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A origem do petróleo é um dos mistérios mais bem guardados pela natureza. Séculos de es-
peculações e experimentações propiciaram numerosas hipóteses e teorias, muitas delas antagônicas
e passíveis de discussões tão acaloradas quanto estéreis. As teorias que pretendem explicar a
origem do petróleo podem ser classificadas em inorgânicas e orgânicas.
As teorias inorgânicas atribuem ao petróleo uma origem sem a intervenção de organismos
vivos de qualquer espécie. Já as teorias orgânicas atribuem aos organismos vivos papel
fundamental no processo de geração do petróleo.
Atualmente, os geólogos e geoquímicos, em sua maioria, advogam uma origem orgânica para
o petróleo, mas não contestam a existência de hidrocarbonetos formados inorganicamente na Terra
e no espaço exterior.
O petróleo é conhecido desde a mais remota antiguidade. Isto porque, sendo um fluido em
equilíbrio precário na subsuperfície, tende a escapar para a superfície sob a forma de exsudações.
Exsudações petrolíferas existem em todos os continentes e até sob os oceanos e mares. As
exsudações tem auxiliado na descoberta de grande número de jazidas de hidrocarbonetos, e sua lo-
calização é incluída no processo exploratório desenvolvido por todas as companhias de petróleo.
A utilização do petróleo para os mais diversos fins pelas civilizações as mais antigas está
bem documentada na literatura. A Bíblia, por exemplo, apresenta diversas citações, como a cala-
fetagem por Noé de sua lendária arca, em preparação para o advento do dilúvio.
Os fenícios utilizaram largamente o "betume" para calafetamento de suas magníficas em-
barcações. Na Mesopotâmia e no Egito o petróleo era bastante utilizado como argamassa nas cons-
truções, na pavimentação de estradas e para outras finalidades, como no processo de embal-
samamento, muito difundido no Egito.
No Novo Mundo, o petróleo também era conhecido desde tempos remotos. Índios pre-co-
lombianos, como os Karankawa do Texas (EUA), utilizavam este produto para decorar e imper-
meabilizar seus potes de cerâmica. Os incas, os maias e outras civilizações antigas também esta-
vam bem familiarizados com o petróleo, dele se aproveitando para diversos fins (remédios, com-
bustível, artefatos bélicos, etc.).
É interessante também assinalar que os chineses, nos primeiros séculos da era cristã, já per-
furavam poços relativamente profundos em busca de sal, para uso doméstico, e de petróleo, como
fonte de energia para aquecimento e iluminação. Consta que, utilizando ferramentas primitivas de
bambu, perfuraram poços de até 1000 metros de profundidade.
Com tantas ocorrências em todo o mundo e tão amplas possibilidades de aplicação em setores
variados, não é de estranhar a utilização do petróleo desde épocas imemoriais. 0 homem, cer-
tamente, passou a especular sobre a origem deste fluido desde a primeira vez em que veio a utiliza-
lo, por curiosidade ou intuição. Entretanto, somente a partir dos três últimos séculos é que o as-
sunto mereceu tratamento aprofundado e de caráter cientifico.
De acordo com KNEBEL, "os geólogos de petróleo tem escrito mais sobre a origem do petró-
leo do que sobre qualquer outro assunto". Essa prodigiosa quantidade de pesquisa e discussão,
entretanto, segundo a opinião abalizada de LANDES, não foi inteiramente em vão.
Numerosas teorias foram testadas e abandonadas, umas por serem fantasiosas e outras por
falta de base científica. A teoria inorgânica que mais se destaca é da formação do óleo no manto
superior. Atualmente é desnecessário discutir as várias teorias inorgânicas, pois não resistem a uma
análise científica mais aprofundada. Portanto, daremos ênfase a teoria orgânica que é aceita
atualmente pelos geólogos do petróleo
MACQUER (1758) aventou a origem do petróleo por reações de óleos vegetais com ácidos
minerais, sendo que o flogisto (fluido que se acreditava existir nas substâncias combustíveis) de-
sempenhava papel importante na transformação.
HATCHETT (1798) sugeriu que óleos, gorduras e resinas animais ou vegetais, formavam
betume quando se decompunham.
ENGLER (1888) aqueceu, em autoclave a 400 oC e alta pressão, óleos de peixe e de outros
animais marinhos, obtendo um produto semelhante ao petróleo, onde diversos hidrocarbonetos fo-
ram reconhecidos. Estava estabelecida em bases experimentais a geração ou a teoria de que a ma-
téria orgânica animal e os óleos vegetais são a fonte para a formação do petróleo, por destilação a
temperatura moderada e alta pressão (teoria de HOFER-ENGLER).
A associação entre jazidas de carvão e acumulações de petróleo levou alguns cientistas a su-
por que o petróleo resultava do carvão ou pelo menos que ambos teriam a mesma origem.
A partir de 1834, a Química Orgânica, já mais desenvolvida, permitiu mostrar que os pro-
dutos da destilação do carvão eram diferentes dos encontrados no petróleo, mas tanto um como ou-
tro deveriam provir da matéria orgânica vegetal.
SMITH, em 1952, extraiu de sedimentos recentes do Golfo do México uma mistura composta
de hidrocarbonetos parafínicos, naftênicos e aromáticos. Parecia definitivamente solucionado o
problema da gênese do petróleo: este seria apenas o resultado da concentração de hidrocarbonetos
depositados como tal, juntamente com os sedimentos. A teoria singenética foi logo abandonada
porque a mistura de hidrocarbonetos nos sedimentos recentes difere da mistura nos petróleos,
destacando-se os seguintes pontos:
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- hidrocarbonetos parafínicos com predominância de número ímpar
de átomos de C, o que não acontece nos petróleos;
Nas décadas de 60 e 70, foi estabelecido o conceito de "rocha geradora", base da teoria or-
gânica moderna: "Se foi encontrado petróleo, existe uma rocha geradora a ele associada".
Rochas fonte de hidrocarbonetos podem ser definidas como sedimentos de granulação fina
que em seu ambiente natural geraram, estão gerando ou poderão gerar e liberar suficiente
hidrocarboneto para formar uma considerável acumulação de óleo. A parte solúvel da matéria
orgânica fica em suspensão no mar, sofrendo eventualmente oxidação. As partículas orgânicas
contidas nos sedimentos são comumente denominadas organolitas ou fitoclastos, pois provém
basicamento do fitoplancton. A preservaçao da matéria orgânica nos sedimentos é, entre outros
fatores, uma função do conteúdo de oxigênio nas águas do fundo, taxa de sedimentação,
intensidade da vida bentônica e produtividade da matéria orgânica.
Durante o soterramento e sob temperatura crescente, a matéria orgânica sofre uma série de
reações geoquímicas que vai da transformação de biopolímeros a geopolímeros, estes em geral,
coletivamente chamados de querogênio. O querogênio é formado gradualmente nos cem metros
superiores de uma coluna de sedimentos após a deposição de produtos precursores como humus,
ácidos húmicos e fúlvicos etc. A teoria orgânica foi definida nos seguintes termos: "A matéria
orgânica depositada com os sedimentos é convertida por processos bacterianos e químicos, durante
o soterramento, num polímero complexo insolúvel, o querogênio, que contém pequena quantidade
de nitrogênio e oxigênio.
Este processo é acompanhado pela compactação dos sedimentos e por remoção d'água
conata. O querogênio, por sua vez, é convertido em hidrocarbonetos por craqueamento
térmico a maiores profundidades e temperaturas relativamente elevadas". Além do
querogênio, a matéria orgânica de sedimentos soterrados ainda contém uma pequena fração
de compostos orgânicos que são similares aos compostos originalmente produzidos pelos
organismos. Tais "fósseis geoquímicos ou marcadores" fornecem evidência sobre a origem
da matéria orgânica e em extensão sobre o ambiente deposicional. Esses compostos são
encontrados nos óleos crus e assim testemunham a origem do petróleo de remanecentes de
seres vivos.
Portanto, a maioria do óleo e gás presente em bacias sedimentares é gerada quando o
querogênio é convertido em hidrocarbonetos.
A cinética da decomposição do querogênio ou, mais precisamente, a cinética da
degradação das entidades estruturais diferentes presentes no querogênio controla a
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quantidade e composição do hidrocarboneto gerado. Consideram-se como evidências da
origem orgânica do petróleo:
5) - o fato de o petróleo ser oticamente ativo, isto é, fazer girar o plano de vibração da luz
polarizada. Essa propriedade, exclusiva de produtos de origem orgânica, é atribuída à presença de
moléculas assimétricas características da matéria sintetizada bioquimicamente.
Os inorganistas negam que esses compostos indiquem origem orgânica para o petróleo, pois,
a seu ver, poderiam ter sido extraídos das rochas pelo próprio petróleo em sua migração;
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Apesar de todas essas evidências sobre a origem orgânica do petróleo, existe liberação
de metano e outros hidrocarbonetos do manto e da crosta; parte pode ser reciclado de rochas
sedimentares que se aprofundaram na crosta e manto, mas parte pode ser originado do gás
primordial que foi aprisionado nos planetesimais que se agregaram para formar o planeta
Terra. Hidrocarbonetos ocorrem em outros astros do sistema solar e no Universo em geral.
