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XXXIV Colloque international du GIREA, 2013, 91-105

Controle social sobre os camponeses no antigo Egito: modelos


em contraste

Fábio Frizzo
Universidade Cândido Mendes-Universidade Estácio de Sá
(Rio de Janeiro, Brasil)

O presente artigo é parte de uma pesquisa embrionária que se dedica a fazer um


mapeamento de como a egiptologia atual tem tratado a questão do controle social sobre
o campesinato. Em outras palavras, quais eram as formas da dominação e resistência de
classe exercidas no Egito até o a primeira metade do segundo milênio a.C.
O tema da exploração camponesa entre as sociedades antigas, mais do que um
interesse individual, é parte de um projeto coletivo da seção pré-capitalista do Núcleo
Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Marx e Marxismo (NIEP MARX-Prék), no
qual tentamos mapear as diferentes formas de domínio utilizadas na Antiguidade e no
Medievo.
Entre os modelos de dominação identificados no Egito faraônico, encontramos
dois exemplos que enfatizam estruturas opostas e outros que apontam para uma terceira
via intermediária. Neste sentido, resolvemos selecionar alguns textos para a crítica. No
primeiro grupo, destacamos trabalhos de Christopher Eyre (1997 e 2004), por um lado, e
J.C. Moreno García (2004) por outro. No segundo grupo, observam-se as caracterizações
de Marcelo Campagno (2006 e 2009).
O trabalho de Christopher Eyre será encaixado no que chamamos de modelo
formalista da economia egípcia, por partir de uma opção epistemológica baseada no
individualismo metodológico e na modernização da economia do Nilo, para acentuar o
controle local e a gestão camponesa da produção numa lógica empresarial.
Por outro lado, o texto de J.C. Moreno Garcia parte da antiga oposição entre
“Sociedades Ocidentais” e “Sociedades Orientais” para afirmar a soberania do Estado

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sobre as elites locais, exercida através de uma trama vertical de relações sociais que
envolvem clientelismo e patronato.
A Terceira Via é composta por trabalhos como o do egiptólogo argentino Marcelo
Campagno, que aponta para a coexistência de lógicas complementares de Estado,
parentesco e patronato, necessárias à exploração dos camponeses. Por outro lado, neste
mesmo sentido, avançamos em uma proposta de análise baseada no marxismo, a partir da
identificação entre o Estado e uma classe dominante, já observada nos estudos marxianos
sobre as “formas asiáticas”.

O formalismo de Christopher Eyre


À semelhança de várias outras áreas do conhecimento, foi no século XIX que a
Economia se firmou como disciplina institucionalizada, voltando-se para o estudo das
estruturas de produção, distribuição e consumo das diferentes sociedades humanas. Neste
contexto, consolidou-se a separação entre as esferas que Josep Fontana (1998) chamou
de história, economia política e projeto social. A história ganhou status de explicação
linear do tempo presente através do passado; a economia política desempenhava o papel
de explicação racional e imparcial das diferenças sociais do presente; e o projeto social
resumiu-se a pequenas modificações e reformas na realidade atual. Assim, o que antes
havia sido uma ideologia homogênea e indivisível da burguesia, desmembrou-se para se
blindar com o caráter científico e não ideológico.
Os estudos de História Antiga não passaram incólumes por este processo. Foi no
final do século XIX que se iniciou a famosa contenda entre Karl Bücher e Edward Meyer
acerca do caráter da economia antiga, tendo a Grécia Antiga como campo de batalha. A
corrente iniciada por Bücher e nomeada como primitivismo defendia que as estruturas
econômicas da Antiguidade eram secundárias em relação a outros aspectos da sociedade e
muito rudimentares quando comparadas ao capitalismo. Por outro lado, os modernistas
liderados por Meyer viam a economia antiga como idêntica à capitalista, guardando-
se as devidas proporções relativas principalmente às disparidades demográficas. Desta
maneira, o modo de produção capitalista avançava agressivamente não somente pelo
mundo do século XIX, mas também por toda a história humana.
No século XX, a contenda Bücher x Meyer orientou os debates da Antropologia
Econômica, associando o par primitivismo/modernismo a substantivismo/formalismo.
Os substantivistas defendiam a integração da economia em outras instituições sociais
nas sociedades pré-modernas. A racionalidade econômica estaria ligada à satisfação de
necessidades humanas obedecendo a diferentes formas de institucionalização, como a

