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Os apontamentos a seguir foram retirados do livro “Do campo para a cidade”, de

Stella Maris Bortoni-Ricardo. Pesquisar nos textos originais as referências citadas:


DEFINIÇÃO DE REDES SOCIAIS
Guimarães (1970): “uma estratégia de pesquisa na qual cada indivíduo no
sistema é percebido pelo pesquisador e se percebe ou é levado a perceber-se como um
elemento em um conjunto complexo de relações sociais”.
Mitchell (1973): “basicamente pensada como o conjunto real de vínculos de
todos os tipos no interior de um conjunto de indivíduos”.
Paradigma de redes
O reconhecimento do paradigma de redes como uma ferramenta analítica
eficaz parece estar relacionado a uma mudança da ênfase científica da visão monádica
do indivíduo isoladamente para o foco das relações entre indivíduos (Guimarães,
1970).
Bortoni-Ricardo (2011): a ênfase nos relacionamentos humanos como
temática preferencial para análise é paralela, em um sentido amplo, à tradição
linguística basicamente voltada para os aspectos funcionais da língua em detrimento dos
aspectos formais, analisada por Hymes (1974, cap. 3). Em sentido estrito, relaciona-se
com a abordagem linguística variacionista que reconhece os padrões e a densidade da
comunicação humana como uma variável intermediária entre a língua e as
características socioecológicas da comunidade de fala.
Hymes (1972): competência comunicativa.
Bortoni-Ricardo (2011): a questão básica de “quem se comunica com quem”
parece ter sido uma preocupação constante da linguística do século XX. No entanto,
nenhum modo sistemático de aferir tais relações foi desenvolvido na ciência linguística
nas primeiras décadas desse século. [...] a partir da década de 1930, pesquisadores
pioneiros, ligados a diferentes disciplinas, começaram a elaborar um paradigma de redes
com propósitos analíticos.
TRADIÇÃO HISTÓRICA DOS ESTUDOS DE REDES
Bortoni-Ricardo (2011): psicologia: brotou da área de pesquisas de pequenos
grupos e trabalhava com grupos artificialmente construídos. A preocupação dos estudos
psicológicos era a relação diádica como um meio de analisar lideranças, escolhas de
amizades, fluxo de informações etc.
Bortoni-Ricardo (2011): sociologia (e/ou antropologia social): seguiu
basicamente o método da observação participante em comunidades reais. Os estudos
sociológicos se orientavam especialmente para a força explanatória.
Mitchell (1969): “seu interesse está focado não nos atributos das pessoas na
rede, mas nas características dos vínculos das relações uns com os outros, como um
meio de explicar o comportamento das pessoas ali envolvidas".
Mitchell (1969): classifica as redes como morfológicas (padrão dos vínculos
na rede) e interacionais (relacionadas à natureza e conteúdo dos vínculos).
Guimarães (1970): estabelece uma distinção entre propriedades estruturais ou
topológicas (ligadas ao número de indivíduos, à distância social e organizacional entre
eles etc) e funcionais ou operacionais (incorporam fluxo de informação, conteúdo de
comunicação, papéis sociais e normas etc).
Guimarães (1970): usou dados sociométricos para estudar sistemas
complexos, propondo um modelo descritivo para comparar empiricamente diversos
sistemas sociais. O foco do estudo era a “integração comunicativa”, medida por meio de
escolhas sociométricas.
Bortoni-Ricardo (2011): A integração comunicativa foi definida como “o grau
em que os subsistemas, subgrupos ou indivíduos eram estruturalmente ligados via
canais interpessoais". Essa integração comunicativa será alta quando uma grande
proporção de membros mantiver um número relativamente alto de contatos
interpessoais. Será baixa se essa proporção tor baixa. A hipótese era que sistemas mais
modernos e espalhados eram mais receptivos as influências externas. Se o sistema fosse
mais fechado, tradicional, ele era menos receptivo a influência externa.
Estudo do conteúdo dos vínculos em redes sociais
Mitchell (1969): define o conteúdo dos vínculos de uma rede social como os
significados que os membros da rede atribuem a seu relacionamento, tais como
obrigações de parentesco, cooperação religiosa etc.; e, em estudo posterior (1973),
elabora o aspecto normativo desse conteúdo, o qual é associado com as expectativas que
dois indivíduos tem, um em relação ao outro, de acordo com suas características e
atributos sociais.
Barnes (1954): primeiro estudo sistemático entre traços morfológicos e o
comportamento social. [...] “rede de relações em que a todas as pessoas se atribui o
mesmo status". Seu estudo estabeleceu as bases para a distinção entre sociedades rurais
e urbanas em termos de densidades de redes. Ele usa as expressões “small mesh”
(tessitura miúda) e “large mesh” (tessitura larga).
200.𝑎
Barnes (1969): define a medida de densidade como 𝐷 𝑛 (𝑛−1) onde 200 é um

número fixo. A letra a refere-se ao número real de vínculos, e n ao número total de


