Vous êtes sur la page 1sur 9
A Historia de Mitra deldebbio| 31 de outubro de 2068 Este estudo buscar enfocar o tema Mitra em cinco partes: a) as origens antigas do Deus; b) 0 culto ¢ a liturgia do mitraismo; c) a derrota frente ao cristianismo; 4d) resquicios mitraicos e sua influéncia sobre a ‘magonaria ¢ e) como seria um mundo moderno mitraico 4 guisa de conclusio, Utilizamos, para este trabalho, enciclopédias e diversos textos. da_ Internet, principalmente o texto de Jean-Louis dB no “La parole circule”. 1 As Origens Antigas do Deus Mitra. Existe muita controvérsia sobre a etimologia de Mitra. Na India védica, Mitra significava ‘amigo’, no persa avéstico era traduzido como ‘contrato’. Esta iltima definigdo & a que prevalece nos nossos dias, sendo pois Mitra a personificag’o do contrato. Segundo os etimologistas, Mit(h)tra € composto de um sufixo instrumental ~ “tra” ~ que significa instrumento de trabalho e de um prefixo “mi” que é encontrado em todas as linguas indo-européias sob diferentes raizes. “Mei” pode significar ainda “lugar, encontro”. Em sinscrito “mitram” significa “amigo”. Mitra significando, pois, ‘contrato’ e ‘amigo’ nao se opdem realmente, visto que nio existe amizade sem um engajamento miituo, Nao se fala em ‘pacto de amizade’? Mitra se encontra sob diferentes ortografias: Mihr, Meher, Meitros, etc Os trabalhos clissicos de Mircea Eliade e principalmente ‘0s de Georges Dumézil sobre a india védica demonstram uma estrutura fundamental da sociedade e da ideologia das diferentes sociedades indo-européias. A sociedade € dividida em trés classes: sacerdotes, guerreiros e agricultores que correspondem a uma ideologia religiosa trifuncional: a fungio da soberania magica, da sacrificadora e da juridica (Varuna-Mitra, Rémulo- Jupiter e Odin); a fungio dos deuses da forga guerreira (Indra, etrusco Lucumao-Marte e Thor) e, finalmente, a das divindades da fecundidade e da prosperidade ‘econémica (os gémeos Nasatya ou os Asvins, Tatius [e os sabinos] -Quirino ¢ Frey) Encontra-se 0 Deus Mitra no Pantedo Védico da india desde 1380 a. C. Este Proto-Mitra estaria associado a Varuna e forma uma dualidade antitética complementar, Mitra seria a face juridico-sacerdotal,, conciliadora, luminosa, préxima da terra e dos homens enquanto Varuna seria 0 aspecto magico violento, terrivel e tenebroso, Mitra torna-se, pois, a garantia do compromisso, a forga deliberante, enquanto Varuna 0 respeito ao bom direito pela forga atuante. A antitese Mitra-Varuna encontra-se também em Roma com a ‘oposigao dos dois primeiros reis: Rémulo (Varuna- hipiter), semi-deus violento e Tatius (ou Numa-Mitra), ponderado e sibio, instituidor das questdes sagradas & das leis, ligado igualmente aos deuses da fertilidade e do solo, Mitra é 0 Deus soberano sob seu aspecto racional, claro, regrado, calmo, benevolente, sacerdotal. Seu papel & secundario quando esta isolado de Varuna, mas compartilha com este todos os atributos da soberania. Sol & seu olho, nada lhe escapa. A conclusio de um acordo se faré através de um sacrificio ao Deus Mitra, ‘mas um sacrificio incruento, pelo menos no inicio, pois, mais tarde, terminara por aceitar sactificios sangrentos. Esta evolugdo & metaforizada pelo papel de Mitra na historia dos Deuses, pois terminara por ser associado a morte do Deus Soma. Na origem, Mitra recusa-se a participar da morte ritual, sendo amigo de todos, p prestara sua ajuda para, no final, ser um ator ativo na morte ritual O Mitra avéstico, encontrado na religido iraniana, é 0 Mitra. mais conhecido e divulgado e precede o monoteismo zoroastriano. A influéncia da antiga religido iraniana para a formagao religiosa do Ocidente é bastante significativa: o tempo linear, a articulagao dos diversos sistemas dualistas~ sejam césmicos, éticos ou religiosos © mito do Salvador; a elaboragio de uma escatologia ‘otimista’ que proclama o triunfo do Bem sobre o Mal; a salvagio universal;a doutrina da ressurreigdo dos corpos; certos mitos gnésticos; a mitologia dos Magos etc. Na religiéo dos aqueménidas, a oposigio entre Atira~ Masda (o Bem) e 08 daévas (0 Mal) sempre foi presente, jé que na fndia védica aconteceu 0 contrario: no conflito entre os devas e os asura, aqueles foram vencedores, pois toraram-se os verdadeiros deuses, a0 triunfarem sobre as divindades mais arcaicas~ 0s astra ~ que nos textos vvédicos sto considerados figuras ‘demoniacas’. Processo similar, ainda que com sinal trocado, aconteceu no Tra ‘os antigos deuses, os daévas, foram demonizados (ai, dos perdedores!). Eliade argumenta que “pode-se determinar em que sentido se efetuou essa transformacao: foram sobretudo os deuses de fungao guerreira — Indra, Saurva, ‘Vayu ~ que se tornaram daévas. Nenhum dos deuses asura foi ‘demonizado’. Aquele que, no Tra, correspondia ao grande asura proto-indiano, Varuna, torna-se Atira- Masda”. Aqui, a antitese Varuna-Mitra é substituida pelo duo Mitra-Atira sendo que a fungao continua a mesma. Mitra um deus da luz, da aurora, guardido que socorre as criaturas, onisciente e vitorioso, Atira, tornandose progressivamente Atira-Masda, transforma, também, a significaglo de —-Mitra,-__-metamorfoseando-o paulatinamente num deus guerreiro, Mitra continua deus do contrato e do acordo e assegura uma ligagio entre os diferentes niveis da sociedade da qual é garantidor da ordem, representada pelo gado e a fecundidade. Interessante notar que aquela trilogia de Dumézil - sacerdote, guerreiro e agricultor ~ comeca a ser baralhada. Este Mitra avéstico, mais do que 0 védico, beneficiara os sacrificios, notadamente os do Touro. Seu papel de deus guerreiro, contudo, crescera 4 medida que Auira-Masda fortfica e torna dominante o seu lugar no Pantedo dos Deuses. Tal ‘evolugao’ é légica, pois como deus garantidor da