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Introdução às Ciências Sociais

Apontamentos de: Ana Paula Farinha


E-mail:
Data: 2010/2011
Livro: Bibliografia obrigatória:
Magano, Olga (no prelo), Introdução às ciências sociais, Lisboa. Universidade Aberta
Textos de apoio disponibilizados nas turmas de e-learning.

Nota: Bibliografia complementar:


LUCKMAN, Thomas e BERGER, Peter I. (1985). A construção social da realidade. Um livro sobre a
sociologia do conhecimento. Lisboa. Dinalivro
Durkheim, Émile (1982 [1897]). O suicídio. Estudo sociológico. Lisboa. Editorial Presença
NUNES, Sedas (1973). Questões preliminares sobre as ciências sociais. Lisboa. Presença /GIS
SANTOS, Boaventura de Sousa (1998). Um discurso sobre as ciências. Porto. Edições Afrontamento
SILVA, Augusto Santos e PINTO, José Madureira. (1986) (orgs.). Metodologia das ciências Sociais.
Porto. Ed. Afrontamento. 313 pp.

Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O
autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende
substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

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1.O PROBLEMA DA OBJECTIVIDADE E DA NEUTRALIDADE EM
CIÊNCIAS SOCIAIS
O conhecimento científico é um processo de construção que coloca em
causa pré-noções e pré-conceitos sobre a realidade social.
Obstáculos epistemológicos são todos aqueles a que o investigador
está sujeito, já que é ele próprio membro da sociedade e dotado de
conhecimento de senso comum. Para os enfrentar, os cientistas sociais
devem fazer um processo de ruptura com o senso comum, pois este
dificulta o desenvolvimento do raciocínio científico.

1º Obstáculo: A FAMILIARIARIDADE DO SOCIAL.


O investigador está inserido, como todos os outros indivíduos, no
social. Ao longo da nossa vida vamos adquirindo conhecimentos que
nos levam a banalizar e a simplificar formas de análise. A nossa vida
quotidiana é partilhada com outros. A mais importante vivência de outros
ocorre na situação de frente-a-frente: é o protótipo da interacção social.
O outro é apreendido por mim no presente e partilhado pelos dois.
Numa situação de frente-a-frente o outro fica acessível através de um
máximo de sintomas.
As tipificações da interacção social tornam-se mais anónimas á
medida que se afastam da situação de frente-a-frente. O anonimato de
tipo evidencia menos a individualização quanto á interacção.
Um aspecto importante da experiência dos outros na vida quotidiana é
o carácter directo ou indirecto dessa experiência. Nas situações de
frente-a-frente tenho a evidência directa das acções e atributos. No caso
dos contemporâneos (os que não são frente-a-frente) tem-se um
conhecimento mais ou menos fiável. O anonimato aumenta á medida
que se passa dos frente-a-frente para os contemporâneos.

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O grau de anonimato depende ainda de outros factores: o grau de
interesse e o grau de intimidade, que podem diminuir ou aumentar o
grau de anonimato.
A realidade social do quotidiano é apreendida num continuo de
tipificações, que se vão tornando anónimas á medida que se afastam do
aqui e agora.
Assim, podemos dizer que a estrutura social é o somatório destas
tipificações e dos padrões estabelecidos pelo seu intermédio. A
estrutura social é um elemento essencial da realidade da vida
quotidiana.
A posição social que cada indivíduo ocupa na estrutura social faz com
que cada um de nós esteja mais próximo de certos aspectos da
realidade e mais afastado de outros.
O património social do conhecimento fornece-nos os esqueletos
tipificadores exigidos para a nossa vida quotidiana: “sabemos o que
fazer”. Estes conhecimentos da vida quotidiana são dados adquiridos:
só a nossa opinião é verdadeira e não se aceita outra. As estruturas
com relevância básica para a vida quotidiana são-me apresentadas pela
própria reserva de conhecimento social.

2º Obstáculo: DICOTOMIA ENTRE O QUE É DA NATUREZA E DA


CULTURA.
É usual nas interpretações comuns dos factos sociais atribuírem-se
causas físicas ou biológicas (naturais) a determinados padrões de
comportamento. Com o desenvolvimento das ciências sociais isto tem
sido desmentido. Constatou-se muitas vezes que a extrapolação do
mundo animal para o social é duvidosa. A aptidão para criar cultura é o
que distingue os homens dos animais. As atitudes e os comportamentos
são condicionados pelo meio em que se vive, ou seja, pela cultura em

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que se nasceu e foi criado. Assim podemos dizer que é difícil distinguir o
que é da hereditariedade ou o que provém da cultura.

3º Obstáculo: DICOTOMIA INDIVIDUO/ SOCIEDADE


A dicotomia individuo/sociedade é outra das resistências na explicação
do social, com base em dois argumentos:
1-cada indivíduo é diferente dos outros.
2-é contrário ao livre-arbitrio.
Os indivíduos são ao mesmo tempo singulares, mas também partilham
características com outros. O que é singular é a combinação total e não
cada uma das suas características.
O outro argumento de que a explicação dos cientistas sociais é uma
negação do livre-arbitrio remete-nos para significados morais.
A imaginação sociológica ajuda a formular o tipo adequado de
interrogações a partir das quais se pode explicar os problemas sociais
(Mills).
O facto de existirem diferenças biológicas e fisiológicas entre homens e
mulheres e que os seus comportamentos são diferentes, leva muitas
vezes a considerarmos que os comportamentos são de ordem natural e
não social.
Também Durkheim procurou explicar que um comportamento
considerado individual acaba por traduzir um facto social. O
comportamento individual pode estar associado a práticas, interesses e
representações ideológicas de determinados grupos sociais.
4º Obstáculo: O ETNOCENTRISMO
O Etnocentrismo é a sobrevalorização de uma cultura em detrimento
das outras. É sobretudo uma dicotomia entre nós e os que nos são
próximos e os outros, que nos são distantes.

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O etnocentrismo é também um fenómeno de dominação politica,
cultural e económica. É sempre uma valorização abusiva de certos
valores. Todo o cientista social envolve na sua pesquisa a sua cultura e
os seus valores. Logo, tem de ter cuidado para prevenir os efeitos desse
risco.
TEMA 2---ANALISE CRITICA SOBRE O PROCESSO DE RUPTURA
COM O SENSO COMUM
O cientista social enfrenta no seu trabalho os obstáculos
epistemológicos, entre eles o senso comum. O que se pretende é que o
cientista social seja capaz de fazer um processo de ruptura com o senso
comum. Isto implica esquecer as frases feitas, os conceitos e as ideias
que todos temos de tudo o que nos rodeia. Mas será possível
esquecermos tudo o que aprendemos ao longo da nossa socialização?
É difícil alguém despir-se do “eu”. A posição social que o nosso cientista
social tem fará com que esteja mais perto de certos aspectos da
realidade. A sua reserva de conhecimento social deve ser
completamente ignorada: a sua preferência por uma forma de
organização social, as suas preocupações com esta ou aquela estrutura,
não podem condicionar a visão dos factos. Como disse Weber “ o dever
cientifico de ver a verdade dos factos “do “dever prático de defender os
nossos próprios ideais”. O cientista social estará sempre sujeito ás
pressões do meio em que está inserido no sentido de apresentar os
resultados que mais interessam ás pessoas ou ideias dominantes. Uma
possibilidade para o técnico é construir o seu tipo ideal ou seja,
identificar o que deve seguir na acção e os valores relevantes para o
grupo que se está a estudar.
Bachelard introduziu o conceito de corte epistemológico ou obstáculo
epistemológico para designar as perturbações que impedem que a
ciência evolua em termos de conhecimento. O senso comum é então um

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obstáculo ao conhecimento científico. “Nada é dado tudo é construído”.
O chamado descontinuismo de Bachelard afirma que no progresso
científico há sempre uma ruptura com o senso comum. Também
defende o descontinuismo histórico, tal como Kuhn.

TESE CONTINUISTA
Popper assume o continuísmo e caracteriza o ser humano como
aquele que não deixa de o ser quando se torna cientista e que quando
observa já tem a sua hipótese formulada, não havendo portanto, a tal
objectividade positivista.
Popper considera que os saberes racionais são um prolongamento do
senso comum. Ele é sempre o ponto de partida para a crítica. O
conhecimento científico é o senso comum corrigido, modificado,
superado, criticado. Para ele a ciência desenvolve-se numa contínua
eliminação de erros.

