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A CONTRIBUIÇÃO DO MÉTODO CRÍTICO-DIALÉTICO PARA A PESQUISA


NO SERVIÇO SOCIAL

Mayéwe Elyênia Alves dos Santos1


Palloma Maria Gomes Jácome2

RESUMO: Esse texto tem como objetivo analisar a contribuição do método


crítico-dialético para a pesquisa no Serviço Social. A teoria materialista da
história parte de uma abordagem ontológica do conhecimento do real, tendo
como ponto de partida a análise do real, cujo objetivo é apreender as
categorias que o perfazem de forma a, a partir de aproximações sucessivas,
conhecer a essência do objeto estudado. Dessa forma, o presente método tem
uma importante contribuição para a pesquisa no Serviço Social, uma vez que
este tem como norte os “quadros macroscópicos inclusivos e abrangentes da
sociedade burguesa” (NETTO, 1989, p. 90), e em que, a partir deste, constata-
se os inúmeros avanços que a profissão sofreu ao longo dos anos.

PALAVRAS-CHAVE: Método, Materialismo, Pesquisa, Serviço Social.

ABSTRACT: This paper aims to analyze the contribution of the critical-


dialectical method for social research. The materialist theory of history is part of
an ontological approach to the knowledge of reality, taking as its starting point
the analysis of the real, whose goal is to understand the categories that make
up so from successive approximations, know the essence of the object studied .
Thus, this method has an important contribution to research or in the Social
Services, since this is to the north "inclusive and comprehensive macroscopic
frames of bourgeois society" (Netto, 1989, p. 90), and that, from this, it appears
the numerous advances that the profession has undergone over the years.

KEYWORDS: Method, Materialism, Research, Social Service.

1. Introdução

Este trabalho condensa algumas reflexões sobre o método crítico-


dialético articuladas à sua contribuição para a pesquisa no Serviço Social. É
fruto de debates travados em aulas no Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

1Assistente Social, mestranda em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba


(UEPB).
2 Assistente Social, mestranda em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba

(UEPB).
2

Por que o método crítico-dialético e não outro, já que o Serviço Social


aproximou-se de outros durante seu processo de construção e consolidação?
Para início de conversa, comungamos com a lógica trazida por Pedro Demo
(2002), em seu “cuidado metodológico”, na qual ele defende a “autoridade do
argumento” em lugar do “argumento de autoridade”. Segundo esse autor, o
positivismo, por exemplo, “não contribui para a construção aberta do
conhecimento, mas [é] beco sem saída” (2002, p. 353), uma vez que seu
método é formado por um conjunto de regras intelectivas, tratando os
processos sociais como fatos sociais, como coisas que devem ser analisadas
semelhantemente às da natureza. Em outras palavras, entende a sociedade
regida pelas “leis naturais”, “imutáveis” que, por sua vez, precisam ser
descobertas através de observações. O estudo das leis invariáveis dos
fenômenos sociais são tidos como mais importantes do que o estudo de suas
próprias determinações.
Já o método da teoria social tem compromisso metodológico com a
pesquisa historiográfica concreta, analisando partir do desenvolvimento
histórico do objeto, sua gênese e desenvolvimento, abarcando as categorias
que mediam o objeto de forma a apreendê-lo em sua totalidade e
complexidade. Busca compreender o real a partir de um processo que sai do
concreto para o abstrato, volta ao seu início, fazendo um caminho inverso, e
faz novamente o percurso, sempre com características diferentes do seu início.
Nessa perspectiva, o referido método é de uma consistente contribuição
para a pesquisa no Serviço Social, e de acordo com DEMO (2002), a teoria
crítica notabilizou-se por ser uma teoria alternativa e, sobretudo por ter um
olhar “metodológico alternativo”, ou seja, por desempenhar em seus estudos
uma qualidade metodológica.
No Serviço Social, apenas em meados da década de 80, de acordo com
Netto (2007), a tradição marxista pôde ser influência, e ainda de forma
enviesada, através de intérpretes de suas obras, como o marxismo de
Althusser e o marxismo-leninismo. Entretanto, neste mesmo processo, com o
que denominamos de “Intenção de Ruptura”, uma direção do Movimento de
Reconceituação, no qual a profissão rompe com o monopólio do pensamento
conservador, a categoria aproxima-se e se apodera da obra clássica de Karl
Marx, desenvolve-se, a partir dessa, criticamente, na tentativa compreender a
3

sociedade capitalista partindo da totalidade, a fim de traçar uma prática


profissional que saiba responder as contradições desta sociedade.

