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INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS

Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a profecia não é uma simples predição do
futuro. Na linguagem popular, o profeta costuma ser visto como alguém que possui a
capacidade de prever o futuro, uma espécie de advinho. Porém, tanto n Antigo quanto no
Novo Testamento, ser profeta representa bem mais do que isso. A raiz da palavra hebraica que
traduzimos como “profeta” lembra os verbos anunciar e chamar. Profeta é, portanto, aquele
que é chamado a anunciar a vontade de Deus. A profecia é a proclamação da vontade de Deus
em relação ao seu povo e ao mundo.

Podemos dizer que o profeta é aquele que desempenha os seguintes papéis:


1) Denuncia o pecado de seu povo e as situações sociais injustas (Ex.: Amós)
2) Anuncia a libertação e a salvação, consolando os abatidos (Ex.: Deutero-Isaías)
3) Exorta os fiéis abatidos pelo desânimo a prosseguirem no caminho da fé (Ex.: Ageu e
Zacarias)

As mensagens proféticas consideram que todas as esferas da vida humana (política, religiosa,
econômica etc.) devem estar debaixo do domínio de Deus e percebem a ação de Deus nos
fatos históricos. Para melhor compreensão das profecias bíblicas devemos conhecer o contexto
onde as mesmas foram apresentadas.

No antigo Testamento encontramos um total de 17 livros proféticos, sendo 5 deles dos


chamados profetas maiores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) e 12 dos profetas menores.
Vale esclarecer que a ordem bíblica não é cronológica. Os profetas aparecem na seguinte
ordem histórica: Amós, Oséias, Isaías e Miquéias (Séc. VIII a.C.); Sofonias, Naum,
Habacuque, Jeremias e Obadias (Séc. VII a.C.); Ezequiel, Deutero-Isaías, Ageu, Zacarias,
Trito-Isaías, Malaquias, Jonas, Joel e Daniel (Sécs. VI a IV a.C.).

Na presente apostila, ao invés de seguirmos a ordem de apresentação da Bíblia, estudaremos


os profetas em ordem cronológica, visando facilitar o entendimento do momento histórico de
cada um.

Vale esclarecer, ainda, que o livro chamado de Isaías foram, na realidade, escrito por três
diferentes profetas, conhecidos como Isaías, Deutero-Isaías e Trito Isaías, os quais serão
estudados em separado, pois as respectivas partes do livro são bastante distintas e foram
escritas em épocas diferentes.

Os estudos aqui apresentados foram adaptados de material organizado por Zélia Constantino,
da Igreja Metodista do Catete, tendo como base as lições de autoria do Rev. José Carlos de
Souza publicadas nas revistas Cruz de Malta e Em Marcha do 2o quadrimestre de 1987.
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AMÓS

Amós é conhecido como “o profeta da justiça”. Seu nome significa “Javé carrega, leva”.
Conforme vemos no primeiro versículo do livro, o profeta era natural de Tecoa, uma pequena
vila do Reino de Judá, a uns 16 Km ao sul de Jerusalém. Amós era pastor e cultivava
sicômoros, uma fruta parecida com o figo. O estilo que ele usa para escrever, bem como as
imagens de que lança mão refletem sua origem.

Apesar de morar no campo, Amós conhecia bem a política internacional de sua época. Suas
profecias são conseqüência de uma irresistível vocação para denunciar as injustiças observadas
no Reino de Israel, inclusive nomeando os culpados, e proclamar o juízo divino. Seu ministério
foi curto e teve como cenário o Reino de Israel, na época de Jeroboão II (783 a 743 a.C.).
Enquanto profeta viveu na cidade de Betel e, talvez, também Samaria e Gilgal. Acredita-se que
ele tenha voltado à sua terra e retomado suas ocupações originais depois do incidente que teve
com Amazias, o então sacerdote de Betel.

Conforme estudamos quando vimos os livros históricos, Israel passou pelo trauma da grande
divisão dos reinos do sul (Judá) e do norte (o próprio Israel), ocorrida em 931 a. C.,
enfrentando inúmeras dificuldades. Depois, na época do Rei Onri (885 a 874 a.C.), a nação
experimentou uma certa estabilidade política, progresso e prestígio internacional. Foi,
inclusive, a época em que Samaria foi definida como a capital nacional. Logo, porém, as lutas
internas e o crescimento do poderio de Damasco como o novo centro internacional de
comércio enfraqueceram bastante o país. Em 805 a.C., a Assíria pôs fim ao domínio de
Damasco e criou uma nova oportunidade para o crescimento de Israel.

Na época de Amós, portanto, Israel gozava de uma nova época de progresso, além de contar
com um relacionamento pacífico com Judá e outros vizinhos. As grandes potências - Assíria e
Egito - estavam enfraquecidas. O país estava tão fortalecido que o reinado de Jeroboão
chegava a se comparar ao de Salomão, tamanha a riqueza de sua corte.

O desenvolvimento econômico possuía uma face perversa: Enquanto o país como um todo se
desenvolvia, a parcela menos favorecida da população ficava cada vez mais pobre. Essa
injustiça manifestava-se nos subornos nos tribunais; na opressão dos pobres; na exploração dos
devedores; no comércio fraudulento e na prostituição sagrada. Todos esses problemas foram
denunciados por Amós.

Um dos problemas mais graves, denunciado pelo profeta, é que os líderes religiosos
acobertavam tais pecados. A religião servia de fator de alienação. Enquanto as pessoas ficavam
cada vez mais pobres e explorados, havia grandes procissões e animados cultos, sem qualquer
preocupação com a transformação do presente. A esperança na chegada do Dia do Senhor
(quando Israel se tornaria a nação mais poderosa do mundo) estava servindo, indiretamente, de
apoio aos líderes corruptos.