TEMA 3---VISÃO GLOBAL SOBRE AS CIENCIAS SOCIAIS


O desenvolvimento das ciências sociais assenta na tese de que o
social é irredutível ao individual. As ciências sociais acompanham o
desenvolvimento histórico e social das sociedades.
É a partir de Auguste Comte que se entra na perspectiva evolucionista
das sociedades. As ciências sociais são disciplinas que se ocupam da
realidade social. Actualmente o estudo das sociedades dotou-se de
cientificidade, de modo a formular teorias e métodos de investigação. É
então a partir das teorias e dos métodos de abordagem da realidade
social que as disciplinas se passam a distinguir ou seja, da sua matriz
disciplinar. Segundo Marcel Mauss o social é único, o que significa que
todas as ciências sociais se dedicam a analisar o mesmo social. No
entanto cada uma tem a sua grelha teórica para trabalhar e reconhecer

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os seus limites. O real social é multidimensional e susceptível de ser
analisado de muitas maneiras.

TEXTO J.F. ALMEIDA----LOCALIZAR A EPISTEMOLOGIA:


REFERENCIAS FILOSOFICAS DE BAIXA DENSIDADE
Na actividade científica a reflexibilidade constitui uma exigência. A
epistemologia moderna passou a consistir na reflexão contínua sobre as
condições e tudo o que implicam, do trabalho científico acerca das
formas e dos saberes. Interessa-se mais pela razão teórica do que pela
razão prática.
A filosofia era o lugar de todo o conhecimento. Para Platão 3 questões
dominavam este pensamento:
1- A questão gnoseológica ou seja, qual a natureza do conhecimento.
2-a questão metodológica ou seja, como se produz o conhecimento e
em que condições.
3-a questão da justificação ou seja, sem uma justificação poderemos
estar diante de uma simples crença.
Com Kant: propôs uma síntese do racionalismo e do empirismo. Para
ele o conhecimento é o resultado da organização dos dados
apreendidos por intermédio das estruturas cognitivas inatas á priori,
como o espaço e o tempo. O conhecimento objectivo era assim
possível.
No que as ciências sociais diz respeito, o mundo simbólico constitui
uma parte integrante das sociedades, elas próprias objecto dessas
ciências.
Scientia (a filosofia natural) surgiu com Copérnico no sec. XVI e iniciou
o processo que acabaria com o geocentrismo. Galileu e Kepler
resolveram alguns dos problemas do heliocentrismo. Deste longo
processo abriu-se mais do que um caminho:

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1.a tradição do empirismo britânico
2-o racionalismo continental, atribuído a Descartes que não era
sensível á experimentação.
Tanto o pensamento epistemológico como o campo científico
evoluíram. Acontece um desdobramento disciplina nas ciências naturais
mas também nas exactas, tal como nas ciências sociais e humanas.
Cada ciência foi construindo o seu objecto que é um articulado de
interrogações. As perguntas têm respostas com recurso aos
instrumentos científicos. O método podemos dizer que é constituído por
conceitos e relações entre conceitos constitutivos da teoria, dos
caminhos críticos da pesquisa. Além do objecto e do método, todo o
processo de produção de conhecimento é alimentado pelas técnicas de
recolha e tratamento de informação.
Thomas Kuhn chama este desenvolvimento de “ciência normal” pois
ocorre no interior de um sistema de referências, um paradigma. Quando
ocorre uma descontinuidade, e o sistema é contestado e superado por
um novo conjunto de teorias e de referências, estamos perante uma
ruptura de paradigma, uma revolução científica. Assim, podemos dizer
que o conhecimento pode ter sempre correcções. É isto que dá
substância à historicidade da ciência. Ela mostra-nos a evolução, as
descontinuidades e os resultados que constituem o saber mas que são
provisórios.
A ciência será então a utilização de instrumentos que põem em acção
o seu ofício na procura de novos conhecimentos específicos. O
pensamento epistemológico vai acompanhando este movimento e
alimenta-se dos próprios conteúdos e processos científicos em
transformação.
Dogmatismo logicista (Bachelard) é a tentação normativa da prática
científica.

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A especificidade das ciências sociais: uma ou mais epistemologias?
A epistemologia moderna tem de se socorrer de instrumentos como a
história da ciência e da sociologia do conhecimento se quer ultrapassar
o metadiscurso universal.
Epistemologia interna
É a análise das condições e critérios da cientificidade com recurso aos
instrumentos de cada disciplina. Estuda as condições teóricas da
produção científica que lhe determinam as possibilidades e os limites.
Estuda o estado da problemática do campo científico, a qual define
problemas e conduz a pesquisas através das suas interrogações.
Epistemologia externa
Aqui analisa-se as inúmeras redes de interacção e de causalidade que
articulam os processos científicos aos processos globais do seu
contexto, eles próprios desdobrados nas dimensões politicas,
económica, social, institucional e simbólica.
De seguida analisamos as condições sociais de produção cientifica ou
seja quais são os elementos que interferem no plano da investigação.
No tempo de galileu e Copérnico as ciências da natureza enfrentaram
mitologias cujo poder vinha de forças sociais, politicas e económicas e
traduziam oportunidades e resistências que condicionavam as
pesquisas. Actualmente todas as disciplinas cientificas sofrem
influências políticas e económicas que se traduzem em oportunidades e
resistências das opções de pesquisa. Investigar-se mais isto ou aquilo,
optar por um ou outro programa depende das instâncias nacionais e
internacionais de financiamento. Ainda hoje se verifica também a
existência de obstáculos de raiz religiosa e ética. O campo das ciências
sociais continua a revelar fragilidades, já que o seu objecto de estudo é
constituído pelas sociedades, onde se cruzam e se enfrentam os
diversos interesses.

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Os conceitos e as teorias que produzem não podem deixar de ser
afectados por lutas sociais. Tenta-se assim afirmar visões do mundo
favoráveis a interesses e que tentam garantir legitimidades. A
importância é que elas dão forma a opções politicas e económicas e
organizam a distribuição dos papéis sociais. Em muitas sociedades, o
próprio estado pede a cooperação das ciências sociais para que
fundamentem e apoiem politicas publicas nomeadamente na área da
estruturação do estado social. Chega a haver casos limite em que o
cliente (publico ou privado) solicita resposta pré-definida e especificada,
alterando a investigação. Isto tudo não significa que as ciências sociais
sejam reféns de pressões e estados. Apenas devemos saber que as
próprias condições de resistência e de autonomia da prática científica
devem ser objecto de reflexão epistemológica.
Senso comum
Da sociedade todas as pessoas têm de falar. Todas as pessoas têm de
aprender regras práticas para o seu quotidiano. O senso comum sobre o
social é essencial, universal e explícito. Ele é tanto mais informado
quanto mais reflexivas são as sociedades. O senso comum é apenas
diferente, porque diferentes são os seus instrumentos, protocolos,
objectivos. O conhecimento científico sobre as sociedades coexiste e
convive com as outras formas e partilha a mesma linguagem. O que não
deixa de condicionar também o seu trabalho.
Bachelard considerava o modelo abstracto dos percursos científicos
através da tipologia: ruptura construção, constatação. A ruptura é o
momento de ganhar distancia em relação ao que parece evidente.
Passa-se a novas construções conceptuais, á explicação de novas
perguntas e hipóteses, bem como ao teste e validação dos resultados.

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As posições racionalistas construtivistas: consequências e
desenvolvimentos recentes.
No empirismo o postulado fundamental é que a verdade é igual a
dados. O trabalho científico é então uma abstracção ou extracção de
essências. Os dados seriam neutros e a realidade falaria por si. Bastaria
á ciência registar.
No racionalismo de Bachelard todas as posições construtivistas
afirmam que a natureza e as sociedades só falam quando são
interrogadas, que a forma da pergunta condiciona o tipo de resposta e
que todo o conhecimento é construção activa. Não ter isto em conta é
ocultar a presença de pré-noções e teorias no processo de pesquisa
ocultando os efeitos de tais teorias implícitas nos resultados.
As posições epistemológicas anti empiristas vêm afirmar o primado da
interrogação e do ponto de vista na definição dos objectos teóricos
disciplinares. Serão assim esses pontos de vista que distinguem as
disciplinas entre si e não os objectos reais que querem apreender. Nas
ciências sociais a realidade analisada não está compartimentada. As
supostas fatias seriam uma realidade económica, uma realidade politica,
etc.
Consequências das posições racionalistas:
1-as ciências sociais transgridem e transpõem fronteiras.
2-a produção social do indivíduo mostra que ele é multideterminado e
multisocializado.
Nenhuma meta empírica deve estar á priori vedada a qualquer
disciplina do campo das ciências sociais. O apelo para a colaboração
entre disciplinas resulta do reconhecimento das falsas fronteiras e
fecundidade virtual da sua transgressão.