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reciprocidade, a redistribuição e o intercâmbio. O formalismo, por outro lado, projeta


em toda a história humana uma racionalidade voltada para a maximização de benefícios
individuais a partir de uma lógica de disputa por meios limitados para alcançar fins.
Os pesquisadores da economia egípcia tomaram seus lugares neste campo de
batalha entre primitivistas/substantivistas e modernistas/formalistas. Do lado substantivista,
o maior nome na egiptologia é o de Jacob Janssen (1975) que descreveu as estruturas
econômicas do Egito a partir do princípio da redistribuição estatal dos excedentes
recolhidos nas unidades domésticas camponesas. Entre os formalistas há uma considerável
heterogeneidade. Nas últimas décadas a tendência tem sido anunciar a superação deste
debate. Todavia, via de regra, os autores que proclamam tal separação encaixam-se,
conscientemente ou não, na vertente modernista/formalista, como Smith (1995) e
Bleiberg (1996).
O exemplo escolhido para demonstrar o formalismo na egiptologia é o de dois
textos do inglês Christopher Eyre por ligar-se mais diretamente ao objeto deste texto: a
dominação social sobre o campesinato.
Eyre (2004, 168) identifica a base da economia egípcia no produtor familiar
individual que alugava terras, numa estratégia flexível de gestão local de riscos imposta
pelo contexto natural das cheias do Nilo. Neste modelo, o Estado desempenharia um
papel reduzido na produção:
“Uma questão fundamental é a eficiência do Estado central; grau que ele foi capaz de manter
o controle direto da agricultura e a relação fiscal direta com o verdadeiro agricultor. Isto
exigiria um conhecimento extremamente detalhado –“registro”– da terra cultivada: do
locatário ou titular responsável pelo pagamento, da safra de cultivo e da água disponível.
(...) o esforço administrativo necessário para operar de forma consistente um sistema
centralizado eficiente de pesquisa e arrecadação de receita teria sido imenso e não há razão
para acreditar que jamais tenha sido alcançado na Antiguidade. O governo central nunca
foi grande o suficiente”1.

Frente à inexistência de um controle estatal direto, haveria duas categorias


intermediárias de organização entre Estado e camponeses produtores, distintas tanto por
escala quanto pelo grau de integração local: 1) em um nível mais alto estava o “senhor” das
terras, podendo ser um indivíduo ou uma instituição como templos ou palácios; 2) outro
nível era o dos intermediários envolvidos na administração das fazendas, ou seja, “notáveis
rurais e vilões capitalistas”, que segundo Eyre (1997, 373) são mais difíceis de notar na
documentação, menos “inspirados ideologicamente”.

1  Eyre (1997, 371-2).

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Os “senhores” das terras eram os responsáveis pelas propriedades doadas pela


Coroa e se mantinham distantes delas. Eram os verdadeiros “proprietários”, funcionários
estatais interessados apenas na maximização das rendas. Movidos pela mais capitalista das
racionalidades, arrendavam as grandes propriedades recebidas, deixando os intermediários
no controle. Tais extensões de terra não passariam de uma estrutura administrativa, já que
no nível da produção eram cultivadas em lotes familiares individuais.
Segundo Eyre (1997, 382), o arrendamento dos lotes de terra possibilitava a
resolução das carências dos todos os estratos sociais envolvidos. No alto da pirâmide, os
“senhores” conseguiam força de trabalho para produzir a maximização desejada da renda
sem ter que lançar mão do trabalho assalariado. Na base da sociedade, os camponeses
produtores resolviam seus problemas de recursos limitados, recebendo o acesso a
todos os meios de produção necessários. Entre estes dois níveis, aparece a função dos
intermediários.
Os intermediários eram encarregados de gerenciar os conflitos entre os costumes
locais e as demandas centrais, tornando-os responsáveis pessoalmente pela segurança e
pela produtividade. Este era o papel dos chefes locais que ocupavam o hiato de poder entre
um Estado tributário distante e os produtores diretos. Estes homens estavam envolvidos
com a extração de tributos e supervisão local das rendas, mas também com a organização
das pessoas e “capitais” envolvidos: homens, animais, sementes e terras cultiváveis.
Os chefes locais ocupavam o topo da hierarquia camponesa. Isto, contudo, não
apresentavam diferenças qualitativas de riqueza, apenas possuíam mais do mesmo.
Segundo Eyre (2004, 174), desta maneira, a aldeia camponesa poderia aparecer
relativamente igualitária de fora. A grande diferença é que estes chefes aproveitavam-se
da sua situação para lucrar com o posto de intermediário nas relações de arrendamento
de terra e organização da produção. Eyre (1997, 385) afirma que estes eram os capitalistas
das vilas, que lucravam com o aluguel fundiário e o investimento agrícola, mas não
estavam ligados a nenhuma estrutura burocrático-administrativa de Estado. Imbuídos
do melhor espírito empreendedor, estes homens apenas aproveitavam as oportunidades
de investimentos imobiliários, sublocando lotes cuja propriedade era dos “senhores”
ausentes.
A locação e sublocação das terras indicariam que no Egito havia uma espécie de
conceito de propriedade em camadas. O dono ideológico de todas as terras era o faraó que as
doava a seus funcionários, tornando-os os verdadeiros “senhores” de terras. Interessados em
nada mais que a renda, estes “senhores ausentes” arrendavam as propriedades deixando-as sob
responsabilidade dos intermediários, chefes das vilas. Percebendo a possibilidade de lucrar,