GEOQUÍMICA DE PETRÓLEO
A Teoria Orgânica moderna postula que o petróleo se origina da matéria orgânica depositada
juntamente com os sedimentos finos numa bacia sedimentar. Como essa matéria orgânica é
produzida e quais as condições para a sua preservação nas rochas sedimentares?
O petróleo, do mesmo modo que o carvão, jamais teria existido se não tivesse se processado a
fotossíntese nos vegetais que viveram no passado.
A fotossíntese é um processo biológico que se deve à ação da clorofila. Este pigmento é en-
contrado em organelas microscópicas de certas células vegetais. Embora o processo da fotossíntese
ainda seja imperfeitamente conhecido, sabe-se que o ponto de partida é a excitação da clorofila
pela ação da luz.
A energia das moléculas de clorofila assim ativadas é utilizada para sintetizar monossacarí-
deos (açúcares simples como a glicose) e polissacarídeos (como a celulose e o amido), ponto de
partida para as sínteses mais complexas de matéria orgânica nas células vegetais.
As algas do grupo das diatomáceas são, atualmente, as responsáveis pela maior parte da fo-
tossíntese realizada na Terra, fato que as tornam as maiores produtoras de matéria orgânica neste
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planeta -- matéria orgânica potencialmente geradora de petróleo. Essas algas são encontradas, atu-
almente, em todas as regiões do globo terrestre: no mar, nos lagos, nos rios, no solo úmido.
As algas dinoflageladas também ocupam um lugar de destaque como produtoras de matéria
orgânica. As algas desse grupo se locomovem, lentamente, com o auxílio de dois flagelos ou mais
pares de flagelos.
Os raios de luz solar cujos comprimentos são adequados à fotossíntese só penetram uns 100
metros de profundidade nos oceanos. Assim sendo, a síntese de matéria orgânica primária está res-
trita, essencialmente, às águas superficiais que cobrem a superfície terrestre. Nos primeiros dez
metros a produtividade orgânica é maior, daí decrescendo com a profundidade. Entretanto, abaixo
de cem metros de profundidade, vivem e se multiplicam organismos diversos, mas estes são
heterotróficos, dependendo dos alimentos produzidos pelos organismos que vivem próximo à
superfície, isto é, pelo fitoplâncton.
As algas diatomáceas contém 5 a 50% de lipídeos, matéria prima a partir da qual a maior
parte do petróleo é formada.
Os animais marinhos, inclusive os pertencentes ao plâncton (zooplâncton), são pouco
importantes, do ponto de vista de preservação de matéria orgânica potencialmente geradora de
petróleo. Esses organismos são facilmente decompostos antes de serem incorporados aos
sedimentos, não podendo participar significamente da gênese do petróleo.
As plantas terrestres não contribuem de maneira notável para a gênese do petróleo. Calcula-se
que, atualmente, a matéria orgânica trazida pelos rios representa menos de 1% das substâncias
orgânicas dos oceanos. Aliás, é fato bem conhecido que quantidades substanciais de petróleo fo-
ram geradas no passado antes do aparecimento das plantas terrestres. São encontradas grandes
acumulações de petróleo em rochas devonianas e mesmo mais antigas, muito embora as primeiras
plantas terrestres só tenham se desenvolvido notavelmente no final do Devoniano.
Nas áreas continentais o fator mais importante no processo de produção de matéria orgânica é
o clima. Nas regiões desérticas a produtividade é mínima, ao passo que nas regiões de clima fa-
vorável desenvolvem-se florestas exuberantes - a produtividade é máxima. Não devemos nos
esquecer de que o clima na superfície da Terra tem variado drasticamente no decorrer do tempo
geológico. As condições climáticas hoje observadas em determinada área podem não ser
representativas daquelas do passado.
Nos mares a produtividade orgânica é controlada pela luz, pela temperatura e pelo teor de
nutrientes dissolvidos na água. Já foi mencionado que a produção de matéria orgânica primária
está restrita à zona eufótica, isto é, até a profundidade de 100 metros onde a luz penetra. A zona
abaixo é denominada zona afótica.
O clima, principalmente no que se refere à temperatura, tem efeito significativo na produção
de matéria orgânica nos mares. As regiões polares apresentam baixa produtividade, bem como as
regiões equatoriais. O máximo de produtividade se encontra nas regiões de clima temperado.
O fitoplâncton para se desenvolver necessita de nutrientes, isto é, de nitrogênio, fósforo, síli-
ca, ferro, enxofre etc. A concentração desses elementos, sob a forma dissolvida, é em geral muito
baixa nas águas superficiais, pois a atividade biológica que aí se desenvolve é intensa, extraindo os
nutrientes da água. A figura 3 mostra a distribuição nitratos de e fosfatos nos oceanos Atlântico,
Pacífico e Ïndico.
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FIGURA 3 - Distribuição dos Nitratos (A) e dos Fosfatos (B) nos oceanos.(Sverdrup et
al., 1946).
Em certas áreas, fenômenos hidrodinâmicos locais ou regionais podem fazer fluir para a su-
perfície as águas profundas ricas em nutrientes. Esse fenômeno, conhecido por ressurgência
("upwelling") causa uma grande produtividade orgânica. Atualmente, a ressurgência é muito mais
comum ao longo das costas ocidentais dos continentes devido à circulação geral dos ventos e cor-
rentes oceânicas, conforme pode ser observado na figura 4. Em épocas de clima quente, a calota
polar de gêlo é reduzida, de modo que não se forma água gelada rica em oxigênio e nutrientes.
Neste caso, o fenômeno de ressurgência é bastante enfraquecido ou desaparece. Cria-se então um
oceano com pouca circulação e com deficiências em oxigênio. Vastas áreas então tornam-se
anóxicas, preservando grande quantidade de matéria orgânica em certos tempos geológicos.
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4.
Os grandes rios também podem trazer para os oceanos uma quantidade significativa de nu-
trientes nas imediações de seus estuários. Cerca de 80% da matéria orgânica nos oceanos
encontra-se dissolvida e apenas 20% mantém-se sólida, sob a forma de partículas que é
constantemente oxidada ou soterrada. A matéria orgânica dissolvida não é incorporada às rochas,
mas é continuamente reciclada e reutilizada pelos organismos marinhos.
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FATORES CONTROLADORES DA PRESERVAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA
Foi discutido no item anterior os fenômenos relacionados com a produção de matéria orgâni-
ca. Vejamos agora as condições para a preservação e incorporação aos sedimentos das partículas
de matéria orgânica. A acumulação anual de matéria orgânica (M.O.) nos sedimentos costeiros que
ocupam uma faixa estreita do globo terrestre é de 2,7 . 1012g e de sedimentos pelágicos que
ocupam grandes extensões oceânicas é de 9,2 . 1013g. Entretanto, o percentual de acumulação de
M.O. por unidade de área pelágica é bem menor (<0,1%) do que aquele das áreas costeiras (1 a
5%).
Condições para a preservação de uma quantidade significativa de matéria orgânica só existem
em meio aquático. O ar atmosférico é um fluido altamente oxidante, desde que contém 21% de
oxigênio. Ele se difunde facilmente nos sedimentos de origem continental, destruindo rapidamente
a matéria orgânica neles porventura existente. Portanto, os cadáveres dos dinossauros ou de outros
vertebrados não contribuem para a formação de petróleo. A lignina e a celulose dos vegetais são
mais resistentes e tem maior capacidade de preservação, mas também não geram petróleo.
Por outro lado, o conteúdo de oxigênio das águas dos oceanos e lagos é muito baixo (alguns
centímetros cúbicos por litro) e a água circula mais lentamente através dos sedimentos, o que
permite melhor preservação da matéria orgânica. Os sedimentos marinhos e lacustres, por isso,
são os únicos aptos a se tornarem rochas potencialmente geradoras de petróleo.
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Uma percentagem elevada da matéria orgânica, produzida na zona eufótica (zona com luz), é
destruída e oxidada em seu percurso antes mesmo de atingir o fundo da bacia de sedimentação.
Caso a profundidade for muito grande, praticamente nenhuma matéria orgânica atinge o fundo.
Por outro lado, a profundidade do mar na área de sedimentação não deve ser muito pequena.
As águas rasas superficiais são muito ricas em oxigênio, em geral são supersaturadas nesse gás.
A zona favorável à preservação das partículas da matéria orgânica no mar se encontra,
geralmente, entre 200 e 800 metros de profundidade. É entre esses limites de profundidade também
que se encontra a zona de concentração mínima de oxigênio.
A baixa concentração de oxigênio nessa zona se deve aos fenômenos respiratórios que aí se
processam e às fermentações oxidativas (decomposição), ambos consumidores de oxigênio.