ordem, sempre estaré ao servigo do respeito da lei e do contrato para aqueles que o reverenciam. Com o tempo metamorfoseia-se num deus violento e cruel. £ um deus solar com mil olhos ¢ orelhas como vimos, um deus da fertilidade dos campos e dos rebanhos. Atua, como Hermes, no papel de psicopompo, ‘ou seja, condutor das almas dos mortos, pois como senhor dos Céus conduz.as almas até o Paraiso. Mitra foi adorados por quase todos os soberanos persas: Ciro 0 reverenciava; sob Dario houve um breve eclipse, pois este, segundo alguns especialistas, era partidério de Zoroastro; ¢ reaparece com Artaxerxes. Na cerimonial da realeza persa, 0 dia de Mitrakana era o tinico dia em que © rei persa tinha o direito de embriagar-se, numa clara analogia com a morte védica. ‘Mitra retorna ao primeiro plano como deus do sol, dos juramentos e dos contratos, sob a influéncia dos Magos. Estes foram uma classe de sacerdotes dos antigos medas com um papel sacrificial importante e que entre os ‘gregos antigos gozavam de uma reputagio de serem depositarios de uma sabedoria esotérica, No Pantedo dos Deuses avésticos, Mitra seria filho de Anihata ou Anahita, a génia feminina do fogo, uma espécie de Virgem Imaculada, Mae de Deus. E a tinica figura feminina associada a Mitra, pois este permanecerd celibatirio por toda a vida, exigindo de seus admiradores, a pratica do controle de si, a rentincia e a resisténcia a toda forma de sensualidade. Vale salientar que 0 maior Mithraeum (templo) construido em Kangavar na Pérsia Ocidental era dedicado a esta deusa. Segundo reza 0 Mihr Yasht, 0 extenso hino em honra a Mitra da saga religiosa persa, a histéria de Mitra é a seguinte: apés ter sido promovido ao pantedo dos Grandes Deuses, Aiira- Masda mandou construi-lhe uma mansio no cimo do Monte Hara, ou seja, no mundo espiritual, além da abdbada celeste. Postou-se ai como o protetor de todas as criaturas e nao era adorado como todos os outros deuses menores com preces rotineiras. Attra Masda consagrou Haoma como sacerdote de Mitra que o adorava e Ihe oferecia sacrificios. Attra Masda cria e prescreve 0 rito préprio ao culto de Mitra no paraiso, Mitra, assim, retorna A terra para 0 combate contra os daévas sem, contudo, conseguir vencé-los. Somente quando Mitra se une a Atira Masda o destino dos daévas ser selado. Mitra sera, a partir daf, adorado como a luz que ilumina todo 0 mundo. No tocante aos babilénios, estes incorporardo o Deus Mitra no seu Pantedo e, em troca, introduzirao, na religido persa, seu culto solar, tendo a astrologia como uum dos seus pontos mais fortes. Convém salientar que a cultura judaica sofreré. uma influéncia marcante do dualismo zoroastriano a partir do cativeiro em 597 a.C. No judafsmo primordial, Iavé era concebido como 0 inico criador do Mundo e do Universo, ou seja a totalidade absoluta do real, contendo inclusive o mal. O dualismo Iavé— HaShatan advém de uma crise espiritual que se seguiu ao cativeiro babilénico, personificando aspectos negativos da vida, sob a forma de Sata, que se tornaré progressivamente também eterno. Sata seria, ‘entio, o fruto de uma cissio da imagem arcaica de Iavé combinado com as doutrinas dualistas iranianas. Esta tradigao impactara fortemente o cristianismo nascente, © Mitra irano-helenistico tem a sua génese com as conquistas de Alexandre e a queda do império persa durante o ano de 330 a. C., pois Alexandre ¢ 10.000 de seus soldados macedénios se casam com mulheres persas e mais, dentro do ritual persa. Sabe-se que alguns destes macedénios e seus filhos, iniciados pelas mies persas, introduziram 0 culto de Mitra na Macedéniae na Grécia. E deveras conhecido que a adoragao deste Deus Mitra, advindo do inimigo persa, nunca obteve uma grande popularidade na Grécia, apesar de continuar a manter a influéncia junto & aristocracia meda ¢ iraniana. Tanto assim que o nome Mitridate (dado a Mitra) ¢ encontrado ‘em diversos reis partos, do Bésforo e do Ponto Euxino. A arqueologia tem descoberto diversos templos — Mitreas— na Arménia. Apesar da pouca influéncia junto a0 povo grego, a religido iraniana entrou num vasto movimento sincrético junto & cultura helénica. Mitra era adorado em todo o império de Alexandre e os Magos, continuavam a ser os sacerdotes sacrificadores. O culto repousava sobre uma cronologia escatolégica de 7000 anos, cada milénio sendo governado por um planeta. Dai advém a série dos 7 planetas, dos 7 metais, das 7 cores etc. Durante os 6 primeiros milénios, Deus ¢ 0 Espirito do Mal combatem pela supremacia e, quando o Mal parecia vitorioso, Deus enviou o Deus solar Mitra (Apolo, Hélio) que domina o sétimo milénio. No fim deste periodo setenal, a poténcia dos planetas cessa e um \céndio universal recobre o mundo. Curioso nesta época € a biografia do rei Mitridate VI Eupator, rei do Ponto, anterior ao nascimento de Cristo, Seu nascimento foi anunciado por um cometa, um raio caiu sobre o recém-nascido, deixando-Ihe uma cicatriz. ‘A educagio deste rei é uma longa série de provas inicidticas. E visto durante sua coroagio como uma ‘encarnagio de Mitra. A biografia real é muito préxima do Natal cristao, Ble seré o iltimo rei de uma longa lista de grandes reis Mitridates. Conquistou quase toda a Asia Menor por volta de 88 a. C., mas foi derrotado pelos romanos em 66. Provavelmente aliou-se aos piratas Cilicianos dos quais falaremos a seguir. Foi, também, o primeiro monarca a praticar a imunizagéo contra os vvenenos, a qual, segundo o Aurélio, se adquire por meio da repetida absorgio de pequenas doses deles, gradualmente aumentadas, daf o nome mitridatismo. A grande popularidade e 0 apelo do mitrafsmo como uma forma refinada e final do paganismo pré-cristao foi discutida pelo historiador grego Herddoto, pelo bidgrafo, também grego, Plutarco, pelo filésofo neoplaténico Porfirio, pelo herético gndstico Origenes ¢ por Sio Jernimo, um dos pais da Igreja. © contato com o mundo helénico desenvolvia-se essencialmente a partir de Comageno na Asia Menor. Dai surgem os primeiros testemunhos sobre Mitra, como, um Deus dos Mistérios no primeiro século a. C., curiosamente, no seio dos piratas Cilicianos em luta contra os romanos. £ dentro deste contexto de resisténcia e luta que Mitra pode tornar-se um Deus inicidtico. Plutarco diz que celebravam em segredo ‘os mistérios de Mitra’, Sua capital era Tarso, onde nasceu S. Paulo, e Perseu era o seu Deus fundador. 