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GEOGRAFIA REGIONAL I

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD


Geografia Regional I – Prof.ª Ms. Camila Barbosa e Prof. Ms. Luiz Henrique Pereira

Meu nome é Camila Barbosa. Sou graduada em Geografia pela Universidade Estadual
Paulista – Unesp/Rio Claro-SP e mestre em Geografia, com área de concentração em
Organização do Espaço, pela mesma universidade. Atualmente, desenvolvo pesquisas
voltadas ao Planejamento Urbano e à Análise Ambiental.
E-mail: barbosa_unesp@yahoo.com.br

Olá! Meu nome é Luiz Henrique Pereira, sou graduado e mestre em Geografia pela
Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro-SP e possuo experiência na área de
Geociências, com ênfase em Geografia Física. Desenvolvo pesquisas relacionadas ao
Manejo de Bacias Hidrográficas, Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Cartografia.
E-mail: e_luizh@yahoo.com.br

Os autores agradecem a colaboração do Prof. Victor Hugo Junqueira, pelas suas contribuições
aos temas desenvolvidos, bem como pela revisão técnica dos conteúdos abordados.

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Camila Barbosa
Luiz Henrique Pereira
Victor Hugo Junqueira (revisor técnico)

GEOGRAFIA REGIONAL I

Batatais

Claretiano

2015
© Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP)
Versão: dez./2015

910 B196g

Barbosa, Camila
Geografia regional I / Camila Barbosa, Luiz Henrique Pereira – Batatais, SP :
Claretiano, 2015.
160 p.

ISBN: 978-85-8377-412-9

1. Regionalização. 2. Organização do espaço mundial. 3. Globalização.


4. Transformações espaciais. 5. Europa. 6. América Anglo-Saxônica. 7. Oceania.
I. Pereira, Luiz Henrique. II. Geografia regional I.

CDD 910

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Eduardo Henrique Marinheiro
Carolina de Andrade Baviera Felipe Aleixo
Cátia Aparecida Ribeiro Filipi Andrade de Deus Silveira
Juliana Biggi
Dandara Louise Vieira Matavelli
Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Rafael Antonio Morotti
Josiane Marchiori Martins Rodrigo Ferreira Daverni
Lidiane Maria Magalini Sônia Galindo Melo
Luciana A. Mani Adami Talita Cristina Bartolomeu
Luciana dos Santos Sançana de Melo Vanessa Vergani Machado
Patrícia Alves Veronez Montera
Raquel Baptista Meneses Frata Projeto gráfico, diagramação e capa
Eduardo de Oliveira Azevedo
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Joice Cristina Micai
Simone Rodrigues de Oliveira
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luis Antônio Guimarães Toloi
Bibliotecária Raphael Fantacini de Oliveira
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Tamires Botta Murakami de Souza

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Educacional Claretiana.

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SUMÁRIO

caderno de referência de conteúdo


1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 7
2 oRIENTAÇÕES PARA ESTUDo......................................................................................................................9
3 referências bibliográficas .................................................................................................................18

Unidade 1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos


1 Objetivos ................................................................................................................................................... 19
2 Conteúdos................................................................................................................................................. 19
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE...........................................................................................20
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE...........................................................................................................................20
5 FUNDAMENTOS DA ANÁLISE REGIONAL NO DISCURSO GEOGRÁFICO...................................................22
6 Diferentes formas de regionalização.............................................................................................23
7 Regionalizações globais e origem da divisão Norte-Sul...........................................................26
8 O SUBDESENVOLVIMENTO .........................................................................................................................31
9 questões autoavaliativas....................................................................................................................36
10 considerações......................................................................................................................................... 37
11 e-referências............................................................................................................................................ 37
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................................38

Unidade 2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização


1 Objetivos.................................................................................................................................................... 39
2 Conteúdos ................................................................................................................................................ 39
3 OrientaçÕES para o estudo da unidade ..........................................................................................40
4 INTRODUÇÃO à unidade...........................................................................................................................40
5 Globalização e Espaço Mundial atual.............................................................................................42
6 Desigualdades DE UM MUNDO GLOBALIZADO ....................................................................................50
7 Possibilidades de Regionalização......................................................................................................56
8 A QUANTIFICAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO.............................................................................................59
9 questões autoavaliativas....................................................................................................................62
10 considerações......................................................................................................................................... 62
11 E-REFERÊNCIAS............................................................................................................................................ 62
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................63