pessoas.
Milroy (1980): Um vínculo entre duas pessoas será unilinear ou uniplex se elas
estiverem relacionadas somente em uma capacidade, por exemplo, como
empregador/empregado. Ele será multilinear ou multiplex se elas estiverem ligadas de
muitas maneiras, por exemplo, como parentes, colegas de trabalho, vizinhos etc.
Bortoni-Ricardo (2011): densidade e multiplexidade tendem a coocorrer e são
mais encontráveis em sistemas sociais tradicionais e fechados. Sistemas urbanos e
abertos, por outro lado, tendem à frouxidão e à uniplexidade de redes.
Conceito de consenso moral ou densidade
Bott (1957): apontou a capacidade que certos tipos de redes têm de funcionar
como um mecanismo de reforço normativo.
Mitchell (1969): quando as relações no interior de um grupo de pessoas são
densas, isto é, quando uma grande proporção se conhece, então a rede como um todo é
relativamente compacta e relativamente poucos vínculos têm de ser usados para
alcançar a maioria.
Bortoni-Ricardo (2011): as ligações são consideradas canais para o fluxo de
consenso normativo que pressiona os membros da rede. Se a rede for bastante fechada e
homogênea, todas as ligações são canais para o fluxo das mesmas mensagens e,
portanto, o poder do sistema para atingir um consenso é muito grande.
Banton (1973): um alto nível de densidade moral está associado com um
pequeno repertório de papéis não diferenciados, enquanto um padrão difuso e complexo
de papéis sociais concorre com um baixo nível de densidade moral.
Bortoni-Ricardo (2011): As características das relações dos papéis sociais
fornecem de fato mais um critério para a distinção entre sociedades de vilarejos e
sociedades urbanas.
Banton (1973): nas primeiras, as pessoas interagem como indivíduos,
desempenhando diversos papéis sociais. Isso propicia redes "impermeavelmente
entrelaçadas”, nas quais as pessoas são dependentes entre si para a reputação social. Os
residentes urbanos, por outro lado, selecionam seus conhecidos em uma gama mais
ampla e podem desempenhar muitos tipos de relações sociais em compartimentos
separados.
Southall (1973): A complexidade refere-se à alta densidade de relações de
papéis e a simplicidade, à baixa. Por outro lado, a multiplexidade refere-se à baixa
densidade de relações de papéis e o desempenho da maior parte dos papéis disponíveis
pelo mesmo grupo de pessoas, uma situação caracterizada pela alta densidade moral por
Banton com referência a papel social e por Barnes com referência à rede.
Unindo os conceitos de Banton, Barnes e Southall (tabela de Bortoni-
Ricardo):
Sociedades
Características salientes Modernas Tradicionais
Multiplexidade Baixa Alta
Densidade moral Baixa Alta
Densidade de relações de papéis Alta Baixa

