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O ENSINO SOBRE REFERENTE E SENTIDO ATRAVÉS DOS FILMES O

MILAGRE DE ANNE SULLIVAN (1962) E A LINGUAGEM DO CORAÇÃO (2014)

Anne Caroline do Nascimento1


Luan Cruz dos Santos2
Luana Aguiar Moreira3

INTRODUÇÃO
A Semântica, como campo de estudo linguístico, apresenta uma área extensa, com vários
ramos a serem estudados para sua melhor compreensão. Historicamente, a Semântica passou
(e, eventualmente, ainda passa) por diversas modificações e divergências quanto ao seu objeto
de estudo e investigação. Por esse motivo, nem todos os elementos que compõem os estudos
semânticos são devidamente trabalhados em sala de aula, no ensino básico. Tal realidade faz,
na maioria das vezes, os estudantes terem uma noção vaga e sem aprofundamento do que é a
Semântica.
Tendo em vista esse fator, a presente pesquisa tem como objetivo geral apresentar uma
forma didática da aplicação de assuntos da Semântica, a referência e o sentido, através de uma
abordagem cinematográfica, com a intenção de facilitar a compreensão dos alunos de ensino
médio, com uma didática mais lúdica e interdisciplinar. As análises nortearão, dessa forma, a
partir de dois filmes: O milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker, 1962) e A linguagem
do Coração (Marie Heurtin, 2014), que abordam a temática da aquisição da linguagem de
sinais por jovens surdocegas no final do século XIX. Embora ambos abordem o mesmo tema,
mostrou-se didaticamente necessária a utilização das duas obras, uma vez que a comparação
entre as produções e maneiras de se abordar os assuntos em períodos distintos (década de 60 e
século XXI) é fundamental para também discutir os assuntos estudados.

METODOLOGIA
A metodologia se deu através de três etapas principais: revisão de literatura, isto é, o
material teórico de leitura que aborda a temática estudada; em segundo lugar, as análises dos
filmes utilizados para a pesquisa e, por fim, a elaboração de um plano de aula (vide Anexo I).

1
Aluna do curso de graduação em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas da Universidade do Estado do
Amazonas (UEA). E-mail: annecaroline.ribeiro@outlook.com.
2
Aluno do curso de graduação em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas da Universidade do Estado do
Amazonas (UEA). E-mail: cruz_luan@hotmail.com.
3
Aluna do curso de graduação em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas da Universidade do Estado do
Amazonas (UEA). E-mail: laguiarmoreira@gmail.com.
1
Na primeira etapa de leitura, realizamos um levantamento dos conceitos de referência e
sentido em dois autores: Rodolfo Ilari, em sua Introdução à semântica (2001) e Márcia
Cançado, em Manual de Semântica (2008). Em seguida, foi realizada, de forma
pormenorizada, as análises dos filmes já citados, sempre tendo como fundamentação as obras
teóricas e artigos que tratem sobre os temas abordados – referência e sentido. Por final, foi
elaborado um plano de aula, no qual insere, a partir de nossas análises aqui expostas, uma
abordagem didática em sala de aula para alunos do Ensino Médio.

REFERÊNCIA E SENTIDO
Para apresentar a análise, é necessário primeiramente realizar uma introdução sobre a
Referência. Segundo Rodolfo Ilari (2009, p. 176), é “a operação lingüística por meio da qual
selecionamos, no mundo que nos cerca, um ou mais objetos (isto é, pessoas, coisas,
acontecimentos) específicos, tomando-os como assunto de nossas falas”. Ou seja, os objetos
ao nosso redor que podemos tomar como objeto da fala. Segundo o autor, operações bem-
sucedidas de referência apresentam a multiplicação de classes e a operação de deixes. Para
uma melhor compreensão, o autor nos apresenta como exemplo a frase:

Este carro batido que todos param para olhar, com risco de novo acidente,
está no meio da rua desde as quatro.

O “carro batido” é o objeto da qual a frase gira em torno. Identificamos no campo visual
do interlocutor um objeto que apresenta as características “um carro, ter sofrido uma batida e
ser um perigo de novos acidentes”. Na frase apresentada, o demonstrativo “este” e o artigo
definido “a” funcionam como dêiticos utilizados para localizar o objeto num sistema de
coordenadas; as propriedades do objeto de que se fala é o substantivo comum “carro”, pelo
adjetivo “batido”, e segue com a oração restritiva “que todos param para olhar, com risco de
novo acidente.”
Os nomes comuns, os adjetivos e as orações adjetivas restritivas são, segundo Ilari (2003,
p. 198) as palavras de maior uso para indicar propriedades numa operação de referência, e os
demonstrativos e artigos, as palavras de maior uso para identificar objetos num sistema de
coordenadas. Mesmo que não apresentem uma característica explicita do objeto, até mesmo
alguns pronomes e os nomes próprios, os pronomes também realizam operações de
referência, como por exemplo “Princesa Isabel era muito branca”.