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Desenvolvimentos recentes:
As posições racionalistas debatiam-se com as empiristas. Um dos seus
desenvolvimentos actuais entendeu auto classificar-se como
epistemologia social e procura prolongar a tradição de complementar a
epistemologia descartiana ligada ao sujeito pensante. Fuller é um dos
promotores desta corrente. Tem uma preocupação pragmática. Para ele
o conhecimento é procurado e produzido por muita gente, com todas as
limitações e imperfeições de cada um dos produtores. Os resultados são
sempre afectados pelo tipo de relações sociais estabelecidas entre o
cientista, pela instituição onde trabalha, as regras e os poderes internos
e das influências geradas nos contextos sociais.
Então como se deve organizar esta produção:
Cada investigador deve pertencer a mais do que um departamento de
forma a diminuir isolamentos disciplinares. Deve-se verificar a
emergência e as características do que seria a progressiva prevalência
de um modo novo de fazer ciência designado de modo 2.
O modo 2 caracteriza-se por uma comunicação que atravessa
facilmente as barreiras institucionais, o conhecimento vai sendo
produzido nos próprios contextos de aplicação. Aumenta a interacção
entre os diversos produtores de conhecimento e alarga-se também á
sociedade em geral. Assim podemos dizer que a evolução no modo de
produção de conhecimento ocorre ao mesmo tempo que a evolução da
própria sociedade.
Identificar-se-ía outro tipo de sociedade: a sociedade tipo 2, mais
complexa e com mais incerteza, com mais permeabilidade institucional,
com capacidade de auto-organização, com mudanças nas noções de
tempo e espaço, com novas formas de organização económica, com
presença crescente de informação e comunicação.

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O que passa da ciência para a sociedade é agora enriquecido por
fluxos inversos, por um falar em retorno da sociedade à ciência. A
sociedade de retorno altera os problemas de investigação, os
financiamentos, os modos de investigar, e as parcerias de pesquisa. A
produção do conhecimento passa a ocorrer no meio público, numa
praça em que os produtos científicos estão abertos á discussão e
negociação, obrigados a uma prestação de contas alargada. O
conhecimento tem de ser fiável mas também socialmente robusto.
Todas estas transformações afectam a natureza científica já que os
processos ficam submetidos a um escrutínio social mais amplo.
O modo 2 é transdiciplinar, tenta chegar a formas e perspectivas
integradas na formulação dos problemas e também nos procedimentos
partilhados com vista a encontrar soluções. O modo 2 far-se-á sentir
desigualmente consoante o campo científico e os objectos de pesquisa.
Irá manifestar-se com mais clareza nas ciências sociais sobre os
problemas de desenvolvimento ou em questões ambientais.
Burawoy diz-nos que o cruzamento das 4 hipóteses resulta num
espaço de atributos a 4 dimensões:
--saber instrumental+audiência académica dá saber académico.
--saber instrumental + audiência extra académica resulta em saber
para politicas e para clientes
--saber reflexivo + audiência académica produz saber critico
--saber reflexivo + audiência extra académica dá saber publico.
Estes 4 tipos de saberes sociológicos interrelacionam-se e coexistem
com pesos diferentes no tempo e no espaço. Cada um implica práticas,
critérios de validação e de legitimidade diferentes, tal como regimes de
prestação de contas diferentes e até diferentes tendências patológicas.
Para Burawoy, a sociologia pública é essencial pelo impacto que pode
ter na defesa da sociedade civil. Ao virar-se para o publico com o

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pensamento reflexivo, a sociologia poderia dar um contributo enorme de
resistência ao que chama 3ª vaga de mercantilização, ameaçadora para
a investigação e para as universidades.

TEXTO DE JULIEN FREUND—“UMA OUTRA MANEIRA DE


ABORDAR AS CIENCIAS SOCIAIS”
Causalidade e afinidade
Durkheim (concepção causalista). O facto social apesar de dever ser
tratado como uma coisa, tinha uma natureza diferente da do fenómeno
individual. Era necessário utilizar correcções nos empréstimos feitos à
metodologia das ciências da natureza.
Já Weber, Simmel e Pareto contestaram essa interpretação: os
fenómenos sociais para eles não obedecem à sucessão causal. Pode
haver coincidências, relações discretas e obscuras mas não se reduzem
ao esquema da causalidade.
Se não se pode falar de um facto social delimitado, Weber criou a
noção de relação social, que tanto pode ser causal como uma
correlação, já que os indivíduos regulam os seus comportamentos em
relação aos outros. Enquanto o facto é independente dos agentes, a
relação é o produto de uma actividade dos indivíduos que dão sentido
ao seu comportamento com base em valores pessoais ou colectivos.
Enquanto o facto é explicável pela anterioridade, a relação explica-se
mais pelos fins que o homem pretende atingir.
Simmel irá substituir o facto pela acção recíproca.
Pareto irá substituir facto pela dependência mútua.
Não importa o nome, mas sim que o desenvolvimento social não se
explica de forma linear, com o esquema de causa/efeito. Antes
contrariamente, por simpatia ou antipatia, por reacções de benevolência
ou hostilidade, por acordo ou desacordo com os valores ou objectivos.

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Esta viragem, e quase ruptura, foi maçada epistemologicamente pelo
pluralismo causal e pela noção de compreensão.
O pluralismo causal tem 2 significados:
1-nenhum acontecimento social se reduz a uma única coisa
determinável, mas a uma pluralidade de causas, sendo o peso destas
diverso para cada comportamento.
2-o efeito pode actuar como causa, de tal forma que a relação se torna
reversível.
A compreensão é o acto intelectual que se funda nas interpretações de
um modo aproximativo e não certo e inequívoco. A solidez da
compreensão tem graus variáveis segundo as nossas interpretações, o
nosso discernimento das causas e dos efeitos reversíveis.
O causalismo mecânico foi arrasado nas ciências sociais. A teoria da
relatividade e a teoria quântica modificaram os esquemas causais. Hoje,
com os computadores assistimos ao desmoronar do movimento
mecânico pelo fenómeno do contacto. O que é importante é o quanto
estas inovações estão a mexer com a epistemologia geral válida para
todas as ciências.
As relações sociais ligam-se e desligam-se sem influências directas,
sem determinação pré-definida (afinidade). Estas relações estabelecem
– se por conformidade sem que se possa invocar uma causalidade
precisa.
A afinidade não exclui a causalidade. A explicação do que quer que
seja não se pode explicar só pela causalidade. Só podemos falar de
causalidade num sentido vago, pois fenómenos como a repulsa, a
associação, a simpatia, não podem ter explicações causais. É tendo
tudo isto em conta que temos as relações sociais, umas vezes na
categoria de causalidade outras nas combinações por afinidade.

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O COMPREENSIVEL E O IMCOMPREENSIVEL
A epistemologia moderna foi marcada pela ideia dos limites do
conhecimento (Kant). Até Kant esteve dominada pelos graus do
conhecimento.
A partir de Kant existe o mundo da ciência e o mundo metafísico com
uma espécie limite entre ambos. De um lado está o mundo conhecido e
ordenado e do outro, o mundo que não é conhecido, o do ideal
transcendente. Na visão de Freund é este corte kantiano que temos de
pôr em causa. Ele acha que o compreensível também engloba o
incompreensível e vice-versa.
Segundo Weber, utiliza a noção de probabilidade para definir
cientificamente os conceitos da sociologia. Usa uma noção não
determinada para definir com precisão outras noções. Como a
probabilidade não faz parte do conhecido, o conhecimento opera ao
mesmo tempo com o que é conhecido e com o que não é conhecido.
A noção de probabilidade faz com que Weber introduza uma
perspectiva metafísica nas ciências sociais.

IDEIA E EXPERIENCIA
Reflectir sobre os à priori:
Geralmente tentamos resolver os problemas partindo do princípio que
serão resolvidos de modo a satisfazer a nossa moral ou a nossa
ideologia.
Weber, Simmel e Pareto prestaram atenção à experiência já que esta é
feita de antagonismos (Weber), de conflitos (Simmel) e de desequilíbrios
(Pareto).
A vida social corrente e observável é feita de obstáculos, tensões e
rivalidades. Assim, Freund escreveu a sociologia do conflito respeitando
os 3 e sabendo de que se trata fundamentalmente de um problema de

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metodologia. Ao abordar o tecido social com a ideia de que o problema
já está resolvido a analise está de antemão encerrada. Fica aberta para
se adoptar o método inverso. Freund fundou um instituto de polemologia
e não de ideologia.
Os sociólogos nunca fizeram do conflito a sua pesquisa. Parece que é
necessário afastá-lo, como se fosse má vontade ou ignorância. Como
compreender a paz pondo de lado a guerra porque a elimino à priori
desta ideia? Só posso entender a paz se entender o que é um conflito.
Todos os esforços de Freund vão no sentido de derrubar o método
corrente na sociologia: evitar partir da ideia da solução para apreender o
que nos mostra a experiência social ou seja, as tensões, antagonismos,
lutas e conflitos.
O método que Freund propõe não só deixa os problemas em aberto,
respeitando o espírito científico, como crê que as soluções serão novos
problemas. Se partirmos da conciliação, da concórdia e da harmonia em
função de uma ideia à priori de liberdade ou justiça, a ideologia está
inevitavelmente à espreita.
Podemos então reunir 5 pontos numa conclusão respeitante à validade
da pesquisa científica:
1-uma analise só é valida consoante as condições e os limites
levantados.
2-nenhuma noção social tem validade geral ou seja, nenhuma noção
social consegue explicar tudo.
3-a noção de classe social só faz sentido em determinadas condições
da pesquisa elaborada.
4-o conflito é um conceito a utilizar nas mesmas condições pois nem
tudo é conflitual numa sociedade.