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estes chefes sublocavam os lotes familiares aos camponeses, responsáveis pela produção e,
neste sentido, segundo a lógica marxista, verdadeiros proprietários da terra2.
O controle estatal exercido sobre o campesinato reconhecia, portanto, as lideranças
locais emergidas do processo de diferenciação social interno às comunidades aldeãs.
Segundo Eyre, este seria um conceito de poder emergente muito mais razoável do que
aquele que propõe uma imposição do Estado sobre as estruturas campesinas, garantindo
a flexibilidade necessária à produção no contexto natural da agricultura de cheia.
A necessidade de encontrar um padrão de organização social apropriado para
regiões de agricultura de cheia fez com que Eyre (2004, 167-85) criticasse a aplicação de
modelos burocrático-redistributivos que, segundo ele, partem de um ponto de vista mais
ideológico do que prático e que, em alguma medida, são baseados numa interpretação
européia da história. A solução encontrada foi a associação das relações de produção
egípcias –idênticas no espaço de milênios que separa o período faraônico do o Egito
moderno!– com aquelas encontradas nas comunidades do Vale do Rio Senegal, calcadas
na redistribuição anual de terras aráveis.
A ênfase no contexto ecológico é supervalorizada no trabalho de Eyre, em
detrimento de mudanças sócio-históricas tanto nas forças produtivas quanto nas relações
de produção. Soma-se a isto a extrapolação das fontes relativas a distintos períodos da
história egípcia, por vezes separados por milênios, resultando em uma continuidade
inabalável na estrutura econômico-social do Vale do Nilo. A exemplo dos modernistas
do século XIX, o autor identifica na composição demográfica a grande diferença entre o
Egito Antigo e Moderno, para ele:
“... a continuidade na história sócio-econômica do Egito do período faraônico aos tempos
modernos é mais que uma construção ideológica e a realidade dessa continuidade fornece
um aviso cauteloso contra abordagens que compartimentam períodos e mostram a história
como um processo de desenvolvimento linear (...). Dados dos períodos Greco-Romano,
Otomano e do Egito moderno podem ser usados como base para avaliação dos parcos dados
relevantes para o período faraônico”3.

Há acertos na interpretação de Eyre. A existência de arrendamentos anuais de terras


é comprovada para alguns períodos, mas dificilmente pode ser extrapolada para toda a
história faraônica ou mesmo para todas as regiões da “terra negra”. Seu rápido apontamento
para a importância das relações de parentesco e patronato na lógica organizacional local

2  Segundo Marx, “a propriedade significa originalmente nada mais que a relação do homem com suas condições naturais
de produção como pertencentes a ele, como suas...” (1975, 415).
3  Eyre (1997, 367).