2. Por que não outro método?

Sabe-se que o Serviço Social aproximou-se, além do método crítico-


dialético, de outras teorias durante seu processo de construção e
institucionalização, a exemplo do positivismo, do funcionalismo, da
fenomenologia. Dessa forma, discorremos nesse ponto acerca das
características dessas correntes para, posteriormente, adentrarmos no nosso
objeto de estudo: o método da teoria social.
A teoria do Positivismo - ciência e religião de August Comte, que se
encontra como pioneira entre as demais correntes conservadoras que se
aproximaram do Serviço Social, em que desde o século XVIII recebe
influências das principais tendências intelectuais e filosóficas, a exemplo do
Iluminismo, Enciclopedismo e do Empirismo Inglês, com base na análise de
Quiroga (1991), extrai dessas tendências, ideias como: o domínio da natureza,
o progresso, a importância da sensação, especulação racional e a ciência
baseada no experiência e na observação dos fatos. O seu desenvolvimento se
dá contemporâneo à obra marxiana, ou seja, [...] “ambos são produtos de toda
uma trajetória e aparecem como respostas às exigências de forças sociais que
emergem e se desenvolvem no decorrer do século XIX” (QUIROGA, 1991,
p.44).
O cenário sócio – histórico que o positivismo toma corpo remete-se a
derrubada da velha ordem feudal e ao surgimento de outro modelo de
sociedade, o capitalismo, que tem na burguesia uma nova classe social, que
cresce e se desenvolve sem caber nos limites do feudalismo. Caracterizada
como elemento revolucionário, a burguesia alimenta-se da visão positivista
para difundir o fim do sistema feudal e garantir a “reprodução e permanência da
nova ordem” (QUIROGA, 1991).
A teoria positiva torna-se alicerce da burguesia, quando esta necessita
de uma ciência que supere as explicações dadas pela fé e que insista nas
“propriedades dos corpos físicos e no funcionamento das forças naturais” para
o desenvolvimento da produção industrial, a torna ideologia, conceito que
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justifica e reforça a consolidação da ordem pública, da “lei natural”, como


explicação conformista da industrialização burguesa, assim como ressalta a
autora, “o positivismo como conjunto estruturado de doutrinas no âmbito das
ciências sociais dá suporte a nova ordem social”.
O positivismo de Comte entende a sociedade regida pelas “leis naturais”,
“imutáveis”, que por sua vez, precisam ser descobertas através de
observações. O estudo das leis invariáveis dos fenômenos sociais são tidos
como mais importantes do que o estudo de suas próprias determinações.
A resignação adotada pelo positivismo serve para fazer entender a
sociedade a partir de uma ordem natural, que não muda, onde o homem
precisa submeter-se, justificando desta forma a autoridade e a preservação dos
interesses capitalistas. Assim, a visão positivista combate qualquer doutrina
revolucionária, de transformação, acredita que a sociedade se modifica através
da “visão de progresso”, que proporciona a evolução e não a transformação da
ordem estabelecida.
Outra corrente também considerada de cunho conservador é o
Funcionalismo, que recebe influências do positivismo e mais precisamente das
ciências física e química. Com base em Dantas (1991), o funcionalismo
preocupou-se com dois níveis: o macrocosmo e o microcosmo. A partir destes
níveis, teve como objetivo, construir um “modelo de explicação do macrocosmo
social, ou seja, da estrutura social, da sociedade como totalidade, após ter
procurado explicar a realidade social a partir de elementos básicos,
microsocial” (DANTAS, 1991, p. 40). Fixar-se extremamente no indivíduo,
enquanto a “unidade do edifício social”.
Na visão de microcosmo social, a teoria “está preocupada com
problemas de integração, relações, ator, institucionalização de papéis,
desempenho do funcionamento do indivíduo no sistema social” (DANTAS,
1991, p. 44) e na visão de macrocosmo, a teoria “procura explicar o
funcionamento da sociedade como estrutura em funcionamento, sempre
tendendo ao equilíbrio, à manutenção” (DANTAS, 1991, p. 44).
A perspectiva funcionalista caracteriza-se, ainda, pelo conceito de
função e de estrutura, emprestado da Biologia, como por exemplo, a função do
coração está para bombear sangue para o corpo, o que o torna responsável
pelo bom funcionamento do organismo – assim, como o coração tem para com
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o corpo, o funcionalismo tem da unidade para com o todo, o que garante para o
funcionalismo a execução plena das partes que compõem a estrutura. Noutras
palavras, o autor afirma,

[...] significa tentar, descobrir, localizar um item e comparar a este


item com o todo, o sistema, a totalidade. Analisar essa relação da
parte com o todo, mas do ponto de vista da função, do resultado, da
contribuição que essa parte dá ao todo, para manutenção desse todo,
constitui o princípio metodológico básico do funcionalismo (DANTAS,
1991, p. 40).
.
A “manutenção da estrutura”, nada mais é do que relações funcionais,
conhecimento das relações das partes que compõem a sociedade, em que,
cada parte produz um resultado para o todo. O funcionalismo também analisa a
realidade social como sistematicamente estruturada, composta por diferentes
sistemas, em que cada um possui suas leis e seus princípios organizadores.
Em vista dos questionamentos e das interpelações que o positivismo e o
funcionalismo passaram a sofrer ao longo do século XIX por não mais
conseguirem explicar os novos fatos sociais, as necessidades e as
experiências do indivíduo, numa busca por novas alternativas, surge então,
uma nova corrente sociológica, a fenomenologia, ou fenomenologia existencial.
A autora Creuza Capalbo (1991), chama atenção para a fenomenologia
a partir da importância que a corrente exprime em relação ao indivíduo na sua
subjetividade – traço esquecido pelo método positivista - no conhecimento
científico. Esta subjetividade da qual refere-se à fenomenologia, não se
relaciona com o individualismo, nem com o subjetivismo, trata-se da
subjetividade na sua essência, na sua dimensão, de modo social, reflexiva,
como uma ciência do espírito.
Com base em Capalbo (1991), Edmund Husserl com sua obra, “Idéias e
Diretrizes para uma Fenomenologia e uma Filosofia Fenomenológica Pura”,
passa a ser considerado um dos maiores nomes da teoria fenomenológica e
responsável pelo seu desenvolvimento e influência na teoria do pensamento
filosófico científico das Ciências Humanas e Sociais. Husserl levanta a “busca
da fundamentação do conhecimento cientifico”, que, em outras palavras,
significa que, [...] “todo conhecimento, até mesmo científico, tem por base uma
experiência vivida que o antecede. E é a tematização dessa “vida pré-reflexiva,
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já vivida que vai se constituir num momento segundo de busca, de reflexão,