Amós denuncia esta terrível situação de injustiça, com um brado forte de agonia. Ele não podia
aceitar que Israel, depois de ter sido liberto por Deus do Egito, permita que prospere em seu
reinado a escravidão entre irmãos. Ele sentiu-se irresistivelmente vocacionado para exercer sua
missão profética: “O leão ruge, quem não tem medo? O Senhor Javé manda, quem é que não
falará em nome dele?” (3:8).
A palavra do Senhor, apresentada por seu profeta é dura: O povo será castigado e o Dia do
Senhor será trevas e não luz (5:18); o culto, da maneira como é feito, não agrada a Deus
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(5:21:23). O altar e o templo, onde o povo imaginava encontrar a Deus serão por Ele
destruídos (9:1-4). Ninguém escapará ao juízo divino. Os ricos e poderosos não poderão
resistir, sendo réus de suas injustiças: “Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis tributo
de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas que tendes edificado” (5:11)

É nesse contexto que Amós proclama que Deus não quer cultos e sacrifícios e sim justiça:
“Quero ver brotar o direito como uma mina, correr a justiça como uma bica que não seca”
(5:24). Sua posição lhe valeu a inimizade de Amazias, o sacerdote de Betel, que denunciou-o
como conspirador ao rei Jeroboão. Como resposta à acusação contra ele levantada, Amós
limita-se a invocar seu chamamento divino: leia 7:14-15.

No final do livro, encontramos uma promessa preciosa, da verdadeira restauração de Israel, a


restauração espiritual (leia 9:11 a 15). Fica, portanto, a certeza de que os justos não devem
temer o futuro, enquanto os ímpios devem ser alertados de que há um Deus justo, que lhes
cobrará por seus atos.

A mensagem deste livro é bastante atual. Vemos claras coincidências entre a situação do nosso
país hoje com o de Israel daquela época. Os ricos continuam explorando os pobres e enquanto
a economia se desenvolve aumenta a miséria. Muitas seitas têm surgido com o mesmo enfoque
alienante denunciado pelo profeta. Infelizmente, mesmo entre as igrejas cristãs ganham força,
por vezes, doutrinas que estimulam o derrotismo e pedem aos fiéis que se preocupem somente
com a vida eterna, desligando-se de sua obrigação de ser sal da terra e luz do mundo,
conforme ordenado por Jesus. Devemos estar alerta para não cairmos, sem perceber, neste tipo
de armadilha.
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OSÉIAS

Oséias, cujo nome significa “Javé salva”, ficou conhecido como o profeta do amor. Não
sabemos muito sobre sua origem. Ele é apresentado como filho de um tal Beeri, desconhecido
para nós. Sendo originário do Reino do Norte (Israel), lá desenvolveu seu ministério profético.

Nada sabemos sobre sua profissão, mas pelo conhecimento que demonstrou possuir sobre as
intrigas da corte, podemos supor que ele pertencia às classes altas, talvez mesmo aos círculos
sacerdotais.

Seu estilo é forte e dramático, refletindo seu drama pessoal, que teve início quando se casou, a
mando do Senhor, com uma prostituta. Na verdade, tratava-se não de uma prostituta
comercial, que vende o corpo para sobreviver. Pela palavra utilizada na língua original, vemos
que era uma prostituta sagrada, que entregava-se nos cultos a Baal. Oséias desposou-a e
procurou torná-la uma esposa fiel, mas foi por ela abandonado. Apesar disso, ele continua a
amá-la e a retoma posteriormente.

Sua experiência matrimonial serve para que Oséias entenda melhor a infidelidade de Israel, que
por sua infidelidade a Javé é rejeitada, mas terá oportunidade de se reconciliar com Deus,
devido ao grande amor deste.

Oséias exerceu seu ministério entre 752 e 735 a.C., sendo, portanto, contemporâneo de Amós
e vivenciando os mesmos dramas dele. Assim, o profeta critica as classes governantes de Israel
e os reis “escolhidos contra a vontade de Javé”, bem como os sacerdotes que conduziam o
povo à perdição (5:1). Como Amós, Oséias critica também a injustiça e a violência. Porém, o
centro de sua mensagem é mesmo a infidelidade religiosa e o amor do Senhor, sempre disposto
à reconciliação.

Um dos importantes alertas do livro está no início do versículo 3:6: “O meu povo está sendo
destruído porque lhe falta o conhecimento”. Hoje também vemos muitas pessoas de boa fé
sendo enganadas devido à sua falta de conhecimento da chamada “sã doutrina”, representada
pela verdade revelada pela Bíblia. Precisamos nos dedicar cada vez mais a conhecer a Palavra
de Deus, pois só ela pode nos livrar das ciladas que nos conduzem ao afastamento da vontade
do Pai.
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ISAÍAS

Isaías é considerado o Profeta da Fé e da Santidade de Deus, pois estas foram as ênfases de


seu ministério profético. Sua pregação destaca a grandeza do Deus Todo Poderoso e a
pequenez do ser humano. A auto-suficiência humana é condenada como um grave pecado.
Deus exige, conforme destaca o profeta, uma atitude de humildade, com fé e confiança
inabalável nas promessas divinas. Essa posição fica clara, por exemplo, nas discussões com
Acaz e Ezequias, retratadas em 7:9; 26:16 e 30:15.

Assim como os seus antecessores Amós e Oséias, Isaías condenou a idolatria e a hipocrisia
religiosa, propondo como remédio para as diversas mazelas então observadas a adoção
irrestrita do direito e da justiça (cf. 1:10-17; 5:1-7; 5:8-24 e 10:1-4). Ao tempo em que alerta
para a justiça de Deus, o profeta destaca a misericórdia do Senhor e anuncia que Ele irá salvar
o seu povo, cumprindo, assim, as promessas feitas a Davi. Essa salvação é apresentada como
obra do Messias, o rei ideal, que nasceria da descendência de Davi (7:10ss; 9:1ss e 11:1ss).