0 simbolo da cidade era o combate do Leio com o Touro. Paralelamente a isto, os Magos medas se fixaram na Asi Menor e na Mesopotimia, infiltrando-se cultural e religiosamente no mundo helénico, principalmente, como vimos, na aristocracia. Cita-se que o rei Tiridate quando veio a Roma para ser coroado rei da Arménia por ‘Nero, dirigiu-se ao imperador chamando-o por Mitra (Deus Sol). O Mitra romano faz sua ‘rentrée’ no Império através dos Mistérios, 0 termo “mistério” possui um sentido muito preciso. Os mistérios gregos, e depois romanos, foram numerosos: Dionisio, Eléusis, Cibele, Atis e Deméter. Podem ser ainda citados os de fsis, Sarépis, Sabazios, Jupiter Doliqueno etc. Uma certa bruma enigmatica envolvia todos estas ceriménias dos mistérios, mas 0 comum entre eles, era o aspecto ‘solar’, apesar de todos esconderem sua identidade essencial. Desnecessirio dizer que, por serem os mistérios, secretos e ocultos, poucos documentos escritos chegaram até nossos dias. © pouco que se sabe sobre eles advém da patristica crista ‘que, na ansia de combater o mitraismo, terminou por nos legar uma série de descrigées sobre o mesmo. Alguns autores gauleses chegam a afirmar que assim como a magonaria foi a religiio clandestina da III* Reptiblica Francesa, © mitraismo sustentava subterraneamente a jeologia da Roma Imperial A inoculagao do veneno mitraico no seio do Império, segundo Plutarco (Vita Pompeu), foi o transplante, feito por Pompeu em 67 a. C., de 20,000 prisioneiros Cilicianos (uma provincia na costa sul oriental da Asia Menor) que praticavam os “ritos secretos” de Mitra. Dai, a epidemia mitraica se alastrou por todo 0 mundo romano, reforgada ainda pelos miiltiplos contatos das tropas de ocupagio romana com as outras culturas mitraicas, tendo atingido o seu zénite no século TI, quando comegou a travar uma luta de vida e morte com © cristianismo, Tanto assim que do século II ao IV da nossa era, os Mithrae (ow Mithraeum no singular) — templos dedicados a0 culto do deus ~ chegaram a ser mais de 40 em Roma, Um dos maiores templos construidos podem ser encontrados hoje nos, subterrineos da Igreja de Sdo Clemente, perto do Coliseu. Esta adoragao nao se restringia somente capital do Império, mas principalmente as cidades portuérias da atual Itélia: Ostia, Antium, no mar Tirreno; Aquiléia, no Adriético, Siracusa, Catania, Palermo etc. Paralelamente, a propagagio se dé na Austria, na Germania, nas provincias danubianas, na Polénia, na Hungriae Ucrania enum movimento de volta, nas provincias da Tricia e da Dalmicia, num retorno & Grécia e a Maceddnia. No terceiro. século, encontram-se tragos_mitraicos na Criméia, no Eufrates, no Egito e sobretuclo no Maghreb. Curioso € que a Espanha e Portugal sofreram pouquissima influéncia. A Gilia oriental, renana e belga, pagou 0 seu tributo, assim como também a Aqui Encontram-se_vestigios na regio parisiense, como também em Boulogne sur Mer. Na Inglaterra, a concentragio se dé em Londres e na regio norte, a0 longo do muro de Adriano, até Canterbury. Locais de adoragiomitraica foram encontrados também, na Bretanha, na Roménia, na Alemanha, na Bulgéria, na Turquia, na Pérsia, na Arménia, na Siria, em Israel etc. No final do século III, Mitra era adorado da Escécia a India, chegando até a oeste da China, onde era conhe: como Amigo, nome que indica uma fliagao védica. Mitra passa.a ser representado como um general militar. Eo Amigo do homem durante a sua vida e seu protetor contra o mal apés a sua morte. Mitra nao é s6 propagado pelos militares romanos como também pelos funcionérios, comerciantes, artistas, meio juridico e financeiro , principalmente nos _circulos__ do conhecimento, Ao contririo da Grécia, penetra nos meios mais modestos e populares. Por mais de trezentos anos, 0s romanos adorardo Mitra Em meados do segundo século, seu culto atinge a ciipula militar. Os ne6fitos comegaram a congregar-se sob os Flivios, espalhando-se o culto na época dos Antoninos e Severos. Os proprios Imperadores se fizeram iniciar nos mistérios, havendo suspeitas de que Nero tenha sido um deles. Contudo, é Comodo (185-192) que parece ter sido © primeiro a se converter ao culto, seguido por Sétimo Severo. Caracala (211-217) encoraja 0 culto do Deus solar sob a forma de Sol invictus. O culto foi reintroduzido por Aureliano (270-275). O apoio oficial viré, entretanto, no reinado de Diocleciano em 307. Apesar destas emanagdes, nao parece que Mitra tenha recebido uma preponderancia imperial na corte dos, Césares pagios. Deve-se notar, ainda, que do mesmo modo que o cristianismo, sua influénda nao foi estendida ao meio rural, Alguns autores sugerem que isto se deveu a exclusio das mulheres nas fungdes litirgicas. IL— Representagdes Litiirgicas ¢ Ritualisticas do Deus Mitra Mitra é um Deus de forma humana. £ representado sob a forma de um jovem montado num touro e, com uma ddas maos, empunha uma adaga para o degolar. Alguns afrescos, encontrados na parte mais central do Mithracum (templo subterraneo de adoragio), representam Mitra com a cabeca voltada para o alto ou para o lado, significando desgosto com 0 que esta fazendo, Sincreticamente, encontram-se ainda