para a ciência ou para a própria filosofia” (CAPALBO, 1991, p. 25).
Husserl, a princípio, pretende estabelecer na fenomenologia uma
“ciência rigorosa”, diferentemente da ciência exata e positiva de Comte, no
entanto, no decorrer de seus estudos e suas obras desiste de fazer da
fenomenologia uma ciência, mas a permanece como rigorosa, e chega a esta
conclusa por entender a ciência como absoluta, ou seja, distante dos
interesses e necessidades do homem “como um fim em si mesma”, e a
fenomenologia não poderia de modo algum “perder de vista o homem” –
fundamento desta corrente (CAPALBO, 1991).
A ideia fundamental da fenomenologia, de acordo com Husserl,
encontra-se na “noção de intencionalidade” – a da consciência dirigida a um
objeto, e da vivência em que considera como algo “puramente descritivo, uma
peculiaridade íntima de algumas vivências” “(TRIVIÑOS, 1987).
Portanto, a fenomenologia - a partir das obras de Husserl – “visa mostrar e
descrever, com rigor, negando-se, pois, - como tradição racionalista – a ser
demonstrativa ou reconstrutivista dos fenômenos. Visa descrever os
fenômenos tais como são vividos, tais como se mostram em si mesmo no
mundo da vida” (CAPALBO, 1991, p. 26).
Também representa o “estudo das essências” – essência da percepção,
da consciência – tida como uma filosofia transcendental.
Triviños (1987), destaca a dimensão “a-histórica” da fenomenologia, posto
que esta não considera a historicidade dos fatos na esfera sócio-econômico e
político-social como essenciais na vida do indivíduo, também ressalta, que os
princípios fenomenológicos não abordam os conflitos de classes e as
mudanças estruturais, pois a fenomenologia teoriza o mundo criado pela
consciência.
A teoria fenomenológica, apropriada por outros autores em diversos
países, recebe algumas abordagens diferentes das preconizadas por Husserl,
entretanto, não perde sua essência diante do aprofundamento realizado por
estes demais autores, permanece com sua abordagem em que “mostra,
explicita, aclara, desvela as estruturas em que a experiência se verifica,
deixando transparecer, na descrição da experiência as estruturas universais”
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(TRIVIÑOS, 1987, p.26). Pois, para a fenomenologia, o que importa é o homem


como “existência”, como um ser intimamente pessoal.
Estas teorias conservadoras foram também responsáveis pela
manutenção desta sociedade de classes nos primórdios do capital e nesta
conjuntura atual permanecem vivas por um retorno que se faz necessário para
utilizar-se na mesma justificativa de exploração do homem sobre o homem. Na
contemporaneidade as relações de dominação se acentuaram devido às
transformações societárias no decorrer dos anos em virtude do processo de
continuidade e descontinuidade do capital, assim também o pensamento
conservador reveste-se numa nova roupagem ideológica, mas mantém intacta
uma essência conservadora.

3. O método crítico-dialético.

O método materialista parte de uma abordagem ontológica do


conhecimento do real, ou seja, pretende conhecer o objeto em sua essência,
ultrapassando sua aparência fenomênica. Tal processo tem como ponto de
partida o real, pois - segundo a filosofia materialista - a realidade material é o
elemento que determina o nosso pensamento. Assim afirmam Marx e Engels,
em seu maestral “ensaio” acerca do método, em “A ideologia alemã” (2009):
“não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a
consciência”. Isso significa dizer que a realidade existe independente da
consciência dos homens e, ao lado da ontologia, faz esse método diferente de
qualquer outro no campo das ciências sociais.
Dessa forma, é necessário que se parta do real, ainda rústico,
acobertado de todas as “cinzas”, cuja função é esconder aquilo que podemos
chamar de “verdade ontológica”, para se chegar ao “concreto pensado”. Esse
real está presente no cotidiano, ou seja, nas relações materiais concretas que
os homens estabelecem entre si, no que se chama de aparência, daquilo que
não se percebe no imediato, mas que somente através da busca pela verdade,
do movimento do real que se pode desvendar/destruir esta
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pseudoconcreticidade3, reconhecendo assim, o que está por trás daquilo que


está posto, a essência do fenômeno em sua totalidade, tratando-o como
separado, em decomposição para que seja devidamente analisado, onde se
considera a historicidade do protagonismo humano-social, em que o homem é
o produtor da história, bem como da verdade, do próprio fenômeno e essência.
Assim, sobre esse processo, explicita Kosik (2010, p.13) “a dialética trata da
coisa em si. Mas a coisa em si não se manifesta imediatamente ao homem”.