Unidade 3 – Europa
1 Objetivos.................................................................................................................................................... 65
2 Conteúdos................................................................................................................................................. 65
3 Orientações para o estudo da unidade...........................................................................................65
4 INTRODUÇÃO à unidade...........................................................................................................................66
5 EUROPA: CARACTERIZAÇÃO NATURAL E TERRITORIAL............................................................................66
6 ALEMANHA................................................................................................................................................... 81
7 REINO UNIDO............................................................................................................................................... 91
8 ITÁLIA............................................................................................................................................................ 100
9 França......................................................................................................................................................... 110
10 questões autoavaliativas...................................................................................................................119
11 Considerações......................................................................................................................................... 119
12 e-referências............................................................................................................................................ 120
13 Referências BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................122
14 Referência VIDEOGRÁFICA......................................................................................................................122
Unidade 4 – América Anglo-Saxônica
1 Objetivos.................................................................................................................................................... 123
2 Conteúdos................................................................................................................................................. 123
3 Orientações para o estudo da unidade...........................................................................................123
4 INTRODUÇÃO à unidade...........................................................................................................................124
5 ESTADOS UNIDOS......................................................................................................................................... 124
6 CANADÁ........................................................................................................................................................ 135
7 questões autoavaliativas....................................................................................................................145
8 Considerações.......................................................................................................................................... 145
9 e-referências............................................................................................................................................ 145
10 Referências BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................146
11 Referência VIDEOGRÁFICA......................................................................................................................146

Unidade 5 – Oceania
1 Objetivos.................................................................................................................................................... 147
2 Conteúdos................................................................................................................................................. 147
3 Orientações para o estudo da unidade...........................................................................................147
4 INTRODUÇÃO à unidade...........................................................................................................................148
5 Oceania: AspEctos naturais e territorais.......................................................................................148
6 AUSTRÁLIA.................................................................................................................................................... 149
7 questões autoavaliativas....................................................................................................................158
8 Considerações.......................................................................................................................................... 159
9 e-referências............................................................................................................................................ 159
10 Referência BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................................159
11 Referência VIDEOGRÁFICA......................................................................................................................159
Caderno de
Referência de
Conteúdo
CRC

Conteúdo–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Regionalização e organização do espaço mundial. Globalização e transformações espaciais. Aspectos físicos,
econômicos e populacionais da Europa, América Anglo-Saxônica e Oceania.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Como sabemos, a Geografia é uma área do conhecimento que possui, como outras ciên-
cias, inúmeras particularidades. Uma delas é a capacidade de integrar informações de diversas
naturezas, como as físicas e as sociais, e apresentar as formas e funcionalidades do espaço que
resultam dessa interação. Logo, pode-se dizer que um dos objetivos da Geografia é compreen-
der a organização espacial.
É muito importante que estudemos esta obra a partir dessa ideia inicial. De nada adianta
enfatizar os aspectos populacionais, físicos e sociais das áreas continentais: Europa, América
Anglo-Saxônica e Oceania se não for para justificar e compreender a atual estrutura do espaço
geográfico em sua totalidade e relações.
Devemos pensar na Geografia dessa forma, diminuindo a distância entre a Geografia aca-
dêmica e a Geografia tradicionalmente transmitida em sala de aula. A Geografia escolar ainda
apresenta algumas dificuldades para se libertar da forma tradicional da descrição exaustiva dos
atributos espaciais. No entanto, somos os responsáveis por isso e podemos atribuir essa difi-
culdade à nossa própria falta de compreensão sobre o objeto de estudo da ciência geográfica.
Para cumprir o objetivo de buscar elementos que contribuam para a explicação da organi-
zação do espaço, precisamos inicialmente definir alguns conceitos fundamentais:
8 © Geografia Regional I

