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relação familiar
Ludmila Celistrino Teixeira1
Fabiana Junqueira Tamaoki Neves2
Recebido: 22/5/2012
Aprovado: 11/10/2012
Resumo: Este trabalho enfoca concepções sobre a família atual, diante das diversas
modificações temporais, bem como o parentesco entre seus membros e os efeitos jurídicos
que causa. O estudo apresenta as principais teses jurídicas sobre a matéria, enfatizando
o melhor posicionamento. Além disso, discorre sobre os interesses jurídicos existentes com
relação aos conceitos abordados e a importância que carregam para a sociedade. Para
tanto, explicita amplamente, dentro das diversas concepções de família e suas teses, as
relações de parentesco, suas espécies, linhas e graus.
Palavras-chave: Família; parentesco; solidariedade; vínculo; afinidade.
Abstract: This work focuses on current concepts of the family, considering the several
modifications operated on familial bonds and the legal effects caused on existing legal
arguments on the subject, emphasizing the best point of view among on familial bonds
and the legal effects they cause. In addition, the study discusses the legal interests present
within the addressed concepts, and the importance they carry to society). For that, the
essay will widely discuss about kinship, their species, lines and grades within the various
conceptions of family and its theses.
Keywords: Family; kinship; solidarity; bond; affinity.
1
Discente do 4.º ano do curso de Direito das Faculdades Integradas Antonio Eufrásio de Toledo, de Presidente
Prudente.
2
Advogada. Coordenadora do Juizado Especial Cível – Anexo I – e docente nos cursos de Direito e de Técnico em Gestão
Financeira das Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo. Mestre em Direito Constitucional pela Instituição de
Ensino de Bauru (ITE) e especializanda em Direito Ambiental e Ordenação do Território pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM).
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Algumas considerações sobre o parentesco e a relação familiar
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Algumas considerações sobre o parentesco e a relação familiar
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Algumas considerações sobre o parentesco e a relação familiar
presente concepção de família valoriza esta Como base para discussão, a própria
enquanto instrumento de atendimento dos Constituição Federal (1988), em seu artigo 3.º,
legítimos interesses de seus componentes, inciso I, inclui entre os objetivos fundamentais
e não como uma instituição detentora de da República Federativa do Brasil uma
interesses próprios e distintos daqueles de
sociedade livre, justa e solidária. Ainda, em seu
seus membros.
artigo 226, caput, leciona ser a família a base
da sociedade.
Desse modo, a referida citação demonstra que a
Alguns jurídicos chamam a função social
família moderna, aleatória a uma definição prática
da família de princípio da solidariedade
e certa, tem uma formação social com a finalidade
familiar. Adriana Fasolo Pilati Scheleder e
de, não esgotando outras, realizar interesses
Renata Holzbach Tagliari (2008, s. p.) definem
afetivos e existenciais. Devidos interesses, como que “a solidariedade é um sentimento recíproco
dito, sociais são em favor de toda essa “família”, que estabelece um vínculo moral entre as
todo esse núcleo existente e seus componentes, de pessoas e a vida, criando laços de fraternidade”.
maneira solidária e não individualizada. Desse modo, enfatizando, a solidariedade é
Com respaldo em todas essas definições e uma função que cria laços entre os familiares,
acepções existentes em torno do termo “família”, proporcionando uma relação fraternal e de
a própria lei adota diferentes definições de acordo reciprocidade, em que todos deveriam encontrar
com o momento necessário. Cada critério utilizado cooperação e assistência mútua.
pelo legislador tem uma acepção diferente do Nesse norte, ainda Adriana Fasolo Pilati
termo “família”. Scheleder e Renata Holzbach Tagliari (2008,
Para o presente trabalho, basta destacar, s. p.) complementam sobre a essencialidade do
sem a pretensão de esgotar tal pesquisa, que princípio da solidariedade:
são considerados membros de uma família o
cônjuge, o companheiro, os ascendentes e os O princípio da solidariedade familiar
descendentes. implica respeito e consideração mútuos
Por fim, não é demais insistir que, com em relação aos membros da família. [...]
