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2.2.
O que se ensina e o
que não se ensina na escola
N
ão havendo aqui lugar para nos vigentes, havendo diretivas definidas pela
determos nas várias aceções tutela quanto à forma de operacionalização
de currículo, concordamos do currículo, em termos de conteúdos,
com a ideia básica de que metodologias e avaliação das aprendizagens.
ele deve traduzir uma teoria e uma prática
que seja útil para a vida de quem aprende, Numa lógica de equidade, para usar as
que represente um cenário da realidade e palavras de Maria Ivone Gaspar e de Maria
que não deixe de fora assuntos que são do Céu Roldão (2007), o currículo deverá
fundamentais para a vida de todos os dias. visar sempre a aquisição de saberes e o
Mais do que perspetivá-lo como o plano de desenvolvimento de competências em alunos
estudos oficial ou o leque dos programas e alunas, qualquer que seja o seu ponto de
das disciplinas oferecidas pela escola (visão partida, de forma a garantir-lhes o acesso a
restrita), entendemos, tal como Maria da trajetórias sociais que são certificadas pela
Piedade Ramos e Jorge Adelino Costa (2004), escola. No entanto, a sua aplicação terá
que ele traduz, num entendimento mais lato, necessariamente de abandonar a defesa de um
“o conjunto de aprendizagens ou experiências modelo de currículo uniforme, pronto-a-vestir
formativas realmente acontecidas” (p. 81). e de tamanho único, seguindo a expressão
cunhada em 1987 por João Formosinho,
Como afirmam os especialistas portugueses porque as distintas pertenças identitárias das
Joaquim Machado e João Formosinho crianças e jovens que convivem no mesmo
(2012), ao definir o currículo escolar o Estado espaço escolar apelam a uma atuação
determina de maneira uniforme para todo pedagógica diferenciada que esbata eventuais
o território nacional, e para os alunos de diferenças condicionadoras de desempenhos e
ambos os sexos, o que estes e estas devem crie condições de sucesso para todas e todos.
aprender e que, por conseguinte, lhes deve
ser ensinado, traduzindo isso opções de Sabe-se que o “sexo afigura-se como
fundo quanto às finalidades e conceções de o primeiro e mais estruturante fator de
educação defendidas centralmente. Ainda desigualdade. Sempre que se colocam em
na linha dos mesmos autores, a definição do evidência as várias situações e privações que
corpus curricular acaba por outorgar à escola configuram uma situação de exclusão social
a responsabilidade de ser não apenas um local e os grupos a esta associados, verifica-se
de educação formal, mas também um espaço que, neles, as mulheres se encontram em
por excelência de formação de cidadãs e de particular desvantagem. (…) A exclusão social
cidadãos, de acordo com os valores sociais e a pobreza, bem como a desigualdade de
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5 Ver a este respeito o artigo de David Flinders e colaboradores (1986), no qual estes autores parecem defender a ideia de que a
dimensão afetiva é a mais importante, pois sem ela as restantes duas ficam esvaziadas de sentido em termos de aprendizagem.
Disponível em: http://www.jstor.org/stable/1179551 (consultado a 10 de março de 2015).
6 Fonte: http://spartacus-educational.com/Fbritishladies.htm (consultado a 12 de março de 2015).
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9 Para uma consulta atenta dos resultados disponíveis para Portugal da comparação internacional PISA 2015, consultar: http://
gpseducation.oecd.org/CountryProfile?plotter=h5&primaryCountry=PRT&treshold=10&topic=PI
10 A referida publicação, com o título Women, Science and Globalisation: What´s UP?, encontra-se disponível em: http://www.
qrandgo.com/AMONET_ebook.html (consultado a 12 de agosto de 2015).
11 Segundo o I Relatório sobre Diferenciações Salariais por Ramos de Atividade, relativo à situação portuguesa e publicado em
2014, “no que respeita aos níveis de qualificação, constata-se que o diferencial salarial entre mulheres e homens, desfavorável
às mulheres, é diretamente proporcional aos níveis de qualificação, ou seja, quanto mais elevado é o nível de qualificação
maior é o diferencial salarial, sendo, portanto, particularmente elevado entre os quadros superiores” (p. 13). Disponível em:
http://www.cite.gov.pt/pt/destaques/complementosDestqs/I_Rel_Dif_Sal.pdf (consultado a 20 de março de 2015).
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12 Em Portugal, em 2015, os números divulgados pelo Conselho Nacional de Educação, no Relatório Estado da Educação, re-
velavam que 99,1% dos docentes eram mulheres, diminuindo a percentagem à medida que se avançava nos níveis de ensino.
Nos ciclos seguintes, havia 86,6% de mulheres no 1º CEB, 72,3% no 2º CEB e 71,6% no 3º CEB e secundário. Fonte: http://
www.cnedu.pt/content/noticias/CNE/Estado_da_Educacao_2015_versao_digital.pdf (consultado a 17 de março de 2017).
13 Em 2009, segundo estatísticas oficiais, a percentagem de homens diplomados ou licenciados em Serviço Social em Portugal
representava apenas 9% da totalidade de profissionais, tendo este indicador crescido apenas cinco pontos em treze anos
(desde 1996). Ver a este propósito a publicação de Francisco Branco (2009), com o título A profissão de assistente social em
Portugal, disponível em: http://snas.pt/artigos/aprofiss%C3%A3odeassistentesocialemportugal (consultado a 20 de março de
2015).
14 Documentos disponíveis em: http://www.coe.int/t/DGHL/STANDARDSETTING/EQUALITY/03themes/gender%20
stereotypes%20and%20sexism/Report%202%20NFP%20Conference%20Helsinki%20-%20Education.pdf (consultados a 20
de março de 2015).
15 Documento com o título Combating gender stereotypes in and through education, disponível em: https://rm.coe.int/
CoERMPublicCommonSearchServices/DisplayDCTMContent?documentId=0900001680590fe5 (consultados a 22 de março
de 2015).
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