1) Unidade e totalidade.
2) Região e regionalização.
3) Globalização.
4) Organização do espaço mundial.
Para compreender o mundo, é comum dividi-lo em regiões que, embora sejam unidades
espaciais simplistas e genéricas, são parcelas coerentes que nos ajudam a entender a totalidade
na qual se inserem. Para Roberto Lobato Corrêa (2000), um dos estudiosos dedicados à inves-
tigação do conceito de região, a Geografia tem suas raízes na busca e na compreensão da dife-
renciação de regiões, países e continentes de acordo com as relações entre os homens e entre
eles e a natureza. O autor pontua que, se a superfície da Terra fosse homogênea e não houvesse
diferenciação de áreas, a Geografia não teria surgido.
A Geografia escolar tradicionalmente se utiliza da regionalização em diversas escalas para
estudar o mundo. É de extrema relevância, portanto, que compreendamos as diferenças entre
as inúmeras formas de regionalização e tentemos desvendar um pouco as ideologias que justi-
ficam essas formas.
As divisões podem se basear em critérios políticos, naturais, culturais ou econômicos.
Além disso, as diversas regionalizações instituídas no mundo retratam as necessidades sociais
de uma época específica e podem se tornar obsoletas perante novas relações de poder. Ou seja,
as transformações socioeconômicas e históricas tendem a condicionar novas formas e limites
das regiões.
Ao longo deste estudo, trataremos de algumas dessas diferentes formas de regionalização
e os contextos históricos nos quais elas foram formuladas, bem como os fatores que contribuí-
ram para a sua superação nos estudos geográficos.
Porém, a estrutura desta obra está assentada na regionalização por áreas continentais,
dado o seu caráter didático, menos sujeito a alterações conjunturais, e a sua permanência nas
formas de exposição nos livros didáticos, destinados à Educação Básica.
Assim, nesta obra, abordaremos as condições econômicas, sociais e populacionais da Eu-
ropa, América Anglo-Saxônica e Oceania.
É importante salientar que esta divisão não impede e nem pode ser entendida como um
empecilho ao estabelecimento de vínculos entre as áreas continentais; para exemplificar, não
é possível tratar das condições econômicas da África sem relacionar ao imperialismo europeu,
ou das características populacionais da América Latina desvinculada da colonização europeia.
Portanto, é necessário estarmos atentos às relações que se estabelecem entre as áreas na pers-
pectiva de entender o espaço geográfico em sua totalidade.
Considerando essas premissas, na Unidade 1 desta obra, partiremos de uma discussão
epistemológica sobre os fundamentos geográficos da análise regional e alguns pressupostos da
teoria sistêmica que permitirão uma leitura integrada das informações geográficas disponíveis,
no sentido de compreender as formas de regionalização no século 20 e as possibilidades de re-
gionalização do espaço mundial com a emergência da globalização.
Lembre-se de que não existe Geografia sem História: o espaço geográfico é um produto
social definido pela atividade produtiva e pelas ideias que, ao longo do tempo, se materializam
sobre a superfície do planeta. Essa temática será abordada na Unidade 2, que apresenta o his-
tórico do processo de globalização como um dos grandes eventos responsáveis pela divisão
socioespacial do mundo.
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

Considerou-se que o fenômeno da globalização atua sobre o espaço herdado de tempos


passados, remodelando-o em razão das novas necessidades. Uma nova Geografia foi tecida pe-
los fluxos globais de mercadorias, capitais e informações. É nesse contexto que inserimos os
aspectos econômicos dos países e descrevemos alguns indicadores de desenvolvimento.
Veremos que do espaço globalizado contemporâneo emergiram as novas potências eco-
nômicas, as quais se reorganizaram com novas relações e mudanças dos focos tradicionais de
poder.
Na Unidade 3, iniciaremos o estudo das áreas continentais pela Europa, destacando suas ca-
racterísticas físicas, econômicas e populacionais, para em seguida, apresentar alguns dados mais
pormenorizados gerais de quatro importantes países para as relações geopolíticas na atualidade:
Reino Unido, Itália, França e Alemanha.
Na Unidade 4, estudaremos a América Anglo-Saxônica, destacando os aspectos populacio-
nais, físicos e econômicos dos Estados Unidos da América e do Canadá. Nesta unidade, enfo-
caremos as condições econômicas que favoreceram o poderio dos Estados Unidos nas relações
internacionais.
Por fim, na Unidade 5, apresentaremos as características gerais da Oceania, para em segui-
da trazer informações mais específicas sobre a Austrália, principal país deste continente.
Esperamos ter, no final das unidades, condições teórico-metodológicas e informações es-
pecíficas dos países suficientes para que seja possível estabelecer diversas relações e apresentar
uma leitura da organização do espaço geográfico dessas áreas continentais.