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também é interessante e, como veremos ao tratar da posição de Marcelo Campagno,


tem grande valor explicativo. Tais acertos são, entretanto, obscurecidos por uma posição
que não apenas supervaloriza a continuidade, como parte de premissas epistemológicas
formalistas impossíveis de serem aplicadas ao contexto do pré-capitalismo.
A escolha, consciente ou não, por uma análise baseada na economia formal é outro
dos fatores que explica a supervalorização da continuidade no trabalho de Eyre. Afinal,
partindo do princípio que o ser humano busca naturalmente maximizar seus benefícios na
disputa pelos meios para alcançar seus fins, não é difícil associar o camponês de milênios
antes de Cristo aos seus descendentes da virada do século XIX para o XX. Projeta-se,
assim, uma racionalidade econômica capitalista para um passado que a estranha.
Eyre não vê problemas em utilizar abertamente termos como “capitalista rural”,
“investimento de capital”, “crédito” e “lucro” ou apontar para a possibilidade da utilização
de um “trabalho assalariado” que não fora escolhido apenas porque sua lucratividade era
menor em decorrência dos custos para seu controle, sendo preferível para o proprietário
arrendar suas terras e maximizar seus ganhos através da cobrança da renda da terra.
Se todas essas modernizações não fossem suficientes, Eyre parte do individualismo
metodológico para afirmar a existência de uma administração local baseada na ação de
indivíduos segundo uma lógica empresarial. Acreditamos que Marx estava correto em
sua crítica aos economistas clássicos quando afirmava a necessidade analítica de partir das
estruturas sociais e não dos indivíduos, já que:
“Indivíduos produzindo em sociedade –por isso o ponto de partida é, naturalmente, a
produção dos indivíduos socialmente determinada. (...) [Partir do indivíduo] trata-se (...)
da antecipação da “sociedade burguesa”, que se preparou desde o século XVI e que, no
século XVIII, deu largos passos para sua maturidade. Nessa sociedade da livre concorrência,
o indivíduo aparece desprendido dos laços naturais etc. que, em épocas históricas anteriores,
o faziam um acessório de um conglomerado humano determinado e limitado. [O indivíduo
é visto] não como um resultado histórico, mas como ponto de partida da história. (...)
Quanto mais fundo voltamos na história, mais o indivíduo, e por isso também o indivíduo
que produz, aparece como dependente, como membro de um todo maior”4.

Após criticar os modelos tradicionais da estrutura econômico-social egípcia como


“coloridos demais pela ideologia e pela perspectiva cultural da elite contemporânea”
e, obviamente se isentar de parcialidade, Eyre praticamente confessa –de forma bem
explícita– sua preferência política muito bem expressa em suas interpretações históricas:

4  Marx (2011, 39-40).

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“... a evidência das fontes documentais prova-se consistentemente difícil de sistematizar.


Seu foco é a complexidade, não padronizações: a variedade de situações individuais e a
flexibilidade de todos os interessados (...). Mais importante, elas [as fontes documentais]
falam pela superioridade, também no período faraônico, de um modelo econômico dependente
da empresa quase comercial de trabalhadores camponeses individuais e intermediários rurais
e não de uma burocracia quase socialista. (...) A empresa, uma avaliação do equilíbrio entre
vantagem ou desvantagem, e a noção de lucro não eram desconhecidas no Egito Antigo,
ainda que não fossem expressas em termos contábeis modernos”5.

A oposição entre “Sociedades Ocidentais” e “Sociedades Orientais”


em J.C. Moreno García
A construção de um conceito abstrato de “Sociedades Orientais” é fruto de
uma oposição secular entre ocidente e oriente, que ganhou força com a instituição do
Orientalismo como forma de conhecimento no século XIX. Segundo Said (2007), o
marco dos estudos orientais é, em geral, atribuído à expedição napoleônica ao Egito em
1798, quando o exército francês incorpora uma divisão erudita de químicos, historiadores,
biólogos, arqueólogos e outros intelectuais cujos esforços foram sintetizados nos 23
volumes da Description de l’ Égypte, publicados entre 1809 e 1828.
Muito mais do que uma simples área de conhecimento, o Orientalismo é
uma abstração baseada no preconceito europeu em relação aos africanos e asiáticos,
característico do neocolonialismo do século XIX. Neste sentido, as “sociedades
orientais” seriam marcadas pela continuidade milenar do despotismo, demonstrando
uma incapacidade para o autogoverno que justificava as “intervenções civilizatórias” dos
países capitalistas desenvolvidos. As “sociedades ocidentais”, em contrapartida, seriam
aquelas de tradição europeia, herdeiras do legado clássico e exemplos da linha evolutiva
“correta” identificada pela passagem pelo feudalismo e sua transição para o capitalismo.
A oposição entre sociedade ocidentais e orientais foi retomada atualmente por
medievalistas para opor processos de organização do Estado e suas relações com a produção
camponesa. Desta maneira, o Estado Oriental agiria extraindo renda diretamente de
comunidades camponesas que contavam com uma autonomia ligada à morfologia da
paisagem rural e à produção baseada na irrigação. As sociedades ocidentais, em um
sentido diferente, teriam passado por um processo de dissolução do Estado tributário,
concentrando, então, o poder nas mãos de uma aristocracia hereditária de tipo feudal na
qual o rei é apenas um primus inter pares.

