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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


DIREITO AMBIENTAL
PROFESSOR Gilson César Borges de Almeida

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2007.04.00.041685- D.E.


5/SC
Publicado em 19/12/2007
RELATORA :
Des. Federal MARGA INGE BARTH TESSLER
AGRAVANTE :
MALHARIA MANZ LTDA/
ADVOGADO :
Fernando Augusto Girardi
AGRAVADO :
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRO DE RECURSOS
INTERESSADO :
NATURAIS RENOVÁVEIS

DECISÃO

Trata-se de agravo de instrumento proposto contra decisão


proferida na Ação Civil Pública nº 2000.72.01.005409-7/SC ajuizada pelo
Ministério Público Federal contra a Malharia Manz Ltda. e Outro, que indeferiu
pedido de suspensão do feito pelo prazo de 90 (noventa) dias para a apresentação
de novos estudos técnicos e para elaboração de plano de gestão ambiental
formulado pela agravante e deferiu pedido formulado pelo Ministério Público
Federal de paralisação integral das atividades industriais desenvolvidas pela
Malharia Manz Ltda. sob pena de multa de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)
no caso de descumprimento da ordem judicial.
Noticia a agravante que a ação civil pública foi ajuizada por
supostos danos causados ao meio ambiente. Discutiu-se, inicialmente, sobre a
errônea disposição de resíduos sólidos gerados pela Estação de Tratamento de
Efluente (ETE) e a cerca da falta de Licença de Instalação que deveria ter sido
concedida pela FATMA. No curso da tramitação da ação a agravante foi sanando
os problemas ambientais. Contratou empresa para recolher os resíduos sólidos
depositados em tambores ao lado do terreno da empresa. Coloca seus resíduos
sólidos em tambores lacrados porque a cidade de Joinville não dispunha de aterro
industrial, o que só veio a acontecer em 2001. Contratou empresas especializadas
e licenciadas para recolhimento e destinação de sucatas, resíduos de metal, papel,
restos de tecido e plástico. Teria protocolado junto à FATMA pedido de
licenciamento ambiental em setembro de 2005, não tendo obtido resposta até o
momento. Possui uma caldeira para solucionar problemas atmosféricos. Sempre
procurou atender os pedidos dos órgãos ambientais abrindo todos os pontos de
inspeção relacionados ao circuito percorrido pelo efluente líquido gerado pelo
processo de tinturaria. Contratou Consultor Especializado para elaboração de um
Plano de Gestão Ambiental. Foi surpreendida em 19 de novembro de 2007 com a
ordem de paralisação de todas as suas atividades. Pondera que também deve ser
considerada a função social da empresa (400 empregos diretos), tutelada pela
Constituição Federal (art. 170), não obstante a importância da preservação do
meio ambiente. Desde o dia 19 de novembro de 2007 está suportando um
prejuízo diário de R$ 110.000,00 (cento e dez mil reais). A paralisação da
empresa por período superior a 20 dias redundará na sua quebra e redundará na
demissão dos funcionários. Tece considerações quanto à perversa política
cambial do Governo Federal e acerca da concorrência desleal dos produtos
Chineses. Afirma que, atualmente, o problema ambiental resume-se ao
tratamento do efluente líquido gerado na empresa e tratado na sua ETE. Gasta em
média R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) com produtos químicos necessários ao
tratamento de seus efluentes e utilizados em sua ETE. A compra de nova caldeira
custaram a empresa quantia superior a meio milhão de reais, considerados os
custos para a sua instalação. A medida adotada pelo Juízo monocrático afronta o
artigo 170 da CF/1988 e não contribui para a preservação do meio ambiente de
forma sustentável. Traça comparativo com os casos de vazamento de óleo
ocorridos no País, sendo que, nestes casos, jamais teria sido determinada a
paralisação da PETROBRÁS. A decisão desrespeita o princípio da
proporcionalidade. Ressalta a inércia da FATMA em conceder a licença
ambiental. Apenas a tinturaria apresenta potencial poluidor, o que não ocorre
com sua tecelagem.
Requer a concessão do efeito suspensivo.
É o relatório. Decido.
Para a concessão do efeito suspensivo ao recurso é necessária a
presença concomitante dos seguintes requisitos: a possibilidade da ocorrência de
dano irreparável ou de difícil reparação e a verossimilhança das alegações
recursais.
A presença do primeiro dos requisitos, no caso, é evidente em face
das possíveis e graves conseqüências econômicas que advirão para a empresa
com a manutenção da decisão vergastada. Não verifico, todavia, minimamente a
verossimilhança nas sua alegações, de presença indispensável para a concessão
do pretendido efeito suspensivo.
Li atentamente as razões da parte agravante e a decisão prolatada (e
outras anteriores prolatadas por outros Juizes que atuaram curso da ação) e
analisei detidamente a documentação encartada ao instrumento e, data vênia, não
há como chegar a outra conclusão, a não ser a de que a decisão merece
manutenção. A decisão prolatada pelo eminente Juiz Federal, Dr. Roberto
Fernandes Junior, analisou com eqüidade a matéria e esgotou todos as aspectos
envolvendo o dano ambiental debatido na ação civil pública originária. Foram
bem ponderados os conflitos de interesses protegidos pela Constituição Federal
de 1988 (liberdade econômica x proteção ambiental) e analisada, com
profundidade incomum, os fatos ocorridos até então e a prova produzida nos
autos originários. Trata-se de ação civil pública ajuizada em setembro de 2000,
sendo que desde então, muito embora os esforços dos órgãos ambientais, a
agravante tem adotado somente medidas paliativas e, ainda sim, em face de
imposição dos órgãos ambientais ou decorrência de determinação judicial.
Transcrevo parte da fundamentação, utilizando como razões para
afastar a verossimilhança das alegações da parte recorrente, que elucida com
brilhantismo a controvérsia e a necessidade da adoção da enérgica medida de
paralisação das atividades da recorrente:

"(...) Esse é o relato. Decido.


