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Artigo recebido em Imprensa Negra: descobertas

para o Jornalismo brasileiro


05/08/2014
Aprovado em
22/09/2014

ISABEL CRISTINA
CLAVELIN DA
ROSA Isabel Cristina Clavelin da Rosa
Universidade de Brasília –
belclavelin@gmail.com
Doutoranda do Programa
de Pós-graduação Resumo
em Comunicação Vinte e cinco anos após o surgimento da atividade jornalística no Brasil, em 1808,
da Faculdade de a imprensa negra iniciava a sua operação por meio do jornal O Homem de Cor,
Comunicação da
editado por Francisco de Paula Brito, em 1833. Produções jornalísticas feitas para
Universidade de Brasília e
professora de Jornalismo negros e sobre negros, os jornais da imprensa negra representam a conquista de
e Publicidade na enunciação própria da comunidade negra num período de tempo compreendido da
Universidade Católica de escravização ao terceiro milênio. Neste artigo, é recuperada parte dessa trajetória,
Brasília aportando novos elementos aos estudos sobre o Jornalismo brasileiro.

Palavras-chave
Mídia e racismo, Imprensa e relações raciais, Jornalismo, Igualdade racial.

Abstract
Twenty-five years after the emergence of journalism in Brazil in 1808, the black
press began its operation by means of newspaper O Homem de Cor, edited by Fran-
cisco de Paula Brito in 1833. Journalistic productions made for blacks and about
blacks, the newspapers of the black press (BLACK PRESS NEWSPAPERS) represent
the conquest of the enunciation of the black community in a time period of enslave-
ment to the third millennium. In this article, part of this trajectory is recovered,
bringing new elements to studies on Brazilian Journalism.
  
Keywords
media and racism, media and race relations, journalism, racial equality.

Estudos em Jornalismo
e Mídia
Vol. 11 Nº 1
Julho a Dezembrode
2014
ISSNe 1984-6924

DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2014v11n2p555 555


E
ste artigo aborda a relação Brasil” e um dos “precursores do conto no
entre imprensa e racismo no Brasil” (CAMARGO, 1987, p.42). Entre
Brasil por meio da reflexão seus múltiplos talentos e habilidades,
sobre as produções voltadas estava o revezamento entre as funções de
à temática racial negra e poeta e tradutor.
a inserção dos negros no jornalismo. Como assinala Camargo, a
Recompõe a trajetória da imprensa negra,
apresentando outras possibilidades na
publicação de O Homem de Cor (Rio
reflexão acadêmica sobre o jornalismo de Janeiro, ‘Tipografia Fluminense
brasileiro. & Cia, 1833), com o título alterado a
partir do 3º. número para O Mulato
Ao estudar a institucionalização do ou o Homem de Cor, e que circulou
Jornalismo no Brasil, a jornalista Lavina de 14 de setembro a 4 de novembro
de 1833, altera a data do início da
Madeira Ribeiro constata que o Jornalismo
Imprensa Negra, que teria seus pri-
político antecedeu o Jornalismo literário, mórdios nos fins do século passado.
que, por sua vez, “cresceu juntamente com o Foi – refere Eunice Ribeiro Gondim,
biógrafa de Paula Brito – ‘o primei-
Jornalismo noticioso fundado em critérios
ro jornal brasileiro dedicado à luta
discursivos internos e bases econômicas contra os preconceitos de raça’ (CA-
de auto-sustentação” (RIBEIRO, 2004, MARGO, 1987, p.41).
p.118). A autora observa que o Jornalismo
Inseriu-se, assim, num campo de debates
político dinamizou a esfera pública
de ideias e conflitos raciais antes mesmo
durante o século XIX, “comportando-se,
do início das produções jornalísticas
muitas vezes, como exclusivo instrumento
da imprensa abolicionista, imbuídas da
do fazer político”, quando produções
causa da libertação de africanos e seus
jornalísticas apareciam para “operar numa
descendentes escravizados – estas situadas
área institucional própria, ancoradas em
por alguns autores no período de 1880-
1- Brevíssimo per- critérios internos de noticiabilidade e de
fil biográfico tra- 1888, embora Silva (1988) perceba indícios
opinião” (RIBEIRO, 2004, p.118). É entre
çado por Camargo em 1833, em Pernambuco, no Jornal Folha
(1987, p.41): as produções emergentes interessadas em
“adquiriu com sac- de Recife. Aqui é feita apenas uma conexão
“operar numa área institucional própria”
rifício e a prazo, histórica, pois as diferenciações entre a
a loja de encader-
(IDEM, IBIDEM) que se situa a imprensa
imprensa abolicionista e a imprensa negra
nação e livros do negra.
primo Silvino José são altamente perceptíveis. Enquanto a
de Almeida, na Conforme Oswaldo de Camargo (1987, primeira demandava o fim da escravização
praça da Consti- p.42), “foi Francisco de Paula Brito1, em de negros e negras, muitas vezes de forma
tuição, nº 21 (hoje 1833, o precursor da Imprensa Negra2,
Tiradentes) e, gradual e lenta, a segunda reivindicava a
acrescentando-lhe cujos primeiros títulos, pelo menos em liberdade com integração social.
tipografia, tornou- São Paulo, só iriam aparecer em 1911,
se o primeiro O pesquisador e poeta negro gaúcho
com A Pérola, seguida pouco depois por O
editor do País, e Oliveira Silveira (2005) também situa, no
a sua tipografia o Menelick e A Princesa do Oeste”. No mesmo
ponto de reunião século XIX, o nascimento da imprensa
reconhecimento histórico, Camargo é
de intelectuais”. negra no Brasil a partir do jornal O
implacável ao enumerar as credenciais de
Homem de Cor, de 1833, editado por
2- Grifo no origi- Paula Brito para a história brasileira, como
nal. Francisco de Paula Brito. Juntamente
o “iniciador do movimento editorial no
com o Grupo Palmares (CAMPOS, 2006),
556
foi Oliveira Silveira que fixou a data de fala própria3 e torná-la pública4. Ainda que
assassinato de Zumbi dos Palmares, não tenham alcançado simultaneamente
iniciando, em 1971, em Porto Alegre, uma todo o território nacional, esses impressos
série de comemorações que originaram o são parte do esforço coletivo de controlar
Dia da Consciência Negra, em 1978, pelo os códigos da dominação e subvertê-los”
MNUCDR (Movimento Negro Unificado (PINTO, 2006, p.70). Estavam inseridos,
contra a Discriminação Racial). por conseguinte, na luta contra o racismo,
a discriminação e o preconceito racial
Jornais negros no século XIX
no Brasil. Nesse sentido, o conceito de
A jornalista negra Ana Flávia Magalhães
imprensa negra está relacionado ao que
Pinto (2006), baseada em registros
Sartre (1968, p.101) denomina “curtos-
históricos, salienta que no ano de 1798
circuitos da linguagem”, porque “não é,
já circulavam em Salvador manifestos
pois, só o propósito de negro no sentido
e boletins fixados em áreas de grande
de se pintar a si mesmo, mas sua maneira
circulação da cidade no processo de
peculiar de utilizar os meios de expressão
organização da Revolta dos Búzios, mais
de que dispõe”.
conhecida como Revolta dos Alfaiates.
Contudo, reconhece o jornal O Homem Van Dijk (1997, p.21) assinala que
de Cor como o pioneiro da imprensa “el control de pensamiento” decorre
negra. Outros títulos sucederam-no: do acesso aos meios de produção de
Brasileiro Pardo, O Cabrito, O Crioulinho discurso público e do “control de la acción
e O Lafuente – todos circulantes em 1833. comunicativa” numa estrutura de poder.
Fora da Corte (Rio de Janeiro), O Homem No caso da imprensa negra, esses aspectos
– Realidade Constitucional ou Dissolução dimensionam melhor a postura refratária
Social foi o primeiro impresso a circular da imprensa em abarcar as discussões de
em Recife (1876), seguido por A Pátria, interesse dos negros brasileiros, ou seja,
em São Paulo (1889), e O Exemplo, em o combate ao racismo e a integração dos
Porto Alegre (1892). negros no projeto de desenvolvimento do
Brasil. Essa posição editorial ideológica
Com base nos levantamentos
fez com que os negros criassem outra
estabelecidos, constata-se o nascimento de
via de produção jornalística, isto é,
um discurso e de uma prática jornalística
um sistema comunicativo onde essas
negra não disseminadora dos estigmas
questões pudessem ser abordadas, para
raciais percebidos na imprensa do século
desconstrução do “racismo mediatizado”
XIX e XX e, sim, comprometida com o
praticado pela imprensa. Trata-se, sem
valor máximo republicano: a igualdade
dúvida, de uma estratégia política de
de direitos. Desde 1833, os jornais negros
interferir na esfera pública na busca pelo
frisavam os direitos constitucionais dos
poder de influência e emissão de opinião
cidadãos brasileiros para ilustrar o grau
própria, no sentido de participação
de exclusão e discriminação que atingia os
política, e de travar uma luta ideológica
descendentes de africanos.
através da imprensa negra contra “la
Os jornais da imprensa negra do século reproducción del racismo” por meio “de
XIX foram a expressão real de que “os afro- los medios de comunicación” (VAN DIJK, 3- Grifo da autora.
brasileiros conseguiram formular uma 1997, p.73).
4- Grifo da autora.