5  Eyre (1997, 386). Destaque meu.

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É no contexto desta discussão que se encaixa o modelo de dominação estatal sobre


o campesinato apresentado no texto de J.C. Moreno García (2004, 107-49) e calcado
em seus estudos sobre o período entre o Reino Antigo e o Reino Médio. Segundo ele,
seria possível notar uma estrutura administrativa razoavelmente fixa, ainda que estivesse
submetida a possíveis diferenças relacionadas às diferentes regiões e temporalidades da
história egípcia. Independente das modificações necessárias a contextos cronológico-
geográficos distintos, a eficácia da organização burocrático-administrativa residia em
relações de clientelismo que obedeciam aos interesses da monarquia. Estes interesses
deveriam ser forçosamente iguais tanto àqueles da nobreza local quanto aos dos mais
altos dignitários da corte menfita.
No topo da hierarquia burocrática de Estado, logo abaixo do faraó, encontrava-se
o vizir, responsável, segundo a inscrição de Kagemni (final da V e início da VI dinastia),
por “todas as oficinas relacionadas a todo tipo de impostos da Residência (real)”. Era
sua atribuição a supervisão dos departamentos administrativos como Celeiro Real,
o Tesouro Real, o Arquivo, a Execução dos Trabalhos Reais, as Oficinas do Palácio, a
gestão de Centros de Abastecimento, voltando-se sempre para o controle dos recursos do
reino. Junto com o vizir, atuavam os membros do Conselho Real (Conselho do Grande
Deus, Grande Conselho ou Conselho de Hórus), composto por dignitários de alto grau
e cortesãos encarregados de funções consultivas e judiciárias ligadas à alta nobreza.
O segundo nível da escala administrativa era composto pelos representantes da
Coroa nas províncias, responsáveis pelas instalações do Estado. Estes eram, em geral,
magnatas locais absorvidos pela burocracia estatal a partir de uma reforma ocorrida na
VI Dinastia. Desta maneira, a Coroa incorporava e formalizava as estruturas locais de
poder, mantendo-as com a doação real de terras para os templos da região, que seriam
controlados pelas famílias desses magnatas. As propriedades eram cedidas em conjunto
com a força de trabalho, que era composta por camponeses locais, arregimentados pelos
chefes das aldeias. Desta maneira, assim como apontado por Eyre, ainda que a partir
de relações de produção diferentes, os chefes camponeses tornavam-se intermediários
na implantação do aparelho de Estado. Mesmo sem cargos burocráticos, as lideranças
campesinas participavam da base do governo, sendo fundamentais para a execução local
das ordens.
O controle dos templos tornou-se, assim, uma das bases do poder das elites locais
que, ao mesmo tempo, estabeleciam contato direto com o palácio através de suas redes de
clientelismo. Um dos mecanismos de aproximação entre a nobreza local e a monarquia
era o envio de filhos dos magnatas provinciais para serem educados na Corte e, desta

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maneira, serem convertidos em funcionários e, posteriormente, regressarem às regiões