ANÁLISE DE REDES APLICADA NA SOCIOLINGUÍSTICA


Bortoni-Ricardo (2011): como aconteceu em outras disciplinas, a ideia de
redes sociais foi a princípio empregada na sociolinguística em um nível conceitual,
como urna unidade teórica ancilar na elaboração da definição de comunidade de fala. A
tradição sociolinguística rejeitou a definição de comunidade em termos de traços
linguísticos apenas e postulou, como critérios definidores, a par do domínio de um
código linguístico, o partilhamento de regras de conduta, tais como as relacionadas a
interpretação e avaliação sociais, a adequação de códigos e estilos, formas de tratamento
e padrões de uso da fala em geral (Gumperz, 1968; Labov, 1972ª; Hymes, 1974). A
utilidade do conceito de redes na teoria sociolinguística reside no feto de que ele se
apresenta em um nível mais baixo de abstração em relação ao conceito de comunidade.
Distinção entre língua e fala
Hymes (1974): postulou os conceitos de “campo de língua” e “campo de fala”.
Enquanto o primeiro é definido como "o conjunto de línguas no interior do qual o
conhecimento que uma pessoa tem das formas de fala permite a ela mover-se", o
segundo é "o conjunto de comunidades no interior do qual o conhecimento que uma
pessoa tem dos modos de falar permite a ela mover-se comunicativamente”. Unindo os
dois encontra-se a rede de fala do indivíduo, “pessoas ligadas por meio de conhecimento
partilhado de formas de fala e modos de falar".
Rede como construto teórico
Fishman (1972): observa que no interior de cada comunidade de fala
“repertórios linguísticos funcionalmente diferenciados" associam-se com “redes
interacionais comportamentalmente diferenciadas", implantadas no interior de domínios
diferentes, tais como a família, círculo de amizade, grupos de interesse ou ocupacionais.
O autor reconhece ainda que, em sociedades complexas, algumas redes são
‘experienciais’, enquanto outras são 'referenciais'. Os repertórios verbais em redes
experienciais’ são adquiridos em função de interação verbal real. As redes referenciais,
por outro lado, podem não existir num sentido físico e os repertórios referencialmente
adquiridos são implementados por força de integração simbólica. Esse é o caso da
variedade padrão de uma língua, a qual, como código suprarregional, atende o objetivo
de integração dos cidadãos em uma comunidade de fala nacional simbólica.
Sankoff e Labov (1979): a observação de que “cada falante é membro de
muitas comunidades de fala encaixadas e inter-relacionadas” pode ser compreendida em
termos dessa variedade de redes interacionais e atitudinais simbolicamente integradas.
Categoria de ampla escala
Bortoni-Ricardo (2011): redes de fala e de comunicação são, portanto, um
importante construto nos métodos de delineamento de uma comunidade de fala, que
deve ser considerada como uma categoria de ampla escala.
Labov (1972): uma comunidade de fala é um grupo de pessoas que partilham
um determinado conjunto de normas da língua independentemente das diferenças em
sua fala. Sua definição sustenta-se na noção de que existe um isomorfismo de atitudes
em relação à língua, manifestado por falantes de diversas classes sociais.
Categoria de menor escala
Milroy (1980): argumenta que a noção de comunidade, definida de acordo com
Hymes (1974) com base na "localidade comum" e na “interação primária”, pode ser útil
à análise sociolinguística, se considerarmos que comunidades com uma base territorial
são unidades sociais menos abstratas, com as quais as pessoas têm um sentimento de
pertinência. E a análise de redes pode fornecer os recursos para se aferir tanto a
localidade comum quanto a interação primária.
Função social das redes de tessitura miúda
Bortoni-Ricardo (2011): a maioria desses estudos sociolinguísticos
(paradigma de rede com propósito analítico) explora o pressuposto da análise conduzida
por antropólogos, segundo a qual as restrições sociais que presidem ás relações
interpessoais podem ser utilizadas na interpretação de desempenhos verbais (Blom e
Gumperz, 1972).
Gal (1979): o uso do paradigma de redes para a análise da diversidade
linguística baseia-se no fato de que as normas de uso da língua são parcialmente sociais,
e, portanto, diferenças nas redes sociais das pessoas podem justificar os processos no
surgimento dessas diferenças, em suas normas e expectativas relativas ao
comportamento linguístico.
Bortoni-Ricardo (2011): estudos sociolinguísticos de redes apoiam-se
especificamente na visão socioantropológica de que redes densamente inter-
relacionadas (no sentido de densidade moral e multiplexidade) exercem uma função de
reforço normativo que resulta no desenvolvimento de resistência a forças de inovação.
Em consequência, a distinção intergrupal é enfatizada e os membros de rede de tessitura
miúda são isolados das influências externas, inclusive dos valores linguísticos
hegemônicos.
Milroy e Margrain (1980): argumentam que pesquisadores ligados a estudos
de redes, tanto na tradição antropológica quanto sociolinguística, fizeram uso do
conceito como recurso explanatório. i.e., eles acreditam que tal recurso “tenha uma
poderosa capacidade de explicar comportamento social, e não simplesmente de
descrever as correlações entre tipos de redes e comportamento". Essas autoras sugerem,
portanto, que estudos sociolinguísticos de redes não simplesmente correlacionam
índices extralinguísticos com variáveis linguísticas, mas usam os primeiros para
explicar as últimas.
Romaine (1981): critica essa posição e argumenta que nenhuma relação
nomicamente causal pode ser estabelecida entre escores de índice de redes e variação
linguística individual no grupo porque "não há leis antecedentemente disponíveis que
garantam os efeitos”.
Milroy e Margrain (1980): no conjunto, esses resultados sugerem que muitos
fatores atuam conjuntamente no controle dos escores linguísticos e que deveríamos ser
cautelosos ao atribuir muita importância a qualquer uma das variáveis extralinguísticas
isoladamente. É plausível sugerir que os falantes tendem a ser mais suscetíveis a
influências da língua padrão quando as estruturas de suas redes tornam-se menos
densas, provavelmente porque suas redes pessoais já não exerçam pressões
contrainstitucionais em seu comportamento.
Bell (1976): “a orientação empírica típica das ciências humanas torna o
delineamento dessas teorias particularmente problemático". De acordo com esse
sociolinguista, o problema reside na falta de correspondências claras entre construtos
“constitutivos internamente definidos e suas contrapartes epistêmicas equivalentes,
derivadas de dados empíricos externos". Ele conclui então que as correlações entre
ambos podem ser presumidas, mas raramente comprovadas.
Bortoni-Ricardo (2011): o construto rede social, definido em termos
epistêmicos e operacionais, fornece uma interpretação de comportamento linguístico
“consistente com dados primários observados". Ademais, ajuda a desvelar aspectos da
variação linguística que passam despercebidos do método da simples correlação entre
variáveis linguísticas e sociodemográficas de grande escala. [...] Características da rede
são, portanto, um conjunto eficiente de variáveis para a predição e interpretação da
variação linguística.
Estudos sociolinguísticos de redes
Bortoni-Ricardo (2011): diversos sociolinguistas investigaram a conexão
entre o isolamento das redes e manutenção de línguas, tanto em pequenas aldeias que
