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BASES INTRODUTÓRIAS SOBRE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO

SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Andrea Bezerra Crispim


Universidade Estadual do Ceará
crispimab@gmail.com

Cristiane e Castro Feitosa Melo


Universidade Estadual do Ceará
cristionefeitosa@hotmail.com

Iaponan Cardins de Sousa Almeida


Universidade Estadual do Ceará
iaponancardins@gmail.com

Lizabeth Silva Oliveira


Universidade Estadual do Ceará
lizabethso@hotmail.com

Resumo
O semiárido brasileiro é constituído por peculiaridades ambientais marcantes e bastante
variáveis. São mozaicos de sistemas ambientais caracterizados pela intensa atuação
morfodinâmica e por usos incompatíveis com suas características. A degradação ambiental
ocorre espontâneamente, mas pode ser intensivamente ampliada quando da adoção de manejo
inadequado dos recursos ambientais. O presente trabalho discute alguns aspectos considerados
mais importantes para a compreensão da degradação, partindo-se da utilização de material
bibliográfico especializado. São discutidas as bases conceituais relacionadas às interações
ambientais no que se refere ao papel do antropismo na produção de impactos, bem como da
atuação dos processos erosivos como manifestação natural e/ou induzida. Dá-se ênfase ao
entendimento das vulnerabilidades do ambiente semiárido no tocante à ocorrência da
desertificação.

Palavras-chaves
Degradação; Impactos; Semiárido; Erosão; Desertificação;
Introdução

Ultimamente, uma das grandes preocupações para o domínio semiárido brasileiro,


refere-se à questão da degradação ambiental. Ela é complexa por agregar diferentes
componentes do meio físico, biológico e socioeconômico, que interagem entre si.
Aspectos políticos, administrativos públicos e privados, também influenciam fortemente
essa questão.
A preocupação com o ordenamento do uso e ocupação da terra tem sido
intensificada notoriamente nos últimos anos, e persiste até hoje, na medida em que
diversos problemas ambientais, sócio-culturais e econômicos têm impulsionado
iniciativas de estabelecimento de programas de gestão ambiental direcionados ao uso
sustentável dos sistemas ambientais.
O presente trabalho aborda os principais aspectos relacionados aos problemas
ambientais decorrentes da degradação no semiárido brasileiro. São discutidas as bases
conceituais relacionadas às interações ambientais no que se refere ao papel do antropismo na
produção de impactos, bem como da atuação dos processos erosivos como manifestação natural
e/ou induzida, além do entendimento das vulnerabilidades do ambiente semiárido no tocante à
ocorrência de desertificação. A partir da pesquisa bibliográfica o trabalho tem como
objetivo apresentar os principais conceitos relacionados à degradação no semiárido
brasileiro, baseado em aspectos teóricos e metodológicos de uma abordagem reflexiva.
O texto está dividido em três partes, tendo como recorte espacial, os limites do
semiárido brasileiro. Inicialmente, são discutidos os conceitos de antropismo e impactos
ambientais; em seguida, são apresentadas as modalidades de processos erosivos e da
degradação ambiental. Posteriormente, discute-se o entendimento das vulnerabilidades
ambientais do ambiente semiárido, bem como a caracterização do processo de
desertificação. Por fim, avalia-se a perspectiva conceitual para estudos ambientais
voltados à verificaçãos dos problemas ambientais daquele domínio.