natais para desempenhar governar.
Em terceiro lugar apareciam os funcionários de ligação. A administração das
províncias era composta majoritariamente por funcionários itinerantes enviados por
Mênfis e encarregados pela Coroa de supervisionar a elaboração dos sensos, o cultivo
das terras estatais, o recrutamento da força de trabalho e os registros rurais. Antes da
incorporação das elites locais pela VI Dinastia, somente algumas províncias pareciam
dispor de uma estrutura administrativa, como parece ter sido o caso dos nomos mais ao
sul nos quais se preferiu a instalação de governadores locais apoiados por uma rede de
depósitos, templos e instalações da Coroa.
Faziam parte também da estrutura administrativa os cortesãos mais próximos
ao faraó, que poderiam ser designados para assumir missões delicadas de caráter mais
reservado na Corte, em virtude da confiança pessoal do monarca.
Tendo o Estado uma estrutura burocrática tão complexa, quais eram as formas de
remuneração destes agentes? A relação usual era a de doação de um conjunto de bens pelo
faraó ao funcionário em pagamento por seu trabalho, nomeado como pr-ḏt.
Segundo Moreno García (2004, 134), o estudo das propriedades pr-ḏt não deve ser
feito por meio das cenas de tumbas, que contém descrições de espaços ideais na tentativa
de transmitir uma imagem de abundância em torno do verdadeiro eixo articulador das
representações da tumba, o seu proprietário. Deve-se, portanto, partir da confrontação
com outras fontes, como as inscrições autobiográficas.
Talvez a mais famosa das autobiografias de funcionários do Reino Antigo seja a
inscrição de Metjen, do começo da IV Dinastia:
“Governador de nomo, administrador territorial, intendente de missões no sexto nomo do
Alto Egito, contador (?), governador do grande ḥwt nas terceira, quarta e quinta províncias
do Baixo Egito, intendente dos interpretes na fronteira líbia: ele obteve em troca (destas
funções) um campo de 200 aruras com abundantes trabalhadores nswtyw”6.

O pagamento pelo trabalho nas funções burocráticas incluía, portanto, o


conjunto dos campos, a casa, os trabalhadores, o gado e bens diversos. O caráter funcional
destas propriedades é atestado por meio de fontes que declaram que a ineficiência no
cumprimento das tarefas deveria ser punida com a perda dos benefícios:
“[Quanto] a qualquer dignitário, conhecido do rei (...) que atue contra estas disposições que
ordenei e que foram recebidas no escritório do vizir, ser-lhe-ão retiradas a casa, o campo,

6  Moreno García (2004, 134-5).

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a mão de obra e qualquer outro bem ligado ao seu cargo e será designado para trabalhos
forçados”7.

Propriedades de função provavelmente não apareciam nas autobiografias a menos


que fossem acima das dimensões normais, como no caso de Metjen. Por outro lado, os
bens de luxo recebidos em troca da realização de missões difíceis para o faraó estavam
presentes. Tais bens consistiam em sarcófagos, panos, perfumes, jóias, ouro. Moreno
Garcia (2004, 135) avança na hipótese de que esta diferenciação nas representações das
recompensas deve ter se dado por conta de uma questão de etiqueta social.
A renda das terras doadas era, portanto, o elemento que consubstanciava a relação
entre o poder estatal e os funcionários, bloqueando o aparecimento de uma aristocracia
totalmente baseada na propriedade. Evitavam-se, desta maneira, as ameaças ao trono por
parte de senhores usurpadores de renda. O Estado mantinha um relacionamento direto
com as comunidades camponesas, através das instituições reais instaladas nas províncias
em tempos de governo unificado.
A estratégia para dominação local era o estabelecimento de laços de parentesco
com as elites provinciais por meio do casamento do faraó com filhas da aristocracia
regional. Os filhos, por outro lado, deveriam ser enviados à Corte para serem educados e
transformados em agentes do poder estatal.
O caráter funcional da grande parte das propriedades recebidas impedia o
surgimento de uma aristocracia proprietária que assumisse o papel do Estado na região em
benefício próprio. O parentesco e o clientelismo eram utilizados como forma de manter e
acentuar a coesão social no seio de uma classe dominante que se expandia. Deste modo,
o poder dos magnatas locais nunca se tornou suficiente para que conseguissem exercer as
funções de uma nobreza feudal.
Se no Período Intermediário, a falta de um poder centralizado forte deu
espaço para as elites locais, que começaram a ostentar orgulhosamente as terras como
propriedades privadas conseguidas através do esforço próprio, este cenário mudou com o
restabelecimento do Reino Médio e a reunificação da “terra negra”. A partir de então, as
terras privadas (conquistadas por herança) e de função começaram a aparecer de forma
distinta na documentação funerária.
A reunificação, no início do Reino Médio, do poder nas mãos de um monarca
demonstra, para Moreno García, a confirmação do modelo de “Sociedade Oriental”

7  Moreno García (2004, 135).

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no qual a aristocracia é dependente do Estado, diferente das formas orientais em que a


nobreza era independente.