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Na gráfica de Paula Brito foram registrou a realização de reuniões políticas,
impressas diversas obras de consagrados sendo que uma delas teve a participação
escritores brasileiros, páginas que de cerca de 50 mulheres negras.
entraram para a história sem o devido Criar um jornal é inserir-se na esfera de
crédito de reconhecimento público para poder do Jornalismo de produzir discursos
seu editor. Na Tipografia Fluminense & jornalísticos (MARCONDES FILHO,
Cia, de Paula Brito, foram impressos livros 1989) e de participar da circulação de ideias
de Machado de Assis [Ela (1855), Queda numa esfera pública, partindo da afirmação
que as mulheres têm pelos tolos (1861) e pública de opiniões e informações. Isto é,
Desencantos (1861)], Martins Penna [O de partes integrantes de um jogo em que
Juiz de Paz na Roça (1842) e A Família estão implícitas relações de dominação,
e a Festa na Roça (1842)], Casimiro de com valor, poder e status.
Abreu [As Primaveras (1859)], Gonçalves
Nesse sentido, é inevitável a reflexão
de Magalhães [Antônio José ou o Poeta e
acerca do papel político de um jornal na
a Inquisição (1839) e A Confederação dos
sociedade. Conforme Marcondes Filho
Tamoios (1856)], Teixeira de Souza [O
(1989, p.11), essa é uma maneira “de se dar
Filho do Pescador (1843)] e José Maurício
eco às posições das pessoas, de classe ou de
Nunes Garcia Filho [Mauricinas (1851)].
nações através de um complexo industrial-
Em Recife, O Homem – Realidade tecnológico, que além de preservar suporta
Constitucional ou Dissolução Social impessoalidade, afirma-se, pelo seu poder
apresentava-se, em 1876, como outro e soberania, como ‘a verdade’”.
legítimo representante da imprensa
O pesquisador lembra que numa
negra (PINTO, 2006), dissociado o
sociedade de classes os interesses políticos
pertencimento do jornal do movimento
podem se sobrepor ao princípio de
abolicionista. De acordo como o próprio
estimular a circulação de ideias e posições
jornal, este era “defensor6 das pessoas de cor”
na sociedade, tendo em vista que as forças
e profundamente imbuído da causa negra,
hegemônicas têm o objetivo de “divulgar
a exemplo da seção Galeria de Homens de
fatos que interessam à classe ou a setores
Cor, a qual na primeira edição reservava
dominantes” e de “moldá-los, esticá-los
o culto à memória de Antonio Pereira
e comprimi-los, reproduzir assim a vida
Rebouças. Contundente em seu conteúdo
pública e privada conforme os parâmetros
editorial e alinhado às reivindicações
ideológicos de seus produtores”
políticas de direitos dos negros, O Homem
(MARCONDES FILHO, 1989, p.51).
– Realidade Constitucional ou Dissolução
Social circulou até 30 de março de 1876, De acordo com Lavina Madeira
com o total de 12 números. Ribeiro (2004), jornais de maior
circulação conseguiam reunir nomes com
Na primeira edição, destaca-se o trecho
notoriedade pública e representar uma
que conclama ao uso da comunicação
diversidade de interesses e expectativas no
para denúncia dos atos discriminatórios e
meio urbano. Todavia, essa realidade que
da opressão racial, por meio do explícito
começava a se instaurar, especialmente
oferecimento das páginas do jornal para
6- Grifo da autora. a partir de 1876, “era incompatível com
tais feitos. Numa das suas edições, o jornal
a noção herdada por muitos jornalistas
558
sobre a necessária função política e crítica pudessem partilhar os mesmos espaços,
da imprensa” (RIBEIRO, 2004, p.126). no mundo real e no mundo simbólico, a
Nesse panteão, podem-se inserir Luiz exemplo do que preconiza Sartre (1968,
Gama, José do Patrocínio, José Correia p.11): “a ação do negro é antes de tudo
Leite e Lino Guedes. ação sôbre si”.
No Sul do Brasil, a imprensa negra teve Em História da imprensa no Brasil,
como representante inicial o jornal O Nelson Werneck Sodré (1999) refere-se
Exemplo, que circulou com interrupções à imprensa negra através dos jornais O
no período de 1892 e 1930. É caracterizado Crioulo, O Crioulinho, O Mulato, O Cabrito
por Silveira (2005, p.115) como “iniciativa e O Homem de Cor como publicações
e organização de negros7. Antecipa-se à surgidas das “inquietações geradas em três
importante imprensa negra paulista e séculos de domínio colonial sob a rígida
paulistana: O Baluarte, Campinas em 1903, estrutura do latifúndio” (SODRÉ, 1999,
A Pérola, São Paulo, 1911, O Menelick, p.157). Quando compreendido o contexto
a seguir, O Clarim da Alvorada, mais em que o racismo e as desigualdades
adiante”. Entre os títulos relacionados por raciais se operacionalizam, a produção da
Silveira (2005) na imprensa negra gaúcha imprensa negra cresce em importância e
do século XIX estão: A Cruzada (Pelotas, significado frente ao poderio ideológico,
1905), A Alvorada (Pelotas, 1907), A cultural, político e econômico ao qual se
Revolta (Bagé, 1925), A Navalha (Santana contrapõe.
do Livramento, 1931). Conforme Cremilda Medina (1988,
No pioneiro O Exemplo, um estudioso p.51), uma “imprensa politicamente
(MORAES, 2002) identifica a presença de militante é, então, mero reflexo de uma
poesias de autores brancos, no período situação efervescente. O interesse principal
1916-1930 – informação que coloca em dos jornais é, antes de informar, formar
xeque possíveis interpretações de uma opiniões”. Nesse sentido, a incessante
imprensa negra hermética numa eventual produção da imprensa negra no período
confusão do significado de afirmação de de 1833-2010 ganha e relevância para
um espaço identitário. Na primeira edição os estudos da imprensa brasileira e do
de O Exemplo – editado em Porto Alegre, Jornalismo, em particular.
em 11 de dezembro de 1892 –,a missão do
Projetos Editoriais no Pós-
jornal é apresentada à sociedade gaúcha.
O tom reivindicatório e de afirmação
Abolição
da identidade negra apresentado em O Na historicização da imprensa negra
Exemplo bradava pela participação social paulista, no período de 1915 a 1963, a
e o fim do racismo e do preconceito antropóloga Miriam Nicolau Ferrara
racial que impediam os negros de considera que a imigração europeia e
desempenharem o mesmo papel que os a rejeição da população negra para um
brancos na sociedade sul-rio-grandense. estrato abaixo dos imigrantes foram alguns
O jornal desempenhava uma função social fatores impulsores para o surgimento
de denúncia e proposição de uma nova dos jornais negros – ponto que a revisão
ordem social em que negros e brancos histórica remete para 1833, com o jornal O 7- Grifo da autora.

