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ABSTRACT — To thinking the horizon of art and contemporary education — This article aims to
discuss the relationship between the visual arts and basic education, taking into account the emergence
of new ways of inhabiting schools, such as those that have arisen from occupations in public schools by
students in Brazil since 2015. It is believed that both art and education, understood as expanded and
open fields of thought, can mutually learn other ways of facing the urgent needs of our time as regards
basic education in Brazil, with special attention to the visual arts in this context. For the proposed
discussion, we have taken as theoretical interlocutors philosophers such as Michel Foucault, Giorgio
Agamben and Jacques Rancière, among others, raising questions about the form of art which has been
taken to schools and what kind of artistic experience has been developed in them. We understand that
schools today require ways to act and to conduct oneself within the visual arts that meet what currently
takes place in the common experience shared by their inhabitants.
KEYWORDS
Art. Education. School. Aesthetic atitude. Policy.
O horizonte dessas perguntas é desenhado por interesses que vão para além
de uma busca por “metodologias” de uma “boa aula” de arte. Assim, neste artigo, nos
colocamos em uma perspectiva de produzir encontros para além daqueles que já são
conhecidos entre arte e educação. Acreditamos que tanto a arte quanto a educação,
compreendidas como campos expandidos e abertos de pensamento, podem aprender
mutuamente outros modos de enfrentar as urgências de nosso tempo em relação à
educação básica, com atenção especial às artes visuais. Com esse propósito,
pretendemos problematizar esta relação, tendo como foco as artes visuais e suas
possibilidades, levando-se em conta a emergência de novos modos de se habitar a
escola, como os surgidos a partir de ocupações em escolas públicas por estudantes
no Brasil desde 2015.
Além disso, pretende-se iniciar uma análise do regime estético da obra de arte
em relação à ensinada na escola, visto que mesmo que a época estética da arte esteja
no passado, de alguma forma, o regime estético se mantém atuante.
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As artes visuais na educação básica: uma urgência do nosso tempo
Como a escola pode encontrar-se com a arte e de que arte a escola, repleta de
crianças e jovens desse tempo, precisa? Seríamos ainda modernistas demais, como
já alertava Efland (2008), reforçando apenas o ensino de arte como o aprendizado de
conteúdos da linguagem visual?
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modos pelos quais eles encontraram formas novas de organização e convivência na
escola, recriando os tempos e espaços escolares.
Em Porto Alegre (RS), para citar exemplos, alunas e alunos criaram uma rede
para ativar a circulação de informações: “Ocupa Tudo Julinho”; “Ocupa Ernesto
Dornelles”; “Ocupa Emilio” são algumas. Nelas, as imagens descreviam o dia a dia
das ocupações e as formas de organização que foram sendo encontradas e ou criadas
pelos jovens. Os estudantes recriaram aulas e espaços escolares a partir de assuntos
até então distantes da escola, como gênero – a partir de murais feministas criados em
algumas ocupações – e violência e transporte público – a partir de diálogos e
encontros com representantes de movimentos sociais e ou de entidades sociais de
representação.
Para uma atitude estética na busca de novas formas de encontro entre arte e
educação, se faz necessária a liberação do termo estética da tradição do século XVIII,
como estudo do belo e da arte, e também de sua justificação apenas pela
sensibilidade (HERMANN, 2010; PEREIRA, 2011). Trata-se de assumir a estética
como uma forma de se colocar em relação com o mundo. Uma “forma mais ampla
sem restringir-se a uma atividade artística, mas, aos modos de vida, à própria
existência” (LOPONTE, 2013, p. 9). A estética enquanto um modo de existir não é
aquela dos limites disciplinares do campo filosófico-artístico, mas a que permite um
jogo de intensidade que vai muito além da matéria artística na escola.
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No site ArteVersa: <http://www.ufrgs.br/arteversa/wordpress/> é possível acompanhar essas
pesquisas, assim como uma coleção de artistas contemporâneos que nos ajudam a pensar
educação e formação. O site faz parte de ações desenvolvidas pelo grupo ArteVersa – Grupo de
estudo e pesquisa em arte e docência (CNPq/UFRGS).
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Ensino de arte e o político como uma possibilidade do presente
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estejamos – professores e alunos – presentes, na igualdade mais generosa de todo
início e na ternura mais extrema e intensa de nossas diferenças?
Para que a arte tenha alguma decorrência política – e por política entende-se a
redistribuição das posições determinadas a uns e a outros no mundo (RANCIÈRE,
2012) – é preciso que sejam recusados “em primeiro lugar, a distância radical; em
segundo, a distribuição dos papéis; em terceiro, as fronteiras entre os territórios”
(RANCIÈRE, 2012, p. 21). Quanto à arte que se realiza na escola, haveríamos que
pensar, em primeiro lugar, em eliminar distâncias entre arte e vida, interpretar e criar
arte, ensinar e fazer arte, cânones e mundo partilhado. Em segundo lugar, pensar em
redistribuir papéis: de professor, aluno, artista, espectador, teórico, crítico, aprendiz.
Em terceiro lugar, recusar o que torna fixos os territórios da arte e da educação. Nos
três casos, trata-se de recriações feitas com e a partir de parâmetros pertinentes ao
tempo presente.
É a partir dessa escola que “já não satisfaz a ninguém” que precisamos pensar
o encontro entre arte e educação, justificando a urgência em ultrapassar os limites de
uma apropriação objetiva do conhecimento, que esvazia o exercício do pensamento
para produzir o estranhamento necessário daquele que se coloca além da lógica e do
conceito.
O que pulsa nas escolas, como as que foram ocupadas pelos secundaristas, é
muito mais do que uma disposição para aprender novos conceitos artísticos. Há uma
disposição para pensar abertamente, para duvidar das certezas impostas pelas
paredes escolares, para imaginar a própria escola a partir da criação de novas
metáforas. Pensar e repensar arte e educação a partir desses novos pressupostos
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torna-se mais urgente do que nunca, “a escola precisa ouvir e considerar o aluno, ter
arte, filosofia e ética em todos os momentos e não se acovardar frente a perguntas
difíceis, enfim, uma escola viva, alegre, corajosa, sempre aberta a novas questões”
(MOSÉ, 2013, p. 84).
A atitude necessária para ocupar o ensino de arte na escola de hoje exige uma
ocupação mesmo com modos de agir e de se conduzir nas artes visuais que tenham
ressonância ao que se passa conosco. Não nos termos da identidade ou subjetividade
individual, mas de uma existência comum a alunos e professores que partilhamos
enquanto habitantes da escola. Precisamos nos desprender de protocolos de
legitimação das artes, do ensino de artes visuais e da educação, não para
desqualificar ou ignorá-los, mas para “em tempo real” ir corajosa e inventivamente
adiante deles. Quem somos hoje, no presente, continua nos perguntando Foucault.
Seguimos, pacientemente, “o trabalho sobre os nossos limites” (FOUCAULT, 2005, p.
351).
Referências
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