Vous êtes sur la page 1sur 6

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS (FLC0275-04)

FREQUÊNCIA DE OCLUSIVAS, FRICATIVAS E NASAIS EM 3 REFRÃOS DE


CHICO BUARQUE

PROFESSOR WALDEMAR FERREIRA NETO

LUCAS RIELLO DE ALMEIDA

Nº USP 7193854

JUNHO DE 2013
Introdução

Esse trabalho tem como objeto de estudo três canções de Chico Buarque, “A
Banda”, “Pedro Pedreiro” e “Meu Refrão”, todas do álbum Chico Buarque de
Hollanda, de 1966. O trabalho pretende analisar a produção de sons
consonantais oclusivos, fricativos e nasais nos refrãos de ambas as músicas. A
atenção à sonoridade dessas canções se originou do seguinte trecho de uma
análise de Celso Loureiro Chaves a respeito da obra de Chico Buarque:

“Assim como as letras têm espesso significado semântico, mas


guardam sempre os limites da compreensibilidade, assim as
melodias são imediatamente "cantáveis", sem que se percebam
suas sofisticações. Este modelo da canção urbana brasileira vem de
longe, no tempo. É urbana porque é nos centros urbanos que se
concretiza. É brasileira porque seu alcance é nacional, com
pouquíssimas barreiras regionais. Não é canção "popular" porque
nem suas origens e nem seus receptores se particularizam neste ou
naquele segmento social. Suas origens são socialmente mais
disseminadas, seus receptores são muito mais difusos do que os
quereriam os teóricos. A unanimidade em torno de Chico Buarque
vem daí, deste modelo quase atávico de canção que nos remete à
década de 1920 e a Noel Rosa, mas que ultrapassa o modelo original
ao depurar seus componentes estruturais, letra e música, seus
conteúdos semântico e sônico1.” (grifos meus)

Após o levantamento de dados, haverá uma sessão de análise dos dados, em


que se tentará mostrar que, como diz o trecho citado, o plano da expressão
colabora muito, como se espera, com a elaboração de sentido no plano do
conteúdo. Essa contribuição, suponho, está ligada fortemente à sonoridade da
letra que se une ritma e semanticamente com a letra.

Levantamento de dados e análise

“A Banda”

Primeiramente, tomarei o refrão da canção “A Banda”, de Chico Buarque. O


refrão, que também constitui as 2 primeiras estrofes da letra, possui 58 sílabas.

1 (CHAVES, Celso L. Chico Buarque das Canções)


De todos os sons consonantais, destaquei os 3 principais, que, como será
visto, representam quase a totalidade encontrada. Segue uma representação
da estrofe, dividida em suas sílabas poéticas, com os sons consonantais
destacados por cores diferentes.

Es / ta / va à / to /a /na / vi /da
O /meu / a /mor / me /cha /mou
Pra /ver / a /ban /da / pa /ssar
Can /tan /do / coi /sas / de a /mor

A / mi /nha / gen /te / so /fri /da


Des /pe /diu- /se / da / dor
Pra / ver / a /ban /da /pa /ssar
Can /tan /do / coi /sas / de a /mor
Oclusivas 28
Fricativas 17
Nasais 15
- Total de sons consonantais no refrão, considerando os que não foram
marcados: 71

Percebe-se uma predominância das oclusivas ao longo de todo o trecho, quase


50% de todas as produções consonantais, seguido pelas fricativas e nasais,
respectivamente. Além, a quantidade de oclusivas aumenta ao longo dos
versos, subindo de três para 5 recorrências em um mesmo verso, enquanto há
uma redução das outras consoantes.

“Pedro Pedreiro”

O refrão possui 38 sílabas. Percebe-se, novamente, uma predominância das


oclusivas ao longo de todo o trecho, da mesma forma que na canção anterior.
O último verso é totalmente marcado pela presença de oclusivas (10), além de
uma forte presença de nasais (8).
Pe / dro / pe / drei / ro / pen / sei / ro es / pe / ran / do o / trem (12 sílabas)

Ma / nhã / pa / re / ce, / ca / re / ce / de es / pe / rar / tam / bém (13 sílabas)

Pa / ra o / bem / de / quem / tem / bem / de / quem / não / tem / vin /


tém (13 sílabas)

Oclusivas 24
Fricativas 6
Nasais 16
- Total de sons consonantais no refrão, considerando os que não foram
marcados: 63

“Meu refrão”
Por fim, na canção “Meu refrão” há uma mudança na distribuição sonora, pois
os sons consonantais predominantes são nasais, apesar de os oclusivos
totalizarem um número relativamente próximo.

Quem / can / ta / co / mi / go, / can / ta o / meu / re / frão


Meu / me / lhor / a / mi / go é / meu / vi /o / lão
Meu / me / lhor / a / mi / go é / meu / vi /o / lão

Nasais 13
Oclusivas 9
Fricativas 3

- Total de sons consonantais no refrão, considerando os que não foram


marcados: 32

Sistematização dos dados


Considerando o levantamento de sons consonantais realizado acima, é
possível elaborar os seguintes gráficos:
Total de sons oclusivos, fricativos e nasais por música:

80

70

60 Oclusivas

50
Fricativas
40
Nasais
30

20 Total de sons
consonantais
10

0
A Banda Pedro Pedreiro Meu Refrão

Somatório dos tipos de sons das 3 canções:

Total de Sons
70

60

50

40

30 Total de Sons

20

10

0
Oclusivo Fricativo Nasal

Conclusão

Como dito na introdução, nota-se uma predominância sonora nesses 3 refrãos.


Se o escopo do trabalho fosse maior, poderia ser realizada uma análise rítmica
de todos os versos, e se constataria que a métrica empregada é regular e
apresenta certos padrões de pés (dáctilos, troqueus, iambos). Tomemos, por
exemplo, a canção “Pedro Pedreiro”. A imagem do trem perpassa todas as
estrofes e ao longo delas vai adquirindo novas conotações. Essa acumulação
imagética pode ser associada à aceleração do trem. Da mesma forma, no
refrão há um movimento de acumulação das oclusivas que culmina no terceiro
verso, predominantemente oclusivo (Pa / ra o / bem / de / quem / tem / bem
/ de / quem / não / tem / vin / tém). Também os metros dessa estrofe se
tornam mais rápidos, pois os dois primeiros versos iniciam com dois dáctilos,
mais lentos, e o terceiro verso é só composto por troqueus, pés bem mais
rápidos. Ou seja, semântica, métrica e sonoramente o refrão se acelera.

No refrão de “A Banda” ocorre o mesmo fenômeno: os últimos versos de cada


estrofe possuem mais consoantes oclusivas. Entendo que as consoantes
oclusivas possuem uma característica percussiva, sendo possível emular
instrumentos de percussão (como pandeiro e tamborim) apenas usando esses
sons consonantais. Dado isso, esses refrãos possuem uma qualidade rítmica
muito intensa, pois a interpretação que Chico Buarque dá a essas palavras faz
com que soem quase como um instrumento musical à parte. De qualquer
maneira, nota-se uma preferência, ao menos nessas três músicas, por refrãos
com tais características. Isso talvez reflita a poética de composição da época,
um tanto voltada para a inserção de músicas em festivais. Os compositores
queriam divulgar o máximo possível suas obras e talvez tenham construído a
sonoridade das composições voltada para uma fruição mais suave, fácil de ser
escutada, mas não menos complexa.

Vous aimerez peut-être aussi