Ao contrário de Amós, que foi tirado por Deus do campo em que vivia e não tinha qualquer
ligação com os governantes, Isaías conviveu diretamente com os reis de Judá, onde exerceu
seu ministério.

O ministério de Isaías teve início no reinado de Acaz, rei de Judá, a quem procurou aconselhar.
Seu chamamento profético está narrado no capítulo 6, sendo esta uma das mais conhecidas
passagens dos livros proféticos. Inicialmente, ele esteve próximo da corte do rei, mas teve um
sério desentendimento com Acaz quando fez a ele um alerta contra a Assíria e disse-lhe que,
para prevalecer, deveria pedir sinais a Deus do que fazer. Conforme vimos quando estudamos
os livros de Reis e de Crônicas, Acaz, que reinou durante 16 anos, foi um rei ímpio, que se
deixou influenciar pela idolatria praticada pelos reis de Israel (reino do norte), chegando a
oferecer sacrifícios de crianças. Foi castigado, conforme profetizado por Isaías, enfrentando
uma guerra movida contra ele pela Assíria, que passou a dominar a Judá e Israel. A recusa do
rei de ouvir os alertas do profeta, despertou a ira de Isaías, que acabou se afastando da vida
política.

No reinado de Ezequias, que sucedeu a Acaz no trono de Judá, Isaías volta a exercer seu
ministério de aconselhamento. Como vimos anteriormente, o reinado de Ezequias, que durou
29 anos, foi um dos melhores do Reino do Sul. Tendo Isaías como seu conselheiro constante,
ele combateu vigorosamente a idolatria, destruindo os altares e as imagens pagãs.

Quando se desviou dos conselhos do profeta, Ezequias pagou um alto preço. Em 705 a.C., ele
se juntou ao Egito e a Babilônia numa aliança contra a Assíria. Isaías insistiu que Judá deveria
ficar neutro e jamais participar de acordos que envolviam os deuses egípcios (28:15-18), mas
não foi ouvido. Conforme profetizado, as conseqüências foram desastrosas. Senaqueribe, rei
da Assíria, prevaleceu e puniu cruelmente os revoltosos, assolando muitas cidades de Judá e
deportando grande parte de sua população. Posteriormente, seguindo as palavras do profeta,
pôde rebelar-se contra o rei da Assíria, conseguindo livrar o reino de Judá do seu domínio.
Após tentar um acordo com o rei da Assíria, recusado por esse, Ezequias, confiante na
promessa de vitória revelada por Isaías, lançou-se contra um exército infinitamente mais forte.
Deus honrou a profecia e guerreou ao lado de seu povo, ferindo em uma única noite a 185 mil
dos soldados inimigos, conforme narrado em II Reis 19:35.
MIQUÉIAS
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De origem modesta, Miquéias nasceu em uma pequena cidade de Judá chamada Moresete-
Gate (1:1 e 1:14), distante cerca de 35 Km de Jerusalém, próxima à fronteira filistéia. Seu
nome ilustra em a sua mensagem e, ao mesmo tempo, lança um verdadeiro desafio: MI-KA-
YAH significa “quem é como Javé?”. Assim como Amós, ele vivia no campo e não pertencia
ao grupo de profetas organizados. Sua origem simples revela-se na simpatia que demonstra
pelos pobres, nas imagens e figuras empregadas e na linguagem dura e rude com que condena
as grandes cidades, nas quais estaria, segundo seu entendimento, a desgraça da nação (1:5ss;
3:10ss).. Também revela, tal como Amós, uma aguda consciência de sua vocação (leia 3:8).

Há, também, na Bíblia, citação de outro profeta com o mesmo nome (em algumas versões
Micaías), filho de Inlé, que viveu no período de Acabe (conf. I Reis 22:5-28). O Miquéias
deste livro, porém, exerceu seu ministério durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias
(Conf. Jr 26:18), sendo, portanto, contemporâneo do profeta Isaías.

Esta época foi, como já estudamos, extremamente conturbada pela ação da Assíria, que
dominou o Reino do Norte e também ameaçou o Reino do Sul onde ele vivia, trazendo
grandes dificuldades políticas e econômicas, em especial para os mais pobres, pois, como diz o
ditado, nos momentos de dificuldade, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Miquéias é
tocado por Deus para denunciar essa situação, que, embora comum para os homens, desagrada
ao Senhor. Assim, o profeta procura falar em nome daqueles que não tem vez nem voz,
mostrando-se revoltado com as injustiças e falsidades mantidas pela classe dominante.

Com a mesma severidade de Amós, Miquéias condena a idolatria (1:7 e 5:10-14); aqueles que
se apoderavam pela força dos campos e casas alheios (2:1-2); os ricos ambiciosos que usavam
balanças e pesos falsos e praticavam a violência (6:11-12), ajuntando assim “tesouros de
iniquidade” (6:9) e anuncia o terrível e inevitável juízo divino, do qual ninguém poderia
escapar. A revolta do profeta é grande: “Os seus líderes dão sentenças por suborno, os
sacerdotes ensinam por interesse e os seus profetas advinham por dinheiro” (3:11). São
denunciados ainda os juízes que modificam suas decisões de acordo com os presentes que
recebem (3:11 e 7:3) e os falsos profetas que anunciam coisas boas quando recebem
recompensas (3:5-7). A onda de violência que assolava o país é vista pelo profeta como uma
conseqüência da opressão dos gananciosos, muitas vezes mascarada por uma religiosidade de
aparências, revelada em crenças como: “não está o senhor no meio de nós? Nenhum mal nos
sobrevirá” (3:11b).