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5-o conceito sociológico só é válido quando se trata de uma situação
em que as determinações de causalidade ou de afinidade são
elaborados nas mesmas condições.

Multidisciplinaridade refere-se á cooperação de especialistas de


disciplinas diferentes ao estudo de uma mesma realidade.
A Interdisciplinaridade refere-se à troca e inter-penetração efectivas de
modelos teóricos, conceitos e metodologia de disciplinas diferentes em
torno de problemas científicos comuns.
À medida que avançava o século XX, transformações significativas no
interior de cada um dos campos extremados no universo moderno dos
saberes (ciências exactas e naturais versus humanidades) acabaram
por abalar os próprios pressupostos da divisão clássica das esferas do
conhecimento e do saber e recolocar em questão o posicionamento
relativo às ciências sociais.
Assim, actualmente o desafio que se coloca as ciências sociais é o de
integrar no discurso cientifico uma pluralidade de perspectivas e de
valores que podem ser património da humanidade, mostrando que é ao
mesmo tempo, uma condição ao conhecimento mais adequado e mais
amplo dos processos sociais.
A concepção de objectividade sobre as quais começaram por fundar-
se as ciências sociais (na sua vertente positivista) correspondia ao ideal
dos estudiosos neutros, entregues à tarefa de reproduzir um mundo
social do qual seriam intelectualmente distantes.
Um dos efeitos epistemológicos das mutações mais recentes no
campo da investigação social foi justamente o de tornar claro que os
dados da investigação são sempre selecções da realidade baseados em
multievidências ou modelos teóricos vigentes em determinado contexto

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histórico-cultural, filtradas pela perspectiva dos grupos sociais
específicos.
Para Auguste Comte, O Positivismo é uma doutrina filosófica,
sociológica e politica. Surgiu como desenvolvimento sociológico do
iluminismo, das crises social e moral do fim da idade média e do
nascimento da sociedade industrial. É um conceito utópico que possui
distintos significados, englobando tanto perspectivas filosóficas como
científicas do século XIX. O positivismo associa uma interpretação das
ciências e uma classificação do conhecimento a uma ética humana
radical, desenvolvida na 2ª parte da carreira de Comte.
O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a
única forma de conhecimento verdadeiro. A ideia chave do positivismo
de Comte é a lei dos três estádios:
--teológico, o ser humano explica a realidade apelando para entidades
supra naturais.
--metafísico, é uma espécie de meio-termo entre a teologia e a
positividade.
--positivo, é a etapa final e definitiva, que não busca o porquê das
coisas, mas sim o como, através da descoberta das leis naturais.

CONCLUSÕES DO TEXTO DE BOAVENTURA SOUSA SANTOS


Os sociólogos hoje procuram entender os fenómenos sociais como
uma realidade total. Ele considera que um conhecimento total só pode
ser obtido através da pluralidade de métodos e com transgressão
metodológica. Para ele o momento actual é a revolução científica, com o
surgimento de um novo paradigma. Este novo paradigma deve reflectir
uma maior personalização do trabalho científico, uma maior
aproximação ao objecto, integrar o senso comum na formação do
conhecimento.

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Segundo Bachelard o “facto científico” é conquistado sobre os
preconceitos, construído pela razão e verificado nos factos.
A ruptura é o romper com os preconceitos que nos dão a ilusão do
conhecimento das coisas. É o 1º acto do conhecimento científico.
A construção acontece quando a ruptura é efectuada e se parte de um
sistema conceptual que o investigador supõe ser a base do fenómeno. A
fase de construção implica todo o plano de pesquisa e as conclusões da
observação.
A verificação acontece quando a preposição ou hipótese é verificada.

TEXTO 5---UMA VISÃO GLOBAL SOBRE AS CIENCIAS SOCIAIS”


A forma de conhecimento que reclamam as disciplinas sociais constitui
criação histórica recente. A ciência moderna, a que aposta na
combinação da teoria, experiência, dedução e observação possui menos
de 400 anos. É uma criação da civilização europeia onde conseguiu os
quadros institucionais que permitiram os desenvolvimentos teóricos, as
aplicações tecnológicas e o impacto social típicos da ciência
contemporânea.
A história das ciências é uma reconstrução do desenvolvimento das
condiçõ9es da investigação científica (dos princípios, meios e resultados
teóricos) e das suas condições sociais. As ciências são ainda
influenciadas pelas condições em que se desenrolam as pesquisas,
pelos factores relativos à organização do campo científico.
Compreender o processo de construção do objecto científico de cada
ciência social.
Cada disciplina não acede ao estatuto de ciência quando constrói o
seu objecto próprio. Delimita um conjunto de problemas e procura
soluções. Ela própria elabora e testa os meios necessários: as teorias. O
objecto é um sistema de relações conceptuais construído.

19
Identificar o contexto político, histórico e social do desenvolvimento das
ciências sociais.
As ciências sociais são uma criação histórica recente de uma
civilização e o seu desenvolvimento é marcado por alguns factores:
--a sua própria evolução teórica
--o dinamismo de outras ciências e formas de saber.
--as características desiguais de diferentes contextos institucionais.
No sec XVIII Montesquieu tentou perceber os regimes políticos
relacionando-os com as totalidades sociais. Insistia que os factos
humanos eram interdependentes e propôs-se chegar a leis. No sec XIX
vários actores evidenciaram a autonomia e a profundidade social ou
seja, as estruturas sociais não são a soma de actividades conscientes e
não podem ser caracterizadas no plano individual.
A tese que consolidou as ciências sociais foi: “o social é irredutível ao
individual”.
Foi ainda importante para a sua formação:
--a dinâmica e o impacto do saber lógico-matemático
--as transformações económicas, demográficas, politicas e culturais
das nações oitocentistas do ocidente. Aqui estamos a falar da
industrialização, urbanização, crescimento populacional. Mas também
as revoluções liberais e os movimentos operários socialistas. E ainda de
novas instancias e padrões de socialização.
O nascimento das ciências sociais é diferente de país para país
consoante as características dos estados e das relações de força entre
grupos sociais, das organizações universitárias, do crescimento
económico, etc.
Definir fenómeno social total e a sua importância para a concepção
moderna de social

20
Marcel Mauss na década de 20/30, deu ás ciências sociais a
contribuição sistemática mais relevante: o conceito de fenómeno social
total. Com este conceito estabeleceu 2 princípios:
1-qualquer facto é sempre complexo e pluridimensional, quer ocorra
em sociedades arcaicas ou modernas.
2-todo o comportamento remete para e só se torna compreensível
dentro de uma totalidade.
Problematizar a característica pluridimensional da realidade social e a
importância da interdisciplinaridade e complementaridade entre as
diversas ciências sociais.
O económico, o politico e o simbólico são dimensões inerentes a toda
a acção social. A acção humana, na sua complexidade, é ao mesmo
tempo económica, política e simbólica. Só assim se compreende porque
são tão precárias e flutuantes as fronteiras entre as várias ciências. Elas
perspectivam de diferentes maneiras a mesma realidade. É por ser tão
complexa que se deve multiplicar e cruzar prismas, princípios e
instrumentos teórico-metodológicos.
Equacionar do ponto de vista metodológico a unidade e a pluralidade
das ciências sociais
Cada ciência:
1-elabora o seu próprio conjunto articulado de questões ou seja a sua
problemática teórica.
2-define o seu objecto cientifico
3-determina um certo numero de problemas de investigação centrais,
nessa problemática.
4-constroi conjuntos de princípios, teorias e estratégias metódicas— os
paradigmas.
A divisão do trabalho entre disciplinas é sempre provisória porque é em
grande parte fruto de condições sócio-intitucionais variáveis e porque as

21
disciplinas não são corpos teórico-metodológicos estanques. A
diferenciação continua a revelar-se como o melhor meio de obter uma
visão global dos estudos sobre acção social.
TEXTO 6 – – – “A UNIDADE DO SOCIAL E A PLURALIDADE DAS
CIENCIAS SOCIAIS”
Para Gurvitch a realidade é uma só. O campo da realidade sobre o
qual as ciências sociais se debruçam é um só. E todos os fenómenos
desse campo são fenómenos sociais totais, ou seja, têm implicações a
vários níveis e a diferentes dimensões do real social e portanto
interessam a todas as ciências sociais.
As ciências sociais nomotéticas diferenciam-se a 4 níveis:
1-fins ou objectivos que comandam a investigação
2-a natureza dos problemas de investigação ou seja, sobre os quais a
pesquisa incide.
3-os critérios utilizados pelos investigadores ao seleccionarem as
variáveis relevantes.
4-os métodos e as técnicas de pesquisa empírica e de interpretação
teórica.
“O centro de interesse” de uma ciência
As ciências sociais dizem que o centro de interesse da investigação é
para cada ciência diferente de todas as outras. É sempre o centro de
interesse que as distingue umas das outras.
Distinguir as ciências sociais como conhecimento e como prática
social.
A palavra ciência designa 2 realidades distintas:
1-um produto de determinado tipo de actividade humana
2-um sistema de produção desse produto.
O que uma ciência é como produto depende do sistema de produção:
--quem são os investigadores? As suas posições?

