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Catequese do Papa: A teologia precisa da sensibilidade das mulheres Segunda catequese dedicada a Santa Hildegarda de Bingen
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 8 de Setembro de 2010 (ZENIT.org) Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral. *** Caros irmãos e irmãs: Hoje, quero retomar e continuar a reflexão sobre Santa Hildegarda de Bingen, importante figura feminina da Idade Média, que se distin
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Audiência 08 Setembro 2010 - Catequese do Papa - A teologia precisa da sensibilidade das mulheres
Catequese do Papa: A teologia precisa da sensibilidade das mulheres Segunda catequese dedicada a Santa Hildegarda de Bingen
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 8 de Setembro de 2010 (ZENIT.org) Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral. *** Caros irmãos e irmãs: Hoje, quero retomar e continuar a reflexão sobre Santa Hildegarda de Bingen, importante figura feminina da Idade Média, que se distin
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Catequese do Papa: A teologia precisa da sensibilidade das mulheres Segunda catequese dedicada a Santa Hildegarda de Bingen
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 8 de Setembro de 2010 (ZENIT.org) Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral. *** Caros irmãos e irmãs: Hoje, quero retomar e continuar a reflexão sobre Santa Hildegarda de Bingen, importante figura feminina da Idade Média, que se distin
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Catequese do Papa: A teologia precisa da sensibilidade das mulheres
Segunda catequese dedicada a Santa Hildegarda de Bingen
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 8 de Setembro de 2010 (ZENIT.org) -
Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral.
***
Caros irmãos e irmãs:
Hoje, quero retomar e continuar a reflexão sobre Santa Hildegarda de Bingen,
importante figura feminina da Idade Média, que se distinguiu pela sua sabedoria espiritual e pela sua santidade de vida. As visões místicas de Hildegarda são semelhantes àquelas do profeta do Antigo Testamento: expressando-se com as categorias culturais e religiosas da sua época, interpretava a Sagrada Escritura à luz de Deus, aplicando-a às várias circunstâncias da vida. Dessa forma, todos os que a ouviam se sentiam chamados a praticar um estilo de vida cristã coerente e comprometido. Numa carta a São Bernardo, a mística renana confessa: "A visão cativa todo o meu ser: não vejo com os olhos do corpo, mas aparece-me no espírito dos mistérios (...) Conheço o significado profundo do que é exposto no Saltério, nos Evangelhos e nos outros livros, que me são mostrados na visão. Este arde como uma chama no meu peito e na minha alma, e ensina-me a compreender profundamente o texto" (Epistolarium pars prima I-XC: CCCM 91).
As visões místicas de Hildegarda são ricas de conteúdo teológico. Elas
referem-se aos principais acontecimentos da história da salvação, por meio de uma linguagem principalmente poética e simbólica. Por exemplo, na sua obra mais famosa, intitulada Scivias, ou seja, "Conhece os caminhos", ela resume em 35 visões os eventos da história da salvação, da criação do mundo até o final dos tempos. Com as características próprias da sensibilidade feminina, Hildegarda, especificamente na secção central da sua obra, desenvolve o tema do matrimónio místico entre Deus e a humanidade, realizado na Encarnação. Sobre o lenho da cruz realizam-se as núpcias do Filho de Deus com a Igreja, Sua esposa, repleta de Graça e capaz de dar a Deus novos filhos, no Amor do Espírito Santo (cf. Visio tertia: PL 197, 453c).
A partir dessas breves referências, vemos já como também a teologia pode
receber uma contribuição peculiar das mulheres, porque são capazes de falar de Deus e dos mistérios da fé com a sua inteligência e sensibilidade próprias. Alento por esse motivo todas aquelas que desempenham este serviço a realizá-lo com profundo espírito eclesial, alimentando a própria reflexão com a oração e tendo em conta a grande riqueza, ainda em parte inexplorada, da tradição mística medieval, sobretudo a representada por modelos luminosos, como Hildegarda de Bingen.
