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A (IN)IMPUTABILIDADE DOS PSICOPATAS

Grazielle Gonçalves de Araújo1


Carlos Augusto Teixeira Magalhães2

RESUMO: Com tantos casos em nossa sociedade de crimes bárbaros cometidos por seres considerados cruéis, considerados psicopatas, é
necessário um estudo a respeito dos crimes cometidos por eles e o tratamento dado a eles pelo nosso ordenamento jurídico.

ABSTRACT: With so many cases in our society of barbaric crimes committed by beings considered cruel, considered psychopaths, a study is
needed about the crimes committed by them and the treatment given to them by our legal system.

PALAVRAS-CHAVE: psicopatas, código penal, lei, psicopatia, pesquisas, crimes, ordenamento jurídico.

Keywords: psychopaths, criminal law, law, psychopathy, research, crimes law.

SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 O conceito de crime no direito penal; 2.1 conceito material; 2.2 conceito formal; 2.3 conceito analítico; 3 A culpabi-
lidade no direito brasileiro; 3.1 elementos que integram a culpabilidade; 3.1.1 imputabilidade; 3.1.2 potencial consciência da ilicitude; 3.1.3 exi-
gibilidade de conduta diversa; 3.2 semi-imputabilidade; 4 Sanções penais; 4.1 pena; 4.2 medida de segurança; 5 O conceito e os aspectos da
psicopatia; 5.1 dos perigos da caracterização da psicopatia; 6 Psicopatas no direito penal brasileiro; 7 A deficiência da punição dos psicopatas
no sistema penal brasileiro; 8 Considerações finais; Referências

1 INTRODUÇÃO pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alter-


Quando nos deparamos com o termo psicopata, logo nosso nativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção,
pensamento nos remete a pessoas frias, cruéis. Porém, muito se en- a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
gana quem assim pensa, como também se engana aquele que acha simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
que um psicopata pode ser facilmente identificado. Ao contrário, pode
se dizer que um psicopata é difícil de detectar, tendo em vista a capa- Para entender melhor a concepção de crime, embora seu con-
cidade deles se adaptarem a qualquer meio social para poder atrair ceito seja artificial, se faz necessária a explanação de três conceitos
suas vítimas. ou concepções de crime definidos pela doutrina.
Essa capacidade de adaptação e atração de vítimas mostra que
um psicopata não tem empatia para com suas vítimas, por essa razão 2.1 Conceito Material
são capazes de matar, ameaçar, roubar, enganar, dentre outras O conceito material do crime, pode ser classificado como todo
condutas. Para se responsabilizar um psicopata temos que levar em comportamento humano que lesa ou expõe a perigo de lesão bens
conta se durante a prática das condutas criminosas ele perde noção jurídicos tutelados pelo Direito Penal. Trata-se de conceito que busca
da realidade, não levando em conta somente o fato de não sentirem traduzir a essência de crime. Pode se conceituar também como sendo
remorso, pois essa é uma característica própria deles. a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser proibido,
A partir do momento que se leva em conta que a pessoa é psi- mediante a aplicação de sanção penal.
copata e que ele é responsável pelos atos faz-se necessário entender
qual o tratamento que o Estado dá ao psicopata analisando nosso 2.2 Conceito Formal
ordenamento jurídico. Muitos dos pesquisadores nesse sentido ten- Nesse conceito, o crime corresponde a violação da lei penal. Em
dem a entender que os psicopatas compreendem suas condutas cri- outras palavras, corresponde a relação entre o fato e a norma penal
minosas, por isso devem ser submetidos a privação de liberdade. Por incriminadora. É a concepção do direito acerca do delito, constituindo
outro lado, há quem defenda que os psicopatas possuem transtornos a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação de pena, numa
mentais que os impossibilitam de entender as condutas criminosas visão legislativa do fenômeno.
as quais praticam, defendo que seja aplicada medida de segurança e
dado o devido tratamento a eles. 2.3 Conceito Analítico
O presente trabalho vislumbra apresentar o psicopata como sen- É a concepção da ciência do direito, que não difere, na essência,
do agente de conduta delituosa que compreende o que faz, que não do conceito formal. Na realidade, é o conceito formal fragmentado em
demonstra arrependimento, mas que privá-lo de liberdade e colocá-lo elementos que melhor propiciam o entendimento da sua abrangência.
com demais presos podem incentivá-los a prática de conduta crimino- Se for adotada a concepção bipartida defendida por Damásio
sa bem como aplicar somente a medida de segurança não se torna de Jesus, Julio Mirabete e Fernando Capez, crime é fato típico e an-
eficaz, devendo os psicopatas serem submetidos a tratamento diferen- tijurídico. Já se for adotada a concepção tripartida, defendida pela
ciado e favorável para punição e ao mesmo tempo para recuperá-los. doutrina majoritária, crime é fato típico, antijurídico e culpável.

