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1 J.E. Carreira Alvim, Teoria Geral do Processo, 13ª Edição, Revista, ampliada e
atualizada, Editora Forense, Rio de Janeiro, 2010, p. 45.
2 Ibidem, p. 45.
3 Ibidem, pp. 46 e 47.
4 Cândida da Silva Antunes Pires, Lições de Processo Civil I, Universidade de
p.119.
"1. Os tribunais têm como objectivo garantir e reforçar a legalidade como factor de
estabilidade jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos
cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos diferentes órgãos e entidades com existência
legal.
2. Os tribunais penalizam as violações da legalidade e decidem pleitos de acordo com
o estabelecido na lei.
3. Podem ser definidos por lei mecanismos institucionais e processuais de articulação
entre tribunais e demais instâncias de composição de interesses e de resolução de conflitos."
Daqui se infere que o meio normal de composição dos litígios na nossa ordem
jurídica é concretizado através do recurso a órgãos de soberania para isso vocacionados
que são os tribunais.
Dai se assacam algumas características da função jurisdicional ou
jurisdição: (a) Assegurar o respeito pelas leis e garantir e reforçar a legalidade; (b)
assegurar os direitos e liberdades dos cidadãos e os interesses jurídicos das pessoas
colectivas e (c) penalizar as violações da legalidade de acordo com o estabelecido na
lei.
A Professora Cândida Pires atribui à função jurisdicional uma finalidade
imediata ou directa e outra mediata ou indirecta. Directamente visa a realização dos
interesses dos sujeitos jurídicos que, protegidos por determinado comando legal, estão
em determinado momento impossibilitados de os satisfazerem pela via extrajudicial.
Indirectamente pressupõe a reposição do direito objectivo na sua trajectória normal6.
Por aqui percebe-se que a jurisdição é uma actividade complementar da
legislativa, cuja existência seria dispensável se todos os preceitos legais fossem
voluntáriamente cumpridos7. Com a jurisdição o Estado garante a sua autoridade de
legislador e assegura as consequências práticas enunciadas pelas normas de direito8.
Deste modo, para os tribunais a lei não representa um limite, mas o fim das
função jurisdicional, o objecto da sua actividade institucional. Configura o escopo
visado que é o de assegurar a realização do direito subjectivo e o respeito pelos
comandos contidos nas respectivas normas9.
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Assim, para que um litígio possa ser solucionado, em regra carece de ser
dirigido a um órgão do Estado com função jurisdicional (ou revestido de jurisdição)10.
A jurisdição não se automovimenta, não actua oficiosamente. Precisa de ser provocada
- só se movimenta por iniciativa do interessado na sua intervenção. Seja, um tribunal
não pode iniciar a composição de um litígio sponte sua, precisa de ser accionado por
alguém, através de fórmulas processuais próprias.
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especialmente administrar justiça em matérias jurídico-constitucionais (art. 241/1
CRM). Este órgão, embora não tenha a denominação de tribunal, é um verdadeiro
tribunal, visto que também é um órgão de soberania que exerce função jurisdicional em
matéria especializada, a matéria jurídico-constitucional.
Quando exista um litígio, há que primeiro apurar se o mesmo é atribuível a
alguma juridição especializada. Caso não seja, a solução do litígio é da competência
dos jurisdição ordinária ou comum. Salvo se tiver natureza Civil ou Criminal que será
directamente atribuído à jurisdição comum.
Ainda ao nível das jurisdições especiais, podem ser constituidos tribunais
militares para julgar crimes de natureza estritamente militar. apenas durante a vigência
de estado de guerra (art. 224° CRM).
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Os que por lei especial devam ser submetidos com exclusividade aos tribunais
judiciais [art. 5/2-a) LA].
Os que respeitem a direitos indisponíveis [art. 5/2-b) LA].
Por aqui percebe-se que o Estado não tem o monopólio do exercício da função
jurisdicional, podendo a resolução de conflitos ser dirimida por um juízo arbitral, ou
até mesmo por via de outros meios alternativos como a concliação e a Mediação
igualmente reguladas pela Lei n° 11/99, de 8 de Julho13.
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Os processos de jurisdição voluntária, devido às suas especiais características,
são agrupados num capítulo próprio do Código do Processo Civil (Capítulo XVII), e
são sempre, quanto à forma, processos especiais - v.g. Conversão da Separação em
Divórcio ( art. 1.417° CPC), Reconciliação dos Conjuges Separados (art. 1.418° CPC),
Verificação Judicial de Gravidez (art. 1.446° CPC), etc.
Nos processos de jurisdição voluntária o tribunal não está sujeito a critérios de
legalidade estrita, devendo antes adoptar em cada caso a solução que julgue mais
conveniente e oportuna (art. 1.410° CPC). O juiz pode recorrer à equidade para tomar
a decisão.
Neste domínio opera com vigor o princípio da livre actividade inquisitória do
juiz, na medida em que este pode investigar livremente os factos, coligir as provas,
ordenar inquéritos e recolher informações que considerar convenientes (art. 1.409°/1
CPC).
Neste tipo de processos, a resolução não tem força de caso julgado, pois o
interessado poderá a todo o tempo solicitar a alteração da decisão, sem prejuízo
evidentemente dos efeitos já produzidos (art. 1.411°/1 CPC). Estas decisões não
possum o carácter de de inalterabilidade ou irrevogabilidade como nas sentenças dos
processos de jurisdição contenciosa.
Outrossim, da resolução proferida não há recurso (art. 1.411°/2 CPC).