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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007

Um estudo de caso sobre o processo de produção do biodiesel

Gilmara Caixeta (Uniminas) gilmaraeng@yahoo.com.br


Geraldo Antônio Vieira da Silva (Uniminas) geraldo_udia@yahoo.com.br
Adriana Ferreira de Faria (UFV) adrianaf@ufv.br

Resumo
O uso do petróleo como fonte energética representa uma das maiores causas da poluição do
ar, e sua queima contribui para o aumento do efeito estufa. Desta forma, torna-se
imprescindível a busca por fontes primárias de energia renovável e não poluidoras que
auxiliem no suprimento da demanda de energia e quem sabe, no futuro, possa substituir o
petróleo. Entre as principais fontes renováveis de energia, produzidas a partir da biomassa,
destacam-se o álcool e o biodiesel. O Brasil, hoje, possui capacidade para produzir biodiesel
de qualidade internacional, independente da oleaginosa e da rota tecnológica. Além das
vantagens ambientais, a produção deste combustível desempenhará um importante papel
social e econômico para o país. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo verificar a
viabilidade de produção do biodiesel, através de um estudo de caso em uma empresa na
cidade de Araxá (MG), identificando as barreiras, os custos e benefícios de se tornar
produtor de biodiesel.
Palavras-chave: Biodiesel; Energia renovável; Meio Ambiente..

