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Introdução:
De forma geral a nova lei foi comemorada por músicos e educadores como um avanço
há muito tempo necessário. Passada a comemoração inicial, a questão relativa aos processos
de ensino-aprendizagem da música retorna a pauta agora com importância renovada. O
projeto na prática universaliza e obriga o ensino de música para pelo menos as séries iniciais
alcançando assim milhões de novos alunos.
A relevância deste trabalho está no fato que todas as pesquisas realizadas nos últimos
20 anos no campo da educação musical, sempre foram em escolas ofereciam em seu currículo
a disciplina de música. Uma grande parcela dessas pesquisas foram baseadas em estudo de
caso, e sempre analisando casos de professores com formação em música que trabalhavam em
escolas com que ofereciam música em seu currículo pedagógico mesmo tendo pouca estrutura
para o fazer musical. Esse projeto tem como alvo uma escola pública de ensino fundamental
da cidade de Alfenas, Minas gerais, que não oferece música em seu currículo e também não
possui um professor especialista na área. O que se pretende é desenvolver com o professor
regente um projeto de musicalização que aborde de forma lúdica os principais conteúdos de
música, com o intuito de “tornar o indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro,
promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical” (GAINZA, 2002)
De acordo com o PCN, o documento da área de Arte, que inclui a Música (Brasil,
1997b), especifica objetivos e conteúdos, orientações didáticas e avaliativas, predominando
uma visão de currículo centrado no conteúdo e no objeto e não nas múltiplas relações que os
indivíduos construirão com esses objetos e conteúdos, esquecendo-se portanto das funções
sociais e culturais da escola. Os conteúdos específicos de Música são propostos a partir de três
eixos norteadores: produção, apreciação e reflexão.
Uma boa parte dos professores, provavelmente a maioria, baseia sua prática
em prescrições pedagógicas que viram senso comum, incorporadas quando
de sua passagem pela escola ou transmitidas pelos colegas mais velhos;
entretanto, essa prática contém pressupostos teóricos implícitos (LIBÂNEO
1987, p.19).
Por outro lado, pensar a educação musical apenas voltada ao ensino do instrumento
constitui uma visão limitada do que é proposto no PCN e no RCNEI. Porém não podemos
basear o ensino de música ao modelo europeu, pois vivemos em uma sociedade histórica e
culturalmente diferente daqueles e temos que valorizar a nossa cultura. Desde os anos 1980,
educadores musicais brasileiros se dedicam a estudar o assunto e têm contribuído para a
criação de um conjunto de ações, conteúdos, práticas que possam atender as demandas que se
aplicam à realidade para a educação musical no Brasil.
O ensino das artes contribui para que haja um resgate da capacidade de criar um
sentido pessoal que oriente a nossa ação no mundo. Segundo Duarte Junior (1991) o acesso a
formação artística permite que o indivíduo reconheça e eduque o próprio processo de sentir,
habilidade perdida em uma concepção de mundo na qual a “primazia da razão”, a “primazia
do trabalho” e a “natureza infinita” orientam o comportamento e pensamento no mundo
ocidental (DUARTE JUNIOR, 1991, p. 63-77).
Notamos assim, a importância que uma determinada área de conhecimento tem para a
sociedade, quando analisamos a estrutura do seu currículo escolar. O espaço concedido à área
de artes é ínfimo e no caso da música é em certos casos inexistentes, o que demonstra que ela
não faz parte do que se estabeleceu como “importante” pelo senso comum da sociedade
(HENTSCHKE, 1991, p.66).
Poder-se-ia dizer então que o papel da educação musical na vida escolar dos
indivíduos seria o de democratizar o acesso à linguagem musical através do engajamento de
educadores musicais com uma sólida fundamentação teórica que conduza sua prática nesse
ambiente, por meio de ações que possibilitem o desenvolvimento perceptivo para as diferentes
manifestações musicais que nos cercam.
Uma das dificuldades para observar a obediência à lei que retoma o ensino de música
na escola esbarra no fato que o número de profissionais de ensino com formação específica na
área de música é insuficiente para suprir a demanda criada. Para além do fato que no atual
modelo de educação prevê apenas a figura do professor unidocente, regente em sala de aula,
ora, esse profissional se vê preso a uma situação de difícil articulação com mais uma
demanda, que é o ensino de música.
Ao dizer que “a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo” (Lei nº
11.769, de 2008), cria-se uma ambiguidade em relação à aplicação e execução desta por parte
das escolas de ensino fundamental, não foi criada uma ação de contra partida que assegurasse
o cumprimento dessa lei, o que ocorreu foi uma corrida por parte das escolas particulares para
de alguma forma se adequar ao novo modelo, enquanto que por parte das repartições públicas
de ensino acontece uma paralisia, poucos concursos foram feitos desde agosto de 2008 até a
data atual, 2015, para o cargo específico de professor com licenciatura em música. Portanto
no que diz respeito à nova lei, a grande maioria das escolas públicas de ensino fundamental,
ainda continuam com apenas um professor responsável para dar conta de todo conteúdo
ensinado em sala.
A educação musical pode contribuir para a humanização das relações entre os sujeitos
na escola a qualidade do processo educativo, dependerá prioritariamente da forma como a
música e a musicalização são apresentadas aos alunos. “O objetivo da iniciação musical é
sensibilizar a criança, promovendo e estimulando seus processos de desenvolvimento
mediante a participação ativa e o manejo da linguagem musical e sonora”. (GAINZA, 2002,
p.45) (Tradução própria)
Tornar o indivíduo mais sensível aos eventos sonoros é musicalizar, pois ser capaz de
perceber e identificar os sons e poder manejá-los requer conhecimento musical, pois uma das
muitas definições de música de acordo com PAYNTER (1991) é a organização dos eventos
sonoros, a manipulação ordenada dos sons. Essa organização sonora só pode acontecer
quando o “compositor” intenciona criar música. Para que o indivíduo consiga tal capacidade
organizadora é necessário conhecimento musical, esse saber só pode vir de um processo em
que o “ouvir” é estimulado desde a infância.
Considerações
O ensino de artes nas escolas justifica-se pelo fato de que o fazer artístico em suas
diferentes formas é fruto da produção humana, sendo, portanto, uma forma de registro de sua
própria história (SANTOS, 1990, p. 49).
Referências bibliográficas