imagens de Teseu matando 0 Minotauro ou Perseu chacinando a Gérgona ou, ainda, Hércules esfolando o Touro. Mitra esta vestido em trajes orientais e muitas vezes circundado por dois meninos ou pastores que podem simbolizar o levante e 0 ocaso, © Outono ou a Primavera, as marés— montante e vazante-e ainda, a vida ea morte. A cena possivelmente se passa numa gruta, Um corvo, mensageiro do sol, esta quase sempre na borda do rochedo. Vé-se ainda um cio se aproximando para beber o sangue da vitima, uma serpente enroscada dentro de uma pequena cratera e a0 redor de um recipiente, um ledo ameagador, espigas de {igo sobre o rabo do touro e um escorpio que pica os testiculos do animal morto. A figura do touro tem sido exaltada através do mundo antigo pela sua forca e vigor. Os mitos gregos falavam sobre © Minotauro, um monstro _metade-homem metade-touro que vivia no Labirinto nos subterrineos da itha de Creta e que exigia um sacrificio anual de seis mancebos e seis donzelas antes de ter sido morto por Teseu. Pecas de arte mindica representavam Ageis acrobatas saltando bravamente sobre 0 dorso de touros. (O altar, em frente ao Templo de Salomao em Jerusalém, era adornado com chifres de touros que acreditavam ser portadores de poderes magicos. O touro era também um dos quatro tetramorfos, ou seja um dos simbolos anim: associados com os quatro evangelhos, A mistica deste poderoso animal ainda sobrevive atualmente nas touradas da Espanha e do México, no rodeio dos ‘cowboys’ dos EEUU e agora, também, no Brasil. Os estudos classicos do belga Franz Cumont (1913) que provaram ser os mistérios mitraicos derivados das antigas religides iranianas explica parcialmente como a cena da morte do Touro ~ conhecida como tauroctonia ~ inexiste na mitologia iraniana com a figura de Mitra, Cumont responde que teria encontrado textos que apresentavam 0 matador do touro como Ahriman, ou seja a forga c6smica do mal na reli Somente a partir do Primeiro Congresso Internacional de Estudos Mitraicos (1971) levantaram-se novas hipéteses para explicar esta incongruéncia. A iconografia taurocténica seria, na verdade, um mapa astrondmico! Tais hipdteses, segundo os estudos de David Ulansey, baseiam-se em dois fatos: i) cada figura, na tauroctonia padrio, teria um paralelo com um grupo de constelagdes a0 longo de uma faixa continua no céu: © boi tem um paralelo com a constelagao do Touro, o cachorro com 0 Cao Menor, a serpente com a Hidra, 0 corvo com o Corvus € 0 escorpiio com Scorpio; ii) a iconografia mitraica, em geral, € permeada por imagens astronémicas explicitas: o zodiaco, os planetas, 0 sol, a lua e as estrelas s4o permanentemente encontrados na arte mitraica. A pesquisa de Ulansey sobre cosmologia antiga, principalmente a astronomia greco-romana, focaliza 0 seu carater “geocéntrico” no tempo dos mistérios mitraicos, no qual a terra era fixa e imével no centro do universo e tudo girava a sua volta. Nesta cosmologia, 0 universo era imaginado como estando contido numa ¢grande esfera no qual as estrelas eram fixadas em varias constelagdes. Hoje sabemos que a terra tem um movimento de rotacio sobre o seu eixo cada dia, mas na antigtiidade acreditava-se que, uma vez por dia a grande esfera das estrelas fazia a sua rotagio sobre a terra, oscilando num eixo que corria da absboda do polo norte para o do sul. No seu giro, a esfera césmica carregava 0 sol, explicando assim a oscilagio do mesmo sobre a terra Além deste movimento, os antigos atribuiam um segundo movimento mais vagaroso. Enquanto hoje sabemos que a terra gira ao redor do sol durante 0 ano, na antigiidade acreditava-se que, durante o ano, 0 sol ~ que estava bem mais préximo do que as outtras estrelas ~ vigjava sobre a terra, tragando um grande circulo no céu tendo como fundo as outras constelagdes. Este cfrculo, tragado pelo sol durante 0 ano, era conhecido como 0 zodiaco, uma palavra significando ‘figuras vivas’, pois 0 sol passeava, durante 0 ano, sobre doze diferentes constelagdes que representavam diversas figuras de animais e formas humanas. Visto que os antigos acreditavam na existéncia real de uma grande esfera de estrelas, suas varias partes— tais como os eixos € os polos —jogavam um papel crucial na cosmologia de seu tempo. Particularmente, um importante atributo da esfera das estrelas era muito mais bem conhecido do que hoje: 0 equador, denominado na época de equador celeste Assim como o equador terrestre € definido como um circulo ao redor da terra eqiidistante dos pélos, também © equador celeste era entendido como um circulo a0 redor da esfera das estrelas eqiiidistante dos pélos desta mesma esfera. O circulo do equador celeste era visto como tendo uma importancia especial por causa dosdois pontos em que ele cruzava com o circulo do zodiaco: estes dois pontos eram os equinécios, ou seja, 0 local onde o sol, no seu movimento através do zodiaco, cortava-o no primeiro dia da primavera e no primeiro dia do outono, Assim, o equador celeste era responsiwvel pela definigio das estagdes e, por esta razio, tinha uma significagio concretissima ao lado seu significado astronémico mais abstrato Um outro fato sobre este equador celeste € decisivo: como nao estava fixo, possufa um movimento lento alcuhado de “precessio dos equindcios”. Este movimento, sabemos hoje, é causado por uma oscilagio na rotagio da terra sobre seu eixo. Como resultante desta leve oscilagio, o equador celeste parece mudar sua posigio no curso de milhares de anos. Este movimentoé conhecido como a precessio dos equindcios por que 0 seu efeito observvel mais facilmente é uma mudanga na posigio dos equinécios ou seja, 0s locais onde, como vimos acima, 0 equador celeste cruza 0 zodiaco. Desta maneira, esta precessio resulta num movimento ‘vagaroso para tras ao longo do