2 O CONCEITO DE CRIME NO DIREITO PENAL 3 A CULPABILIDADE NO DIREITO BRASILEIRO


A Lei de Introdução ao Código Penal, em seu artigo 1°, define A culpabilidade trata-se de pressuposto de aplicação da pena.
crime como: Sendo assim, o agente não sendo culpável é absolutamente inviável
Art 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina a aplicação de pena.

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Rogério Greco (2010, p.85) em sua obra “Curso de Direito Pe- tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de enten-
nal”3, entende que a culpabilidade diz respeito ao juízo de censura, der o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
ao juízo de reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita com esse entendimento.
praticada pelo agente. Reprovável ou censurável é aquela conduta
levada a efeito pelo agente, que nas condições em que se encontrava, Sendo assim, somente a embriaguez involuntária e completa
podia agir de outro modo. retira a capacidade do agente de querer e entender, tornando-o inim-
putável. Se a embriaguez for incompleta, o agente será penalmente
3.1 Elementos Que Integram a Culpabilidade responsabilizado, porém, como possibilidade de pena reduzida.
Podemos citar como elementos da culpabilidade a imputabili- Se o agente voluntariamente ingerir álcool, ainda que no mo-
dade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta mento da infração não tenha capacidade de entendimento e deter-
diversa. Os elementos são cumulativos, se um deles não estiver pre- minação, será responsabilizado, pois, conforme dispõe o artigo 28
sente não se poderá impor pena ao agente. do CP, apenas se a embriaguez for involuntária e completa, o agente
ficará isento de pena.
3.1.1 Imputabilidade
Entende-se por imputabilidade penal a capacidade que o agen- 3.1.2 Potencial Consciência da Ilicitude
te possui de ser responsabilizado penalmente pelos seus atos. No No Direito Penal Brasileiro, a única causa excludente da poten-
campo do Direito, há de saber se, no momento que ocorreu o crime cial consciência da ilicitude é o erro de proibição, que possui previsão
o sujeito possuía condições de entender o caráter ilícito do fato para legal no artigo 21 do Código Penal que aponta:
ser apontado como autor do crime e ser submetido a punição penal Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre
prevista em lei. a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável,
Em sua obra, Manual de Direito Penal, Guilherme de Souza Nuc- poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
ci (2014, p.241) define a imputabilidade penal como sendo “conjunto
das condições pessoais, envolvendo inteligência e vontade, que per- A depender das condições socioculturais do agente, poderá ele,
mite ao agente ter entendimento do caráter ilícito do fato, comportan- de fato, desconhecer que sua conduta é errada, profana, contraria as
do-se de acordo com esse conhecimento”4. regras usuais da sociedade. Nesse caso, se faltar potencial consciên-
São causas de excludentes da imputabilidade: a inimputa- cia da ilicitude, o agente ficará isento de pena.
bilidade; a menoridade e a embriaguez completa, decorrente de caso
fortuito ou força maior. 3.1.3 Exigibilidade de Conduta Diversa
A inimputabilidade encontra-se prevista no artigo 26 do Código Podemos apontar duas situações em que é inexigível conduta
Penal que dispõe: diversa da praticada pelo agente, a saber: a coação moral irresistível