A dialética não é o método da redução: é o método da reprodução


espiritual e intelectual da realidade, é o método do desenvolvimento e
da explicitação dos fenômenos culturais partindo da atividade prática
do homem histórico (KOSIK, 2010, p. 39).

Por isso, a necessidade de suspender o real, de realizar abstração do


fenômeno, para que o indivíduo seja capaz de compreender a concreticidade,
não cometendo o erro de reproduzir os fatos como aspectos naturais e
quantitativos, como assim determina o positivismo, mas que através do método
materialista possa-se, também, captar o caráter de ambiguidade da
consciência humano – histórica que foge da apreensão tanto do positivismo
como do idealismo. No mesmo indivíduo que se esconde o real, a
pseudoconcreticidade, se desmistifica o aparente. Para tanto, Marx descobriu
que seria impossível elaborar uma teoria social sem que se fundasse na
“análise do modo pelo qual se produz a riqueza material”, e esta produção nas
condições materiais da vida social. Esse método situa o objeto em complexo
contraditório de produção e reprodução, “determinado por múltiplas causas na
perspectiva de totalidade como recurso heurístico, e inserido na totalidade
concreta: a sociedade burguesa” (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p. 38).
Assim, sua análise centrar-se-á na desmistificação da sociedade
burguesa, do sistema capitalista que se engendrou com o fim do feudalismo e
se perpetua até os dias em curso. Nas palavras de Netto (2006, p. 672), “pode-
se circunscrever como problema central da pesquisa marxiana a gênese, a
consolidação, o desenvolvimento e as condições de crise da sociedade

3O termo pseudocincreticidade trazido por Karel Kosik (2010) faz referência aos fenômenos
que encontram-se no cotidiano, como ela mesma retrata na “atmosfera comum da vida
humana” e manifesta-se na regularidade, no imediato e evidente, e desta forma tomam corpo
na consciência dos indivíduos, onde estes assumem os fenômenos como independentes e
naturais.
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burguesa, fundada no modo de produção capitalista”. Ainda segundo o referido


autor, a estruturação da teoria de Marx está sustentada sob três linhas do
pensamento moderno, que são: a filosofia alemã, a economia política inglesa e
o socialismo francês. Em Marx, a crítica do conhecimento acumulado se
procede racionalmente a partir dos processos históricos reais, com apreensão
da essência, da estrutura e da dinâmica. Neste sentido, seu método deriva de
um produto de consciente elaboração teórico-científica e de amadurecimento
diante das experiências e aproximações com o objeto, com análise no que o
próprio denomina de “pressupostos reais, indivíduos reais, ação e condições
materiais de vida”. Assim afirmam Marx e Engels:
As premissas com que começamos não são arbitrárias, não
são dogmas; são premissas reais, e delas só na imaginação se
pode abstrair. São os indivíduos reais, a sua ação e as suas
condições materiais de vida, tanto as que encontraram, quanto
as que produziram pela sua própria ação. Essas premissas
são, portanto, constatáveis de um modo puramente empírico. A
primeira premissa de toda a história humana é, naturalmente, a
existência de indivíduos humanos vivos. (2009, p. 23-24).

Dessa forma, a sociedade burguesa é uma totalidade concreta, formada


por partes de menor complexidade, mas que se integram e cruzam entre si de
forma a conformar um todo complexo e contraditório, macroscópico.
Nesse sentido, como o método de Marx tem como objetivo desmistificar
essa sociedade, alcançando a sua essência, trazendo a tona uma nova
concepção de mundo diferente de todas até o momento identificada, cujo
resultado poderá trazer mudanças substanciais para essa sociedade, inclusive
com a ascensão de uma nova sociabilidade, é de interesse daqueles que se
encontram oprimidos por ela, o proletariado, os trabalhadores, que vivem da
venda de sua força de trabalho.
Nessa perspectiva, a identificação do Serviço Social com essa teoria se
dá de forma peculiar: a profissão tem como “matéria-prima” as expressões da
“questão social” – esta entendida como o resultado da relação entre capital e
trabalho -, cujas expressões são desdobramentos do modo de produção
capitalista, que se firmam sobre a exploração e a apropriação de bens e
riquezas, determinando as desigualdades sociais e a separação estrutural das
classes sociais.
Dessa forma, o Serviço Social casa-se muito bem com a teoria marxista,
quando se concilia a explicação dos problemas sociais com os próprios
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problemas que se transformam em demandas para a profissão. O pensamento