22
--quais os meios de produção? Que métodos? Recursos financeiros?
Materiais? Técnicas?
--de quais são? Relacionam-se com outros? Forças exteriores?
Estrutura interna-poderes?
Como disse Salomom, a ciência tornou-se parceira do poder político.
Castells diz que “a ciência define-se pela existência de um objecto
teórico próprio, suscitado por uma necessidade social de conhecimento.”
Logo o objecto científico de uma disciplina é constituído pelo conjunto
conceptual construído com o fim de se dar conta de uma multiplicidade
de objectos reais que por hipótese essa ciência tem em vista analisar.
Todo o conhecimento é abstracção e construção
As várias disciplinas diferem umas das outras por serem diferentes em:
1-as problemáticas teóricas que elaboram
2-as interrogações a que sujeitam a realidade
3-os objectos científicos que a seu respeito constroem
4-os códigos de leitura do real concreto que nos propõem.
Cada uma das ciências permite-nos ler o real concreto através do seu
código de leitura, mas será sempre uma visão parcial e incompleta do
real, que é só um.
Goldman diz-nos que o estudo do real concreto social é sempre uma
abstracção e que deveria ser considerada provisória. O real concreto
social nunca é puramente politico ou económico, etc, é sim um facto
total cuja estrutura e cujas múltiplas determinações nenhuma das
ciências sociais sozinha pode captar. Todo o conhecimento, por mais
empírico que pareça, é de facto abstracção e construção.
TÓPICO 4— TEXTO 7 “ALGUMAS CIENCIAS SOCIAIS”
Saber distinguir os principais factores de desenvolvimento das ciências
sociais seleccionadas, autores e contributos

23
1-Sociologia com a revolução galiana, mais tarde com o triunfar da
razão e mais recentemente com o positivismo a sociologia formou-se
como ciência. Com o aparecimento das sociedades industriais
desenvolve-se rotulada de ciência nomotética. Para tal contribuiu a lei
dos 3 estádios de Comte. Também Durkheim contribui com a análise da
solidariedade mecânica e orgânica. Já Weber diz que a sociologia deve
procurar regularidades a partir de um estudo com a história.
Foi pensada pelos seus fundadores:
--Comte e Marx procuraram as leis de evolução das sociedades
--Durkheim procurou as relações funcionais entre os fenómenos
sociais
--Weber procurou as regularidades históricas.
Posteriormente surgiram novos paradigmas e novas práticas
sociológicas e todas repousam sobre 3 pontos característicos que
permitem fundamentar o objecto próprio da sociologia:
1-caracteristica da associação a que a escola alemã chamará relações
sociais de produção
2-o carácter simbólico do facto social
3-a característica da historicidade de fenómeno social total.
Estabelecer comparação entre as ciências sociais no que se refere aos
objectos e campos de estudo e principais metodologias
1-A SOCIOLOGIA é a ciência que estuda a sociedade a partir das
relações que os seres humanos estabelecem entre si. O seu objectivo é
os fenómenos de grupo, a sua origem, a sua estabilidade ou
desintegração. Trata os seres humanos em associação. Parte sempre
destas 3 características:
--a da associação
--carácter simbólico dos factos sociais
--dimensão da historicidade desses fenómenos

24
A sociologia tem assim um objecto próprio de estudo: existe
especificidade do social e um determinismo sociológico irredutível a
factores biológicos, psicológicos ou outros.
O sistema social é uma totalidade auto organizada. A sociedade
humana é um conjunto composto:
--por uma rede de relações entre indivíduos
--por uma rede de relações entre grupos compostos por esses mesmos
indivíduos
--uma simbiose entre esses grupos
--uma organização
Uma cultura.
Todos estes elementos nos levam a dois factores importantes:
1-a capacidade de aprender constitui uma característica herdada
(herança genética)
2-as nossas capacidades têm de ser estimuladas o que implica um
ambiente social.
2-A ANTROPOLOGIA Com os descobrimentos, expansão marítima,
etc, o ocidente teve curiosidade em conhecer o “outro”. Com o século
XVII e XVIII surge uma reflexão maior sobre as sociedades não
europeias. Surgem os relatos de viajantes e missionários e cresce a
curiosidade. Na 2ª metade do século XVIII os pensadores tentam
perceber as origens, as semelhanças e as diferenças entre as
sociedades. Surge assim pela 1ª vez a designação da Etnologia e
Etnografia. No século XIX a antropologia física evolui e dá origem a
disciplinas autónomas. Com F.Boas nasce o trabalho de campo. No
século XIX apoia-se no evolucionismo: as sociedades primitivas
aparecem como os antepassados naturais das sociedades ocidentais
actuais.
Morgan dá importância as relações do parentesco.

25
Tylor define cultura.
F. Boas põe em causa o evolucionismo.
Mauss é o fundador da etnologia
Strauss é responsável pelo estruturalismo.
O objecto da antropologia: tem um propósito metodológico (estrutura),
um propósito totalizante (cultura, sociedade e facto social total) e um
propósito parcelar (domínio circunscrito ao real). Logo o objecto de
estudo da antropologia actualmente é as sociedades em diversas fases
de desenvolvimento com diferentes tipos de culturas.
3-A PSICOLOGIA é o estudo científico do comportamento e da mente
em termos de organização e diversidade. Tem por objectivo descobrir
leis e regularidades entre fenómenos. Formula modelos e teorias
consistentes para compreender, explicar e prever fenómenos humanos.
Desde os finais do século XIX que têm existido importantes
desenvolvimentos na psicologia. Freud, Pavlov, Wundt ou Galton dão
importantes contributos. Dentro da psicologia destaca-se a psicologia
social que tem no centro de interesse a interacção social entre
indivíduos, entre indivíduos e grupos e entre grupos.
A afirmação como disciplina autónoma foi desencadeada pela
existência de estudos que sustentavam um novo domínio do
conhecimento: o da interferência dos outros no comportamento dos
indivíduos.
3- A HISTÓRIA. Após as batalhas, os tratados, os estados, a história
nunca acaba, as sociedades nunca param de reescrever a sua história.
Braudel defende uma articulação entre a história e as outras ciências
sociais.
4-A DEMOGRAFIA. O desenvolvimento da matemática permitiu
aprofundar e introduzir o elemento previsional a partir de dados brutos

26
recolhidos pelos recenseamentos ou outros processos de contagem e
que constituem a própria matéria da demografia.
A demografia enquanto ciência nasceu do encontro entre o desejo de
conhecer melhor e de compreender os fenómenos humanos e o
sentimento de que existe uma possibilidade de agir sobre a sociedade e
de a mudar. O universo social é um universo a 3 dimensões que se
combinam para constituir o conjunto vivo da sociedade:
--o numero
--o espaço
--o tempo.
A demografia é uma ciência com métodos específicos. O seu objecto é
o estudo das populações humanas e trata da sua dimensão, estrutura e
evolução e dos seus caracteres gerais sob o ponto de vista quantitativo.

TÓPICO 5— TEXTO DE APOIO 8 “O DOMINIO DAS CIENCIAS


SOCIAIS— A ESPECIFICIDADE DO SOCIAL”
Apresentar a definição do social
O social é um processo ou uma soma complexa de processos que tem
o ser humano e a sua maneira de estar no mundo como elemento
dinâmico. O social é único, as abordagens é que são múltiplas, pois as
ciências que se ocupam do social são várias. O social é um todo,
engloba diferentes tipos de relacionamento que os humanos
desenvolvem entre si e os artefactos dos quais são produtores. O social
resulta de uma conjugação de elementos contextuais, relacionais e de
interacção social.
Distinguir o facto social e o facto sociológico
Embora o objecto das ciências sociais seja o mundo em que vivemos e
o social, o objecto científico não preexiste à ciência: a teoria vai
seleccionar o real e construi-lo a partir da sua metodologia específica.

27
No caso da abordagem sociológica, o facto sociológico não existe na
realidade. Ele é um conceito, uma abstracção, uma selecção, uma
construção do real social a partir de um enfoque teórico. O sociológico é
o domínio social sobre o qual se debruça a sociologia. O facto
sociológico é construído, fruto de uma abstracção /construção científica.