Antropismo e impactos ambientais do semiárido

O antropismo, ou seja, as alterações no meio físico provocadas pela ação do


homem estão presentes em todo o semiárido brasileiro, onde estão discriminadas as
áreas urbanas, as áreas de minerações e outras de usos ligados à supressão da vegetação
natural e cultivada.
Segundo ARAÚJO (2010), a partir do ano de 1635, com o sistema de sesmaria,
inicia-se a ocupação no semiárido exercendo, fundamentalmente, as atividades de
agricultura e pecuária extensiva, que fazem uso do desmatamento e queimada, e do
sobrepastejo, dando início ao antropismo na região.
As atividades da época de ocupação, juntamente com a atividade da silvicultura,
extração de madeira sem nenhuma iniciativa de reposição, são práticas exercidas até
hoje no que caracteriza em áreas degradadas pela perda de biodiversidade e presença da
erosão laminar. Estas áreas têm difícil recuperação, face à perda de sementes das
árvores de grande e pequeno porte, e até mesmo de arbustos.
Nos impactos do corte da lenha, destinada às caieiras, olarias, entre outros,
ARAÚJO (2010) destaca-se que parte dessa lenha vai para a produção de carvão em
fornos trincheiras que possuem baixíssima eficiência, onde cada 100kg de lenha
produzem 8kg de carvão. Questiona-se a indicação da lenha como motivadora dos
impactos no semiárido, acreditando-se que boa parte da extração de lenha vem de áreas
destinadas à agricultura.
Os impactos das atividades antrópicas no semiárido podem ser sintetizadas na:
degradação generalizada dos ecossistemas; perdas da biodiversidade animal e vegetal;
erosão dos solos; assoreamento dos mananciais e perda da resiliência. Como resultados:
extensas áreas do semiárido podem ser vistas como severamente degradadas;
exacerbação dos impactos advindos das mudanças climáticas e a desertificação
compondo a paisagem.
No que se refere à relação dos impactos das ações antrópicas e as mudanças
climáticas, estas apresentam seus efeitos sobre o clima, na agricultura, na pecuária e na
silvicultura.
Nos efeitos sobre a agricultura ARAÚJO (2010) comenta a invibialização de
alguns cultivos e sugere a inclusão de culturas mais adaptáveis ao semiárido. Na
pecuária destaca as perdas na produção e na capacidade de suporte das forragens.
Quanto à mitigação e absorção dos impactos das atividades antrópicas no
semiárido, no que se refere aos recursos hídricos, faz-se necessário a conservação e
recuperação das matas ciliares com a orientação da Constituição Federal e o Código
Florestal vigente. Acrescentando a disponibilidade hídrica, realizando o processo de
dessalinização, captação em cisternas, barreiros, barramentos sucessivos e captação in
situ.
No sentido de técnica de manejo do solo, relaciona-se a manutenção da
cobertura vegetal e as práticas agrícolas conservadoras, como o aleiramento dos
garranchos e a utilização de matéria orgânica no plantio.
Em seguida, os sistemas de produção agroflorestais são apresentados como
alternativa válida para a mitigação, onde, em áreas de caatinga arbórea, para áreas
rebaixadas e mais ainda para áreas raleadas e melhoradas com inclusão de uma
forrageira, há a possibilidade de um gradual acréscimo e significativo de produtividade
de carne.
Para a EMBRAPA (2004), o crescimento das cidades, também, tem contribuído
com a perda da vegetação natural em termos espaciais, comparado ao que representa
essa categoria quanto à área de agricultura e pecuária, a área de vegetação natural e de
corpos d’água no semiárido.
A questão ambiental tem sido uma das grandes preocupações da humanidade nas
últimas décadas. Isso porque o ordenamento do uso e ocupação da terra tem sido
intensificado notoriamente nos últimos anos, e persiste até hoje, principalmente quanto
ao desenvolvimento econômico, que intensificou a capacidade de exploração dos
sistemas naturais de tal forma, que eliminou a importância da ótica do uso dos sistemas
ambientais. Num sentido mais amplo, o Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA, na Resolução 001 de 23.01.1986, no Art. 1º, que trata da questão ambiental,
definiu:
impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma
de matéria ou energia resultante das atividades humanas. O meio
ambiente é um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido.