social de Marx possibilita ao assistente social uma análise do real, daquilo que
se coloca como “claro-escuro de verdade e engano”, a pseudoconcreticidade
trazida no início deste ensaio, no que se refere a compreensão da sociedade
capitalista, da burguesia, desmistificando as teorias conservadoras que
sustentaram ideologicamente a profissão durante décadas, o que possibilita um
repensar sobre o exercício profissional, em todos seus segmentos, teórico-
metodológico, técnico-operativo e ético-político.
Entretanto, a teoria marxista adquire inteligibilidade no seio da profissão
apenas no final dos anos sessenta e início dos anos oitenta com o processo de
renovação profissional, quando se busca romper com “herança conservadora –
teórico-ideológica e prático-profissional” (NETTO, 1989). Sobre esta vertente é
que o Serviço Social estabelece relação direta com o marxismo: em meados de
setenta, emerge-se uma unidade de ensino como “projeto global de formação,
intervenção e expansão”, que ganha dimensão nas pesquisas e experiências
realizadas no âmbito da pós-graduação, consolidando-se na academia e nos
debates profissionais (NETTO, 1989). Importante frisar, que nas primeiras
publicações sobre o marxismo no Serviço Social, muito facilmente será
encontrado traços de mecanicismos e de ecletismo justamente pela primeira
apreciação da obra com a profissão ter se dado de forma enviesada.
A abertura da profissão à teoria marxista, ao método crítico-dialético
levou a categoria a um considerável salto intelectual no que se refere à
elaboração e execução da prática profissional pautada nesta busca pela
verdade, pela apreensão do real, numa leitura crítica e desmistificada da
sociedade burguesa, bem como a pesquisa social realizada pelo Serviço
Social, além dos inúmeros avanços e conquistas que a profissão sofreu ao
longo dos anos nesse processo de maturação dialética.

4. Serviço Social em avanços pelo método crítico-dialético.

O Serviço Social no Brasil, a partir dos anos oitenta do século XX


estabelece debates profissionais sobre a teoria marxista que levam a profissão
– não de forma homogênea – à criação de um “perfil profissional” de
“competência teórico-crítica”, capaz de desvendar, entender e atuar numa
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sociedade de contradições, em que a “questão social” passa ser percebida


pelos profissionais como matéria-prima da sua intervenção social e, atentam
que “o mundo da realidade não é uma variante secularizada do paraíso”
(KOSIK, 2011, p. 23).
Entretanto, o Serviço Social somente consegue avançar e consolidar-se
enquanto profissão frente à sociedade burguesa no exercício de captar o real
pelo método crítico dialético quando, historicamente, ultrapassa por muitos
acontecimentos, como o “Movimento de Reconceituação”, que se deu na
América Latina e, de modo específico no Brasil, onde o Serviço Social, sob um
cenário de crise político-econômico da autocracia burguesa e, sobretudo,
fundamentado na tradição marxista, encontra possibilidades de ruptura com o
monopólio do conservadorismo na profissão no âmbito teórico-metodológico.
Coloca -se para o Serviço Social um “novo padrão de exigências” para sua
ação profissional, qual seja a “racionalidade burocrático-administrativa” que
passa a requisitar do assistente social uma postura “moderna”, que
compatibilize com as exigências racionais do mercado (NETTO, 2007). Com
estas exigências de mercado, intensifica-se o processo de erosão do Serviço
Social ‘tradicional’, tanto na legitimação de suas atividades como na sua
direção que são ancoradas nos suportes humanistas.
Dadas estas condições, o ensino do Serviço Social insere-se no âmbito
universitário e sua formação ultrapassa por consideráveis mudanças, como por
exemplo, a “ruptura” com o confessionalismo, paroquialismo e o provincionismo
e a integração com as disciplinas das ciências sociais, como a sociologia, a
psicologia social e a antropologia. Todavia, esse ensino apesar de seus
avanços, passa a ser “moldado” pelas exigências do sistema educacional
“autocrático burguês” que limita o envolvimento dos docentes nas teorias
sociais críticas.
Este processo é denominado por Netto, (2007), como período de
“Renovação do Serviço Social” e não se constitui como um movimento
endógeno à profissão. Tem como característica, a laicização do Serviço Social
sob a “autocracia burguesa’, mas, a inserção do profissional na vida
universitária com proximidades na pesquisa e nas correntes sociais, também
proporciona ao assistente social parte desse processo da Renovação do
Serviço Social, assim como argumenta o autor,
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Está claro que a estratégia “autocrático-burguesa” se desdobrava


para a produção de profissionais aptos para atender às suas
demandas “modernizadoras” e, para tanto, jogava com as suas
políticas educacional e cultural; é indiscutível que este escopo foi
atingido – porém, ao mesmo tempo, engendram-se circunstâncias
que permitiram a incorporação e o posterior desenvolvimento,
especialmente pelos quadros docentes marcados pelas lutas sociais
e estudantis da década anterior, de influxos teórico-metodológicos e
crítico- analíticos que questionavam as bases mesmas da autocracia
burguesa (NETTO, 2007, p. 129-130).