1. Introdução
Sem dúvida alguma, a força motriz da sociedade moderna é a energia. Somente através da
geração e distribuição da energia, em suas diversas formas, é possível sustentar os processos
produtivos modernos e consequentemente o sistema econômico e social.
Atualmente, a principal fonte primária de energia é o petróleo, tendo sido descoberto em
1859, na Pensilvânia. No início, foi utilizado, principalmente, na produção de querosene para
iluminação. Em 1895, Rodolf Diesel iniciou as pesquisas para utilização de subprodutos do
petróleo como combustível para sua nova invenção, o motor com ignição por compressão.
Porém, o primeiro choque do petróleo, em 1973, marcou o fim da era do combustível
abundante e barato. A elevação contínua dos preços do petróleo, no mercado internacional, a
sua eminente escassez e os problemas ambientais apontam para a necessidade de buscar
alternativas energéticas (AGUIAR, 2005).
A partir da análise de realidades futuras da matriz energética mundial, com vistas a conferir
sustentabilidade, competição e maior equidade entre os agentes das cadeias de energia, em
conformidade com os anseios da sociedade e do meio ambiente, é imprescindível buscar
fontes de energia alternativas, especialmente as renováveis. Neste sentido, ganha destaque a
biomassa, para a produção do álcool e biodiesel (TOLMASQUIM, 2003).
As energias renováveis têm o potencial técnico de atender parte da demanda de energia do
mundo, além de não serem poluidoras e contribuir para a economia de importantes recursos
naturais não-renováveis. Neste sentido, há três aspectos importantes a salientar: viabilidade
econômica, sustentabilidade de cada fonte e disponibilidade de recursos renováveis. Por essas
e outras razões, que as regiões tropicais deverão, doravante, assumir um importante papel de
suprir o mundo com energia, ao mesmo tempo limpar as seqüelas atmosféricas causadas pela
queima dos combustíveis fósseis, dando início assim, o que poderia ser apropriadamente
designada por era tropical (PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA, 2005).
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Nesse contexto, o biodiesel surge como uma alternativa de diminuição da dependência dos
derivados de petróleo e um novo mercado para as oleaginosas. O biodiesel é um combustível
biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais, que,
estimuladas por um catalisador, reagem quimicamente com metanol ou etanol (AGUIAR,
2005).
O Brasil, pela suas imensas extensões territoriais, associadas às excelentes condições
climáticas, é considerado um país, por excelência, apto para a exploração da biomassa para
fins alimentares, químicos e energéticos. Durante quase meio século, o Brasil desenvolveu
pesquisas sobre biodiesel e foi um dos pioneiros ao registrar a primeira patente, onde o
combustível foi produzido através de uma mistura de vários óleos vegetais com metanol e
etanol. O responsável pela patente em 1980, foi o professor Expedito José de Sá Parente
juntamente com a Universidade Federal do Ceará (PARENTE, 2003).
O país ainda pode aproveitar essa vantagem ambiental em termos econômicos ao enquadrar o
uso do biodiesel nos acordos estabelecidos no Protocolo de Kyoto, através das diretrizes dos
Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), pela redução das emissões de gases de
efeito estufa (GEE). Além dos créditos de carbono, as vantagens econômicas passam pela
redução de importações de petróleo e de diesel refinado. A implantação do biodiesel deverá
incrementar a atividade econômica interna e incentivar os investimentos com a instalação de
novas indústrias. Também, promoverá a geração de cerca de 200 mil empregos, além de
aumentar consideravelmente a área de cultivo (AGUIAR, 2005).
A produção no Brasil ainda é incipiente, restringindo-se a experiência em plantas pilotos, com
a participação de universidades e centros de pesquisa. O país tem capacidade para liderar o
maior mercado de energia renovável do mundo, graças a matéria-prima e terras propícias para
o desenvolvimento de inúmeras espécies de oleaginosas, principais fonte do biodiesel
(GUIMARÃES, 2005).
Vários países têm demonstrado interesse no biodiesel, seja para produzir, adquirir ou
consumir. Na Alemanha, a história do biodiesel é ainda mais antiga e hoje este país é o
principal mercado de biodiesel do mundo. Outros países produtores de biodiesel que se
destacam são: França, Itália, República Tcheca, Dinamarca, Estados Unidos, Áustria,
Argentina, Malásia e outros (GUIMARÃES, 2005).
No projeto desenhado pelo governo brasileiro, o biodiesel tem forte apelo social. A idéia é
privilegiar a agricultura familiar nas regiões norte e nordeste. Isso estimularia lavouras da
mamona e do dendê como principais fontes para o combustível. No programa, o governo
propõe mecanismos fiscais para viabilizar o plantio. O biodiesel produzido por agricultores
familiares das regiões norte, nordeste e do semi-árido teria uma redução de 100% na cobrança
de impostos (STEFANO, 2005).
Por meio do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), lançado em 6 de
dezembro de 2003, definiram-se as linhas de financiamento, estruturou-se a base tecnológica
e editou-se o marco regulatório do combustível. Esse programa tem como objetivo implantar
um programa sustentável, tanto técnica como economicamente, de produção e uso do
biodiesel, também conhecido como “combustível verde” (GRANDO, 2005).
Progressos crescentes vêm sendo feitos em diversas universidades e institutos de pesquisa,
oferecendo grande diversidade de tecnologias disponíveis para a produção do biodiesel no
Brasil. Existem também empresas que já produzem biodiesel para diversas finalidades. Pode-
se dizer que o país já dispõe de conhecimento tecnológico suficiente para iniciar e
impulsionar a produção de biodiesel em escala comercial, embora deva continuar avançando
nas pesquisas e testes sobre este combustível e outras fontes renováveis de energia, como,
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aliás, se deve avançar em todas as áreas tecnológicas, de forma a ampliar a competitividade


do país (www.portaldobiodiesel.com.br).
Dada a importância da produção e comercialização do biodiesel para a implantação de
políticas de desenvolvimento sustentável no Brasil, o objetivo deste trabalho é verificar a
viabilidade econômica de um empreendimento para a produção e comercialização do
biodiesel, através de um estudo de caso em uma empresa na cidade de Araxá (MG).

