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X Encontro Regional de Estudos Geográficos – X EREG

Políticas de (Des)envolvimento da/ na REGIÃO NORDESTE: Uma leitura crítica geográfica


22 a 25 de julho de 2009

PROJETO MANDALLA NO CARIRI PARAIBANO: Limites e viabilidades de uma


proposta de desenvolvimento e sustentabilidade no semi-árido

1
Luiz Gustavo Bizerra de Lima Morais
2
Daniel Almeida Bezerra
3
Hosana Vieira da Silva

Resumo

Esta pesquisa tem como objetivo uma análise da paisagem agrícola do município de
São João do Cariri, tendo como base os pressupostos do projeto Mandalla que é um
sistema sustentável de desenvolvimento humano e agrícola, que visa através de
medidas de baixo custo, criar mecanismos que possibilitem uma melhor integração
entre a família rural e o meio em que vivem. Foi realizada uma entrevista no local com
o intuito de se averiguar possíveis falhas na administração do espaço agrícola.
Averiguou-se a função do geógrafo, através do seu conhecimento global do espaço,
para uma melhor qualidade de vida para o homem do campo. O trabalho em conjunto
entre geógrafos, engenheiros e populares torna-se imprescindível na medida em que
as trocas de conhecimento mostram-se eficazes na resolução dos problemas que são
enfrentados pela comunidade rural; Para tanto se faz necessário o conhecimento da
paisagem geográfica, do comércio local, e de possíveis medidas políticas,
principalmente àquelas que tangem a “formar” um espírito de solidariedade entre
aqueles que compartilham dos mesmos problemas enfrentados no semi-árido. Há
dentro do contexto da administração da Mandalla um destaque especial para presença
da mulher, pois, é ela quem direcionará os rumos do beneficiamento dos produtos
agrícolas. No contexto sócio-espacial, o Projeto Mandalla propõe uma integração entre
as possíveis Mandalas em formação, pois estas, em conjunto, venceram com
solidariedade obstáculos. Dessa forma, o conhecimento produzido na universidade
concretiza-se em ação social na prática.

Palavras-chave: Semi-árido; Sustentabilidade; Agricultura Familiar; Desenvolvimento


social.

1
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia na Universidade Estadual da Paraíba [UEPB]
2
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia na Universidade Estadual da Paraíba [UEPB]
e Graduando do Curso Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba [UEPB].
daniel_sagacidade@hotmail.com
3
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba
[UEPB].
Campina Grande, ISBN 978-85-61702-14-4, REALIZE Editora, 2009
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Políticas de (Des)envolvimento da/ na REGIÃO NORDESTE: Uma leitura crítica geográfica
22 a 25 de julho de 2009

Introdução

O projeto Mandalla é por nós, geógrafos, apontado, como uma das


tecnologias apropriadas para o manejo sustentável dos recursos naturais do semi-
árido, devido sua importância para a agricultura familiar, configurando-se como
estratégia para romper com o forte sistema de produção vigente desde a colonização:
O sistema de produção agropecuária.
O modo como foi tratada as terras semi-áridas do nordeste, gerou ao longo
da história, uma pobreza quase que generalizada nestas terras. Também o modo, ao
qual fomos colonizados, pode explicar um pouco a situação agrária vigente até hoje. O
Nordeste, em especial, foi palco da destruição de um dos recursos naturais mais
importantes, o Pau-Brasil, explorada de forma extrativista e desordenada, esta prática
é considerada por Ângela Küster e Ferré (2006, p.15) como sendo “Um dos primeiros
crimes ecológicos da história do Brasil”.
A forma de colonização adotada pelos europeus contou ainda com o
extermínio de grande parte das populações nativas, estas, por conseguinte perderam
muitos dos conhecimentos tradicionais sobre o manejo adequado dos ecossistemas
sensíveis como a Caatinga. A nova forma de trato com a terra implantada pelos novos
habitantes (colonizadores) levou ao empobrecimento dos solos, devido ao seu pouco
conhecimento da natureza e dos ecossistemas locais. As fazendas floresceram por
meio de novas culturas trazidas das mais diferentes regiões do planeta e da criação de
gado.
A partir do final do século XX no Sudeste e no Nordeste iniciou-se a
industrialização da agricultura. Novamente de forma desordenada, por meio de
técnicas trazidas da Europa e adaptadas para outra realidade, isso aumentou a erosão
dos solos com o uso dos terrenos limpos, além de provocar um círculo vicioso que se
iniciava com as práticas que castigavam os solos, as quais contavam com a retirada
da madeira, implantação de culturas e criação de animais, estes, merecem por nós
uma maior reflexão, pois, segundo, Ferre (2006, p. 16)

