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ponto de vista
INFORMAÇÃO PARA O PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO
*
Pós-Graduação em Administração de
Sistemas de Informação pela Universidade
Católica de Brasília. Mestrando em Ciência
da Informação pela Universidade de
Brasília.
E-mail: ricardo.crisafulli.r@terra.com.br
U
m dos grandes estrategistas da História, que liderança e empreendedorismo de Alexandre, frutos
inspirou outros renomados líderes como de uma refinada educação sob a tutela de Aristóteles.
Júlio César, Augusto César, Frederico – o Finalmente, tocante ao controle de ações, são
Grande – e Napoleão, e que ainda hoje inspira tratados os temas de consolidação das conquistas,
muitos administradores, governantes e militares, globalização e queda do império (motivada pela
foi Alexandre, o Grande, rei da Macedônia. Suas falta de um sucessor ao trono).
formas de administrar e liderar foram notáveis,
permitindo-lhe alcançar seus objetivos de
conquistas. 2 ADMINISTRAÇÃO
Entender o modo como procedia à frente da Num conceito mais amplo, e conforme o
administração do exército e as ações levadas a cabo entendimento de vários autores, Administração é o
para a conquista da Pérsia e da Ásia é o que se processo de planejar, organizar, dirigir, liderar,
propõe neste artigo o qual enfatiza o estreito coordenar e controlar a utilização de recursos para
relacionamento entre o sucesso alcançado por atingir determinados objetivos, levando-se em conta
Alexandre e o uso adequado de todo um processo os recursos materiais e humanos existentes (DAFT,
administrativo, formalmente concebido e utilizado 2005; CHIAVENATO, 2003, 2007; MAXIMIANO,
para um fim específico. 2007; SCHERMERHORN, 2006).
São enfocados quatro princípios fundamentais Administrar é uma “arte” antiga que remonta
da administração: planejamento, organização, aos sumérios, há mais de cinco mil anos, passando
liderança e recursos humanos, e controle. pelos egípcios, babilônios, hebreus, chineses, gregos
A questão do planejamento – com base no e romanos. Na história desses povos, existem claros
planejamento estratégico – refere-se aos objetivos sinais de eficientes sistemas administrativos que
de Alexandre, aos ambientes interno e externo de utilizavam os princípios de uma boa administração,
seu reino, ao uso que fazia dos sistemas de e que correspondem a: 1) planejamento; 2)
informação e comunicação e às tecnologias que organização das atividades e recursos; 3) liderança
utilizava. Quanto à organização, o artigo enfoca os e direção de recursos humanos; e 4) controle - para
itens de organização e decisão e a parte de logística; avaliação e correção de atividades, quando
esta última, um dos pontos fortes da administração necessário (SCHERMERHORN, 2006, p. 8).
de Alexandre, juntamente com o uso adequado de Esses quatro princípios, intimamente
fontes de informação e comunicação. Em relação à relacionados entre si, não seguem uma seqüência
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linear na sua aplicabilidade, podendo acontecer aquele que visualiza as necessidades de longo prazo,
simultaneamente em qualquer processo estabelecendo ações amplas e abrangentes em todos os
administrativo – seja numa empresa, num órgão campos políticos, materiais e humanos.