TÓPICO 6— TEXTO DE APOIO 9 “A EXPLICAÇÃO E


INTERPRETAÇÃO EM CIENCIAS SOCIAIS”
Marx e o materialismo histórico. Na sua tese materialista ele considera
as ideias como produtos do cérebro humano. A consciência humana é
condicionada pela dialéctica entre sujeito e objecto, na qual o homem dá
forma ao mundo em que vive, sendo também formado por ele.
Para Marx a história é um processo de criação, satisfação e recriação
contínuas das necessidades humanas. É por essa razão que o trabalho
está na base da sociedade humana. Ele reclama a existência concreta
de uma ciência da sociedade, baseada no estudo da interacção
dinâmica e criadora entre homem e natureza. Marx identificou vários
tipos de sociedades com uma lógica de evolução própria. Para ele a
expansão da divisão do trabalho implica o progresso da alienação e da
propriedade privada. Para ele uma sociedade humana não é uma série
de indivíduos distintos.
Acredita que as classes só começam a existir quando os excedentes
da produção são em quantidade suficiente para que um grupo
exclusivista que deles se apropria passe a destacar-se claramente da
grande massa dos produtores. Segundo Marx o progresso da sociedade
é o resultante da interacção produtiva contínua que se estabelece entre
homens e natureza.

28
Uma classe deriva da posição em que os vários grupos de indivíduos
se encontram frente à propriedade privada dos meios de produção. O
modelo de relações de classes é o seguinte:
--todas as sociedades de classes se edificam com base numa linha
primária de divisão entre a classe dominante e a dominada.
--a divisão em classes implica uma relação conflitual.
Marx afirma ainda que a luta de classes difere de sociedade para
sociedade. As classes constituem o principal elo entre as relações de
produção e o resto da sociedade.
A ideia de totalidade do social é uma perspectiva da realidade que
consiste em procurar os laços entre os elementos. À priori, estes laços
podem segundo Mauss ser marcados pela integração das partes.
Segundo Weber pela sua autonomia. Segundo Durkheim pela
solidariedade e para Bordieu pelo seu distanciamento. Para Merton pela
sua complementaridade funcional e para Marx pelas contradições entre
eles.
Para Marx a sociedade também é uma totalidade que se caracteriza
por um sistema de contradições entre as suas componentes estruturais
e de conflito entre os seus actores.
Contributo metodológico de Marx:
1-o primeiro ensinamento é a perspectiva relacional dos fenómenos
sociais. As classes sociais têm interesses diferentes. As relações entre
as classes dominantes e dominadas são de exploração económica e de
dominação politica e ideológica. A luta de classes é sem duvida um dos
motores da história e das transformações sociais.
2-a obra de Marx visa a interpretação da realidade social mas também
a sua transformação. Visa acordar consciências, critica e ajuda os
actores a libertarem-se de condições injustas.

29
3-para Marx as relações sociais e o sistema dinâmico que constituem
devem ser estudados no seu contexto histórico concreto.

TEXTO 10-SOBRE A TEORIA DE EMILE DURKHEIM


Durkheim e o positivismo sociológico
O que é um facto social? São todos os fenómenos que ocorrem na
sociedade. São maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam
a propriedade de existir fora das consciências individuais. É toda a
maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior.
Os factos sociais são exteriores ao indivíduo, dotados de um poder
imperativo e coercivo, em virtude do qual se lhe impõem.
Os factos sociais não se confundem com outros porque são
representações e acções. É incontestável que a maior parte das nossas
ideias e tendências não são elaboradas por nós mas antes nos vêm do
exterior.
Analise sociológica de Emile Durkheim sobre a realidade social.
Os fenómenos sociais são modelos colectivos. É um estado do grupo
que se repete nos indivíduos porque se impõe a eles.
A 1ª regra e a mais fundamental é considerar os factos sociais como
coisas. Os factos sociais não se realizam senão através dos humanos,
são um produto da actividade humana. Tratar fenómenos como coisas é
trata-los na qualidade de data que constituem o ponto de partida da
ciência.
Consciência colectiva é um conjunto de crenças e de sentimentos
comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um
sistema que tem a sua vida própria.

30
Explicar o social pelo social. Não se podem explicar os fenómenos
sociais com causas individuais. Há então a necessidade de uma
explicação sociológica que se resume “explicar o social pelo social”.
Solidariedade sacanice e orgânica
Durkheim considera que o facto maior da modernização das nossas
sociedades reside num processo de diferenciação social. Do seu ponto
de vista qualquer sociedade deve assentar na solidariedade entre os
que a constituem, laços que asseguram e mantêm a coesão mínima.
Distingue assim 2 tipos de solidariedade:
1-solidariedade mecânica, aquela que prevaleceu nas sociedades pré-
industriais, baseada na similitude entre os indivíduos que partilhavam
valores e as mesmas competencias. Neste tipo de sociedades a
consciência colectiva dominava as consciências individuais.
2-solidariedade orgânica, aquela que prevalece nas sociedades
modernas, tecnicamente avançadas. Esta solidariedade é baseada nas
diferenças e na complementaridade entre os indivíduos e na divisão do
trabalho. O individualismo é a sua maior característica.
A diferenciação social representa a passagem de um tipo de
solidariedade para outro, assim como o desenvolvimento da divisão do
trabalho nas sociedades de solidariedade orgânica. A diferenciação
social constitui a solução pacífica que as sociedades elaboraram para
fazer face à pressão demográfica temida por Malthus. Assim podemos
dizer que a sociedade moderna, caracterizada pela diferenciação social,
é uma totalidade onde participam:
--a divisão do trabalho
--a organização racional de tarefas
--a especialização
--o individualismo

31
Durkheim e a concepção holística. Ele considera que o todo que a
sociedade constitui sobredetermina os indivíduos que dela fazem parte,
as suas ideias e os seus comportamentos. O holismo de Durkheim
explica-se em grande parte pelos conflitos intelectuais em que o autor se
encontrou na sua época.
A divisão do trabalho para Durkheim.
Para ele não é um fenómeno novo. O contacto entre os diferentes
modos de vida e crenças dessas sociedades contribuiu para desfazer a
homogeneidade que os grupos mantinham enquanto isolados. A divisão
do trabalho intensificou-se na medida em que há mais indivíduos que
passam a manter entre si contacto suficiente para poderem agir e reagir
uns sobre os outros. À frequência destes contactos Durkheim chama
dinâmica ou densidade moral. A divisão do trabalho está na origem do
declínio da universalidade da consciência colectiva.
O individualismo e a anomia
Nas sociedades contemporâneas a solidariedade mecânica é
suplantada pela solidariedade orgânica. Se na teoria utilitarista a
sociedade era de ordem moral, agora a consciência colectiva das
sociedades reforçou-se e definiu-se no que se refere a um aspecto
específico que é o culto do indivíduo. O culto do indivíduo é o
equivalente moral do progresso da divisão do trabalho. Mas não é a
única base da solidariedade orgânica, pois a divisão do trabalho só
produz solidariedade se for espontânea.
A Anomia é um factor constante e especifico das sociedades
modernas. As flutuações económicas geram condições anomicas de
desregramento moral. A anomia é um fenómeno patológico e não deve
ser considerado uma característica das sociedades contemporâneas.

32
O método sociológico de Durkheim
A tentativa de Durkheim no sentido da definição da especificidade do
social baseia-se nos critérios de exterioridade e constrangimento:
--os factos sociais são exteriores ao indivíduo
-- A sociedade já constituída condiciona a personalidade individual.
Durkheim considera que nenhuma teoria ou análise que parta do
indivíduo em qualquer sentido, poderá apreender as propriedades
específicas dos fenómenos sociais.

TEXTO 11 – “O ESPIRITO DO CAPITALISMO DE WEBER”


Weber rejeita o materialismo histórico e todos os esquemas teóricos de
interpretação histórica, tanto o idealista como o materialista.
Subjectividade e objectividade em Weber:
A diferenciação necessária entre sujeito e objecto não implica o
sacrifício da objectividade nas ciências sociais. Weber segue Kant no
que à epistemologia diz respeito.
Os juízos de valor não podem ser validados através da análise
científica mas isso não quer dizer que tenham que ser eliminados. Para
weber não pode haver uma ética universal.
Juízos de facto e juízos de valor:
A ciência não pode validar ideais culturais ou juízos de valor. Weber
quer compreender a originalidade característica do mundo em que
vivemos. No entanto não pode haver uma descrição científica completa
da realidade. Toda a forma de análise científica implica uma selecção
operada a partir da infinidade da sua realidade.
A elaboração de tipos ideais
Ao definir as características formais dos conceitos de tipo ideal, weber
pretende explicitar processos que já aplicara na prática.

