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– 8 DE FEVEREIRO DE 2017
Insistir na figura do trabalhador não fornecerá o elã subjetivo necessário para que
novas pessoas possam aderir aos projetos da esquerda. Por isso, mesmo com
todos os riscos que implica, a figura do empreendedor segue tendo mais apelo,
mesmo nas classes populares. Que modos de vida, que suplantem a promessa
desgastada de um trabalho assalariado na fábrica, conseguirão mobilizar corações
e mentes? Que perspectivas de emancipação serão capazes de nos tirar do
impasse atual? Sem enfrentar essa disputa no terreno das subjetividades, a
esquerda continuará perdendo, mesmo reiterando a denúncia da dissolução dos
ideais de universalidade, igualdade e justiça. Calibrar as lentes e enxergar o
problema na escala das subjetividades é um passo incontornável para qualquer
projeto
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2016/11/01/Como-a-
substitui%C3%A7%C3%A3o-do-%E2%80%98trabalhador%E2%80%99-pelo-
%E2%80%98empreendedor%E2%80%99-afeta-a-esquerda
Quando perguntaram ao camarada Stalin no final dos anos 1920 o que ele achava
pior, a direita ou a esquerda, ele imediatamente rebateu: “Os dois são piores!” E
essa é minha primeira reação ao Brexit. A Europa está presa agora em um
círculo vicioso, oscilando entre dois falsos opostos: de um lado, a rendição ao
capitalismo global, e de outro, a sujeição a um populismo anti-imigração. É
preciso colocar a pergunta: qual é o tipo de política capaz de nos tirar desse
impasse?
O capitalismo global tem se caracterizado cada vez mais por acordos comerciais
negociados a portas fechadas como o TISA ou o TTIP (Parceria Transatlântica de
Comércio e Investimento). Discuti a dimensão e o significado do TISA aqui, e
também não há dúvida sobre o impacto social do TTIP: ele representa nada
menos do que um ataque brutal à democracia. Talvez o exemplo mais explícito
seja o caso dos ISDSs (Mecanismos de Resolução de Litígios entre Investidores e
o Estado), que basicamente permitem que empresas processem governos se suas
políticas ferirem sua margem de lucro. Para resumir, isso significa que
corporações transnacionais (que não foram eleitas) podem simplesmente ditar as
políticas de governos democraticamente eleitos.
A razão que explica esse movimento dessa esquerda parece evidente: o fenômeno
da ascensão do populismo nacionalista de direita na Europa Ocidental. Por
incrível que pareça, é o populismo nacionalista de direita que aparece agora
como a mais expressiva força política a reivindicar a proteção dos interesses da
classe trabalhadora, e ao mesmo tempo, a mais forte força política capaz de
mobilizar verdadeiras paixões políticas. Então, a lógica é a seguinte: por que a
esquerda deve deixar esse campo de paixões nacionalistas à direita radical? Por
que ela não poderia disputar com o Front National de Le Pen a reivindicação da
“pátria amada” [la patrie]?