São estes círculos viciosos dos sistemas de produção agropecuária,


que as iniciativas da sociedade civil e alguns programas
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governamentais procuraram modificar, por isso ganharam mais


espaço nas discussões sobre o desenvolvimento rural sustentável,
mostrando formas opcionais de um manejo mais adequado dos
recursos escassos, dando prioridade para a água.

Detemo-nos a analisar um recorte espacial do semi-árido Nordestino ao


qual São João do Cariri está inserido. O semi-árido abrange 70% da região nordeste,
embora seja estigmatizado como área seca, este, possui índices de precipitação não
tão baixo assim: algo entre 200 e700mm por ano em média.
Durante muito tempo, acreditou-se que o problema do Nordeste seria a falta de
chuva, mas esta visão foi mudada ao longo do tempo através de vários levantamentos
realizados pelas mais diversas pesquisas, em especial as climatológicas. Esta é a real
consciência de que o maior problema da área do Cariri paraibano é a forma de como
manejar as águas existentes no subsolo e as que caem diretamente no solo por meio
de precipitações. Faltam políticas de armazenamento, distribuição, gestão e
tecnologias para captação de chuvas. Várias iniciativas foram tomadas na tentativa de
solucionar esse problema, entre os quais se destacam: O programa desenvolvido
pelas organizações sociais e de assessoria técnica chamado: “Um milhão de
cisternas”, que é apoiado pelo Ministério do Meio Ambiente e executado por entidades
que fazem parte da Articulação do Semi-árido Brasileiro: ASA e o projeto Mandalla ―
DHSA, ao qual dedicamos especial atenção, devido sua abrangência, destacando-se
pelo seu Desenvolvimento Holístico, Sistêmico e (geográfico) Ambiental.

O olhar do geógrafo sobre a problemática da seca: O Projeto Mandalla em


questão

Ao iniciarmos uma investigação da espacialidade rural através de


elementos que compõem as praticas produtivas empreendidas por aqueles que nesta
dimensão vivem, nos vem à reflexão uma indagação de Phlipponneau (1964, p.214)

[...] Possuirá o geógrafo as técnicas de inquérito que sevem ao


sociólogo para conhecer a estrutura do grupo humano, as
mentalidade individuais e coletivas, as reacções (sic) campesinas
ligadas à adopção (sic) de uma nova técnica, de um novo modo de
vida, e assim colaborar com justeza os métodos que asseguram a
adesão efecctiva (sic) do grupo a um programa de renovação da
agricultura regional?

Sim, o geógrafo as possui, tendo em vista sua formação plural,


interdisciplinar; ele, uma vez possuidor das linguagens técnicas que envolvem as
outras ciências, atuará na forma de um maestro conquanto da elaboração preliminar

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do plano de ação. Este pode ser embasado por linhas de pesquisas anteriores, as
quais apontem para a sustentabilidade.
Esta assume papel preponderante enquanto entendida como instância
social, a qual terá sim que, a partir de parâmetros éticos ambientais, coordenarem
suas ações. A partir dessa consciência, o geógrafo estará habilitado “a assumir um
papel de ligação e a analisar as relações existentes entre os elementos do complexo
sobre o qual se pretende agir” (PHLIPPONNEAU, 1964, p. 214).
Contudo esta ação não se dá de forma isolada, pois, sem a presença de
técnicos, a ação, ou execução do plano/projeto fica comprometida; pois o geógrafo é
capaz de compreender a(s) necessidade(s) do Campo Rural, como por exemplo, um
açude ou irrigação, porém ele não possui e não é de seu viés a execução daquela(s).
Por conseguinte, Phlipponneau (1964, p. 222) nos diz que

A intervenção do geógrafo justifica-se, pois, por um lado pelo seu


conhecimento da estrutura global de um meio agrícola, que lhe serve
para compreender as suas reacções (sic) sob o efeito da
modificação de um fator; por um lado, pelo conhecimento da
localização dos diferentes meios, o que permite prever a extensão
espacial dessas transformações.