3. Analiso o pedido formulado pela empresa Malharia Manz.
A empresa-ré sustentou que está em vias de implantar plano de gestão ambiental nas suas
instalações, providência técnica que propiciaria requerer a certificação ISO na esfera
ambiental.
Assim requereu a suspensão da ação pelo prazo de noventa dias para a apresentação em juízo,
e nos órgãos ambientais, de estudos sobre resíduos sólidos; geração de efluentes líquidos;
emissões atmosféricas; conforme os prazos previstos no cronograma de implantação do PGA.
Salienta que após a apresentação dos referidos estudos, iniciará o processo de implantação do
PGA, que será efetuado em um prazo de sessenta dias, contados após a conclusão das análises
(fls. 3026/3027).
Da experiência vivida com as ações civis públicas em matéria ambiental, notadamente, àquelas
envolvendo empresas de grande porte que desenvolvem complexos processos químicos-
industriais, mediante cadeia produtiva estruturada e com grande geração de resíduos poluentes
- como é caso da Malharia Manz Ltda -, tenho que os prazos indicados pelo procurador da
empresa-ré para a apresentação de diversificados estudos técnicos [por exemplo: qualquer
análise da eficiência da ETE, passa pela avaliação química e bacteriológica, que segundo
especialistas, demanda tempo considerável entre a avaliação mínima da reação das bactérias à
composição existente na estação de tratamento e o resultados das análises para indicar os
parâmetros técnicos das correções], e ausência de informação da metodologia utilizada não
garantem qualquer certeza ou presunção, em prazo tão exíguo [três meses] a regularização das
atividades industriais da empresa-ré.
Esse raciocínio, embora seja singelo, exige uma rápida explicação.
Não há possibilidade de que a empresa, em noventa dias, elabore as necessárias análises
técnicas em diversos setores de suas instalações e implante um plano de gestão ambiental
[multifatorial e complexo].
Se assim fosse possível, como a Malharia Manz pode explicar o fato de ter contratado
profissional, há mais de noventa dias, e nesse período não apresentou aos autos nenhuma
análise técnica, ou diagnóstico de levantamento das irregularidades existentes em sua fábrica?
O que dirá então, sobre a implantação do referido plano de gestão ambiental!
Além disso, o deferimento do pedido de suspensão formulado pela Malharia Manz encontra
tantos óbices - seja pelo exíguo tempo requerido, dúvidas quanto à implementação e à eficácia
das ações pretendidas no plano de gestão -, que não se afigura razoável, continuar protelando
indefinidamente a exigência do licenciamento ambiental dessa empresa, enquanto continua
produzindo em condições extremamente irregulares.
Além da existência de dúvida quanto ao eventual atendimento da empresa aos prazos que
menciona no PGA, não há elemento ou indício que eventual execução da sua proposta de
gestão ambiental possibilitará a regularização dos seus processos industriais.
Acrescenta-se ainda, como indicativo desfavorável ao pleito da empresa, os antecedentes de
descumprimentos das determinações judiciais e dos órgãos ambientais.
Nessa linha de pensar, entendo que os danos ambientais e as irregularidades técnicas dos
processos produtivos da Malharia Manz são induvidosos, donde se conclui que transcorridos
mais de sete anos da concessão da liminar, a ré não vem atendendo os comandos judiciais.
Com efeito, as práticas reiteradas pela empresa desvirtuam-se da postura adequada dentro da
moderna concepção de uso e fruição da propriedade.
Sustento este entendimento, porquanto tanto em sua contestação (fls. 668/676), como nos
demais documentos que carreou aos autos, inexiste comprovação que estaria envidando
esforços para corrigir definitivamente as graves e sucessivas irregularidades demonstradas
exaustivamente em seus processos industriais.
Não há também nos autos, documento carreado pela Manz detalhando quais seriam as
condicionantes, pendências e exigências técnico-ambientais necessárias à renovação da licença
ambiental de operação. Esse conjunto de fatos conduzem, necessariamente, à interpretação de
que apenas com uma reformulação dos paradigmas norteadores da atividade dessa empresa,
doravante permitirá a obtenção das licenças ambientais fundamentais à segurança de suas
atividades fabris.
Todavia, diante do acervo documental indicando as irregularidades aqui destacadas, a
empresa-ré insiste em afirmar que somente a partir do último relatório técnico conheceu as
diretrizes para sua regularidade industrial. Notório equívoco da ré.
A sua omissão em atender as prescrições legais, além de manifesta, é sintomática de sua
despreocupação em operar industrialmente em conformidade com a lei.
Prova disso, é que a Manz não solicitou esclarecimentos ou explicações sobre as
recomendações e conclusões técnicas apresentadas pelo perito judicial [fls. 1280/1281]. A
empresa sequer impugnou o laudo pericial [certidão de fl. 1404].
Assim, ao contrário das últimas alegações que a empresa-ré formulou nos autos, os órgãos
ambientais, há muito, vêm apontando diretrizes e condicionantes para a solução de problemas
evidenciados em sucessivas vistorias em suas instalações. Acrescenta-se a essa circunstância, a
evidência de que a empresa por submissão ao império legal, é quem deve envidar as
necessárias ações materiais para renovar suas licenças ambientais.
3.1.Plano de Gestão Ambiental.
A alegação da Malharia Manz de que contratou profissional com a juntada subseqüente de
documentos revelando intenções de gestão ambiental sem qualquer análise, acompanhamento
de sua pertinência, adequação, correção e regularidade pelos órgãos ambientais, não pode ser
encarado como válido, diante da seqüência de agressões ao meio ambiente perpetradas pela
empresa ao longo dos últimos anos. Noutro dizer, a intenção de realizar a gestão ambiental não
a isenta de no mínimo: a) comprovar a renovação de sua licença ambiental de operação e b)
submeter previamente qualquer estudo, projeto, plano de gerenciamento ambiental à Fatma e
ao Ibama.
Vale referir, que na decisão de fls. 1425/1426, proferida em 17 de abril de 2002, a Fatma e o
Ibama estavam, naquela época, incumbidos de se manifestarem sobre o programa de
adequação ambiental da empresa-ré [unidade de tinturaria, conforme documento de
fls.1427/1437].
Portanto, a notícia de apresentação de projeto de adequação pela Malharia Manz, como
informado em suas últimas manifestações, não é fato que evidencie considerável alteração no
quadro ambiental diagnosticado.
Em que pese a Manz ter refutado o último relatório técnico produzido pela Fatma e Ibama, o
que vê dos autos, é que todo o conjunto sistematizado de análises e conclusões apresentadas
aos autos [seja pelos órgãos ambientais, pelo perito judicial, assessores do MPF e até pelos
magistrados nas inspeções realizadas], em sua substância, não foram contestados ou
impugnados com lastro científico pela Manz.
Pelo exposto, e pelo que adiante fundamentarei, é de se indeferir o pedido de suspensão do feito
para a apresentação de plano de gestão ambiental.
4. A tutela constitucional do meio ambiente.
A Carta Política de 1988, alçou definitivamente, o direito ambiental como direito elementar,
albergando status jurídico de norma fundamental, através de processo de positivação dos
chamados direitos de terceira dimensão.
O art. 225 da Constituição Federal preconiza:
"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das
espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
(...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
(...)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da
lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados. (...)" (grifei).

Os preceitos enunciados no citado artigo revelam nítida função 'normativo-axiológica',


