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Edithe Pereira*
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Fig. 1 – Reprodução da estampa IX (Hagmann s/d) onde a figura 72 corresponde à pintura rupestre
observada por Aureliano Lima Guedes no lugar conhecido como Buracão.
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arenítico com paredões e diversos abrigos muitos tos de cerâmica foram encontrados em superfície e
dos quais com condições favoráveis a habitação. em sub-superfície. Um fragmento de hematita com
Chmyz e Sganzerla (1991: 24) informam ainda marcas de uso e com a mesma tonalidade das
que as pinturas rupestres estão localizadas nas pinturas também foi encontrado nesse abrigo.
paredes e teto de vários desses abrigos. O abrigo do As pinturas rupestres são vermelhas e foram
Tracuá corresponde a um desses locais. Este abrigo executadas com os dedos. Elas representam dois
mede 16 metros de comprimento por 3 metros de antropomorfos (sendo um completo e o outro
largura e 2,30 metros de altura máxima do teto em apenas a cabeça), um círculo concêntrico e três
relação ao piso atual. No seu interior raros fragmen- traços cheios (Fig. 3).
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Pedra do Índio
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Fig. 4 – Decalque feito por Hilbert e Barreto (1988) para as pinturas da Gruta
do Buracão do Laranjal.
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dos são, basicamente, grafismos puros (Fig. 6), Tanto Hilbert e Barreto, quanto Chmyz e
entre os quais destacam-se os círculos, as espirais e Sganzerla, afirmam ter visitado o mesmo sítio
as cruzes. Muitas dessas gravuras são de difícil descrito por Lima Guedes. No entanto, o fato de
visualização devido à camada de liquens que se os primeiros autores não terem registrado em seu
formou na superfície da rocha. relatório a figura mais destacada do complexo, e
A partir da visita que fiz a este sítio, apresentei que é a mesma descrita por Lima Guedes, levou
ao Iphan uma série de recomendações com vistas a Chmyz e Sganzerla a considerarem que o local
salvaguardar a integridade do sítio, que se encontra registrado por Hilbert e Barreto era outro e não
ameaçado de destruição pela intempérie, por agentes aquele registrado por Lima Guedes e Chmyz e
biológicos e, principalmente, pela ação humana. Sganzerla. A conclusão de Chmyz e Sganzerla foi
confirmada quando comparei a figura antropomorfa
que eles decalcaram no Abrigo do Tracuá com
Algumas considerações sobre os três sítios aquela descrita por Lima Guedes e apresentada por
Emílio Goeldi (Fig. 1) Além disso, Chmyz e
Localização Sganzerla observaram a existência de fragmentos
cerâmicos no abrigo e Hilbert e Barreto afirmam
Os sítios Gruta do Buracão do Laranjal e o não tê-los encontrado.
Abrigo do Tracuá parecem formar parte de um Devido a sua localização – região do igarapé do
conjunto de abrigos situados em um extenso Lago, rio Maracá – é provável que o sítio visitado
afloramento arenítico cujo desabamento de lajes por Farabee seja um dos abrigos existentes na mesma
propiciou a formação de diversos abrigos, muitos formação arenítica visitada por Chmyz e Sganzerla
deles favoráveis à moradia. Ao que parece, as e por Hilbert e Barreto. No entanto, as poucas
pinturas existem em vários desses abrigos, mas informações sobre o sítio que foram publicadas por
apenas nesses dois, até o momento, elas foram Simões e Araújo Costa (1978: 68) não permitem
registradas. tecer maiores considerações sobre o sítio.
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Fig. 7 – A desagregação da rocha vem contribuindo para a destruição das gravuras rupestres do sítio
Pedra do Índio. (Foto: Edithe Pereira)
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Fig. 8 – Os visitantes riscam o sulco das gravuras da Pedra do Índio com o objetivo de torná-las mais
visíveis. (Foto: Edithe Pereira)
Fig. 9 – Para evidenciar algumas gravuras rupestres da Pedra do Índio visitantes limparam a superfície
da rocha. (Foto:Edithe Pereira)
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representada de maneira frontal, com o contorno e o sul do Amapá, para que esta hipótese possa, ou
da cabeça arredondado; o rosto é indicado pela não, ser confirmada.