Esta visão global é míope nas ciências exatas, ditas especializadas, tais
como as Engenharias; nelas, não se vê o fator humano sendo levado em conta no
contexto da problemática ambiental como se vê pelas Ciências Sociais nas quais a
geografia está inserida. Importa as primeiras apenas à produção em si, já à segunda,
cabe contextualizar a ação dos que trabalham na primeira perspectiva, pois

Se um técnico é insubstituível, o geógrafo auxilia-o dando-lhe a


conhecer os caracteres dos diferentes meios nos quais certas
inovações técnicas são susceptíveis de ser realizadas com êxito e as
suas conseqüências prováveis no conjunto de cada um desses
meios. (PHLIPPONNEAU, 1964, p.226)

Desta forma também a participação do geógrafo é indissociável dessas


ações que perfazem a construção de propostas que viabilizem uma melhor qualidade
de vida para o homem do semi-árido. Desta feita, consideramos o Projeto Mandalla
como sedo sinônimo de circulo de prosperidade. A Mandalla é um sistema de plantio
por meio de canteiros concêntricos formados ao redor de uma fonte de água. Não se
trata de criar algo inovador para que seja aplicado no semi-árido Nordestino, e sim, de
aplicar uma tecnologia de baixo custo que, faz uso de informações, com o intuito de
organizar o potencial produtivo que dispõe esta região. Trata-se de uma estrutura

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dinâmica que fortalece, qualifica e enaltece a agricultura familiar, pois, segundo Labad
e Rodrigues (2006, p.177)

[...] uma política de atividades multiplicativas e ao mesmo tempo em


que possibilita a interação de extremos como forma responsável de
uma ponderação das comunidades de risco. Alicerçando plataformas
multi-participativas, busca enaltecer a pessoa humana como o maior
e melhor capital requerido [...]

São nestas referidas políticas que buscamos mostrar a importância desse projeto para
a região do Cariri Paraibano, especificamente São João do Cariri.

A Mandalla pode ser de estrutura horizontal, na qual a rede de drenagem


das águas é realizada por gravidade, ou ainda pelo método vertical, conhecido como
“árvore de natal”:

FIG.1.Fonte: Agência Mandalla

Ou ainda de forma horizontal:

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FIG.2. Fonte: Agência Mandalla

Willi Pessoa é o inventor da primeira e da segunda versão da Mandalla,


sendo que a primeira, segundo as figuras, possui um caráter especial educativo, pois é
toda feita com base em garrafas pet e pode ser utilizada na construção de hortas
escolares e auxiliar na educação ambiental dos alunos.

Essa forma de atuar no meio rural de forma localizada, pontual, é de muito


mais eficácia, pois, segundo (ANDRADE, 2005, p. 272) “[...] a maior porção do
Nordeste semi-árido não é suscetível à irrigação em larga escala, fato que poderá ser
corrigido com o cultivo de plantas de ciclo vegetativo curto [...]”. Considerar o solo de
certa forma impróprio a receber grande volume de água de forma constante, essa é
sim uma reflexão muito pertinente, principalmente agora em que as obras da
transposição, ou na linguagem propagandista de alguns, a Integração do Rio São
Francisco se processam, o modo em que se vai utilizar estas águas encontra-se
intrinsecamente ligado as peculiaridades do solo do semi-árido, este, pode sofrer
impactos

[...] desaconselhamos a construção do canal que desviará as águas


do [Rio] São Francisco para os rios da porção setentrional do
Nordeste, tanto pelo baixo volume d’água deste rio como pela falta de
conhecimento dos impactos ecológicos sobre área que deverá ser
cortada por ele e, sobretudo, pela existência de águas subterrâneas.
(ANDRADE, 2005, p. 272).