traduzindo valores fundamentais da política ambiental conjugados com os demais princípios e
diretrizes indispensáveis para o desenvolvimento e o bem-estar humano.
A Magna Carta expressamente normatizou e ressaltou a imprescindibilidade do equilíbrio
ecológico necessário, por óbvio, à higidez e qualidade de vida da população. Ademais,
consagrou, inegavelmente, a obrigatoriedade do Poder Público à defesa, preservação e
concretização do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
5. Inconsistência das providências adotadas pela Malharia Manz no transcorrer da ação.
Embora essa empresa tenha implementado alguns esforços para correção das irregularidades
em suas instalações [como a recobrimento de tonéis - fls.111/1127 - e a juntada de relatórios
de emissão de efluentes, consumo da ETE, certificados de destinação final de resíduos e laudos
de análises na ETE no corpo receptor], em essência, são medidas parciais, e insubsistentes
para autorizar a continuidade de sua operação industrial, pois não atingem substancialmente
às exigências técnicas imprescindíveis à renovação da licença ambiental de operação LAO n.
011/99 [cuja validade expirou em março de 2000].
Os documentos por ela carreados aos autos [fls.1136/1176, por exemplo], em nada alteram a
gravidade da situação ambiental, sistematicamente fiscalizada pela Fatma e Ibama e não
contribuem para a formação de um juízo de cognição favorável à manutenção de suas
atividades.
Embora a empresa alegue que o cronograma de trabalho do plano de gestão ambiental tenha
sido juntado (fl.3021), o que se tem nos autos, é apenas uma declaração unilateral desprovida
de detalhamento técnico-científico sobre a natureza dos processos industriais e a metodologia
dos trabalhos que serão desenvolvidos. Também não foram propostas medidas de
equacionamento técnico-industrial que refletirão em efetivas melhorias no processo industrial.
A empresa-ré também não esclarece se o cronograma e as ações do referido PGA [na hipótese
de serem implementados], resultarão em um cenário técnico que possibilite a análise pela
Fatma de eventual pedido de concessão de licença ambiental. Em suma, o que se vê nos autos é
uma descrição simplista e reducionista de um trabalho que objetiva regularizar sua produção
industrial.
Embora tenha a Manz noticiado a contratação de profissional para a elaboração de Plano de
Gestão Ambiental - PGA, em 15/08/2007 e a contratação de serviços do SENAI de Blumenau
[fls. 3095/3103], para análises de emissões atmosféricas, firmado em 11 de outubro de 2007
[fl.3097], há informação da Fatma e Ibama, no último relatório de 04 de setembro de 2007, que
a Malharia Manz sequer conseguiu desativar sua antiga caldeira [fl.3007].
Nessa linha de pensar, embora a empresa junte documento - intitulado Cronograma de
atividades para implantação do plano de gestão ambiental da Malharia Manz Ltda -,
afirmando que no período de 03/09/2007 a 28/09/2007, haveria levantamento dos resíduos
gerados, origem, quantidade, armazenagem e destino (fls.3032/3033), passados mais de
quarenta e cinco dias do prazo designado pelo próprio profissional contratado, não foi
colacionado aos autos, qualquer análise ou estudo preliminar sobre os resíduos sólidos.
Da mesma forma não foi apresentado o levantamento sobre efluentes, que segundo o referido
documento, deveria ser implementado até 31 de outubro de 2007 (fl. 3032).
Com respaldo nas conclusões técnicas, sustento que desde a concessão da decisão liminar
[setembro de 2000], nenhuma ação material relevante foi implementada pela Malharia Manz.
Diante desses fatos, indago: se a Malharia Manz efetivamente tem interesse e urgência em
adequar suas atividades fabris, porque não colaciona aos autos, mesmo que parcialmente,
qualquer comprovação da implantação do plano de gestão ambiental referente aos resíduos
sólidos e efluentes indicados no referido cronograma (fls. 3032/3033), se a contratação do
profissional ocorreu em 15 de agosto de 2007, ou seja, há mais de noventa dias?
6. Pedido de renovação das licenças ambientais.
Apesar de a Malharia Manz ter afirmado que há muitos anos teria encaminhado pedido de
renovação da LAO (fl.3081), o que se comprova nos autos - principalmente a partir da análise
dos documentos de fls. 2560/2561 -, é uma situação oposta, ou seja, de que a Manz solicitou à
Fatma a obtenção/renovação das licenças LAP, LAI e LAO para as atividades de Malharia
[CNPJ n. 84.684.141/0018-09] e tinturaria [CNPJ n. 84.684.141/0004-03], em setembro de
2005, notícia que por conseqüência, leva à conclusão de que a empresa-ré funcionou por quase
cinco anos sem licenciamento ambiental.
Não fosse isso, conclui-se ainda, que a Malharia Manz operou industrialmente, por esse
período, sem que ao menos, tivesse requerido a licença.
É consabido que o controle jurisdicional do licenciamento ambiental guarda compatibilidade
com o sistema constitucional de 1988. A exigência de escorreito licenciamento de atividade
com elevado potencial poluidor, não se traduz, em óbice legal ao desenvolvimento, mas de se
proceder com segurança, visando elucidar e apontar os parâmetros que devem dimensionar o
crescimento econômico.
A circunstância de a LAO não ter sido renovada, deve-se necessariamente, à precariedade da
adequação do processo produtivo da Manz às normas ambientais mais elementares. Entretanto,
mesmo desprovida de licenciamento ambiental continuou a operar industrialmente, como se
dispusesse de licenciamento!
7. Natureza Jurídica do licenciamento ambiental.
Com a implantação da Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), o licenciamento
ambiental passou a ser exigido das empresas que, potencial ou efetivamente, são degradadoras
do meio ambiente, apresentando alto risco de acumularem passivos ambientais.
A sistemática do licenciamento ambiental é definida pela Resolução CONAMA 237/1997:
"Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes
licenças:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou
atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de
sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de
acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados,
incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem
motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a
verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.
Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de
acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade." (grifei).
O licenciamento ambiental está fundado no princípio da proteção, da precaução ou da cautela,
de natureza fundamental do direito ambiental, exposto na Declaração do Rio/92 (Princípio n.
15).
É integrante da tutela administrativa preventiva, porquanto objetiva preservar, seja prevenindo
a ocorrência de impactos negativos ao meio ambiente, seja mitigando-os ao máximo, com a
imposição de condicionantes ao exercício da atividade ou a construção do empreendimento.
O licenciamento ambiental, não é um impedimento ao direito constitucional de liberdade
empresarial ou da propriedade privada, constitui-se em condicionador seu, impedindo que o
exercício ilimitado dos direitos inerentes à liberdade econômica possam afetar o ambiente, que
é bem de uso comum do povo, pertencente às presentes e futuras gerações.
Na atual fase da civilização humana não se pode falar ou reconhecer o caráter absolutista dos
direitos. A tutela dos direitos e garantias fundamentais deve ser reconhecida com reflexão, a
fim de contemplar os interesses da coletividade, porquanto a profusão de interesses e bens
jurídicos distintos em uma sociedade pluralizada, multicultural e dotada de complexas relações
político-econômico-sociais, exige um redimensionamento da estruturação e aplicação dos
direitos. Os princípios e normas, sejam eles de estatura constitucional, ou não, necessitam, na
evidente colisão, conviver harmonicamente, devendo ser reforçados os interesses últimos da
comunidade.
8. Natureza jurídica dos atos administrativos.
É assente o entendimento de que todos os atos praticados pelos agentes públicos no exercício
de suas atribuições funcionais [sejam inspeções, a elaboração de pareceres ou a lavratura de
autos de infração e de interdição], como típicos atos administrativos, possuem presunção de
validade, imperatividade e coercibilidade, cabendo à empresa-ré provar o contrário.
Circunstância que não ocorreu nos autos.
(...)
Apenas para corroborar a inconsistência da postura adotada pela Malharia Manz, relembro
que em manifestação de 28 de julho de 2005 (fls. 3037/3040), essa empresa alegou aguardar a
realização de nova audiência para que fosse definitivamente realizado um programa de
adequação de conduta.
Portanto, de que maneira a Malharia Manz poderá operar industrialmente nos limites da lei,
porquanto não possui parecer indicativo da Fatma que estaria atendendo às condicionantes
técnicas para a renovação da LAO expirada há quase oito anos?
Existe possibilidade de aceitar o argumento de que a empresa-ré implemente a regularização
ambiental se, contraditoriamente, à sua atual pretensão, afirmou nessa petição, que estaria
claro, segundo a Fatma, que a Malharia Manz não poluía mais o meio ambiente com produtos
tóxicos e que o feito se limitaria à questão do terreno utilizado para o armazenamento de lodo
em tambores?
Como este Juízo pode admitir um plano de gestão ambiental se a própria empresa afirmou
categoricamente (fls.2037/2040) que sua produção industrial não contaminava mais o meio
ambiente?
Prossigo.
9. Natureza dos processos químicos desenvolvidos pela Manz.
Segundo encarte promocional carreado aos autos pela própria empresa-ré (fls.2545/2546), a
Malharia Manz desenvolve beneficiamento têxtil [especializada no acabamento de tecidos]
estando preparada para executar as atividades de: a) tingimento de tecidos; ramagem;
vaporização; calandra e sanforização, podendo seus equipamentos beneficiar tecidos que
podem ser aplicados no vestuário, linhas automotivas, calçadista, esportiva elaboradas as
partir de cotton; elastano; poliéster; poliamida, poliamida; estano; poliéster/estano e acetato.