Para Ross (2006), a tecnificação e a sofisticação crescente dos padrões


socioeconômicos, juntamente com o crescimento populacional acelerado, passaram a
interferir cada vez mais no ambiente natural. Tal desenvolvimento tem gerado impactos
ambientais cada vez mais agressivos, contribuindo para o desequilíbrio dos padrões que
regem as políticas de sustentabilidade ambiental.
Segundo Santos (2006:39), o impacto ambiental corresponde a uma interferência
num ambiente, que pode ser positiva ou negativa, ocasionada pela própria dinâmica
natural ou pelas atividades socioeconômicas.
O processo de mudanças causado por atividades, sejam elas de cunho
habitacional ou processos relacionados à infra-estrutura, reflete sobremaneira no
ambiente físico da área. Para Christofoletti (1999:23), a realização dos estudos de
análise ambiental considerando as transformações possíveis em função dos projetos de
uso do solo, nas suas diversas categorias, é exigência que se encaixa como medida
preliminar em face da política de desenvolvimento sustentável. O impacto ambiental
não é obviamente, resultado de uma determinada ação realizada sobre o meio ambiente.
É relação de mudanças tanto sociais quanto ecológicas.
Na produção dos impactos ambientais, as condições econômicas alteram as
condições culturais, sociais e históricas, e são por elas transformadas. Como um
processo movimento permanente, o impacto ambiental é, ao mesmo tempo, produtor e
reprodutor de novos impactos (COELHO, 2001:25).
A identificação, previsão de magnitude e interpretação da importância de
prováveis impactos relevantes, discriminando os impactos positivos e negativos
(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazo e seu grau
de reversibilidade têm sido estudados, sobretudo através da Legislação. Cita-se entre
tais leis a Resolução 001/86 que designa o estudo de impacto ambiental (EIA) e o
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), identificando o ônus e o bônus de diversas
atividades, a exemplo de empreendimentos urbanísticos (TORRES, 2000).
Christofoletti (1999) destaca a importância de estudos voltados aos sistemas
ambientais como fonte de compreensão para o entendimento da elaboração de projetos
de caráter preventivo e interdisciplinar para a elaboração de cenários futuros. Quanto
maior a vulnerabilidade do ambiente, mais suscetível ela estará a impactos ambientais.
(AB’SABER, 2002:30).
De acordo com Torres (2000:28), o reconhecimento e a necessidade de se
implantar mecanismos legais para estudos de impactos ambientais somam-se a uma das
principais implicações analíticas em relação ao estudo e avaliação desses impactos. A
definição para o limite da área geográfica a ser atingida direta ou indiretamente por
futuros impactos deve condizer com estudos relacionados à capacidade de suporte dos
sistemas ambientais, levando-se em consideração as potencialidades e limitações desses
ambientes.
O processo de avaliação de impactos ambientais deve apresentar do ponto de
vista metodológico: a delimitação da área a ser estudada e a definição dos problemas, a
identificação dos efeitos ambientais mais prováveis e predizer a magnitude dos
impactos prováveis. De acordo com o CONAMA, Artigo 2° da Resolução 001/86:

Dependerá da elaboração de estudo de impacto ambiental e de


respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem
submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e da Secretaria
Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, em caráter supletivo, o
licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente.

Segundo Christofoletti (1999) tais estudos devem ser seguidos de melhorias


técnicas além de abordagens holísticas e integrativas para que haja um planejamento
territorial de acordo com os pressupostos do desenvolvimento sustentável.

A vulnerabilidade ambiental do semiárido brasileiro

A região semiárida brasileira tem apresentado inúmeras transformações ao


longo do seu contexto histórico de ocupação. Seus sistemas ambientais, face às mais
variadas intervenções humanas e falta de políticas públicas específicas, tem ocasionado
impactos e degradação ambiental às vezes, de caráter irreversível. De acordo com Souza
(2006, p.120)

Em diversos sistemas ambientais da área do bioma caatinga, constata


– se que os impactos produzidos ao longo do processo histórico pelo
uso e ocupação da terra degradaram de modo gradativo e contínuo a
base dos recursos naturais e a qualidade ambiental.

