JESUS

e o SÁBADO

SÁBADO ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Dr. Vanderlei Dorneles

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O NT se refere ao sábado com a palavra sábbaton 62 vezes.

Mateus: 11 vezes João: 11

Marcos: 10 Atos: 9
Lucas: 19

Episódios:

1) Frequência às sinagogas 2) Os discípulos colhem espigas no sábado

3) Curas e milagres no sábado 4) Que a fuga “não se dê” no sábado
5) No contexto da morte e ressurreição

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Mateus 12 e a guarda do sábado

Em Mateus 12:1-8, Jesus discute com os fariseus porque os discípulos colhiam

espigas no sábado, atividade que a lei proibia (Êx 34:21; cf. Êx 16).

A lei permitia “colher” espigas ao passar por uma seara (Dt 23:25) e as que caíam
atrás dos segadores (Lv 19:9-10; 23:22; Dt 24:19). Mas a Halakah proibia a prática
no sábado.

Atitudes de Jesus: (1) autoriza os discípulos, (2) afirma ser “maior que o templo” (v.
6) e “o Senhor do sábado” (v. 8) e (3) diz querer “misericórdia e não holocausto” (v.
7). Na sequência cura o homem da mão ressequida, afirmando ser lícito “fazer o
bem” aos sábados (Mt 12:12).

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Os trabalhos proibidos no Shabat

1. Arar 35. Destruir ou
15. Tingir 25. Caçar
2. Semear demolir (com a
16. Fiar 26. Abater
3. Colher intenção de
17. Esticar o fio para 27. Pelar o couro
4. Agrupar a colheita reconstruir no local),
prepará-lo para tecer 28. Curtir o couro
5. Debulhar 36. Acender fogo
18. Passar o fio entre 29. Alisar o couro
6. Dispersar o grão ao vento 37. Apagar fogo (ou
dois anéis 30. Demarcar o
7. Selecionar e separar diminui-lo)
19. Tecer couro (para cortá-lo)
8. Moer 38. Terminar a
20. Desfazer os fios a 31. Cortar (seguindo
9. Peneirar manufatura de
fim de retocá-los uma certa medida)
10. Fazer massa qualquer objeto
21. Atar, 32. Escrever
11. Assar/cozinhar/fritar 39. Transportar de
22. Desatar 33. Apagar escritos
12. Tosquiar propriedade
23. Costurar 34. Construir
13. Lavar particular para
24. Rasgar
14. Desembaraçar a lã não pública e vice-versa.
intencionando suturar
trabalhada
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A acusação dos fariseus

1) Mt 12:2: “Os teus discípulos fazem o que não é licito fazer em dia de
sábado.”
2) Jo 5:18: Jesus não só “violava o sábado”, mas se fazia igual a Deus.
3) Jo 9:14: “Era sábado o dia em que Jesus fez lodo e lhe abriu os olhos”.
4) Jo 9:16: “Por isso, os fariseus diziam: Jesus “não guarda o sábado”.

“O chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse à

multidão: Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, nesses dias para serdes
curados e não no sábado” (Lc 13:14).

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Muitos intérpretes entendem que Jesus de fato aboliu o sábado.

“É um engano pensar que Jesus não atacou o mandamento do sábado

em si, mas somente os refinamentos casuísticos dos fariseus. O sábado
tinha falhado em seus propósitos divinos, e, consequentemente, a
rebelião contra ele ou o abandono não era mais pecado. O mandamento
do sábado havia escravizado os seres humanos.”

Willy Rordorf, Sunday: The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest
Centuries of the Christian Church. 1968, 62.

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Mateus 12 e a guarda do sábado

Questões:

1) O episódio tem a ver com o sábado em si ou com a maneira de guardá-lo?

2) Qual é o contexto do evento das “espigas”, em Mateus?
3) Quais as implicações dos textos citados na argumentação de Jesus?
4) Com base neste texto, quem está autorizado a “colher” no sábado?
5) Com base neste texto, o que está incluído na frase “fazer o bem”?

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Mateus 12 e a guarda do sábado

Jesus fundamenta sua resposta mencionando Davi:

Qual era a condição física de Davi em Nobe?

