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Austin
Sentido e Percepção
Martins Fontes
São Paulo — 1993
Publicado originalmente em inglês com o título: SENSE AND SENSIBILIA
Copyright © Oxford University Press, 1962
Copyright © Livraria Martins Fontes Editora Ltda., São Paulo, 1992,
para a presente edição.
Novembro de 1960
I
Considere-se, então:
dados dos sentidos, uma vez que não está claro pa
ra ele (e com bastante razão) porque é que ‘‘ as per
cepções de objetos de tipos diferentes” não devem
ser “qualitativamente indiscerníveis”, ou “capa
zes de serem ordenadas em uma série contínua”.2
Mais adiante, pergunta: “O argumento prova, até
mesmo, que exista algum caso de percepção no qual
uma tal crença [isto é, a de que os objetos que per
cebemos diretamente são coisas materiais] estaria
errada? ”
Parece bastante estranho, com efeito, sugerir
que se precise de um argumento para provar que
esta crença é errada; pois, na verdade, como alguém
poderia supor que é verdade que aquilo que perce
be é sempre uma coisa material? Penso, porém, que
seja possível resolver essa falha. Ayer simplesmen
te caiu, aqui, em uma das armadilhas preparadas
por sua própria terminologia, aceitando como ver
dadeira que a única alternativa a “perceber dados dos
sentidos” seja “perceber coisas materiais”; assim,
em vez do absurdo de parecer tomar a sério a idéia
de que sempre percebemos coisas materiais, pode
mos plausivelmente imputar-lhe a intenção mais ra
cional de levantar a questão de saber se alguma vez
percebemos dados dos sentidos. “Nunca percebe
mos dados dos sentidos” e “sempre percebemos coi
sas materiais” não são, na verdade, equivalentes
e intercambiáveis. Mas fica bem claro que Ayer trata
as duas afirmações como intercambiáveis, e, assim,
80 SENTIDO E PERCEPÇÃO
Capítulo I
1. Macmillan, 1940.
2. Methuen, 1932.
3. Penguin Books, 1953.
4. O caso de ‘‘universal” e “particular”, ou “individual”, é
similar em alguns aspectos, ainda que certamente não em todos. Em
filosofia é muitas vezes aconselhável, sempre que um membro de
um pretenso par passa a ser objeto de suspeição, suspeitar também
da parte aparentemente inocente.
Capítulo II
sam ser agrupados sob uma denominação única. Em si, uma deno
minação única pode ser bastante inocente, desde que o seu uso não
implique que (a) os casos são todos semelhantes, ou (b) são todos
semelhantes sob certos aspectos. O que importa é que os fatos não
sejam prejulgados, e (portanto) negligenciados.
5. Especialmente se abusamos sem disso ter consciência.
Considerem-se as dificuldades causadas pela extensão inconsciente
da palavra “sinal”, a ponto de se dizer que, quando o queijo está
sob nossos narizes, nós vemos sinais de queijo.
6. Compare-se, a esse respeito, as palavras “real”, “adequa
do”, “livre”, e muitas outras. “E real” — o que é que você diria,
exatamente, que não é real? “Gostaria que tivéssemos um tapete
de escada adequado” — o que é que o deixa insatisfeito com rela
ção àquele que já tem? O fato de ser inadequado? “Ele está livre?”
Ora, como é que você acha que ele deveria estar? Na prisão? En
carcerado? Ou simplesmente já preso a um compromisso?
7. Um pouco tarde, às pp. 60-1, Ayer se dá conta disso.
Capítulo III
1. Ayer, op. cit., pp. 3-5.
2. Não é apenas estranho, mas também importante, que Ayer
os chame de “pressupostos”. Mais tarde, vai tomar a sério a idéia
de negar pelo menos um deles, o que não precisaria ter feito se os
tivesse reconhecido como os fatos simples e incontestáveis que real
mente são.