Art. 26 – É isento de pena o agente que, por doença mental e a obediência hierárquica a ordem não manifestamente ilegal.
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao Ocorre a coação moral irresistível quando o agente (podendo
tempo da ação ou da omissão, inteiramente capaz de en- ser um familiar ou alguém muito próximo) for vítima de coação moral
tender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo irresistível não lhe sendo exigida conduta diversa da praticada.
com esse entendimento. Já a obediência hierárquica a ordem não manifestamente ilegal,
para ocorrer, é imprescindível a existência de uma relação de subor-
Vale ressaltar que não basta apenas que o agente possua doen- dinação entre o superior hierárquico e o subordinado. Sendo assim,
ça mental, é indispensável que, em razão dela, o agente no momento como espera deste certa obediência ao seu superior, se receber or-
da ação ou omissão seja inteiramente incapaz de entender e querer o dem hierárquica e cumpri-la ficará isento de pena caso sua execução
resultado do fato ilícito. resulte na prática de um crime.
A segunda causa excludente da imputabilidade é a menoridade,
que tem previsão no artigo 27 do Código Penal, que assim se lê: 3.2 Semi-Imputabilidade
Art. 27 – Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente A semi-imputabilidade ou responsabilidade diminuída é de-
inimputáveis, ficando sujeitos as normas estabelecidas na le- finida por Fernando Capez5 (2011, p.346) como:
gislação especial. É a perda de parte da capacidade de entendimento e auto-
determinação, em razão de doença mental ou de desenvolvi-
Sendo assim, o menor de 18 anos não pode ser penalmente mento incompleto ou retardado. Alcança os indivíduos em que
punido. Ao redigir a lei, o legislador adotou o critério biológico, pois as perturbações psíquicas tornam menor o poder de autode-
não há de se levar em consideração se o adolescente entendia ou não terminação e mais fraca a resistência interior em relação à prá-
entendia o caráter ilícito do fato. tica do crime. Na verdade, o agente é imputável e responsável
Conforme destacado no artigo 27, os menores de 18 anos ficarão por ter alguma noção do que faz, mas sua responsabilidade é
sujeitos a normas estabelecidas na legislação especial. Neste sentido, reduzida em virtude de ter agido com culpabilidade diminuída
de acordo com o artigo 103 do Estatuto da Criança e do Adolescente, em consequência das suas condições pessoais.
o adolescente que praticar crime ou contravenção penal terá cometido
ato infracional a ser apurado pela Vara da Infância e da Juventude. Em relação a consequência da semi-imputabilidade Capez ain-
A terceira causa de excludente da imputabilidade é a embria- da dispõe:
guez completa, decorrente de caso fortuito ou força maior, menciona- Não exclui a imputabilidade, de modo que o agente será conde-
da no artigo 28, parágrafo 1° do Código Penal, que traz em seu texto: nado pelo fato típico e ilícito que cometeu. Constatada a redução
Art. 28 – Não excluem a imputabilidade penal: (...) na capacidade de compreensão ou vontade, o juiz terá duas op-
§1° - É isento de pena o agente que, por embriaguez com- ções: reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou impor medida de segurança
pleta, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, no (mesmo aí a sentença continuará sendo condenatória).