Quatro anos se passaram e os estudos a que Andrade referia-se já foram feitos e


justificaram muito bem a viabilidade do Projeto de Integração do Rio São Francisco;
quanto às reservas hídricas subterrâneas, devemos salientar que a água é salgada,
contudo há propostas como essa da Mandalla que podem ser de grande utilidade para
o homem do semi-árido. Pois este pode trabalhar com a piscicultura no tanque de
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armazenagem de água da Mandalla, ou ainda criar camarão. Assim compreendemos o


posicionamento de Andrade para com a problemática da questão hídrica no Nordeste,
como um direcionamento implícito à necessidade de se investir em soluções pontuais,
as quais encontram boas propriedades de alternativas no Projeto Mandalla.

A região do Cariri paraibano e suas características

O município de São João do Cariri tem todas as condições de promover o


desenvolvimento social através do projeto Mandalla, dispondo de terras férteis e de
quantidade de chuva suficiente. Não se trata de uma área predominante seca, pois
possui média anual de 514,1mm, sendo observado nos últimos cinco anos um
aumento na média anual, que de 2004 para 2009 tem sido em torno de 603 mm.
Portanto não se trata de uma região que sofre com a falta de chuva, e sim, de falta de
políticas que façam o bom uso da água dessa chuva.

Nessa região há todos os problemas plausíveis a serem solucionados com


o projeto Mandalla: Os solos rasos e pedregosos possuem pouca capacidade de
armazenagem de água devido às altas temperaturas, isto, ocasiona e intensifica a
evaporação e também, baixos índices de umidade relativa do ar. Segundo Ab’ Saber
(2003, p.92) “Independente de a estação chuvosa comportar somatórias maiores ou
menores de precipitações, o longo período seco caracteriza-se por fortíssima
evaporação”.

Esta evaporação intensa resulta em rápida perda de água por parte dos
reservatórios que possuem um espelho d’água muito extenso, isso contribui para um
fenômeno natural denominado salinização do solo. Dessa forma a construção de
açudes nesta área não é algo aconselhável, justificando assim, a construção de
pequenos reservatórios como as Mandalas de forma a visar à manutenção da água
durante todo o ano. Além destes fatores morfoclimáticos, nota-se na região de São
João do cariri uma intensa criação de caprinos ― estes, quando criados de forma
extensiva, pode sim danificar o solo para uma produção agrícola, devido a
compactação deste solo através das pegada dos animais; ou seja, através do
“pisoteamento’’.

A sustentabilidade em debate

Constatamos a existência de uma Mandalla inconclusa na região e


procuramos identificar quais os impactos sócio-ambientais que por ventura estariam
relacionados com a implantação deste projeto. Tendo-se em vista que não foi
encontrado nenhum impacto positivo, significativo no contexto social, procuramos
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identificar os elementos que de certa forma, contribuíam para ineficiência deste


empreendimento agrícola.

Para tanto, realizamos uma entrevista com o administrador da Mandalla do


Sítio Santana, o Sr. Antônio e assim, procuramos saber dele as reais contribuições
para o fato de que a Mandalla se encontra à meia funcionalidade. Os parâmetros
metodológicos dessa entrevista encontram consonância com o Método clínico não-
dirigido, conforme especificações encontradas em Marconi e Lakatos (2003, p.197).

De acordo com as informações obtidas com esta, quanto às estruturas


físicas do sítio, não observamos muitas carências, pois estas contavam com quase
todos os elementos necessários a um bom desenvolvimento do projeto. Este
apresenta um bom reservatório de água obedecendo a todos os pré-requisitos básicos
do Projeto Mandalla, mas, com carências quanto à irrigação, pois, ao invés de seis
linhas mestras de distribuição, apenas uma era utilizada para todos os círculos de
produção.