governamental ou militar, ou mesmo num simples
projeto específico de determinada área. Eles
3.1 Objetivo de Alexandre
vão se sobrepondo continuamente, à
Filipe II tinha por objetivo a conquista da Pérsia
medida que um gerente se movimenta de
tarefa para tarefa e de oportunidade para e da Ásia. Várias guerras haviam sido travadas entre
oportunidade no processo de mobilização gregos e persas, e o ódio entre eles imperava. Como
de recursos para atingir objetivos conquistador da Grécia, Filipe tomou para si e para
(SCHERMERHORN, 2006, p. 8). seu país, a Macedônia, a incumbência de guerrear
contra a Pérsia. Nesse contexto, Alexandre foi
Na empreitada para conquistar o império educado e preparado para ser o braço direito do pai,
persa e, posteriormente, toda a Ásia, fica bastante não tivesse este sido brutalmente assassinado em 359
evidente que Alexandre soube como ninguém, usar a.C. Alexandre, com apenas vinte e um anos, foi
de forma magistral, três desses quatro princípios escolhido como sucessor e coroado rei da Macedônia,
da administração, falhando em parte, todavia, no fazendo do objetivo paterno o seu próprio objetivo de
uso do quarto princípio uma vez que a inexistência vida. Iniciou, então, a partir da coroação, um
de um herdeiro formal acabou provocando o verdadeiro planejamento estratégico de longo prazo
desmembramento e a conseqüente “quebra” de seu que lhe permitisse realizar suas conquistas. Mais
fabuloso império. Tal fato, entretanto, deveu-se não tarde, depois de delimitada toda a estratégia de longo
a uma eventual incapacidade administrativa do prazo, dedicou-se aos planos operacionais relativos
estrategista, mas à sua repentina morte, ocorrida a cada batalha e operação militar a ser executada.
quando tinha apenas trinta e dois anos.
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Alexandre, “o grande” e a informação para o planejamento estratégico
Macedônia ampliada que só perdia em foram passados por seu pai. Os livros históricos lidos
extensão e poder para a Pérsia. Todo por Alexandre também o ajudaram na percepção
cidadão desse império ampliado,
independentemente de sua estatura
mais apurada do ambiente externo, de forma que,
econômica, rico ou nascido na pobreza, mesmo sem nunca ter visitado aquele país, conhecia
gozava de igual status: eram todos dele o suficiente para poder atacá-lo.
macedônios (BOSE, 2006, p.36). No decorrer de suas conquistas sobre o império
persa, muitos territórios foram dominados pelas armas.
A Macedônia, em toda a sua dimensão geográfica, Outros, inclusive o Egito, simplesmente se entregaram
tinha uma infra-estrutura fabulosa, com estradas, sem luta, aliando-se aos Macedônios. Alexandre sabia
aquedutos, comércio bem estruturado etc., e uma que as alianças espontâneas poderiam acontecer, pois,
administração política e militar centralizada, com uma ao estudar esses países, pôde vislumbrar o
estrutura descentralizada encarregada de sua execução. descontentamento com seus dominadores persas. No
Apesar de toda a estrutura de alianças internas Egito foi inclusive aclamado como Faraó.
que mantinha íntegro o reino da Macedônia, logo após À medida que as conquistas iam se sucedendo
a morte de Filipe algumas importantes cidades-estado e o império macedônio crescia, o ambiente interno
tentaram se rebelar, entre as quais Atenas e Tebas. também crescia e se consolidava, enquanto o ambiente
Alexandre, imediatamente, tomou as providências externo ia diminuindo, uma vez que os persas estavam
necessárias para retomar aquelas alianças. Qualquer perdendo paulatinamente seus territórios. A perfeita
problema no ambiente interno do seu reino poderia compreensão do ambiente externo garantiu a
prejudicá-lo em seu objetivo maior: a conquista da Alexandre as condições necessárias para planejar e
Pérsia. De maneira rápida e decisiva, dominou a executar todas as suas ações.
situação subjugando novamente essas cidades.