Portanto, próximo às áreas costeiras é que há a maior produtividade devido aos nutrientes
provenientes dos continentes e maior preservação de matéria orgânica. As águas profundas são
ricas em oxigênio devido às correntes profundas, que trazem águas saturadas em oxigênio das
regiões polares. Essas águas oxidam a matéria orgânica e sustentam uma vida bentônica no fundo
do mar. A menor quantidade de nutrientes das áreas oceânicas afastadas dos continentes inibe
muito a produtividade orgânica.
Baixa produtividade orgânica e altas taxas de oxigênio resultam em reduxida preservação de
matéria orgânica nas grandes profundidades marinhas. A maior riqueza em oxigênio nas águas
profundas do Atlântico se deve ao fato de que as águas provém de ambos os polos (Fig. 5). A
figura 5a mostra a distribuição vertical do oxigênio dissolvido nas águas dos oceanos Atlântico,
Pacífico, Indico e Ártico.
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FIGURA 5 - Distribuição das correntes marinhas no Oceano Atlântico.
Em certas áreas de circulação restrita, as águas profundas podem se tornar depletadas total-
mente em oxigênio (isto é, tornam-se anóxicas). Como no caso do Mar Negro, do Golfo de Caríaco
(no Mar das Caraíbas), de algumas bacias oceânicas profundas e muitos fjords da Noruega e da
Columbia Britânica. Na ausência de oxigênio, organismos anaeróbios (organismos que vivem na
ausência de oxigênio) usam matéria orgânica como alimento e sulfatos e nitratos para obter
oxigênio de que necessitam para os fenômenos metabólicos, liberando no processo amônia,
nitrogênio e gás sulfídrico.
A decomposição da matéria orgânica se processa muito lentamente nas condições anóxicas, o
que permite o soterramento de sedimentos e partículas orgânicas e a formação de rochas
particularmente ricas em matéria orgânica. No mar Negro, as águas abaixo de 200 metros não
contém oxigênio e os sedimentos do fundo são muito ricos em matéria orgânica. Outro bom
exemplo é a Baia de Kaoe, no oceano Pacífico. A figura 6 mostra teores de oxigênio no Oceano
Pacífico, adjacente, e na baia propriamente dita. Observa-se que, na baia, abaixo de 360 metros, o
oxigênio desaparece totalmente e que o gás sulfídrico está presente.
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5. ROCHAS GERADORAS DE PETRÓLEO
Partindo do princípio estabelecido por James Hutton de que "o presente é a chave do passa-
do", foi discutido nos itens anteriores as condições atuais de produção e preservação de matéria
orgânica que é incorporada aos sedimentos. Condições idênticas devem ter operado no passado,
acarretando a formação de rochas geradoras de petróleo.
Chama-se a atenção novamente para o fato de que uma grande percentagem da matéria or-
gânica é destruída antes de chegar ao fundo da bacia de sedimentação. Spotnisev (1949) calcula em
70% essa destruição. Por outro lado, mesmo sob condições favoráveis de fundo, apenas uma
pequena percentagem da matéria orgânica original é preservada. Calcula-se que somente 1% de
toda a matéria orgânica produzida em determinada área sobrevive até ser incorporada às ro-
chas sedimentares.
Um aporte adequado de material inorgânico é imperativo para a formação de rochas poten-
cialmente geradoras de petróleo. Se a razão de sedimentação for muito baixa, o tempo de exposi-
ção da matéria orgânica (MO) aos agentes hostis é suficiente para reduzi-la a percentagens inade-
quadas. Por outro lado, uma razão de sedimentação muito elevada é um fator desfavorável, pois
dará origem a rochas pobres em matéria orgânica devido à diluição. Consequentemente, uma razão
de sedimentação (10-100 mm/1000 anos) que é intermediária em relação à produção orgânica
resulta na formação das melhores rochas geradoras.
Desde que organismos bentônicos bioturbadores do substrato oceânico não podem viver em
condições redutoras, os sedimentos ficam intactos, com a laminação preservada. Para que uma
rocha seja classificada como geradora é necessário que as seguintes condições sejam satisfeitas:
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b) A MO seja adequada para geração de hidrocarbonetos (qualidade adequada);
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FIGURA 7 - A matéria orgânica de rochas sedimentares observada ao microscópio. Amorfa (A),
Herbácea (H) e Lenhosa (L). A flexa 1 aponta para um esporo de forma triangular. A flexa 2 indica
um pólen arredondado bem preservado.
Na matéria orgânica HERBÁCEA pode-se distinguir cutículas vegetais, polens, esporos etc.
Esse material, proveniente de vegetais superiores, também dá origem a gás, e algum óleo porém
com abundância de parafinas pesadas (óleo parafínico).
Na matéria orgânica LENHOSA distingue-se nas lâminas partículas com aspeto lenhoso,
muitas vezes com vasos condutores de seiva bem preservados. Este tipo de matéria orgânica so-
mente gera pouco gás, assim mesmo sob condições mais severas de temperatura.
Pela figura observa-se que, em geral, existe uma mistura dos diversos tipos de matéria orgânica nos
sedimentos, mas geralmente predomina um tipo. A conversão da matéria orgânica (querogênio) em
petróleo é quase diretamente proporcional a seu conteúdo em hidrogênio. A melhor matéria
orgânica para gerar óleo contém mais de 10% de hidrogênio, sendo o teor mínimo, de acordo
com Momper (1978), em torno de 7%. Aqui surge um problema para a avaliação adequada de
uma rocha potencialmente geradora. A identificação dos diversos tipos de matéria orgânica sob o
microscópio é relativamente fácil. Entretanto, fenômenos de oxidação e degradação bacteriana,
nem sempre aparentes à análise ótica, podem ter reduzido drasticamente o teor de hidrogênio da
matéria orgânica e, assim, seu potencial gerador. Consequentemente, um diagnóstico seguro do
potencial gerador deve ser baseado com confirmação por outros métodos. A pirólise tem sido o
método bastante utilizado, nos últimos anos, para avaliação do potencial de produtividade.
Na pirólise, uma pequena amostra de rocha potencialmente geradora é aquecida desde 300
até 550 0C num ambiente onde flui gás inerte (hélio ou nitrogênio). Inicialmente, os hidrocarbo-
netos já existentes na rocha são vaporizados e carregados pelo gás de arraste até um detetor, onde
são quantificados através de um pico denominado S1. A temperaturas mais elevadas, o querogênio
sofre craqueio, dando origem a novos hidrocarbonetos, os quais são quantificados por um segundo
pico, o S2. A quantidade de oxigênio, sob a forma de CO2, liberada durante a pirólise é
quantificada pelo pico S3.
A quantidade de hidrocarbonetos produzidos pela pirólise é diretamente proporcional à
quantidade de hidrogênio no querogênio, razão pela qual a relação S2/(S1 + S2) ou S2/COT é
denominada (1) Índice de Hidrogênio. COT é a abreviação de Carbono Orgânico Total que é
igual a (S1 + S2). A razão S3/COT é denominada (2) Índice de Oxigênio, por ser diretamente
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proporcional à quantidade de oxigênio no querogênio; (3) temperatura máxima de pirólise, que é
a temperatura na evolução máxima do segundo pico (essa temperatura varia em função do grau de
maturação da matéria orgânica) e (4) índice de produção que é a razão entre a quantidade de
hidrocarbonetos liberados no primeiro estágio de aquecimento e a quantidade total de
hidrocarbonetos liberados (S1/COT). A pirólise será discutida em outro capítulo com mais detalhe.
A matéria orgânica AMORFA contém um teor relativamente elevado de hidrogênio e teor
baixo de oxigênio. A matéria orgânica HERBÁCEA contém menor teor de hidrogênio, porém
maior teor de oxigênio. Finalmente, a matéria orgânica LENHOSA contém baixo teor de hidro-
gênio, porém alto teor de oxigênio. Assim, a pirólise permite identificar e quantificar o tipo de
matéria orgânica através dos índices de hidrogênio e oxigênio.
Quando os dados são obtidos através da pirólise, utilizam-se os termos Tipo I, Tipo II e Tipo
III para a matéria orgânica AMORFA, HERBÁCEA e LENHOSA, respectivamente.
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b) Reflectância da Vitrinita (Ro%) - Pode-se também determinar se uma rocha foi
submetida à temperaturas adequadas à geração de quantidades substanciais de petróleo mediante o
estudo da reflectância da vitrinita.
A vitrinita é um dos componentes dos carvões húmicos, nos quais se apresenta sob a forma
de faixas negras brilhantes características. É encontrada em praticamente todas as rochas sedi-
mentares, sob a forma de partículas microscópicas. O brilho dessas partículas é proporcional à
paleotemperatura máxima à qual foram submetidas. Em microscópio especial (Fotomicroscópio)
pode-se medir a percentagem da luz refletida numa partícula de vitrinita (Ro%). Ro% = 0,6 ca-
racteriza o topo da Zona Matura (zona em que a temperatura é suficiente para iniciar o processo de
geração de óleo) e Ro% = 1,35 corresponde ao topo da Zona senil onde todo óleo preexistente se
transforma em gás.