Ou seja, as informações técnicas referentes à natureza dos processos industriais desenvolvidos
pela empresa-ré já reafirmam as análises técnicas de que possui alto potencial poluidor e
elevada possibilidade de degradação ambiental, caso não se adotem razoáveis controles
ambientais.
9.1. Saídas clandestinas de efluentes.
A Malharia Manz alega à fl. 3084, que os órgãos ambientais, ao responderem o quesito n. III
(contido no do item 07 de fl. 2928-verso), afirmaram que não foi possível observar novas saídas
clandestinas de efluentes, comprovariam, não haver saídas clandestinas de efluentes e que todo
efluente gerado pela produção industrial passaria pela ETE.
O argumento utilizado pela Manz distorce a conclusão dos órgãos ambientais, uma vez que
assim se manifestaram:
"(...)Item 3. Durante a vistoria não pôde ser observada novas saídas clandestinas de efluentes,
contudo, isso não garante que elas não existam. Tal afirmação tem como fundamento o fato da
empresa desconhecer parte de sua rede hidráulica.(...)" (negritei)
Ora, como bem afirmado pela Fatma e Ibama, durante a inspeção não se constatou novas
saídas clandestinas, ou seja, os órgãos ambientais se referiam à saídas clandestinas ainda não
verificadas nas dependências da Malharia Manz, em nada se reportando às saídas irregulares
anteriormente constatadas.
Conforme os documentos técnicos carreados aos autos, há muito existiam fortes suspeitas de
que a empresa possuía saídas clandestinas de efluentes até o Rio do Braço, ou seja, que não
eram submetidas à tratamento químico e bacteriológico na ETE.
Essa postura dos órgãos ambientais derivava do fato da empresa-ré apresentar parque fabril
antigo; planta hidráulica muito extensa e os documentos técnicos apresentados [mapa da
planta incoerente e ART juntados eram relativos aos sistema de efluentes sanitários e não de
efluentes industriais determinados judicialmente - fl. 2383], que não condiziam com a realidade
evidenciada nas vistorias feitas.
Prova da dificuldade de inspeção da rede hidráulica e das tubulações de saídas dos efluentes
[que em tese, deveriam passar pela ETE], foi a ausência de caixas de inspeção em áreas vitais
da empresa, conforme comprovação feita por três técnicos da Fatma (fl. 2421), em postura que
sinalizou a tentativa da empresa de dificultar a inspeção e o acesso dos técnicos às tubulações.
Vivenciei o problema da falta de caixas de inspeção em pontos essenciais da fábrica, quando
realizei inspeção judicial em março de 2007 na Manz, ocasião em que determinei a abertura de
inúmeros pontos no terreno da empresa-ré.
Não obstante essas providências, o analista ambiental do Ibama, no Parecer Técnico n. 46/06,
lavrado em 20 de setembro de 2006 (fls.2404/2406), já havia afirmado categoricamente que:
"(...) Durante as investigações foi possível constatar que a Manz estava lançando efluentes sem
tratamento na 'linha 2' (foto 2). Através da análise do efluente local, verificou-se que este se
encontrava fora dos padrões permitidos na legislação (pH 4,5, e temperatura 45 ºC). (...)
E que de acordo com o constatado nas vistorias nos dias 04 e 12 de setembro de 2006, a
empresa possuía saídas de efluentes, os quais eram lançados no Rio do Braço sem tratamento
prévio, e que a planta hidráulica apresentada pela empresa, não correspondia à realidade, em
razão da existência de diversos canais de drenagem que sequer eram citados na referida
planta.
Na linha dessas afirmações, sobreveio o Relatório de Vistoria e Fiscalização FATMA-IBAMA,
lavrado em 16 de fevereiro de 2007 (fls. 2744/2771), em que os técnicos desses órgãos
ambientais comprovaram a existência de três saídas clandestinas de efluentes não tratados,
ligadas diretamente no Rio do Braço: a) Ponto 1: Caixa de Inspeção 2, localizada no Setor de
Caldeiras; b) Ponto 2: Caixa de Inspeção 1, localizada no Setor de Tinturaria e c) Ponto 3:
Saída clandestina observada na canaleta próxima à máquina GF14.
10. Alegação da Malharia Manz de que pela primeira vez os órgãos ambientais apresentaram
rol de medidas claras para a regularização de suas atividades (fl. 3087).
Esse argumento é insubsistente, porquanto desde a decisão liminar originariamente proferida
nestes autos, seguiram-se diversas vistorias, laudos técnicos e relatórios de inspeções
realizadas na Malharia Manz, sem que houvesse o atendimento satisfatório das condicionantes
técnicas exigidas pelos órgãos ambientais para sua adequação industrial.
O consectário da Malharia Manz operar há mais de sete sem autorização estatal, em flagrante
desrespeito aos princípios constitucionais e à legislação ambiental, são os relatórios técnicos
comprovando a poluição atmosférica [emissão de particulados em desacordo com as normas,
utilização de caldeiras inadequadas], hídrica [v.g.lançamento de efluentes que poluem
constantemente o Rio do Braço] e terrestres [conforme relatório da CNEM apontado
contaminação do solo por arsênio, níquel, cádmio entre outros elementos].
10.1. Condicionamento da decretação de interrupção das atividades da Manz ao não
atendimento das prescrições formuladas pelos órgãos ambientais (Relatório Técnico de fls.
3006/3012).
Não procede o argumento apresentado pela empresa de que a decretação de interrupção de seu
funcionamento somente ocorra, ao final do prazo requerido para implantação do plano de
gestão ambiental, fique evidenciado o não-atendimento das recomendações formuladas pela
Fatma e Ibama.
O passivo ambiental amplamente documentado nos autos [autuações administrativas,
embargos, multas etc.]; as constatações sobre a continuidade da produção industrial
concomitante à sistemática poluição do Rio do Braço [lançamento de efluentes não tratados,
disposição inadequada de resíduos industriais sólidos, poluição atmosférica, vazamentos de
óleo, utilização de sistema de tubulação clandestina], e a manutenção de atividade industrial
sem licenciamento ambiental, há mais de sete anos, autorizam a decretação da paralisação das
atividades da Malharia Manz, até que se tenha uma regularização técnica do seu processo
produtivo.
11. A questão da tensão entre princípios constitucionais.
Questão de inevitável análise em decisão dessa envergadura, a tensão entre os princípios
constitucionais, de um lado os conformadores da tutela ambiental, em aparente conflito com os
garantidores da livre iniciativa, no caso dos autos demonstram, à evidência, a necessidade de
prevalência dos princípios ambientais sobre os da ordem econômica, dada às características e
peculiaridades da postura adotada pela ré ao longo dos últimos anos.
O silogismo derivado da ponderação de conflito de interesses [liberdade econômica x tutela
constitucional ambiental], conduz, à luz do caso concreto, na prevalência dos princípios
protetivos do meio ambiente ecologicamente equilibrado sobre aqueles norteadores da livre
iniciativa.
A tensão entre os princípios constitucionais garantidores da propriedade (art. 5º, XXII) e da
atividade econômica (art. 170) com a tutela ambiental (art. 225) é resolvida pelo que Robert
Alexy chama de "relação de precedência condicionada", ou seja, tomando-se em conta o caso,
indica-se as condições diante das quais um princípio precede a outro. Assim, não haveria peso
absoluto de princípio algum, mas sim, e tão somente, pesos relativos ("A resolução das colisões
entre princípios constitucionais". José Sérgio da Silva Cristóvam, apud ALEXY, Robert. Teoria
de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1993).
Ocorre que, no caso dos autos, penso ser inequívoca a primazia dos princípios ambientais,
reforçados, em razão do uso nocivo da propriedade pela Malharia Manz.
Apesar de essa ré noticiar a contratação de empresas para a realização de atividades, que ao
meu sentir, são expedientes apenas atenuantes diante da gravidade dos fatos [v.g. a
contratação de empresas para efetuar a coleta de óleo de máquinas e da cozinha e para o
recolhimento e de papéis, plásticos e sucatas de metal - fls. 3024/3025], que não possuem
substância necessária para atestar a regularidade da produção industrial.
A empresa nem sequer conseguiu atender determinação feita pela Fatma, para realizar em
vinte dias, o levantamento global nas instalações da rede hidráulica (com o intuito de indicar
as redes de águas pluviais, efluentes industriais, esgotos sanitários), ao fundamento de que a
planta apresentada não atendia à NBR e não retrataria a realidade da empresa (ofício n.
898/06, de 12.09.2006, cópia à fl.2612).
Ocorre que segundo Alexy, com a colisão de princípios, tudo se sistematiza de forma
inteiramente distinta. A colisão ocorre se algo é vedado por um princípio, mas permitido por
outro, hipótese em que um dos princípios deve recuar. Isso não significa, todavia, que o
princípio do qual se abdica ou se afasta no caso concreto seja declarado nulo, nem que uma
cláusula de exceção nele se introduza.
Ou seja, em determinadas circunstâncias, um princípio cede ao outro ou que, em situações
distintas, a questão de prevalência se pode resolver de forma contrária. Dessa forma, os
princípios têm um peso diferente nos casos reais, e que o princípio de maior peso é o que
prepondera, enquanto que nos conflitos de regras se desenrolam na dimensão da validade, ao
passo que a colisão de princípios, visto que somente princípios válidos podem colidir,
transcorre fora da dimensão da validade, operando-se na dimensão do peso, isto é, do valor
[Theorie der Grundrechte, Baden-Baden, 1985, p. 71 apud Paulo Bonavides. Curso de Direito
Constitucional. São Paulo. Malheiros.11ª ed. p. 249].
O que entendo no caso da Malharia Manz, é a perpetuação de um processo distorcido da
atividade industrial, evidenciado pela precariedade dos controles ambientais de seu processo
produtivo em contraposição à natureza altamente poluidora, característica dos processos
têxteis e à sua recalcitrância em atender às determinações legais e as prescrições do órgão
ambiental licenciador [Fatma]. Esses fatos demonstram sua incapacidade tecnológica e
estrutural da empresa para operar industrialmente na maioria dos mais de dezenove anos, em
que se tem notícia, neste feito, da fiscalização sistemática pela Fatma.