2. Revisão Bibliográfica
O biodiesel é um combustível similar e alternativo ao óleo diesel de petróleo, produzido a
partir de óleos vegetais e gorduras animais. Além de ser um combustível renovável, reduz a
poluição atmosférica e o aumento do efeito estufa, pois, reduz a emissão de CO2, um dos
principais GEE, e de gases de enxofre, causadores da chuva ácida. Quimicamente, o biodiesel
é conhecido como éster metílico, ou etílico, de ácidos graxos, dependendo do álcool utilizado,
que pode ser obtido por diferentes processos como a esterificação ou transesterificação
(AGUIAR, 2005).
Existem dezenas de espécies vegetais no país que podem ser utilizadas para produção do
biodiesel, tais como mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso,
soja, dentre outras (www.portaldobiodiesel.com.br). O Quadro 1 apresenta as principais
características das oleaginosas no Brasil. O custo de produção do biodiesel depende
principalmente da fonte oleaginosa que será utilizada. Empregar uma única matéria-prima
para produzir biodiesel num país com a diversidade do Brasil seria um grande equívoco
(GUIMARÃES, 2005).

Espécie Origem do Teor de Meses de Rendimento


óleo óleo (%) colheita/ ano (t óleo/hec)
Dendê/Palma Amêndoa 22,0 12 3,0 – 6,0
Coco Fruto 55,0 – 60,0 12 1,3 – 1,9
Babaçu Amêndoa 66,0 12 0,1 – 0,3
Girassol Grão 38,0 – 48,0 3 0,5 – 1,9
Colza/Canola Grão 40,0 – 48,0 3 0,5 – 0,9
Mamona Grão 45,0 – 50,0 3 0,5 – 0,9
Amendoim Grão 40,0 – 43,0 3 0,6 – 0,8
Soja Grão 18,0 3 0,2 – 0,4
Algodão Grão 15,0 3 0,1 – 0,2
Quadro 1 - Características de culturas oleaginosas no Brasil (EMBRAPA, 2005).

Na Europa, usa-se predominantemente a Colza, por falta de alternativas, embora se fabrique


biodiesel também com óleos residuais de fritura e resíduos gordurosos. No Brasil, têm-se
dezenas de alternativas, como demonstram as experiências realizadas em diversos estados
com mamona, dendê, soja, girassol, pinhão manso, babaçu, amendoim, pequi, etc. Cada
cultura desenvolve-se melhor dependendo das condições de solo, clima, altitude e assim por
diante. A mamona é importante para o semi-árido, por se tratar de uma oleaginosa com alto
teor de óleo, adaptada às condições vigentes naquela região e para cujo cultivo já se detém
conhecimento agronômico suficientes. Além disso, o agricultor familiar nordestino já conhece
a mamona. O dendê será, muito provavelmente, a principal matéria-prima na região Norte
(EMBRAPA, 2005).
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O objetivo do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) é promover a


