao. Acho que fica bonito no texto livre, sem compromisso. Numa prova, todo cuidado é ouCe, entéo sugiro o esquema normal, sem sintaxe complicada. Tese na primeira frase do texto, junto com 0 tépico frasal, numa exposigdo clara, bem definida e sintética. Para exemplificar, lela a primeira frase deste artigo: http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1465 e observe a quantidade de afir- magées que reiteram essa tese. Um bom exercicio para tese 6 ler pequenos textos e escrever duas teses para cada um colocando quais argumentos usaria para defendé-las, exatamente como fiz no caso da legalizagao do aborto. 9. Aintrodugao © paragrafo introdutério é um dos mais importantes da redagdo, afinal apresenta 0 texto, a tese e a desenvolve. Ele nao deve ser muito grande, nem muito pequeno. Trés a cinco fases sdo suficientes. A introdugao nao precisa de argumentos, apenas de uma breve contextualizagao e informagées que ndo entram na categoria de argumentos. Para definir o que e 0 que no é argumento, aconselho fazer um pequeno esquema antes de escrever. Depois que vocé conseguir saber o tema, faca um brainstorm sobre ele e comece a organizar as ideias, definindo a tese, a introdugdo, os argumentos e a conclusao. Sempre da certo! Teed 10.0s argumentos Aqui, teremos que distinguir duas formas de expor ideias: a dissertagdo e a argumentagdo. Isso porque alguns autores defendem que s6 se argumenta em textos argumentativos, diferentemente dos textos dissertativos, em que somente se expde conhecimento a respeito do tema. O texto dissertativo apresen- ta divergéncia de opiniao. Entretanto, analisando o edital do concurso do IRB, por exemplo, temos 0 se- guinte: "Sera avaliada a habilidade do candidato de redigir dissertagdo coerente e coesa, que exponha - com fluéncia e adequagao - informagGes e argumentos fundamentados ¢ logicamente encadeados.” Esse pensamento é sequido pela maioria das bancas, inclusive de vestibulares. Ora, se 0 edital diz que 0 aluno deve dissertar expondo informagées e argumentos, é porque ele quer que 0 candidato tenha contetido, claro, e o exponha da forma dissertativa classica, ou seja, com argu- mentos. Se a banca quer, a gente faz. Entao, vamos Ia. Para argumentar, é necessario demonstrar consisténcia no raciocinio e a evidéncia das provas. Para 0 primeiro, 0 ideal é fazer um planejamento antes de iniciar a redagao, de forma a analisar quais argumen- tos s40 fruto de uma ldgica baseada em estudos. A evidéncia das provas cuidara de citar autores e fatos irrefutaveis para tornar incontestavel sua légica de raciocinio. Essa evidéncia pode ser feita de varias maneiras: 1. Fatos: é necessario tomar um certo cuidado aqui. Embora os fatos sejam normalmente a melhor forma de provar um raciocinio, nem todos sao irrefutaveis, afinal, se até a Ciéncia pode mudar e admitir que errou no passado, é indispensével refletir sobre sua atenticidade em relagao ao tema abordado e atualidade. Se antigamente era fato que o homem negro era inferior e podia ser escravizado, hoje essa bestialidade nao serve mais como tal. Entretanto, um fato hoje inegavel é, p.e, que a ONU foi criada depois da Segunda Guerra Mundial, substituindo a Liga das Nagées. 2. Exemplos: so fatos tipicos, que se repetem em determinados segmentos. Saquei um trecho da dis- sertagao apresentada no Guia de Estudos da prova de 2012, referente a prova de 2011, em que o candi- dato coloca: “Observa-se, no decorrer dos processes histéricos, uma intensificagao do contato entre diferentes sociedades, sobretudo quando se considera o periodo das grandes navegacées feitas por povos ibéricos e, posteriormente, por holandeses, britanicos e franceses. As viagens maritimas realizadas nos séculos XV, XVI e XVII, periodo em que se constata a transigaio do Renascimento para a Idade Moderna, possibilitaram uma interago entre culturas particularmente distintas — a europeia e a amerindia, por exemplo." Repare que, ao final, ele exemplifica de forma explicita, mas em todo 0 trecho o candidato apresenta varios exemplos, que revelam comportamentos que podem ser tipificados. 3. llustracdes: quando um exemplo se alonga em narrativa detalhada e com descricbes. 4, Dados estatisticos: so fatos especificos, que servem como evidéncia incontestavel. 