2. oRIENTAÇÕES PARA ESTUDo

Abordagem Geral
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estudado nesta obra. Aqui, você
entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a
oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade.
Esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual
você possa construir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural, para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi-
lidade social.
No decorrer desta obra, estudaremos os aspectos físicos, populacionais e econômicos da
Europa, América Anglo-Saxônica e Oceania, tema relativamente simples e já conhecido de nos-
sos tempos de escola, abordado como questões políticas mundiais, especialmente a partir da
década de 1990.
Contudo, temos o desafio de atribuir a esse assunto um caráter que faça jus ao status de
conteúdo de um curso de nível superior. Ora, o que diferencia a Geografia escolar da Geografia
acadêmica? De modo simplista, pode-se dizer que a diferença está nos níveis de conhecimento
com que cada uma aborda seus temas de interesse. Nas escolas, devemos simplificar os temas
científicos para que o conhecimento concebido na academia seja transmitido conforme as po-
tencialidades características de cada etapa do desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Assim,
esperamos que os alunos adquiram as condições necessárias para construir seu próprio conhe-
cimento. Em outros termos, enquanto na academia se constrói o conhecimento que sintetiza-
mos como geográfico, cabe à Geografia apropriar-se desse conhecimento, adequá-lo, divulgá-lo
e transmiti-lo com fidelidade.

Claretiano - Centro Universitário


10 © Geografia Regional I

De modo geral, observa-se que a disciplina de Geografia, nas escolas, na tentativa de


transmitir seu conteúdo de maneira mais simples, equivoca-se ao omitir os “processos”, apre-
sentar somente as “formas”, normalmente caracterizadas como informações massivas, como,
por exemplo, a distribuição dos relevos e rios e as características climáticas para a análise dos
aspectos físicos; a composição etária, as etnias como elementos dos aspectos populacionais;
índices de IDH e outros indicadores de desenvolvimento econômico e social, deixando de lado
os fatores que antecedem e que conduzem a essa configuração final.
Diante dessa ideia, nosso intuito para este estudo é ir além da observação direta e simples
dos dados geográficos descritivos de cada país, e apresentá-los de forma que o aluno tenha con-
dições de construir conhecimento que justifique a organização espacial, evitando que ela seja
simplesmente “imposta”.
Devemos sempre desejar ir além, o que é muito necessário para a aprendizagem da ciên-
cia geográfica. Assim, não podemos aceitar uma realidade baseada em descrições sem antes
indagar os dados e informações que nos são apresentados.
A pergunta que nos cabe no momento, portanto, é: como construir um conhecimento
que vá além de números, dados e descrições? Para que devemos compreender mais do que nos
é apresentado? Devemos buscar a resposta dessas perguntas no próprio objetivo e objeto de
estudo da Geografia.
Sucintamente, podemos considerar que um ponto comum entre as inúmeras definições
da ciência geográfica é de que seu objeto de estudo é o espaço geográfico, e seu objetivo prin-
cipal é compreender a organização espacial.
Sabemos que a Geografia ministrada no Ensino Fundamental e Médio ainda é essencial-
mente descritiva e decorativa, totalmente díspar do conhecimento geográfico desenvolvido e
ensinado na Academia.
Não podemos negar que o que está sendo apresentado nas escolas atende ao objeto de
estudo da Geografia. Ou seja, estudamos massivamente as descrições dos países considerando
seus territórios. Os espaços geográficos são segmentados em aspectos físicos e naturais para
facilitar a didática, buscando a melhor relação possível entre ensino e aprendizagem.
E o objetivo de estudo da Geografia? Podemos dizer que a escola, em sua forma tradicio-
nal de lecionar essa ciência, provoca o esclarecimento acerca da organização espacial? Pode-
mos construir um conhecimento que ultrapasse as descrições quando buscamos compreender o
espaço e sua organização e devemos ter a compreensão desses dois pontos fundamentais para
que a Geografia cumpra adequadamente e com êxito seu papel social.
Assim, em grande parte das escolas e disciplinas dos cursos de Geografia, ainda é comum
observar o ranço da geografia descritiva. Vale ressaltar que conhecer os detalhes do nosso pla-
neta é extremamente importante, e, para isso, a descrição de áreas é inevitável. Essas noções e
descrições nos dão bagagem, cultura e conteúdo, mas restringem-se ao senso comum. É neces-
sário esforçarmo-nos para ir além da descrição, que consigamos relacionar cada item descrito e
encontrar suas inter-relações, que expressam a organização espacial.
Dessa forma, entendemos que resumir um estudo geográfico à simples apresentação dos
aspectos segmentados (geomorfologia, climatologia, população etc.) dos países é negar a pró-
pria conceituação do objetivo e do objeto de estudo da nossa ciência.
Oferecemos, assim, neste estudo, o desafio da leitura integrada dos aspectos menciona-
dos e da leitura geográfica do espaço, para analisar e esclarecer a organização espacial do globo
a partir das áreas continentais.
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