559
Homem de Cor –, e a sua “concentração no para, com mais força, o negro reivindicar
Sul do Brasil, especialmente no Estado de seus direitos e reclamar sua participação na
São Paulo” (FERRARA, 1981, p.198). sociedade9”. Os jornais da imprensa negra
A partir de sua dissertação de mestrado passaram a ser o canal de comunicação
A imprensa negra em São Paulo, Miriam no qual o “protesto se faz ouvir em
10

Ferrara chega a classificar 56 jornais diferentes aspectos da sua vida tanto no


estudados. Entre os quais, destacam-se: campo profissional, no político, como no
no primeiro período, de 1915 a 1923, O lazer”. No terceiro período, Ferrara (1981,
Menelik (1915), A Rua (1916), O Xauter p.204) verifica que a imprensa negra
(1916), O Alfinete (1918), O Bandeirante procurava “reunir os negros que haviam se
(1919), A Liberdade (1919), A Sentinela dispersado, conscientizá-los e reivindicar
(1920), O Kosmos (1922) e Getulino a participação sócio-política e econômica”
(1923); no segundo período, de 1924 a e estava comprometida com “o esforço
1937, O Clarim da Alvorada (1924), Elite de unir os negros em favor de uma causa
(1924), Auriverde (1928), O Patrocínio comum”.
(1928), Progresso (1928), Chibata (1932), Também jornalista negro com atuação
Evolução (revista 1933), A Voz da Raça na grande imprensa – nos jornais Última
(1933), Tribuna Negra (1935) e A Alvorada Hora e Correio Paulistano –, Clóvis Moura
(1936); e, no terceiro período, de 1945 a (2002) relaciona mais de 30 títulos, até a
1963, Alvorada (1945), Senzala (revista década de 1960, desde o jornal O Menelick,
1946), União (1948), Mundo Novo (1950), em São Paulo, em 1915. Autointitulado
Quilombo (revista 1950), A Voz da Negritude“noticioso, literário e crítico dedicado aos
(1953), O Novo Horizonte (1954), Notícias homens de cor” (MOURA, 2002, p.8), O
de Ébano (1957), O Mutirão (1958), Hífen Menelick trazia em sua edição de 1º de
(1960), Níger (revista 1960), Nosso Jornal janeiro de 1916 a saudação ao novo ano,
(1961) e Correio d´Ébano (1963). contos, poesias, anúncios, notas sociais
Ferrara (1981) concebe entre as de nascimentos, casamentos e óbitos,
características comuns dos jornais concurso de beleza negra “bem entendido,
negros no primeiro período da imprensa entre a ‘classe’” (MOURA, 2002, p.8).
negra paulista a abordagem cotidiana da Como exposto, desde o seu surgimento,
comunidade negra (versos, notas festivas e em 1833, a imprensa negra e os jornais
amenidades), no sentido de “controle sobre negros estavam inseridos na luta
o grupo” (FERRARA, 1981, p.200). Havia contra o racismo, a discriminação e o
matérias de conteúdo reivindicatório, preconceito racial no Brasil. Essa origem
embora reduzidas, haja vista que e tais características são fundamentais
“começava a formação de uma consciência para o entendimento não somente da
de grupo”. Na segunda fase referida por imprensa negra, mas também para a
Ferrara (2005, p.201), “as reivindicações compreensão da imprensa brasileira. Pois,
ganham força e a imprensa negra atinge é a imprensa negra parte integrante da
seu ápice”, pois o “problema do negro é imprensa brasileira e sua existência tem
8- Grifo da autora. abordado de modo mais direto e objetivo”, potencial colaborativo para a reflexão
9- Grifo da autora.
10- Grifo da autora. revelando “sentimento maior de união8 sobre a presença e os efeitos do racismo