As palavras de Miquéias, duras e diretas, ficam na lembrança das pessoas tementes a Deus,
sendo citadas, inclusive, por Jeremias, que viveu um século depois. (cf. Jr 26:18). Entretanto, ,
sua mensagem não se resume a ameaças. Ao contrário, ele destaca a esperança na vinda do
Messias (5:2-5) e na salvação daqueles que se mantenham fiéis, o “resto de Israel” (5:7-8).
Merece destaque o trecho de 6:1-8, onde é descrito uma espécie de processo judicial entre
Deus e o seu povo. O povo, reconhecendo seu erro, procura descobrir como aplacar a ira
divina. A solução, apresentada pelo profeta, está no verdadeiro culto a Deus, que resume os
ensinamentos dos profetas anteriores: a prática da justiça (Amós); a misericórdia (Oséias) e a
humildade (Isaías).
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SOFONIAS

Sofonias desempenhou seu ministério profético em Jerusalém, onde morava, durante o reinado
de Josias (640 a 609 a.C.). Apesar da vasta genealogia apresentada no início do livro, há
discussão entre os estudiosos da Bíblia sobre sua origem familiar. Alguns acreditam que ele foi
descendente do rei Ezequias, tendo, portanto, linhagem nobre. Outros pensam radicalmente
diferente, julgando, pelo nome de seu pai, que Sofonias pertencia a uma família de
estrangeiros, vindos da Etiópia, que serviam no templo.

Conforme estudamos anteriormente, o reinado de Josias foi marcado por uma profunda
reforma religiosa (II Reis 22:3 a 23:27). Esta reforma eliminou uma série de abusos contra os
quais o profeta tinha levantado a voz. Portanto, sua pregação situa-se mais especificamente no
início do reinado de Josias, entre 640 e 630 a.C., pouco antes do início do ministério de
Jeremias.

Na época em que Sofonias inicia seu ministério, Judá sofria as conseqüências de dois reinados
desastrosos. Se Ezequias procurou ser um rei justo, Manassés e Amom, que o sucederam,
cometeram todo o tipo de abominação, desde acordos com a tirânica Assíria à adoção de
cultos pagãos, incluindo a popularização da prática da feitiçaria e até mesmo o sacrifício
humano. Manassés é lembrado como o pior rei que ocupou o trono de Davi (II Reis 21:10ss e
24:3ss). Seu filho Amom, que manteve os maus caminhos do pai, acabou reinando apenas dois
anos, sendo assassinado pelos próprios membros da corte. Ao assumir o trono, Josias tinha
apenas oito anos e é durante a sua menoridade, quando as práticas favorecidas por Manassés e
Amom ainda prevaleciam em Judá, que devemos situar a pregação de Sofonias.

No período de Manassés, o ministério profético foi fortemente perseguido. Porém, não fosse o
protesto enérgico dos profetas, a religião do povo de Deus teria se degenerado totalmente,
descambando para um politeísmo. O nome de Sofonias, que significa “aquele a quem Deus
esconde ou protege”, revela o caráter de seu ministério, de denúncia, e a conseqüente
necessidade de amparo divino.

A decadência religiosa trouxe consigo, como não poderia deixar de ser, a decadência social,
com uma forte onda de violência e injustiça, denunciada por Sofonias (1:9 e 3:1-7). O Livro de
Sofonias pode ser dividido em quatro partes: O Dia de Javé, como dia de castigo para Judá
(1:1 a 2:3); Oráculos contra as nações (2:4-15); Oráculos contra Jerusalém: Ameaças contra
Jerusalém devido à recusa da disciplina do Senhor (3:1-8) e as promessas de salvação (3:9-20).

Sofonias defende, como o caminho por excelência da salvação, a “pobreza espiritual”, que
seria uma atitude de confiança absoluta em Deus, de abandono à vontade divina e inteira
abertura ao seu projeto para nossas vidas. Sua mensagem opõe-se radicalmente ao povo
orgulhoso que se julgava auto-suficiente e dava margem à soberba, amparado nas promessas
de Deus a seus antepassados, como se o fato de serem descendentes da aliança com Abraão,
Isaque e Jacó fosse suficiente para garantir-lhes a salvação, independente de seus atos. Este
conceito marcou profundamente a teologia do “resto fiel de Israel”, influenciando os profetas
que vieram depois dele. Sua visão alcançou sua expressão máxima na pregação de Jesus, que
destacou: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt.
5:3).
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NAUM

Sobre a vida pessoal de Naum, cujo nome significa “consolado por Javé”, pouco sabemos. É
certo que ele viveu no reino de Judá e seus estilo e linguagem demonstram ter sido este profeta
uma pessoa inteligente e culta, além de um ardente patriota.

O livro de Naum foi escrito pouco antes da derrocada final do império assírio e descreve com
visível alegria a destruição de Nínive (612 a.C.), que era a capital daquele país. Como vimos, a
Assíria foi durante mais de cem anos uma nação opressora, exploradora de outros povos.
Porém, depois do apogeu alcançado na época do rei Assurbanipal (668 a 627 a.C.), veio a
decadência, em função da fraqueza e degeneração dos reis que o sucederam, que não puderam
resistir ao ataque conjunto dos babilônios e medos.

O versículo primeiro do livro resume seu conteúdo: “sentença contra Nínive”. Logo após,
encontramos um salmo que contrapõe a ira de Deus contra o mal e sua bondade para com
aqueles que nele confiam (1:2-8). Segue-se uma série de oráculos proféticos que descrvem o
castigo sofrido pela Assíria em constraste com a salvação de Judá (1:9 a 2:2). O saque da
capital Nínive é previsto como certo, sendo inúteis os preparativos para sua defesa (2:3-13). O
destino desta cidade sanguinária seria terrível, não havendo ninguém que não se alegrasse com
sua derrota (3:1-19)

O estilo de Naum contrasta fortemente com nosso pensamento de hoje, com a forma com a
qual cremos dever ter piedade de nossos inimigos. O universalismo de profetas como o
Deutero-Isaías e do próprio Jesus contrasta com o forte patriotismo deste profeta, que faz
questão de destacar a salvação de Judá em contraste com a destruição da Assíria. A essência de
seu pensamento, no entanto, deve ser entendida como a expressão do ideal de justiça e fé. A
ruína de Nínive representa o julgamento de Deus daqueles que se opõem ao plano divino.