5. Testemunho: € 0 fato trazido & luz por intermédio de terceiros - "Como atesta tal autor...” Assim como nao é necessario que aparecam os 5 tipos de argumentagao na redagao, nao é necessario que eles sejam diferentes entre si. Vocé pode basear sua argumentagdo, por exemplo, em 3 fatos, sem que ela aparente pobreza. Vocé decidiré quals os melhores argumentos para apresentar na sua ex- posiggo. (eons + Os defeitos de argumentagao Aargumentago prescinde de palavras rebuscadas, sintaxe complexa ou raciocinio demorado. Ao con- trério, argumentar significa expor um raciocinio claro, com o qual se fundamenta uma tese. Qualquer ideia diferente dessa, leva o argumento & faléncia e 0 debate se perde na falacia, nas palavras vas, nas ideias frouxas. E como dizer “Fulano é bonito porque tem os olhos azuis.” Isso ¢ apenas uma opiniao, nada além. Muito diferente de dizer “Fulano é policial porque ja o vi com a farda da Policia Militar.” Os defeitos na argumentaco sao fruto do emprego de nogGes confusas, de totalidade indeterminada, semiformalizadas e/ou de argumentagdo pelo exemplo, pela ilustrag&o ou pelo modelo, como veremos a seguir. Os professores Plato e Fiorin debrugaram-se sobre esses dois principais defeitos de argumentagao ba- seando-se numa pesquisa feita em redagdes de vestibular: 1) Emprego de nogées confusas Vocé conhece 0 poema “Procura da poesia’ de Carlos Drummond de Andrade? E interessante para analisar 0 emprego do verbo “consumar”, que flexionado pode ser confundido com 0 verbo “consumir”, dentro de um contexto de produco textual, em que se reflete sobre o “estado de dicionario" das pala- vras, no qual a palavra tem um leque de significados possiveis. Pois bem, a escolha errada do significa do de acordo com o contexto leva a erro, sem que as vezes 0 autor perceba. O exemplo que os profes- sores usam é o da palavra “liberdade’. Va ao dicionario e consulte a palavra. Vocé vera todas as possi- bilidades de significado que ela oferece. Os desvios no emprego da palavra, salvo raras excecées, sero considerados erro. A palavra ‘liberdade" tem um agravante. Ela pode assumir um sentido tao amplo, que chega a ser empregada em sentidos opostos. Veja dois exemplos de redacao de vestibular: - Reagan, em defesa da liberdade dos povos latino-americanos, solicita ao Congresso americano verbas para apoiar os movimentos contrarios ao governo da Nicaragu - Daniel Ortega, presidente da Nicardgua, em nome da liberdade dos poves latino-americanos, solicita, na Onu, sangées contra os Estados Unidos pelo apoio que vém dando aos movimentos contrarios a0 governo revolucionatio. Para néo cair nesse erro, é necessario definir primeiro esse tipo de palavra para que a argumentagao nao caia no vazio. 2) Emprego de nogées de totalidade indeterminada Imagine-se escrevendo algo do tipo: “As mulheres so todas iguais: reclamam de tudo e esto sempre certas.” Vocé acredita que tera algum sucesso nesse manifesto? Palavras como “todo”, “tudo’, “sempre”, “nunca’, “coisa”, “algo”, etc. representam um sério risco de generalizar e comprometer a argumentacao, por possibilitarem a contra-argumentagao imediata. Eu posso, ento, dizer “As mulheres possuem pecu- liaridades que as diferenciam embora a maioria apresente caracteristicas semelhantes: nem todas vivem reclamando e muitas admitem quando esto erradas.” Um texto de prova é uma anélise, ou seja, exige visao l6gica, raciocinio apurado e um cédigo adequado 3) Emprego de nogées semiformalizadas Algumas palavras nao apresentam polissemia, pois foram concebidas no meio cientifico, e possuem sig- nificado preciso e restrito, nao devendo ser empregadas em contexto diverso. Segundo os professores, séio exemplos patavras como: sistema, estrutura, classe social, praxis, infraestrutura, burguesia, corpo social, manipulagdo, cultura de massa, socialismo, idealismo, estruturalismo, entre outros. Nao ha que subjetivar tais palavras. Seu significado ja foi registrado e deve ser respeitado. 4) Defeitos de argumentagao pelo exemplo, pela ilustragéio ou pelo modelo Antes de iniciar este ponto, vale lembrar que 0 uso de exemplo, ilustragao ou modelo na argumentagéio € valido e muito eficaz. Vamos tratar aqui dos desvios ao se empregar tal tipo de argumentagao. E que 0 dado usado como exemplo deve ser verdadeiro e nao inventado para parecer fato. Além disso, faz-se necessaria uma conclusdo que seja realmente resultado direto da andlise dos dados. Aargumentagao deve revelar um raciocinio lagico, com relacdes concretas e perceptiveis. Isso s6 6 pos- sivel com uma linguagem objetiva, simples e concisa. Teed + Aeficdcia na comunicagao Othon M. Bastos ensina, em seu livro "Comunicagéo em prosa moderna”, que aprender a escrever ¢ aprender a pensar, afinal, é preciso, além de conhecer 0 codigo, encontrar as ideias e concatena-las, de modo que a mensagem seja totalmente transmitida. Repare que ele ndo disse que é necessério criar ideias, mas encontra-las. Depois, concatena-las e, mais uma vez, entra o raciocinio logico. De forma a elucidar como € possivel fazer esse enlace de ideias virar um texto bem escrito, ele exp5e métodos de raciocinio: 1) Validade das declaragdes Toda declaragao é gratuita se nao for acompanhada de um fato, inico capaz de convencer de forma cabal. Ele da como exemplo a seguinte declaragao: “Fulano é ladrao’, que vale tanto quanto sua con- testag&o "Fulano no é ladrao”, a ndo ser que alguma delas seja reforgada por um fato como “Fulano ladr&o porque o vi portando uma arma e tirando a forga uma joia de uma senhora’. Apenas algumas declaragées dispensam essa prova: I quando a declaragao expressa uma verdade universalmente aceita; Il quando € evidente por si mesma (axiomas, postulados); Ill quando tem o apoio de autoridade (testemunho autorizado); IV quando escapa ao dominio puramente intelectual: a) 6 de natureza sentimental; b) implica apreciagao de ordem estética; c) diz respeito a fé religiosa. O ponto IV serve em casos muito raros e confesso que nunca os vi em redagdes de concurso. 