Outra questão importante que discutiremos nesta obra, mesmo que implicitamente, é o
que nos é colocado como realidade. Por exemplo, apresentam-nos extensa tabela quantitativa
do IDH dos países que compõem o planeta Terra. Esse ranking é responsável por direcionar as
estratégias econômicas e sociais adotadas pelos agentes políticos mundiais. Devemos aceitar
seus valores sem questionar os métodos pelos quais foram elaborados? Quem organizou esse
estudo? Qual é a ideia de desenvolvimento que esse grupo tem? Que realidade é essa que estão
nos apresentando?
É importante perceber a diferença entre uma tabela qualquer de dados numéricos sociais
e as informações que antecedem esses números. Os índices finais apresentados são dinâmicos
no tempo, no entanto, a compreensão dos fatores históricos que condicionam tais números são
registros perenes, que permitirão explicar os motivos que levaram cada país a ser representado
por esses números.
O que queremos dizer aqui é que não somente é importante saber que determinado país
apresenta o maior índice de desenvolvimento econômico, como também entender como a in-
tegração dos aspectos físicos, econômicos e sociais de seu território ofereceu condições para
que ele assuma tal condição de destaque no cenário mundial e como isso ocorreu ao longo do
tempo.
Diante do exposto, resumimos o propósito que norteia os estudos desta obra: mais im-
portante que aprender sobre o espaço geográfico de cada área continental de forma isolada é
compreender como se dá sua organização.
Para compreender os países em sua totalidade, é importante observá-los como a expres-
são de um longo tempo de ações humanas sobre o espaço natural. Portanto, devemos analisar
elementos naturais, antrópicos e a história que levou a tal configuração, buscando compreender
as relações entre cada um desses elementos.
Sabemos que o atual período de globalização é caracterizado pelo elevado fluxo de merca-
dorias e pela mobilidade das indústrias e empresas transnacionais. Portanto, os condicionantes
naturais e territoriais, determinantes para o desenvolvimento econômico de uma nação no pe-
ríodo neocolonial, tornam-se secundários. No entanto, as características naturais, como clima,
relevo e localização, condicionam uma estrutura cultural que contribui para alavancar ou res-
tringir o desenvolvimento econômico de um país.
Para facilitar a compreensão deste estudo, é importante que você se familiarize com al-
gumas ideias e conceitos que norteiam as discussões. Dessa forma, indicaremos, a seguir, os
principais tópicos abordados ao longo das unidades.
A Unidade 1 tem um forte caráter teórico. Sua leitura deve ser atenta, pois apresenta con-
teúdo denso e, de certa forma, filosófico, o que forçará sua reflexão em cada parágrafo. Nesta
unidade, o objetivo é desenvolver os conceitos de região e regionalização, bem como apresentar
sua evolução ao longo da história do pensamento geográfico. Esse tema será respaldado pela
apresentação dos dados históricos, incluindo fatos econômicos e políticos que conduziram a
diferentes processos de regionalização do mundo.
A partir daqui, podemos nos perguntar qual é a necessidade de ir tão longe apenas para
descrever os aspectos físicos, populacionais e econômicos das áreas continentais?

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12 © Geografia Regional I

Façamos a analogia. Quando selecionamos uma parcela qualquer da superfície terrestre