33
Um tipo ideal é elaborado através da abstracção de um nº indefinido de
elementos extraídos da realidade que não nos surgem dessa forma. O
tipo ideal contribui para facilitar a descrição e a explicação.
Um tipo ideal é um tipo puro num sentido lógico e não num sentido
exemplar. A utilidade do tipo ideal só pode ser avaliada em relação a um
problema concreto. O tipo ideal é criado, modificado e aperfeiçoado
através da analise empírica de problemas concretos, contribuindo para
que essa analise tenha mais precisão. Todo o conceito descritivo pode
ser transformado num tipo ideal. Esta transição faz-se quando
passamos da classificação descritiva dos fenómenos para a análise
explicativa ou teórica.
Sociologia interpretativa
A sociologia interpretativa deve basear-se em técnicas fixas de
interpretação do significado que podem assim ser comprovadas de
acordo com o método científico. Weber distingue 2 tipos básicos de
apreensão interpretativa do significado:
--o primeiro tipo é a compreensão directa ou seja, compreender o
significado da acção através da observação directa.
--o 2º tipo é a compreensão explanatória e implica a intervenção de um
motivo que estabelece a ligação entre a actividade observada e o seu
significado. Isto pode acontecer de forma racional ou irracional.
A sociologia interpretativa não implica a conotação de que os
fenómenos sociais poderiam ser explicados por redução em termos
psicológicos.
Relações sociais/conduta social/acção social
A acção social inclui todas as condutas humanas orientadas para o
comportamento previsível passado, presente e futuro de outras pessoas.

34
A relação social existe quando há reciprocidade por parte de 2 ou mais
indivíduos, onde cada um dos quais relaciona a sua acção aos actos do
outro.
Weber identifica 4 tipos de orientação da conduta social:
--a conduta racional nos propósitos
--a acção racional de valor (ideal dominante)
--a acção afectiva (influenciada pela emoção)
--a acção tradicional (influenciada pelos costumes)
A legitimidade, o domínio, a autoridade, tipos de dominação e o
estatuto social
O conceito de dominação refere-se apenas aos casos de exercício do
poder em que um agente obedece a uma ordem específica de outrem.
Weber distingue 3 tipos ideais de legitimidade como base da relação de
domínio::::
--a tradicional ou crença do que está estabelecido
--a carismática, com líder a quem os outros atribuem capacidades
--a legal ou seja a autoridade legal superior.
Classes e grupos sociais
Weber rejeita todas as teorias de evolução histórica incluindo o
hegelianismo e o marxismo. Para Weber as 3 dimensões da
estratificação são:
--a classe
--o grupo social
--o partido
Weber concorda com Marx que a ausência de posse de propriedade é
a principal distinção em que se baseia a divisão de classes num
mercado competitivo.
Weber identifica no capitalismo as seguintes classes:
--a classe de trabalhadores manuais

35
--a pequena burguesia
--os empregados administrativos, os técnicos e os intelectuais
--os grupos empresariais e proprietários que são os grupos
dominantes.
O estatuto social de um indivíduo é em função do juízo que os outros
fazem dele e da sua posição social, atribuindo-lhe um grau de prestígio
ou consideração.
Um grupo social é constituído por um certo número de indivíduos que
partilham do mesmo estatuto social.
Um partido é qualquer associação voluntária que se propõe apoderar-
se do controlo directivo de uma dada organização a fim de promover
uma politica no interior de uma organização.
O espírito do capitalismo e a abordagem metodológica de Weber
A racionalização
A racionalização caracteriza com efeito o desenvolvimento das
sociedades ocidentais. A racionalidade constitui o seu maior traço
cultural: a ciência, as técnicas, a organização da vida publica, etc. o
fenómeno da racionalização distingue o capitalismo de outras formas de
procura do lucro consideradas por Weber como irracionais, pois são
baseadas nas oportunidades ou na violência das guerras e da pilhagem.
Weber não considera o capitalismo moderno superior as outras formas
de economia. Ele acha que o capitalismo se imporá no mundo inteiro. A
racionalização geral das sociedades ocidentais tem por base e por
motor a racionalização económica.
O espírito do capitalismo traduz-se em:
1-cada um tem o dever de fazer crescer o seu dinheiro
2-construir um objectivo em si mesmo
3-o dever cumpre-se no exercício de uma profissão
4-o lucro deve surgir do controlo da despesa e do investimento.

36
5-a riqueza não deve ser exibida.
Este foi o tipo ideal de Weber do espírito do capitalismo. Uma utopia.
O que a ética protestante tem em comum com o espírito do capitalismo
é que ambos participam do mesmo movimento e partilham o mesmo
fundamento: a racionalização da existência e da sociedade.
Tipologia é um conjunto de tipos destinados a apreender e a comparar
a especificidade de múltiplos fenómenos de uma certa ordem, na
ocorrência, formas de dominação politica. O tipo ideal e a tipologia
constituem instrumentos metodológicos. Não são dados nem
construídos à priori.
A Compreensão
O trabalho da compreensão é mais do que uma perspectiva intuitiva.
Weber situa a acção social no seu contexto relacional e cultural e leva
em conta as suas dimensões funcionais. As hipóteses produzidas pelo
trabalho de compreensão devem ser confrontadas e corresponder ao
que outros métodos dizem, como as análises estatísticas ou outros.

TEXTO 12 – “CULTURA E TRAÇOS CULTURAIS— CONCEPÇÃO


UNIVERSALISTA EDA CULTURA”
A cultura é tudo o que é colocado pelo homem no ambiente. Inclui as
técnicas, o direito, a moral, os costumes, etc. a aptidão para criar cultura
é o que distingue o homem dos animais. O homem é essencialmente um
ser de cultura.
A cultura pode ser decomposta em elementos componentes ou seja
em traços componentes entendidos como as unidades menores
individualizáveis.
Os traços agrupam-se em complexos de cultura. Os complexos de
traços combinam-se segundo formas que são próprias de cada cultura e
permitem a identificação de padrões de cultura.

37
Temos uma área cultural quando a observação mostra que temos
muitos padrões culturais comuns a povos vizinhos e que se estendem
por uma área vasta. A área cultural é delimitada pela presença de
padrões culturais idênticos.
Para Tylor a cultura é a expressão da totalidade da vida social do
homem. Ela é adquirida e não revela hereditariedade.
Entre primitivos e civilizados não há diferenças na natureza, somente
no grau de avanço no caminho da cultura. Tylor é o 1º a leccionar
antropologia em Inglaterra. A ele se deve o 1º conceito científico de
cultura.
Já F.Boas é o inventor da etnografia e o fundador do método indutivo e
intensivo de campo. Criou também o método monográfico. Para ele, as
diferenças entre os homens são de ordem cultural e não racial. A ele
devemos o conceito de relativismo cultural enquanto princípio
metodológico. A cultura é dotada de um estilo particular que se exprime
na língua, na crença, nos costumes, na arte, etc.
Durkheim e a cultura
1-Não utilizava o conceito de cultura mas sim o de civilização.
2-Para ele os fenómenos sociais são compostos por uma dimensão
cultural uma vez que são também fenómenos simbólicos.
3- A sua reflexão sobre cultura não forma um conjunto unificado.
Contudo a civilização para ele constituía “um sistema complexo e
solidário”

TEXTO 13—“FORMAS DE SOCIABILIDADE”


A sociabilidade é a forma como os indivíduos desenvolvem juntos
unidade que satisfazem os seus interesses. Estas formas são
caracterizadas pelo sentimento que os que nelas participam têm de
estar associados e o prazer que daí retiram.

38
Um sistema é um processo em evolução que se caracteriza por certas
relações estáveis e outras em via de transformação. Um sistema social
é um sistema adaptativo que se manifesta em 3 aspectos:
--adaptação ao meio físico ou adaptação ecológica.
--adaptação institucional ou seja aos vários componentes da vida
social.
--adaptação cultural ou seja o processo de aquisição pelos indivíduos
dos comportamentos próprios da cultura do grupo.
Uma estrutura social é o ordenamento particular das partes que
constitui o todo social. A relação entre um traço social e a estrutura é a
sua função.
Para Gurvitch há 2 conceitos importantes: relação social e interacção
social. Para ele as formas de sociabilidade são fenómenos sociais totais.
Distingue sociabilidade espontânea de expressões organizadas da
sociabilidade. Aparecem na sua análise a sociabilidade activa e a
passiva.
Grupos sociais
Os grupos situam-se no plano macro-sociológico e estão mais perto
dos níveis rígidos e organizados do social do que as formas de
sociabilidade.
Cada indivíduo é membro de vários grupos, a cada um dos quais dão
uma individualidade própria.
Gurvitch define grupo como sendo uma unidade colectiva real mas
parcial, que é observável e assente em atitudes colectivas, continuas e
activas. Os grupos são assim unidades colectivas com uma grande
variedade de formas de sociabilidade, integrados nas sociedades
globais, das quais são elementos constitutivos.