3. O mesmo se aplica, sem dúvida, a alguns usos da “ilusão”;
há ilusões que, como se costuma dizer, as pessoas deixam de lado
com o advento da idade e da sabedoria.
4. Veja-se o coelho branco na peça Harvey.
5. Perception, p. 27.
6. Nem mesmo “indiretamente” tal coisa é “apresentada”. E
não parece que isso torna o caso bem menos útil para o filósofo, apesar
de mais fácil de tratar? Fica difícil ver como se poderia afirmar a
existência de uma grande semelhança entre este caso e os casos normais.
Capítulo IV
1. Comparem-se as expressões “direito” (right), “deveria”
NOTAS 187
Capítulo V
1. Ayer, op. cit., pp. 5-9.
2. Perception, p. 31.
3. Mas, podemos perguntar, essa hipótese equivale a quê? A
partir de que distância um objeto, digamos uma bola de críquete,
“parece do tamanho que realmente é”? Dois metros? Seis metros?
4. Deixo de considerar outro argumento citado tanto por Price
quanto por Ayer, que opera com a “dependência causal” de nossas
“percepções” no que diz respeito às condições de observação e aos
nossos próprios “estados fisiológicos e psicológicos”.
5. Isto é parte, sem dúvida apenas parte, do absurdo existente
188 SENTIDO E PERCEPÇÃO
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
de modo algum, certas; e, se muitas o são, isto não ocorre pelo fato
de serem proposições da lógica e da matemática, mas porque, diga
mos, foram estabelecidas de modo particularmente firme.
7. As coisas materiais são construídas como as peças de um
quebra-cabeça de armar; mas, uma vez que o número de peças de
um quebra-cabeça não seja finito, nunca poderemos saber se algum
quebra-cabeça é perfeito — podem faltar peças, ou haver peças que
não se encaixam.
8. De qualquer forma, a definição oficial não vai cobrir tudo —
as anomalias, por exemplo. Se me mostrarem um porco de cinco
pernas numa feira, não posso pedir meu dinheiro de volta sob o pre
texto de que ser um porco implica ter somente quatro pernas.
9. Outra forma de mostrar que 4 4 implicação” está deslocado
em tais contextos: suponhamos que as mejengras, todas as que já
vimos, têm penacho, de modo que não hesitamos em dizer: “As me
jengras têm penacho”. Será que isto implica que o que não tem pe
nacho não é uma mejengra? Realmente não. Pois, se se descobri
rem espécimes sem penacho em alguma região recém-explorada,
bem, é evidente que não é delas que falávamos ao dizermos que as
mejengras têm penacho; temos que repensar a questão e reconhe
cer, talvez, a existência de uma nova espécie, desprovida de pena
cho. Da mesma forma, o que dizemos nos dias de hoje sobre mejen
gras não se refere, absolutamente, à mejengra pré-histórica da época
eocena, nem às mejengras de um futuro retomo, que talvez tives
sem perdido as penas devido a mudanças atmosféricas.
10. Acho que os filósofos quase não se deram conta de que a
maior parte das palavras de uso comum são definidas ostensivamente.
Por exemplo: sempre se pensou constituir um enigma o porquê de
A não poder ser B, se ser A não implica não ser B. O que acontece
muitas vezes, porém, é que “A” e “B” são introduzidos com a mes
ma definição ostensiva das palavras que designam coisas diferentes.
Por que é que um valete de copas não pode ser uma rainha de espa
das? Talvez precisemos de um novo termo: “ostensivamente ana
lítico”.
11. Ayer, op. cit., p. 110. “Fatos observáveis”, aqui, como tan
tas vezes acontece, significa, e só pode significar, “fatos sobre da
dos dos sentidos”.
12. Ayer, op. cit., p. 242.
13. Também no sentido de “ajuste” ou “encaixe”, ligado a
uma finalidade prática: um mapa geológico pode não ser “adequado”
NOTAS 193
Capítulo XI