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MARCIO ROCHA MELLO
GUILHERME OLIVEIRA ESTRELLA
1 - INTRODUÇÃO
2 - FOTOSSÍNTESE
A fotossíntese é a base para a produção da matéria orgânica. Cerca de dois bilhões de anos
atrás, no Pré-Cambriano, a fotossíntese surgiu como um fenômeno no planeta. O enriquecimento
do oxigênio na atmosfera da Terra é uma consequência direta da fotossíntese e da produção de ma-
téria orgânica e da ação de bactérias anaeróbias sobre sulfatos e nitratos.
A fotossíntese é, basicamente, um processo de reação do hidrogênio da água com o dióxido
de carbono para, com absorção de energia, produzir matéria orgânica na forma de glicose. A gli-
cose, relativamente rica em energia, é sintetizada pelas plantas verdes com a ajuda da luz solar.
Este processo converte a energia solar (luminosa) em energia química
A partir da glicose, os organismos autotróficos, que sintetizam a matéria orgânica, podem
metabolizar polissacarídeos, tais como a celulose e o amido, e todos os demais constituintes ne-
cessários à própria subsistência.
A reação da fotossíntese é dada pela seguinte equação simplificada:
Para se fazer o balanço do carbono orgânico usado na fotossíntese durante a história da Terra,
é necessário somar todo o carbono orgânico presente tanto em água e na superfície da terra como
em sedimentos. A quantidade total estimada de carbono orgânico e grafita, que anteriormente
representava o carbono orgânico sedimentar, é de aproximadamente 6,4 x 1015 t
A maior parte do carbono da Terra (5,0 x 1015 t) está concentrada nas rochas sedimentares.
Estima-se que, desse carbono, 18% estejam sob a forma de compostos orgânicos e 82% estejam
sob a forma de carbonatos. Só uma parte do carbono orgânico da Terra se encontra nos organismos
vivos ou em soluções orgânicas e inorgânicas (CO2). A parte restante (1,4 x 1015 t), principalmente
sob a forma de grafita ou metantracito, encontra-se fixada nas rochas metamórficas de origem
sedimentar.
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Fig. 1 - Principais processos e transformações que envolvem o carbono. A maior parte do
carbono orgânico produzido pelos organismos é rapidamente oxidada para CO2 e reciclada para a
atmosfera e hidrosfera (modificada de TISSOT & WELTE).
O processo de transformação/acumulação do carbono consiste numa constante troca entre a
biosfera, a atmosfera, a litosfera e a hidrosfera. A figura 1 constitui um esquema simplificado desse
processo.
Estima-se que a preservação global de carbono orgânico nas rochas durante a história da
Terra seja de 0,1% de sua produção. Esta é a proporção de preservação atual da matéria orgânica
nos sedimentos
A proporção restante é reciclada principalmente na zona eufótica dos oceanos.
No Mar Negro, Deuser encontrou uma razão de preservação de 4%. É uma condição
excepcional de preservação, alcançada apenas nos ambientes anóxicos e corpos d'água calmos, sem
vida no fundo, exceto bactérias anaeróbicas. Na figura 2 mostra-se o ciclo do carbono orgânico na
natureza.
No ciclo I, pricipalmente atmosfera, hidrosfera e bioesfera, há movimentação de cerca de 2,7
a 3,0 x 1015 t de carbono orgânico, ao passo que no ciclo II, principalmente na litosfera, a
movimentação estimada é de 6,4 x 1015 t. Os dois ciclos são interligados por uma pequena perda de
0,01 a 0,1% do carbono orgânico total, que representa a oxidação da matéria orgânica para o CO2.
Querogênio é a fração de matéria orgânica das rochas sedimentares insolúvel nos solventes
orgânicos.
Diferentes tipos de querogênio podem ser reconhecidos por exame ótico e análises físico-
químicas. Três tipos principais, caracterizados no diagrama de Van Krevelen (H/C, O/C) por seus
respectivos estágios de evolução, englobam os querogênios existentes (fig. 3).
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Fig. 3 - Principais tipos de querogênio, caracterizados em diagrama de Van Krevelen.
O querogênio do tipo I contém muitas cadeias alifáticas (acíclicas) e poucos núcleos aromá-
ticos. A razão H/C é originalmente alta e o potencial para geração de óleo e gás é também elevado.
Este tipo de querogênio é derivado principalmente da matéria orgânica algal lacustre (contém de
10 a 70% de lipídios) e da matéria orgânica enriquecida de lipídios por ação microbiana.
O querogênio do tipo II contém maior número de anéis aromáticos e naftênicos. A razão H/C
e o potencial de geração de óleo e gás são mais baixos do que os observados no querogênio tipo I,
embora ainda sejam bastante significativos. O querogênio tipo II é usualmente relacionado com a
matéria orgânica marinha depositada em ambientes redutores, com um teor de enxofre médio a
alto, além de polens, esporos e cutículas de vegetais superiores. A presença de ions livres no ambi-
ente deposicional marinho empobrece a matéria orgânica de hidrogênio, pela combinação deste
com os ions livres, dando origem aos sulfatos, nitratos e outros compostos.
O querogênio do tipo III contém principalmente grupos funcionais poliaromáticos e oxige-
nados, com poucas cadeias alifáticas. A razão H/C é baixa e o potencial de geração de óleo é in-
significante, mas pode ainda gerar gás. A razão O/C é maior do que nos outros tipos de quero-
gênio. A matéria orgânica é principalmente derivada de plantas terrestres superiores, compostas
basicamente por celulose e lignina, que são extremamente deficientes em hidrogênio.
6 - EVOLUÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA - DIAGÊNESE, CATAGÊNESE E METAGÊNESE
Os estágios de evolução da M.O. natural são: diagênese, catagênese e metagênese (fig. 4).
A diagênese tem início nos sedimentos recém-depositados que são compostos de
biopolímeros (carbohidratos, proteínas, lipídios e celulose) onde a atividade microbiana é um dos
principais agentes de transformação. Com o soterramento progressivo, ligações heteroatômicas
e grupos funcionais são eliminados; dióxido de carbono, água e alguns componentes pesados,
como N, S e O, são liberados.
Os biomonômeros (açúcares, aminoácidos, fenois e gorduras) condensam, reduzem-se,
ciclizam-se e polimerizam-se transformando-se em geopolímeros. Os geopolímeros são os
complexos nitrogenados e húmicos. Ao final da diagênese, a matéria orgânica consiste, princi-
palmente, em querogênio (geopolímeros). Em termos de exploração de petróleo, as rochas-
matrizes são consideradas imaturas nesse estágio.
24
A catagênese resulta do aumento da temperatura durante o soterramento nas bacias sedi-
mentares, proporcionando maturidade às rochas-matrizes. O craqueamento catalítico do
querogênio e descarbolização (perda de -COOH) desses compostos produzem os
hidrocarbonetos.
Durante a catagênese, parte do querogênio se transforma em hidrocarbonetos líquidos e
gasosos. Assim, formam-se primeiro óleos pesados em abundância, depois óleos leves em função
do craqueio do óleo pesado, e, em seguida, os gases devido ao craqueamento do óleo. A
catagênese corresponde ao principal estágio de formação do óleo e também ao principal estágio de
formação do gás úmido. O gás forma-se durante todo o processo de catagênese.
A metagênese somente é alcançada a grandes profundidades, onde se faz o rearranjo das
moléculas aromáticas. As camadas aromáticas, previamente distribuídas de maneira aleatória no
querogênio, agora se reúnem para formar agrupamentos relativamente grandes que são os
compostos pirobetuminosos (hidrocarbonetos residuais de alto peso molecular). Neste estágio, as
rochas-matrizes são consideradas supermaturas ou senis, e gera-se apenas gás seco, restando
resíduo de carbono (pirobetume transforma-se em coque) que pode se transformar posteriormente
em grafita. Este último estágio de evolução da matéria orgânica começa mais cedo (reflectância da
vitrinita de aproximadamente 2 do que o metamorfismo da fase mineral (reflectância da vitrinita de
cerca de 4, correspondente ao começo da facies de xisto verde).
TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS DA MATÉRIA ORGÂNICA DURANTE SUA
EVOLUÇÃO
CARBOHIDRATOS, PROTEÍNAS, ###
BIOPOLÍMEROS LIPÍDIOS E CELULOSE
###
ALTERAÇÃO MICROBIOLÓGICA D
E HIDRÓLISE I
### A
BIOMONÔMEROS AÇÚCARES, AMINOÁCIDOS, G
FENÓIS E GORDURAS Ê
### N
CONDENSAÇÃO, REDUÇÃO, E
CICLIZAÇÃO E POLIMERIZAÇÃO S
### E
GEOPOLÍMEROS COMPLEXOS NITROGENADOS
(QUEROGÊNIO) E COMPLEXOS HÚMICOS
### ###
"CRACKING" TERMOCATALÍTICO ###
E DESCARBOXILAÇÃO
### CATAGÊNESE
GEOMONÔMEROS HIDROCARBONETOS, COMPOSTOS
ORGÂNICOS DE BAIXO PESO MOLECULAR ###
### ###
"CRACKING" TÉRMICO METAGÊNESE
###
PRODUTOS FINAIS GÁS E PIROBETUMINOSOS ###
Fig. 4 - Transformação química da matéria orgânica na natureza
25
L
Fig. 5 - Evolução dos biolipídios para geolipídios dentro do ciclo diagenético (TISSOT & WELTE).