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Portanto, a semi-imputabilidade não exclui a capacidade de en- camente para indivíduos que estão sem socializar, e cujos
tendimento, porém se for constatada redução na capacidade de com- padrões de conduta lhes levam a contínuos conflitos com a
preender a gravidade da conduta praticada ou na vontade do agente sociedade. São incapazes de uma lealdade relevante com
o juiz poderá reduzir a pena ou aplicar a medida de segurança. indivíduos, grupos e valores sociais. São extremamente egoís-
tas, insensíveis, irresponsáveis, impulsivos e incapazes de se
4 SANÇÕES PENAIS sentirem culpados e de aprender algo com a experiência do
Sanção é a consequência jurídica de uma conduta que viola o castigo. Seu nível de tolerância de frustrações é baixo. Incli-
ordenamento jurídico, ou seja, é imposta quando há violação de uma nam-se a culpar os outros ou a justificar de modo plausível sua
norma penal incriminadora. própria conduta.
O ordenamento jurídico brasileiro prevê somente duas formas
de sanção penal: as penas e as medidas de segurança. Ainda neste sentido, segundo a Classificação Internacional de
Doenças da Organização Mundial de Saúde, um diagnóstico clinico
4.1 Pena da psicopatia pode ser definido como sendo:
Para Fernando Capez (2011, p.384) pena é conceituada como: Personalidade dissocial: transtorno de personalidade caracteri-
sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em exe- zado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia
cução de uma sentença, ao culpado pela prática de uma in- para com os outros. Há um desvio considerável entre o compor-
fração penal, consistente na restrição ou privação de um bem tamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento
jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao de- não é facilmente modificado pelas experiências adversas, in-
linquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas clusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração
transgressões pela intimidação dirigida a coletividade. e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da
violência. Existe uma tendência a culpar os outros a fornecer
De acordo com o artigo 32 do Código Penal, as penas são di- racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que
vididas em penas privativas de liberdade, restritivas de direito e mul- leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade6
ta. Sendo assim, as penas só serão aplicadas quando observados
o juízo de reprovação, estando relacionada a culpabilidade. Quando Há de se ressaltar que a psicopatia não se restringe apenas à
não configurada a culpabilidade do agente, não haverá a aplicação esfera dos crimes contra integridade física de alguém, mas também
da pena. se desenvolve no campo da criminalidade financeira, ou de ludibrio da
fé pública para fins de um enriquecimento ilícito.
4.2 Medida de Segurança Como dito anteriormente, muitas pessoas relacionam o indiví-
As medidas de segurança têm uma finalidade diversa da pena, duo psicopata como um criminoso de alta periculosidade, o qual você
pois se destinam ao tratamento ou cura do agente que praticou con- consegue identificar só pela aparência. Entretanto são indivíduos de
duta delituosa. difícil identificação, pois podem ser qualquer um que esteja em conví-
O artigo 96 do Código penal assim dispõe sobre as medidas vio social. Não se tratando apenas daquele autor de homicídios per-
de segurança: versos e cruéis aos olhos da sociedade.
Art. 96 As medidas de segurança são: Podem ser classificados em níveis variados de gravidade: leve,
I- internação em hospital de custodia e tratamento psiquiátrico moderado e grave. Os que se encaixam em leves, são aqueles que
ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; praticam pequenos golpes, enganando as pessoas, visando lucros
II- sujeição a tratamento ambulatorial. financeiros. Já os moderados e graves, têm-se unida todas as carac-
terísticas do leve acrescentando-se ainda métodos mais cruéis, estes,
Conforme disposto no artigo supracitado as normas de segu- se necessário vão matar uma pessoa de forma brutal e perversa, bus-
rança podem iniciar-se em internação ou tratamento ambulatorial, por cando alcançar seus interesses.
isso podem ser divididas em medidas de segurança detentivas (inter-
nação) e restritivas (tratamento ambulatorial). Ainda neste sentido o 5.1 Dos Perigos da Caracterização da Psicopatia
artigo 97 do referido diploma legal aponta: Atualmente, há diversas discussões em torno do diagnóstico de
Art. 97 Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua um psicopata. Para caracterizar um psicopata, não se faz necessário
internação (artigo 26). Se, todavia, o fato previsto como cri- apenas notar a presença de critérios expostos em escalas do tipo
me for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a PCL-R (Hare Psychopathy Checklist Revisited) – como por exemplo,
tratamento ambulatorial. se o agente é esperto, sedutor, insensível, impulsivo ou se apresenta
falta de empatia – uma vez que promoveria um julgamento morais
Portanto, a medida de segurança a ser aplicada dependera do que acabariam substituindo valorações de fatos por juízos de valo-
caso concreto, tendo finalidade exclusivamente preventiva, no sentido res indemonstráveis, conforme narra Salo de Carvalho em sua obra
de evitar que o autor de uma infração penal que tenha demonstrado “Mentes Perigosas na Academia: sobre plágios, responsabilidades,
periculosidade volte a delinquir. diagnósticos e estigmas”.
Argumentos utilizados com base apenas em características lis-
5 O CONCEITO E OS ASPECTOS DA PSICOPATIA tadas como sendo próprias de um psicopata podem influenciar todo
A Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric o processo, pois usar como prova da psicopatia apenas uma análise
Association) atribuiu psicopatia como distúrbio da per- superficial do agente é querer tornar válida uma prova ilícita com pro-
sonalidade sociopata ou reação antissocial, elencada e definida pelo pósito de manipular todo o trâmite judicial, ofendendo os princípios da
Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (Diagnostic legalidade e da secularização do direito que constitui na separação
and Statistical of Mental Disorders – DSM), onde se lê: entre direito e moral.
A expressão [personalidade antissocial] é reservada basi- Esse tipo de prova remete aos tempos do sistema penal inquisi-