inclusão social e, nessa perspectiva, tudo indica que as melhores alternativas para viabilizar
esse objetivo nas regiões mais carentes do país são a mamona, no semi-árido, e o dendê, na
região norte, produzidos pela agricultura familiar. Diante disso, o programa prevê tratamento
diferenciado a esses segmentos e os estados também deverão fazê-lo, não apenas na esfera do
ICMS, mas de outras iniciativas e incentivos. Uma vez lançadas as bases do PNPB, todas as
matérias-primas e rotas tecnológicas são candidatas em potencial para a produção do
biodiesel. Isso vai depender das decisões empresariais, do mercado e da rentabilidade das
diferentes alternativas. Sabe-se, também que a soja, tanto diretamente, como mediante a
utilização dos resíduos da fabricação de óleo e torta, será uma alternativa importante para a
produção de biodiesel no Brasil, sobretudo nas regiões com maior aptidão para o
desenvolvimento dessa cultura (www.portaldobiodiesel.com.br).
Independente da oleaginosa e da rota tecnológica, o biodiesel é introduzido no mercado
nacional de combustíveis com especificação única e qualificação internacional. A regulação e
fiscalização são de responsabilidade da Agência Nacional do Petróleo (ANP), por meio da
portaria nº 255/2003, que define biodiesel como sendo um combustível composto de mono-
alquilesteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras
animais. Mundialmente, passou-se a adotar uma nomenclatura bastante apropriada para
identificar a concentração do biodiesel na mistura. Por exemplo, B2, B5, B20 e B100 são
combustíveis com concentrações de 2%, 5%, 20% e 100% de biodiesel, respectivamente.
Designado por B100, representa uma concentração de 100% de biodiesel, ou seja, o biodiesel
puro. (AGUIAR, 2005).
Como o biodiesel se trata de uma energia limpa, não poluente e que pode ser usada pura ou
misturada com o diesel mineral, o seu uso num motor diesel resulta, quando comparado com a
queima do diesel mineral, numa redução das emissões de gases poluentes. A emissão de CO2
é reduzida em 7% na utilização de B5; 9% na utilização de B20; e 46% no caso do uso de
biodiesel puro. A emissão de material particulado e fuligem são reduzidas em até 68% com o
uso de biodiesel e há queda de 36% dos hidrocarbonetos não queimados. Extremamente
significativa, também, é a redução dos gases de enxofre causadores da chuva ácida, de 17%
para o B5; 25% para o B20; e 100% para o biodiesel puro, haja vista que, diferentemente do
diesel de petróleo, o biodiesel não contem enxofre (AGUIAR, 2005).
Existem processos alternativos para produção de biodiesel, tais como o craqueamento, a
esterificação ou a transesterificação, que pode ser etílica, mediante o uso do álcool comum
(etanol), ou metílica, com o emprego do metanol. Embora, a transesterificação etílica deva ser
o processo mais utilizado, em face da disponibilidade do álcool, ao governo não cabe
recomendar tecnologias ou rotas tecnológicas, como se diz tecnicamente, porque essas devem
ser adaptadas a cada realidade regional. Diante das dimensões continentais e diversidade do
Brasil, não se deve optar por uma única rota tecnológica. O papel do governo é o de estimular
o desenvolvimento tecnológico na área do biodiesel, como já vem fazendo, por meio de
convênios entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e fundações estaduais de amparo à
pesquisa, para permitir a produção desse novo combustível a custos cada vez menores. É
preciso estimular o que usualmente se chama de curva de aprendizado, permitindo que o
biodiesel seja cada vez mais competitivo, como ocorreu com o álcool, por exemplo, e com
inúmeros outros produtos (www.portaldobiodiesel.com.br).
O processo para obtenção de biodiesel conhecido como transesterificação consiste da mistura
de óleo vegetal (animal ou residual) ao etanol (rota etílica) ou metanol (rota metílica),
adicionando-se a esta mistura um catalisador alcolato ou hidróxidos (NaOH ou KOH), tendo
como produtos o biodiesel e a glicerina, conforme esquema apresentado na Figura 1. Ao
analisar os catalisadores que podem ser utilizados na reação de transesterificação, têm-se
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como opções os catalisadores ácidos e básicos, a diferença resultante da escolha de um deles


na utilização é pequena. Sabe-se que o emprego de catalisadores ácidos ocasiona uma reação
mais lenta quando comparada ao uso de catalisadores básicos. A vantagem de utilização de
hidróxido de sódio (NaOH) no Brasil deve-se ao seu preço ser bem menor que o hidróxido de
potássio (KOH). No caso dos alcolatos, o produto é fornecido pronto para uso e é
praticamente isento de água, mas, no entanto, por ser um produto importado, é mais caro.
(PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA, 2005).

M a té r ia P r im a
M e ta n o l
ou
P r e p a r a ç ã o d a M a té r ia P r im a E ta n o l
Ó le o o u G o rd u ra
C a ta lis a d o r
(N a O H o u K O H ) R e a ç ã o d a T r a n s e s te r ific a ç ã o
Á lc o o l E tilic o o u
M e tilic o
S e p a ra ç ã o d a s F a s e s
Fase Pesada F ase Leve

D e s id r a t a ç ã o d o Á lc o o l

R e c u p e r a ç ã o d o Á lc o o l d a R e c u p a r a ç ã o d o Á lc o o l d o s
G lic e r in a É s te r e s
G lic e rin a
B ru ta E x c e s s o s d e Á lc o o l R e c u p e ra d o
D e s t ila ç ã o d a G lic e r in a P u r ific a ç ã o d o s É s te r e s

R e s íd u o G lic e rin a
G lic é ric o D e s tila d a B IO D IE S E L

Figura 1 – Representação esquemática do processo de obtenção de biodiesel a partir da transesterificação.