zodiaco, passando sobre uma constelagio do zodiaco a cada 2.160 anos e percorrendo todo 0 zodiaco a cada 25.920 anos. Hoje, por exemplo, o equindcio da primavera esta no final da constelagio de Peixes, mas, em algumas dezenas de anos, estard entrando em Aquirio — ja se fala muito, atualmente, na Era de Aquirio. A grosso modo, o ‘equinécio da primavera estava em Touro entre 4.000 a 2.000 a.C. mais ou menos; em Aries de 2000 a.C. até o nascimento de Cristo, ou seja nos tempos greco- romanos;a Era de Peixes-o cristianismo-, da génese do mesmo até a nossa mudanca de milénio e de 2000 € poucos em diante, a tao decantada Era de Aquario. Ulansey descobriu que, neste fendmeno da precessio dos ‘equinécios, estaria a chave para desvendar o segredo do simbolismo astrondmico da tauroctonia mitraica. Para as constelagdes desenhadas nas tauroctonias mais, comuns havia uma coisa constante: todos eles estavam posicionados no equador celeste como na época imediatamente precedente 4 Era de Aries dos tempos greco-romanos. Durante esta idade anterior, que podemos chamar de Era de Touro (como vimos durou mais ou menos de 4.000 a 2.000 a.C.), no equador celeste da época estayam Taurus (Touro, 0 equindcio da primavera), Canis Minor (o Cio), Hydra (a serpente), Corvus (0 Corvo) e Scorpio (0 Escorpido que estava no extremo oposto do Touro, ou seja, 0 equindcio do Outono). A coincidéncia é impressionante, todos estas constelagdes estao representadas nas tauroctonias. Em muitas ilustragGes taurocténicas, a cabeca de Mitra & nimbada de estrelas. Assim, a morte do Touro representaria, no zodiaco, o fim da Era de Touro e 0 comego da Era de Aries no equinécio da primavera ¢ Mitra, o deus Todo-Poderoso, que poderia reger e mudar todo © sistema césmico. Nos escritos do fildsofo neoplaténico Porfirio, encontra-se a alusto de que a caverna, onde se posiciona o Mithraeum e esti desenhada a tauroctonia, na sua parte mais recéndita, seria, na verdade, uma ‘imagem do cosmos. Como curiosidade, Freud e Jung tiveram uma divergéncia basica sobre a interpretagao psicanalitica do morte do touro, sendo um dos pontos bisicos de divergéncia e conflito entre ambos, resultando, posteriormente, em separacao definitiva. ‘Mitra, Deus solar, também ¢ representado com a cabega de um Ledo quando é saudado com o titulo de Sol tus. Sao os afrescos, encontrados em Ménfis, com as coxas peludas, patas de caprino e a cabega radiada. Mitra Leoncéfalo, portando as chaves, é outra imagem lapidar, pois fora das cenas tauroctonicas, ele érepresentado em momentos de refeicao ou de iniciagao. No tocante ao culto.e a liturgia, estes se faziam no interior do Mithraeum e na presenga dos figs. A liturgia constava de oficios ¢ oragdes; manducagéo de pio e sumpgao de gua e vinho, acompanhadas de formulas sagradas; dangas de huzes e férmulas de éxtase; oragdes a0 nascer do Sol, 20 meio-dia e ao ocaso. As festas realizavam-se no sétimo més do ano, mas todos os meses se festejava uma semana inteira, sendo cada dia destinado a um planeta. Comemorava-se, de modo especial, 0 dia natalicio do deus (Natalis Invicti), a 25 de dezembro. Os oficios dos templos faziam-se & luz de velas, com toques de sinos com hinos, cujo teor nao se conhece, porque se perderam. O Mithreum tipico era uma pequena camara retangular subterrinea (25x10m) com um teto arqueado. Um corredor dividia o templo ao meio, com bancos de pedra dos dois lados de 80 cm de altura no qual os membros do culto podiam descansar durante suas reunides, Um mithraeum podia comportar de 20 a 30 pessoas. No fundo do templo, no final do corredor, havia sempre uma representacio ~ normalmente um relevo entalhado e algumas vezes uma escultura ou pintura - do icone central do mitrafsmo: a tauroctonia ou a cena da morte do touro, conforme descrito acima. Outras partes do templo eram decoradas com varias cenas e figuras. Deveria ser implantado perto de uma fonte ou curso gua ou, na falta destes, de um pogo. Havia centenas,, talvez milhares, de templos mitraicos no Império Romano. Os adeptos de Mitra ndo se contentavam com um misticismo contemplativo. O seu culto encorajava a agio € um grande rigor moral. Para os soldados, a resisténcia ao mal e as agdes imorais representavam uma vitéria tio importante quanto as militares. Reuniam-se, em pequenos grupos, unidos e solidérios pelo ritual inictético, Partilhavam o banquete sacramental com os deuses e finalizavam com uma alianga entre o sol e Mitra. O repasto, sobre os despojos de um touro, era seguido de um sacrificio, muitas vezes de um touro, ou de animais simbolizando o touro: cabras, javalis e/ou galinéceos. Consagrava-se © pio ¢ a agua, bebia-se o vinho que simbolizava o sangue do touro e comia-se a carne. O processo da iniciagio mitraica requeria a subida simbiilica de uma escada cerimonial com sete degraus, cada um feito de um metal diferente para simbolizar os sete corpos celestiais. Simbolicamente galgando esta escada cerimonial através de sucessivas iniciagies, 0 nedfito podia atravessar os sete niveis do céu. Os sete graus do mitraismo eram: Corax (Corvo), Nymphus ( Noivo), Miles (Soldado), Leo (Ledo), Peres (Persa), Heliodromus (Corrida do Sol) ¢ Pater (Pai); cada grau. era protegido por um planeta (na cosmologia da época): Mercirio, Vénus, Marte, Jupiter, a Lua, o Sol e Saturno. Cada dignitério apresentava a vestimenta e a mascara correspondente ao seu rau. Como todo rito mitraico a estrutura hierarquica era setendria. Os adeptos tinham a sua divisio de papéis: o chefe (pater), o papel de Mitra, 0 heliodromo (sol), 0 corvo apresentavam as carnes € as bebidas aos convivas dentro de uma ordem hierarquica. A carne era assada sobre os altares dentro da concepgio do sacrificio do mundo greco-romano. Os rituais inicidticos constavam da admissio