Observamos também que há falhas na distribuição dos círculos de


produção, havendo descontinuidade nos círculos e falta de acréscimo de novas
culturas para cumprirem-se os nove círculos básicos que compõem a distribuição
espacial dos “leirões” em torno do reservatório de água. Falta essa que justifica a
introdução de novas culturas como; feijão, mandioca e milho, pois, estas serão todas
produzidas simultaneamente. O motivo pelo qual isso não é possível é a falta,
segundo o agricultor, de mão-de-obra.

A união de todos que compõem o Espaço Rural para o trabalho ou


execução do projeto Mandalla é essencial segundo Labad e Rodrigues (2006, p.193),
pois,

A evolução do processo Mandalla é possível porque a participação


da comunidade é amplamente ativa e são respeitadas as suas
peculiaridades de tradições e costumes locais, acrescidos de
informações para o progresso, onde novos conhecimentos e novas
tecnologias apropriadas são evidências maiores.

Ao se partir do pressuposto social, o método de análise que melhor


responderá a esta investigação será o geográfico, pois segundo A’b Saber (2003, p.
92) “No vasto território dos sertões secos [...] vivem aproximadamente 23 milhões de
brasileiros. Trata-se, sem dúvida, da região semi-árida mais povoada do mundo. E,
talvez, aquela que possui a estrutura agrária mais rígida da face da Terra”

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Ao iniciarmos a entrevista, com o administrador da Mandalla, Sr. Antônio,


percebemos que, quando perguntado se a terra era própria ou arrendada o
entrevistado revelou que foi chamado para trabalhar pelo proprietário da terra no
sistema meeiro, onde daria metade do que produzisse ao proprietário. Ele alegou que
não tinha como, de início, fazer esse contrato. Mas caso pegassem a ele um salário
mínimo, aceitaria o contrato oferecido pelo proprietário. Hoje ele trabalha apenas sob o
sistema de meia.
Contou-nos ele que, antes de vir trabalhar no Projeto Mandalla trabalhou
numa comunidade vizinha plantando verduras. A terra era arrendada e lá ele fazia
irrigações, tirando água do rio (Taperoá) ou poços da região.
Mas nem sempre foi assim, no início ele trabalhava em terra própria com
toda a família no município de Lagoa Seca, onde todos produziam essa produção era
escoada para João Pessoa e Campina Grande utilizando o seu próprio veículo. Ele
possuíra dois carros, um para levar a produção de suas terras e outro que era
destinado para uso da família e da comunidade.
Ele nos confidenciou que com o passar do tempo a família foi se
desmembrando. Mesmo quando ele próprio passou alguns anos no Rio de janeiro, a
sua família continuou a cuidar da terra. Com a sua volta, o trabalho foi retomado,
depois de alguns de seus filhos casarem e outros tomarem diferentes caminhos. Com
isso, ele tornou-se, ao longo de sua vida, dono de um bar, de uma mercearia, etc.
Hoje são apenas ele e sua esposa, mas afirma que toda a comunidade
local está engajada em seu projeto de vida que é intitulado de Mandalla por se tratar
de pessoas que conhecem bem o sistema de trabalho. Diz ele que, hoje os seus
amigos que trabalhavam no sistema familiar, tem em torno de 70% de tudo que
precisam, retirando da renda oriunda das hortas plantadas pela família.
“A família, hoje viria a solucionar a falta de trabalhadores existente na
região”, falta essa atribuída segundo ele, ironizando é claro, ‘’a grande quantidade de
gente rica na região’’, isso porque ele não consegue trabalhadores para lidar com as
hortaliças. Bem diferente da região onde ele começou a plantar hortaliças (Lagoa
Seca) havendo lá, no tempo em que ele estava trabalhando, pessoas em quantidade
suficiente para realizarem estes serviços.
Mesmo tendo terras de boa qualidade e água suficientemente para levar o
projeto à frente, faltam trabalhadores. Afirma ele que, seus familiares trabalham em
Lagoa Seca plantando hortaliças, mesmo tendo estes uma renda razoável, oriunda de
projetos sociais (salários mínimos), ele nos cita o exemplo de alguns de seus parentes