Os tribunais pátrios têm adotado o método de ponderação de interesses, nos termos do trecho
acórdão a seguir transcrito, verbis:
"CONSTITUCIONALIDADE. 1. A proteção constitucional à intimidade e à privacidade não
assume caráter absoluto, e deve ceder ante a presença de indícios de práticas abusivas e
ilegais, merecendo prevalência o interesse público sobre o privado. 2. As questões envolvendo
colisão de princípios constitucionais deve ser resolvida através de uma ponderação em que se
considere que nenhum dos princípios "pode pretender uma precedência básica", mas que o
julgador deve "decidir qual interesse deve ceder, tendo em conta a conformação típica do caso
e das circunstâncias especiais do caso particular" (Robert Alexy, Teoria de los Derechos
Fundamentales, Madrid, 1997) [TRF 5ª Regiao. Agravo de Instrumento nº 53138. Processo nº
200305000351006/PB. Data da decisão: 27/05/2004].
12. Razões e fundamentos fático-jurídicos para a decretação de interdição das atividades
fabris da Malharia Manz.
Transcorridos mais de sete anos desde o ajuizamento desta ação e outros desde a convulsão
societária e seu fechamento por oito meses [entre 2001 e 2002], ao que parece a empresa se
reconstituiu industrial e financeiramente.
Entretanto, o desenvolvimento industrial e econômico sentidos pela empresa, não foi
correspondido com a exigência ambiental para que uma empresa têxtil de grandes dimensões e
elevado potencial poluidor deve ter: os licenciamentos ambientais devidos, e, dentre eles, é de
se destacar a Licença Ambiental de Operação - LAO.
Desde o fim da vigência da última LAO [n. 011/99], transcorreram sete anos e oito meses [não
obstante a Manz alegar que ficou paralisada por oito meses entre os anos de 2001 e 2002 - fl.
1496].
Diante da fragilidade dos seus controles ambientais, chancelar a continuidade das suas
atividades, revela-se medida incongruente com ordenamento jurídico e antiisonômica com as
empresa que operam segundo as diretrizes das normas ambientais.
É de se destacar, que após a empresa ter tido inúmeras oportunidades - desde a decisão, em 27
de setembro de 2000 - para se ajustar à legislação ambiental, as poucas ações materiais
implementadas, sempre foram realizadas com muita dificuldade, sem resultados práticos
satisfatórios à salvaguarda do meio ambiente.
A relutância da empresa-ré para adequar seu processo industrial, não permitem a
procrastinação indefinida das ilegalidades demonstradas. Contudo, os inúmeros precedentes de
autuações administrativas, conjugados com análises técnicas conclusivas, não podem ser
relegados às sombras da concretização do império da ordem constitucional e de todo o
integrado ordenamento ambiental.
O que se observa do acervo probatório coligido aos autos [mais de 3000 páginas], é um ciclo
contínuo de degradação ambiental, desrespeito às normas ambientais e às determinações
judiciais, mantido pela Manz, sempre no limite da compreensão do Judiciário e do pálio da
geração de empregos.
Embora tenham sido elaborados proficientes estudos contendo recomendações técnicas
relevantes à regularização ambiental do seu processo fabril, a Malharia Manz sempre se
limitou em adotar pequenas e fragmentadas ações materiais, sempre de caráter paliativo,
adiando continuamente a implementação de um programa sério e criterioso e que objetivasse
efetivamente, corrigir os diversos processos industriais, que na maioria desse tempo operaram
na completa ilegalidade.
O plano de gestão ambiental, ao que me parece, só foi agora noticiado nos autos por duas
óbvias razões: a) porque a empresa tem consciência que opera há muito tempo sem
licenciamento ambiental e, portanto, sem mínimas condições técnicas de funcionar
regularmente e, b) em virtude de manifestação formulada recentemente pela Fatma.
Ocorre que as últimas petições em que a empresa afirma ter contrato profissional para
planejar e executar um Plano de Gestão Ambiental e requer prazo de cento e vinte dias para o
desiderato é sofismática por diversas razões. Explico.
Primeiro ponto. Não creio haver possibilidade de a empresa executar um plano de adequação
ambiental em prazo tão curto - quatro meses - sabendo-se que opera há quase oito anos sem
LAO. Ora, se ao longo de mais de sete anos a Manz funcionou sem licença ambiental de
operação, como implementará a correção do seu processo produtivo em apenas quatro meses?
Desde a notícia da contratação pela Malharia de Manz de profissional para a elaboração e
execução da festão ambiental [15/08/2007], já transcorreram mais de três meses.
Segundo ponto. Não há qualquer garantia de que após a implementação do plano de gestão
ambiental, a Malharia Manz obterá da Fatma a licença ambiental de operação.
Terceiro ponto. Diante do histórico de autuações administrativas [autos de infração, multas e
embargo das atividades], qual a efetividade da proposta de um plano de gestão ambiental, sem
qualquer posicionamento ou verificação técnica pela Fatma e Ibama?
Quarto ponto. Qual a credibilidade que essa proposta de projeto de gestão possui, se a Fatma e
o Ibama reafirmam entendimento em setembro de 2007 (fls. 3006/3012), de que poucas ações
adotadas foram executadas, estas foram por imposição judicial ou pela atuação desses órgãos
ambientais?
Quinto ponto. A partir da documentação dos autos, se extrai que a aplicação das penas de
advertência, de multas e até interdição da empresa, não foram suficientes à repressão da
continuidade dos danos ambientais [lançamento de dejetos industriais no rio do Braço, a
despeito de possuir uma precária estação de tratamento de efluentes; existência de tubulações
clandestinas que destinavam efluentes de setores fabris diretamente nesse rio sem tratamento,
etc]. Como dar sustentação ao referido plano de gestão, se a Malharia Manz nem ao menos
atende às determinações administrativas e judiciais?
A partir da análise que fiz de toda a documentação carreada aos autos, constatei que as
escassas medidas materiais implementadas pela Manz, além de se mostrarem insuficientes para
correção das deficiências de seu parque fabril, sempre ocorreram com extrema dificuldade,
conseqüência do descaso e irresponsabilidade da empresa-ré com o dever legal de funcionar
adequadamente.
Em alguns casos específicos, ocorreu até o retrocesso material das determinações judiciais,
como a constatação de que a caldeira que deveria estar desativada encontrava-se em
funcionamento, ou a continuidade de irregularidades em suas instalações, tais como a
permanência de resíduos diversos [cinzas da caldeira, embalagens de produtos químicos]
incorretamente dispostos no solo, inclusive com óleo e a presença de cinzas, distribuídas de
forma homogênea, sobre o material de aterro em galpão em obras, que no ano de 2005, fora
objeto de auto de infração pela Fatma (fl.3007).
A determinação judicial de paralisação das atividades da Malharia Manz, embora severa, não
soa como desproporcional ou precipitada por parte do Judiciário. Ao contrário.
A paralisação da Manz é medida consentânea com todo o conjunto lógico e integrado das
manifestações técnicas encentadas nos autos, sem embargo, das conclusões feitas na perícia
judicial, das multas aplicadas em decorrência de infrações ambientais e de penalizações
pecuniárias aplicadas pelo Judiciário [nunca contestadas ou impugnadas pela Manz].
O Sexto ponto. Existem pedidos de paralisação das atividades da Manz desde o ajuizamento da
ação. O Ministério Público Federal requereu, a paralisação das atividades da Manz [ante a
sua não-adequação ambiental mínima], ao menos em seis ocasiões, são elas: 20 de setembro de
2000 [fl. 28]; cinco de julho de 2002 [fl.1497]; cinco de abril de 2004 [fl.1757]; trinta de
agosto de 2004 [fl. 1772-verso]; onze de outubro de 2006 [fl. 2402] e, em 1º de novembro de
2006 [fls. 2472/2476].A Fatma requereu tal medida em 18 de junho de 2002 [fls.1451/1452].
Não vejo outro caminho ou meio para se iniciarem as devidas correções na atividade fabril da
empresa-ré que não seja a paralisação.
Esta medida já foi adotada administrativamente pela Fatma, em correta postura fiscalizatória
[entretanto, desrespeitada pela Manz], e sustentada anteriormente pelo magistrado Dr. Sérgio
Moro [fls.1416/1417], ocasião em que asseverou:
"(...) Nestas condições, em que a empresa, mesmo tendo contra si uma ação civil pública e uma
liminar, não tomou todas as providências necessárias para a readequação de suas atividades,
sendo de se destacar que já transcorreu prazo suficiente para tanto, é o caso de impedir que ela
retome as suas atividades antes que promova a sua readequação, para o que será necessário a
apresentação de um projeto amplo e sério que siga as recomendações constantes no laudo
pericial e ainda nas manifestações do MPF, IBAMA e FATMA relativamente ao laudo. A
solução é drástica, mas necessária (...)" (grifei).
Essa medida também foi ventilada pelo Dr. Franco Mattos e Silva [fls.1490/1494] na ocasião
em que inspecionou as instalações da empresa em 05 de julho de 2002:
"(...)Diante do descumprimento do embargo imposto pela FATMA, é verdade que a empresa
encontra-se hoje em estado de completa ilegalidade. O efluente final gerado pela ETE ainda
não cumpre diversos parâmetros. Entretanto, verifico uma evolução em relação as primeiras
medições posteriores ao reinício das atividades da empresa.(...) concordo com a FATMA e o
MPF de que o descumprimento da lei especialmente quando contínuo, gera obrigação de
indenização do dano ambiental, que será sopesado no momento oportuno."
13. Precedentes jurisprudenciais.
A continuidade de atividade poluidora, desprovida de licença do órgão estatal competente
[FATMA], extrapola os limites da legalidade e afronta a cláusula de proteção ao meio
ambiente, o que faz com que a determinação judicial de paralisação das atividades não encerre
ingerência no direto de desenvolvimento de atividade mercantil.
O ordenamento constitucional albergou alguns dos pilares do liberalismo econômico,
garantindo pois, a livre iniciativa, o trabalho humano, a propriedade privada, de outro lado,
também foi necessariamente tutelada a função social da propriedade [inciso III do art. 170], e