Este livro representa não uma oposição e sim um complemento a outros trechos da Bíblia que
apresentam Jeová como um Deus misericordioso. Se é verdade que Ele é amoroso também é
verdade que é justo e que julga os iníquos pelos seus maus caminhos. Essa verdade está
expressa nos próprios ensinamentos de Jesus e não pode ser esquecida por nós.
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HABACUQUE

Não encontramos neste livro nenhuma informação sobre a vida do profeta. Apenas sabemos,
por sua pregação, tratar-se de um homem de grande fé, atormentado pelo problema do mal e
da justiça divina no governo do mundo. O significado do seu nome é controvertido entre os
estudiosos da Bíblia. Alguns defendem que ele deriva de uma palavra arábica que quer dizer
“anão”, enquanto outros o compreendem a partir de uma planta frutífera.

A época de Habacuque é imediatamente após a de Naum (605-597 a.C.). Como vimos, a


Assíria, antiga nação tirânica, tinha sido enfraquecida, com sua capital Nínive destruída,
trazendo grande alegria aos israelitas. Porém, os babilônicos (caldeus) eram tão tirânicos e
imperialistas quanto os Assírios. A batalha de Carquemis (606 a.C.), quando Nabucodonozor,
então general do exército babilônico, derrotou os egípcios, marcou o início do domínio
babilônico na Palestina. Conclusão: o fim do império Assírio não mudou em nada a situação de
Judá.

O livro inicia-se com um diálogo entre o profeta e Deus, onde se observa as duas queixas do
profeta, com suas respectivas respostas divinas (1.2 a 2.4). Seguem-se 5 ais contra o iníquo
opressor (2:5-20). A última parte é um salmo que descreve a intervenção de Deus para
combater as nações, especialmente os ímpios (3:1-19). No fim, permanece a certeza de que
Deus salvará o seu povo sejam quais forem as circunstâncias exteriores (3:17ss).

Habacuque demonstra ter consciência de que os caldeus foram instrumentos de Deus para
punir a iniquidade (1:5-11). Isso trás alguns problemas de compreensão: Como Deus, que é
santo e puro, pode se servir de um povo tão injusto e violento? Por que prevalece a força dos
injustos? Por que punir o que é mau com um que é pior? Coopera Deus com a injustiça?

A conclusão do livro destaca a resposta de Deus, a qual deve ser escrita pois pode demorar: “o
soberbo será castigado mas o justo viverá pela fé” (2:1-4). O sentido é este: Deus, através de
caminhos às vezes contraditórios e paradoxais que fogem à compreensão humana, conduz a
história. Para viver é necessário aceitar incondicionalmente a palavra e promessa de Deus. A fé,
a adesão total a Deus, a confiança absoluta, a entrega radical são condições necessárias para a
participação na salvação prometida. O apóstolo Paulo, ao desenvolver a doutrina da
justificação pela fé, lembrou das palavras de Habacuque, relacionando-as com a salvação em
Cristo (conf. Gl 3:11 e Rm 1:17).

Neste livro aparece um elemento novo, ausente nos profetas anteriores, uma espécie de
inversão de papéis. Não é Deus e sim o profeta que parece tomar a iniciativa, que insiste em
sua insatisfação. Em outras palavras, o profeta se atreve a pedir copntas a Deus do seu
governo sobre o mundo.

Há uma linda mensagem na pregação de Habacuque: O justo viverá pela fé. Apesar de todos os
problemas, a paz do Senhor nos dá condições para sermos felizes, confiantes nas divinas
promessas (leia Hb 3:17 a 19).
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JEREMIAS

Jeremias, cujo nome significa “Javé exalta”, era natural de Anatote, pequena aldeia a uns 6 Km
de Jerusalém que vivia às custas da capital, sendo descendente de uma família de sacerdotes.
Sua família, provavelmente, descendia de Abiatar, que foi o sumo sacerdote durante o reinado
de Davi e acabou sendo exilado por Salomão (I Reis 2:26-27).

Sua vocação profética, ocorrida por volta de 627 a.C., é descrita de maneira reservada e
simples: uma aparição do Senhor, da qual não são apresentados maiores detalhes, onde Deus
toca-lhe a boca com a mão dizendo: “Eis que ponho em tua boca as minhas palavras”. Jeremias
resiste ao chamado, alegando ser muito jovem e incapaz de desempenhar tão importante
missão. Submete-se, porém, obedientemente à palavra divina e entra no serviço de Deus contra
as nações para “arrancar e derribar” (1:4-40).

A vida e a atuação do profeta, bem como o seu caráter e personalidade, nos são conhecidos
melhor do que as de qualquer outro profeta, graças às narrativas biográficas acrescentadas no
seu livro por seus discípulos. Além disso, existem passagens autobiográficas, onde o profeta
dialoga com apaixonada sinceridade com Deus. São poemas onde ele exprime suas reações
perante o destino e revela suas tentações pessoais e sua luta para manter-se obediente aos
desígnios de Deus. Encontramos estes poemas nos seguintes trechos: 11:18-23; 12:1-6; 15:10-
21; 17:14-18; 18:18-23 e 20:7-8.

Jeremias viveu em uma época crítica, assistindo de perto à ruína total de Judá: as invasões
babilônicas em Jerusalém (598 a 587 a.C.) e o exílio e a destruição de sua cidade. Sua vida foi
marcada pela frustração, pelo fracasso e o sofrimento. Ele pregou a um povo que já podia
converter-se por que desconhecia o que é o bem (13:23 e 25:6). O profeta foi perseguido,
preso, acusado de ser traidor e blasfemo, tendo sua vida várias vezes ameaçada.