a realização de toda a pesquisa, não restará O princípio da solidariedade, ao lado do
princípio da dignidade humana, constitui
dúvidas de que o conceito contemporâneo de
núcleo essencial da organização sócio-
“família” continuará sofrendo modificações com político-cultural e jurídica brasileira.
o passar dos anos, ou mais, dos séculos. Em
todo momento que houver mudanças sociais e o Não é devido esquecer de analisar a função
contexto histórico for outro, a legislação em vigor social da família no contexto de cada sociedade,
também terá de sofrer adaptações, e a família não melhor dizendo, sem dúvida essa função não
será a mesma que é hoje, assim como hoje não é é idêntica em todas as localidades. Como já
a mesma que foi ontem. denominado, “função social” mantém relação
com o termo “sociedade”, e, assim, cada sociedade
Função social da família tem particularidades que a diferem de outras.
Não diferente, a função social da família em uma
A família, bem verdade, possui muitas região não é a mesma em outra região. Ocorre
outras funções além da social. Porém, neste que, para a definição jurídica, esse princípio é,
trabalho, não resta importância citar ou explicar genericamente, igual e encontra resguardo na
todas elas, que são inúmeras e causariam um Constituição Federal, como já dito. Diferentes
desvio no foco principal. são apenas as peculiaridades de cada um.
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Flávio Tartuce e José Fernando Simão une duas ou mais pessoas, em decorrência de
(2010-2011, p. 40) discorrem sobre os vértices da uma delas descender da outra ou de ambas
solidariedade explicando que “[...] vale lembrar procederem de um genitor comum”.
que a solidariedade não é só patrimonial, Além disso, destaca-se a importância do
é afetiva e psicológica”. A função social da estudo do presente tema, não necessária e
família estabelece-se na reciprocidade entre exclusivamente para efeitos jurídicos. Nesse
os membros de prestar a devida assistência. norte, segundo Maria Berenice Dias et al.
Assim, essa assistência não deve existir apenas (2002, p. 95),
para fins patrimoniais, mas também para fins
afetivos e psicológicos, como especificado, a fim tal divisão tem importância não apenas para
de operar na evolução da comunidade, pois não fins acadêmicos, mas fundamentalmente
é apenas o fator econômico o necessário para porque distingue as diversas relações
familiares e seus variados conteúdos,
fazer desenvolver uma família adequada.
realizando especial distinção quanto aos
Interessante ressaltar que a solidariedade
efeitos jurídicos e ao grau de intensidade
familiar se baseia na possibilidade e na da solidariedade familiar.
necessidade de assistência dos familiares,
matéria a ser devidamente estudada em Ainda sobre o parentesco, Ana Paula Corrêa
momento oportuno. Sobre isso, Maria Berenice Patiño (2008, p. 109) ressalta: “É o parentesco
Dias et al. (2002, p. 92) explicitam: “Os que
que liga os ascendentes e descendentes, sem
podem mais ajudam os que não podem, o
limitação de grau (pais e filhos, avós e netos,
que representa a distribuição da riqueza entre
e assim por diante), e os colaterais (irmãos, tios,
os parentes, sob o fundamento do princípio
sobrinhos e primos) até o quarto grau”.
da solidariedade que deve existir entre os
Por fim, as relações de parentesco podem
familiares”.
Por fim, a função social da família, ou ser subdivididas e estudadas detalhadamente
o princípio da solidariedade familiar, é uma em espécies, linhas e graus, como veremos a
regra que não encontra muita divergência, seguir.
em virtude da sua importância e, sobretudo,
porque tem proteção da Constituição da Espécies de parentesco
República Federativa do Brasil. É, por óbvio,
importante a cooperação mútua entre pessoas Em sentido amplo, o parentesco pode
que necessitam e as que têm possibilidade abranger todas as espécies encontradas, ainda
de auxiliar, fundamentalmente quando estas que em diferentes posicionamentos. Nesse
apresentam vínculo familiar e fraternal. sentido, o parentesco pode ser natural (ou
biológico ou consanguíneo, dependendo da
acepção adotada), bem como civil ou ainda
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO por afinidade. No entanto em sentido estrito
o parentesco abrange apenas a modalidade
As relações de parentesco são os vínculos natural.