Exemplos de uma terceira via: Marcelo Campagno e o marxismo


A questão da dominação social no Egito Antigo não pode ser vista apartada do
aparelho de Estado. Neste sentido, destaca-se o trabalho de Marcelo Campagno sobre o
surgimento das estruturas estatais faraônicas.
Baseando-se no trabalho de Gordon Childe, Campagno (2009, 342) aponta para
o aparecimento de dois tipos de novidades com a construção do Estado. Primeiro, há
mudanças quantitativas como o aumento da população, uma maior diferenciação social,
o crescimento da produção e das trocas, assim como no número de especialistas e na
extensão do território organizado por apenas uma lógica de dominação. Por outro lado, a
estrutura tributária, a burocracia e o monopólio legítimo do uso da coerção por um grupo
permanente seriam modificações qualitativas em relação ao período anterior.
Na sociedade pré-dinástica, organizada sob a forma de chefaturas, a base do poder
estava no parentesco. Já havia uma elite, ainda que todos se pensassem como descendentes
de um único indivíduo mítico. O chefe governava por reciprocidade desigual, sem
nunca impor sua vontade de forma autoritária e violenta. Seu domínio provinha das
suas prerrogativas de redistribuição do excedente, comando militar, mediação social de
conflitos e interligação com o sagrado.
O Estado teria surgido nos espaços entre as comunidades camponesas, através
da imposição da força na guerra, ou seja, pela afirmação do domínio da coerção. Elites
locais e comunidades aldeãs foram submetidas através da tributação e da possibilidade
–e efetividade– da repressão. Os mandatários locais passaram do status de autoridades
autônomas para postos de correia de transmissão do poder central, fossem as elites ou os
chefes das aldeias.
Nos hiatos entre as relações de parentesco e de Estado, encontra-se a lógica do
patronato. Este, apesar de se expressar nos termos da relação entre parentes –sendo o
patrão identificado como pai–, é claramente um vínculo de subordinação assimétrico,
sem, todavia, incluir a coerção violenta.
Em sua disputa pela hegemonia, a lógica estatal apela para a inclusão do patrocínio
como ferramenta de dominação local. As famílias que exerciam seu poder nas chefaturas
por meio do patronato tornam-se elementos estatais na administração local, mantendo
seus vínculos e relações de poder pessoais.

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A aliança entre as estruturas monárquicas centrais e o patronato local serve a


ambos. Os poderes locais são mantidos como representantes da autoridade central,
garantindo privilégios em troca do controle e da tributação do campesinato.
As lógicas do parentesco, patronato e a estatal não são incompatíveis. Pelo contrário,
são diferentes formas de organização da dominação que geram modos alternativos de
coexistência política.
O Estado servia-se da lógica do parentesco a partir, por exemplo, do casamento
com a prole das nobrezas locais para integrá-las ao aparelho estatal.
O Egito faraônico integra o modelo definido por Marx nos Grundrisse através da
expressão “forma asiática”. Não deve ser novidade para ninguém que o Antigo Oriente
Próximo nunca foi o objeto de pesquisa da dupla de fundadores do marxismo. Os
primeiros esboços de Marx acerca da forma asiática são frutos de alguns artigos de jornal
a ele encomendados, na década de 1850, pelo New York Daily Tribune sobre as relações
imperialistas entre Inglaterra, Índia e China, baseados em relatórios do parlamento
britânico e, principalmente, no livro escrito por François Bernier no século XVII.
No pré-capitalismo, o pressuposto para a apropriação individual do solo é a
participação na comunidade. No caso das formas asiáticas, havia sobre as comunidades
camponesas uma unidade coletiva incorporada pelo proprietário supremo, que as
tornava apenas possuidoras hereditárias. O déspota impunha-se como figura mediadora
ao incorporar a unidade geral. Apenas através dele é que as comunidades –e nelas os
indivíduos– poderiam realizar sua reprodução8.
Se em alguns aspectos, Marx estava errado, como é o caso da responsabilidade
do Estado sobre as obras de irrigação, em outros suas observações permanecem válidas.
A produção egípcia era, de fato, baseada em comunidades aldeãs que se mantiveram
relativamente inalteradas até o IIe milénio a.C. Como comunidades aldeãs, entendemos
“um grupo rural solidário, caracterizado por laços comunitários que reúnem seus membros
ou famílias num conjunto que apresenta às pessoas de fora uma frente comum pelo menos
segundo certos pontos de vista”   9.
Um dos pontos em que as pesquisas empíricas mostraram um equívoco marxiano
foi na estrutura igualitária das comunidades aldeãs. Hoje, como visto, sabe-se bem que
tais comunidades, desde o período pré-dinástico no Egito, já contavam com diferenciação
interna. Desta maneira, não foram a Revolução Urbana e o surgimento do Estado que