(PLANO NACIONAL DE AGROENERGIA, 2005)

A utilização do álcool etílico na produção de biodiesel é de alto interesse não apenas por ser
menos agressivo ambientalmente que o álcool metílico, mas também pela condição do Brasil
como potencial mundial na produção de cana de açúcar e álcool com os menores custos de
mercado. Um dos subprodutos da reação é a glicerina, que tem um grande potencial de
comercialização se forem mantidos os padrões de qualidade.
A regulamentação do biodiesel no Brasil é bastante extensa, mas sem dúvida o grande
destaque é a Lei do Biodiesel (Lei nº 11.097/05), oriunda da aprovação pelo Congresso
Nacional da MP n° 214/04, que introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira e
atribuiu à ANP a competência para regular sua produção e comercialização. Ademais, esta lei
estabeleceu os percentuais mínimos de 2% e 5% de adição de biodiesel ao óleo diesel, a serem
atingidos a partir de janeiro de 2008 e 2013, respectivamente.
Para regulamentar a Lei do Biodiesel, foi editado o Decreto nº 5.448/05, que autorizou a
mistura de 2% de biodiesel ao óleo diesel de origem fóssil, até que a mistura se torne
obrigatória a partir de 2008. Este decreto também estabeleceu a possibilidade de uso do
biodiesel em percentuais superiores a 2%, mediante autorização prévia da ANP, em condições
específicas, tais como: frotas veiculares cativas ou específicas; transporte aquaviário ou
ferroviário; geração de energia elétrica e processo industrial específico.
O uso comercial do biodiesel, a partir da mistura de 2% ao diesel de petróleo, cria um
mercado interno potencial nos próximos três anos de pelo menos 800 milhões de litros/ano
para o novo combustível. Isto possibilitará ganhos à balança comercial de até US$160
milhões/ano com a redução das importações de petróleo (www.portaldobiodiesel.com.br).
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Além das vantagens econômicas e ambientais, há o aspecto social, de fundamental


importância, sobretudo em se considerando a possibilidade de conciliar sinergicamente todas
essas potencialidades, pois as regras permitem a produção do biodiesel a partir de diferentes
oleaginosas e rotas tecnológicas, possibilitando a participação do agronegócio e da agricultura
familiar A área plantada necessária para atender ao percentual de mistura de 2% de biodiesel
ao diesel de petróleo é estimada em 1,5 milhão de hectares, o que equivale a 1% dos 150
milhões de hectares plantados e disponíveis para agricultura no Brasil. Este número não inclui
as regiões ocupadas por pastagens e florestas. (www.portaldobiodiesel.com.br).
Para estimular ainda mais esse processo, o Governo Federal lançou o Selo Combustível
Social, um conjunto de medidas específicas visando estimular a inclusão social da agricultura,
nessa importante cadeia produtiva. O uso comercial do biodiesel terá apoio do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Programa de Apoio
Financeiro a Investimentos em Biodiesel prevê financiamento de até 90% dos itens passíveis
de apoio para projetos com o Selo Combustível Social e de até 80% para os demais projetos.
Os financiamentos são destinados a todas as fases de produção do biodiesel, entre elas,
agrícola, produção de óleo bruto, armazenamento, logística, beneficiamento de subprodutos e
aquisição de máquinas e equipamentos homologados para o uso deste combustível
(www.portaldobiodiesel.com.br).
Em 28 de setembro de 2005, o Conselho Nacional de Política Energética editou a Resolução
n° 03, que regulamentou a obrigatoriedade do uso de 2% de biodiesel misturado ao óleo diesel
de petróleo para janeiro de 2006, previsto inicialmente para janeiro de 2008, nos termos da
Lei n° 11.097/95 citada anteriormente. Entretanto, tal antecipação é restrita ao biodiesel com
Selo Combustível Social e comercializado em leilões públicos coordenados pela ANP. Essa
medida é importante para viabilizar os empreendimentos de produção de biodiesel já
existentes, bem como projetos futuros, com a devida observância das metas do Governo
Federal para a inclusão social e a participação da agricultura familiar.
O biodiesel a ser comercializado, seja via leilões públicos ou por meio de negociação direta
entre os agentes privados, deve obedecer às especificações técnicas estabelecidas pela ANP.
Essas especificações foram frutos de uma consulta pública que também permitiu a revisão de
um conjunto de portarias que ainda não contemplavam a figura do novo combustível. Essas
portarias fazem parte do pacote lançado em dezembro de 2004, que também trouxe a Medida
Provisória nº 227, convertida na Lei nº 11.116/05, que estabeleceu as bases para o regime
tributário.
Ademais, o Decreto n° 5.298/04 instituiu alíquota zero de IPI na cadeia produtiva do
biodiesel. Além dos benefícios tributários, em âmbito federal, a Lei n° 10.848/04 inclui a
possibilidade de uso do biodiesel na Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), com vistas a
compensar o custo mais elevado do combustível na geração de energia elétrica em sistemas
isolados.
De acordo com o exposto acima, o PNPB têm o desafio de implantar um projeto energético
auto-sustentável, considerando preço, qualidade e garantia de suprimento do biodiesel,
propiciando a geração de renda com inclusão social, bem como estimular o desenvolvimento
tecnológico e mercadológico por meio de convênios entre o ministério da ciência e tecnologia
e fundações estaduais de amparo à pesquisa, conforme apresenta a Figura 2.
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Figura 2 – Pilares do Projeto do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (EMBRAPA, 2005).