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Em Manual de Semântica (2008), de Márcia Cançado, obtemos, através da definição de
Chierchia (2003, p. 45), a ideia do que se deseja comunicar através da teoria dos referentes:

Uma língua é constituída por um conjunto de palavras e de regras para combiná-las.


As palavras são associadas por convenção a objetos (isto é, os denotam). Em
virtude dessa associação podemos empregar seqüências de elementos lexicais
para codificar as situações em que os objetos se encontram.

O CINEMA COMO RECURSO DIDÁTICO


O uso de recursos cinematográficos para a explicação do referente já era algo proposto
em salas de aula com o famoso filme de 1974, O enigma de Kaspar Hauser, em que um
homem desde pequeno é privado do mundo e da competência linguística, o que gera
interferências em sua capacidade de interagir e ter referentes. A questão do referente se torna
então um alvo de análise dos filmes A linguagem do coração e O milagre de Anne Sulivan,
pois, mesmo que diferente da forma de Kaspar Hauser, as protagonistas são privadas também
de um contato com o mundo, através de deficiências físicas.
Em A linguagem do coração, de 2016, narra-se a história de Marie Heurtin, uma moça
que nasceu cega e surda, no final do século XVI, e por não ter uma família que saiba lidar
com tal situação, acaba vivendo em seu próprio mundo. Até que o pai, querendo reverter esse
quadro, a envia para um convento onde as freiras cuidam de crianças surdas. Mas até a
própria madre superiora vê uma dificuldade a mais na menina que também é cega e não pode
conversar pela linguagem de sinais e não possui nem mesmo os referentes das outras crianças
surdas. Surge então a figura da madre, disposta a vencer o desafio de tentar estabelecer uma
comunicação com a criança. O filme possui similaridades com O milagre de Anne Sulivan.
baseado no livro da história real The Story of my Life, de Helen Adams Keller4. Nele, é
narrada a história de uma professora, Anne Sullivan, que busca ensinar a uma jovem
americana cega e surda, a se comunicar. Nascida em 1880, Helen vivia apenas com os pais e
alguns empregados da casa, que sempre a mimavam e nunca conseguiram educá-la. Por conta
de uma doença no início da vida, ficou cega e surda muito cedo, não tendo nenhum tipo de
contato com uma língua propriamente dita.
Dessa forma, por nunca ter tido contato com a linguagem, a maneira com a qual Helen se
comunicava com a família não passava de meros gestos e expressões intuitivas, sem

4
Helen Adams Keller (1880-1968) foi uma escritora, conferencista e ativista social americana. Foi a primeira
pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. Tornou-se uma célebre escritora, filósofa e conferencista e
uma personagem famosa pelo extenso trabalho que desenvolveu em favor das pessoas com deficiência.
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conhecimento do mundo ao seu redor. Assim, é possível depreender, a partir da história do
filme, que Helen tinha conhecimento do mundo ao seu redor a partir de instintos; pois seus
referentes eram baseados em gestos rápidos ou nos sentidos sensoriais, como olfato ou tato.
A cena final tem extrema significação para a abordagem didática do tema: Helen toma
conhecimento do referente ligado a seu sentido. Na sequência, a personagem, junto com sua
professora, a jovem compreende que “água” possui um referente – isto é, ela insere sua mão
no poço para senti-la – e um sentido e sua palavra sinalizada, como ilustra a Figura 1 a seguir:

Figura 1

Cena final d’O milagre de Anne Sullivan (1962)

Se “a relação de referência é a relação estabelecida entre uma expressão lingüística


e um objeto (no sentido amplo do termo) no mundo” (CANÇADO, 2008, p. 75), a
personagem do filme, desta forma (que anteriormente não tinha acesso à expressão
linguística), passa a tê-la na medida em que aprende a língua de sinais, relacionando-a aos
seus referentes no mundo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2008.

4
ILARI, Rofolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto,
2001.

REFERÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS
O MILAGRE de Anne Sullivan. Direção: Arthur Penn, Produção: Fred Coe. Estados Unidos
da América (EUA): United Artists, 1962. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=4BHKujXvHuI>. Acesso em: 20/11/2017.
A LINGUAGEM do coração. Direção: Jean-Pierre Améris, Produção: France 3. França:
2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=W2LEXaL1bYk>. Acesso em:
20/11/2017.

ANEXO I – PLANO DE AULA

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