8  Marx (2011, 399).


9  Cardoso (s/d, 160).

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criaram as hierarquias sociais. O Estado apenas se apropriou das desigualdades internas,


expandindo-as.
A autossuficiência das comunidades aldeãs era reconhecida pelo Estado, que
buscava interferir o mínimo possível nas questões internas, sobrepondo-se apenas como
único extrator de excedente em forma de tributos10. Para conseguir isto, entretanto, era
necessário estabelecer uma estrutura de poder e dominação que se encaixasse na lógica
de funcionamento das comunidades aldeãs, diminuindo o peso da coerção. Até porque,
se nenhum Estado pode se basear somente na coerção, um Estado recém-surgido pode
ainda menos.
Outro ponto atual da obra marxiana acerca das formações asiáticas é a clara
identificação entre classe dominante e Estado. Os membros da burocracia estatal eram
todos pertencentes às classes dominantes, que sobreviviam da extração do sobretrabalho
dos camponeses. Desta maneira, o processo de surgimento do Estado é também o processo
de imposição de uma dominação de classe.
Se no pré-capitalismo as relações de classe são dominadas por relações de
dependência pessoal, acreditamos que os fundamentos dessas relações de dependência
pessoal estejam calcados na lógica da expropriação e inserção da classe dominante como
mediadora entre os sujeitos e diferentes necessidades sociais, tanto materiais quanto
ideais.
Com o surgimento do Estado, a classe dominante do Egito se conformou e se
apropriou das relações existentes nas comunidades camponesas, num movimento
dialético. A elite central se impôs sobre as comunidades aldeãs através da tributação e da
coerção, mas sem abandonar a criação de um consenso estruturado por meio da inserção
nas relações de reciprocidade e parentesco internas às comunidades.
Os chefes das comunidades aldeãs tornaram-se intermediários entre estas e o
poder central. Formas comunitárias como o parentesco foram expropriadas pela elite
que utilizava o casamento com membros importantes para transformá-los em agentes do
Estado.
O patronato se moldou nas comunidades, utilizando formas próximas ao parentesco
para manter a subordinação. O papel social do patrão era usado para obter benefícios e
mantê-los para os clientes em troca de apoio fiscal e lealdade. Os empréstimos de grãos,
por exemplo, foram gradualmente se tornando prerrogativas da elite, estabelecendo

10  Wood (2004).

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uma relação de reciprocidade assimétrica diferente daquela que mantinha a unidade


comunitária.
Em suma, com o surgimento do Estado, novas relações sociais de dominação
surgiram, em conjunto com uma classe dominante que se utilizava delas para manter seu
status através da exploração do campesinato. Para isto, esta classe expropriou gradualmente
dos camponeses as ferramentas sociais de coesão comunitária, passando a exercer papel
de mediação entre os próprios campesinos e formas necessárias à sua produção.

Conclusão
Há, em todos os modelos expostos, acertos a serem levados em consideração.
Questões como a diferenciação social nas comunidades camponesas ou o uso das elites
locais como correia de transmissão do poder central dão pistas importantes de como
o campesinato era dominado no Egito Faraônico. Tais acertos, todavia, não abonam
equívocos graves na visão histórica de certos autores, como o caso de Christopher Eyre e
sua visão histórica de continuidades milenares praticamente imutáveis regidas pela lógica
naturalizada da economia marginal.
A oposição entre Sociedades Ocidentais e Orientais feita por Moreno García, por
outro lado, parte de uma concepção histórica que unifica todas as experiências orientais
em oposição ao modelo feudal da Europa Ocidental, perpassando também uma ideia de
continuidade demasiada no tempo-espaço.
As propostas de terceira via, tanto do marxismo quanto de Marcelo Campagno,
aparecem como formas interessantes de identificar os processos de dominação e exploração
do campesinato a partir de uma lógica complexa que mescla diferentes mecanismos na
tentativa de manutenção do poder por uma classe dominante.
Por fim, parece ser salutar encarar a base da exploração na expropriação de
relações sociais locais necessárias à reprodução das comunidades aldeãs, o que explicaria
o surgimento do Estado e a manutenção de formas assimétricas de relacionamento em
sociedade anteriores a ele.

e
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