como uma unidade espacial de análise, como é o caso de uma região, podemos dizer que uma
das possibilidades viáveis para compreender o espaço e sua organização é o reconhecimento de
suas particularidades. Portanto, a regionalização do mundo foi um processo que fragmentou as
áreas continentais para que fossem compreendidas.
Essas premissas vinculam-se ao princípio da totalidade, segundo o qual a percepção do
todo se dá a partir da compreensão da relação entre as partes. Podemos, assim, trabalhar em
diferentes escalas de análise e conceber uma organização espacial em cada nível. Podemos con-
siderar a Terra uma unidade e os continentes como suas partes constituintes se avançarmos o
nível hierárquico; também podemos considerar os continentes como uma totalidade, e os agen-
tes modeladores do relevo como suas partes.
Veremos esse conceito apresentado em diversas ciências e, antes que se crie uma con-
fusão em nossa cabeça, cabe ressaltar que os princípios mencionados não são restritos aos
estudos geográficos. São, na verdade, intrínsecos a uma concepção de inúmeras disciplinas e,
portanto, pertinentes à ciência de forma geral.
Concluindo a unidade, inicia-se a apresentação dos fatos históricos que originaram as di-
ferentes regionalizações no século 20, para entender como a globalização transforma as formas
de regionalização e as possibilidades de compreensão do espaço geográfico mundial.
Na Unidade 2, continuaremos a abordar o processo de globalização, identificando os as-
pectos econômicos, sociais e políticos mais significativos que contribuíram para a organização
do espaço mundial e as relações entre os países.
Nesse sentido, recorremos à análise histórica para entender como se processaram essas
transformações, cujas bases estão na queda do muro de Berlim, em 1989, e no fim do ciclo da
Guerra Fria, que contribuíram para reunificação alemã e desagregação da União Soviética.
Tais acontecimentos, junto com a completa integração da China nos fluxos internacionais
de mercadorias e investimentos, diluíram a fronteira que separava as economias estatizadas da
economia mundial de mercado. A partir disso, a contribuição do desenvolvimento técnico, cien-
tífico e informacional fez crescer a desigualdade social, uma vez que se acentuou a acumulação
de capitais. Tais acontecimentos geraram uma nova discussão geográfica, geopolítica e histórica:
a globalização.
Novamente, é importante que você questione a necessidade de recorrer à História para
compreender a divisão regional. Lembre-se de que as divisões são dinâmicas no tempo e no
espaço, e o caminhar da História pode determinar novos polos de poder. Supondo que tais
mudanças ocorressem em poucos anos, estaríamos preparados para justificá-las. Além disso, a
compreensão de como ocorreu as divisões nos fornece inclusive condições de predizer os novos
e futuros cenários. Sem dúvida, é um grande exercício geopolítico, em que a informação é es-
sencial para seu êxito.
A leitura da Unidade 2 configura-se num grande exercício de atenção, pois o texto apre-
senta ideias sequenciais e é fundamental entender cada trecho para dar prosseguimento ao
conteúdo.
Quando discutimos em Geografia as críticas ao discurso da globalização enquanto unifica-
ção do mundo, é imprescindível considerar as obras de Milton Santos. Seus trabalhos dividem
opiniões por ele não ser geógrafo de formação. Porém, de fato, ele é um autor de bastante ex-
pressividade nessa temática.
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

Em seu livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal, o
autor aponta que a globalização é perversa e não leva à integração das nações, pois, por se colo-
car a favor da acumulação do capital, contribui para que as desigualdades intrínsecas ao sistema
capitalista atinjam escalas globais. De acordo com Santos (2008, p. 38-39):
Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da in-
formação. [...] as novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta,
dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca.
Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado
de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são
apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação
de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais
periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a
possibilidade de controle.

É neste mundo globalizado que nos aprofundaremos um pouco mais na Unidade 2. Dis-
cutiremos os aspectos inerentes ao atual estágio de globalização e, para tanto, buscaremos nos
aprofundar em temas já apresentados na Unidade 1, além de enfatizar discussões como o de-
senvolvimento técnico, científico e informacional atual, os blocos econômicos, o papel do Esta-
do e das fronteiras nacionais e as desigualdades socioespaciais em escala mundial.
Com o entendimento dos condicionantes da organização do espaço mundial, podemos
discutir os aspectos centrais de cada grande região com segurança. O arcabouço teórico-meto-
dológico construído ao longo de nosso material nos fornecerá as condições necessárias para que
se cumpra a ideia geral deste estudo.
Nas Unidades 3, 4 e 5, abordaremos, respectivamente, as características gerais da Europa,
América Anglo-Saxônica e Oceania. Em cada uma dessas unidades, apresentaremos informa-
ções mais detalhadas sobre alguns países dessas áreas, como forma de aprofundar o conheci-
mento sobre os aspectos físicos, econômicos e populacionais.
Assim, na Unidade 3, trataremos da geografia da Alemanha, Reino Unido, Itália e França,
países representativos do poderio econômico europeu na atualidade, mas que em seu interior
carregam grandes desigualdades.
Na Unidade 4, analisaremos a América Anglo-Saxônica, que se diferencia pela formação
histórica e aspectos econômicos e socais da América Latina e abriga a maior potência econômi-
ca, política, militar e cultural do mundo desde a Segunda Guerra Mundial: os Estados Unidos e
o seu principal parceiro comercial, o Canadá.
Ao estudarmos esses dois países, veremos como a relação entre os aspectos naturais se
relacionam (mas, não determinam) aos sociais, seja na produção agrícola, seja na ocupação
humana.
Para finalizar, na Unidade 5, estudaremos a Oceania e o seu principal país, a Austrália, ob-
jetivando por meio de uma leitura integrada de diversas informações, entender a organização
do espaço em sua totalidade e complexidade.
Pretendemos, assim, oferecer as ferramentas para que você efetue uma leitura do espaço
geográfico segundo uma visão integrada e relacional, capaz de sugerir explicações para a orga-
nização espacial.
Bons estudos!