dos figis por “inductio”. Antes de serem admitidos, os candidatos eram interrogados, sondados, informados num local distinto do templo. Em seguida, eram submetidos a uma série de provas, nus e com os olhos vendados, marchavam as apalpadelas diante de um mistagogo para finalizar se ajoelhando diante de um personagem que portava uma tocha diante de seus olhos. A seguir, com as, aos atadas as costas, colocavam um joelho no chao a0 mesmo tempo que um sacerdote cingialhes a cabeca com uma coroa. No final, prostravam-se como mortos. Tudo isto faz parte da tipologia iniciética das sociedades secretas em geral: olhos vendados, resisténcia fisica, morte simbélica, etc. Reprova-se, nos adeptos de Mitra, a propensio aos sacrificios humanos. Tal suposigio advém de se ter encontrado, nos diversos Mithrae, restos de esqueletos humanos. Apesar de todos os estudos antigos e modernos, conhece- se mal a “teodicéia” mitraica, Sabe-se, contudo, que os “mistérios” da Antigtiidade revelam um mito ou uma histéria santa que legitima a liturgia. E uma certa explicagio do Mundo e da passagem do homem sobre o ‘mesmo que dé toda a forga aos “mistérios”, sejam eles de Mitra, de Eléusis, em suma de quase todos. A religiao de Mitra se independentizou de suas origens orientais, agindo como um ima que atraiu diversos aportes: gregos, babildnicos, romanos etc. Finalizou como um Deus adaptado ao Império Romano, explicando assim 0 seu sucesso, Uma das grandes ironias da historia é 0 fato de que 0s romanos terminaram por adorar um deus de um de seus maiores inimigos politicos: os persas. O historiador romano Quintius Rufus assinala no seu livro Historia de Alexandre que antes de ir batalhar contra os “paises anti-mitraicos” de Roma, os soldados persas ‘oravam a Mitra pela vitéria, Sem embargo, tendo as duas civilizagdes inimigas estado em contato de conflito aberto ou latente por mais de mil anos, os adoradores de Mitra migraram dos persas, através do frigios da Turquia, até os romanos. Numa anilise simbélica final, o culto de Mitra revela uma histéria do Mundo. Saturno (ou Cronos, representando 0 Tempo) reinava soberano sobre Mundo, quando entregou Jipiter o raio, uma arma letal que serviu para derrotar os gigantes ¢ génios do mal. Alguns autores hipotetizam que este genio do mal poderia ser 0 Oceano que cobria a Terra. Mitra, Deus petrégeno, nao descende aqui do Céu, pois surge miraculosamente de uma rocha com um barrete asiitico, tendo em uma das maos uma tocha luminosa e na outra, a adaga. Pastores assistem e ajudam este nascimento. Mitra, em seguida, é encontrado junto de uma arvore ceifando 0 trigo. Depois ¢ visto atirando com um arco sobre uma parede rochosa onde jorra uma fonte que sacia os pastores. Alguns autores concluem que as forgas do mal (Oceano?) tentaram aniquilar os humanos pela fome e pela sede e que Mitra, salvador dos homens e Deus protetor, interveio para os alimentar e saciar sua sede, nao s6 dos homens como dos rebanhos. Nota-se, também, que o papel “justiceiro” das tradigées asiaticas nao desapareceu, pois Mitra vem em socorro do Mundo para fazer respeitar a Lei Divina. Comega, agora, a perseguigio ao Touro. O touro esté em conjungio com a lua, seus dois chifres formam o crescente. O touro contem os elementos vivos (o cesperma do touro purificado pelo raio da lua produziré ‘os espécimens animais). Mitra tem a misséo de subtrair estas forcas vivas das tentagies maléficas. © touro se refugia numa construgdo mas dois pastores ateiam fogo a0 local. Mitra alcanga o animal, agarra os seus cornos e consegue cavalgé-lo. Depois, prende as patas traseiras do animal, arrasta-o até a gruta onde um corvo, mensageiro do Sol, impée-the a tarefa de matar o animal insubmisso. A morte do touro atrai uma serpente e um cachorro que se apressam em sugar o sangue que jorra da ferida enquanto um escorpido (algumas vezes um caranguejo ‘ou um ‘cancer fisga os testiculos da vitima para aspirar sua forga vivificante. Cumont afirma que espigas de trigo saem da ferida, juntamente com o sangue que escorre da calda do touro. Do corpo da vitima moribunda nascem as ervas ¢ as plantas salutares... De sua medula espinal germina o ‘igo que dé o pao, de seu sangue, a vinha que produz a beberagem sagrada dos mistérios. E apés a morte do touro que um confit se abate entre Hélio € Mitra. © Sol, ajoelhado diante da tauroctonia, perde sua prerrogativa de astro soberano. Mitra torna-se ‘ verdadeiro Sol Invictus que vem salvar a criagdo. O Sol reconhece a preeminéncia de Mitra pois se faz iniciar no ‘grau de Soldado (Miles). III - 0 Cristianismo Triunfante O fim do mitraismo coincide com o seu zénite no século III dC. e vem acompanhado da entronizagio do cristianismo como religido do Império Romano. Como vimos, 0 mitraismo sofria 0 passivo de praticar uma liturgia elitista em pequenas sociedades secretas na qual as mulheres eram excluidas. Nao se propunha ser uma reli-gido de massa, aberto a todos, como o cristianismo. Era uma religido otimista e Mitra teve 0 grande defeito de no ter morrido para salvar o mundo. Como os persas eram inimigos hereditarios do Império Romano, os cristdos fizeram de tudo para ligar o mitraismo a uma religiio “inimiga”, persa por exceléncia, pois os romanos nao deveriam adorar um deus importado do adversirio. Apesar de tudo parece que Constantino manifestou uma certa simpatia pelo mitraismo, principalmente na sua versio de “Sol Invictus’. Quando este primeiro imperador cristio colocou todas as religides pagas na clandestinidade, poupou os mitraistas pois estes possuiam muita influéncia junto aos militares que eram o cimento do Império, O ‘punctus saliens’ no qual os cristdos atacavam, ‘0s mitraistas era a sua propensio aos sacrificio animais Quando estes sacrificios foram interditados, bloqueou-se