O processo de Renovação do Serviço Social, portanto, sintetiza-se em


quatro aspectos, no pluralismo teórico, ideológico e político; na
heterogeneidade de concepções profissionais; na polêmica teórico-
metodológico das ciências sociais; e nos segmentos de vanguarda para a
investigação e pesquisa. Também sinaliza para os encontros da categoria, que
neste momento deixam de ser espaços de consagração consensuais e tornam-
se espaços de discussões e polêmicas. Toda esta conjuntura nacional e
profissional, quer dizer para Netto, (2007, p. 136) que,

[...] a dialética entre Serviço Social no país antes e


durante/depois do ciclo autocrático não é nem a ruptura
íntegra, nem a mesmice pleonástica: é um processo muito
complexo em que rompimentos se entrecruzam e se supõem a
continuidade e reiterações; é uma tensão entre vetores de
transformação e permanência – e todos comparecem, em
medida desigual metamorfoseados, na resultante em que,
indubitavelmente, predomina o novo.

Como expressão desse processo erosivo do qual atravessa o Serviço


Social, situa-se o Movimento de Reconceituação, que traz as causas e as
características dessa erosão na profissão, em que se explicita no argumento,
“a ruptura com Serviço Social tradicional se inscreve na dinâmica de
rompimentos das amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de
transformação da estrutura capitalista excludente, concentradora, exploratória”
(FALEIROS apud NETTO, 2007, p. 146).
O objetivo desse processo de mudança de âmbito internacional
encontra-se na re-funcionalidade da ação interventiva dos profissionais de
Serviço Social, no questionamento sobre o papel dos assistentes sociais sobre
as expressões da “questão social” e na legitimidade de suas representações
em face da nova conjuntura Latina Americana, o que diante destes
acontecimentos pode-se perceber, uma “grande união” da categoria, visto os
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enfrentamentos do pós-guerra, da revolução cubana e dos novos atores


sociopolíticos que os assistentes sociais latino americanos tem de encarar
(FALEIROS, 2007).
Porém, esta “grande união” em pouco mais de cinco anos esfria-se,
primeiramente pela ação da burguesia pelas “vias ditatoriais”, com o incentivo à
implementação de Estados Ditatoriais nos países da América Latina, na
repressão aos movimentos de transformações societárias pela superação do
subdesenvolvimento e pela falta de consenso nas opiniões pela validação da
erosão do “tradicionalismo” na profissão.
Um dos marcos do Movimento de Reconceituação4 na América Latina
que se pode destacar é o contato inédito que os profissionais de Serviço Social
têm com a corrente marxista, que posteriormente tornar-se-á a base da
profissão para a “modernidade profissional” – esta interlocução do Serviço
Social com a tradição marxista (FALEIROS, 2007).
Especialmente no Brasil, em seus estudos detalhados a este tema, Netto
(2007), delimita o Movimento de Reconceituação em três momentos,
inicialmente na segunda metade da década de sessenta e é caracterizado
como “Perspectiva Modernizadora”, o segundo, um decênio depois, a
“Reatualização Conservadora” e o terceiro, situa-se nos primeiros anos dos
anos oitenta, com a “Intenção de Ruptura”. Este processo é considerado pelo
autor, como “movimento cumulativo, com estágios de dominância teórico-
cultural e ideopolítica distintos, porém entrecruzando-se e sobrepondo-se,
donde a dificuldade de qualquer esquema para representá-lo” (NETTO, 2007,
p. 152).
A primeira fase deste movimento, a “Perspectiva Modernizadora” no
Brasil, expressa-se como, “interveniente”, “dinamizador” e “integrador” no
processo de desenvolvimento e apresenta-se como suporte teórico-
metodológico, a matriz Positivista. Também manifesta-se no sentido de
adequar o Serviço Social em seus instrumentos e intervenção às novas
exigências postas pelo desenvolvimento capitalista e suas conseqüências no
pós-64, e estas expressões encontra-se claramente nos textos dos seminários

4
A divulgação e difusão deste Movimento se dá através dos organismos que sustentam todo o
processo, como o CBCISS os cursos de pós-graduação, e as agências de formação - a ABESS
e de categoria profissional – CENEAS, que são as associações e os sindicatos da profissão.
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de Teorização de Araxá e Teresópolis. Noutras palavras, o autor argumenta


que neste momento, o Serviço Social,

[...] aceita como inquestionável a ordem sociopolítica derivada de abril


e procura dotar a profissão de referências e instrumentos capazes de
responder às demandas que se apresentam nos seus limites –
donde, aliás, o cariz tecnocrático do perfil que pretende atribuir ao
Serviço Social no país (NETTO, 2007, p. 155).

Sua hegemonia começa a abalar-se, a partir da entrada dos anos


setenta, sobretudo, com a crise da “autocracia burguesa” que proporciona um
novo reajuste na profissão. O conteúdo reformista, os traços conservadores e a
compatibilidade com a ditadura, aceleram o fim desta perspectiva, por não
atenderem mais às expectativas profissionais em relação ao movimento de
laicização, e aos setores críticos da categoria, e este processo se dá tanto por
parte da “autocracia burguesa” - que exige uma nova postura dos profissionais,
como dos próprios assistentes sociais sob seus substratos teóricos (NETTO,
2007).
A segunda direção, “Reatualização do Conservadorismo”, é considerada
por Netto (2007), como parte do processo de renovação do Serviço Social que
menos sujeita-se às mudanças, em que sua visão associa-se ao micro social e
sua intervenção permanece fundamentada pelos pensamentos doutrinários da
Igreja Católica. No dizer do autor esta perspectiva,

[...] recupera os componentes mais estratificados da herança histórica


e conservadora da profissão, nos domínios da (auto)representação e
da prática, e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se
reclama nova, repudiando, simultaneamente, os padrões mais
nitidamente vinculados à tradição positivista e às referencias
conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxista (NETTO,
2007, p. 157).

