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INTRODUÇÃO
A linguagem é um fenômeno discutido e estudado a muitos anos, tendo vários
momentos ideológicos que definiram e moldaram seu conceito, chegando até os dias
atuais. Ao longo da história da nossa língua, observamos muitos estudos e linhas de
pensamento que tentam explicar esse fenômeno. É importante que, dentre estas inúmeras
opções, o educador se posicione em relação a metodologia que utilizará em sala de aula,
e saiba que ela está necessariamente ligada a pensamentos teóricos já estudados.
Apesar das inovações no mundo da docência, os livros didáticos ainda são uma
ferramenta muito utilizada pelos educadores nas escolas públicas do país. Para realizarem
um filtro, permitindo que os alunos possam, de forma eficaz, aprender aquilo que é
proposto a eles, os educadores devem estar conscientes perante o objetivo das abordagens
e propostas que os livros trazem.
Vendo a necessidade em abordar o tema, este artigo irá discorrer acerca de três
concepções de linguagem, organizadas e nomeadas por Geraldi (2006), um dos estudiosos
dos pressupostos bakhtinianos. Analisamos criticamente atividades do livro Português:
linguagens (CEREJA; MAGALHÃES, 2015), o qual foi aprovado pelo PNLD (Programa
Nacional do Livro Didático) para os anos de 2015, 2016 e 2017. Logo após pretendemos
entender qual seria, dentre as três concepções, aquela que realmente traria a ideia mais
coerente sobre o que seria a linguagem, para que assim ela possa ser transmitida da melhor
forma possível pelos professores de língua materna das escolas públicas aos alunos,
visando sempre o desenvolvimento do educando na sociedade, compreendendo e
exercendo por meio dela o seu papel.
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Artigo apresentado como requisito parcial para a aprovação na disciplina “Introdução ao Estágio
Curricular Supervisionado” sob orientação da Profª Dra. Rejane Centurion Gambarra e Gomes.
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Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso, câmpus
universitário de Tangará da Serra. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência.
E-mail: fernandosoares.fsfs@gmail.com.
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seja, os enunciados que foram por eles internalizados, o contexto enunciativo e outros
fatores estarão voltados para o sujeito falante, denotando assim seu papel ativo nas
relações interpessoais. “[...] os enunciados geram efeitos de sentido que só podem ser
analisados no contexto de enunciação e estão sempre relacionados a outros enunciados
anteriores e àqueles que ainda estão por vir” (ARAÚJO, 2016).
A bagagem enunciativa do falante, supracitada, estará impregnada de ideologias,
que seriam as marcas exteriores, deixadas por outro indivíduo que também utilizaram
daquele enunciado:
Por fim, entendemos que estes exercícios não contribuem com o aprimoramento
da capacidade crítica do aluno, se limitando apenas a parte estrutural da língua e
separando o indivíduo daquilo que é social. Não devemos aqui retirar o papel da gramática
no ensino de língua materna, mas para estes exercícios, seria mais produtivo que viessem
acompanhados de uma reflexão que fizesse o aluno exercer sua criticidade e
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A proposta acima traz exercícios que partem de um texto não-verbal, que retrata
uma menina indígena banhando-se em uma represa. A princípio, na atividade, pretende-
se analisar o texto gramaticalmente, porém vemos que, no terceiro exercício, o aluno tem
a possibilidade de fazer suposições sobre a vida de uma pessoa da comunidade indígena:
isso traria uma discussão cultural muito rica, o que contribuiria muito para a bagagem dos
educandos. Observa-se também que o objetivo dos dois primeiros exercícios, que
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abordam os adjetivos, seria o de servir como base na resposta da terceira questão que é o
ponto central da atividade.
Vemos que o exercício de número três pertence a terceira concepção de
linguagem. Os exercícios dela geralmente têm objetivo de, partindo da materialidade,
fazer o aluno pensar além, saindo do texto material. Eles podem utilizar a gramática
apenas como ponto de partida para uma reflexão que vai além da materialidade textual e
da parte estrutural da língua, não sendo seu objetivo final o ensino da gramática.
Na medida em que faz o aluno exercer seu próprio conhecimento, o exercício
promove a interação do aluno com a temática proposta, retomando os conceitos trazidos
por Bakhtin/Volochinov e Vygotsky.
Vemos, através desta proposta, que os sentidos não estão presos somente ao texto,
o educando não depende da materialidade e exerce sua criticidade, buscando resposta fora
do texto. Desse modo, o papel ativo do aluno no processo de ensino e aprendizagem é
colocando em foco.
REFERÊNCIAS
VYGOTSKI, Lev S. A Formação Social da Mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1991. 90 p.