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onde há sete salários mínimos divididos para sete pessoas e mesmo assim, estão
todos trabalhando na horticultura.
Quando questionado sobre essa situação, ele atribui a falta de
trabalhadores a projetos sociais que estariam injetando dinheiro de forma fácil, sem
trabalho, nas mãos das pessoas. Mas ele supõe haver além deste, outros fatores, que
estariam contribuindo para a falta de mão–de-obra voltada para o trabalho no campo.
Há sim a falta de uma cultura voltada para o campo, onde se produza explorando
águas imersas ou subterrâneas através da irrigação, pois no Cariri a exploração do
solo, na maioria das vezes, está associada apenas ao período chuvoso, sendo raras
as irrigações ou ainda mais raro quando o assunto é Mandalla.
Tem que haver uma maior difusão deste projeto e maior orientação por
parte dos agentes incorporadores, sobre o uso desta ferramenta tão importante para a
sustentabilidade, ainda mais quando se trata de um projeto que envolve valores
humanos e ambientais como: cooperação e a eliminação do uso de agrotóxicos. E
envolve assuntos de interesse social como a oportunidade de emprego, pois ao invés
de se usar mão-de-obra da região para o plantio de hortaliças, tem-se que recorrer
para a mão-de-obra de outras regiões, desvirtuando em parte o projeto das suas
finalidades.
Não há na Mandalla do Sítio Santana nenhum projeto de apoio de cunho
cientifico, por tanto, pode ser comprovado com nitidez a necessidade de uma ajuda
como essa, pois os trabalhadores sentem dificuldades para trabalharem com o solo
que, com o passar do tempo, torna-se pobre, o que eles chamam de ‘’terreno chocho’’.
Há assim uma queda na produção oriunda da Mandalla em torno de 50%, segundo o
senhor Antônio, gestor da Mandalla e, uma descontinuidade altimétrica nas hortaliças,
o que é prejudicial à produção.
Quando perguntado sobre o que ele achava de trabalhar no sistema de
cooperativa, ele disse nunca ter se incorporado a uma, por ter presenciado algumas
tentativas que haviam dado errado, enquanto trabalhava no município de Lagoa Seca.
Seria parte fundamental para o fortalecimento da estrutura produtiva da
Mandalla a implantação de novas culturas. A estrutura tem que satisfazer todas as
necessidades básicas da família. A estrutura é de fundamental importância, como
afirma Triviños (1992, p.80): ‘’ A estrutura e própria de todos os fenômenos, coisas,
objetos e sistemas que existem na realidade [...] ela preserva a unidade que
peculiares a coisa através das conexões estáveis que se estabelecem entre os
diferentes elementos que a constituam’’

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Quanto à dimensão do Projeto Mandalla, Antônio destaca que serve para


irrigação, através do processo de gotejamento. Quanto aos aspectos sociais Antônio
diz servir para ajudar no sustento da família. Ele diz não haver na Mandalla que ele
cuida elementos necessários para garantir o sustento dele e de sua esposa,
precisando ser ampliado com a incorporação de novas culturas. Hoje, a Mandalla
corresponde a 70% do sustento, o que caracteriza a urgência de uma renovação deste
que é o elemento produtivo responsável por mais da metade da renda familiar.
Antônio afirma que, desde quando começou a trabalhar plantando
hortaliças em janeiro de 1960, considera isto parte de sua vida. Apesar de ter tido
várias outras profissões, como dono de bar e comerciante é no campo que ele se
sente melhor.
Apesar de ter passado 10 anos ausente de sua família, sem estar ligado
diretamente com o campo, tinha como objetivo voltar ao campo. Hoje apesar de sua
idade, não podendo trabalhar da mesma forma que antes, não mudou seu objetivo de
vida que é trabalhar no campo. Afirma ele ‘’trabalho porque gosto de trabalhar. Não sei
ficar parado’’. Diz com certa tristeza que hoje planta ‘’apenas para temperar algumas
panelas’’, porque já plantou muito, ‘’já fui empregado, mas também já empreguei muita
gente’’, diz isto, pois, quando trabalhava no Município de Lagoa Seca tinha vários
empregados e produzia muito.
Quando perguntado se sabia o que era Mandalla, ele fez uma descrição
bem superficial desta: “É um deposito de água aonde vem encanada para depois ser
distribuída para as plantas.”.
Uma produção apropriada no semi-árido requer a combinação de
diferentes atividades, em múltiplos sistemas que viabilizem a diversificação das
pontes de obtenção de renda. Deste feito o projeto Mandalla se apresenta como uma
alternativa desta pluralidade coordenada através de um conjunto de ações realizadas
pelos agricultores.
Projeto Mandalla: trata-se de um processo de irrigação, que agrega uma
nova forma de produção de base agrícola diversificada, mantendo com
sustentabilidade as culturas e criações já conhecidas e integradas da região.

