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Conhecimento e intervenção educativa: sugestões práticas ll

Cânone Literário e Igualdade entre Mulheres e Homens l

4.4.4.

(Vantagens da)
Análise Interseccional

O
utro dos riscos da prática de presente no contexto escolar porque deriva de
análise de textos atendendo algo apontado acima: o próprio processo de
às questões de género em constituição do cânone português que tende a
contexto escolar é que caso excluir ou a invisibilizar a autoria feminina, como
o desvelamento das assimetrias de poder o demonstrou, por todos para o século XX,
ligadas ao género seja efetuado de forma Chatarine Eldfelt (2006). Assim, não é de
binária (i. e., numa posição avaliativa que estranhar que os/as estudantes fiquem com
apenas considere os pólos ‘texto sexista’ a ideia de que ‘todos os textos’ são sexistas,
vs ‘texto não-sexista’, texto após texto) quando, por exemplo, a maioria dos textos que
leve docentes e estudantes à conclusão lhes são apresentados como representativos
que ‘todos os textos são sexistas’ e se da literatura portuguesa são textos de autores
desinteressem de uma ferramenta de análise pouco igualitários, até pelos condicionalismos
aparentemente redutora. Este é um risco muito das épocas em que viveram.13

As diferentes épocas condicionaram os autores representativos da literatura


portuguesa. Épocas em que os autores consideravam a submissão das mulheres
uma condição e garantia da paz social, como é, por exemplo, o caso dos
autores anteriores à revolução liberal, ou o caso dos autores da geração de
setenta; ou épocas em que os autores consideravam a anulação dos valores
ligados à esfera do feminino (a paz, o amor) uma condição e garantia do
desenvolvimento estético e cognitivo, como é o caso da geração do Orpheu.
Visto o desenvolvimento destas alegações exceder os propósitos deste Guião,
note-se, apenas, que a prevalência dada a autores integrados em correntes que
defendem mundividências como as apontadas pode conduzir à menorização
no cânone de autores/as que encarnam ideologias de sinal diverso; por
exemplo, a atenção dada pela academia ao pensamento estético de Pessoa
pode conduzir essa mesma academia à menorização da obra de Florbela.

13 A respeito das condicionantes da atribuição de valor literário, veja-se a obra de Cláudia Pazos-Alonso Imagens do Eu na Poesia
de Florbela Espanca (1997, Imprensa Nacional, Lisboa) e para a relação entre o Orpheu e a autoria feminina o texto de Anna
Klobucka “A mulher que nunca foi: para um retrato bio-gráfico de Violante de Cysneiros.” Colóquio/Letras, 117/118 (1990), pp.
103-114, ou, num registo diverso mas não menos informative, Klobucka, Anna; Sabine, Mark (eds.) (2010) O Corpo em Pessoa.
Corporalidade, Género, Sexualidade. Lisboa: Assírio & Alvim, [2007 para a edição norte-americana]

por: Teresa-Cláudia Tavares 139


0139
GUIÃO DE EDUCAÇÃO conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário

Cabe, no entanto, a/ao docente


mostrar à/ao estudante que,
A obra Mulheres que escrevem, Mulheres que
mesmo que, por hipótese,
o cânone português fosse
lêem: repensar a literatura pelo género, obra
constituído apenas por textos coordenada por Chatarina Edfelt e Anabela
sexistas – o que não é o Galhardo (2008), apresenta alguns textos seguidos
caso, vejam-se por exemplo de comentários textuais que podem por sua vez
as obras de Almeida Garret ser questionados em aula ou inspirar análises
recomendadas – a análise a outros textos. A inovação dos comentários
baseada nas categorias é em si pedagógica – facilmente desencadeia
sexista /não sexista é controvérsia entre as e os estudantes, controvérsia
facilmente redutora, e em que, bem orientada, promove a autonomia do
último lugar, estéril. De fato, pensamento e o treino da expressão oral que são
o tipo de análise textual objetivos do programa. Para além das análises
que este Guião propõe de texto, leia-se, na mesma obra, na análise do
percebe o género como conto de Nélida Piñon feita por Catharina Edfelt,
uma das dimensões o trecho “Do género à interseccionalidade”,
do indivíduo a ser que explicita o conceito (2008:29-31).
analisada em interação
com as restantes,
ou seja, propõe que os/as fazer’; remete-se quem lê A análise interseccional
estudantes submetam os para Mulheres que escrevem, aplica-se, claro está, a textos
textos a uma análise informada Mulheres que lêem: repensar a literários e não literários,
pela perspetiva interseccional. literatura pelo género em que o assim como tudo aquilo que
conceito de interseccionalidade é afirmado neste Guião em
Excede o propósito deste é explicado e aplicado nos relação à análise de textos pela
Guião analisar aqui textos de comentários aos textos incluídos Teoria Literária Feminista se
modo a exemplificar o ‘como na obra (ver texto em caixa). aplica às duas categorias. Se

Para não exceder os propósitos deste Guião, não é possível aqui fazer mais
do que lembrar a que ponto a obra Novas Cartas Portuguesas ela própria,
escrita em vésperas do 25 de Abril numa altura em que algumas portuguesas
(e portugueses) já ambicionavam uma mudança central nas relações de
género, é, para além da sua qualidade estética, um documento de crítica
social. Apesar de não constar das obras recomendadas pelo Programa não
é de mais recomendá-la como peça nuclear para análises de texto à luz
das “lentes de género” - visto compor-se de pequenos trechos dotados de
semi-autonomia (cartas que parodiam e recriam diferentes estilos e épocas),
torna-se mais fácil do que possa parecer confrontar em aula algumas destas
cartas com excertos de obras recomendadas no programa, mormente as
obras anteriores ao século XIX e levar os/as estudantes a emular as três
autoras realizando também eles exercícios de recriações literárias de época.

0140
140 CIG
Conhecimento e intervenção educativa: sugestões práticas ll
Cânone Literário e Igualdade entre Mulheres e Homens l

por exemplo citamos, a um


nível de ‘consulta avançada’ Está neste caso um excelente livro que obriga
– e para além de obras que a repensar, de forma não maniqueísta, as
progressivamente aqui se questões de género presentes numa obra nuclear
citarão – como outro modelo do cânone do Ensino Secundário: Os Maias.
de análise não reducionista Embora a leitura de toda a produção de Maria
a “Breve Introdução” escrita Manuel Lisboa (2000) seja de recomendar,
por Ana Luísa Amaral (2010) este seu livro é indispensável à compreensão
à edição, anotada, da do universo das obras de Eça de Queirós.
(indispensável) obra Novas
Cartas Portuguesas de Maria
Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho embora não sendo predominantemente ou
da Costa, isso acontece porque as análises aos totalmente informadas pela Teoria Literária
textos complexos podem aplicar-se aos mais Feminista, apresentam pontos de vista sobre
simples, enquanto o contrário não acontece. as desigualdades de género que justamente
impedem que os/as estudantes reduzam as
Finalmente, sinalize-se que o/a docente tem análises textuais ao binarismo“texto sexista /não
ainda à sua disposição análises de texto que, sexista” acima mencionado (ver texto em caixa).

por: Teresa-Cláudia Tavares 141


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