2) Fatos e indicios — observacées e inferéncia Os fatos so irrefutaveis e por isso uma excelente estratégia de argumentagao. Mas nao s6 isso é sufici- ente. A observacao do fato leva 4 certeza absoluta, e a inferéncia, quando revela probabilidade alta, pode fazer as vezes do fato em si e solidificar a argumentag&o. Se digo que meu filho mais velho é alto, significa que tenho mais de um filho, afirmac&o concreta e inegavel. Ha que se tomar cuidado apenas com 08 indicios, que so apenas um sinal, uma possibilidade, endo uma realidade. 3) Validade dos fatos ‘Aqui vale lembrar 0 foco que damos aos fatos. Se um turista que visita 0 Rio de Janeiro e fica hospedado numa favela disser que a populaco da cidade é pobre estar distorcendo a realidade por no considerar outros fatores que tornam complexa a caracterizagao social de um povo. S40 fatos insuficientes. Bem como se alguém disser que a populagao é pouco porque os livros so caros vai cair numa embos- cada, porque esse fato é irrelevante, uma vez que existem feiras que vendem livros a pregos muito baixos e porque devem ser levados em consideragao outros dados que expliquem a falta de leitura por parte da populagao. Ha ainda a inadequagao dos fatos aos argumentos, como dizer que a populacao brasileira que mora no litoral esta acima do peso porque vai muito a praia e tem uma dieta diferenciada. Por fim, ressaltar as virtudes de um pais, por exemplo, e “maquiar” seus dados estatisticos também leva a0 erro. Sao fatos que nao sao fidedignos. 4) Métodos 4.1) Método indutivo -> quando partimos da observagao e anélise dos fatos para chegarmos @ con- cluséo. “As pessoas estéo com guarda-chuvas, entdo deve estar chovendo” 4.2) Testemunho autorizado -> quando utilizamos 0 discurso de alguém que & reconhecidamente uma autoridade no assunto para reforar nosso argumento. “Segundo a ABL nao se deve mais usar hifen quando 0 prefixo terminar em vogal e a segunda palavra comecar por uma vogal diferente” 4.3) Método dedutivo -> quando partimos dos dados para os fatos, a saber, da causa para o efeito. “Esta chovendo, entao vou levar guarda-chuva”. Teed + As falacias da comunicagao Este ponto se propée a tratar especificamente dos erros cometidos ao se argumentar. Para eliminar os eros precisamos percebé-los, estudé-los, O professor Othon Garcia ensina que ha duas maneiras de errar: raciocinando mal com dados corretos ou raciocinando bem com dados falsos, ja que raciocinar mal com dados falsos é o fundo do pogo (rsrs). Vamos analisar, entdo, as faldcias possiveis na comuni- cago: 1. Sofisma > raciocinio falso que intenciona enganar; pressupde ma-fé. Ele pode se manifestar de di- versas formas: 1.1 Falsos axiomas: Axioma é uma verdade irrefutdvel, como “o todo é maior do que a parte”, entretanto existem sentencas cuja afirmacao parece verdade ou € uma verdade relativa, mas € um sofisma. E como dizer “Quem no estuda nao vence na vida", que nao revela uma verdade universal, afinal, vencer na vida é um conceito relativo e existem diversas formas de se alcangar 0 sucesso além dos estudos. 4.2. Ignorancia da questo: revela-se quando o assunto principal 6 desviado propositadamente para assuntos adjacentes por falta de conhecimento da questo nuclear. Foi o que o prefeito do Rio Eduardo Paes fez ao falar sobre o aumento de salario concedido aos garis em margo de 2014: desvio do assunto principal, que era a greve ocasionada pelos baixos salarios ¢ falta de incentivo na carreira, para 0 au- mento dado e suas consequéncias, como remanejamento das verbas de outras éreas para absorver 0 impacto do aumento salarial. 1.3 Petig&o de principio: 6 0 chamado circulo vicioso. Seria dizer “Fulano 6 pobre porque n&o tem di- nheiro”, ora, isso nao é um argumento, é uma constatagdo ébvia. Uma campanha publicitaria certa vez brincou com © conceito e langou “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?” 1.4 Observacao inexata: dé-se quando, a partir de um dado exato, chega-se a uma conclusdo falsa Seria como dizer “Choveu porque minha calgada esta molhada”, sem observar, propositadamente ou no, que o resto da rua esta seco. 1.5 Ignorancia da causa ou falsa causa: hd afirmagdes que sao tidas como reais, mas s4o apenas fruto de uma relag&o de uma causa real com um efeito, que pode nao acontecer. A relagdo nao é obrigatéria, ou seja, ndo é porque ha nuvens densas no céu que vai chover. Pode ser que chova, mas 0 contrario também é possivel. Usar essa relagdo como irrefutavel é falsa causa. 