O ambiente semiárido diferencia-se das outras regiões devido, principalmente,


às suas peculiaridades ambientais. Suas características físico – ambientais, resultantes
das atividades morfodinâmicas atribuídas aos seus aspectos geoambientais, tem em suas
condições climáticas um dos fatores preponderantes para destacar o semiárido como um
dos ambientes mais frágeis do ponto de vista de seus recursos naturais. Soma - se a isto
as diversas atividades que são exercidas e que têm intensificado sobremaneira as
potencialidades naturais da área.
No entanto, torna – se necessário realizar discussões de cunho teórico que
tentem justificar a importância de estudos sobre a vulnerabilidade ambiental da área em
foco.
Alguns autores, como Ross (2006) e Souza (2000), baseados em metodologias
clássicas como a Ecodinâmica de Tricart (1977), viabilizaram estudos para identificar a
estabilidade/instabilidade dos ambientes e como estes suportariam determinadas
atividades realizadas sobre os sistemas ambientais.
Diante desta explanação, destaca – se estudos realizados por Souza (2000),
trabalhado na perspectiva de identificar as vulnerabilidades dos ambientes semiáridos,
baseando-se no conceito da Ecodinâmica, onde Tricart (1977), onde o mesmo expõe
que as unidades ecodinâmicas resultam das relações mútuas entres seus atributos
naturais e a complexidade existente nos fluxos de matéria de energia. Para Souza (1983,
p.12)

O entendimento da dinâmica atual constitui um requisito


indispensável para o aproveitamento adequado dos recursos naturais
renováveis. Sob esse ponto de vista, a identificação dos processos
erosivos responsáveis pela evolução atual do ambiente assume
significado.

Faz-se necessário, sobretudo, compreender a própria morfodinâmica da área


estudada e como seus mais diversos componentes se relacionam.
Conforme o autor, as vulnerabilidades/fragilidades impostas pelas constantes
irregularidades pluviométricas nessa região, configuram um quadro paisagístico, do
ponto de vista físico – ambiental diferenciado dos outros ambientes. Submetido às
irregularidades anuais e interanuais das chuvas, o território cearense fica sujeito aos
períodos eventuais de secas calamitosas ou de chuvas excepcionais, convertendo – se
em problemas sociais e econômicos (SOUZA, 2000, p.15).
Esse é o fator predominante e que diferencia a fragilidade ambiental da região
semiárida para os outros ambientes. Soma – se a isto, a falta de políticas territoriais que
visem à fragilidade do ambiente face às mais diversas tipologias de usos. Segundo Ross
(2006, p.2)

A fragilidade dos ambientes naturais face às intervenções humanas é


maior ou menor em função de suas características genéticas. A
princípio, salvo algumas regiões do planeta, os ambientes naturais
mostram – se ou mostravam – se em estado de equilíbrio dinâmico até
o momento em que as sociedades humanas passaram
progressivamente a intervirem cada vez mais intensamente na
exploração dos recursos naturais.

Conforme o autor, em função de todos os problemas ambientais decorrentes


das práticas econômicas predatórias, que têm marcado a história, e que obviamente têm
implicações para a sociedade a médio e longo prazo face ao desperdício dos recursos
naturais e a degradação generalizada com perda de qualidade ambiental, é que torna
cada vez mais urgente o planejamento físico – territorial, não só na perspectiva
econômica, mas também ambiental.
A identificação do grau de vulnerabilidade ambiental do semiárido brasileiro
está relacionada à própria morfodinâmica da área que condiciona um quadro bastante
diversificado pela própria estrutura dos componentes geoambientais. Para tanto, é
fundamental a compreenção do complexo de interações entre os processos geológicos e
geomorfológicos, as condições morfopedológicas e as próprias condições relacionadas à
cobertura vegetal, suas características hidroclimatológicas, e as alterações intensificadas
nesses elementos pelas formas de uso e ocupação da terra, sendo possível avaliar o grau
de vulnerabilidade.