Limites e mobilidades do Projeto Mandalla no Cariri paraibano

Outro enfoque a ser visto o projeto Mandalla é quanto à sustentabilidade


do homem do campo em suas terras, não permitindo que a dignidade das pessoas
residentes no campo seja ferida, evitando que estes saiam de suas terras à procura de

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melhores condições de vida. Situações tão rotineiras no Nordeste do Brasil, a


migração, assim definida por Becker (1997, p. 323) como:

Mobilidade espacial da população, sendo um mecanismo de


deslocamento populacional, reflete mudanças nas relações entre as
pessoas (relações de produção) e entre essas e o seu ambiente
físico.

O fluxo migratório priva, em muitos casos, o cidadão de sua felicidade ao


ter que deixar muitas vezes seus parentes para trás ou ter que se desprender de seus
vínculos culturais. Essa situação foi abordada por Patativa do Assaré em uma música
que ficou nacionalmente conhecida na voz de Luiz Gonzaga, a qual se chamou de
“triste partida”. Esta canção, alerta para um problema de muito tempo já conhecido,
mas sua causa na época era atrelada à falta de chuva como mostra esse fragmento:

Em um caminhão ele joga a família


Chegou o triste dia, já vai viajar.
A cerca terrível que tudo devora
E bota pra fora da terra natal
O carro já corre no topo da serra
Olhando para terra, seu berço seu lar.
Aquele nortista partido de pena
De longe ainda acena adeus meu lugar

Fica claro, portanto, que há falta de políticas voltadas para a manutenção


do homem no campo, este, não aprendendo a conviver com todas as adversidades
impostas pelo semi-árido, gera fenômenos sociais que ameaçam a dignidade
humana; gera pobreza e põe em risco o ecossistema e a cultura da sociedade do
bioma caatinga.
Dentre os vários aspectos que chamaram nossa atenção na entrevista
houve um em especial: O fato dele (Antônio) ter percebido que a primeira
transformação deveria acontecer no interior das pessoas que estão envolvidas no
movimento (agrário). Com o apoio moral e intelectual tudo se desenvolveu de uma
forma mais sólida e centrada, tendo assim, possibilitado uma melhor relação entre os
membros que constituem o projeto.
Na esfera local, as idéias de sustentabilidade são assimiladas na tentativa de adaptá-
las ás necessidades locais, particularmente, as mais urgentes, ou seja, incorpora-se
primeiramente a idéia de reverter o quadro de pobreza presente na região, através de
setores produtivos para geração de emprego e renda, além da reeducação da
sociedade para a preservação do meio ambiente, contando, ainda, com a vantagem
dos projetos estarem sendo elaborados por uma equipe de planejadores locais
(agricultores), a nosso ver, os maiores conhecedores da região.
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Por tudo isso que aqui foi abordado, compreendemos que é de suma
importância o papel do geógrafo, tanto na elaboração quanto na execução de projetos
que visem de alguma forma a melhor integração do homem do campo ao seu meio,
por conseguinte, ficou clara essa necessidade de um amparo técnico-científico por
parte do agricultor Antônio para que sua Mandalla apresente plenas condições de
eficiência e possibilite um melhor rendimento para a sua família.

Referências

AB’ SÁBER, Aziz. Os domínios de natureza no Brasil: Potencialidades


paisagísticas. 4. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste: Contribuição ao


estudo da questão agrária no Nordeste, 7. ed. revisada e aumentada, São Paulo:
Cortez, 2005.

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