560
na imprensa brasileira, em particular na estamos conversando nós dois aqui,
e cada um fazia aquilo que tinha lá
grande imprensa.
mais familiaridade. Tinha mais co-
Abdias do Nascimento (2009), que entre nhecimento do assunto, né? Não era
um trabalho dividido. Era muita ca-
as suas múltiplas atuações – como senador
maradagem, muita amizade. Não ti-
da República, secretário de Estado, nha assim, tarefas (NASCIMENTO,
produtor cultural, professor, pintor, poeta, 2009 In: ROSA, 2011, p. 66).
e, sobretudo, ativista do Movimento A imprensa negra “feita por negros e
Negro –, também foi jornalista da grande para negros10 marcou profundamente
imprensa e da imprensa negra, relatou a o pensamento do negro paulista”, pois
sua trajetória no jornal O Quilombo, de sentiam “a necessidade de um movimento
1950: de identidade étnica, e enfrentando as
barreiras de uma imprensa branca (grande
Fui fundador de O Quilombo, que imprensa) impermeável aos anseios e às
existiu por dez números. O propó- reivindicações da comunidade” (MOURA,
sito do jornal era envolver cada vez
1989, p.69). Baseado nos jornais da
mais a própria comunidade e fazê-
-la participar de todo o movimento imprensa negra paulista, Moura (2002,
do jornal. Mas acontece que os re- p.9) a considera como uma “imprensa
cursos eram muito pequenos, assim
setorizada” com conteúdo restrito sobre a
que as tiragens do jornal e o raio de
influência dele era muito pequeno. sociedade, a ponto de os negros terem de
Quase não tinha meios para tirar se informar na “imprensa branca” sobre
uma grande tiragem do jornal. (...)
Era um grande esforço, porque nós acontecimentos nacionais e internacionais.
todos éramos pobres trabalhadores. Percebe-se, ainda (MOURA, 2002, p.11),
Não tínhamos dinheiro para susten- como ideias constantes, a ascensão
tar o jornal. Num período era revisor
de jornal. No outro período, eu era do negro através da escolarização, o
repórter, assim sempre em funções “aprimoramento cultural” e o “bom
de ganho pequeno (NASCIMENTO, 11- O pesquisa-
comportamento social”. dor (1998, p.202)
2009 In: ROSA, 2011, p. 65).
considera Miriam
A imprensa negra reflete como os negros
Nicolau Ferrara
articulam o conceito de raça sobre si, no como “fonte básica
Em consonância com o tema desta sentido de transformação positiva da sua da imprensa
negra”. Entre as
pesquisa, a autora perguntou a Abdias do representação social e de “uma reviravolta referências cita Ro-
Nascimento (2009) sobre as diferenças ideológica” (MOURA, 2002, p.11), ger Bastide (1951)
e Clóvis Moura.
entre a grande imprensa e a imprensa traduzida por meio da autoafirmação. Informa, ainda, que
negra, especialmente no fazer jornalístico grande parte
Segundo George Reid Andrews11 (1998, dos jornais pesqui-
e na produção da notícia em cada uma: sados por Ferrara
p.216), “os jornais negros localizados
foram doados para
Na imprensa normal, a grande como na capital regularmente comentavam a Universidade de
você diz, a notícia sobre questões incidentes de negros que não eram São Paulo, e Micha-
negras era esporádica, era de vez em el Mitchell,
quando. Para publicar, para sair, era
servidos em bares, hotéis, restaurantes e cientista político
barbearias nas cidades menores do Estado”. estadunidense, pre-
preciso um grande empenho jun-
parou o microfilme
to a secretário do jornal, ao diretor Conforme Moura (1989, p.69), a imprensa The Black Press of
mesmo. E no outro jornal, não. A Brasil, que compõe o
gente resolvia publicar, dava o des- negra é uma “voz independente12” do negro
acervo
taque que se queria dar. Não tinha com marcas profundas no pensamento da Biblioteca Fires-
ninguém que se opunha, né? (...) negro. Pinto (2006, p.24) concebe a tone da Universida-
Nós conversávamos, assim como de de Princeton.
561
“imprensa negra como especializada era fundar um partido negro, no qual os
ou segmentada” a exemplo da imprensa afro-brasileiros pudessem se organizar
feminina, da imprensa abolicionista e da politicamente, a fim de reivindicar e
imprensa operária. A dupla de sociólogos garantir a isonomia de direitos entre
Roger Bastide e Florestan Fernandes negros e brancos.
(1971), ao analisar as relações de brancos e No artigo A União dos Homens de Cor:
negros em São Paulo, classifica a imprensa aspectos do movimento negro nos anos 40
negra como “imprensa adicional”, e 50, a pesquisadora negra Joselina Silva
por conta do tríplice desdobramento, (2003) registra a fundação da organização
“como instrumento de reivindicação, de homônima em 1943, na cidade de Porto
solidariedade e de educação”. Para Bastide, Alegre, a qual cinco anos mais tarde
com registrado por Moura em seu estudo conquistaria entidades filiadas em dez
crítico, a imprensa negra tinha o propósito estados brasileiros. Entre o grupo de cinco
“de reivindicação, contra tudo o que seja homens fundadores, havia uma mulher,
em detrimento da elevação do brasileiro uma trabalhadora doméstica. No texto,
de cor; de solidariedade, porque somente Joselina Silva aborda a importância dos
a união poderá quebrar o preconceito de jornais negros brasileiros nas décadas de
cor; de educação, porque o preto só subirá 1940 e 1950 e de entidades, como a União
com mais instrução e mais moralidade, e dos Homens de Cor, na reação ao racismo
com mais confiança no seu próprio valor” no Brasil.
(MOURA, 2002, p.10).
Produção Jornalística
Na imprensa negra paulista, destacam-
se os jornais A Voz da Raça ao lado de O entre 1970-2010
Clarim da Alvorada, considerados entre Outra referência importante da
“as duas mais importantes publicações por imprensa negra no Brasil é a partir de
despertar a consciência do negro paulista”
1970 (MORAES, 2002; PEREIRA, 2008;
(MOURA, 1989, p.71).
FREITAS, 2009), período em que a
Ao traçar A trajetória e perspectivas efervescência afro-brasileira desencadearia
do movimento negro brasileiro, Amauri processos políticos como a fundação do
Mendes Pereira (2008) registra o MNUCDR (Movimento Negro Unificado
engajamento político da equipe do jornal
contra a Discriminação Racial), em 1978,
O Clarim da Alvorada que “tentara, em
seguindo para a nova formatação de
1929, realizar um Congresso da Mocidade
entidades e organizações negras contra o
Negra”. Tal registro é feito numa das
racismo, cujas primeiras expressões são
passagens do texto em que o autor afirma
verificadas no processo abolicionista por
que “a organização de momentos e espaços
meio de quilombos, irmandades negras13,
12-Grifo da autora coletivos de troca de impressão e de debates
foi uma constante no Movimento Negro clubes negros, entre outros (GONZALEZ,
13- Um exemplo de
organizações negras, as
irmandades negras já Brasileiro”. Como registra o jornalista 1982). Novamente, Silveira (2005) fornece
eram registradas desde
a primeira década
José Correia Leite (1992), que dedicou mais uma referência para o entendimento
dos anos 1700 (AN- grande parte da sua vida aos projetos do papel da imprensa negra no final dos
DREWS, 1998).
editoriais negros, o objetivo do encontro anos 1970:

562
Marco inequívoco é Tição, de Porto Segundo o jornalista negro Jorge Roberto
Alegre (grupo Tição, 1977-1980).
Freitas (2009), os anos 1970 representam
Revistas Tição em 1978 e 1979, dois
números e a publicação única do o ressurgimento das publicações da
jornal Tição em 1980. Apresentação imprensa negra circulantes até meados de
cuidada, boa diagramação e conteú-
1960. No estudo crítico sobre Imprensa
do envolvendo história, debate sobre
Negra, de Clóvis Moura (2002), o escritor
racismo, questões sociais, políticas
e culturais em geral, reafirmaram aOswaldo de Camargo explicita certo
possibilidade de uma imprensa ne-
pessimismo em relação à existência de
gra vigorosa, renovada, séria e rica
em abordagens, temas, profundida- uma imprensa negra após os anos 1970
de. (...) Tição dialoga com imprensa
pelo fato de não existir “mais aquele leitor
negra da década: o anterior e clan-
negro altamente receptivo e participante,
destino A Árvore das Palavras, Afro-
-Latino-América (in Versus), Jorne-sócio ou freqüentador de associações ou
gro (...)” (SILVEIRA, 2005, p.115).
entidades negras” e face aos novos projetos
editoriais comerciais como a revista Raça
Independentemente da curta e
Brasil, o que poderia receber, de acordo
intensa vida, como os demais impressos
com o pesquisador, o nome de “imprensa
contemporâneos (PEREIRA, 2008), Tição
negrista” (CAMARGO, 2002, p.4).
se destaca pela contundente cobertura da
temática negra e pela denúncia do racismo. Antes da nominação de qualquer outra
No seu primeiro número, a chamada vertente da imprensa negra, cabe distinguir
de capa da revista revela três questões a natureza dos projetos editorais voltados
atuais: educação, política e gênero. A ao público negro. Algumas iniciativas estão
saber: “Racismo diz presente na escola”, vinculadas a organizações negras contra
“Escurinho: o negro tem que evoluir o racismo, com produções vinculadas
politicamente” e “A mulher negra cansou ao Movimento Negro, diferenciando-
de ser doméstica” (SILVEIRA, 2005). se inclusive de ações comunicativas
Já a primeira e única edição do jornal, institucionais que objetivam a divulgação
em outubro de 1980, descortina mais institucional; e outras adotam um caráter
temas em franco debate na atualidade, comercial, percebendo o público negro
tais como violência racial, discriminação como consumidor de informação. Talvez
no mercado de trabalho, conjugação essa distinção possibilite uma melhor
das discriminações de gênero e raça e compreensão do empreendimento da
indicadores sociais: “Chega de violência”, imprensa negra que perpassa os séculos,
cuja charge coloca em primeira plano um antes mesmo da Abolição da Escravatura,
jovem negro e um cerco de policiais a suas até os dias de hoje, associado à luta maior
costas, “Igualdade e autonomia do negro”, que é o enfrentamento do racismo.
“Negra: discriminada em dose dupla” Com relação ao conteúdo e a linha
e “Censo tapa o sol com a peneira”. O editorial dos jornais da imprensa negra,
jornalista negro Paulo Ricardo de Moraes Muniz Sodré (1999, p.240) considera
(2002) lembra que a revista Tição teve que o “protesto racial” contra o racismo,
grande receptividade local e influenciou a discriminação e o preconceito racial
o surgimento de novas publicações em estava dentro de um “horizonte político
outras localidades do país. integracionista” e o que o indivíduo negro