A mística renana é autora também de outros escritos, dois deles
particularmente importantes, porque mostram, como em Scivias, as suas visões místicas: o Liber vitae meritorum (Livro dos méritos da vida) e o Liber divinorum operum (Livro das obras divinas), também chamado De operatione Dei. No primeiro, descreve-se uma visão única e poderosa de Deus que vivifica o Cosmos com a sua força e com a sua luz. Hildegarda sublinha a profunda relação entre o homem e Deus e recorda-nos que toda a criação, da qual o ser humano é o cume, recebe a vida da Trindade. O texto está centrado na relação entre virtude e vícios, de maneira que o ser humano deve enfrentar diariamente o desafio dos vícios, que o afastam no caminho para Deus, e as virtudes que o favorecem. É um convite a afastar-se do mal para glorificar a Deus e entrar, depois de uma existência virtuosa, na vida "cheia de alegria".
No segundo livro, considerado por muitos a sua obra-prima, descreve a criação
na sua relação com Deus e a centralidade do homem, expressando um forte cristocentrismo de sabor bíblico-patrístico. A Santa, que apresenta cinco visões inspiradas no Prólogo do Evangelho de São João, refere-se às palavras que o Filho dirige ao Pai: "Toda a obra que quiseste e me encomendaste, Eu a cumpri, e hoje estou em Ti e Tu em Mim, e somos uma só coisa" (Pars III, Visio X: PL 197, 1025a).
Noutros escritos, por último, Hildegarda manifesta uma variedade de interesses
e o dinamismo cultural dos Mosteiros femininos da Idade Média, diferentemente dos preconceitos que ainda hoje existem sobre essa época. Hildegarda dedicou-se à medicina e às ciências naturais, assim como à música, pois tinha talento artístico. Compôs também hinos, antífonas e cantos, recolhidos com o título Symphonia Harmoniae Caelestium Revelationum (Sinfonia da Harmonia das Revelações Celestes), que eram gozosamente interpretados nos Mosteiros, difundindo uma atmosfera de serenidade, e que chegaram até nós. Para ela, toda a criação é uma sinfonia do Espírito Santo, que é em si mesmo alegria e júbilo.
A popularidade que rodeava Hildegarda levava muitas pessoas a consultá-la.
Por este motivo, dispomos de muitas das suas cartas. A ela se dirigiam comunidades monásticas de homens e mulheres, bispos e abades. Muitas das respostas continuam sendo válidas para nós. Por exemplo, a uma comunidade religiosa feminina, Hildegarda escreveu: "A vida espiritual deve ser atendida com muita dedicação. No início, o cansaço é amargo, dado que exige a renúncia aos caprichos, ao prazer da carne e a coisas semelhantes. Mas, quando a alma se deixa fascinar pela santidade, experimentará como algo doce e agradável o próprio desprezo do mundo. Só é necessário prestar atenção inteligentemente a que a alma não murche" (E. Gronau,Hildegard. Vita di una donna profetica alle origini dell'età moderna, Milão, 1996, p. 402).
E quando o Imperador Federico Barbarroja provocou um cisma eclesial,
opondo 3 anti-papas ao Papa legítimo, Alexandre III, Hildegarda, inspirada em suas visões, não hesitou em recordar-lhe que também ele, o Imperador, estava submetido ao juízo de Deus. Com a audácia que caracteriza todo o profeta, escreveu ao Imperador estas palavras da parte de Deus: "Atento, atento a esta malvada conduta dos ímpios que me desprezam! Escuta, rei, se queres viver! Do contrário, minha espada te trespassará!" (ibidem, p. 412). Com a autoridade espiritual de que estava dotada, Hildegarda viajou nos últimos anos da sua vida, apesar da idade avançada e das penosas condições das deslocações. Todos a escutavam com prazer, inclusive quando utilizava um tom severo: consideravam-na uma mensageira enviada por Deus. Ela exortava sobretudo as comunidades monásticas e o clero a viverem em conformidade com a sua vocação. Em particular, Hildegarda opôs-se ao movimento dos cátaros alemães. Os cátaros, literalmente "puros", propugnavam uma reforma radical da Igreja, principalmente para combater os abusos do clero. Ela os repreendeu com força, por querer subverter a própria natureza da Igreja, recordando-lhes que uma verdadeira renovação da comunidade eclesial não se consegue tanto com a mudança das estruturas, e sim com um sincero espírito de penitência e um caminho de conversão. Esta é uma mensagem que nunca devemos esquecer.
Invoquemos sempre o Espírito Santo, para que suscite na Igreja mulheres
santas e valentes, como Santa Hildegarda de Bingen, que, valorizando os dons recebidos de Deus, ofereçam a sua preciosa e peculiar contribuição para o crescimento espiritual das nossas comunidades e da Igreja na nossa época.