Fósseis geoquímicos são moléculas sintetizadas pelas plantas ou animais e incorporadas nos
sedimentos, com pequenas mudanças. Em particular, o esqueleto carbônico dos hidrocarbonetos e
dos lipídios é preservado. Estas moléculas representam apenas uma pequena fração dos petróleos,
porém são de grande interesse para os geólogos e geoquímicos, porque fornecem informações
sobre a matéria orgânica original.
Além disso, são usadas para correlações (óleo-óleo e óleo-rocha geradora), para a reconsti-
tuição dos ambientes deposicionais indicadores da diagênese e catagênese, e também na caracte-
rização de alteração do óleo por biodegradação.
Alcanos, ácidos graxos (lipídios), terpenos, esteróides e porfirinas são os principais grupos de
biomarcadores. Podem ser rastreados desde os sedimentos recentes até os antigos, onde progres-
sivamente sofrem degradação termal e/ou diluição por outros hidrocarbonetos gerados a pro-
fundidades maiores.
27
O início da geração significativa de óleo varia com o gradiente geotérmico, a profundidade e
a duração do soterramento (idade da formação).
28
O tempo de geração pode também variar. A principal fase de formação de óleo pode seguir-se
a deposição da rocha-fonte, com uma defasagem que varia de poucos milhões até 300 milhões de
anos. Quanto mais antiga a rocha geradora, menor será a temperatura para que se inicie a geração.
Rochas mais novas exigem temperaturas mais altas para iniciar o processo de geração de óleo.
Rochas potencialmente geradoras são aquelas cujo conteúdo de matéria orgânica constitui-se
de um tipo de querogênio bastante rico em hidrogênio (H-querogênio) que se transforma em
petróleo durante a maturação térmica.
A medida do conteúdo orgânico de uma rocha pode indicar, em termos gerais, seu potencial
gerador. Rochas geradoras em todo o mundo sempre contém H-querogênio e C-orgânico entre 1%
e 20% de seu peso.
Um alto teor de C-orgânico não significa necessariamente que a rocha é geradora. Matéria or-
gânica terrestre transportada, sedimentos retrabalhados ou matéria orgânica aquática oxidada po-
dem produzir níveis altos de C-orgânico, de até 4%. Sendo pobre em hidrogênio, este tipo de
matéria orgânica não constitui rocha geradora de óleo, mas apenas (e eventualmente) de gás. Esse
tipo de rocha tem sido encontrado na seção do Cretáceo Médio do Atlântico NW, na plataforma
continental Ártica etc
As rochas geradoras marinhas geralmente contém concentrações de urânio, cobre e níquel su-
periores a média. Existe até uma correlação muito positiva entre folhelhos oleígenos e o conteúdo
de urânio. Isto é verificado em perfis radioativos. Sempre que houver aumento da radioatividade
em uma seção de folhelhos deve-se verificar o teor de carbono orgânico, pois o folhelho em
questão poderá ser uma rocha mãe de óleo.
Do Pré-Cambriano até o Devoniano, o único produtor de matéria orgânica primária foi o fito-
plâncton marinho. A partir do Devoniano, o crescente aumento de produção primária de matéria
orgânica passou a ser obra das plantas terrestres superiores. No presente, estima-se que o fi-
toplâncton marinho e as plantas terrestres superiores produzam quantidades aproximadamente
iguais de carbono orgânico, mas a preservação do fitoplâncton no meio marinho ou lacustre é
maior. Quantitativamente, os quatro mais importantes contribuintes da matéria orgânica dos sedi-
mentos são o fitoplâncton, o zooplâncton, as plantas superiores e as bactérias. Animais superiores,
como os peixes, contribuem com tão pouca matéria orgânica para os sedimentos, que podem ser
desprezados.
29
De acordo com as leis da cadeia de alimentos, o zooplâncton tende a ser maior em áreas de
alta produtividade de fitoplâncton. As bactérias heterotróficas são abundantes onde a matéria orgâ-
nica é dispensável como fonte de alimentos.
A principal fonte de matéria orgânica aquática é o fitoplâncton constituído por algas unicelu-
lares, habitantes da zona eufótica.
O fator condicionante de maior peso na produtividade do fitoplâcton, juntamente com a luz
solar, é a disponibilidade de nutrientes (nitratos e fosfatos), que se tornam escassos na zona eufó-
tica. A concentração de nutrientes, sob a forma de sais dissolvidos, é em geral muito baixa nas
águas superficiais, pois a atividade biológica que ai se desenvolve é intensa.
A maior parte da produção biológica está concentrada nos 60 a 80 metros superiores da
coluna d'água. A produtividade biológica de carbono orgânico (C.O.) em águas costeiras (100 mg
C.O./m3/dia) é, em média, cerca de duas vezes maior do que em oceanos abertos. As áreas mais
produtivas são aquelas onde ocorre ressurgência (300 mg C. O./m3/dia ), como, por exemplo,
30
certas partes da plataforma continental africana ou da costa do Peru. Estudos realizados na parte
sudeste da plataforma continental brasileira (Bacia de Campos), onde se constataram zonas de
ressurgência, revelaram padrões de bioprodutividade bastante inferiores àqueles encontrados na
plataforma continental africana e na costa do Peru. A produtividade biológica primária próxima à
linha de costa na Bacia de Campos encontra-se em torno de 60 mg. C.O./m3/dia, diminuindo
progressivamente, a medida que se afasta da costa, até atingir valores médios da ordem de 5
mg.C.O./m3/dia.
Outra fonte de matéria orgânica no meio aquático corresponde ao material transportado pelos
rios. A produtividade vegetal terrestre depende muito das chuvas. Esse tipo de matéria orgânica é,
em geral, submetido à degradação no solo e empobrecido em H, antes mesmo de ser transportado.
Há uma tradicional correlação positiva entre as áreas oceânicas de grande bioprodutividade,
áreas de ressurgência e os sedimentos de fundo, igualmente ricos em matéria orgânica. Isto, entre-
tanto, não pode ser considerado uma regra.
A matéria orgânica morta é termodinamicamente instável e, no meio em que se encontra,
tende a acumular-se nas áreas de níveis mais baixos de energia, servindo como fonte de energia e
nutriente para os organismos vivos. Os microrganismos heterotróficos (principalmente bactérias)
desempenham um papel importante na decomposição da matéria orgânica, na própria água, na
água intersticial dos sedimentos, assim como no trato digestivo de organismos escavadores. A de-
gradação bacteriana é rápida e eficiente nas águas ricas em oxigênio. Esse processo é representado
pela reação a seguir:
O último passo no processo anaeróbio é a fermentação, que produz metano e algum hidro-
carboneto mais pesado.
Num meio aquático rico em oxigênio, a fauna bentônica e os vermes escavam e retrabalham a
matéria orgânica. Exceto em águas rasas, cujo fundo está dentro da zona eufótica, no meio ben-
tônico há insignificante produção primária de matéria orgânica. A lama de fundo de um meio aquá-
tico rico em oxigênio é geralmente óxica, sendo intensamente remexida (bioturbada) por inverte-
brados que respiram oxigênio, tais como vermes, holoturios, bivalvos e outros. A zona de atividade
desses organismos escavadores vai de 5 cm a 30 cm de profundidade.
A bioturbação é generalizada em zonas oxidantes (ricas em oxigênio), em todas as lâminas
d'água, inclusive nas planícies abissais. A intensidade de bioturbação não se correlaciona com a
profundidade da água, nem com o tipo de sedimento, nem com a taxa de sedimentação.
Parece que depende da quantidade da biomassa bentônica, que, por sua vez, se relaciona com
a bioprodutividade das águas superficiais e com a consequente disponibilidade de matéria orgânica
e oxigênio no fundo dos oceanos.
31
Num meio aquático anóxico, mesmo com a presença de H2S, a vida bentônica é prejudicada.
Abaixo de 0,1 ml/l de concentração de O2 na água, cessa a bioturbação, e as bactérias anaeróbias
são os únicos elementos de retrabalhamento efetivo da matéria orgânica.
A falta de bioturbação age como fator restritivo à difusão dos oxidantes (nitratos e sulfatos),
o que prejudica a ação das bactérias anaeróbias. Nessas condições, ficam preservados sedimentos
ricos em matéria orgânica, bem laminados.