563
aspirava “tão-só à igualdade econômica seu caráter associativo de tratar a causa
e política, acompanhada do respeito negra, a imprensa negra ocupou e ocupa
racial”. A seguir, o pesquisador aborda papel decisivo e, por vezes, determinante
a especificidade da imprensa negra: “A para a organização política dos negros no
importância de uma imprensa negra enfrentamento do racismo.
acentua-se quando se leva em consideração Dessa forma, a intensificação do debate
que os discursos sociais desempenham um racial verificada na reserva de vagas para
papel central tanto na produção quanto na negros nas universidades, no Estatuto
reprodução do preconceito e do racismo” da Igualdade Racial ou na regularização
(SODRÉ, 1999, p. 242). das terras de quilombolas, entre outros
Cabe aqui lançar questões fundamentais temas atuais, demonstra a importância
para compreensão do esforço na da imprensa negra para a ressignificação
constituição da imprensa negra e de de fatos e acontecimentos, tendo em vista
um Jornalismo comprometido com a a polaridade do noticiário e da opinião
temática racial negra, particularmente pública.
a problemática racial enfrentada por Ao referir-se à imprensa negra da
africanos e seus descendentes na sociedade década de 1980, Muniz Sodré (1999)
brasileira. Essas estratégias adotadas pelos verifica a intencionalidade dos jornais
afro-brasileiros serviram para combater o negros de “desmontar o mito da democracia
racismo no século XIX e XX? A imprensa racial15 brasileira e montar estratégias
negra poderia consolidar-se como uma antirracistas16”. No seguinte trecho, ele
prática jornalística14 antirracista? ressalta esse compromisso da imprensa
Partindo do ensinamento de Sartre (1968), negra:
um racismo antirracista tem o sentido
da desconstrução do racismo e não de A imprensa negra do passado era
sua reatroalimentação, como poderia ser também política, ainda que não ne-
confundido. cessariamente partidária: tratava-se
de exprimir os anseios ascensionis-
A imprensa negra se constituiu como tas ou integracionistas de um grupo
social estigmatizado pela cor e pela
um dos instrumentos utilizados pelos
origem escrava. Era uma imprensa,
negros brasileiros para a provocação portanto, impelida pela luta antirra-
de um debate público sobre o racismo cista, ainda que suas estratégias nem
sempre tenham-se pautado por po-
14 - Bourdieu insere a no País, a partir do domínio da técnica
sições muito nítidas ou ideologica-
atividade jornalística jornalística pelos negros e do uso da esfera mente progressistas (SODRÉ, 1999,
no centro de disputas
pública para a enunciação de um discurso p.247).
e interesses sociopolíti-
cos e culturais: “nesse dissonante das forças hegemônicas. Como
microcosmo que é o
já disse o jornalista Alberto Dines (1986, Na edição número 20, o Jornal do
mundo do Jornalismo,
são muito fortes as p.63), “quando um jornal é pequeno, os MNU (Movimento Negro Unificado) dava
tensões entre os que
assuntos proibidos e os nomes malditos destaque aos 20 Anos do Dia Nacional
desejariam defender
os valores da auto- são poucos. Isto pode transformá-lo da Consciência Negra. Reconhecendo-
nomia, da liberdade”
num grande jornal” – esta máxima se se como “imprensa negra autônoma,
(1997, p.52).
15- Grifo da autora aplica ao enfrentamento do racismo livre e independente18”, o jornal revela
16- Grifo da autora
empreendido pela imprensa negra. Com nas edições trimestrais a organização
17- Grifos da autora