O drama de sua vida pessoal encontra-se também no seu caráter. Jeremias tinha uma alma
sensível e terna, feita para amar. Porém, foi chamado por Deus para um ministério de denúncia,
de “arrancar e derribar, destruir e arruinar” (1:10) e devia predizer sobretudo a desgraça.
Embora desejasse a paz, teve que lutar contra seus amigos mais íntimos (20:10), contra reis,
sacerdotes, profetas e o povo em geral. Era um “homem de rixa e de contendas para toda a
terra” (15:10). Era intimamente machucado pela sua missão, da qual não podia fugir (20:9).

As confissões de Jeremias dão testemunho de seu sofrimento: “Por que dura a minha dor
continuamente?” (15:18); “Maldito o dia em que nasci” (20:14). O profeta renuncia até
mesmo sua vida familiar (16:2), coisa rara em Israel, pois acredita que isto é uma exigência de
sua missão.

Jeremias exerceu seu ministério profético no período mais crítico da história de Judá e
acompanhou bem de perto a seqüência de acontecimentos que levaram a sua nação à ruína
total. A sua atuação se estende desde o décimo terceiro ano do reinado de Josias (1:2), isto é,
por volta de 627 a.C., até poucos anos depois da tomada definitiva de Jerusalém por
Nabucodonozor, em 587 a.C. A sua vida pessoal e a sua pregaçào estão de tal forma ligadas a
esses acontecimentos que falar de Jeremias significa também conhecer o seu tempo. O
envolvimento deste profeta nas grandes questões de sua época demonstra que, em política,
como em tudo o mais, Deus deve estar no domínio.

A época de Jeremias deve ser dividida em três diferentes períodos:


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I - O Período de Josias

Conforme já estudamos, Josias subiu ao trono com apenas oito anos, sucedendo a dois reis
terríveis: Manassés e Amom e conseguindo um bom reinado, uma época de prosperidade e
conserto espiritual para o povo, a partir da descoberta do Livro da Lei, durante reparos no
Templo (621 a.C.).

À época imediatamente anterior à reforma de Josias corresponde os capítulos 1 a 6 de


Jeremias. Ele pregou inicialmente em Anátota, sua cidade local. Depois de sofrer um atentado
(11:18-23) se dirigiu para Jerusalém (5:1ss), onde a situação parecia estar pior. Jeremias
atacou violentamente o culto a Baal. O pecado da nação era indesculpável. Ele não podia
entender como o povo, com uma história tão linda da libertação da escravidão no Egito, pôde
abandonar a Deus (2:1-8), pois nem entre os pagãos ele tinha visto tamanha ingratidão (2:9-
19). Judá era como uma esposa adúltera, incapaz de voltar nos braços de seu marido (3:1-5).
Por isso, sua palavra não poderia ser outra se não de ameaça e castigo para a infidelidade da
nação, prevendo que viria o castigo, através do “inimigo do norte” (1:14-15), o que de fato
ocorreu com a opressão da Assíria e da Babilônia.

Com a reforma, na qual o rei combateu violentamente a idolatria, Jeremias cessou sua
pregação de condenação a esta prática, concordando com as medidas tomadas por Josias.
Deste mesmo período são os capítulos 30 e 31, onde o profeta se dirige aos deportados do
Reino do Norte, consolando-os e falando-lhes de graça e regresso, da esperança da
reconstrução de sua pátria e de sua identidade religiosa.

II - O Período de Jeoaquim

Como diz o ditado popular “quanto mais alto, maior o tombo”. Foi isso que aconteceu com
Judá. A reforma de Josias trouxe grande esperança para o povo. Quando Josias morreu,
tentando impedir que o faraó Neco, do Egito, socorresse a Assíria, que estava sendo destruída
pelos babilônicos (conf. II Reis 23:28-30), houve uma grande decepção. A partir daí, o país
caiu sob o domínio egípcio, sendo o rei Jeoacaz deposto quando estava há apenas três meses
no trono e substituído por Jeoaquim (II Reis 23:31-35). Quatro anos depois (605 a.C.), o
Egito foi derrotado pelos babilônicos, que estenderam seu império até a Palestina (II Reis
24:7).

Jeoaquim, ao invés de procurar amenizar os sofrimentos do povo, agrava ainda mais a


situação, sendo um típico ditador. Seu governo é caracterizado pelo “derramamento de sangue
inocente, pela violência e exortação” (22:17). Ambicioso e egoísta, esbanjou dinheiro público,
construindo um novo palácio para si, utilizando, nesta construção, mão-de-obra forçada. Essas
atitudes fazem com que Jeremias tenha por esse rei um grande desprezo, chegando a dizer que
ele seria sepultado como um jumento e ninguém iria lamentar a sua morte (22:13-23).

O retrocesso observado levou o povo a um grande abatimento, sendo questionada, inclusive, a


validade da reforma que tinha sido promovida por Josias, cuja morte trágica e a humilhação
nacional mataram a esperança do povo. O resultado da desilusão sofrida foi um retorno à
idolatria, à imoralidade e à injustiça social que prevaleciam antes da reforma.

Em paralelo, surgiu uma crença supersticiosa de que a presença material do Templo de


Jerusalém é a garantia de que Deus protegerá o seu povo. Jeremias combateu violentamente
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esta crença, destruindo a falsa segurança do povo, a qual, inclusive, estava servindo de
pretexto para a prática da injustiça (7:1-15). Conforme o profeta alerta, nenhum tipo de
sacrifício poderia impedir o desastre que viria como castigo à infidelidade e à hipocrisia
religiosa: a destruição do templo.

