Vous êtes sur la page 1sur 10

PLUTARCO, ALEXANDRE E A IDEALIZAÇÃO

ROMÂNTICA DA PÓLIS

Arnaldo Moraes Godoy1

O helenista Moses Finley, ligado aos frankfurtianos (na fase norte-


americana) intrigava-se com as relações entre Max Weber e a cidade-
estado grega2 . Para Finley, conhecedor do legado clássico, Weber poderia
valer-se de Demóstenes, a propósito de ilustrar arquétipos de dominação
carismática3 , de relações entre disciplina e carisma4 . A imagem de Finley,
aplicada a Weber, suscita rompimento de fronteira entre especialistas,
proposta de Fernand Braudel 5 . Retorna-se a recorrente questão de
manipulação do passado 6 , do trabalho no laboratório de Clio 7 , de
imaginação histórica que transita entre metáforas, ironias8 , sempre na
busca de objetividade desejável9 .
Em âmbito de historiografia jurídica verifica-se que protótipos de
comportamento político, de direito público, são diretamente absorvidos
em Plutarco , historiador grego do século II d.C., que formatou avatares
românticos , a exemplo de Julio César, Cícero, Demóstenes, Alexandre
da Macedônia. Esse último, que também poderia ser mencionado por
Finley, em relação a Weber, é resultado de biografia inflamante, vinculada
a Plutarco, como a denunciar que o passado que conhecemos pode ser o
pretérito que outros gostariam que tivesse acontecido, sufragando certo
relativismo, que deve marcar cautelosas atitudes em tema de história do
direito. Inventariar Alexandre, como chefe político imaginado por Plutarco,
é o objetivo do presente artigo, em homenagem a Moses Finley e a Max
1
Procurador da Fazenda Nacional de Categoria Especial. Doutor e Mestre em Filosofia do Direito e do Estado
pela PUC-São Paulo. Diplomado em Direito Internacional pela Academia de Haia, Holanda.
2
Moses Finley, História Antiga, pág. 115 e ss.
3
Max Weber, Economia e Sociedade, pág. 223 e ss.
4
Idem, Ibidem., pág. 302 e ss.
5
Fernand Braudel, Escritos sobre a História, pág. 275.
6
Jeanne Marie Gagnebin, Sete Aulas sobre Memória e História, pág. 30.
7
Martha Howell e Walter Prevenier, An Introduction to Historical Methods, pág. 44
8
Hayden White, Metahistory, The Historical Imagination in Nineteenth-Century Europe, pág. 43 e ss.
9
Georg G. Iggers, Historiography in the Twentieth Century.

Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8 | jul./dez. 2002. 7


Weber, historiador e sociólogo, respectivamente, ambos com muita
afinidade com a história do direito.
Plutarco biografou Alexandre o Grande, oxigenando culto que se faz
do rei da Macedônia. Plutarco biografara Demóstenes, inimigo de Felipe
(pai de Alexandre) com a mesma riqueza e deferência que outorgara ao
próprio Alexandre. Plutarco fixou alguns mitos que envolvem Alexandre,
a exemplo de como o macedônio domara seu cavalo Bucéfalo, da relação
entre Alexandre e Aristóteles, do encontro entre Alexandre e Diógenes,
do nó górdio.
Alexandre completara tarefa empreendida por seu pai, dominando
cidades gregas e conduzindo seus exércitos até o oriente (onde morreu),
promovendo amálgama entre as culturas grega e oriental, tudo
condimentado por dose de promoção pessoal, que Plutarco captou e
divulgou. A helenização de parte do oriente é fato atribuído a Alexandre.
Diz Robert M. Cook, historiador do helenismo:
Alexandre conquistara o oriente até o Paquistão e, quando morreu,
os seus generais estabeleceram vários grandes impérios cujo
funcionalismo era grego mas cuja população era estrangeira. A
principal tarefa dos governantes helenísticos consistia em helenizar,
ou seja, impor a cultura grega a seus súditos. 10
Com efeito, a helenização é o traço mais significativo da obra de
Alexandre, no-lo confirma Paul Petit:
Alexandre ainda é responsável pela helenização do mundo antigo, onde
reside o denominador comum dos fatos ‘helenísticos’: a inserção dos gregos
no mundo oriental e a difusão no próprio oriente da civilização que o
precede, tais são as conseqüências diretas da obra do macedônico. 11
Consigna-se a dimensão pessoal que se imprime à obra de Alexandre e
que, insiste-se, Plutarco colaborou na fixação. Atente-se para o passo de
Henri van Effenterre:
O caráter gigantesco de alguns empreendimentos, tal como o contínuo
êxito dos programas mais ousados do príncipe, as suas vitórias pessoais
10
Robert M. Cook, Os Gregos até Alexandre, pág. 184.
11
Paul Petit, La Civilisation Hellénistique, pág. 4. Tradução livre do autor. Alexandre encore est responsable
de cette hellénisation du monde antique, qui demeure le dénominateur commun de tous les faits ‘hellénistiques’:
l’insertion des Grecs dans le monde oriental et la diffusion en Occident même de la civilisation qui en procéda,
telles sont les conséquences directes de l’oeuvre du Macédonien.