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tivo, onde para se comprovar um fato, utiliza-se de meios ardilosos e tratamento ambulatorial. Contudo, o laudo de exame psiquiátri-
fraudulentos, nos fazendo regredir aos tempos dos primórdios, onde co (fls. 252-254) concluiu ser o apelante semi-imputável, porque
não existia contraditório e ampla defesa e sequer o princípio do devido ele “tinha preservada sua capacidade de entendimento em re-
processo legal. lação ao caráter criminoso de sua conduta, mas reduzida capa-
Nesse tipo de prova, esquece de levar em conta a história de cidade de se autodeterminar em relação a esse entendimento”
vida do agente, substituindo a identidade deste pelo rótulo de “crimi-
noso, perigoso”, assim o agente é anulado em sua essência e passa a Portanto, os tribunais tendem a tratar os psicopatas como sendo
ser encarado como sujeito do rótulo por ele recebido, não contribuin- semi- imputáveis, devido a capacidade de entendimento que possuem
do em nada para a sua devida recuperação. perante as práticas das condutas criminosas por eles praticadas.
Não levar em conta as peculiaridades de cada um dos agentes
infratores é uma negligencia que não deve ser aceitada, sendo ainda 7 A DEFICIÊNCIA DA PUNIÇÃO DOS PSICOPATAS NO SISTEMA
uma ofensa ao princípio norteador do Direito Brasileiro que é a digni- PENAL BRASILEIRO
dade da pessoa humana. Além disso, estudar as condições especiais Conforme já abordado, o artigo 26 em seu caput dispõe:
do agente suspeito de ser psicopata é o mais importante ainda mais Art. 26 – É isento de pena o agente que, por doença mental ou
quando o objetivo de se aplicar a pena é a recuperação do infrator. desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tem-
po da ação ou da omissão, inteiramente capaz de entender o
6 PSICOPATAS NO DIREITO PENAL BRASILEIRO caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
No tocante a responsabilização do psicopata na esfera do Di- entendimento.
reito Penal, há de mencionar que a capacidade de culpabilidade dos
psicopatas ainda não é um tema pacificado. Sendo assim, somente pode ser considerado inimputável quem,
O Código Penal, não disciplina a matéria em específico, porém, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retarda-
deixa margens para sua interpretação e resolução. do não possuir, no momento da ação ou omissão, plena capacidade
Atualmente, as Cortes estaduais têm condenado os agentes de entender o caráter ilícito de sua conduta ou determina-se de acor-
classificados como psicopatas, aplicando a estes o tratamento de se- do com esse entendimento.
mi-imputáveis, reduzindo a pena de acordo com o parágrafo único do Para que fosse reconhecido a inimputabilidade, a psicopatia
artigo 26 do Código Penal, o que pode ser observado no seguinte jul- deveria ser tratada como doença mental ou de desenvolvimento men-
gado, onde o relator alega que sendo o agente semi-imputável devido tal incompleto ou retardado. E mesmo que verificado algum desses
a sua personalidade, não se aplica a medida de segurança. transtornos, ainda seria necessário analisar se no momento da ação
ou omissão, esse transtorno que o agente possui seria suficiente para
PENAL. PROCESSO PENAL. FURTO. MATERIALIDADE E AU- retirar deste a capacidade de entender e querer realizar a conduta.
TORIA COMPROVADAS. SEMI-IMPUTABILIDADE. SENTENÇA A partir então, desta concepção legal de inimputabilidade, po-