O discurso sobre o templo provocou reações iradas, principalmente por parte dos sacerdotes,
que levaram Jeremias a um tribunal, pretendendo condená-lo à morte. O profeta só escapou da
pena máxima graças ao apoio que recebeu de algumas pessoas influentes, os quais alegaram
que o profeta Miquéias tinha proferido palavras semelhantes na época de Ezequias, sendo
ouvido. Urias, contemporâneo de Jeremias, não teve a mesma sorte, sendo assassinado (26:20-
24).

A teimosia do povo em praticar o mal e adorar outros deuses forçam Jeremias a pregar
constantemente ameaças e desgraças. Os capítulos 7 a 20 referem-se a este período. Sua
pregação, dura e direta, trouxe uma série de problemas a Jeremias, que ficou solitário, sem
família (16:2) e sem amigos (20:10). Certa vez, foi surrado e preso a um tronco durante a noite
(20:1-6). Foi, também, impedido de entrar no templo. Por isso, mandou que um auxiliar,
Baruque, lesse suas palavras no Templo (36:1-10). Embora a leitura tenha impressionado o
povo e seus líderes, o rei Jeoaquim rasgou o rolo e o destruiu no fogo, obrigando o profeta a
reescrevê-lo posteriormente (36:27-32).

Deste mesmo período é a oposição de Jeremias aos profetas do Templo, que proclamam a
graça para a nação e ocultam o pecado. Suas sentenças contra os falsos profetas estão em
23:9-40.

III - O Período de Zedequias

O final do governo de Jeoaquim foi trágico. Depois que ele rebelou-se contra a Babilônia,
morreu, provavelmente assassinado. Seu filho, Joaquim, que o sucederia, foi levado cativo,
juntamente com parte da nobreza, para a Babilônia. Judá, ficou, então, sob o governo de
Zedequias, seu tio.

A trágica invasão de Jerusalém e a deportação para a Babilônia deveriam, conforme esperava


Jeremias, levar o povo a se arrepender dos seus maus caminhos. Porém, logo ficou claro que
isso não ocorreria, não sendo Zedequias uma pessoa indicada para para governar em um
momento tão conturbado. O rei não conseguiu se impor aos nobres, que estavam confiantes
nas falsas promessas dos profetas do templo, de que a opressão babilônica ofendia a Deus e
levaria a uma rápida vingança deste. Diante desse problema, Jeremias repete a mensagem que
anunciava anteriormente: a destruição.

Assim, quando, em 594 a.C., os diplomatas de Edom, Moabe, Tiro e Sidom, incentivados pelo
Egito, vieram a Judá para discutir os planos de uma rebelião contra a Babilônia, Jeremias,
através de um ato simbólico, procurou desanimá-los de tal empreendimento. Ele colocou um
canga de boi no próprio pescoço, anunciando que o próprio Deus havia imposto o jugo da
Babilônia sobre as nações, às quais só restava uma opção: Submeter-se a este jugo ou perecer.

Como era natural, sua atitude provocou reações violentas, incluindo a ação do profeta
Hananias, que, tomando a canga de seus ombros, quebrou-a, afirmando que, da mesma forma,
Deus quebraria, no prazo de dois anos, o jugo da Babilônia (cap. 28). Jeremias se retirou até
receber uma nova palavra de Deus. Voltou, então, dizendo que jugos de madeira Hananias
quebrara, mas o jugo que pesava sobre o povo era de ferro. Tendo previsto a morte de
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Hananias como castigo por suas falsas profecias, o que de fato logo ocorreu, Jeremias passou
a ser mais respeitado. Zedequias, inclusive, desistiu da rebelião contra a Babilônia e enviou a
Nabucodonozor uma carta prometendo-lhe submissão. Na mesma ocasião, o profeta enviou
uma carta aos exilados (cap. 29) exortando-os à perseverança, ao trabalho e à oração, pois o
exílio deverá durar muito tempo.

Em 587 a.C., apoiado pelo Egito, Zedequias quebrou o juramento e se rebelou contra a
Babilônia. O castigo foi terrível: Jerusalém foi tomada e inteiramente destruída. O rei, depois
de assistir à morte de seus filhos, teve os olhos vazados e foi levado cativo para a Babilônia
juntamente com mais uma parcela da população. Em Judá ficaram apenas os camponeses,
incapazes de reagir contra a Babilônia. A Jeremias foi dado o direito de escolher se iria para o
exílio ou ficaria para ajudar na reconstrução do país, sendo que ele optou por ficar (39:11 a
40-6).

Nesta ocasião, um tal de Gedalias foi nomeado governador, mas acabou sendo assassinado
pelo povo, por ser considerado um colaborador dos babilônicos. Temendo uma terrível
represália da babilônia, o povo foge para o Egito, forçando Jeremias a acompanhá-lo. No
Egito, o profeta mantém sua pregação dura e desagradável aos ouvidos do povo afastado de
Deus. Não sabemos ao certo o que ocorreu depois disso. Há, porém, uma lenda judaica de
que ele foi apedrejado e morto por seus coompatriotas.

Vale destacar que Jeremias não se limitou a destruir as falsas esperanças do povo e a proclamar
palavras de condenação. Anunciou, também, a esperança na reconstrução futura da aliança de
Deus com o seu povo. Sua esperança estava não no esforço humano, mas num ato redentor da
parte de Deus (31:31-34). Javé chamaria seu povo, da mesma forma que o chamou
anteriormente no Egito e, perdoando os seus pecados, faria com ele uma nova aliança,
escrevendo a Lei em seus corações. Destacou, também, que a participação na nova aliança não
seria conseqüência do simples fato de pertencerem ao povo escolhido. Deveria haver uma
decisão individual por seguir a vontade de Deus.

A pregação de Jeremias, aliada à mensagem de Ezequiel, que veio logo após, possibilitou a
formação de uma comunidade de fé capaz de resistir à dureza do exílio, que cultivou a fé no
Deus vivo e preparou o povo para receber sua revelação máxima - Jesus Cristo.
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O LIVRO DE LAMENTAÇÕES

Lamentações é um livro composto de cinco poemas, tendo como tema central a destruição de
Jerusalém em 587 a.C. por Nabucodonozor.