estejam sendo expostas a correntes de inovação quanto em grupos territorialmente
definidos em ambientes metropolitanos, que exibem um alto nível de coesão interna em
virtude da polarização de valores sociais, étnicos ou religiosos. Em ambos os casos, as
redes de tessitura miúda associam-se à preservação de linguagem minoritária e não
padrão, enquanto as redes abertas são marcadas por preferência pela linguagem
culturalmente dominante ou suprarregional.
Bortoni-Ricardo (2011): esses estudos têm dado uma contribuição
significativa para a compreensão da relação complexa que se estabelece entre fatores
socioecológicos e políticos e a manutenção ou ruptura da diglossia em situações
multilíngues ou multidialetais.
Bortoni-Ricardo (2011): particularmente a abordagem da variação e mudança
linguísticas, por meio da análise da rede de relações dos falantes, vem iluminando dois
temas complexos em sociolinguística, a saber, o processo por meio do qual
comunidades não monolíngues tenderão à diglossia estável ou ao deslocamento de uma
variedade em favor da outra (Fishman. 1972; 1980) e o aparente paradoxo da
manutenção de variedades não padrão nos repertórios de comunidade urbanas, apesar da
influência normativa imensa da língua padrão (Ryan, 1979; Milroy. 1980).
Blom e Gumperz (1972); Gumperz (1976) e Gal (1978; 1979) ilustram o
primeiro tema, que são os estudos de alternância de língua.
Blom e Gumperz (1972): seleção que os falantes fazem entre a variedade local
e a suprarregional segue padrões diferentes nas redes fechadas. A alternância é
situacional. “No sistema dual de valores locais, diferenças no substrato individual e as
várias situações sociais em que os membros do grupo se encontram atuam no sentido de
afetar sua interpretação do significado social das variáveis que empregam”.
Gumperz (1972): estudou o impacto que da língua alemã num vale em Gail,
Kärnten, Áustria. O esloveno deu lugar ao alemão próprio do local, porém as marcas
identitárias permaneceram.
Susan Gal (1978): fez um estudo sobre uma vila bilíngue em alemão e
húngaro. A escolha pela língua era condicionada pela sua rede social.
Labov (1972): usou a sociometria para relacionar membros de gangues de rua
do Harlem. O estudo demonstrou uma correlação positiva entre o grau de integração de
cada jovem no grupo de pares e sua adesão à gramática do inglês vernáculo negro e
concluiu que a estrutura altamente coesiva dos grupos exercia forte controle sobre a
cultura denominada vernacular.
Milroy (1980): diz que os conteúdos e a estrutura dos laços individuais de rede
podem ser observados e identificados. “A estrutura das redes pessoais nessas
comunidades é de grande importância para prever os usos linguísticos: uma estrutura de
redes densa e multiplex prevê relativa aproximação às normas do vernáculo. Entretanto,
as restrições sobre a capacidade de a estrutura de redes influenciar a língua são
igualmente importantes, pois a relação entre linguagem e rede não é absoluta”.
A FUNÇÃO DA LÍNGUA COMO IDENTIDADE PESSOAL
Teoria da acomodação da psicologia social
Giles e Powesland (1975); Giles e Smith (1979) e Giles (1980):
desenvolveram estudos dentro da teoria da acomodação da psicologia social.
Gal (1979): as redes sociais não influenciam a linguagem diretamente. Sua
influência se exerce a medida que as características da rede tendem a predispor as
pessoas em grupos sociais. “Redes sociais influenciam as estratégias comunicativas das
pessoas quando tal identificação é expressa pela fala. Em compensação, o poder das
redes sociais para moldar a autoapresentação linguística depende do fato de que certos
contatos sociais associam certas escolhas linguísticas com categorias sociais
específicas”.
Bortoni-Ricardo (2011): A pesquisa de atitudes, motivação, sentimentos, bem
como de estratégias envolvidas no uso da língua como um recurso para se atingir
integração social e implementar a identificação de grupo [...] pertence principalmente ao
domínio da psicologia social.
Teoria da acomodação
Giles (1980): seu principal postulado é o de que as pessoas são motivadas a
ajustarem sua fala — ou a ‘acomodarem-se’ —, a fim de expressarem valores, atitudes e
intenções em relação a outras. A teoria esclarece o caráter negociativo de qualquer
interação, cujo objetivo é suprir os participantes com um conjunto comum de
procedimentos interpretativos, permitindo-lhes que as intenções do falante sejam
devidamente codificadas por ele e corretamente decodificadas pelos ouvintes, Giles e
Smith (1979).
Bortoni-Ricardo (2011): o modelo da acomodação é caudatário de quatro
teorias psicológicas voltadas, respectivamente, para os processos de atração-
similaridade-apoio; atribuição causal e distinção entre grupos, [...]. Esse modelo
desenvolveu três conceitos básicos: convergência, divergência e complementaridade.
Convergência de fala
Ferguson e De Bose (1977): de acordo com o princípio de atração-
similaridade-apoio, quanto mais semelhantes forem as atitudes, crenças e
comportamentos de uma pessoa aos de outras, tanto mais provável que ela seja atraída
por eles. A convergência de fala é um recurso usado nessa busca pela atração e apoio. O
termo foi cunhado para referir-se ao processo de mudança de fala, por meio do qual os
falantes se esforçam para se tornarem mais semelhantes àqueles com quem estão
interagindo. É basicamente um processo de adaptação, cujos exemplos extremos são
estratégias de simplificação, [...].
Bortoni-Ricardo (2011): A convergência de fala envolve a redução de
diferenças linguísticas e pode ser manifestada em diversas dimensões. Pode ocorrer com
uma mudança de língua, dialeto ou sotaque ou restringir-se ao nível paralinguístico. O
que inclui alteração no ritmo da fala, extensão das pausas e enunciados, intensidade
vocal etc. Pode incluir ainda adaptação do comportamento não verbal e do conteúdo da
mensagem, esse último, levando em conta a familiaridade do falante com o tópico em
discussão. Como a convergência diminui as discrepâncias percebidas entre os
participantes, encoraja o prosseguimento da interação e geralmente resulta na avaliação
favorável do falante que está tentando acomodar-se aos ouvintes. De fato, uma pessoa
ajusta sua fala à forma que acredita será mais bem recebida por seus interlocutores.
Bortoni-Ricardo (2011): A convergência de fala, como uma estratégia para
alcançar a similaridade, indica que as pessoas estão esforçando-se para cooperar e
geralmente conduz a um aumento de inteligibilidade, previsibilidade e apoio na
interação e, em última instância, da integração social.
Divergência linguística
Bortoni-Ricardo (2011): o processo oposto é o da divergência linguística, um
distanciamento das características da fala dos interlocutores. É geralmente uma tática de
dissociação social, usada por grupos étnicos como estratégia para manutenção de sua
identidade, ou seja, um recurso para enfatizar a similaridade intragrupo e a distinção
intergrupo. Deve ser vista, tanto quanto a convergência, como uma estratégia de
conformidade e identificação.
Giles (1980): A divergência na fala é parte de um processo mais amplo de
distinção intergrupal, por meio do qual, em encontros entre grupos, os indivíduos
podem buscar ou criar uma separação, positivamente avaliada, de um membro externo
em diversas dimensões altamente valorizadas, incluindo as dimensões linguísticas.
Ricardo-Bortoni (2011): o engajamento em um processo de convergência
pode implicar retorno social positivo, representado pelo aumento de atração e