existentes entre parentes, ou seja, entre pessoas Ainda, em sentido amplíssimo, embora
descendentes de um mesmo tronco ou entre pouco comentado, defendido por Maria Berenice
cônjuges e os parentes do outro. Vale demonstrar Dias (2011, p. 346), “o parentesco admite
que existe mais de um tipo de vínculo. Insta variadas classificações e decorre das relações
ressaltar, de acordo com Sílvio de Salvo Venosa conjugais, de companheirismo e de filiação,
(2010, p. 215), que “o parentesco é o vínculo que podendo ser natural, biológico, civil, adotivo,
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Ainda nessa direção, Flávio Tartuce e José 103 – Art. 1.593: o Código Civil reconhece,
Fernando Simão (2010-2011 p. 336) estabelecem: no art. 1.593, outras espécies de parentesco
“Consanguíneo ou natural – aquele existente entre civil além daquele decorrente da adoção,
pessoas que mantêm entre si um vínculo biológico acolhendo, assim, a noção de que há
ou de sangue, ou seja, que descendem de um também parentesco civil no vínculo
parental proveniente quer das técnicas
ancestral comum, de forma direta ou indireta”.
de reprodução assistida heteróloga
O vínculo natural carrega tal denominação relativamente ao pai (ou mãe) que não
pois não se submete à vontade de nenhuma contribuiu com seu material fecundante,
das partes, bem como nasce espontânea e quer da paternidade sócio-afetiva, fundada
naturalmente, sem escolha. na posse do estado de filho.
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Portanto, a segunda espécie inclui o extingue, ela permanece gerando todos os efeitos
parentesco advindo da adoção, de qualquer jurídicos que geraria se ainda houvesse uma
das técnicas de reprodução assistida heteróloga, união. Por outro lado, o parentesco por afinidade
bem como da paternidade socioafetiva. em linha colateral possui limitação de grau, e, se
ocorrer a dissolução do casamento ou da união
Parentesco por afinidade estável, esse parentesco se extingue junto.
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São parentes em linha reta aqueles que descender de um tronco comum, pois, se a
descendem uns dos outros. Na linha distância for maior que o quarto grau, para
colateral, as pessoas relacionam-se com efeitos jurídicos, não se considera ainda um
um tronco comum, sem descenderem umas parente.
das outras. O parentesco em linha reta leva
Ao relacionar, portanto, o parentesco em
em consideração a relação de ascendência
e de descendência entre os parentes. O linha colateral com o grau que possui, ou
parentesco em linha colateral funda-se seja, a distância em que se encontra da pessoa
na ancestralidade comum, sem relação de relacionada, insta observar que não é possível o
ascendência e de descendência. parentesco em primeiro grau em linha colateral,
pois sempre precisará, primeiro, encontrar um
Quando se fala em parentesco em linha reta, tronco comum para só então encontrar a pessoa
faz-se fundamental salientar que não há grau de a quem se quer relacionar.
limitação, ou seja, diferentemente do parentesco Maria Berenice Dias (2011, p. 349) leciona:
em linha colateral, não é relevante a distância em “Os parentes colaterais provêm de um tronco
que o parente se encontra do outro, pois inexiste comum, não descendendo uns dos outros.
limite de grau de parentesco. De acordo com Portanto, não existe parente colateral em
Maria Berenice Dias et al. (2002, p. 97), primeiro grau”.
Ainda, o parentesco pode ser igual ou
Quanto ao parentesco em linha reta, há a desigual na linha colateral, dependendo da
característica da ilimitação, no sentido de distância em que os parentes se encontram do
que inexiste limite de grau de parentesco ancestral em comum. Ou seja, o parentesco pode
entre aqueles que mantêm relação de ser igual entre as partes quando a distância
ascendentes e descendente. A linha reta
entre esses parentes e o parente que possuem
será ascendente ou descendente de acordo
em comum é a mesma, e o parentesco pode ser
com a ótica do parentesco subindo-se da
pessoa a seu antepassado, ou descendo-se. desigual quando a distância entre um parente e
o parente que possuem em comum é diferente
Concluindo, basta saber, sem a mínima da distância entre outro parente e o parente
pretensão de esgotar a pesquisa em pauta, que o que possuem em comum.
parentesco em linha reta é aquele que encontra Antônio Elias de Queiroga (2004, p. 206)
vínculo e relação próxima entre ascendentes e exemplifica:
descendentes.