O enquadramento social de projetos ou empresas produtoras de biodiesel permite acesso a


melhores condições de financiamento junto ao BNDES e outras instituições financeiras, além
de dar o direito a concorrência em leilões de compra de biodiesel. As indústrias produtoras
também terão direito a desoneração de alguns tributos, mas deverão garantir a compra da
matéria-prima, preços pré-estabelecidos, oferecendo segurança aos agricultores familiares.
Há, ainda, possibilidade dos agricultores familiares participarem como sócios ou quotistas das
indústrias extratoras de óleo ou de produção de biodiesel, seja de forma direta, seja por meio
de associações ou cooperativas de produtores.

3. Estudo de Caso
Para a realização deste estudo de caso, a metodologia utilizada foi à pesquisa de campo,
visando à busca de informações mais precisas sobre o tema. Visitou-se uma empresa de
fabricação de biodiesel na cidade de Araxá (MG), para a aplicação do questionário e
realização de entrevista. Buscou-se identificar as principais experiências das pessoas
envolvidas com a produção e comercialização do combustível.
A fábrica, na qual foi realizada a visita, produz o biodiesel através do óleo de soja degomado,
e possui projetos para a fabricação de biodiesel com o pinhão manso, o que reduz os custos de
produção. De acordo com a Figura 3, que descreve o processo de fabricação, a empresa possui
cinco tanques de estocagens, sendo quatro para recebimento de matérias-primas (dois para
óleo de soja degomado, um para álcool anidro e outro para soda) e um para o produto final
(biodiesel).
As três matérias-primas são bombeadas para um tanque pulmão, em proporções adequadas,
seguindo até um reator homogeneizador. Depois, em processo contínuo, a mistura é
conduzida ao evaporizador, onde sofre aquecimento a uma temperatura acima de 120° C, para
separação do álcool não reagido. Esta separação dá-se através do trocador de calor, obtendo
em sua saída álcool hidratado. O produto formado após o evaporador passa por decantadores
para separação do biodiesel e glicerina por decantação.
A glicerina bruta segue para o tanque de transferência, e, posteriormente para um tanque de
estocagem para o uso em caldeira ou venda. A glicerina pode ser utilizada na fabricação de
produtos comestíveis, remédio, têxteis, tabaco, conservante de bebidas, alimentos e outros.
Do biodiesel do tanque de transferência recolhe-se uma pequena amostra para análise, cuja
responsabilidade é do químico da empresa. Uma vez feita à análise para saber o teor de soda,
o mesmo segue para o tanque de lavagem por jateamento de água quente, para realizar a
retirada total das impurezas. Caso não sejam removidas as impurezas, o biodiesel recebe a
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adição de ácido cítrico no tanque posterior. Os tanques de lavagem servem também como
decantadores para separação do biodiesel da água. A água decantada vai para um tanque
reservatório, podendo ser utilizada para limpeza do setor e equipamentos ou vendida para a
fabricação de detergente.
O biodiesel com umidade passa pelos secadores para a retirada total da água, em seguida vai
para o tanque de estocagem, para carregamento e uso posterior.