CONDENATÓRIA. CONCURSO ENTRE AGRAVANTE DA REIN- de-se construir um entendimento de que os psicopatas não se enqua-
CIDÊNCIA E ATENUANTE DA CONFISSÃO. PREPONDERÂN- dram neste quesito, uma vez que a psicopatia não é considerada uma
CIA DA REINCIDÊNCIA. MEDIDA DE SEGURANÇA SUBSTI- doença mental e sim como um distúrbio da personalidade sociopata
TUTIVA COM PRAZO INDETERMINADO. IMPOSSIBILIDADE. ou reação antissocial ou ainda como detentores de déficits interpes-
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1. A SEMI-IMPU- soais e afetivos que os impedem de interagir por longo prazo com
TABILIDADE É CAUSA DE DIMINUIÇÃO E NÃO DE ISENÇÃO outras pessoas conforme já explanado.
DE PENA, PELO QUE DESCABE A SENTENÇA ABSOLUTÓRIA Além do mais, pelo fato dos psicopatas serem incapazes de
IMPRÓPRIA, RESTRITA TÃO SOMENTE AOS CASOS DE controlar os seus estímulos a pratica criminosa, não tendo a sua cul-
INIMPUTABILIDADE. 2. HAVENDO TRÊS CONDENAÇÕES PE- pabilidade excluída, os doutrinadores acabam incluindo os psicopa-
NAIS DEFINITIVAS ANTERIORES AO FATO EM JULGAMENTO, tas como sendo semi-imputáveis.
É VIÁVEL A EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE EM RAZÃO DOS Porém, colocar os psicopatas com outros presos, pode ser uma
MAUS ANTECEDENTES E PERSONALIDADE DO AGENTE, E péssima ideia ao pensar na hipótese de que estes podem ser influen-
AINDA O AGRAVAMENTO NA SEGUNDA FASE PELA REINCI- ciados a praticar cada vez mais condutas delituosas, não se recupe-
DÊNCIA. 3. A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA PREPONDERA rando mais. Portanto, tratar o psicopata como imputável colocando
SOBRE A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. 4. A junto com os demais sujeitos criminosos pode comprometer a paz e
MEDIDA DE SEGURANÇA SUBSTITUTIVA DE QUE CUIDA O a ordem pública, já que estão sempre na iminência de influências e
ART. 98 DO CP TEM POR PRINCIPAL ESCOPO PROMOVER A práticas delituosas.
SAÚDE DO CONDENADO POR MEIO DA ADOÇÃO DO TRA- Neste sentido, os psicopatas deveriam ser tratados pelo estado
TAMENTO DE SAÚDE ADEQUADO À CONDIÇÃO MENTAL DO de forma atenta e adequado, uma vez que é obrigação deste assistir
RÉU, RAZÃO PELA QUAL A SUBSTITUIÇÃO NÃO SE LASTREIA e proteger a pessoa do psicopata, conforme julgado do Egrégio Tribu-
EM JUÍZO DE PERICULOSIDADE DO AGENTE, NÃO PODEN- nal de Justiça do Distrito Federal, de número APC 20100110722117,
DO VIGORAR POR TEMPO INDETERMINADO. 5. RECURSO que assim elucida:
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. DIREITO CONSTITUCIONAL. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA
(TJ-DF, Relator: JOÃO BATISTA TEIXEIRA, Data de Julgamento: DE PORTADOR DETRANSTORNO MENTAL DEVER DO ESTA-
20/03/2014, 3ª Turma Criminal) DO. I. O Decreto nº 24.559/1934, que dispõe sobre a assistên-
cia e proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, toxicôma-
No voto do relator ele expõe: nos etc,admite a internação desses enfermos por solicitação
“Sendo o agente inimputável (caput do art. 26 do CP), o juiz o de seu cônjuge, genitor, filho ou parente até 4º, ou qualquer
absolve por intermédio de ato judicial denominado sentença ab- outro interessado. II. Os laudos médicos atestam que o réu
solutória imprópria, e determina sua internação ou submissão a é portador de doença mental e síndrome de dependência a