aprovação.
Giles e Powesland (1975): tem demonstrado que variedades e sotaques mais
prestigiados são considerados mais persuasivos e de melhor qualidade que suas
contrapartes menos prestigiadas. Da mesma forma, os falantes dos primeiros recebem
avaliações mais altas, em muitas dimensões, que os falantes desses últimos.
Bortoni-Ricardo (2011): parece claro que a iniciativa de uma convergência
para cima, realizada por alguém que esteja em situação inferior em uma interação
assimétrica, pode ser uma fonte potencial de reconhecimento. Mas a convergência pode,
todavia, representar uma perda da integridade percebida do falante e de sua identidade
pessoal ou grupai, sendo deletéria para sua autoestima.
Giles e Smith (1979): teoria de troca social, segundo a qual, “antes de agir
tentamos aferir os custos e benefícios de cursos alternativos de ação”.
Bortoni-Ricardo (2011): outro importante conceito para a compreensão do
fenômeno de acomodação tem origem na teoria da atribuição causal. Qualquer
indivíduo tende a interpretar e a avaliar as ações dos outros em termos dos motivos e
intenções que ele considere como causas do comportamento alheio. Dessa forma,
engajar-se em um ato de fala convergente, por exemplo, pode não ser visto
positivamente, se o ouvinte atribuir ao falante a intenção de paternalizar, condescender,
ameaçar, insinuar e ate caricaturar.
Complementaridade de fala
Giles (1980): em uma interação diádica, a relação é considerada complementar
quando se reconhece que um participante mantem um papel subordinado ao do outro.
Nesses casos, tanto a divergência quanto a convergência podem ser altamente
integrativas para ambos os participantes. A complementaridade de fala geralmente
envolve divergência em termos linguísticos simples, entretanto psicologicamente
implica mais aceitação da situação de que dissociação. Ela costuma ocorrer quando um
participante assume uma posição subalterna.
Bortoni-Ricardo (2011): ainda que a convergência, a divergência e a
complementaridade de fala sejam provavelmente fenômenos universais, suas
manifestações linguísticas são culturalmente condicionadas.
Bortoni-Ricardo (2011): a tradição da psicologia social que se ocupa de
fenômenos linguísticos — da qual o modelo da acomodação brotou — representa
contribuição relevante para uma compreensão mais nítida das causas e motivações da
variação linguística. Respostas à pergunta ainda não respondida: “Por que as pessoas
talam da forma que falam em diferentes situações sociais?" são investigadas na
dinâmica das atitudes e motivações, e, especialmente, nos processos de sinalização da
identidade.
Motivação do indivíduo subjacente à variação e mudança linguística
Milroy (1980): segundo Le Page, o comportamento linguístico está
permanentemente sujeito a múltiplas e coocorrentes fontes de influências relacionadas a
diferentes aspectos da identidade social, tais como sexo, idade, antecedentes regionais,
ocupacionais e religiosos e grupos étnicos. Cada enunciado produzido por qualquer
falante é um ato de identidade. A medida que os falantes movem-se por um espaço
sociolinguístico multidimensional, usam os recursos da variabilidade da língua para
expressarem esse grande agregado de diferentes identidades.
Le Page (1980): avançou uma hipótese relativa à motivação geral para o
comportamento linguístico individual, de acordo com a qual os falantes criam suas
regras de tal forma a assemelharem-se o mais proximamente possível aos membros do
grupo com os quais desejam identificar-se de momento a momento. Seu desempenho é
condicionado, entretanto, por um ou outro dos seguintes quatro princípios que
complementam a hipótese geral: (1) a capacidade que as pessoas têm de identificar o
grupo modelo; (2) a capacidade de ter acesso a esses grupos e a habilidade de trabalhar
as regras de seu repertório; (3) o peso de várias (e possivelmente conflitantes)
motivações em relação a um ou outro grupo modelo ou em relação à preservação de sua
própria identidade e (4) a habilidade de modificar seu comportamento linguístico.
Labov (1966): explorou a hipótese de um conflito entre o que ele chama
orientação para o prestígio ou para a identidade. As complexidades da distribuição das
variáveis linguísticas em uma área urbana, Labov argumenta, não podem ser
compreendidas sem uma análise dos padrões de mobilidade social.
Labov (1972): dividiu a amostra de sua pesquisa no Lower East Side, Nova
York, desenvolvida em 1963-1964, em três tipos principais, de acordo com a
mobilidade social: ‘ascendente’, ‘estável’ e ‘descendente’. A amostra incluiu pessoas de
quatro classes socioeconômicas: classe baixa, classe trabalhadora, classe média baixa e
classe média alta. Labov argumenta que, com exceção do estrato mais baixo, os outros
grupos sociais participam ativamente de um sistema dual de normas sociolinguísticas.
Essa dualidade do sistema torna-se evidente pelo fato de que "aqueles que têm a
incidência mais alta de traços estigmatizados são mais sensíveis a seu uso pelos outros"
Labov (1966). De fato, apesar da estratificação social e estilística no desempenho
efetivo dos falantes, a maioria deles demonstrava um alto grau de uniformidade em suas
reações subjetivas aos traços não padrão; um fenômeno que parece enraizado na
ideologia baseada no prestígio. O grau mais alto de endosso às normas de classe media
publicamente reconhecidas aparece no segundo grupo mais alto, no qual indivíduos com
mobilidade ascendente exibem o padrão arquetípico da hipercorreção. Por outro lado, o
menor reconhecimento de valores de classe média ocorre no grupo de mais baixo status.
Daí o autor afirmar que esse grupo não participa ativamente do sistema dual de normas
sociolinguísticas.
Labov (1966): revelou outras relações entre tipos sociais de mobilidade e
adesão às normas linguísticas de prestígio. Pessoas com mobilidade ascendente tendem
a imitar as normas de um grupo de referência externo, geralmente, o grupo mais elevado
e imediatamente mais próximo com o qual elas têm contato; um grupo com história de
estabilidade social exibe um desempenho consistente sem uma gama ampla de
alternância estilística; a categoria de mobilidade descendente caracteriza-se pela
resistência aos padrões normativos que governam o comportamento dos segmentos
sociais.
Labov (1972): a lealdade ao vernáculo do grupo foi mais detalhadamente
investigada no estudo que o mesmo autor conduziu com grupos adolescentes do Harlem
e em sua investigação da mudança fonética em Martha s Vineyard.
Bortoni-Ricardo (2011): sugerimos que vínculos em redes densas e multiplex,
contraídos em um território limitado, tendem a se associar com grupos de status baixo.
Indivíduos com mobilidade ascendente, por outro lado, tendem a contrair vínculos em
redes uniplex e mais esparsas.
Milroy (1980): sugere, além disso, que os processos de urbanização e
industrialização podem contribuir para a dispersão de redes tradicionais de tessitura
miúda e consequentemente podem acelerar a padronização linguística.
Milroy (1980): a generalização correta parece ser a de que pessoas com redes
esparsas e uniplex estão relativamente mais expostas à influência das normas de
prestígio e, consequentemente, mais propensas a mudar seus hábitos de fala na direção
do código padrão.
Afendras (1974): A análise de redes sociais é um instrumento de pesquisa
especialmente útil no estudo de sistemas sociais fluidos que estejam passando por
rápidas mudanças.