a defesa do meio ambiente [inciso VI do art. 170], além de sistema protetivo próprio [art. 225],
que plasmou a função socioambiental da propriedade, em conjugação sistêmica com as
disposições contidas no inciso II do art 3º [garantia do desenvolvimento nacional], art. 23,
dentre outros dispositivos constitucionais.
Ressalto principalmente à Malharia Manz, para que depois não se alegue em sede recursal, que
os julgados adiante transcritos, não condicionaram o convencimento deste Juízo Federal para
a decretação de paralisação de suas atividades.
Sobre a possibilidade de paralisação de atividades poluidoras, transcrevo alguns julgados do
TRF da 4ª Região:
"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO
AMBIENTAL. COMPETÊNCIA. LIMINAR. DEFERIMENTO. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.
1. É competente, para a ação civil pública correspondente, o juiz federal com jurisdição sobre
o local do dano.
2. A conjugação dos legais requisitos torna imperativa a concessão de liminar em ação civil
pública. É como se dá quando, por um lado, se requer a sustação de novas autorizações de
atividade potencialmente desagregadora do meio ambiente, e, por outro, há forte presunção
de degradação. Em casos tais, são prevalentes os princípios desse particular domínio da
ciência jurídica, destacando-se o princípio da precaução (CF/88, art. 225) pois as ocorrências
da espécie se mostram, amiúde, irreversíveis." (TRF 4ª Região, 4º Turma, AG nº. 111.939,
Processo nº. 2002.04.01.034992-0/SC, Data da decisão: 06/02/2003, Relator: Juiz Amaury
Chaves de Athayde) (grifei)
"AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. POLUIÇÃO.
1) Um dos fins da Ação Civil Pública, entre outros , é o de responsabilizar os causadores de
danos ao meio ambiente. Sendo assim, é perfeitamente lícito o uso da ACP para paralisar as
atividades de determinada empresa, sempre que se verifiquem defeitos mecânicos em seu
sistema de tratamento de efluentes, a fim de evitar a ocorrência de dano ambiental.
(...)." (Processo: 9504281494/RS. 4ª Turma. DJ.::21/10/1998, p. 813. Rel. Juiz José Luiz B.
Germano da Silva).
(...)
A responsabilidade pela degradação ambiental é objetiva. O agente é responsável pela
reparação do meio ambiente, ou indenização, independentemente da análise subjetividade da
ação; assim, a responsabilidade pelo dano ambiental prescinde da pesquisa da culpa latu sensu
e, em certos casos, do próprio nexo causal, eis que, a mera sucessão pode gerar o direito de
reparar.
Um dos alicerces do direito ambiental o princípio do poluidor-pagador, cabendo ao poluidor
arcar com o prejuízo causado ao meio ambiente da forma mais ampla possível.
Nas palavras de Antônio Herman V. Benjamin, "o princípio do poluidor-pagador "impõe ao
poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção, reparação e repressão da poluição.
Ou seja, estabelece que o causador da poluição e da degradação dos recursos naturais deve ser
o responsável principal pelas conseqüências de sua ação (ou omissão)" (O princípio do
poluidor-pagador e a reparação do dano ambiental, in Dano ambiental: prevenção, reparação
e repressão, São Paulo: RT, p. 228).
Dessa forma, por força dos artigos 3º, III e IV, e 14, todos da Lei n.º 6.938/81, ao poluidor
incumbe primacialmente reparar o ambiente degradado, não se desonerando disso por contrato
privado que teça com terceiros.
Pelo princípio da reparação integral, todo aquele que causar um dano ao ambiente deve arcar
com as conseqüências patrimoniais de seu ato.
(...)
14. Princípios constitucionais da ordem econômica.
O art. 170 da Constituição Federal enumerou os princípios regentes da ordem econômica
nacional, a saber: a) soberania nacional; b) propriedade privada; c) função social da
propriedade; d) livre concorrência; e) defesa do consumidor; f) defesa do meio ambiente; g)
redução das desigualdades regionais e sociais; h) busca do pleno emprego; i) tratamento
favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas e com sede no país [Alexandre de
Moraes. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. São Paulo. Atlas, 3ª
ed. p. 1836/1837].
Pode-se dizer atualmente que a livre concorrência, não é só aquela que espontaneamente se
cria no mercado, mas também aquela outra derivada de um conjunto de normas de política
econômica, o que pode ser chamado de um regime normativo da defesa da concorrência
voltada ao restabelecimento das condições de mercado [Celso Bastos e Ives Gandra da Silva
Martins. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo. Saraiva. V7. p. 26-27, apud
Alexandre de Moraes. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. São
Paulo. Atlas, 3ª ed. P. 1838].
Por conseguinte, o Estado deve garantir o exercício da livre concorrência e a defesa contra o
abuso do poder econômico, conjuntamente com a manutenção dos princípios cardeais, que
asseguram a coexistência das atividades econômicas com um equilíbrio do meio ambiente
natural razoável, sob pena, de romper o limite tênue que existe entre os ecossistemas e as ações
humanas, com conseqüências negativas óbvias para a sociedade.
Essa conjugação ou harmonização não é tarefa fácil e não se esgota em um dado processo
judicial ou discussão jurídica, é um caminho a ser percorrido constantemente pelos atores
sociais ativos, de modo que as formulações e os debates teóricos encontrem respaldo nas
necessidades empíricas da sociedade civil.
Nesse norte decidiu o STJ:
"(...)
2. Deveras, sólida a lição de que um "dos fundamentos da Ordem Econômica é justamente a
'liberdade de iniciativa', conforme dispõe o art. 170, o qual, em seu inciso IV, aponta, ainda a
'livre concorrência' como um de seus princípios obrigatórios. : 'A ordem econômica, fundada
na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
IV - livre concorrência'. Isto significa que a Administração Pública não tem título jurídico para
aspirar reter em suas mãos o poder de outorgar aos particulares o direito ao desempenho da
atividade econômica tal ou qual; evidentemente, também lhe faleceria V o poder de fixar o
montante da produção ou comercialização que os empresários porventura intentem efetuar. De
acordo com os termos constitucionais, a eleição da atividade que será empreendida assim como
o quantum a ser produzido ou comercializado resultam de uma decisão livre dos agentes
econômicos. O direito de fazê-lo lhes advém diretamente do Texto Constitucional e descende
mesmo da própria acolhida do regime capitalista, para não se falar dos dispositivos
constitucionais supramencionados. No passado ainda poderiam prosperar dúvidas quanto a
isto; porém, com o advento da Constituição Federal de 1988, tornou-se enfaticamente explícito
que nem mesmo o planejamento econômico feito pelo Poder Público para algum setor de
atividade ou para o conjunto deles pode impor-se como obrigatório para o setor privado. É o
que está estampado, com todas as letras, no art. 174: 'Como agente normativo e regulador da
atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
(...)" (Celso Antônio Bandeira de Mello in "Curso de Direito Administrativo", 14ª ed.
Malheiros, 2002, p. 619-620).(...)" (Resp nº 549873/SC. 1ª Turma. Data da decisão:
10/08/2004. DJ DATA:25/10/2004, pág. 224. Relator Ministro Luiz Fux).(sem grifos no
original).
Penso que seria muito simplista, qualquer alegação de que a empresa-ré gera empregos e o
manto da tutela constitucional da livre iniciativa e da ordem econômica [art. 170 da CF/88], a
salvaguardaria de qualquer medida judicial mais rígida, no que concerne à paralisação de
suas atividades pela inadequação técnológico-ambiental e a continuidade de diversificada
degradação ambiental.
Esse argumento [de fácil manuseio, e que em algumas situações específicas, revela força
relevante], no caso da Malharia Manz, não possui o efeito de isentá-la do dever de corrigir sua
inadequação ambiental e poluição sistêmica, porquanto o caráter econômico [evidente] de suas
atividades não sobressaem vencedores, frente aos deveres de atendimento à legislação
ambiental.
15. Princípios do Direito Ambiental.
Considerando que os ideais do Direito Ambiental são basicamente preventivos, o licenciamento
de uma atividade pelo Poder Público é de incontestável interesse comum, razão pela qual
vigora o Princípio da Prevenção, que se caracteriza pela preocupação com o momento anterior
à consumação do dano, ou seja, quando da existência do mero risco, devendo-se priorizar,
portanto, as medidas que evitem o nascimento de atentados ao meio ambiente, a fim de reduzir
ou eliminar as causas passíveis de alterar a sua qualidade ou equilíbrio.
Como bem afirmou o Juiz Federal Paulo Afonso Brum Vaz, em seminário de Direito ambiental
- Ano V, intitulado Reparação do Dano ambiental, referente a Mineração em Santa Catarina e
o meio ambiente, realizado pelo Centro de Estudos Judiciários, nos dias 27 e 28 de março de
2003, cujo trecho transcrevo abaixo:
"Em matéria ambiental, prevenir é mais importante que reconstituir e obter futura indenização
por dano já ocorrido. Os prejuízos ao meio ambiente nem sempre são mensurados, uma vez que
têm repercussão em vários campos da atividade humana. A rigor, muitas vezes as lesões ao
meio ambiente, conforme o recurso atingido, são irreversíveis, a despeito da possibilidade de
condenação do agressor ao ressarcimento do dano causado. Por isso, afigura-se imprescindível
a prevenção, como medida que se antecipe às agressões potenciais à natureza. Em vista do
perigo iminente ou potencial de dano ambiental , deve o Poder Público, assim também como o
particular, agir, evitando o surgimento da agressão, ou, ao menos, estancando desde logo seus
efeitos deletérios, se já iniciada."
Conquanto, diante da ínfima efetividade da mera reparação do dano, que quase sempre é
incerta, insuficiente e onerosa, a prevenção acaba se tornando o melhor, quando não, o único
meio para a manutenção do equilíbrio ambiental do planeta, fato que, por si só, já justificaria a
atividade concernente ao poder de polícia da administração pública, em exigir o licenciamento