1.6 Erro de acidente: é uma generalizagao falsa. & dizer que todo policial militar € corrupto porque alguns 0 sao. 1.7 Falsa analogia ou probabilidade: acontece quando casos semelhantes levam a resultados dife- rentes. A anélise de uma questo de Pl por analogia deve ser feita de forma a levar em consideracao todos os fatores envolvidos, que podem diferenciar um caso do outro. ONAL Teed 11. Coesao e Coeréncia + Acoesao Por tudo 0 que jd aprendemos até agora, sabemos que 0 texto é como a trama de um tecido, Cada pedago faz referéncia ao todo, embora isoladamente ele ndo tenha muito sentido. E como um que~ bra-cabegas: as pecas possuem detalhes que as permitem encaixar em outras e, assim, formar uma imagem verossimil. No texto, substituimos as saliéncias das pegas pelos elementos coesivos e obtemos um texto completo de sentido. Repare: “A menina disse que comprou o livro para estudar para a prova da semana que vern. Ela pre- tende tirar uma boa nota na prova e, para isso, sua mae a esté ajudando.” Todos os termos destacados sao elementos coesivos e s6 podem ter seu sentido revelado se levarmos ‘em considerago a primeira frase, em que os referenciais esto expressos. ‘Vamos ver, entdo, alguns desses elementos: + Referéncia e reiteragao: Os termos dentro do texto retomam outros termos anteriores por meio da uti- lizagao de repetigao, Eles podem, ainda, fazer referéncia a algo que ainda vai ser dito. Anafora e catafora. + Substituicdes lexicais (elementos que fazem a coesao lexical): este tipo de coesao se dé quando um termo é substituido por outro dentro do texto, estabelecendo com ele uma relagao de sinonimia, an- tonimia, hiponimia ou hiperonimia, ou mesmo quando hd a tepetigao da mesma unidade lexical (mesma palavra), + Conectores: Estes elementos coesivos estabelecem as relagdes de dependéncia e ligacdo entre os termos, ou seja, so conjungées, preposigées € advérbios conectivos. * Cortelagao dos verbos (coesdio temporal e aspectual): E a correta utilizagéio dos tempos verbais orde- nando assim os acontecimentos de uma forma logica e linear, permitindo a compreensdo da sequéncia em que se deu a acao. Segundo Ingedore Koch, a coes4o pode ser remissiva ou sequencial, observe o esquema: Tipos de coesao -> remissdo -> referéncia, substituigao, elipse -> progressdo > conjungdo, coesao lexical -> colocagao +> reiteragdo ONAL Teed + Acoeréncia Acoeréncia imprime unidade ao texto. E ela que faz com que cada parte do texto represente 0 todo, de forma que quando juntas, elas formam um Unico tracado. Vamos aqui estudar trés niveis de coeréncia: 1) Acoeréncia narrativa 2) Acoeréncia figurativa 3) Acoeréncia argumentativa Vejamos, entao: 1) Coeréncia narrativa Imagine que venho narrando a historia de uma m&e superprotetora, que no deixa ninguém chegar perto do seu bebé e de repente eu falo que ela esqueceu dentro do carro. Falta coeréncia narrativa, afinal, uma mae com esse perfil jamais esqueceria seu filho dentro do carro. 2) Coeréncia figurativa Se quero passar uma ideia com imagens, essas imagens devem ser coerentes. Por exemplo, se meu texto trata da caracteristica aberta das pessoas que moram nos tropicos, ndo posso inserir nele a infor- magdo de que essas pessoas usam roupas pesadas. A imagem do tropico é sol, praia, calor, brisa, roupas leves, chinelos, etc. 3) Coeréncia argumentativa E arelago tese — tema — argumentos — conclusdo, em que todos eles tém que convergir para o mesmo. ponto. Podemos entender melhor a coeréncia compreendendo os seus trés principios basicos: 1. Principio da No Contradi¢o: em um texto nao se pode ter situagdes ou ideias que se contradizem entre si, ou seja, que quebram a légica 2. Principio da Nao Tautologia: Tautologia é um vicio de linguagem que consiste n a repetigao de alguma ideia, utilizando palavras diferentes. Um texto coerente precisa transmitir alguma informacao, mas quando ha repetigao excessiva de palavras ou termos, o texto corre 0 risco de nao conseguir transmitir a informagao. Caso ele ndo construa uma informagao ou mensagem completa, entdo ele sera incoer- ente. 3. Principio da Relevancia: Fragmentos de textos que falam de assuntos diferentes, ¢ que nao se rela- cionam entre si, acabam tornando o texto incoerente, mesmo que suas partes contenham certa coerén- cia individual. ION; Sendo assim, a representagao de ideias ou fatos nao relacionados entte si, fere o principio da relevan- cia, e trazem incoeréncia ao texto. Outros dois conceitos importantes para a construgao da coeréncia textual séo a CONTINUIDADE TEMATICA e a PROGRESSAO SEMANTICA. Ha quebra de continuidade tematica quando nAo se faz a correlagao entre uma é outras partes do texto (quebrando também a coeso). A sensagdo é que se mudou 0 assunto (tema) sem avisar ao leitor. J& a quebra da progressdo semantica acontece quando nao hd a introduco de novas informagées para dar sequéncia a um todo significativo (que € 0 texto). A sensaco do leitor € que o texto é demasiada- mente prolixo e que nao chega ao ponto que interessa, ao objetivo final da mensagem. Teed 12. Aadequagao vocabular Vocé pode jurar de pés juntos que sabe empregar adequadamente as palavras dentro do texto de acordo com aquilo que vocé quer