DESCRIÇÃO E REALIZAÇÃO DA VARIÁVEL /R/ NO PORTUGUÊS


BRASILEIRO

DESCRIÇÃO ETNO/GEOGRÁFICA

Estima- se que haja entre seis e sete mil línguas. Mas esse é só
um número aproximado, por dois motivos. Primeiro porque
existem muitas línguas ainda não catalogadas na África, na Ásia
e na América do Sul. Em segundo lugar, não é fácil identificar
uma língua, porque as línguas não são homogêneas, usadas por
todos os seus falantes da mesma maneira. Pelo contrário, elas
comportam muita variação. Dizemos que são constituídas por
variedades, que, às vezes, são também referidas como dialetos, e
os estudiosos podem ter dúvida quanto a definir determinado
idioma como uma língua ou como uma variedade de uma língua.
(BORTONI-RICARDO, 2014, p. 22).

[...] vimos que peculiaridades do sistema fonológico de uma


língua funcionam como marcas objetivas de identidade de seus
falantes, permitindo que seus interlocutores identifiquem sua
origem. (BORTONI-RICARDO, 2014, p. 27).

O Círculo Linguístico de Praga, na primeira metade do século


XX, apontava que as línguas nacionais exercem uma função
separatista e também uma função unificadora. Na fronteira entre
dois estados nacionais, por exemplo, a função separatista das
línguas torna-se muito relevante. Uma observação, porém, se
impõe aqui, antes de prosseguirmos. Fronteiras linguísticas não
são rígidas como as fronteiras geopolíticas. (BORTONI-
RICARDO, 2014, p. 28).

Quanto à função unificadora, ensinavam os linguistas de Praga


que ela confere o sentimento de pertinência a uma nação,
contribuindo para a atitude de lealdade aos valores nacionais.
(BORTONI-RICARDO, 2014, p. 28).

No Brasil, comunidades de fala em cidades e regiões de


colonização mais antiga já desenvolveram variedades que as
identificam, seja pelo sotaque, seja por palavras e expressões
típicas. Até mesmo em cidades fundadas há menos tempo, como
Belo Horizonte, Goiânia e Londrina, por exemplo, já é possível
identificar traços no português local que funcionam como
marcas identitárias para seus falantes. (BORTONI-RICARDO,
2014, p. 28).

[...] no mundo são faladas milhares de línguas, [...],


considerando as que lhe são aparentadas ou as suas variedades.
Mesmo no Brasil, que muitos creem seja um país monolíngue,
falam-se cerca de 200 idiomas, dos quais 180 são indígenas.
(BORTONI-RICARDO, 2014, p. 33).