de empreendimentos sócio-econômicos, passíveis de ensejar agressão ao meio ambiente e à
saúde pública.
No caso dos autos, embora exista um extenso rol de agressões aos bens ambientais pela
empresa-ré, penso que ainda há tempo hábil para se tomar medidas preventivas objetivando
resguardar os ecossistemas existentes nas proximidades de suas instalações.
15.1.A sustentabilidade ambiental.
O princípio da sustentabilidade ambiental procura conjugar o progresso e o desenvolvimento
econômico com a preservação ambiental, em razão da finitude dos recursos naturais frente a
crescente demanda mundial por bens e matérias naturais. Este tópico, aliás, é o objetivo nº 7 do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD.
Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades
(TRF4, AC nº 2000.70.08.001184-8, 3ª Turma, Relator Marga Inge Barth Tessler, publicado em
07/05/2003).
Sobre a questão, o STF assentou:
"(...)
A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE
DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O
PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO
JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA.
- O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente
constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo
Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da
economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando
ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos
mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz
bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e
futuras gerações. (...)"(ADI-MC. Processo nº 3540/ DF. DJ 03/02/2006, pág. 0001.Rel. Celso
de Mello). (sem grifos no original).
De outro norte, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de
1981), inseriu como objetivos dessa política pública - compatibilizar o desenvolvimento
econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico
e a preservação dos recursos ambientais, com vistas à sua utilização racional e disponibilidade
permanente (art. 4, I e VI). Entre os instrumentos da política nacional do meio ambiente
colocou-se a avaliação dos impactos ambientais (art. 9, III).
A prevenção passa a ter fundamento no direito positivo nessa norma, sendo incontestável
passou a ser a obrigação de prevenir ou evitar o dano ambiental, quando o mesmo pudesse ser
detectado antecipadamente.
A sustentabilidade ambiental está umbilicalmente ligada a vários princípios ambientais
positivados em inúmeros ordenamentos jurídicos. Segundo PAULO AFFONSO LEME
MACHADO:
"O princípio da precaução (vorsorgeprinzip) está presente no Direito alemão desde os anos 70,
ao lado do princípio da cooperação e do princípio poluidor-pagador. Eckard Rehbinder,
Professor da Universidade de Frankfurt, acentua que a política ambiental não se limita à
eliminação ou redução da poluição já existente ou iminente (proteção contra o perigo), mas faz
com que a poluição seja combatida desde o início (proteção contra o simples risco) e que o
recurso natural seja desfrutado sobre a base de um rendimento duradouro (1). Gerd Winter,
Professor da Universidade de Bremen diferencia perigo ambiental de risco ambiental. Diz que,
´se os perigos são geralmente proibidos, o mesmo não acontece com os riscos. Os riscos não
podem ser excluídos, porque sempre permanece a probabilidade de um dano menor. Os riscos
podem ser minimizados. Se a legislação proíbe ações perigosas, mas possibilita a mitigação
dos riscos, aplica-se o 'princípio da precaução', o qual requer a redução da extensão, da
freqüência ou da incerteza do dano.' " (Direito Ambiental Brasileiro, Malheiros, 9ª edição, p.
49/50).
A Constituição de 1988 instituiu como princípio conformador da ordem econômica brasileira,
pela vez primeira, a defesa do meio ambiente, exigindo, com isso, que toda atividade sócio-
econômica executada mantenha e conserve os recursos naturais, objetos de sua apropriação,
dominação e transformação. Trata-se de princípio constitucional impositivo, que cumpre dupla
função, qual seja, de instrumento para a realização do fim de assegurar a todos uma existência
digna e objetivo particular a ser alcançado.
A teoria do desenvolvimento sustentável reclama uma ação responsável na exploração e no
manejo correto dos recursos ambientais, de modo a permitir, também naturalmente, a
recomposição dos elementos utilizados.
Além disso, a Lei nº 6.938/81, ao dispor sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, tem como
objetivo principal, a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida (art. 2º, caput), considerando, como degradação da qualidade ambiental, a alteração
adversa das características do meio ambiente e, como poluição , a degradação da qualidade
ambiental, resultante de atividades que direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde e o bem-
estar da população, definindo como poluidor, a pessoa física ou jurídica de direito publico ou
privado responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental (art. 3º, incisos II, III, a e IV), visando, assim, "a compatibilização do
desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do
equilíbrio ecológico" (art. 4º, I). (TRF da 1ª Região. AG nº 200501000221193/DF. 6ª Turma.
Data da decisão: 19/09/2005. DJ: 24/1/2006, p. 33, rel. Des. Federal Souza Prudente).
16. Prova dos danos e a relevância das alegações do MPF.
Resta claro nos autos, que no período de tramitação desta ação, a Malharia Manz operou sem
licenciamento ambiental regular, pois não demonstrou o atendimento das condicionantes
impostas pela Fatma, pondo em risco à saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Ademais, incide à empresa-ré a obrigação de desempenhar a atividade dentro de postulados do
desenvolvimento sustentável e preservação do meio-ambiente. Em segundo lugar, porque,
consoante se denota de todos os documentos acostados nos autos, a empresa foi sistemática e
continuamente fiscalizada pelos órgãos ambientais, notadamente pela Fatma, fatos
comprovados pelos relatórios ambientais e inúmeros autos de infração apresentados nos autos.
Além da ilegalidade operacional da Manz [não possui licenciamento ambiental global ou em
setores críticos, como a tinturaria e estamparia], degradou o meio ambiente, e mesmo com a
aplicação de multas pecuniárias aplicadas pelo Juízo e pela Fatma, continuou desenvolvendo
atividades ao arrepio da lei.
Tais fatos, aliados à vigência em nosso ordenamento jurídico dos princípios informadores do
direito ambiental, são suficientes, ao reconhecimento de verossimilhança das alegações
formuladas pelo MPF.
17. Do perigo na demora da prestação jurisdicional.
Há perigo na demora advinda do aguardo do curso da lide porque o dano perpetrado ao meio
ambiente vem ao longo dos anos, causando efeitos nocivos à flora, à fauna e à população desta
região, na medida em que a manutenção de atividade fabril com várias irregularidades deve
ser imediatamente cessada.
Soma-se a este quadro, o parecer da CNEM (fls.1536/1548), indicando que amostras de solo e
sedimentos - em área que a Malharia Manz estocava tambores com resíduos de tratamento de
efluentes da sua planta industrial -, ocorreu a contaminação por cromo, arsênio e níquel,
havendo ainda, teores de selênio e cádmio acima dos valores de referência.
18. Síntese das razões para ser decretada a paralisação das atividades da Malharia Manz
Ltda.
Elenco as razões para o deferimento do pedido de paralisação das atividades da Malharia
Manz Ltda:
a) a empresa-ré opera industrialmente sem licenciamento ambiental há mais de sete anos. A
última licença ambiental de operação teve sua validade esgotada em março de 2000; b)
segundo a Fatma e o Ibama, a Malharia Manz não possui condições de operar industrialmente;
c) as multas administrativas e judiciais não compeliram essa ré à readequar o seu processo
produtivo; d) a empresa-ré reluta em adotar medidas técnicas imprescindíveis à regularização
ambiental; e) não há qualquer indicativo pelo órgão ambiental licenciador - FATMA -, de que
a Manz estaria por renovar sua licença de operação; f) seu porte, escala de produção
industrial e a natureza dos processos industriais que desenvolve [indústria têxtil], possui
elevado grau de impacto e poluição ambiental para se permitir seu funcionamento regular
desprovido de licenciamento ambiental; g) constata-se que desde o deferimento da medida
liminar em setembro de 2000, não ocorreu avanço significativo nos controles ambientais dos
processos fabris desenvolvidos pela Manz; h) não há nos autos, uma manifestação técnica
conclusiva ou com força técnica produzida pela Manz que desconstitua as análises técnicas
apresentadas pelos órgãos ambientais.
19. Em razão desses fundamentos, INDEFIRO o pedido formulado pela Malharia Manz Ltda,
para que o processo fosse suspenso pelo prazo de noventa dias para a apresentação de novos
estudos técnicos e para elaboração de plano de gestão ambiental.
20. Diante dos fatos e fundamentos jurídicos expostos e, em especial, considerando a extensão,
dimensão, gravidade e a diversificação dos danos perpetrados continuamente pela empresa ré
ao longo dos últimos anos, em decorrência de contundentes deficiências de seu processo
produtivo, em desrespeito às normas ambientais, às determinações deste Juízo e dos órgãos
estatais, sem embargo, do não-atendimento do princípio da função socioambiental da
propriedade [art. 5º, inciso XXIII, conjugado com o inciso VI, do art. 170 e art. 225, todos da
CF/88], bem como a ausência de implementação de qualquer ação de recuperação ou correção
técnico-ambiental do seu processo produtivo, período em que sucessivos laudos de vistoria
apontam para a contínua contaminação e degradação ambiental [solo, ar e o Rio do Braço],
DEFIRO PARCIALMENTE o pedido formulado pelo Ministério Público Federal (fls.
3072/3076), com base nos artigos 798 e 888, VIII, do Código de Processo Civil, e determino a
PARALISAÇÃO INTEGRAL das atividades industriais desenvolvidas pela MALHARIA
MANZ LTDA, estabelecida na Av. Santos Dumont n.ºs 4221 e 4240 [ou outra numeração que
porventura exista], Zona Industrial, em Joinville/SC." (vide folhas 38-51 do instrumento).