expressar, mas até gente grande comete erros basicos quando a quesiao é fazer a escolha lexical correta. E que ela, a palavra, precisa dizer exatamente 0 que vocé pensou, seno... bau, bau! Seu texto perde o sentido e o interlocutor fica com aquela cara de Didi Mocd. Cuma? Quer ver? Vamos lembrar um trecho daquele poema do Carlos Drummond de Andrade, Procura da poesia: (..) Penetra surdamente no reino das palavras. La esto os poemas que esperam ser escritos. Esto paralisados, mas nao ha desespero, ha calma e frescura na superficie intata. Ei-los sés e mudos, em estado de dicionario. Convive com teus poemas, antes de escrevé-los. ‘Tem paciéncia se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavra e seu poder de siléncio. Nao forces 0 poema a desprender-se do limbo. Nao colhas no chao 0 poema que se perdeu. No adules 0 poema. Aceita-o como ele aceitara sua forma definitiva e concentrada no espaco. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrivel, que Ihe deres: Trouxeste a chave? Repara: ermas de melodia € conceito elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda Umidas e impregnadas de sono, rolam num rio dificil e se transformam em desprezo. Carlos Drummond de Andrade, Procura da poesia, in: A Rosa do Povo, 1945. Agrande liggo esta em perceber que as palavras nascem num “estado de dizionario” e que, articuladas, revelam um "poder de palavra’ e um “poder de siléncio"; s6 assim, o autor poder usar a “chave" para selecionar uma das "mil faces secretas sob a face neutra’ e fazer um texto claro, objetivo e conciso. ION; Teed Chega, entao de bla, bla, bid e vamos ver os casos mais comuns em que as palavras ou expressdes podem causar confusao: ‘Afim de X Afim: ~Afim de (locugae prepositiva): finalidade, com o fim de. Vou estudar a fim de passar no concurso. - Afim (adjetivo): parentesco, afinidade. Ailustracao é uma atividade afim com a animacao. Apar de X Ao par de: informado, ciente. esta a par dos erros do funcionario. - Ao par de: equivalente. Ha alguns anos meu salario estava ao par dos meus gastos. A principio X Em principio: = Aprincipio: inicialmente, no principio. A principio havia apenas um aluno da classe; os outros chegaram depois. - Em principio: teoricamente. Em princfpio teriamos que estudar este capitulo, mas vamos confirmar com o professor amanha. ‘Acerca de X Cerca de X HA cerca de: = Acerca de: com respeito a. Minha mae me falou muito acerca de vocés. - Cerca de: perto de, aproximadamente Miguel me deu cerca de dois mil reais. - Ha cerca de: tempo decorrido. Voltei a praticar ténis ha cerca de um ano. ‘Ao encontro de X De encontro a ~ Ao encontro de: no mesmo sentido, favoravel. Meus objetivos de vida vao ao encontro dos objetivos do meu marido. - De encontro a: em sentido oposto, discordancia. Nao votarei neste candidato porque minhas ideias vao de encontro as dele. Por causa do incéndio as pessoas subiram ao invés de descer. ~ Em vez de: no lugar, em substituicao. Em vez reftigerante as criangas deveriam beber suco natural. Aonde X Onde: ~ Aonde: usa-se com verbos que pedem a preposigao “a”. Aonde vocé vai? - Onde: usa-se com verbos que pedem a preposigao “em”. Onde vocé mora? JINCION eee Cessao X Segdo X Sessdo: = Cessao: ato de cader, doagao. Devido a escassez, a cessdo de Agua foi adiantada ~ Seco (seceaio): parte, diviséo. Encontrei este produto na se¢do de produtos de limpeza. - Sessao: apresentagao, reuniao. A proxima sessao deste filme sera as 20 horas. De mais X Demais: - De mais: oposto de “de menos”. Ricardo tem brinquedo de mais enquanto Eunice tem brinquedo de menos. = Demais (advérbio): muito. Edu fala demais. - Demais (substantivo): outros, restantes. Mariana nunca pensa nos demais. Despercebido X Desapercebido: = Despercebido: que ndo se notou, sem ser visto. Passel despercebido pela sala. - Desapercebido: desprovido Pague a conta, por favor, que estou desapercebido de dinheiro. Ha XA: (verbo): passado, tempo decorrido. Nao visito minha cidade natal ha sete anos. - A (preposiga0): tempo futuro. Visitarei minha cidade natal daqui a trés dias. Mais X Mas X Mas: = Mais (advérbio): oposto de menos. Helena é mais esperta do que as outras meninas. - Mas (conjungo): porém, contudo, todavia. Quero comer chocolate, mas estou de dieta. - Mas (adjetivo): oposto de boas. Rodolfo sempre foi cheio de mas inteng6es. Mal X Mau: = Mal (advérbio de modo): oposto de bem. Ele tem passado muito mal nos uiltimos dias. - Mal (advérbio de tempo): logo que, quando. Mal cheguei, encontrei Matina. - Mau (adjetivo): oposto de bom. Sérgio sempre foi um mau aluno. ION Porque X Porqué X Por que X Por qué: = Porque (conjungoy: por causa de, pois. Nao fui a escola ontem porque fiquei doente. - Porque (substantivo): motivo, razo. Nao entendo © porqué disso tudo. - Por que (preposigao + pronome retativo): pelo qual. Esta é a mulher por que me apaixonei. - Por que (preposigao + pronome interrogativo): por que motivo, por que razao. Por que vocé nd estudou ontem? = Por qué (preposigao + pronome interrogativo): por que motivo, no final do periodo. \Vocé nao estudou ontem por qué? Se no X Sendo: = Se no (conjungao + advérbio): caso nao. Se nao tiver aula amanha, vou ao parque. - Sendo (conjunc&o): do contrario / mas sim / a nao ser. Espero que vocé encontre o livro que perdeu, senao tera que comprar outro (do contrario). Nao gosto de vocé como namorado, sendo como amigo (mas sim). Josefina no faz outra coisa seno limpar a casa (a ndo ser). A prova estava muito simples. Simplério: ingénuo. Gustavo é um homem simplorio; acredita em tudo que Ihe contam. Teed 13. A progressao discursiva Os textos que se seguem so fragmentos de redagées de vestibular, extraidos do livro “Crise na lingua- gem” de Maria Thereza Fraga Rocco: TEXTO 1: “Estou comecando a me sentir vazia, palida, desesperancosa e oca. O vazio me invade e sinto um tremendo vazio dentro de mim.” TEXTO 2: “Hoje é o dia mais feliz da minha vida, pois é 0 dia do meu aniversério de 18 anos. E 0 dia da minha maioridade. Porque estou completando 18 anos estou super alegre e muito contente. Estou fe- licissima mesmo.” Esses dois textos so circulares, ou seja, repetem varias vezes a mesma ideia. No primeiro, repete-se quatro vezes a ideia de vazio interior. No segundo, repete-se trés vezes 0 fato de estar completando 18 anos e quatro vezes também a ideia de felicidade. Quando se fala das qualidades de um bom texto, sempre se faz referéncia a sua unidade. Na verdade, texto sem unidade nao é texto, mas um aglomerado de frases desencontradas. Um texto que tem uni- dade apresenta uma repeticdo de tracos semanticos. Reiteracao de tragos semanticos, no entanto, nao é repeti¢ao de ideias. O que garante a unidade de um texto é a coeréncia, que é a relagao adequada que se estabelece entre as partes. No texto, como em qualquer tipo de estrutura, as partes distintas organizam-se funcionalmente, constituindo um conjunto uniforme. Uma estrutura nao se monta pela repeticao de partes iguais, mas pela combinacao orgénica de partes diferentes. A construgao de um texto pressupde que os seus segmentos se sucedam numa progressdo constante, isto é, que cada segmento que ocorre no percurso deve ir acrescentando informagdes novas aos enun- ciados anteriores. Num texto é proibido repetir-se, a ndo ser que essa repetigao tenha alguma fungao no Conjunto, no todo. \Vejamos 0 cartum abaixo. Se A. ee Teed No cartum de Jaguar, cada desenho recupera um dado do anterior e lanca uma nova informagao, numa progressdo constante, até o desfecho da narrag&o. Assim, nao ha repeti¢ao ou redundancia, pois a in- tengdo 6 a énfase na mensagem a ser transmitida pelo todo. Aredundancia viciosa, isto é, aquela que nao traz nada de novo, contraria o principio da progressao dis- cursiva. Esse tipo de repeticao desqualifica 0 texto, pois revela falta de reflexdio e dominio sobre o que esta sendo dito, além de pobreza de ideias. Entretanto, a repetigao pode ser utilizada como um recurso de expressividade, sobretudo para enfatizar uma ideia que se quer destacar, mas, nesse caso, ela adquire valor funcional no texto. O poema "Cida- dezinha Qualquer" de Carlos Drummond de Andrade ilustra bem isso: Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus. Nesse poema a tepetigao corresponde a uma intengdo clara: enfatizar o carater rotineiro, repetitivo ¢ lento que invade a tudo e a todos numa cidadezinha de interior. Cada repeticao que ocorre traz um dado novo que indica mais um elemento que se compe a cena. Observe 0 texto abaixo de Eduardo Galeano, extraido do livro “As Veias Abertas da América Latina”: “Ha dois lados na divisdo internacional do trabalho: um em que alguns paises especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os euro- peus do Renascimento se abalangaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeigoou suas fungées. E a América Latina, a regido das veias abertas Desde 0 descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de tra- balho e de consumo, os recursos naturais € os recursos humanos.” O texto acima é um tipico exemplo de um texto em que os seus segmentos numa progressdio constante acrescentam novas informagGes aos enunciados anteriores. Por isso dizemos que ha progress&o dis- cursiva. Teed 14. O Planejamento parte mais importante na produgo textual é o planejamento. Isso porque ele permite colocar no papel todas as ideias pertinentes ao tema, usando seu campo seméntico, que permitira escolher as melhores palavras e os melhores argumentos. Amelhor maneira de se fazer 0 planejamento é por meio do brainstorm ou tempestade de pensamentos. Apartir da leitura do tema, coloca-se no papel absolutamente tudo o que vem a mente sobre esse tema. As vezes sera apresentado primeiro um texto, em vez do tema, entéo ser necessério ler o texto depois partir para o brainstorm, cuidando para nao repetir palavras ou idelas do texto. Lembra-se de que na primeira falamos que o texto propée um debate com a sociedade? Entao, vocé vai partir dessa premissa