Tanques de Estocagem de Matéria-Prima

Etanol Álcool Anidro


Óleo de Soja
Rota Etílica e Soda

Tanque Pulmão (Bombeado)

Processo de Transesterificação
Reator Homogeneizador

Evaporizador ( Aquecimento acima de 120˚ C)

(Troca de calor)
Separador das Fases Álcool Hidratado

Decantadores

(Tanques de Lavagem) (Jateamento com água quente)


Glicerina Bruta Purificação dos Ésteres

(Adição de ácido cítrico)

Tanque Resenvatório de
Tanque de Transferência BIODIESEL
Água do Processo
(secadores)

Tanque de Estocagem Tanque de Estocagem

Carregamento
Uso de glicerina para a queima na Utilizada para a limpeza dos
caldeira, ou venda para a fabricação de equipamentos, ou vendida para a
remédios ou comestíveis. fabricação de detergentes.

Figura 3 - Fluxograma do processo de produção de biodiesel da fábrica de Araxá.

As principais informações sobre o empreendimento e o processo produção do biodiesel estão


descritas no Quadro 2.
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Conclusão do 2006
empreendimento
Tecnologia Os proprietários possuem uma empresa de fabricação de equipamentos para montagem
utilizada de fábricas de biodiesel. Para apresentar sua tecnologia aos potenciais compradores,
(máquinas) criarão um protótipo para a produção e posteriormente a empresa. Portanto, a tecnologia
é nacional.
Destino dos co- O biodiesel extraído do processo é utilizado como combustível.
produtos A água usada no processo é utilizada para lavar equipamentos e para fabricação de sabão.
A glicerina bruta é queimada na caldeira ou comercializada para a produção de diversos
produtos.
Controle de Segue-se o processo da ANP (Agência Nacional de Petróleo).
qualidade Também, são realizados na fábrica o controle analítico de acidez, sabão e umidade, pelo
químico responsável pelo processo de qualidade.
Valor do O investimento total foi em torno de R$900.000,00, com previsão de retorno para 2 anos.
investimento e
tempo de retorno
Incentivos, Inicialmente o proprietário da fábrica buscou incentivos das faculdades interessadas no
tributação e assunto, que desenvolviam pesquisas científicas na área. Mas, preferiu utilizar recursos
financiamentos próprios devido às burocracias em se realizar um financiamento, pois o tempo para
aprovação do projeto para financiamento é bem prolongado.

Produção mensal Produz-se em torno de 180 ton de biodiesel; 30 ton de glicerina bruta e 5 m³ de água
sódica.
Valor dos produtos Biodiesel custa R$1,80/litro, mais ICMS; Glicerina R$0,80/kg e a água de lavagem R$
e co-produtos (R$) 0,20 centavos/litro.
Principais Óleo de soja degomado, álcool anidro e soda.
matérias-primas
Quantidades de Utilizam-se 210 ton de óleo degomado; 140 ton de álcool anidro e 10 ton de soda.
matéria prima/mês São recuperados 117 ton de álcool hidratado.

Principais clientes Empresas mineradoras e distribuidoras de combustível da própria região de Araxá.