Muito embora a gravidade da medida adotada, a determinação da


paralisação das atividades da empresa, diante do quadro que se apresenta, era
imprescindível.
Cabe ainda referir, em face das razões articuladas pela recorrente
no recurso, de que a tese de que foi surpreendida com a medida judicial adotada
é completamente descabida. Conforme depreende-se dos autos, o Judiciário agiu
com extrema parcimônia e boa vontade com a empresa-agravante, permitindo
sucessivos e contínuos prazos para corrigir as graves deficiências em seu parque
fabril, isto desde o ajuizamento da ação civil pública, no longínquo ano de 2000.
Melhor sorte não lhe assiste, no que diz respeito à alegação de que teria
protocolado junto à FATMA pedido de licenciamento ambiental em setembro de
2005, não tendo obtido resposta até o momento. A questão foi devidamente
enfrentada no item 6 da decisão vergastada (acima transcrita), argumentos que
não foram contraditados suficientemente nas razões recursais, na medida em que
a agravante limita sua argumentação na existência do pedido que não é apreciado
desde 2005, sem combater especificamente os argumentos postos na decisão
impugnada. As razões recursais são, no tópico, insuficientes para serem
acolhidas. Ademais, não há demora na apreciação do mencionado pedido, o que
há é a impossibilidade da concessão em face da precariedade do processo
produtivo da agravante. Por fim, cabe referir que o argumento de que apenas a
tinturaria apresenta potencial poluidor e, em conseqüência, não haveria razão
para se interditar a atividade de tecelagem desenvolvida pela empresa, não há
como ser acolhido, em face dos antecedentes e diante dos históricos de atuações
e penalidades administrativas aplicados à agravante desde o ajuizamento da ação.
Excluir a interdição de parte da empresa, não traria garantia alguma do término
da prática dos danos ambientais, além de dificultar ou, quiçá, até inviabilizar o
cumprimento da ordem judicial.
Ante o exposto, indefiro o pedido de efeitos suspensivo.
Intime-se e, posteriormente, remeta-se ao Ministério Público
Federal para contra-razões.
Comunique-se ao Juízo de Origem a prolação da presente decisão.
Porto Alegre, 06 de dezembro de 2007.

Desª. Federal MARGA INGE BARTH TESSLER


Relatora

Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de


24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil,
por:
Signatário (a): MARGA INGE BARTH TESSLER
Nº de Série do
42C5154A
Certificado:
Data e Hora: 07/12/2007 15:20:43

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