Muito embora o texto hebraico não indique o autor do livro, sua autoria é tradicionalmente
atribuída a Jeremias. Uma comparação cuidadosa entre os dois livros mostra, todavia, que esta
crença é improcedente, pelos seguintes motivos:

1) Jeremias não poderia, em hipótese alguma, exaltar a memória de Zedequias (compare Jr


37:17-21 com Lm 4:20).

2) Jeremias não seria capaz de dizer que a vocação profética havia se encerrado (compare Jr
42:7-22 com Lm 2:9).

3) O profeta não iria, jamais, esperar pelo auxílio egípcio (Lm 4:17), sendo esse um povo que
ele sempre combateu.

4) Ele não iria culpar os antepassados pelo castigo sofrido pelo povo (Lm 5:7), pois uma das
ênfases de sua pregação era justamente o princípio da responsabilidade individual (Jr
31:29ss).

5) O estilo espontâneo e vivo de Jeremias também não combina com o gênero artificial das
lamentações, que são uma espécie de poemas alfabéticos.

Lamentações foi, provavelmente, escrito por um autor anônimo que assistiu a catástrofe e
descreveu em poemas tristes e comoventes o luto de Jerusalém e seus habitantes:

“Com lágrimas se consumiram os meus olhos, turbada está a minha alma, o meu
coração se derramou de angústia por causa da filha do meu povo; pois desfalecem
os meninos e as crianças de peito pelas ruas da cidade” (2:11)

Dessas queixas, porém, jorra uma confiança na misericórdia de Deus e em sua futura ação
restauradora. Neste sentido, encontramos no livro uma lembrança maravilhosa:

“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do


Senhor são a causa de não sermos consumidos porque as suas misericórdias não
têm fim; renovam-se a cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o
Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele.” (3:21-25)

No final do livro, encontramos uma oração que foi respondida pela ação salvífica de Deus
através de Jesus Cristo: “Converte-nos a ti, Senhor, e seremos convertidos” (5:21)
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JONAS

Lendo o livro de Jonas observamos nele uma substancial diferença em relação aos demais
livros proféticos. Ele não contém previsões ou pregações, sendo antes a narrativa da história
de um profeta que procura fugir de uma missão a ele confiada por Deus. Os estudiosos da
Bíblia acreditam que trata-se, na verdade, de uma parábola, um drama, com objetivo de
discutir algumas questões teológicas sérias para a comunidade judaica. Visando condenar a
mentalidade estreita dos judeus, o autor de Jonas compôs um drama tendo como personagem
um profeta do passado cuja vida não é muito conhecida, tendo sido citado em II Reis 14:25,
como sendo filho de Amitai, o profeta, da cidade de Gate-Hefer.

A história se inicia com o envio do profeta a Nínive e, sem que se explique os seus motivos,
toma o rumo oposto, indo para Társis. Devido à sua desobediência, o navio em que viajava foi
assolado por uma forte tempestade, sendo ele jogado ao mar quando foi revelado que por sua
causa Deus castigava a embarcação. Sendo engolido por um grande peixe, Jonas permanece
três dias em seu ventre, até ser vomitado. Novamente em terra, Jonas vai até Nínive, onde
prega a condenação da cidade e, em seguida, retira-se aguardando o resultado. Porém, os
habitantes daquela cidade se arrependem e Deus poupa-os da destruição. Jonas fica irado e
discute com Deus, alegando que sabia que Ele era misericordioso e que por isso não tinha
desejado pregar àquela cidade. Na verdade, a posição por ele assumida revela a incapacidade
dos judeus de admitirem que Deus possa se revelar clemente com os pagãos, especialmente
com os Assírios, tirânicos odiados.

A mensagem de Jonas teve um endereço certo: Os judeus que viveram no século V ou IV a.C..
Depois do exílio, Judá tinha perdido a autonomia política, sendo basicamente uma comunidade
religiosa. Acontece que o povo se julgava o restante escolhido de Israel, ao qual Deus
manifestaria a sua salvação. Esse pensamento acabou por conduzi-los a uma visão fortemente
exclusivista, fechando-se em torno de si mesmos e de seus problemas e rejeitando tudo aquilo
que fosse estrangeiro. Na época de Esdras e Neemias, conforme estudamos, o zelo necessário
à não contaminação com costumes pagãos chegou ao ponto de fazer com que os judeus
abandonassem suas esposas estrangeiras. O universalismo, pregado com ênfase pelo Deutero-
Isaías, nos tempos do exílio, não tinha fincado raízes na mente do povo.

O livro de Jonas apresenta a face misericordiosa de Deus: “...pois sabia que és Deus clemente
e misericordioso, tardio em irar-se e grande em benignidade e que te arrependes do mal”
(4:2b). Sua mensagem se aproxima de uma das doutrinas básicas do Novo Testamento: Deus
não é somente o Deus dos judeus e sim de todos (conf. Rm 3:29). Em Mt 12:41 e Lc 11:29-
32, Jesus utiliza o exemplo da conversão dos ninivitas e em Mt 12:40, usa a permanência de
Jonas no ventre do peixe como metáfora de sua própria permanência no sepulcro.

São os seguintes os textos-chaves do livro:

 Jn 1:1-3 - Jonas ouve a chamada de Deus mas tenta fugir de sua responsabilidade
 Jn 3:5-10 - Os ninivitas se arrependem dos seus maus caminhos. Jonas pregou contra sua
vontade, mas sua mensagem alcançou o povo
 Jn 4:1-5 - A conversão dos ninivitas desagrada o profeta, que preferia ver a cidade inimiga
destruída
 Jn 4:6-11 - Jonas aprendeu que Deus é diferente, sendo amoroso com todas as pessoas.
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