A língua portuguesa é língua oficial do Brasil e de sete outros


países, a saber: Portugal, Moçambique, Angola, São Tomé e
Príncipe, Ilhas de Cabo Verde, Guiné-Bissau e Timor Leste.
Castilho (2010: 174 ss.) cita ainda populações lusófonas: nos
Estados Unidos (365.300); em Goa (250.000); na França
(150.000); no Canadá (86.925); e em Macau (2.000). Estima-se
que seja falada por 230 milhões de pessoas, nos cinco
continentes, em territórios que somados perfazem 10.074.000
km2. Tudo isso faz do português a oitava língua mais falada no
mundo e a terceira com maior número de usuários no Ocidente.
[...] em cada quatro falantes de português no mundo, três são
brasileiros. (BORTONI-RICARDO, 2014, p. 40).

De fato, entre os oito países lusófonos que constituem a


Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), somente
em Portugal e no Brasil o português, além de ser língua oficial, é
também língua materna de quase a totalidade da população.
Portugal conferiu status de língua oficial também ao mirandês.
No Brasil, o português é a única língua oficial, mas existem,
[...], cerca de 180 línguas minoritárias, as das nações indígenas,
as preservadas em áreas de imigração ocorrida a partir do século
XIX e duas línguas de sinais. (BORTONI-RICARDO, 2014, p.
41).

Pode-se considerar a língua portuguesa o maior patrimônio de


nossa constituição como nação. Durante os dois primeiros
séculos da colonização, o português, que se expandiu
gradualmente, à medida que aumentava o número de
colonizadores lusitanos, conviveu com línguas nativas e línguas
africanas. Marcas desse multilinguismo são encontradas na
redução flexional dos sistemas nominal e verbal de variedades
usadas no Brasil [...]. Alguns pesquisadores atribuem nosso
extensivo monolinguismo a um processo glotofágico, paralelo
ao etnocídio de nossa população aborígine e à atenta política
linguística da corte portuguesa. (BORTONI-RICARDO, 2014,
p. 41).

No entanto, há que se trazer à consideração alguns dados


preocupantes sobre o português, a começar pelo fato de que o
mundo da lusofonia é também um mundo de analfabetismo, que
vamos ilustrar somente com dados brasileiros. O Censo de 2010
indicou que 9,6% dos brasileiros são analfabetos absolutos e o
Quinto Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF),
divulgado em setembro de 2005, mostrou que só 26% da
população brasileira, na faixa de 15 a 64 anos de idade, são
pessoas plenamente alfabetizadas (www.ipm.org.br).
(BORTONI-RICARDO, 2014, p. 41).

[...] as variedades do português brasileiro poderiam, para fins


analíticos, ser dispostas ao longo de um contínuo dialetal que se
estende desde os vernáculos rurais isolados em um extremo até a
variedade urbana padrão das classes de mais prestígio no outro.
[...] a distribuição de diversas variáveis linguísticas explica-se
tanto com base nas classes sociais, quanto com base na origem
rural/urbana. (BORTONI-RICARDO, 2011, p. 21).

Os traços graduais não padrão do português do Brasil ocorrem


na fala de todos os grupos sociais em graus variados,
independentemente de seus antecedentes rurais ou urbanos,
considerando os dialetos sociais dispostos no contínuo, que vai
das variedades caipiras extremamente isoladas (dispostas no
extremo esquerdo) até o padrão urbano (situado no polo direito).
Observa-se que as variáveis graduais refletem um decréscimo
progressivo da esquerda para a direita. No vernáculo da
população rural isolada e não alfabetizada, alguns desses traços
são quase categóricos, enquanto no padrão urbano eles são
marcadores estilísticos encontrados principalmente nos registros
coloquiais. (BORTONI-RICARDO, 2011, p. 23).

A grande amplitude constatada no diversificado repertório do


português do Brasil é consequência das barreiras sociais que
restringem o acesso de considerável parte da população ao
padrão oral e escrito. Os falantes de variedades de pouco
prestígio, a maioria dos quais não alfabetizados, tem acesso
limitado ao padrão real e a seu uso como norma adquirida de
referência para o emprego de variantes bem recepcionadas na
sociedade. (BORTONI-RICARDO, 2011, p. 25).

1. a língua falada é heterogênea e variável; 2. a variabilidade da


fala é passível de sistematização. A língua falada é, portanto, um
sistema variável de regras. Obviamente, a esse sistema de
variação devem corresponder tentativas de regularização, de
normalização. Como grande estandarte dessa regularização
surge a língua escrita tal qual ensinada nas escolas. A língua
portuguesa veiculada na escola é, em princípio, um reflexo da
norma-padrão do português. (TARALLO, 2007, p. 57-58).

[...] a estrutura da língua pode ser correlacionada ao seu uso e


que os padrões do último podem ser objetivamente medidos,
levando à diferenciação entre as escolhas que o falante
efetivamente faz e as que ele poderia fazer. (TARALLO, 2007,
p. 61).

DESCRIÇÃO DA VARIÁVEL /R/

A mudança linguística pode dar-se em qualquer nível, na


fonologia, na morfossintaxe, no léxico etc. E justamente no
léxico que ela se torna mais perceptível pelos usuários. Um bom
exemplo são as gírias. As gírias são itens lexicais informais,
efêmeros no tempo e, pelo menos no início, circunscritos a
grupos sociais, [...]. (BORTONI-RICARDO, 2014, p. 61).

Quando um pesquisador escolhe uma regra para análise, leva em


conta várias condições, como a frequência daquela regra na
comunidade e, principalmente, a sua relevância sociossimbólica,
ou seja, é preciso identificar regras que sejam indicadores de
estratificação social ou etnicidade e/ou marcadores de variação
estilística. (BORTONI-RICARDO, 2014, p. 68).