representação de olhos e boca; os braços apare- Com relação às gravuras rupestres do sítio
cem curvados para cima com as mãos indicadas Pedra do Índio, estas não se enquadram nas
por três dedos; o tronco tem forma ovalada e seu características estabelecidas para a Tradição Amazô-
interior está totalmente preenchido por pintura nia, cujo tema principal é representado por figuras
vermelha; as pernas aparecem curvadas para cima. humanas portadoras de certas características específi-
No segundo grupo, observam-se os seguintes cas, como por exemplo a presença dos traços do
grafismos: a) uma representação de cabeça rosto, as expressões faciais (Pereira 1996). Sítios
antropomorfa com o rosto indicado pelos olhos e por relacionados a esta tradição ocorrem no noroeste
possíveis adornos faciais; b) um círculo concêntri- do Pará e parecem se estender pelo estado do
co; c) um traço vertical; d) dois traços paralelos. Amazonas, Guianas, Venezuela e Colômbia.
Alguns desses grafismos guardam semelhanças A Pedra do Índio faz parte de um grupo de
com aqueles existentes na região de Monte Alegre, sítios com gravuras rupestres que não se enqua-
no Pará. Nessa região, são comuns antropomorfos dram na Tradição Amazônia e que, devido às suas
completos, representados de maneira frontal e com características, ainda não foi possível agrupá-los ou
um ou mais elementos faciais, assim como as inseri-los em outras Tradições (id. ibid). O seu
representações de cabeça com os traços do rosto e registro, no entanto, possibilitará a comparação
adornos faciais. Os círculos, com suas diversas formas com novos sítios que porventura venham a ser
de preenchimento, em particular os concêntricos, descobertos na região.
constituem um dos temas mais representativos da As considerações aqui apresentadas não são e
região de Monte Alegre e aparecem, muitas vezes, nem poderiam ser conclusivas, visto que elas se
associados a figuras antropomorfas (Pereira 1996). baseiam em dados levantados na escassa bibliografia
Na Gruta do Buracão do Laranjal, Hilbert e existente e numa rápida observação in situ feita pela
Barreto registraram sete grupos de grafismos, todos autora. Por um lado tenta-se, a partir de comparações,
eles pintados em vermelho. Os grafismos puros verificar que tipo de relação pode existir entre os
ocorrem de forma predominante nesse sítio sendo grafismos rupestres do Amapá e os demais já conheci-
os círculos concêntricos e as espirais os temas mais dos na Amazônia brasileira. Por outro lado, procura-se
recorrentes. Além deles, há ainda diversos outros dirimir dúvidas, como a que se refere ao local das
grafismos puros e áreas borradas com pintura pinturas rupestres registradas por Lima Guedes no
vermelha. Um possível antropomorfo aparece final do século XIX, onde se conclui que esse lugar
representado claramente em um dos painéis, no é o atual Abrigo do Tracuá, visitado e documentado
entanto, suas características são distintas daquelas por Chmyz e Sganzerla em 1991 e não o sítio
encontradas na figura do Abrigo do Tracuá. Hilbert Gruta do Buracão do Laranjal, registrado por
e Barreto (1988) afirmam existir diferentes estilos Hilbert e Barreto, em 1988. Além disso, também
entre as pinturas deste sítio, porém, tais estilos não soam como um alerta para a rapidez com que o
são caracterizados. patrimônio arqueológico na Amazônia vem sendo
Existem entre as pinturas rupestres do Amapá, destruído. Trata-se de uma modesta contribuição –
alguns grafismos puros e, principalmente, figuras cujos créditos divido com Klaus Hilbert, Mauro
antropomorfas que são semelhantes àquelas típicas Barreto, Igor Chmyz e Eliane Sganzerla – para o
da região de Monte Alegre, no Pará. As semelhan- conhecimento da arte rupestre no norte do Brasil.
ças observadas ainda não sustentam maiores
conclusões, mas permitem a construção de hipóteses
sobre a dispersão geográfica do estilo identificado Agradecimentos
por Pereira (1996) como Monte Alegre. Esse estilo,
que parecia estar restrito à região que lhe deu nome, Agradeço ao Dr. Igor Chmyz e ao Dr. Klaus
parece agora ter uma abrangência geográfica maior Hilbert por autorizarem a publicação das informa-
a partir das semelhanças estilísticas observadas em ções relativas aos sítios com arte rupestre contidas
alguns dos temas que são comuns às duas áreas. em seus respectivos relatórios. Este agradecimento
No entanto, é preciso conhecer um número maior é extensivo também a Eliane Maria Sganzerla e a
de sítios na área compreendida entre Monte Alegre Mauro Viana Barreto.
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Referências bibliográficas
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