8 Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8| jul./dez. 2002.


sobre todos os seus inimigos, a auréola lendária que, em terras do Oriente,
não podia deixar de rodear os seus altos feitos, tudo indica um aspecto
sobre-humano. Alexandre deixara dizer, após a sua visita ao oásis de Ámon,
que ele era o filho de um deus. 12
Plutarco colabora com esse culto. Narra uma visão de Olímpia, mãe de
Alexandre, quando estava grávida:
Antes da noite em que se fecharam no quarto nupcial, a jovem
sonhou que trovejava e o raio caía sobre seu ventre alumiando um
grande fogo, o qual, dividindo-se em chamas que se propagavam
para todos os lados, finalmente se extinguiu. 13
Plutarco também cuidou da aparência do rei da Macedônia:A pele
exalava um odor agradável, sua boca e todo seu corpo cheiravam tão bem
que as túnicas ficavam impregnadas com esse perfume.14
Fixou seu lado altivo:
Quando perguntaram a Alexandre se não disputara o prêmio da corrida
em Olímpia, sendo tão veloz, respondeu: ‘Sim, se meus concorrentes forem
todos reis’.15
O episódio do cavalo Bucéfalo também é ilustrativo de fixação de
Alexandre como herói. Conta Plutarco16 que Alexandre observara que
ninguém conseguia domar o animal. Percebendo que o mesmo assustava-
se com o sol, e que por isso não se deixava cavalgar, Alexandre pediu ao
pai que o deixasse tentar. O pai, Felipe, finalmente deu seu assentimento.
É Plutarco quem narra:
Alexandre correu para o cavalo e, segurando a rédea, voltou-o de
frente para o sol, pois, ao que parece, observara que o animal se
enfurecia à vista da própria sombra, que se projetava e dançava
diante dele. Enquanto o percebeu enfurecido e agitado, falou-lhe

10
Robert M. Cook, Os Gregos até Alexandre, pág. 184.
11
Paul Petit, La Civilisation Hellénistique, pág. 4. Tradução livre do autor. Alexandre encore est responsable
de cette hellénisation du monde antique, qui demeure le dénominateur commun de tous les faits ‘hellénistiques’:
l’insertion des Grecs dans le monde oriental et la diffusion en Occident même de la civilisation qui en procéda,
telles sont les conséquences directes de l’oeuvre du Macédonien.
12
Henri van Effenterre, A Idade Grega, pág. 273.
13
Plutarco, Vidas Paralelas, vol. 4, pág. 134.
14
Idem, Ibidem. pág. 136.
15
Idem, Ibidem. pág. 137.
16
Idem, Ibidem. págs. 138 e 138.

Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8 | jul./dez. 2002. 9


mansamente, acariciando-o; em seguida, atirando com clâmide,
montou-o com firmeza. Puxando ligeiramente o freio para um e
outro lado, serenou-o sem bater-lhe ou machucar-lhe a boca.
Percebendo então que o animal renunciava à atitude ameaçadora e
ansiava para correr, lançou-o à rédea solta, atiçando-o com voz
mais álacre e pressionando-o com os calcanhares. De início, Felipe e
os outros assistentes quedaram mudos de preocupação; mas quando
Alexandre, dando à rédea, regressou em sua direção com a maior
desenvoltura, alegre e orgulhoso, todos o aclamaram em altos brados.
O pai, diz-se, verteu lágrimas de felicidade e, quando Alexandre
apeou, beijou-o na fronte e exortou-o: ‘meu filho, procura um reino
à tua altura: a Macedônia é pequena para ti’.17
Plutarco também é simpático para com Felipe, pai de Alexandre que,
segundo o biógrafo:
Mandou vir o mais sábio e ilustre dos filósofos, Aristóteles, a quem
proporcionou honorários magníficos e dignos do grande homem:
reergueu as ruínas da cidade de Estagira, pátria de Aristóteles, que
ele próprio destruíra, e repovoou-a com os cidadãos exilados ou
caídos em escravidão. 18
E, ainda de acordo com Plutarco, a admiração de Alexandre pelo
estagirita era muito grande (pelo menos no início):
No início admirava Aristóteles e, mesmo apregoava que lhe queria tão bem quanto ao pai,
pois, se um lhe dera a vida, o outro o ensinara a viver. 19
O encontro entre Alexandre e Diógenes também foi celebrizado por
Plutarco:
Na ocasião, muitos políticos e filósofos foram saudá-lo [a Alexandre].
Alexandre pensava que Diógenes de Sinope, que vivia em Corinto,
faria o mesmo. Mas, como este pouco se importasse com Alexandre
e permanecesse tranqüilamente no Craneio, dirigiu-se a seu encontro.
Foi achá-lo estendido ao sol. Diógenes, percebendo a aproximação
de tantos homens, ergueu-se ligeiramente e fixou o olhar em
Alexandre, que o cumprimentou e lhe perguntou se precisava de

17
Idem, Ibidem. loc. cit.
18
Idem, Ibidem. loc. cit.
19
Idem, Ibidem. pág. 140.

10 Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8| jul./dez. 2002.


alguma coisa. ‘Sim’, respondeu o filósofo, ‘que te tires diante de
meu sol’. Essas palavras impressionaram Alexandre, que muito
admirou a corajosa grandeza daquele homem que o desdenhava.
De sorte que, na volta, estando os companheiros a rir e motejar do
filósofo, disse-lhes: ‘Pois aí está, se eu não fosse Alexandre queria ser
Diógenes’. 20
Michael Macrone, em obra de vulgarização, relata o fato, tal como
recorrente na tradição ocidental, referindo-se a Plutarco:
Plutarco (entre outros), em sua Vida de Alexandre o Grande, relata
a mais famosa lenda de Diógenes. Alexandre, proclamado general
de toda a Grécia, é visitado em Corinto por vários filósofos e
dignatários, mas não pelo famoso Diógenes. O general tenta
encontrar o filósofo cínico e o descobre tomando banho de sol.
Quando Alexandre pergunta se havia algo que ele poderia fazer
por Diógenes, esse último responde, ‘saia um pouco do sol’.
Alexandre admirou-se da ousadia de Diógenes. ‘Se não fosse
Alexandre, disse, queria ser Diógenes.’ 21
A passagem do nó górdio, que qualifica ação em face de decisão difícil,
e que é emblemática na história de Alexandre, também é mencionada por
Plutarco:
Tomou também a cidade de Górdio, que passava por ter sido a
capital do velho Midas. Ali viu o célebre carro cujo jugo estava
amarrado com fibra de cerejeira e ouviu a lenda, muito acreditada
entre os bárbaros, segundo a qual quem desatasse aquele nó tornar-
se-ia rei do universo. A maior parte dos autores relata que as
extremidades do laço não apareciam, enroscados uma na outra
diversas vezes e formando uma trama complicada. Não conseguindo
desatar o nó, Alexandre cortou-o com um golpe de espada e as
pontas do laço apareceram. 22