Portanto não têm problema na distribuição e comercialização do produto.
Principais Óleo degomado – Empresa Caramuru;
fornecedores Álcool anidro – Usina Junqueira;
Para a soda e o ácido cítrico, faz-se cotação de mercado, utilizando diversos
fornecedores.
Perspectivas Maior abertura de mercado, grandes demandas para os co-produtos e utilização do óleo
futuras de pinhão.
Processo de Processo de transesterificacão (rota etílica: etanol produzido da cana de açúcar).
produção
Motivo da Primeiramente por ser a região de nascimento do proprietário da empresa e porque a
instalação da produção, inicialmente, busca atender a própria região.
fábrica em Araxá
Projetos de Projeto de utilização da glicerina para substituir o MDF, desenvolvido em parceria com a
pesquisa e Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Rio de Janeiro (UFRJ).
desenvolvimento Transformação da água de lavagem em ácido graxo, retornando a biodiesel pelo processo
de esterificação.

Tabela 2 - Pesquisa de campo na fábrica de biodiesel em Araxá (MG).

4. Considerações Finais
Verifica-se que apesar do PNPB e da importância da produção e comercialização do biodiesel
para o país, a obtenção de financiamentos juntos aos órgãos públicos ainda é bastante
complicada e demorada. O que leva muitos empresários a desenvolverem seus projetos com
recursos próprios.
Segundo os empresários entrevistados, a produção do biodiesel a partir de óleo de soja
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degomado não é a mais rentável, por isso a empresa está desenvolvendo pesquisas para a
produção do biodiesel a partir do pinhão manso. Para isto, sem dúvida os grandes parceiros
são as instituições de ensino superior. Não só para o desenvolvimento de novas rotas de
produção, mas também para o melhor aproveitamento dos subprodutos, especialmente a
glicerina.
Apesar de todas as dificuldades, de acordo com os empresários o investimento é rentável, e o
tempo de retorno relativamente curto, em torno de 2anos. O processo de produção e controle
de qualidade são bastante simples. Para os empreendedores, o mercado está em crescimento,
não só devido às exigências legais, mas, sobretudo pela necessidade de ser ter fontes de
energia menos poluente. O que interessa, sobretudo, aos paises que têm metas a cumprir de
acordo com o Protocolo de Kyoto.
Fica claro que a produção do biodiesel, além de ser uma alternativa ambientalmente correta, é
um empreendimento rentável, que oferece oportunidades de emprego e geração de renda,
desde o plantio das oleaginosas, utilizadas no processo de produção, até a comercialização do
combustível e subprodutos. Cabe aos órgãos públicos facilitar o acesso ao crédito e promover
as parcerias universidade-empresa, a fim de alavancar o desenvolvimento tecnológico desta
importante alternativa energética, social e econômica para o Brasil.

Referências
AGUIAR, F.; BULHÕES, A. C.; PEREIRA, A. L. (2005) – Biodiesel: aspectos gerais, disponível em:
<http://www.mbdobrasil.com.br> . Acesso em: maio de 2006.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano Nacional de Agroenergia. Brasília, 2005.
EMBRAPA, 2005. Disponível em: <http://www.tecbio.com.br>.Acesso em: agosto de 2006.
GRANDO, F. A força do combustível verde. Revista Confea. São Paulo: Maio, 2005. Seção Artigos, p.15.
GUIMARÃES, F.; PASSARINI, F.; OLIVEIRA, J.; MAZURKIEVIECZ, M.; DAWOOD, S. Plano de negócio:
da terra do biodiesel. Campinas, 2005, 325p. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Superior de
Administração Marketing e Comunicação, ESAMC – para obtenção da conclusão do curso).
PARENTE, E. J. (2003), Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado.
STEFANO, F. Na era do Biodiesel. Revista Dinheiro Rural. Ed. 003. Ano 2. São Paulo: Jan.2005. Seção
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TECBIO TECNOLOGIAS BIOENERGÉTICAS LTDA. (2005) – Nosso negócio é o biodiesel, disponível em:
<http://www.tecbio.com.br>. Acesso em: maio de 2006.
TOLMASQUIM, M.T. (2003), Fontes renováveis de energia no Brasil. Rio de Janeiro: Interciência. 515p.

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