Aspectos naturais e antropogênicos da erosão e degradação

O semiárido brasileiro está inserido em um contexto complexo do ponto de


vista socioambiental, apresentando potencialidades e limitações ligadas aos aspectos
biofísicos. Desconhecidos por muitos, tais aspectos são vistos de maneira distorcida em
função das inverdades culturalmente atribuídas.
Nesse sentido, a análise dos condicionantes ambientais dialoga com os
elementos da morfodinâmica, buscando sua interação e utiliza-se de processos
responsáveis pela gênese do modelado para entender a erosão e a degradação. Assim,
entende-se que a morfodinâmica depende da interação entre o clima, a topografia, o
solo, material rochoso e a cobertura vegetal (extremamente importante no impedimento
de fenômenos erosivos).
Dessa forma, explicita Guerra e Mendonça (2011), que a erosão dos solos pode
ser natural dada à existência de elementos como a declividade, o comprimento e forma
das encostas, as propriedades químicas e físicas dos solos, o tipo de cobertura vegetal.
Também pode ser ligada à ação antrópica, como o uso e manejo da terra, podendo
acelerar os processos erosivos.
No primeiro caso, erosão natural, apresenta-se menos evidente podendo ser
percebida apenas com o decorrer do tempo. No segundo caso, a erosão ligada à ação
antrópica, conhecida por acelerada, implica na remoção de material pedológico, em
curto prazo, abrindo sulcos que podem evoluir; destruindo o solo (BIGARELLA, 2003).
A região semiárida tende a concentrar um regime de chuvas irregulares
agravando o processo de erosão. Por sua vez, as áreas desmatadas ligadas à extração de
madeira ou agricultura implica na incidência de chuvas diretamente sobre o solo. De
acordo com Guerra (2011), é nesse momento que começa o splash, que pode causar a
ruptura dos agregados, selando o topo do solo.
O processo descrito acima tem inicio com a ruptura de agregados que
quebrando em pequenas partículas são transportadas para a drenagem superficial. Esse
processo varia de acordo com a resistência do solo ao impacto causado pela chuva.
A ruptura dos agregados aparece logo após o splash e implica no
desencadeamento de processos sobre a superfície do solo. É é neste momento que o solo
se desestabiliza dando inicio ao processo erosivo (GUERRA, 2012). Assim, segue-se
com a formação das crostas que provocam a selagem do solo, diminuindo a infiltração e
surgindo a formação de poças, iniciando o processo de escoamento superficial.
Em alguns casos há o acumulo de água, dando início ao processo de ravinas na
superfície dos terrenos. De acordo com Bryan apud Guerra (2012, p.33) a formação de
ravinas é um processo erosivo crítico, frequentemente associado a um rápido aumento
na concentração de sedimentos transportados pelo runoff. O conhecimento sobre o
nível da ravina, assim com seu processo de formação pode contribuir para uma prática
de conservação.
Salienta-se que o fenômeno da erosão descrito acima, refere-se apenas a um
tipo de erosão, uma vez que outros tipos podem atuar no desgaste dos materiais, como a
erosão eólica, erosão fluvial, erosão nas vertentes, erosão causada pela ação da
gravidade, entre outras. Em suma observa-se que a esta pode efetivar-se dentro das
condições naturais do ambiente. Entretanto, a interferência antrópica pode intensificar a
ação erosiva.
Portanto, pode-se dizer que, historicamente no semiárido brasileiro, o homem
afeta o meio, algumas vezes de forma intensa e outras vezes menos intensa, o fato é que,
este utiliza-se de práticas inadequadas, comprometendo a qualidade e a conservação do
ambiente. São atividades ligadas a práticas agrícolas, cultivos, compactação e
desmatamento (exposição do solo), caracterizando-se por formas de degradação da
região semi-árida.
Ressalta-se que a erosão constitui-se uma das principais formas de degradação
do solo, uma vez que promove consequências danosas sobre o solo. Entretanto, ela está
vinculada a outros processos degradacionais. Entre estes está a retirada da cobertura
vegetal ampliando os efeitos processos erosivos naturais. Guerra (2007), diz que a
densidade da cobertura vegetal é fator importante na remoção de sedimentos, no
escoamento superficial e na perda de solo. A cobertura vai também influenciar na
energia que se chega ao solo através do impacto da chuva.
Outros processos degradacionais são os problemas oriundos da acidificação,
acumulação de metais pesados, redução de matéria orgânica e redução dos nutrientes no
solo, todos ligados à ação e intervenção do homem. São atividades de agricultura,
industrialização entre outros que intensificam o estado de degradação. Contudo,
percebe-se claramente a relação entre erosão, degradação e a região semiárida
nordestina. Quando desvinculada da conservação, pode ocasionar uma gama de
problemas ambientais afetando áreas de grande relevância naturail. Assim sendo, apesar
da vasta bibliografia existente sobre os entendimentos dos processos degradacionais, faz
–se necessário a continuidade através de estudos analíticos voltados para o
entendimento dos estratos geográficos.