20
Idem, Ibidem. págs. 195 e 196.
21
Michael Macrone, It’s Greek to me!, pág. 57. Tradução livre do autor. Plutarch (among others), in his Life
of Alexander the Great, relates of Diogenes. Alexander, proclaimed general of all Greece, is visited at Corinth
by various philosophers and dignataires, but not by the famous Diogenes. The general ventures forth to find the
cynic, and discovers him sunbathing, when Alexander asks whether there were anything he might do for Diogenes,
the latter replies, ‘stand out of the sun a little’. Alexander greatly marveled at Diogenes’ boldness; ‘if I were not
Alexander’, he rhapsodized, ‘I would be Diogenes’.
22
Plutarco, op. cit., pág. 150.

Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8 | jul./dez. 2002. 11


Michael H. Hart inclui Alexandre entre as cem pessoas mais influentes
da história, colocando em trigésimo terceiro lugar e comparando-o a Hitler
e a Napoleão:
Alexandre, Napoleão e Hitler parecem próximos em influência
geral. Tem-se a impressão, porém, que a influência desses dois
últimos é menos duradoura do que a de Alexandre. Assim,
ele é reputado um pouco acima deles, embora sua curta
influência tenha sido um tanto quanto menor do que a deles.23

O mito de Alexandre transborda para a tradição hebraica, que o viu


como pregador e profeta; os persas o sentiam rei verdadeiro e figura
diabólica; a Grécia moderna o percebe menos como rei e mais como
sábio. Desde o século III d.C. circula edição anônima da vida de
Alexandre (que alguns atribuem a Calístenes)24 e que, ao lado de
Plutarco, é a base de toda uma tradição. Também, registre-se crítica
ácida, por parte de Richard Shenkman, para quem:
Alexandre o Grande é a primeira pessoa da história que provou que
matar muita gente é fácil se você se preparar para isso. 25
É o mesmo Richard Shenkman quem hostiliza Plutarco e a tradição
que o biógrafo capitaneia:
Numa única batalha, diz Plutarco, o exército de Alexandre matara
cento e dez mil persas. Plutarco deixa a impressão de que isso fora
uma grande conquista. Se os persas sentiram da mesma forma, ele não
diz. Plutarco, casualmente, talvez exasperou o tributo de morte.
Quando Alexandre matava a pessoa errada, ele sentia muito.
Plutarco diz que quando Alexandre matou seu melhor amigo
numa discussão, ele profundamente lamentara a perda,

23
Michael H. Hart, The One Hundred, a Ranking of the most influentical persons in History, pág. 180.
Tradução livre do autor. Alexander, Napoleon, and Hitler seem fairly close in overall influence. One gets the
impression, though, that the influence of the other two men will be less enduring than that of Alexander on that
basis, he has been ranked slightly above them, even though his short-term influence was somewhat less than theirs.
24
Richard Stonemann (org.), The Greek Alexander Romance.
25
Idem. Legends, Lies and Cherished Myths of World History, pág. 12. Tradução livre do autor. Alexander
the Great was the first person in history to prove that killing lots of people is easy if you put your mind to it.