No caso de uma variante nova que entrou no repertório da


comunidade de fala, deve-se tentar identificar quando se deu
essa entrada. É importante saber também em que grupo étnico
ou social determinada variante teve início. Se a variante surgiu
em grupos etários mais jovens, por exemplo, ela pode adquirir
prestígio, em sociedades que valorizam a cultura dos jovens,
como é o caso da cultura brasileira. Da mesma forma, se a
origem da variante está associada a grupos sociais de prestígio,
ela vai carregar esse prestígio. Alternativamente, se ela é
oriunda de grupos estigmatizados, manterá esse caráter. O mais
comum, nas regras variáveis em línguas usadas em comunidades
urbanas e tecnológicas, é que uma regra variável se constitua de
variantes próprias da variedade padronizada da língua e
variantes de caráter popular, sem prestígio. (BORTONI-
RICARDO, 2014, p. 68-69).

Qualquer comunicação realizada com sucesso, seja ela um


simples cumprimento, seja um discurso político, pressupõe
alguns requisitos básicos para os interlocutores: um
funcionamento físico adequado do cérebro, dos pulmões, da
laringe, do ouvido, dentre outros órgãos, responsáveis pela
produção e audição (percepção) dos sons da fala. Além desses,
deve haver o reconhecimento da pronúncia de cada um dos
interlocutores, pois, mesmo que tivessem os órgãos da fala e da
audição em perfeito estado, essa comunicação poderia não ter
sucesso se um deles não compreendesse a língua falada pelo
outro. Outro ponto importante a se considerar é a adequada
interpretação das ondas sonoras (sons) emitidas pelo falante e
captadas pelo ouvinte. (SEARA, 2011, p. 11).

Podemos estudar a fala a partir da sua fisiologia, ou seja, a partir


dos órgãos que a produzem, tais como a língua, responsável pela
articulação da maior parte dos sons da fala; e a laringe,
responsável principalmente pela produção de “voz” que leva à
distinção entre sons vozeados (sonoros) e vozeados (surdos).
Podemos também estudá-la a partir dos sons gerados por esses
órgãos, ou seja, com base nas propriedades sonoras (acústicas)
transmitidas por esses sons. Podemos ainda examinar a fala, sob
a ótica do ouvinte, ou seja, da análise e processamento da onda
sonora quando realiza a tarefa de percepção dos sons, dando
sentido àquilo que foi ouvido. Todos esses aspectos podem ser
considerados pela Fonética. (SEARA, 2011, p. 11-12).

É consenso que a fala tem como principal objetivo o aporte de


significado, mas, para isso, deve se constituir em uma atividade
sistematicamente organizada. O estudo dessa organização, que é
dependente de cada língua, é considerada Fonologia. Assim, a
Fonologia pode ser vista como a organização da fala focalizando
línguas específicas. (SEARA, 2011, p. 12).
Fonador quer dizer aquele que produz voz. A fala é o resultado
da articulação desse som. Os órgãos que utilizamos para
produzir os sons da fala não têm como função principal a
articulação dos sons. Eles servem primeiramente para respirar,
mastigar, engolir, cheirar. A partir desses atos, já se pode ter
ideia de quais são os órgãos envolvidos na fala. O conjunto
desses órgãos é chamado de aparelho fonador. (SEARA, 2011,
p. 17).
A divisão tradicional entre vogais e consoantes em nível de
articulação deve ser entendida a partir da liberação do fluxo de
ar dos pulmões. Nas vogais, não há nenhum impedimento a essa
passagem de ar, ou seja, os segmentos vocálicos são produzidos
com o fluxo de ar passando livremente ou praticamente sem
obstáculos (obstruções ou constrições) no trato vocal. Já as
consoantes são articuladas a partir de alguma obstrução no trato
oral, seja ela parcial ou total. Uma outra diferença entre esses
dois tipos de sons é que as vogais são vozeadas, isto é, são
produzidas com a vibração das pregas vocais, enquanto as
consoantes podem ou não ser produzidas com vibração das
pregas vocais. Assim podem ser vozeados ou não-vozeados.
(SEARA, 2011, p. 25).

A troca de um som pelo outro não produz mudança de


significado. Nessa situação, tais sons são considerados variantes
fonológicas ou alofones [...]. Em geral, usa-se um desses
alofones para representar o fonema. A escolha desse
representante é feita em função de sua maior presença na língua
(ou seja, qual dos alofones seria mais comum) ou na facilidade
de explicação levando em conta princípios mais naturais, quer
articulatórios ou em relação ao equilíbrio de valores fonológicos
dentro de sistemas linguísticos. (SEARA, 2011, p. 73-74).

As mudanças que queremos discutir podem ser estudadas em um


determinado momento (sincronicamente) e se referem às
modificações pelas quais passam as palavras por influência de
contextos vizinhos ou podem ser observadas se compararmos as
palavras em diferentes momentos da história de nossa língua
(diacronicamente), por exemplo na evolução do latim para o
português. Os processos que são vistos diacronicamente são os
mesmos que podem ser atestados ainda hoje nas mudanças que
ocorrem sincronicamente. Essas mudanças podem alterar ou
acrescentar traços articulatórios, eliminar ou inserir segmentos.
São os chamados processos fonológicos que se classificam em
função dessas alterações. (SEARA, 2011, p. 107).

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