O grau de parentesco, na linha colateral
ou transversal, pode ser igual ou desigual.
Parentesco em linha colateral ou transversal Igual, quando a distância é a mesma entre o
parente comum e os parentes considerados.
Parentesco em linha colateral é aquele em Ex.: irmãos, pois a distância entre eles e
que ambas as pessoas não descendem uma da o pai é a mesma. É desigual, quando há
diversidade de distâncias entre os parentes
outra, mas, ao contrário, descendem de um
considerados e o antepassado comum. Ex.:
tronco comum. tio e sobrinho. Nesse caso, a distância, pelo
Essa concepção encontra proteção no número de gerações, entre eles e o tronco
artigo 1.592 do Código Civil brasileiro: “São comum é desigual. O tronco comum, aqui,
parentes em linha colateral ou transversal, até é pai de um e avô do outro.
o quarto grau, as pessoas provenientes de um
só tronco, sem descenderem uma da outra” Em doutrina ainda mais recente, Flávio
(BRASIL, 2002). Assim, não basta apenas Tartuce e José Fernando Simão (2010-2011,
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Flávio Tartuce e José Fernando Simão Na linha reta, conta-se o grau de parentesco
(2010-2011, p. 340) discorrem também sobre o subindo ou descendo as gerações até o
parentesco colateral desigual: parente. Cada geração é um grau. Assim,
na linha reta descendente, o filho é parente
Parentesco colateral desigual – hipótese em no primeiro grau, o neto no segundo,
que a distância que separa os parentes do o bisneto no terceiro, sucessivamente,
tronco comum não é a mesma. Em outras enquanto na linha ascendente, o pai
palavras, a medida de subida de gerações é parente no primeiro grau, o avô no
não é igual à medida da descida. É o que segundo e o bisavô no terceiro.
acontece no parentesco entre tio e sobrinho
(parentesco colateral de terceiro grau desigual: No entanto, no caso de parentesco em linha
“subi dois e desci um”) e sobrinho-neto e colateral, para contar o grau em relação a outro
tio-avô (parentesco de quarto grau desigual: parente, deve-se subir cada geração até alcançar
“subi três e desci um”). um ancestral comum de ambos os parentes e
então descer cada geração até chegar à pessoa
Por fim, ratificando, o parentesco em linha que se quer considerar, contando esta, a última
colateral não tem relação direta entre as pessoas geração, como grau de parentesco.
consideradas. Esse parentesco relaciona as Do mesmo modo, Dimas Messias de
pessoas por meio de um ancestral em comum Carvalho (2009, p. 288) disserta detalhadamente:
que funciona como um intermediador da “Na linha colateral, conta-se o parentesco,
relação entre as duas pessoas. subindo por uma das linhas genealógicas até
o tronco ancestral comum e desce pela linha
Graus de parentesco transversal até a pessoa que se quer determinar,
correspondendo cada geração a um grau de
Grau de parentesco é a distância existente parentesco”.
entre um parente e outro, contada em gerações, É importante destacar a facilidade que
ou seja, é a distância que separa uma geração Flávio Tartuce e José Fernando Simão (2010-
da outra, independentemente se em linha reta 2011, p. 337) atribuem ao caso: “O parentesco
ou colateral. em linha reta é contado de forma muito simples:
Esse conceito encontra guarida no artigo à medida que se sobe (linha reta ascendente)
1.594 do Código Civil brasileiro (BRASIL, 2002), ou se desce (linha reta descendente) a escada
que leciona: “Contam-se, na linha reta, os graus parental, tem-se um grau de parentesco”.
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TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F. Direito Civil. 6. ed. VENOSA, S. S. Direito Civil: Direito de Família.
rev. e atual. São Paulo: Método, 2010-2011. v. 5. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
(Concursos públicos).
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