Claretiano - Centro Universitário


14 © Geografia Regional I

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições concei-
tuais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados.
1) Crescimento vegetativo ou natural: é a diferença entre a taxa de natalidade e de mor-
talidade. Dessa forma, é possível obter as seguintes classificações: positivo = nasci-
mentos > mortes; negativo = nascimentos < mortes; nulo = nascimentos = mortes.
2) Espaço total: segundo Ab'Saber (1998, p. 30), é definido como “[...] o arranjo e o perfil
adquiridos por uma determinada área em função da organização que lhe foi imposta
ao longo dos tempos. Neste sentido pressupõe um entendimento – na conjuntura do
presente – de todas as implantações cumulativas realizadas por ações, construções e
atividades antrópicas”.
3) Estrutura etária da população: é a classificação da população de acordo com a idade.
A estrutura etária da população de um país tem efeito nas questões socioeconômicas.
Países com populações jovens (alta porcentagem na faixa etária dos 15 anos) preci-
sam de atenção e investimento em escolas e atividades de lazer, enquanto países com
populações em que o topo da pirâmide é mais largo (alta porcentagem, acima de 65
anos), direcionam as atenções para a saúde.
4) Expectativa de vida: é a estimativa da média de anos que um habitante do país es-
pera viver. Esse conceito pode ser aplicado em um nível mais particular, como a um
município ou bairro, por exemplo. Mesmo assim, é um indicador comum de desen-
volvimento.
5) Globalização: designa um fenômeno de abertura das economias mundiais (a maioria
delas) e de suas respectivas fronteiras, favorecendo as trocas internacionais de mer-
cadorias, a integração social e política. Além do incremento da circulação de capital,
destaca-se o elevado e acelerado fluxo de conhecimento e informação, proporcionado
pelo desenvolvimento dos transportes e das comunicações. Assim, as inovações tec-
nológicas, especialmente na área da informática, são as grandes responsáveis por via-
bilizar a difusão de informações entre as empresas e instituições financeiras, ligando
os mercados do mundo. Vale ressaltar que alguns autores consideram a globalização
a fase mais avançada do capitalismo.
6) Índice de Gini: o índice (ou coeficiente) de Gini é uma medida de concentração ou
desigualdade desenvolvida em 1912 pelo estatístico italiano Corrado Gini e publicada
no documento Variabilità e mutabilità (variabilidade e mutabilidade). Denuncia a de-
sigualdade na renda domiciliar per capita. O índice pode variar de 0, em caso de desi-
gualdade nula, a 1, em caso de desigualdade máxima – quando apenas um indivíduo
concentra toda a renda da sociedade.
7) PIB per capita: é o resultado do PIB dividido pela população.
8) População economicamente ativa – PEA: intimamente vinculada à estrutura etária
de uma população, ela compreende o potencial disponível de mão de obra com que
o setor produtivo pode contar. Se analisado em longo prazo, esse índice representa a
capacidade de crescimento econômico “autossuficiente” em termos de mão de obra,
num intervalo de tempo definido. Inclui pessoas consideradas “ativas” no mercado
de trabalho, representado por todas aquelas com a idade de dez anos ou mais, que
estavam procurando ocupação ou trabalhando na semana de referência da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE).
9) Populoso: relativo à população absoluta.
10) Povoado: relativo à densidade demográfica – ou população relativa.
11) Primeiro mundo: são países que, depois da Segunda Revolução Industrial, dispunham
de parque industrial complexo, formado pelos setores de produção de bens de capital
e bens de consumo duráveis. Engloba na Europa, na América e no Pacífico os aliados
políticos dos Estados Unidos – líder político do Oriente/Oeste.
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