para descarregar tudo aquilo que surge na cabega ao ler 0 texto. O passo seguinte é organizar suas ideias: selecione as melhores palavras, os argumentos mais contun- dentes e mais diversificados, separe o que sera sua introdugao e a conclusdo, escreva a tese e exponha 0s argumentos em ordem. Seu planejamento ficara assim: ‘Tema: relagdo entre estudo e sucesso Tese: Quem se dedica com vigor aos estudos encontra 0 sucesso profissional. ‘Arg 1:0 mercado de trabalho exige cada vez mais profissionais com capacidade cognitiva avangada. ‘Arg 2: Os concursos publicos de acesso a carreiras de alto padréo so muito concorridos, exigindo preparo de anos. Arg 3: O dominio de idiomas estrangeiros acaba sendo um diferencial entre candidatos aos melhores postos do mercado. Conclusdio: © estudo sistematico no longo prazo permite que 0 cidadao escolha sua colocagao profis- sional Com as ideias expostas e organizadas, fica bem mais facil escrever a redacéo sem se perder, sem ser repetitivo e usando os processos coesivos da maneira adequada. eee 15. Figuras de Sintaxe + Elipse E a omissdo de um termo facilmente subentendido por faltar onde normaimente aparece, ou por ter sido anteriormente enunciado ou sugerido, ou ainda por ser depreendido pela situacao, ou contexto. E como dizer, depois de assistir a um filme: “Que lindo!” Nao se trata de elipse a omissdo do sujeito léxico, j4 que ele esta explicitado na desinéncia verbal: Com — e — re - i mais tarde. com- = Radical -e- = Vogal Tematica -fe- = Desinéncia Modo Temporal i = Desinéncia Numero Pessoal + Elipses mais comuns a) Da preposi¢o em algumas circunst&ncias adverbiais e em séries coordenadas: (No) Domingo iremos a festa. Dei os brinquedos as criancas e (a0) seus pais. b) Da preposigéio antes do conectivo que introduz as oragdes de complemento relativo e completivas nominais: Preciso (de) que venhas aqui. Estou necessitado (de) que venhas aqui. c) Da conjungo integrante introduzindo subordinadas subjetivas e objetivas diretas: E necessério (que) se faga tudo rapidamente. Espero (que) sejam felizes. d) Do verbo dizer (e semelhantes) nos didlogos E ela: - Vocé esta zangado comigo? ) Do objeto direto representado por pronome atono para aludir ao substantivo anteriormente expresso: Vocé recebeu 0 convite? Recebi(-o) sim. f) Da preposigao de em construgées do tipo vestido (de) cor de rosa; pode-se também omiitir toda a ex- pressdo de cor de: vestido rosa 4g) Da conjungao integrante que depois de que ou do que comparativo: Aum animal atacado de raiva é melhor que o matem do que (que) esteja a penar. INCION + Pleonasmo Ea repeti¢ao de um termo j4 expresso ou uma ideia j4 sugerida, para fins de clareza ou énfase Vi-o a ele. + Anacoluto E a quebra da estruturagao légica da oragdo: Eu parece-me que tudo vai bem. + Antecipagao E a colocagao de uma expressao fora do lugar que logicamente the compete: O tempo parece que vai piorar. + Braquilogia E 0 emprego de uma expressdo mais curta equivalente a outra mais ampla ou de estruturacdo mais complexa: Entrei e sai de casa. (= Entrei em casa de onde sai) Eu vie gostei do filme. (= Eu vio filme e gostei dele) + Haplologia sintatica E a omissao de uma palavra por estar em contato com outra (ou final de outra palavra) foneticamente igual ou parecida: Iracema antes quer que o sangue de Caubi tinja sua mao que (quer que) a tua. + Contaminacao sintatica Ea fusdo irregular de duas construgdes que, em separado, do regulares: Fiz com que Pedro viesse (= Fiz com Pedro que viesse + Fiz que Pedro viesse) + Expresso expletiva ou de realce E a que nao exerce fungao gramatical: Nés 6 que sabemos vivernos. eee 16. Figuras de Linguagem + Antitese E a aproximacdo de ideias, palavras ou expressées de sentidos opostos: Quem quer se preparar para a paz deve se preparar para a guerra. + Paradoxo ou oximoro E a aproximagao de ideias opostas em apenas uma figura: E um contentamento descontente (Camées) + Antonomésia E colocar um apelido, alcunha, cognome: O pai da aviagdo (Santos Dumont) nao queria ver seu invento usado para o mal. + Perifrase E como dar apelido, mas a seres inanimados: Acidade luz (Paris) € linda. + Catacrese Surge da semelhanga da forma ou da fungao de seres, fatos ou coisas: Céu da boca, pé da cadeira, dente de alho. + Comparagao E a aproximacdo de dois elementos realgando as suas semelhangas. Aquela menina é delicada como uma flor. * Gradacao E 0 encadeamento de palavras ou ideias com efeito cumulativo: Esperarei por ela quanto for preciso: um dia, uma semana, um més, um ano. + Eufemismo E a atenuagao de algum fato ou expressdo: Vocé faltou com a verdade. + Hipérbole E 0 exagero proposital de uma ideia, com objetivo expressivo: Estou morrendo de fome. + Ironia Forma intencional de dizer o contrario da ideia que se deseja apresentar: Asuas notas esto étimas: zero em matematica, zero em portugués! + Metafora Apresenta uma palavra utilizada em sentido figurado, em virtude de uma semelhanga subentendida: Aquela crianga é uma flor. Metonimia Também chamada de sinédoque, consiste no uso de uma palavra no lugar de outra que tem com ela alguma proximidade de sentido: 1. Autor pela obra: Nas horas vagas, leio Machado de Assis. 