uum dos fundamentos vitais do culto mitraico. © combate mortal entre o cristianismo e o Mitra pagio pode ser lido nos escritos de Tertuliano (160-220 d.C,) 0 afirmar que esta religiéo utilizava indevidamente 0 batismo e a consagra¢ao do pao e do vinho. Dizia, ainda, que o mitraismo era inspirado pelo diabo que desejava zombar sobre os sacramentos cristios com o intuito de levé-los para 0 inferno, Nao obstante, o mitrafsmo sobreviveu até 0 século V° em remotas regides dos Alpes entre as tribos dos Anauni e conseguiu sobreviver no Oriente Préximo até os dias de hoje. No curto reinado do imperador Juliano, sobrinho de Constantino, Gibbon afirma que se assistiu a um retorno temporario a0 mitraismo, tendo este Imperador se reconhecido até mesmo como adepto e chegando a construir um Mithraeum nos calabougos de seu palicio em Constantinopla, Seguiu-se um periodo de tolerancia quando, sob o reinado de Teodésio (375-395), 0 cristianismo tomou-se religio de Estado e o paganismo foi definitivamente interditado. O mitraismo sobreviveu em Roma até 394 sendo que a Basilica de Sao Pedro foi construida sobre 0 local do iiltimo culto mitraico: 0 Phrygianum, A partir dai, 0 cristianismo construiu, boa parte de seus templos, acima de cavernas que continham ‘Mithrae, seja em Roma seja nas provincias do Império. A catedral de Canterbury e a de Sao Paulo em Londres, 0 mosteiro do Monte Saint-Michel e algumas catedrais em Paris estao construidas sobre antigos Mithrae em ruinas. Os pontos comuns entre o cristianismo e o mitrafsmo do imimeros. © nascimento de Cristo € anunciado por uma estrela assim como o de Mitridate Eupator. Ambos io nascidos de uma Virgem Imaculada que toma o nome de Mae de Deus. A caverna, a gruta sio os locais de nascimentos tanto de Cristo quanto de Mitra. A presenga de pastores e de seu rebanho também estio presentes em ambos os nascimentos. A gruta de Belém é prenhe de luz Mitra é um deus solar. Além do mais, o ouro, simbolo do Sol, tem uma importincia crucial na liturgia crista. Deus é Amor mas também Luz. O nascimento dos dois, deuses foi a 25 de dezembro, solsticio de Verio no Hemisfério Norte. Sabe-se que Cristo nao teria nascido no dia 25 e que, somente com o fim do mitrafsmo, a Igreja Crista, “cristianizou” o dia como a festa do Natal. Tanto Cristo como Mitra eram castos e celibatérios. Todas as duas religides sio fundadas sobre um sacrificio salvador do Mundo, mas com a morte de Cristo, o cristianismo tira a sua vantagem e sua superioridade. A. morte do Touro encontra um simile na luta de So Jorge com o dragao. A vontade de neutralizar as poténcias do mal, a guerra entre as duas poténcias e a vitéria do Bem. A consagracio do pao e do vinho estao presentes entre os cristdos e os iniciados de Mitra. No grau de Soldado (Miles), 0 iniciado é marcado com uma cruz de ferro em brasa sobre a fronte. A imortalidade da alma e a ressurreigio final, As igrejas antigas possuem criptas subterraneas que evocam os templos mitraicos. A fraternidade e 0 espirito democritico das_primeiras comunidades cristas se assemelham muito ao mitraismo. A fonte jorrando da rocha, a utilizagao de sinos, os livros eas velas, a égua santa e a comunhao, a santificagao do Domingo (fora da tradigio judaica do Sibado), a insisténcia numa conduta moral, 0 sacrificio ritual, a angeologia, a teologia da luz, dualidade deus-diabo, o fim do mundo eo apocalipse so também comuns em ambas, as religides, Outro simile interessante seria entre Mitra e Papai Noel. ‘Vestimentas vermelhas e barrete frigio sto comuns a ambos como também as velas incrustadas em arvores (de Natal) nas ceriménias natalinas, IV — Sobrevivencia Mitraica e sua Influéncia na ‘Magonaria Encontram-se tragos mitraicos nas diversas gnoses € principalmente nas heresias dualistas cristas. ©. esoterismo do gnosticismo cristdo foi muito influenciado pelas religides egipcias e iranianas. Os segredos, revelados aos “Perfeitos”, referiam-se aos mistérios da ascensio e descida de Cristo através dos Sete Céus habitados pelos anjos. Autores modernos chegam a afirmar que o gnosticismo é um fendmeno pré-cristao de rigem iraniana que poluiu o cristianismo nascente. A influéncia dos cultos iranianos e especificamente mitraicos sobre a gnose de Mani sio insofismaveis Desde 0 século III d. C,, 0 segredo mitraico forga as portas da barca de Sao Pedro, A pressio deste dualismo maniquefsta percorre toda a Idade Média. O bogomilismo da Europa Oriental inicia a sua trajetéria a partir do século X colocando Sata no lugar de Deus, infigindo um poder consideravel sobre as heresias Cétaras e Albigenses no alvorecer do século XII na Europa Ocidental. Estas heresias gndsticas cristas professavam a assergdo de que Deus nao teria criado 0 Mundo, estando este sob o dominio de Sata - assimilado ao demiurgo Yahvista. O verdadeiro Deus estaria tio distante da Terra onde se dao estes embates entre o Bem © 0 Mal. Apesar disto teria enviado Cristo para salvar os homens ao mostrar-lhes o método da libertagio. Outra difusdo de um mitraismo mitigado estaria entre os Cavaleiros do Templo, pois estes sofreram a influéncia dos _maniqueus. No culto a Baphomet, também conhecido como o filho de Mitra, havia um icone representado por um Touro ornado com uma chama entre seus cornos. © culto de Mitra enquanto sociedade inicistica tem certas semelhangas com a magonaria propriamente dita, A fraternidade entre os membros, a exigéncia de uma conduta moral, a vontade de defender, de maneira ativa € no contemplativa, o bem e a virtude so, ao mesmo tempo, padres magénicos ¢ mitraicos. A defesa da ordem politica e social, o culto exclusivamente masculine so também —_pontos. ualisticamente encontram-se os seguintes tragos: a mania pelo ntimero 7, a existéncia de graus