Ocorrências de desertos e desertificação

No contexto da degradação, o processo de desertificação tem sido considerado


como o principal problema ambiental da região semiárida brasileira, tanto por seus
efeitos maléficos quanto pela abrangência espacial. Torna-se necessário esclarecer o
significado do termo e distinguí-lo em função dos diferentes sentidos em que pode ser
empregado. Desertificação remete a deserto, mas não necessariamente designa a
formação de um, diferenciando-se conceitualmente conforme o enfoque dos estudiosos.
A formação de desertos se deve, essencialmente, a modificações significativas
do equilíbrio termodinâmico atmosférico parciais ou totais do planeta. Do ponto de vista
climatológico, as ocorrências estão relacionadas a extensas áreas em que se processou
ressecamento atmosférico em dimensões macroclimáticas, do que hoje é entendido
como úmido ou semi-árido para árido ou super árido. Um deserto independe da ação
humana, contituindo-se função de extrema aridez climática, condicionada por
constância de alta pressão atmosférica sobre uma dada região (NIMER, 1988).
Um deserto é resultante da evolução de processos que alcançaram uma certa
estabilidade final, e que pode ser definido como um clímax ecológico, isto é, por uma
espécie de equilíbrio homeostático natural, onde chove até 250 mm anualmente
(NIMER, 1988).
De acordo com Nascimento (2008) o conceito de deserto não deve ser
confundido com o de desertificação, bem como os processos de degradação ambiental
nas terras secas não devem ser equiparados com o surgimento de um bioma desértico. É
necessário fazer a ressalva de que desertos são ecossistemas específicos, com gênese e
dinâmica próprias.
Nascimento (2008) distingue as diferentes características dos desertos em todo
o planeta e apresenta os elementos responsáveis pela formação deles. Em primazia, os
maiores desertos ocorrem em função de condições climáticas, circulação atmosférica e
localização. Contudo há fatores climáticos, morfológicos, biológicos, paleogeográficos
e geográficos que influenciam na configuração desértica de diversas regiões. Há
inclusive tipologias de desertos distintos daqueles quentes, arenosos ou pedregosos, os
quais apresentam baixas temperaturas e abundância de água em estado sólido, como no
caso das zonas polares.
A desertificação, por seu turno, pode ser entendida como o processo natural de
ressecamento climático na formação de um deserto – desertificação natural; ou como
ambiente submetido a uma degradação antropogênica, que progride para condições
desérticas ou similares (CONTI, 1995).
No Brasil, áreas susceptíveis ao processo de desertificação – ASD’s ‒ são
delimitadas por um critério climático, conforme as orientações da UNCCD. Áreas que
possuam clima semi-árido (300-800mm/ano); sub-úmido seco (800-1000mm/ano), com
índice de aridez entre 0,20 e 0,65; ou áreas contíguas que não se enquadrem nesses
critérios, mas sejam afetadas por secas e apresentem características de degradação
semelhantes às das ASD’s também sendo consideradas como tal (BRASIL, 2004;
BRASIL, 2007).
A propensão que as ASD’s têm para assumir aspecto desértico se dá em virtude
de características biofísicas. Mas a problemática evolui para a desertificação por vias
antropogênicas, conforme a noção conceitual adotada oficialmente no Brasil. Por
desertificação entende-se a degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-
úmidas secas, resultante de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as
atividades humanas. Essa definição foi, portanto, adotada pelos planos estaduais de
combate à desertificação do Ceará (2010a), Rio Grande do Norte (2010), Pernambuco
(2009), Minas Gerais (2010) e Paraíba (2011).
A média de precipitação para o semiárido brasileiro se mantém
predominantemente com tendências positivas, o que indica que a desertificação nele
existente não ocorre com ressecamento climático, ou seja, tendências negativas de