2. Continente pelo contetdo: Nao quero mais Agua, jé bebi dois copos. 3. Causa pelo efeito e vice-versa: Nossos cabelos brancos inspiram confianga 4, Lugar pelo produto feito no lugar: ‘Apés o jantar ele fumava um Havana 5. Parte pelo todo: Vou precisar de uma mao no trabalho. 6. Matéria pelo objet Aporcelana chinesa é lindissima. 7. Marca pelo produto: Compre uma gilete quando for ao mercado. 8. Concreto pelo abstrato e vice-versa: Carlos 6 uma pessoa de bom coraca 9. Individuo pela espécie: Ele estuda para se tornar um Einstein. 10. Instrumento pela ideia que ele representa: Joao é bom de garfo. + Prosopopeia Também chamada de personificacdo, é a atribuigao de caracteristicas humanas a seres nao humanos, inanimados, imaginérios ou irracionais: O carro morreu As paredes t8m ouvidos. + Sinestesia E a mistura de sensagdes em uma Unica expressao: “Através de grossas portas, sentem-se luzes acessas (...)" Cecilia Meireles 17. Vicios e anomalias da linguagem + Barbarismo Grafia ou prontincia de uma palavra em desacordo com a norma culta: Grafia — previlégio em vez de privilégio Proniincia — RUbrica em vez de ruBRica + Solecismo Desvio da norma em relagao a sintaxe: Fazem dois anos que nao nos vemos em vez de Faz dois anos... + Ambiguidade Emprego de frases ou expressées de duplo sentido: O menino viu o incéndio da escola. * Cacéfato Uso ruim de sons, produzido pela jungao de patavras: Nao tenho pretensdo acerca dela. (a ser cadela) + Pleonasmo vicioso Repeticao desnecessaria de palavras ou express6es: Subir pra cima. + Neologismo Criagao desnecessaria de palavras novas: Este bolo esta comivel Teed 18. O que deve ser evitado numa redagao 1. Ve. Deve evitar abrev., ete. 2. Desnecessario faz-se empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado, segundo deve ser do conhecimento inexoravel dos copidesques. Tal pratica advém de esmero excessivo que beira o exibi- cionismo narcisistico. 3. Anule aliteragdes altamente abusivas. 4. “no esquega das meitisculas”, como ja dizia dona loreta, professora Ié no colégio alexandre de gusméao, no ipiranga. 5. Evite lugares-comuns assim como o diabo foge da cruz. 6. Uso de parénteses (mesmo quando for relevante) é desnecessario. 7. Estrangeirismo esto out; palavras de origem portuguesa estao in. 8. Chute 0 balde no emprego de gira, mesmo que sejam maneiras, ta ligado? 9. Palavras de baixo caléo podem transformar seu texto numa m?r?d?. 10. Nunca generalize: generalizar, em todas as situagdes, sempre é um erro. 11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repeticao da pala- vra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida. 12. Nao abuse das citagdes. Como costuma dizer meu amigo: ‘Quem cita os outros ndo tem ideias proprias”. 13. Frases incompletas podem causar 14, Nao seja redundante, nao é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencio- nar cada argumento uma sé vez. Em outras palavras, no fique repetindo a mesma ideia 15. Seja mais ou menos especifico. 16. Frases com apenas uma palavra? Jamais! 17. Avoz passiva deve ser evitada. 18. Use a pontuacao corretamente 0 ponto e a virgula especialmente sera que ninguém sabe usar 0 sinal de interrogagao 19. Quem precisa de perguntas retoricas? 20. Conforme recomenda aA. G. O. P., nunca use siglas desconhecidas. 21. Exagerar é cem bilhdes de vezes pior do que a moderagao. 22. Evite meséclises. Repita comigo: *meséclises: evitd-las-eil” 23. Analogias na escrita sdo titeis quanto chifres numa galinha. 24, Nao abuse das exclamagdes! Nunca! Seu texto fica horrivell 25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreenséo de ideia contida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma ideia central, o que nem sempre torna o seu contetido acessivel, forcando, desta forma, o pobre leitor a separé-la em seus componentes diversos, de forma a toma-las compreensiveis, 0 que nao deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, habito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas. 26. Coidado com ha hortografia, para no estrupar a lingila portugéza. 27. ESCREVER SEMPRE COM LETRAS MAISCULAS DEIXA SEU TEXTO COM UMA APARENCIA. TERRIVEL. 28.Seja incisivo e coerente, ou nado. Extraido de hitp://comuniquese ifrs.edu.br/files/Dicas%20para%20escrever%20bem.pdf INDICE 1. Interpretaco de textos 2. Intertextualidade 3. Contexto 4. Niveis de leitura . 5. Estrutura textual 6. Possibilidades de leitura .. 7. Produgao textual .... 8. Tese .. 9. Introdugao 10. Argumentos 11. Coesdo € coeréncia 12, Adequagao vocabular 13, Progressao discursiva 14, PLanejamento . 15, Figuras de sintaxe . 16. Figuras de linguagem pg 32 17. Vicios e anomalias da linguagem .......... Pg 35 18. O que deve ser evitado numa redag&o ... pg 36 pg 10 -pg 11 -pg 13 pg 14 pg 28 pg 30 pg 31

Vous aimerez peut-être aussi