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múltiplas drogas, sendo necessária a sua internação em clí- psicológica no âmbito judicial. Psico-USF, Ano 2006. v. 11, n. 2, mês jul/dez,
nica adequada ao seu quadro de saúde. III.Cabe ao Distrito p. 265-266. Disponível em: <http://pepsic.bvs- psi.org.br/pdf/psicousf/v11n2/
v11n2a15.pdf>. Acesso em:10/11/2015.
Federal, por meio da rede pública de saúde, auxiliar todos
aqueles que necessitam de tratamento, disponibilizando pro- CID - F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adul-
fissionais, equipamentos, hospitais, materiais e remédios pres- to: disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f60_f69.
critos, sendo dever do Estado colocar à disposição os meios htm>.Acesso em 05/11/2015
necessários, mormente se para prolongar e qualificar a vida
CASTRO, Sérgio Murilo Fonseca Marques. A Psicopatia e a (In)imputabilidade
do paciente. IV. Deu-se provimento ao recurso. (TJ-DF - APC:
penal. Web Artigos. 12 de junho de 2012. Disponível em: < http://www.dpu.gov.
20100110722117 , Relator: JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, Data br/index.php?option=com_content&view=article&id=8564:artigo-a-psicopatia
de Julgamento: 22/07/2015, 6ª Turma Cível, Data de Publica- -e-a-in-imputabilidade-penal&catid=34&Itemid=223> Acesso em 10/11/2015
ção: Publicado no DJE : 04/08/2015 . Pág.: 296)
GURGEL, Rafael Gomes Silva. Medicina legal: a precariedade da psiquiatria
forense no âmbito penal. Disponível em <http://www.unipac.br/bb/tcc/tcc-fe-
Mesmo diante da obrigatoriedade de auxílio que o Estado deve
3be754dc83ec95db35385b33511a1a.pdf> Acesso em 05/11/2015
prestar ao portador de psicopatia, ainda não se tem um tratamento
adequado para eles, pois os métodos punitivos que temos atualmente MOURA, Juliana Atanai Gonçalves Moura. A Imputabilidade Penal Dos Psi-
vem se mostrando inócuos, pois deveriam levar em conta a situação copatas A Luz Do Código Penal Brasileiro. Disponível em: < http://www.uel.
particular de cada agente classificado como portador de psicopatia. br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/9526/12656> Acesso em:
01/11/2015
Para solucionar o problema deveria haver a criação de prisões
especificamente destinadas a psicopatas. Além do mais, essa prisão WAGNER, Dalila. Psicopatas Homicidas e sua Punibilidade no Atual Sistema
deveria receber uma atenção especial do governo, com auxílio médi- Penal Brasileiro. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 30 de out. de 2008.
co e psicológico para um acompanhamento para que assim, possa Disponível em:<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/5918/Psicopatas_
realmente haver uma tentativa de ressocialização do agente. Homicidas_e_su a_Punibilidade_no_Atual_Sistema_Penal_Brasileiro> Acesso
em: 10/11/2015

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Notas de fim
Por base do exposto no presente artigo, cumpre salientar que atu- 1
Acadêmica da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva.
almente não temos uma medida eficaz no tratamento aos psicopatas.
Embora, sabemos que eles possuem plena capacidade de entendimen- 2
Professor da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva.
to das condutas por eles praticadas, não pode alegar que por isso são
passíveis de serem acolhidos em estabelecimento prisionais comuns.
Os psicopatas precisam de atenção especial do governo, pois
uma vez investidos em celas com demais presos pode ser considera-
do um risco, uma vez com o poder de liderança que possuem, pode-
riam certamente incitar a desordem e incentivar a pratica de condutas
delituosas no estabelecimento prisional.
Sabemos que entre suas características está a total ausência de aprendizado
com a punição, razão pela qual a simples prisão não iria cumprir a sua finalidade
de reeducação, ou seja, a prisão não vai recuperá-los e inseri-los novamente na
sociedade de modo que estes não venham a cometer novos crimes, razão pela
qual se faz necessário um tratamento diferenciado, com uma política criminal
voltada aos psicopatas.

REFERÊNCIAS
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LETRAS JURÍDICAS | V. 3| N.2 | 2O SEMESTRE DE 2015 | ISSN 2358-2685 CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
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