Alguns insurgentes renderam-se sem luta, jurando
lealdade ao novo rei. Tebas, todavia, que inicialmente 3.4 Informação e comunicação
havia se proposto a fazer o mesmo, acabou entrando
em choque novamente com o exército macedônio, Os pilares da administração estão
sendo totalmente arrasada e destruída. A destruição intrinsecamente ligados à informação ou
de Tebas foi um sinal claro para que todas as cidades- aos dados que se tornem úteis para a
estado e reinos aliados mantivessem intactas as tomada de decisão (SCHERMERHORN,
2006, p.22).
alianças com os macedônios. Consolidado o ambiente
interno, Alexandre voltou seus pensamentos para o Informações sobre o ambiente externo (e
ambiente externo. muitas vezes sobre o próprio ambiente interno)
devem ser coletadas, analisadas e utilizadas para
3.3 Ambiente externo que se possa administrar com sucesso. A
“informação inteligente é necessária para lidar de
Ambiente externo consiste em todas as ações maneira efetiva com grupos externos, tais como
conjunturais externas a uma organização, concorrentes, agências governamentais, credores,
compreendendo condições culturais, econômicas, fornecedores e acionistas” (SCHERMERHORN,
políticas, educacionais, religiosas, militares etc. 2006, p.23), além de exércitos inimigos.
Para que essas ações não ofereçam perigos a uma Alexandre fazia questão da coleta de
organização devem apresentar o mínimo de informações e do Serviço de Inteligência de Guerra,
competição e risco de convivência, necessitando, sendo as informações detalhadas a respeito do
às vezes, ser total ou parcialmente eliminadas. ambiente externo e dos adversários uma das marcas
O ambiente externo ao reino macedônio era- de sua tática militar.
lhe hostil e concorrente, trazendo grande ameaça
principalmente quando se tratava da Pérsia. Em vista Inspirados pelo êxito que Alexandre
tivera com seu Serviço de Inteligência,
disso, Alexandre estudou com detalhes todos os
muitos generais, como Aníbal, Júlio
elementos externos e analisou as melhores César, Augusto César, Frederico, o
alternativas para levar a cabo suas conquistas. Grande e Napoleão, baseando-se nas
Muitos dos conhecimentos adquiridos nesses estratégias e táticas de Alexandre,
estudos do ambiente externo haviam sido aprendidos também faziam da coleta de informações
o grande destaque de sua história militar
ainda nos tempos de estudos com Aristóteles ou lhe
(BOSE, 2006, p.71).
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forma a permitir que o exército pudesse se deslocar voluntários, recebendo pagamento para isso, e não
de maneira extremamente rápida. pessoas obrigadas a exercer atividades militares.
Essa forma de recrutamento garantia um exército
Alexandre enviava navios com provisões de qualidade, sendo os soldados treinados para
para instalar bases avançadas, depois suportar as condições mais adversas. Não eram,
mandava desmontar e transportar os
navios por terra até outro rio que portanto, soldados comuns. Em marcha forçada
conduzisse até outra base avançada poderiam, por exemplo, fazer caminhadas de até
(BOSE, 2006, p.238). sessenta e cinco quilômetros.
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esmagadoras. Sua liderança era tanta que o simples positivos eram obtidos graças às ações e manobras
mencionar de seu nome já fazia tremer o inimigo. ofensivas e corajosas. Em muitas batalhas, quando
A educação recebida, tanto nas ciências como o inimigo se defendia utilizando-se de proteções
na arte militar, tutelado por Aristóteles, ajudou-o na naturais “intransponíveis” (montanhas, rios,
condução firme e correta de seus exércitos. Era refinado florestas etc.), Alexandre o surpreendia com seus
e altamente convincente em seus discursos, a ponto de exércitos, atacando-o propositadamente por estes
angariar a simpatia e a adesão dos macedônios aos caminhos.
seus planos de conquista do império persa. Até mesmo
no final de suas campanhas na Índia, quando todo o
exército queria voltar para a Macedônia, conseguiu
6 CONTROLE DE AÇÕES (E MANUTENÇÃO DAS
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e religiosos dos povos conquistados, ao mesmo [...] não resta dúvida que seus feitos e
tempo em que levava a esses povos as culturas decisões, táticas e estratégias, qualidade
de liderança e visão servirão
greco-macedônias. Para consolidar ainda mais a eternamente como parâmetros e faróis
fusão de culturas, promovia inúmeros casamentos para todos aqueles que desejam erguer
entre seu povo e os povos conquistados. Ele mesmo instituições [...] e seu entendimento e
casou-se três vezes com mulheres das regiões fascínio pelas diferentes culturas ajudarão
conquistadas. a entender as dúvidas e incertezas do
mundo em que vivemos hoje (BOSE,
2006, p.313).