Zooplâncton morto, algas não consumidas, pellets fecais, carcaças de peixes, originários to-
dos da zona eufótica, afundam continuamente, a razão de 0,10 metros a 5 metros por dia, de acordo
com sua forma, tamanho e peso. A deposição de sedimentos ricos em matéria orgânica, isto é, da-
queles que contém mais de 0,5% em peso de carbono orgânico, é processada conforme certas
condições. Tais sedimentos são depositados em ambientes aquáticos, recebendo uma grande
quantidade de matéria orgânica. Em sedimentos subaéreos, a matéria orgânica é facilmente des-
truída pela oxidação química ou microbiana.
O suprimento de matéria orgânica é elevado ao longo das margens continentais, por causa da
alta produtividade primária das águas costeiras e/ou do intenso fluxo de material alóctone derivado
de plantas terrestres. São necessárias condições ótimas de balanço entre o nível de energia em um
corpo aquoso e a velocidade de sedimentação para preservar e concentrar matéria orgânica nos
sedimentos. A fração mineral de tamanho da argila cobre-se facilmente de matéria orgânica. Essas
partículas suspensas de matéria orgânica de granulometria fina e de baixa densidade são carreadas
dos corpos d'água de alto nível de energia para águas mais calmas. Nestas, a deposição dos
sedimentos de granulação fina dificulta o acesso de oxigênio molecular dissolvido na água, o que
aumenta as possibilidades de preservação da matéria orgânica. Se, contudo, a velocidade de
sedimentação for muito alta, a concentração será diluída, depositando-se um sedimento com baixo
teor de matéria orgânica.
Condições favoráveis à deposição de sedimentos ricos em matéria orgânica são encontradas
na plataforma continental, em águas calmas e protegidas, tais como lagunas, estuários e bacias
profundas com circulação restrita. Outros ambientes favoráveis à acumulação são o talude con-
tinental e os ambientes lacustres.
A taxa de acumulação de C-orgânico nos sedimentos marinhos parece estar intimamente rela-
cionada com a taxa de sedimentação. Tal suposição tem sido ratificada em áreas óxicas; sob condi-
ções anóxicas esta correlação é menos evidente.
A distribuição geral de C-orgânico em sedimentos depositados em águas anóxicas é signifi-
cativamente mais ampla e maior, qualquer que seja a taxa de sedimentação. Quanto aos sedimentos
recentes, não existem dados suficientes sobre eventuais efeitos de dissolução criados por taxas de
sedimentação extremamente elevadas (acima de 150 m/1000 anos).
Há evidencia de que a correlação positiva entre C-orgânico e taxa de sedimentação, que se
verifica quando esta última é baixa ou média, não é verdadeira para as altas taxas de deposição. Se
o fosse, os prodeltas seriam os sedimentos mais ricos em matéria orgânica no meio marinho. Con-
tudo, em depósitos prodeltáicos modernos, no Golfo do México, o conteúdo de C-orgânico está
32
abaixo de 1%; e nos da foz do Amazonas ocorrem fenômenos de dissolução. A bioprodutividade
primária, tanto no Mississipi quanto no Amazonas, é excepcionalmente alta, mas, como seria de
esperar num meio tão rico em oxidantes, isto não se reflete no conteúdo de carbono orgânico dos
sedimentos.
A saturação máxima de oxigênio na água do mar é da ordem de 6-8,5 ml/l e depende da tem-
peratura e da salinidade. O termo anóxico aplica-se quando a concentração de oxigênio é menor
que 0,5 ml/l. Abaixo deste valor, a atividade metazoária bentônica e a bioturbação tornam-se in-
significantes.
Existem dois fatores limitantes no processo causador das condições anóxicas: demanda ex-
cessiva e suprimento deficiente de oxigênio
33
termoclino, picnoclino e holoclino referem-se a limites ou mudanças rápidas nos oceanos de
temperatura, densidade e salinidade, respectivamente.
Outros fatores participam na circulação das águas oceânicas, tornando-a complexa e ainda
não inteiramente entendida.
A causa mais importante da insuficiência de oxigênio é a incapacidade de suprimento para
atender a demanda bioquímica. A falta de movimentos verticais descendentes para oxigenar as
partes mais profundas constitui, talvez, o fator mais significativo na localização de camadas
anóxicas. O processo bioquímico é, então, o responsável pelas situações anóxicas, mas o
posicionamento das mesmas depende da circulação.
34
Fig. 7 - Exemplo de ambiente anóxico em grandes lagos ( DEMAISON & MOORE).
De modo geral, são necessárias as seguintes condições para a implantação de um lago anó-
xico:
- clima: tropical, com pequenas variações sazonais: pluviosidade moderada a alta em todo o
ano;
Quando as condições acima não ocorrem, temos a implantação de lagos óxicos, como o Al-
berto e o Vitória (lagos também do leste africano).
O lago Alberto é raso (profundidade média de - 50 m), e as correntes de densidade são res-
ponsáveis pela oxigenação até o fundo. O lago Vitoria é extenso, mas também raso (profundidade
média de = 100 m) e afetado por variações sazonais.
Outros grandes lagos óxicos são os das regiões temperadas: Baical na Siberia (o mais profun-
do do mundo, atingindo até 1620 m), grandes lagos americanos e o grande Lago Slave (Escravo)
(oeste do Canadá), etc.
As próprias barreiras restritivas das bacias fechadas impedem uma ampla circulação vertical,
favorecendo assim a estratificação das águas. Outros fatores, como o clima úmido, são indispensá-
veis à ocorrência do fenômeno.
Estas bacias mostram forte contraste de salinidade entre as águas superficiais com salinidade
baixa, provocada por intensa afluência de rios, e as águas mais profundas, com maior salinidade e
ricas em nutrientes de origem oceânica. Esse fato é característico de bacias restritas com balanço
35
positivo de águas, isto é, de bacias que fornecem mais águas ao oceano do que dele recebem.
Nessa situação, desenvolvem-se, permanente ou intermitentemente, condições anóxicas. Estas
bacias agem como trapas de nutrientes, elevando a bioprodutividade e a preservação da matéria
orgânica.
Exemplos típicos são o Mar Negro, o Báltico e o Lago Maracaibo, todos em regiões húmidas.
O Mar Negro tem balanço positivo de salinidade, isto é, tem abundante influxo de águas flu-
viais, resultando em águas superficiais com baixa salinidade que contrastam com as águas de
fundo hipersalinas (fig. 8). Um haloclino permanente marca o limite entre as zonas óxica e anó-
xica. Este haloclino é ligeiramente convexo e sua profundade varia de 250 m nas margens a 150 m
no centro da bacia. Abaixo desse nível, o meio é letal a todos os peixes e invertebrados.
Há 22.000 anos o Mar Negro era um lago óxico e pouco profundo. Há cerca de 11000 anos
começou a ser invadido pelo mar, com o início do atual período interglacial. As condições
anóxicas datam de cerca de 1000 anos.
Os sedimentos mostram uma variação de 0,7% a 20% no conteúdo de C-orgânico, desde a
fase óxica até a anóxica. As taxas de sedimentação são relativamente menores nos sedimentos mais
ricos em matéria orgânica (cerca de 10 cm/1000 anos, comparados com 30 cm/1000 anos, nos se-
dimentos menos ricos). Esta relação é inversa à encontrada nos sedimentos de mar profundo, sob
condições oxigenadoras.
Não há, no Mar Negro, correlação entre a bioprodutividade e o conteúdo de matéria orgânica
dos sedimentos. Áreas de elevado teor de matéria orgânica correspondem à faixas de baixa produ-
tividade, e vice-versa. Em geral, a distribuição da matéria orgânica é de um terço de plantas
terrestres e dois terços de plâncton marinho. Cerca de 80% da matéria orgânica são reciclados nos
200 m superficiais. Os 20% restantes afundam e, deste percentual, 50% são degradados por
bactérias sulfato-redutoras. Do material não degradado (10% do total), 50% são incorporados ao
sedimento e outro tanto permanece solubilizado na água anóxica. Desta forma, mesmo em
condições as mais favoráveis, somente 5% de toda a matéria orgânica são preservados; os 95%
restantes escapam à fossilização.
Em bacias com balanço de salinidade negativa (bacias que recebem mais águas do oceano do
que a ele fornecem), resultante de um clima árido ou semi-árido, há um constante influxo de águas
oceânicas superficiais para compensar os altos níveis de evaporação. As águas hipersalinas da
bacia, ao serem substituídas pelas águas oceânicas, afundam e formam uma contracorrente de
fundo, densa, no sentido do oceano. Porisso, o fundo é oxigenado e, consequentemente,
empobrecido de matéria orgânica. Exemplos destas bacias são o Mar Vermelho, o Mediterrâneo e
o Golfo Pérsico (fig. 9).
36
Fig. 9 - Bacia restrita com balanço negativo de águas ( DEMAISON & MOORE).