precipitação. O que se nomeia como processo de desertificação no nordeste brasileiro
corresponde à deterioração progressiva dos ambientes e paisagens, descaracterizando-os
a ponto de assumirem feições desérticas. Tal fato não significa dizer que há o
surgimento progressivo de desertos ecológicos, mas núcleos de severa degradação
ambiental de origem antropogênica (CONTI, 1995).
As razões da ocorrência da desertificação no Brasil são variadas e complexas,
mas é consensual o argumento de que o modelo econômico empregado contribuiu de
modo decisivo na intensidade de sua incidência. Dele decorreu a degradação do
ambiente e dos solos através de práticas inapropriadas e da variabilidade climática
(BRASIL, 2004).
Sampaio et al. (2003) discutem os problemas do conceito de desertificação
adotado pela UNCCD, desde a formulação diplomática com certa imprecisão e
dificuldades de enquadramento, em alguns casos; até as diferentes perspectivas que a
definição busca atender. Ela pode ser dividida em três partes: degradação das terras, as
zonas climáticas onde a desertificação pode ocorrer e os fatores dos quais resulta.
Além do critério climático já indicado, acrescentam-se os fatores resultantes da
desertificação: as atividades humanas e as variações climáticas. Nesse ponto, a
definição se torna imprecisa sobre quais atividades seriam responsáveis e que aspectos
do clima devem ser considerados e a escala espaço-temporal. Entretanto, reconhece-se a
dificuldade de adoção de um conceito livre de ambiguidades para um fenômeno nessa
complexidade (SAMPAIO et al. 2003).
A desertificação é um processo resultante de uma dinâmica, que pode ter
múltiplas causas e pode dar lugar a múltiplas consequências. Por essa razão, seus
aspectos ainda são entendidos como simultâneos: ora constituem-se causas, ora
consequências. Com frequência, a pobreza e a insegurança alimentar combinadas com
variações climáticas são consideradas como tal. O processo parece progredir em fases: 1
- degradação dos solos; 2 - redução da capacidade produtiva; 3 - redução na renda; e 4 -
deterioração das condições sociais (SAMPAIO et al. 2003; BRASIL, 2004).
Enquanto processo de degradação do potencial produtivo das terras, a
desertificação pode encadear fases, mas não necessariamente na ordem apresentada,
perpassando por todas, tampouco em ciclo fechado. Por estar interligada por inúmeras
variáveis biofísicas e sociais a degradação pode ser desencadeada por qualquer uma das
fases, exceto a da redução da capacidade produtiva, que constitui-se como um efeito
dela. O aumento da quantidade de áreas degradadas, principalmente com solo exposto –
ausência ou rarefação de vegetação, decorrentes do uso pode, portanto ser considerado
como processo de desertificação instalado.

Considerações Finais

O processo de degradação ambiental da região semiárida perpassa por


mudanças ambientais que não se restringem somente aos seus processos
morfodinâmicos e que têm mudado significativamente a capacidade de suporte da área.
Neste ínterim, foram delineadas algumas propostas metodológicas com o intuito de
nortearmos os estudos ambientais e territoriais voltados a esta região.
No entanto, é necessário considerarmos que tais mudanças ambientais têm sido
ocasionadas, principalmente pela falta de políticas de planejamento a longo prazo para a
área em questão.
Faz – se necessário, além das metodologias abordadas, que o Estado concretize
de fato as políticas ambientais voltadas ao ambiente semiárido, tanto do ponto vista
ambiental quanto socioeconômico, bem como criação de Unidades de Conservação, e
elaboração de um zoneamento ambiental em escala de detalhe, com o intuito de proteger
áreas frágeis e expostas de formas significativas aos processos degradacionais, tendo
uma maior fiscalização e utilização racional dos recursos naturais.

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