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4.4.4.
(Vantagens da)
Análise Interseccional
O
utro dos riscos da prática de presente no contexto escolar porque deriva de
análise de textos atendendo algo apontado acima: o próprio processo de
às questões de género em constituição do cânone português que tende a
contexto escolar é que caso excluir ou a invisibilizar a autoria feminina, como
o desvelamento das assimetrias de poder o demonstrou, por todos para o século XX,
ligadas ao género seja efetuado de forma Chatarine Eldfelt (2006). Assim, não é de
binária (i. e., numa posição avaliativa que estranhar que os/as estudantes fiquem com
apenas considere os pólos ‘texto sexista’ a ideia de que ‘todos os textos’ são sexistas,
vs ‘texto não-sexista’, texto após texto) quando, por exemplo, a maioria dos textos que
leve docentes e estudantes à conclusão lhes são apresentados como representativos
que ‘todos os textos são sexistas’ e se da literatura portuguesa são textos de autores
desinteressem de uma ferramenta de análise pouco igualitários, até pelos condicionalismos
aparentemente redutora. Este é um risco muito das épocas em que viveram.13
13 A respeito das condicionantes da atribuição de valor literário, veja-se a obra de Cláudia Pazos-Alonso Imagens do Eu na Poesia
de Florbela Espanca (1997, Imprensa Nacional, Lisboa) e para a relação entre o Orpheu e a autoria feminina o texto de Anna
Klobucka “A mulher que nunca foi: para um retrato bio-gráfico de Violante de Cysneiros.” Colóquio/Letras, 117/118 (1990), pp.
103-114, ou, num registo diverso mas não menos informative, Klobucka, Anna; Sabine, Mark (eds.) (2010) O Corpo em Pessoa.
Corporalidade, Género, Sexualidade. Lisboa: Assírio & Alvim, [2007 para a edição norte-americana]
Para não exceder os propósitos deste Guião, não é possível aqui fazer mais
do que lembrar a que ponto a obra Novas Cartas Portuguesas ela própria,
escrita em vésperas do 25 de Abril numa altura em que algumas portuguesas
(e portugueses) já ambicionavam uma mudança central nas relações de
género, é, para além da sua qualidade estética, um documento de crítica
social. Apesar de não constar das obras recomendadas pelo Programa não
é de mais recomendá-la como peça nuclear para análises de texto à luz
das “lentes de género” - visto compor-se de pequenos trechos dotados de
semi-autonomia (cartas que parodiam e recriam diferentes estilos e épocas),
torna-se mais fácil do que possa parecer confrontar em aula algumas destas
cartas com excertos de obras recomendadas no programa, mormente as
obras anteriores ao século XIX e levar os/as estudantes a emular as três
autoras realizando também eles exercícios de recriações literárias de época.
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Conhecimento e intervenção educativa: sugestões práticas ll
Cânone Literário e Igualdade entre Mulheres e Homens l