564
política, a mobilização e a solidariedade notícia pra valer (NASCIMENTO,
2009, In: ROSA, 2011, p, 71).
entre as diversas causas negras (mulheres,
quilombolas, por exemplo) e a afirmação da Pelo exposto, entende-se que o conceito
identidade negra em entrevistas, dicas de de imprensa negra está relacionado ao que
leitura, poesias e relatos de acontecimentos Sartre (1968) denomina como tomada
nacionais sob a perspectiva racial. No de consciência, “diferente da reimersão
número seguinte, em editorial, o Jornal do em si, trata-se de reconhecer-se na ação
MNU abordou a questão das comunidades e pela ação”. A abordagem de Hannah
quilombolas. Arendt (2008, p.15) também inspira a
pensar a imprensa negra no significado
Ainda na década de 1990, surge o Jornal
da ação política como “condição humana
Ìrohìn, como decorrência da Marcha
da pluralidade”, pois “todos os aspectos
Zumbi 300 anos, contra o Racismo, pela
da condição humana têm alguma relação
Cidadania e a Vida, realizada em 199519.
com a política; mas esta pluralidade é
A publicação apresenta sua missão com
especificamente a condição – não apenas
o objetivo de “informar à sociedade sobre
a conditio sine qua non, mas a conditio per
assuntos não tratados pela grande imprensa20
quan – de toda a vida política”.
e diretamente relacionados ao cotidiano
da comunidade afro-descendente”21. Desse modo, é salutar retirar a imprensa
Significando notícia em yorubá, o Ìrohìn negra do ostracismo imposto pela história
em seu primeiro editorial, de maio/junho da imprensa brasileira e pelos teóricos
de 1996, apresentou-se como “organização da comunicação nacional. Moura já
não-governamental plural, de amplo conclamou maior atenção dos cursos de
espectro político e sintonizada com a Comunicação por considerar a imprensa
liderança negra”. negra “pouco conhecida e menos ainda
divulgada”, além de “não incluída nos
Em entrevista para esta pesquisa, Abdias
programas das escolas de comunicação
do Nascimento (2009) fez considerações
como capítulo a ser estudado” (MOURA,
acerca do conteúdo editorial do Jornal
2002, p.2). É imperativo refletir
Ìrohìn, reconhecendo-o como um legítimo
criticamente quão tamanha supressão
representante da imprensa negra por estar
– salvo raras exceções e breves citações
intrinsecamente vinculado à luta política 18- Lima Júnior
como Bahia (1972), Melo (1972) e (2009) destaca em
dos afro-brasileiros contra o racismo no
Werneck (1994) – prestou-se à reiteração dissertação de mes-
Brasil: trado em Educação
do racismo e à prevalência da supremacia da Universidade de
branca no pensamento e nos estudos da São Paulo o caráter
Acho extraordinário o esforço da- educativo da imp-
comunicação, da imprensa e do Jornalismo
quela gente. Acho extraordinário rensa negra, baseado
porque é um jornal que tem peso. no Brasil. Ou sobre o epistemicídio como no estudo de caso do
Ele não perde tempo, ele não perde instrumento de dominação racial, como jornal Ìrohìn (1996-
espaço. Tem um peso mesmo, tem 2006).
influência. Só publica coisa que tem aborda a filósofa negra Sueli Carneiro
19- Grifo da autora
sentido. Não é brincadeirinha de (2005).
fazer jornal. Porque já houve muito 20- Informações ex-
jornal negro que é só brincadeira, De acordo com Ramon y Cajal (1979,
traídas do site do Jor-
papagaiada. Não tinha nada o que p.14), “não há questões esgotadas senão nal Ìrohìn. Disponível
dizer, era mais passatempo. O Ìrohìn em <http://www.
homens esgotados nas questões”, ou, por
entra na luta política mesmo e faz a irohin.org.br> Acesso
princípio de equidade de gênero: homens e em: 19 set. 2008.
565
mulheres esgotadas nas questões. Haveria, para compreender os instrumentos que os
por conseguinte, um esgotamento grupos dominantes utilizam e reproduzem
epistemológico desse campo acadêmico, para fazer valer a sua visão de mundo.
distante de grandiosas questões como Essa prática começou a se alterar
a história da imprensa negra e o fazer gradativamente a partir do ingresso
jornalístico desse segmento altamente de pesquisadores e pesquisadoras
especializado e associado ao tema do interessados em “trabalhos acadêmicos
combate ao racismo e integração do negro que vislumbram, numa postura crítica,
à sociedade brasileira. os problemas nacionais de comunicação”
e inseridos num campo de análise “não
Considerações finais necessariamente coincidente com a
As produções da imprensa negra das classes dominantes” (MELO, 1980,
sinalizam a possibilidade de subversão p.11). Pode-se incorporar neste espectro
da falta de interesse epistemológico não a produção de um pensamento negro
somente na história da imprensa negra, na comunicação, isto é, no contexto das
mas também na sua capacidade de epistemologias do Sul (SANTOS, 2009)
reivindicação, mobilização social, educação e no propósito de agregar, à produção
e apreciação das relações humanas entre os intelectual, o desmantelamento do sistema
grupos raciais brasileiros. hegemônico cognitivo que vigora em
detrimento da dinâmica e da realidade
Referem-se, pois, ao que o teórico
social, condicionando-as a um sistema de
brasileiro José Marques de Melo entende
exclusões e discriminações.
como engajamento consciente ou não

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