No Mar Vermelho, águas superficiais ricas em oxigênio fluem do Golfo de Aden e avançam
para o norte até o Golfo de Suez, tornando-se mais salgadas e mais densas. Afundam, então, e re-
tornam, pelo fundo, para o Golfo de Aden, pela soleira de Bab-el-Mandeb. A área anóxica está
localizada no sul do Mar Vermelho, no sopé da soleira de Bab-el-Mandeb, imediatamente antes de
as águas densas, profundas, transbordarem, pela soleira, para o Golfo de Aden. Os níveis máximos
de oxigenação encontram-se nos limites norte, na área de Suez/Akaba. O teor de matéria orgânica
é baixo em todo o Mar Vermelho e os sedimentos são predominantemente carbonáticos.
Os oceanos contém muitas depressões, todas bem oxigenadas. Exceções são raras, como a
Fossa de Caríaco, um graben encaixado na margem continental norte da Venezuela, que é anóxica
a partir dos 300 m de profundidade.
Na plataforma continental, os sedimentos tem aproximadamente 0,8% de C-orgânico. No
fundo da fossa, os teores atingem 6%. Os foraminíferos bentônicos estão ausentes nos sedimentos
laminados, anóxicos. A estagnação da Fossa de Caríaco coincide com o início do atual período
interglacial: 11.000 anos atrás.
- altas taxas de sedimentação: 50-75 cm/1000 anos; nestes níveis, em meio óxico, os teores de
C-orgânico seriam bem inferiores;
37
Outro exemplo é a Bacia de Orca, no talude inferior do Golfo do México (NW). Sua área é de
400 km2. A soleira está a 1900 m de profundidade, a bacia possui duas áreas com 2400 m de pro-
fundidade. É de batimetria complexa, e sua origem tida como halocinética.
A água na Bacia de Orca, abaixo dos 2200 m, constitui uma salmoura, isto é, há um haloclino
àquela profundidade. Adicionalmente, ocorre uma inversão no gradiente de temperatura e um
abrupto declínio no teor de oxigênio, que passa de 5 ml./l. para 0,1 ml./l., acima e abaixo do
haloclino, respectivamente.
Acredita-se que a salmoura da Bacia de Orca seja provocada pela dissolução de domos de sal
próximos ao fundo do mar. O conteúdo de C-orgânico, nas águas anóxicas varia de 0,8% a 2,9%.
- na parte sul de costas N-S, entre 10o é 40o de latitude, nas margens leste dos oceanos, como
é o caso da corrente da California;
- na faixa equatorial dos continentes, até 15o de latitude, associada com os alíseos, como na
corrente do Caribe
- na área das monções, na faixa equatorial dos continentes, em suas faces W, a 15o de lati-
tude, igualmente associada aos alíseos, como exemplificado pela corrente da Somália.
As águas ressurgentes são ricas em nutrientes (nitratos e fosfatos) e, assim, promovem ele-
vada bioprodutividade na zona eufótica
A reciclagem da matéria orgânica na coluna de água cria uma exagerada demanda bioquímica
de oxigênio, que pode provocar condições anóxicas em águas mais profundas sob a ressurgência.
A zona anóxica da corrente de Benguela é formada por uma faixa alongada de 50 km x 340
km, paralela e próxima à costa na plataforma continental. Além da margem da plataforma, em
direção ao oceano, as condições normais de oxigenação são recuperadas. A ressurgência é causada
pela corrente costeira fria de Benguela e pelos persistentes ventos NW. As águas superficiais são
empurradas pelo vento, permitindo que as águas profundas (200 m) ascendam (fig. 10).
38
O teor de C-orgânico varia de 5% a 24% na faixa anóxica. A maior parte da matéria orgânica
é de planctônicos: a contribuição de terrígenos é pequena, pois a área costeira (onshore) é
desértica. As taxas de sedimentação na faixa anóxica são de 29-103 cm/1000 anos. Não há
correlação sistemática entre o teor de C-orgânico e a taxa de sedimentação.
Ocorrem muitos minerais associados aos sedimentos ricos em C-orgânico, com as seguintes
correlações:
Fig. 10 - Exemplo de camadas anóxicas causadas por ressurgência ( DEMAISON & MOORE).
Outra ressurgência anóxica importante é a da corrente do Peru, que não será aqui discutida.
Certas áreas do Oceano Atlântico, como a costa sudeste do Brasil (Bacia de Campos), consti-
tuem exemplo atual de áreas com ressurgência fraca sem camadas anóxicas.
Na Bacia de Campos, próximo à linha de costa, entre o Cabo de São Tomé e Cabo Frio, ocor-
rem áreas com bioprodutividade primária anómala (2,5 mg. C/m3.h) em relação ao padrão estabe-
lecido para o resto da plataforma continental brasileira (~0,3 mg. C/m3.h). Estudos recentes revela-
39
ram que essa anomalia resulta de uma fertilização excessiva das águas oceânicas, sendo provocada
por fenômeno de ressurgência e também, em grande parte, pela injeção de nutrientes oriundos da
Baia de Guanabara e dos rios próximos. Entretanto, devido à elevada oxigenação das águas da
área, quase toda a matéria orgânica é degradada, tornando baixo o teor de carbono orgânico preser-
vado nos sedimentos.
16.5 - OCEANOS ABERTOS ANÓXICOS (E)
Constata-se que as camadas intermédiarias da coluna de água dos oceanos são pobres em oxi-
gênio (zona de oxigênio mínimo). Sugere-se que a posição e a distribuição destas faixas anóxicas
sejam resultantes da excessiva demanda bioquímica de oxigênio, criada por uma bioprodutividade
elevada. Em grandes transgressões marinhas, ocorre a migração e a expansão da zona de oxigênio
40
mínimo das áreas pelágicas para as plataformas continentais e mares epicontinentais,
tornando extensas áreas anóxicas, com imensa preservação de matéria orgânica, como aconteceu
no fim do Devoniano. A figura abaixo mostra as diversas situações onde os efeitos das grandes
transgressões resultam em anoxia de vastas áreas.
As áreas anóxicas também são encontradas em cul-de-sacs (embaciamentos de grandes
dimensões), situados em posições opostas às importantes fontes de águas frias, oxigenadas (ex.:
Golfo de Benguela e Mar de Omã). Somente em duas áreas importantes, substancial quantidade de
41
águas superficiais frias e oxigenadas desce para as regiões abissais: no Atlântico norte e na
Antártida. A concentração de oxigênio em grandes profundidades diminui a medida que aumenta a
distância destas fontes. O fluxo profundo destas águas frias, ricas em oxigênio, a partir dos polos,
contrabalança a evaporação das águas superficiais nas regiões subtropicais dos oceanos.
Estas correntes de fundo prevalecem nas altas latitudes e no flanco oeste das bacias oceâni-
cas, onde ocorrem, preferencialmente, as argilas pelágicas vermelhas. Essa distribuição desigual
das correntes frias indica uma tendência à estagnação das águas nos flancos leste das bacias
oceânicas (ou costa oeste dos continentes), refletindo igualmente o efeito da força de Coriolis.
Estando a causa desta força ligada à rotação terrestre, talvez tenha ocorrido, através do tempo
geológico, uma permanente preferência de localização, das rochas geradoras de petróleo, pelas
plataformas e taludes das margens, ocidentais dos continentes.
O Oceano Índico é o exemplo típico de oceano aberto com certas áreas anóxicas. O talude su-
perior, do Golfo do Aden às Ilhas Andama, é rico em matéria orgânica. A faixa mais importante lo-
caliza-se entre 250 m e 1200 m de profundidade, correspondente à faixa anóxica (zona de oxigênio
mínimo).
O Oceano Atlântico tende a ser bem oxigenado. Ocorrem somente duas áreas pobres em oxi-
gênio, ambas em sua margem leste, no Senegal e no Golfo de Benguela.
Ocorrem algumas áreas (Costa do Marfim e Gana) com situações intermediárias (cerca de
1,5 ml./l.), devido ao elevado afluxo de matéria orgânica terrestre trazido pelos grandes rios. Essas
regiões não atingem, entretanto, níveis de áreas anóxicas.
No delta do Niger, igualmente com uma intensa descarga de matéria orgânica, a concentração
de C-orgânico no prodelta é comparativamente baixa (0,5% a l,0%). As altas taxas de
sedimentação sugerem que deve ocorrer diluição de matéria orgânica. Fenômeno semelhante
ocorre na desembocadura do rio Amazonas.
O Oceano Atlântico, na plataforma continental brasileira atual, apresenta, de modo geral,
baixos valores de produtividade biológica primária (~0,3 mg. C/m3.h). As águas altamente
oxigenadas nessa área (5 a 6 ml/l de O2) promovem a degradação do pouco que é produzido de
matéria orgânica. Como resultado, é baixa a quantidade de matéria orgânica incorporada aos
sedimentos.
a) As rochas potencialmente geradoras são ricas em matéria orgânica e contém certo tipo de
querogênio bastante rico em hidrogênio para se converter sobretudo em óleo, durante a maturação
térmica.
b) O teor de C-orgânico, somente, não basta para definir uma rocha geradora. A qualidade é
igualmente importante.
c) A matéria orgânica dos sedimentos em meio anóxico é mais rica em hidrogênio e lipídios,
e é mais abundante que a encontrada no meio óxico.