1) Davi e seus homens estavam famintos, por isso comeram dos pães sagrados
(1Sm 21:6; cf. Êx 29:32). Discípulos
2) Mateus 12 usa a palavra “fome” (verbo peináo, aoristo) duas vezes.
Davi e seus
Mt 4:2: “Tendo jejuado 40 dias … Ele era um faminto” (KJV). homens
Mt 25:35: “Eu era um faminto, e me destes de comer” (KJV).
1Co 4:11: “Estamos passando fome, sede e necessidade de roupas”.
Ap 7:16: “Nunca mais passarão fome” (KJV).

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Mateus 12 e a guarda do sábado

Jesus fundamenta sua resposta mencionando Davi:

O que Davi estava fazendo?

1) Ele foi ao templo que então estava em Nobe, ao norte de Jerusalém (1Sm 21:1).
2) Ele e seus homens estavam famintos (v. 3).
3) Ele estava em “campanha” (1Sm 21:5).
4) Ele fora ungido por Samuel para ser rei e estava sob o Espírito Santo (16:13).
πνεῦμα κυρίου ἐπὶ Δαυιδ (1Sm 16:13).
πνεῦμα κυρίου ἐπ᾽ ἐμὲ [Cristo] (Lc 4:18).
5) As batalhas de Davi eram batalhas do Senhor (17:47; cf. Js 1:9).

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Mateus 12 e a guarda do sábado

Jesus fundamenta sua resposta mencionando:

2) Os sacerdotes “violam” [bebeluo, profanar] o sábado.

Nm 28:9-10: “No sábado, oferecerás dois cordeiros de um ano, sem defeito, e duas
décimas de flor de farinha, amassada com azeite … além do holocausto contínuo”.
Jo 7:22, 23: “Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (se bem que ela não
vem dele, mas dos patriarcas), no sábado circuncidais um homem ... para que a lei de
Moisés não seja violada”.

Os sacerdotes servem no templo e, por isso, podiam “violar” o sábado.

Os fariseus admitiam isso.
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Mateus 12 e a guarda do sábado

Jesus fundamenta sua resposta mencionando os sacerdotes

Contexto de Mt 12: Jesus envia os doze a evangelizar.
1) 9:36: Jesus se compadece das multidões, que são como “ovelhas que não têm pastor”.
2) 10:1: Ele outorga “autoridade” aos discípluos para curar “toda sorte de enfermidades”.
3) 10:5: Ele envia os doze para a “seara” (9:37). Eles passam pelas “searas” (12:1).
4) 10:8: O trabalho deles: “curai os enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli
demônios…”
5) 10:9, 10: “Não vos provereis … porque digno é o trabalhador de seu alimento”.
Mc 6:8, Lc 9:3: “não vos provereis … nem de pão”.
6) 10:40: A obra deles é a mesma de Jesus: “quem vos recebe, a mim me recebe”.
7) 11:1: “Tendo acabado Jesus … partiu dali a ensinar e a pregar”.
8) 12:1: “Por aquele tempo, em dia de sábado…” (cf. 11:25).
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Mateus 12 e a guarda do sábado

Jesus fundamenta sua resposta mencionando:

Ambas as citações são precedidas da frase: “Não lestes…?”

A frase não indica que os judeus falhavam por não ler as Escrituras. A
pergunta é retórica (Mt 12:3, 5; cf. 19:4; 21:16; 21:42: 22:31).

1) O que justifica os discípulos ao “colher espigas” no sábado?

O mesmo motivo que justificou Davi ao “comer” os pães da proposição.

O mesmo que justificava os sacerdotes ao “profanarem” o sábado.
Eles estavam em missão.
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Mateus 12 e a guarda do sábado

Jesus finaliza

(1) Proclamando sua autoridade: “Aqui está quem é maior que o templo”
(v. 6; Is 66:1-2; cf. Mt 9:13) e “o Filho do Homem é senhor do sábado”
(v. 8).
Logo, os discípulos estão em igualdade com os sacerdotes.

(2) Afirmando querer “misericórdia e não holocaustos” (v. 7; Os 6:6).

Logo, “o trabalhador é digno de seu alimento” (Mt 10:10).