39
Um grupo social é um sistema de interacção social. Todos os grupos
são feitos de relações sociais mas nem todas as relações sociais
formam grupos.

TEXTO 14— A SOCIALIZAÇÃO


Socialização primária
O indivíduo nasce com predisposição para a sociabilidade e torna-se
membro da sociedade. O ponto inicial deste processo é a interiorização
ou seja a apreensão imediata de um acontecimento objectivo que se
torna significativo. A interiorização constitui a base da compreensão dos
nossos semelhantes e a apreensão do mundo como realidade
significativa e social.
A socialização é a completa e consistente introdução de um indivíduo
no mundo objectivo de uma sociedade.
A socialização primária é aquela que o individuo experimenta na
infância e em virtude da qual se torna membro da sociedade. A criança
assume os papéis e atitudes dos outros, significativos. A socialização
secundária é qualquer processo que introduz o indivíduo socializado em
novos sectores do mundo objectivo da sua sociedade.

TEXTO APOIO 15— PAPEIS SOCIAIS


As expectativas não se impõem todas com a mesma força. Existem 3
tipos:
1-expectativas necessárias são as que são sancionadas pela lei e á
qual a sociedade pode recorrer a fim de obrigar os cidadãos a respeitar
a lei. Teoricamente a expectativa necessária impõe-se completamente e
o detentor de um papel tem apenas uma liberdade. As expectativas
necessárias são obrigatórias.

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2-as expectativas obrigatórias são aquelas que são exercidas no seio
de um grupo social, que podem ser contornadas, pois não implicam
sanções rígidas.
3-expectativas facultativas. Não há sanções. Os outros membros do
grupo deixam simplesmente perceber ao infractor que ele agiu mal. O
escândalo e o medo do escândalo são uma sanção e um meio de
pressão. As expectativas facultativas são compensadas por sanções
positivas. Desempenhando bem o seu papel, ela coopera com o
funcionamento social e toda a gente mostra o seu reconhecimento.
A pressão da sociedade é exercida mais através de sanções positivas
do que negativas. Negativas só mesmo as jurídicas.
Pode surgir o conflito entre as expectativas dos vários papéis sociais.
Encontrar um equilíbrio entre as expectativas conflituais constitui a
tarefa de cada indivíduo, utilizando a personalidade e outros jogos de
papéis. O papel do conformista é conformar-se de acordo com a forma
mais exacta possível ás expectativas institucionalizadas. O papel do
desviacionista é desviar-se o mais possível do comportamento normal
aceitando as sanções ou fugindo delas. No limite pode ser um
hiperconformista.
PAPEL SOCIAL
Papel social são todos os nossos papéis na sociedade. O papel social
existe na relação com os outros papéis. Ex: eu só sou pai se houver um
filho. Só sou sindicalista se houver um sindicato.
Ao longo da vida representamos muitos papéis, alguns individualizados
outros em conjunto. Os papéis sociais diferem no grau de importância e
amplitude, na medida em que eles entram todos numa grande variedade
de situações.
Linton distinguiu entre papéis atribuídos e papéis realizados.
Já Banton distinguiu papéis básicos de específicos e intermediários.

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Há um conflito potencial dentro do conjunto de papéis, tal como há
conflito entre os diferentes papeis.

TEXTO 16— VIDA QUOTIDIANA


O quotidiano não pode ser tomado como uma categoria distinta do
social. A sociologia da vida quotidiana deve avançar para o social,
enfrentando-o.
Teoria do alcance médio
Foi desenvolvida por Merton. As teorias de alcance médio situar-se-
íam numa zona intermédia entre as perspectivas e as hipóteses mais
detalhistas da investigação e as especulações e teorizações mais
integrais e globalizantes. O que importa é vincular a historicidade
absoluta de um acto à generalidade de uma estrutura social.
Para Balandier:
A especificidade da sociologia da vida quotidiana deriva de duas
características:
1-centra a sua interrogação sobre o sujeito individual, suas relações
próximas e regulares e não sobre os grandes dispositivos sociais, como
agrupamentos ou organizações.
2-ela estuda as práticas e representações através das quais esse
sujeito prepara e negoceia quotidianamente a sua inserção social.
O quotidiano não é apenas o espaço de realização de actividades
repetitivas: é também um lugar de inovação.
Gofman definiu a ritualização do quotidiano: os actos são uma
promessa de continuidade. Tal como a música também o quotidiano é
uma repetição.

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Principais correntes na analise do quotidiano
As duas principais teorias:
O FORMALISMO
O formalismo teve os contributos de Simmel, Balandier e Javeau. Os
formalistas vêm o quotidiano não como um objectivo mas como uma
forma oposta ao social. A existência quotidiana é composta pela
teatralidade e o seu estudo passa pela observação do jogo das formas
sociais que lhe estão associadas. A forma aparece, por conseguinte,
como princípio do conhecimento e a matéria de uma realidade não é
conhecida senão através da forma. Para os formalistas a investigação
não deve ser determinada por aquilo que um objecto social é, mas pela
forma como ele se dá a conhecer. Consideram o bom senso popular
como o mecanismo estruturador da sociedade. A realidade está cheia
de simbolismo para os formalistas.
O INTERACCIONISMO
Defendem que as estruturas e as organizações estabelecem as
condições para o desenvolvimento das unidades de interacção mas não
as determinam. Abordam a análise da realidade a partir do carácter e
das motivações dos seus participantes. Da sua abordagem expulsam a
história, o sistema de produção e as classes sociais. A realidade fica
configurada a emoções, sentimentos e sensações. O Interaccionismo é
uma expressão de uma nova cultura feita de vibrações, contactos, face
to face, etc. é uma decomposição das estruturas de dominação.

TEXTO 17— A MUDANÇA SOCIAL, SOCIEDADE GLOBAL E


TEORIAS DE RISCO
As principais influências sobre a mudança social são o ambiente físico,
a organização politica e os factores culturais. A influencia destes
factores varia com o tempo e o lugar.

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--as influencias económicas, neste caso o capitalismo industrial e a sua
influencia no modo de vida dos indivíduos, foi um dos grandes factores
no sentido da mudança social.
--as influencias politicas, dizem respeito às lutas entre nações por
causa de territórios e o poder militar.
--as influências culturais aconteceram por via do desenvolvimento da
ciência e a secularização do pensamento.
Ocorreram também alterações ao nível das ideias, como o
aperfeiçoamento pessoal, da liberdade, da igualdade, da participação
democrática, etc.
Consequências da modernidade e a modernização reflexiva de
Giddens
(na linha de pensamento de Marx, Weber e Durkheim)
Giddens define a 1ª modernidade como sendo contra as tradições e a
favor da organização da vida colectiva de acordo com os critérios da
razão. À ciência confiava-se tudo. Neste universo racional, surge o
século XX, o século das guerras. Tudo apoiado na ciência.
Actualmente as sociedades não rejeitam a ciência nem a razão.
Continuam modernas, mas agora numa modernidade reflexiva, em que
a própria razão questiona as suas pretensões e os seus fundamentos.
Giddens considera que a sociedade reflexiva revê constantemente as
praticas sociais, à luz das novas informações respeitantes a estas
mesmas práticas, o que altera de uma maneira constitutiva o seu
carácter.
Existe agora a ideia de auto-analise quer para os grupos quer para os
indivíduos. A reflectividade transforma mesmo a relação de cada um
consigo próprio e com o mundo na vida de todos os dias.

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Ulrich Beck: a sociedade de risco
Os riscos de que Beck fala são aqueles que escapam ao controlo dos
indivíduos, mas também das organizações: acidentes nucleares,
consequências do desenvolvimento industrial, desastres ecológicos, etc.
os riscos globais que corremos são elementos chave do carácter
descontrolado da modernidade. Um dos pressupostos da modernidade é
o da racionalidade instrumental da ciência. Mas este pressuposto é
contrariado pelo sentimento “do destino” quando se pensa em nuclear
ou num terramoto. Este sentimento de medo e da existência de um risco
fora do controlo mina a confiança básica nos sistemas institucionais da
modernidade.
Na perspectiva de Beck a modernidade reflexiva é indissociável da
questão do risco, já que o desenvolvimento industrial não acontece sem
riscos. O risco aparece quando existe tomada de decisão. Os riscos
apresentam uma imagem do processo de construção social da realidade
e o lugar da sociedade reflexiva.
Estes riscos contemporâneos são diferentes dos anteriores pois
transgridem fronteiras, são locais e globais ao mesmo tempo. Nenhuma
classe social ou nação estão ao abrigo de riscos. O risco é hoje objecto
de politização e está na origem de muitos movimentos sociais como os
pacifistas e anti-nucleares, os ecologistas, etc.

FIM

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