Interessante entender, que esses traços conservadores que


caracterizam essa perspectiva como enfatiza o autor na citação acima,
revestem-se de novos, [...] “um verniz de modernidade ausente no anterior
tradicionalismo [...], o que se opera é a reatualização dele, com um consciente
esforço para fundá-lo em matrizes intelectuais mais sofisticadas” (NETTO, p.
157). Tendo como suporte teórico a fenomenologia, tal perspectiva expressa-
se, primeiramente por aproveitar o distanciamento que a ditadura provoca em
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relação a emergência das tendências irracionalistas nas universidades


brasileiras, por outorgar importância à subjetividade, à humanização, e por
beneficiar-se do acúmulo tradicionalista, ainda, vigente na profissão por meio
da ajuda psicossocial (NETTO, 2007, p. 158).
A ação interventiva dos assistentes sociais limita-se a analisar e avaliar
as condições apresentadas pelo indivíduo e colaborar para que o mesmo sinta-
se livre para decidir sobre que solução dar aos seus problemas, não
englobando os processos macroscópicos como fundamentais para o
entendimento do sujeito.
A terceira direção, denominada de “Intenção de Ruptura”, dá-se na
entrada dos anos oitenta e fundamenta-se pela ruptura do monopólio da matriz
conservadora que permeou o exercício profissional até então. Assim, como
explica o autor,
[...] ao contrário das anteriores, esta possui como substratos nuclear
uma crítica sistemática ao desempenho “tradicional” e aos suportes
teóricos, metodológicos e ideológicos do pensamento conservador
[...] e manifesta a pretensão de romper com a herança teórico-
metodológica do pensamento conservador [...] quer com seus
paradigmas de intervenção social (NETTO, 2007, p.159).

Esta “ruptura” com o monopólio do pensamento conservador dá-se


através da aproximação da profissão com a teoria marxista. Contudo, é valido
registrar que, inicialmente, tal aproximação ao marxismo dá-se de forma
enviesada, ou seja, tem-se uma aproximação ao “marxismo sem Marx”, sem a
referência direta à teoria social de Marx, mas à intérpretes (de qualidade
discutível) de suas obras, como o marxismo de Althusser e o marxismo-
leninismo. Dentre alguns destes equívocos da “aproximação enviesada” deve-
se destacar a identificação do Estado enquanto bloco monolítico, e, por
conseguinte, o “abandono” destes espaços por parte dos assistentes sociais e
seu ingresso massivo nos movimentos sociais para defender os interesses da
classe trabalhadora (NETTO, 1989).
Nesta perspectiva, a identificação dos assistentes sociais com os
movimentos sociais, o despertar para a essência do fenômeno no pensamento
social de Marx, durante o processo de democratização do país, - luta por
direitos sociais e trabalhistas, pelo acesso de caráter universal aos serviços e
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políticas públicas liderados pela classe trabalhadora - compromete estes


profissionais com um novo projeto societário.
A luta pela democracia proporciona para a arena profissional, campo
satisfatório para a “ruptura” com o “quase monopólio do conservadorismo”, - o
reconhecimento da subordinação à burguesia como aceitação do que se
mostra natural e evidente, - conservadorismo este em que por alguns anos
manteve o Serviço Social sob custódia dos interesses do capital, a serviço da
classe dominante, o que impediu através das correntes teóricas do positivismo-
estruturalismo, o reconhecimento da sociedade permeada de classes.
Estas aspirações populares levam à conquista da elaboração e
aprovação da Constituição Federal de 1988, do qual o Serviço Social teve
participação efetiva. E a partir desta, levanta a preocupação de rearticular sua
prática profissional sob novas perspectivas e demandas.
Dentre os demais avanços, na entrada dos anos noventa, o Serviço
Social no plano da formação, insere-se legalmente no nível superior, com
unidades de ensino por quase todos os estados; a pós-graduação como
responsável pelas pesquisas pioneiras e experiências importantes nos espaços
de formação profissional, no destaque pela produção científica, que recebe
recursos para incentivo à pesquisa por agências oficiais (a exemplo, o CNPq);
na produção teórica, desenvolve bibliografia própria, estendendo-se para
outros países, além de receber estrangeiros nos cursos de pós-graduação e
encontros no Brasil, NETTO, 1996.
Tem-se neste período o que se chama de “maturação profissional”, em
que o Serviço Social brasileiro constrói um projeto profissional caracterizado
como inovador e crítico, por estar fundamentado na tradição marxista – método
crítico-dialético, - em que realiza este movimento real, “da ascensão do
abstrato ao concreto, que não é a passagem de um plano (sensível) para outro
plano (racional), é um movimento no pensamento e do pensamento” (KOSIK,
2011, p. 36 e 37). Este projeto denomina-se Projeto Ético-Político da Profissão
e materializa-se no conjunto das regulamentações profissionais – também
reconhecida como avanço na década de noventa, que são: o novo Código de
Ética de 1993 – até então vigente, a aprovação da Lei da Regulamentação da
Profissão – especialização do trabalho coletivo no marco da divisão sócio-
técnica do trabalho; e posteriormente a Lei das Diretrizes Curriculares e Bases
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da Educação Nacional - que norteiam a formação acadêmica (IAMAMOTO,