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Mateus 12 e a guarda do sábado

Os dois eventos de Mt 12 são precedidos pelo convite de Cristo:

“Vinde a mim, todos que estais cansados e sobrecarregados [phortizo], e

Eu vos aliviarei. Tomai sobre vos o meu jugo [zugos] e aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso
[anapausis] para vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu
fardo [phortion] é leve” (Mt 11:28-30).

Qual é a implicação dessa estrutura literária?

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Mateus 12 e a guarda do sábado

O verbo phortizo (sobrecarregar) em Lucas 11:46 se refere à

interpretação judaica da lei, que se tornara num fardo pesado (cf. Mt
23:4). Em contraste, o phortion de Jesus é “leve” (Mt 11:30).

Por sua vez, o termo zugos (“jugo”) também era usado em referência à lei
como interpretada pelos rabinos (At 15:10; Gl 5:1).

Ao contrastar o “jugo” pesado do farisaísmo com o de Jesus que é “leve”,

o texto indica que o que Jesus quebra não é o sábado da lei, mas o
sábado da Halakah, que se tornara num fardo pesado.
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Mateus 12 e a guarda do sábado

Jesus apresenta uma interpretação humanizada e correta da lei, que a caracteriza

como um “jugo suave”. Nesse contexto, Ele diz que o sábado foi feito por causa do
“homem” (anthropos), para benefício do homem (Mc 2:27).

O judaísmo fizera da lei e do sábado um fardo para os judeus, mas Jesus propõe um
novo fardo, que é “leve”, no qual o sábado é uma bênção, não um holocausto.

Alguns argumentam que o uso do verbo ginomai (“feito”, Mc 2:27) para a “feitura” do
sábado indica que o sábado foi simplesmente provido, não indicando o sábado como
parte da “criação”. No entanto o uso implícito do mesmo verbo para a criação do
homem indica que o sábado também foi “criado” a exemplo do homem.

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Mateus 12 e a guarda do sábado – conclusões

O texto está no contexto da pregação do evangelho. Nesse contexto,

1) A quem Jesus autoriza “colher espigas” no sábado? (Mt 12:3, 5).

Aos sacerdotes ou servidores do evangelho quando estão famintos.
Não satisfazer a fome nesse caso é fazer do trabalho de Deus um holocausto.

2) O que é “lícito” fazer no sábado? (Mt 12:10, 12; 10:7-8).

Pregar o evangelho, curar, purificar leprosos, expelir demônios: “fazer o bem”.

Os fariseus demonstraram não considerar o trabalho de Jesus e dos discípulos como

um sacerdócio. Por isso, eles não poderiam colher as espigas.

Entretanto, Jesus afirma que ali está “quem é maior que o templo” (Mt 12:6).
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Outras declarações dos evangelhos sobre o sábado

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Outras declarações sobre o sábado

Em Lucas 4:16, Jesus “segundo o seu costume” foi a sinagoga no dia de

sábado. A passagem indica uma prática habitual, a qual é narrada no
tempo da escrita do evangelho de Lucas sem nenhuma ressalva de
mudança posterior nesse costume.

A forma verbal eiwthos vem do verbo grego etho, que indica costume ou
prática distintiva que forma um “etos”. O substantivo grego ethos
significa literalmente “caráter moral”. A palavra é usada para descrever o
conjunto de hábitos ou crenças que definem uma comunidade ou nação.

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Outras declarações sobre o sábado

No texto de Mateus 24:20, ao Jesus afirmar que a fuga dos judeus não
se desse “no sábado nem no inverno”, sugere Ele que esperava que
seus discípulos estivessem guardando o sábado muito tempo após sua
ressurreição e ascensão.

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Outras declarações sobre o sábado

Em João 9, na cura do cego, Jesus faz saliva, unge os olhos dele e manda que se
lave no tanque de Siloé.

Ele quebrou a lei judaica em diversos aspectos: primeiro, poderia esperar até o fim
do sábado, a vida não estava ameaçada; segundo, amassar era das 39 atividades
proibidas; por fim, ungir os olhos era proibido em caso não emergencial.
Os três aspectos eram determinações casuísticas, não parte da lei moral. Isso indica
que Jesus “não guarda o sábado” (Jo 9:16) segundo a tradição judaica, não segundo
a lei de Deus.
As questões nos evangelhos não têm a ver com o sábado em si mesmo, mas
com a maneira de guardá-lo.
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