12 Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8| jul./dez. 2002.


chorando violentamente por dois dias. Plutarco diz que
Alexandre massacrava as pessoas para mostrar quem era o
chefe. 26
Porém a tradição consagra a versão de Plutarco, sem reticências.
Sua influência é reconhecida, sem críticas. Anotou Jennifer Tolbert
Roberts:
Uma das fontes mais populares através das quais civilizações mais
recentes aprenderam sobre história grega foram as biografias de
Plutarco (...). 27
E continua:
Plutarco, de longe a mais influente fonte para antiga história e política
gregas até o século XIX (...).28
A mesma autora honra Plutarco como a mais importante fonte
também na Renascença, para com o passado grego. E escreve, O
tratamento que Plutarco dá à democracia ateniense é enormemente
importante, porque seus trabalhos tiveram mais impacto na escrita
da história grega anterior ao século XIX do que aqueles de qualquer
outro escritor. 29
Plutarco influenciou Shakespeare, que lera a tradução de Thomas North,
de quem tomara parágrafos inteiros, a propósito da descrição de Cleópatra
no Nilo em “Antônio e Cleópatra”30 . Influenciou também Montaigne31 .
Na “Revolução Francesa” de Michelet, a srta. Corday lê Plutarco32 . Tércio
Sampaio Ferraz cita Plutarco como um dos precursores no uso do termo

27
Jennifer Tolbert Roberts, Athens on Trial, pág. 5. Tradução livre do autor. One of the most popular sources
from which later civilizations learned about Greek history was the biographies of Plutarch (...).
28
Idem, Ibidem. pág. 7. Tradução livre do autor. Plutarch, by far the most influential source for ancient Greek
and politics until the nineteenth century (...).
29
Idem, Ibidem. pág. 111. Tradução livre do autor. Plutarch’s treatment of Athenian democracy is enormously
important, because his works probably had more impact on the writing of Greek history prior to nineteenth
century than those ofs any other writer.
26
Idem. op. cit., págs. 12 e 13. Tradução livre do autor. In one battle alone, says Plutarch, Alexander’s army
killed 100,000 Persians. Plutarch leaves the impression this was a considerable achievement. Whether the
Persians felt the same way he doesn’t say. Plutarch, incidentally, probably exaggerated the death toll. (...) When
he killed the wrong person, he was always very sorry. Plutarch says when Alexander killed his best friend during
an argument he deeply mourned the loss, crying his heart out for two whole days. Plutarch says Alexander
slaughtered people to show then who was boss.
30
Anthony Burgess, A Literatura Inglesa, pág. 112.
31
Harold Bloom, O Cânone Ocidental, pág. 151.

Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8 | jul./dez. 2002. 13


“antinomia”33 , observação confirmada por Maria Helena Diniz34 . O nome
de Plutarco volta a ser usado na Grécia Moderna, rompendo a barreira
dos Nikos, Costas, Ioannis, Dimitris. É hoje nome de conhecidíssimo
cantor popular35 . Assim, ao lado de Pausânias, Plutarco constrói Grécia
ideal, em seu sentido moral, desenhando heróis como Teseu, Péricles,
Alcibíades, Demóstenes, Alexandre, entre tantos outros. A forma como
inicia a biografia de Alexandre é prova inconteste dessa tendência de se
estereotipar o passado:
Em verdade, não escrevemos histórias, mas biografias, e nem sempre
é nos feitos mais rumorosos que se manifesta a virtude ou vício. Ao
contrário, sucede com freqüência que um fato comezinho, uma
palavra, uma pilhéria revelam bem mais nitidamente o caráter que
os combates onde se contam milhares de mortos, as batalhas cerradas
e os assédios mais espetaculares. Assim como os pintores captam a
semelhança a partir dos traços do rosto, que denunciam o caráter, e
pouco se ocupam das outras partes do corpo, assim também seja-
nos lícito penetrar de preferência nos sinais distintos da alma e, com
a ajuda deles, representar a vida de cada qual, deixando para outros
o aspecto grandioso dos acontecimentos e das guerras.36
O legado romântico da Grécia Clássica, em torno do qual idealizou-se
Hélade que reverencia a presença humana na terra, finca raízes em
Plutarco, que expôs gênios, lutadores, bravos, conquistadores. Fornece
matéria prima que será absorvida, trabalhada, potencializada, pela tradição
ocidental, na qual radica nossa cultura. Os exagerados elogios que a filosofia
do direito e do estado tecem em relação à Grécia podem encontrar
explicação nessa mesma tradição. A exaltação da Grécia é fato cultural
cheio de clichês que remonta a Plutarco. Por isso, a sugestão de Moses
Finley, vinculando a polis grega e Max Weber a propósito do estudo das
dominações carismáticas, suscita certa cautela , cuidado, que deve marcar
o historiador do direito, cujas reflexões correm o risco de macularem-se
por obtusas imagens dos tempos mais antigos.
32
Jules Michelet, História da Revolução Francesa, pág. 315.
33
Tércio Sampaio Ferraz, Antinomia, in Enciclopédia Saraiva do direito, vol. 7, pág. 9.
34
Maria Helena Diniz, Conflito de Normas, pág. 3.
35
Plutarcos é cantor popular grego, intérprete de Sigá,(Devagar, Devagar), encontrável em CD da EMI-Minos.
36
Plutarco, op. cit., pág. 133.

