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A DESUMANIZAÇÃO DO OUTRO

Filme: O Elo perdido (Man to man)

Diretor: Régis Wargnier

Ano: 2005

O filme “O Elo perdido” trata da questão de até aonde vão às consequências de


se desumanizar o Outro e considerar isso uma justificativa e permissão por si
só dada a qualquer atitude humana sobre o diferente. O filme passa-se em
1870 a qual na busca de explicar a origem humana três cientistas, Jamie Dodd,
Alexander Auchinleck e Fraser Mc Bride, se propõem a estudar um casal de
pigmeus, Toko e Likola, que são capturados por Dodd juntamente com a
antropóloga Elena Van Den End em uma expedição à África Central, e já com
este direcionamento embasam sua pesquisa em medidas faciais e de crânio a
partir das quais conclui Alexander e Fraser, o segundo com menos veemência,
que encontraram o elo perdido. Porém Jamie Dodd por uma série de reações e
ações do casal refuta essa conclusão por notar em Toko e Likola as
capacidades intelectuais e sensíveis propriamente humanas, impensadas pelos
outros dois pesquisadores.

Já nessa síntese do filme podemos notar as influências do contexto histórico


permeando as atitudes e visões das personagens, seja legitimando as que
estavam conformadas em tal contexto ou dificultando as que divergiam dele.
Essa busca pela origem humana já tem sua importância contextualizada pela
teoria da evolução de Darwin, que modificada e aplicada à sociedade
justificava pesquisas e métodos desumanos como os sofridos por Toko e
Likola. Até mesmo o Imperialismo econômico exercido pela Europa está
justificado nesse darwinismo social, pois como há neste uma escala para
evolução humana, a superioridade comodamente é atribuída a quem e pelos
olhos de quem se constrói tal teoria, enquanto que a inferioridade na
classificação das sociedades humanas, e até mesmo a origem dessa escala, é
direcionada ao exótico, como é demonstrado no filme ao se buscar um elo
perdido em outro continente.

Há também uma demonstração da grande importância atribuída à ciência


através da atitude de Alexander e Fraser, que para não arriscarem perderem a
apresentação à academia, novamente aprisionam durante a noite Toko e Likola
para apresenta-los acorrentados, o que também atenderia à imagem de
selvagens por eles atribuída, e prendem Jamie na mesma jaula em que antes o
casal ficara preso, o que vale ressaltar já que a localização em uma etapa
inicial da evolução humana que antes era motivo para a não aplicação dos
direitos humanos e com isso possibilitava a crueldade aplicada no caso dos
pigmeus, não justificaria no caso de Jamie, e mesmo assim os direitos também
são suprimidos, em ambos os casos pelo mesmo desejo julgado maior que é o
dito avanço científico, mas que legitima apenas no primeiro caso. Seguindo
essa apresentação acadêmica, os pigmeus também são expostos em um
zoológico com um grande sucesso de público, apresentações estas, de
humanos em zoológicos que realmente existiram e foram sensações na Europa
no século XIX e até mesmo depois dele. Jamie ao sair de sua prisão forjada e
se deparar com essa exposição no zoológico fica indignado e também
orgulhoso com a reação do casal pigmeu de não mais se alimentarem e
ficarem inativos, boicotando os proprietários do zoológico, que como única
solução possível acabam permitindo que através da confiança mútua
instaurada entre Likola, Toko e Jamie, que este tente faze-los se alimentarem e
animarem. No entanto Jamie vê nessa possibilidade de intervenção a chance
de desconstruir a imagem irracional e selvagem passada de Toko e Likola,
usando inesperadamente nesta ressignificação a mesma prática usada para
exploração. Essa intervenção se torna um dos pontos altos do filme pela crítica
inovadora ao pensamento de superioridade vigente na época, pois durante
uma apresentação a qual Jamie interpreta um domador dando ordens aos
pigmeus, o que era totalmente de agrado do público, este é surpreendido com
o que é interpretado como um imprevisto, onde o casal revolta-se contra Jamie
causando uma inversão dos papéis, assumindo eles o papel de domadores e
levando-o até onde ele assume o papel de espécie em exposição, com suas
características tidas como as superiores expostas em um cartaz de
identificação: homem, caucasiano, 30 anos.

Outro ponto alto é quando o segredo da gravidez de Likola carregado apenas


por ela, Toko e Jamie é revelado por Fraser, deixando subentendido também
uma possível paternidade dele, e o que faz com que Alexander novamente
capture Likola para dar continuidade a pesquisa com o aborto forçado de seu
feto, o que só é impedido por Toko, Elena e Jamie interromperem, e este dizer
que o filho de Likola pode ser dele como única forma possível de proteção ao
bebê. E essa passagem é de extrema relevância para demonstrar a diferença
dada a um filho entre Likola e Toko que nem ao menos seria protegido de um
aborto forçado, e entre um filho de Likola e Jamie.

Contudo, mesmo com a proteção garantida a Likola e o bebê que mais tarde
seriam levados de volta à África, Toko não tem seu rancor amenizado até
perseguir Alexander e cortá-lo no rosto, o que acarreta sua morte pelas
testemunhas e pela população sedenta por vingança, que já demonstrava
receio e raiva pela presença dos pigmeus na cidade. E este desfecho não é
menos contextualizado, já que mortes dos considerados inferiores eram
comuns.

Rossane do Nascimento Cordeiro Alves


Graduanda em Ciências Sociais

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