2007).
O projeto tem em seu núcleo os seguintes princípios: a liberdade – como
reconhecimento de valor central, compromisso com a autonomia; a
emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais; a vinculação a um
projeto societário – que propõe a construção e uma nova ordem social, sem
exploração/dominação de classe, etnia e gênero; a defesa intransigente dos
direitos humanos; o repúdio do arbítrio e aos preconceitos. Como dimensão
política, posiciona-se a favor da equidade; da justiça social; da universalização
ao acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais;
ampliação e consolidação da cidadania; democratização como socialização da
participação política; socialização da riqueza socialmente produzida. No âmbito
profissional, se estabelece: a competência; o aperfeiçoamento intelectual; a
formação acadêmica qualificada; a preocupação investigativa; (auto)formação
permanente. Com relação aos usuários defini-se: o compromisso com a
qualidade de serviços prestados a população; a publicidade dos recursos
institucionais; a participação dos usuários nas instituições (NETTO, 1999).
Esses princípios têm uma relação direta com método de Marx: ambos
têm um compromisso com os interesses da classe trabalhadora, seja eles
imediatos ou históricos. Como foi assinalado linhas acima, o método
materialista trata de desvendar um dado modo de produção, o capitalista, e,
dessa forma, gerar possíveis condições de transformação dessa sociedade, o
que define sua direção social: é de interesse da classe trabalhadora. Assim,
nessa perspectiva, o Projeto Ético-político da Profissão, a partir dos anos 1980,
mas sobretudo nos anos 1990, sela um importante debate com essa teoria, a
qual trará maturidade para esse projeto, definindo sua direção sócio-política:
compromisso com a classe trabalhadora e com o advento de uma nova
sociabilidade.

5. Aproximações conclusivas

A partir das reflexões tecidas neste ensaio, compreende-se que, embora


o Serviço Social tenha se aproximado de outras teorias durante seu processo
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de construção e institucionalização enquanto profissão, a exemplo do


positivismo, funcionalismo e fenomenologia, é com a teoria social de Marx que
a profissão encontra solo fértil na análise crítica dessa sociabilidade.
Assim, o método crítico-dialético é de extrema importância para a
pesquisa no Serviço Social, na medida em que sua direção social - ao ter como
pressuposto a apreensão de categorias que exprimem um modo de vida de
“indivíduos humanos vivos” (MARX & ENGELS, 2009, p. 34) – está voltada
para aqueles se encontram oprimidos por essa sociabilidade capitalista, para
os quais está voltada o olhar profissional, seja ele na prática em si ou na
realização de pesquisas de nível acadêmico, que, com base em seu projeto
Ético-Político, não se contenta com a forma que está organizada essa
sociedade.

6. Referências

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A.a. Ensino em Serviço Social: pluralismo e formação profissional.
Cadernos ABESS nº 4. São Paulo: Cortez, 1991.

DANTAS, J. Lucena. Perspectivas do funcionalismo e seus desdobramentos no


Serviço Social. In: Vv. A.a. Ensino em Serviço Social: pluralismo e
formação profissional. Cadernos ABESS nº 4. São Paulo: Cortez, 1991.

DEMO, P. Cuidado metodológico: signo crucial da qualidade. In:


Sociedade e Estado, Brasília, v. 17, n. 2, p. 349-373, jul./dez. 2002.

IAMAMOTO, M. Villela.O Serviço Social na contemporaneidade. 12 ed. São


Paulo: Cortez, 2007.
KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. (Trad.: Cecília Neves e Alderico Toríbio).
São Paulo: Paz e Terra, 2011.

MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de Álvaro Pina – 1ed.


São Paulo: Expressão popular, 2009.

NETTO. J. Paulo.Ditadura e Serviço Social: uma analise do serviço social no


Brasil no pós-64. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

______. A Construção do Projeto Ético-político do Serviço Social frente a


crise contemporânea. In: CEAD módulo 1. Brasília, 1999.
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______. Serviço Social Tradição Marxista. Serviço Social e Sociedade nº 37.


São Paulo: Cortez, 1989.

______.O que é o Marxismo. São Paulo: Brasiliense, 2006.

______.Transformações Societárias e Serviço Social: notas para uma análise


prospectiva da profissão no Brasil. In: Serviço Social e Sociedade nº 50. São
Paulo: Cortez, 1996.

QUIROGA, C. Invasão positivista no marxismo. São Paulo: Cortez. 1991.

SPOSATI, A. Pesquisa e produção do conhecimento no campo do Serviço


Social. In: Revista Katálysis. Número especial, Florianópolis, 2007. Disponível
em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/1025/3909.
Acesso em 29 de março de 2014.

TRIVIÑOS, A. N. Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais:


pesquisa qualitativa em Educação. São Paulo: Atlas, 1987.

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