iniciaticos, as velas, os altares,a Luz, as palavras de passe, etc. O templo magénico pode ser visto como uma gruta mitraica ou se 140 se quiser ir muito longe o simile poder ser feito com a cimara de reflexdes; o teto estrelado do templo tem profunda semelhanga com os mitraicos. Os templarios, a tradigao judaica e crista foram os grandes transmissores de simbolos mitraicos. Os dois Sio Joss ~ de Inverno € de Verio - tem profunda vinculagio com os dois pastores da tauroctonia, O sacrificio ritual fundador de Hiram est muito préximo do sacrificio ritual do Touro. © corvo no acampamento militar, encontrado nos altos ¢graus do escocesismo, é uma prova cabal da influéncia mitraica. Outro simile estaria no mais baixo grau de iniciagao - 0 ‘grau de Corvo (Corax) ~ simbolizava a morte do novo membro,o qual deveria renascer como um novo homem. Isto representava a fim de sua vida como um néo-crente (ou descrente) e cancelava pretéritas aliangas de outras crengas inaceitaveis. Curioso salientar que o titulo de Corax (Corvo) originou-se com 0 costume zoraastrico de expor os mortos em elevagdes funerérias para ser comido pelas aves de rapina. Este costume continua, até 108 dias de hoje, sendo praticado pelos Parsis da India, descendentes dos persas seguidores de Zaratustra © simbolismo sexual, encontrado em diversos rituais ‘magénicos, poder ter um paralelo com 0 touro, pois este era uma ébvia representagio da masculinidade pela natureza de seu tamanho, de sua forga e de seu vigor sexual. Ao mesmo tempo, 0 touro simbolizava as forgas Junares em virtude de seus cornos eas forgas teliricas em virtude de ter as quatro patas assentadas no solo. O sactificio do touro simboliza a penetragio do principio feminino pelo masculino, a vitoria da natureza espiritual sobre a animalidade, tendo um paralelo com as imagens simbélicas de Marduk destruindo Tiamat, Gilgamesh aniquilando Huwawa (grafia de Bliade), Sie Miguel dominando Sat’, Sao Jorge vencendo 0 dragio, 0 Centuriéo Jancetando Cristo e, por que nao nos comuns. referirmos a um icone moderno: Sigourney Weaver lutando contra o Alien? Finalmente, 0 mitraismo era, concomitantemente, um culto dos mistérios e uma sociedade secreta, Tal como os ritos de Deméter, Orfeu ¢ Dionisio, os rituais mitraicos admitiam candidatos em ceriménias secretas cujo significado era do conhecimento somente do iniciando. Como todos os outros ritos de iniciagao institucionalizados do passado e do presente, este culto dos mistérios permitia aos iniciados ser controlado ¢ posto sob 0 comando de seus lideres. Ao ser iniciado, 0 nedfitotinha que provar sua coragem e devogio nadando através de rio caudaloso, escalando um rochedo ingreme ‘ou pulando através das chamas com suas maos atadas e 108 olhos vendados. Ao iniciado era também ensinado 0 segredo das palavras de passe mitraicas que eram usadas para identificagdo mitua como também era auto repetida freqiientemente como um mantra pessoal. V-Como seria um Mundo Mitraico a Guisa de Conclusio © legado mitraico resulta em comportamentos usados ainda hoje em dia, tal como o apertar as maos €o uso da coroa pelo monarca. Os adoradores de Mitra foram os primeiros no Ocidente a pregar a doutrina do direito divino dos reis. Foi a adoragao do sol, combinada com 0 dualismo teolégico de Zaratrusta, que disseminou as idéias sobre as quais o Rei-Sol Luis XIV (1638-1715) na Franca e outros soberanos deificados na Europa mantiveram o seu absolutismo monérquico. Alguns estudiosos afirmam que, durante o II e o III? século d.C., nunca a Europa esteve tao perto de adotar uma religiio indo-ariana quando Diodeciano, oficialmente, reconheceu Mitra como 0 protetor do Império Romano, nem mesmo durante as invases mugulmanas, Especulagées tedricas anglo-saxas hipotetizam que se um golpe de estado, dado pelos centurides adoradores de Mitra, tivesse impedido Constantino de estabelecer 0 cristianismo como a religiao oficial do Império, o mitraismo poderia possivelmente sobreviver através dos séculos seguintes com a assisténcia teolégica da heresia maniquéia e seus epigonos, assumindo “ipso facto” que ‘os ensinamentos de Jesus teriam, de alguma maneira, sido simultaneamente anulados e, talvez, com um ntimero crescente de crucificagées. Esta auséncia do cristianismo, devido a continuagio do mitraismo no. Ocidente, teria obstado o crescimento do Iski no século ‘Vil ea violéncia das Cruzadas necessariamente nao teria ocorrido, Assumindo, ainda, que o Isla nao teria, assim, conquistado religiosamente a Pérsia, aadoragio de Mitra poderia ter continuado no pantedo de Zaratrusta. Como conseqiiéncia, 0 mitraismo poderia ter penetrado com mais forga nos pantedes da fndia e da China e, possivelmente, teria aportado nos paises do Extremo- Oriente. Continuando com a especulacdo sax que resultou na “lenda negra” da dominagao espanhola no Novo Mundo, Colombo realizou os seus descobrimentos em pleno periodo da Inquisicao, fenémeno este representativo da culminancia de mais de mil anos de uma das maiores religides monoteistas semitica - 0 cristianismo. Se 0 mitraismo tivesse sobrevivido 0 milénio até o ano de 1492, 0s povos indigenas das Américas poderiam ter sido expostos 4 adoragio de Mitra no lugar dos missiondrios catélicos. Imaginariamos, assim, o Taurobolium - ritual de regeneragio ou sacrificio do touro, no qual o sangue do animal era derramado sobre o iniciado ~ sendo sido transpostoe sincretizado com o ritual da caga do buifalo dos indios das planicies do Oeste americano e a ceriménia do sacrificio dos maias, incas € astecas, e provavelmente, estes impérios néo teriam sido aniquilados pelos brutais conquistadores europeus em nome do Rei e de Cristo. Autor: Ven. Irmao WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO

Vous aimerez peut-être aussi