6.2 Queda do império
7 CONCLUSÃO
A visão de um mundo único, acalentada
por Alexandre, na qual diferentes culturas Como visto a curta trajetória de Alexandre –
e sociedades viveriam juntas e desde a sua formação educacional, passando pela
coexistiriam de forma pacífica, reorganização interna do seu reino e conquista da
basicamente virou fumaça após sua morte Pérsia e de quase toda a Ásia – é, por si só, um
(BOSE, 2006, p. 307).
exemplo magistral de uso adequado dos métodos
administrativos. Alexandre previu cada passo de
Na concepção de seu projeto de conquista da
suas conquistas tanto em nível de planejamento,
Ásia, criou um vasto sistema comercial e cultural
organização e consolidação como também na forma
que, infelizmente, seus sucessores não souberam
de liderar e motivar seus exércitos.
preservar. Sua morte prematura fez com que seu
império fosse “loteado” entre seus principais Sem sombra de dúvida, Alexandre jamais
generais, uma vez que não deixara descendentes – poderia ter governado toda a Grécia,
seu filho com Roxana nasceu três meses após a sua vencido os persas, atingido um território
morte e foi assassinado quando tinha treze anos. Os tão distante quanto a Índia e se tornado
generais, apesar de grandes guerreiros, não estavam conhecido como Alexandre, o Grande, se
não tivesse sido – literal e
preparados para a gestão pacífica do império e nem metaforicamente falando – por Filipe, que
tinham qualquer tino administrativo para tanto. foi um dos mais refinados táticos do
Cada general administrou como pôde um mundo antigo [...]. Por outro lado,
pedaço desmembrado do império. Alguns o Alexandre não foi um mero beneficiário
perderam muito cedo, enfrentando rebeliões e não-merecedor do legado deixado por
seu pai, mas o maior estrategista e tático
guerras locais. Outros souberam administrar de de toda a história (BOSE, 2006, p.25).
forma mais duradoura, como é o caso de
Ptolomeu, fundador da última dinastia de Soube aproveitar todo o ensinamento que
Faraós no Egito a qual terminou por volta de 30 recebeu do pai e de Aristóteles e, mais do que isso,
a.C., com Cleópatra. aperfeiçoá-lo e torná-lo eficiente e eficaz para seus
O grande erro de Alexandre, entre os poucos propósitos. Esse é o real papel de um bom
que cometeu, foi não ter preparado um sucessor administrador.
que pudesse dar continuidade ao seu império – Todavia, falhou ao não deixar um sucessor
como seu pai tinha feito, ainda que não formal que pudesse dar continuidade ao seu curto
oficialmente. Apesar de sua morte ter sido império. Curto, diga-se de passagem, em relação ao
repentina e em conseqüência de uma doença não tempo de duração, mas imenso em tamanho e
identificada, era de se esperar que um general que qualidade. Foi talvez o precursor da “globalização”
tudo planejava com uma visão de futuro planejasse e da tentativa de uma convivência pacífica entre os
também a própria sucessão, principalmente homens, ainda que essa convivência tenha advindo
porque sempre combatia na linha de frente e tinha da guerra.
inúmeras chances de ser morto em combate. Seu exemplo de administração e liderança
Talvez essa necessidade de nomear em vida um continua sendo estudado e utilizado por inúmeras
sucessor nunca tenha lhe passado pela cabeça instituições, sejam públicas, privadas ou militares.
devido à crença de ser um predestinado e um filho Estudá-lo em profundidade é um caso a ser pensado
de deuses. pelos que querem saber como administrar e tomar
Seja como for, decisões.
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