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d) Os resíduos orgânicos da degradação bacteriana anaeróbia são mais ricos em hidrogênio e
lipídios do que os provenientes do ataque de bactérias aeróbias.
h) O conteúdo de C-orgânico em meio óxico varia entre menos que 0,5% e 3 a 4%, indepen-
dentemente da bioprodutividade na superfície. A matéria orgânica em meio óxico é sempre pobre
em hidrogênio e, porisso, tende a gerar somente gás.
m) A água anóxica é aquela que apresenta menos de 0,5 ml/l de oxigênio/litro d'água. Se a
demanda natural de oxigênio é maior que o suprimento, o meio é anóxico. A demanda de oxigênio
depende da bioprodutividade superficial, enquanto o suprimento de oxigênio depende da
circulação da água.
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o) Atualmente, a maioria das bacias restritas, interiores ou não, apresenta condições óxicas.
Somente se tornam anóxicas aquelas bacias que tem um balanço de salinidade positivo. A oxigena-
ção em bacias restritas nas plataformas continentais segue o mesmo padrão do oceano aberto pró-
ximo dos continentes. Desta forma, essas bacias não apresentam, necessariamente, condições anó-
xicas.
q) A distribuição preferencial das camadas de teor mínimo de oxigênio nos oceanos abertos,
nas baixas latitudes e nos flancos das bacias oceânicas, tem duas causas primárias:
- a circulação das águas induzida e controlada pela diferença de temperatura entre os polos e
o equador;
- a força de Coriolis.
r) Grandes volumes de água anóxica associados às camadas de teor mínimo de oxigênio estão
presentes nos oceanos abertos, sem soleiras de fundo ou barreiras físicas, como ocorre no Oceano
Índico. Tem-se notado um enriquecimento orgânico significativo onde a zona oceânica de oxigênio
mínimo intercepta o talude da plataforma continental.
44
A qualidade e a maturação da matéria orgânica podem ser avaliadas por diferentes técnicas
químicas e óticas. É recomendável avaliar a qualidade e a maturação simultaneamente, dada a forte
inter-relação destes dois parâmetros.
A pirólise é, hoje, a melhor técnica usada na determinação simultânea do tipo e da maturação
da matéria orgânica, que é dividida, segundo a pirólise (sistema Rock-Eval), em querogênio dos
tipos I, II e III.
0 querogênio do tipo I é rico em matéria sapropélica, sendo favorável à geração de óleo. O
querogênio do tipo II é constituído de matéria orgânica algal, além de polens, esporos e cutículas
de vegetais superiores, sendo adequado à geração de óleo e gás. O querogênio do tipo III é rico em
matéria orgânica húmica, de vegetais superiores, podendo gerar exclusivamente gás. Existe o tipo
IIIb ou IV constituído por matéria orgânica retrabalhada oxidada, carbonosa que praticamente
produz muito pouco ou nenhum gás. As técnicas óticas de luz transmitida são também de grande
valor na caracterização dos tipos de matéria orgânica.
Dentre as técnicas mais importantes para a determinação do estágio de maturação da matéria
orgânica, cabe destacar o índice de alteração térmica (IAT) ou índice de coloração de esporos
(ICE), temperatura máxima (T.max.) da pirólise e paleotermometria através da reflectância da
vitrinita, que possuem escalas próprias de maturação. Cada escala representa, de maneira geral, a
relação entre a história de subsidência e a térmica.
A escala de maturação mais amplamente aplicada baseia-se em dados de reflectância da vi-
trinita, que consiste na medição da reflectância sobre uma superfície plana e polida de uma orga-
nolita denominada vitrinita.
A alteração química causada pelo efeito da temperatura sobre a vitrinita é irreversível, o que
confere a esta um papel análogo ao do termômetro de máxima, pois sua reflectância decorre da
maior temperatura experimentada durante sua existência.
Ressalta-se, entretanto, que, devido à ocorrência de diferentes tipos de matéria orgânica com
diferentes cinéticas de transformação, não há um limite geral para os estágios de geração de óleo e
gás. Nos capítulos seguintes, todas estas metodologias serão abordadas.
20 - EFICIÊNCIA DA GERAÇÃO
No desenvolvimento dos diversos trabalhos sobre as bacias sedimentares brasileiras, tem sur-
gido algumas indagações sobre as correlações entre a exuberância de pacotes geradores e os volu-
mes de óleo (in place) já descobertos. Em alguns casos, há indicações de que geradores classifica-
dos geoquímicamente como medianos parecem ter gerado volumes de óleo mais significativos do
que pacotes considerados excelentes.
Na questão acima, definem-se três alternativas principais:
a) o processo exploratório não definiu o potencial gerador da bacia. Nesta hipótese com o
avanço do programa exploratório, deverão ser descobertas rochas geradoras compatíveis com o vo-
lume de óleo descoberto;
b) o conceito de classificação das geradoras estaria incompleto, sendo que outros parâmetros,
como eficiência de geração, catalisadores inorgânicos e geocatalisadores, atuariam de maneira
decisiva na taxa de conversibilidade da matéria orgânica nas rochas sedimentares. Sobre esse
tópico, inúmeros trabalhos científicos estão sendo realizados, esperando-se para breve a definição
45
do papel da fase inorgânica na história evolutiva da matéria orgânica dentro de uma rocha
sedimentar;
O carvão consiste basicamente em detritos das plantas terrestres superiores, sendo formado,
principalmente, sob condições não marinhas. Em contraste, a maioria das fontes conhecidas para a
geração de hidrocarbonetos líquidos foi depositada sob condições aquáticas, e sua matéria orgânica
é predominantemente formada por plantas aquáticas inferiores e bactérias. No processo de forma-
ção do carvão, quase imediatamente após a acumulação dos fragmentos de plantas, iniciam-se os
processos bioquímicos e, mais tarde, depois do soterramento, os processos geoquímicos. Com a
continuação do soterramento, esses processos produzem, crescentemente, a carbonização, isto é, o
enriquecimento da matéria orgânica em carbono, formando a sequência de maturação: turfa, carvão
castanho, carvão betuminoso (duro) e, finalmente, antracito., Esses estágios do processo de
carbonização são denominados "níveis de categoria". A categoria do carvão (rank) pode ser
determinada por parâmetros físicos (como reflectância, conteúdo de humidade, conteúdo de ma-
teriais voláteis) ou por parâmetros essencialmente químicos, tais como o conteúdo de carbono ou
hidrogênio e o poder calorífico. As mudanças químicas do carvão durante sua evolução através dos
diferentes estágios de categoria podem ser comparadas com a evolução dos vários tipos de
querogênio. As maiores similaridades químicas e evolutivas são observadas entre o carvão e o
querogênio do tipo III.
Durante a carbonização, são gerados hidrocarbonetos de baixo peso molecular, especialmente
metano e outros componentes não hidrocarbonetos, tais como dióxido de carbono e água. Alguns
carvões lacustres contém além da matéria carbonosa matéria orgânica celular e podem gerar
alguma quantidade de óleo.
A principal fase de geração do metano no carvão começa na faixa do carvão betuminoso
meio volátil. A formação de componentes voláteis durante a carbonização excede grandemente a
capacidade de absorção (ou armazenagem) desses produtos no carvão. Adicionalmente formam-se
hidrocarbonetos não voláteis mais pesados.
Em contraste com as grandes quantidades de metano gerado, o potencial do carvão para pro-
duzir hidrocarbonetos mais pesados é muito limitado. O potencial gerador do carvão nesse particu-
lar é similar ao do querogênio do tipo III, que fornece quase exclusivamente gás.
TIPOS DE CARVÃO
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HÚMICO
CARVÃO CANNEL
SAPROPÉLICO
BOGHEAD
Carvão cannel (um carvão compacto, oleoso, que queima pronta e brilhantemente) é
composto principalmente por esporos e polens e lama orgânica depositada sob a água, tal
como em um lago raso.
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Carvão boghead (carvão betuminoso compacto que queima brilhantemente e produz
grandes quantidades de betume e óleo através da pirólise) é carvão algálico e o critério
para caracterizar um carvão como boghead é que toda a massa do carvão originou-se de
matéria algálica sem consideração do estado de preservação das colônias de algas, sejam
elas bem preservadas ou mal preservadas. Os carvões boghead podem gradar
lateralmente ou verticalmente a carvões cannel.
23 - FOLHELHOS OLEÍFEROS
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8)- Relações temporais (timing) adequadas para que a migração secundária
das matrizes para a trapa ocorra no tempo certo, quando as trapas já estiverem
formadas.
9)- História geológica da região que não inclua episódios de destruição das
trapas por erosão, fraturamento ou por metamorfismo térmico, quando os
hidrocarbonetos poderão ser destruídos (queimados).
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50
24.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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