14 Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8| jul./dez. 2002.


BIBLIOGRAFIA
BLOOM, Harold. O Cânone Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Objetiva,
1995. Tradução de Marcos Santarrita.
BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Nova Perspectiva,
1992. Tradução de J. Guinsburg e Tereza Cristina Silveira da Mota.
BURGESS, Anthony. A Literatura Inglesa. São Paulo: Ática, 1996.
Tradução de Duda Machado.
COOK, Robert M.. Os Gregos até Alexandre. Lisboa: Editorial Verbo, 1966.
Tradução de Luís Pizarro de Melo Sampaio.
DINIZ, Maria Helena. Conflito de Normas. São Paulo: Saraiva, 1987.
EFFENTERRE, Henrivan. A Idade Grega. Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1979. Tradução de Manuel Lopes.
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Antinomia. Artigo in Enciclopédia
Saraiva do direito, vol. 7. São Paulo: Saraiva, 1978.
FINLEY, Moses. História Antiga. São Paulo : Martins Fontes, 1994.
Tradução de Valter Lellis Siqueira.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Sete Aulas sobre Memória e História. Rio de
Janeiro: Imago, 1997.
HART, Michael H.. The One hundred, a Ranking of the Most Influential Persons
in History. New York: Carol Publishing Group, 1994.
HOWELL, Martha e PREVENIER, Walter. From Reliable Sources, an
Introduction to Historical Methods. Ithaca e London : Cornell University
Press, 2001.
IGGERS, Georg G. . Historiography in Twentieth Century, from Scientific
Objectivity to the Postmodern Challenge. Hanover e London : Wesleyan
University Press, 1997.]
MACRONE, Michael. It’s Greek to me! New York: Cader Books, 1991.
MICHELET, Jules. História da Revolução Francesa. São Paulo: Companhia
das Letras, 1989. Tradução de Maria Lúcia Machado.
PETIT, Paul. La Civilisation Hellénistique. Paris: Presses Universitaires de
France, 1981.
PLUTARCO. Vidas Paralelas. São Paulo: Paumape, 1991. Tradução de
Gilson César Cardoso.
ROBERTS, Jennifer Tolbert. Athens on Trial. New Jersey: Princeton
University Press, 1994.
Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8 | jul./dez. 2002. 15
STONEMANN, Richard (org). The Greek Alexander Romance. London:
Penguin, 1991. Tradução de Richard Stonemann.
WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília : UNB, 1999. Tradução
de Regis Barbosa e de Karen Elsabe Barbosa.
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro : LTC, 1982.
Tradução de Waltensir Dutra.
WHITE, Haydee. Metahistory, The Historical Imagination in Nineteenth
– Century Europe.Baltimore e London : The John Hopkins University
Press, 1975.

16 Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 4 | n. 8| jul./dez. 2002.

Vous aimerez peut-être aussi