12) Produto Interno Bruto (PIB): representa a soma (em valores monetários) dos bens
e serviços finais produzidos em determinada região durante o período em questão
(geralmente um ano).
13) Relação centro-periferia: teoria desenvolvida em 1981 por Raul Prebisch, que atesta
que o sistema internacional se divide em dois núcleos: um pequeno núcleo de países
desenvolvidos e uma massa periférica que gravita em torno desse núcleo, acompanhan-
do seu ciclo econômico. Deve-se ressaltar que os países da periferia não podem ser
tratados como um todo homogêneo. É preciso respeitar suas especificidades, o que
requer uma análise de suas individualidades.
14) Segundo Mundo: inicialmente, o termo foi atribuído na época da Guerra Fria e aplica-
va-se à União Soviética e aos países inseridos em sua zona de influência no Leste Eu-
ropeu. Tinha como característica principal de crescimento a acelerada modernização
a partir da economia planificada e da detenção dos meios de produção pelo estado.
Posteriormente, cientistas políticos e historiadores direcionaram o emprego deste ter-
mo para designar os países em desenvolvimento e emergentes, independentemente
do perfil de seu sistema econômico.
15) Setores da economia: o grupo de pessoas que conduzem a economia de um país pode
ser dividido em três setores da economia: o primário, o secundário e o terciário:
a) setor primário: envolve atividades ligadas ao meio rural, como agricultura, pecuá-
ria, extrativismo vegetal e pesca;
b) setor secundário: envolve as atividades industriais;
c) setor terciário: envolve as atividades do comércio, prestação de serviços, funcio-
nalismo público etc.
16) Subdesenvolvimento: conceito elaborado depois da Segunda Guerra Mundial que
classifica os países com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), ou países de
Terceiro Mundo.
17) Taxa de fecundidade: corresponde ao número médio de filhos nascidos vivos por cada
mulher até o final do seu período reprodutivo. Este período costuma começar aos 15
anos, o que faz com que, em países do Terceiro Mundo em que já existem mães abaixo
dessa idade, essa taxa possa ser subestimada.
18) Taxa de migração: representa a diferença entre o número de pessoas que entram e
saem de um país durante o ano, dividido por mil habitantes. Um excesso de pessoas
que entram no país é denominado imigração líquida (por exemplo, 3,56 migrantes/mil
habitantes); um excesso de pessoas deixando o país corresponde à emigração líquida
(por exemplo, -9,26 migrantes/mil habitantes). A taxa líquida de migração indica a
contribuição das migrações para o nível global de mudança da população. Ela não dis-
tingue migrantes econômicos, refugiados e outros tipos de migrantes e também não
identifica os imigrantes e migrantes em situação irregular.
19) Taxa de mortalidade: importante dado demográfico que exprime relação entre o nú-
mero de óbitos e a população total de uma área geográfica ao longo de um ano. Pode
ser interpretado como um importante indicador social, mas pode ser mais significati-
vo quando considera parcelas da sociedade, como a taxa de mortalidade infantil.
20) Taxa de mortalidade infantil: número de óbitos de menores de um ano de idade, por
mil nascidos vivos, na população de determinado espaço geográfico no ano conside-
rado.
21) Taxa de natalidade: o número de nascimentos ocorridos em um ano, dividido pela
população absoluta.
22) Terceiro Mundo: cunhado no período da Guerra Fria, designava os países de econo-
mia calcada na produção de bens primários e agrominerais, ausentes de um setor in-
dustrial expressivo. Algumas características dos países do Terceiro Mundo são a fraca
urbanização, a concentração populacional no campo, grande crescimento vegetativo
e índices altos de pobreza.

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16 © Geografia Regional I

23) Transição demográfica: este conceito foi proposto em 1929 pelo norte-americano
Warren Thompson, que pressupôs as modificações que acontecem nas populações
que passaram de um período de altas taxas de natalidade e mortalidade para a situa-
ção oposta (taxas baixas). De forma abrangente, ela indica o processo de diminuição
de taxas de mortalidade e natalidade, sendo que a primeira diminui mais rápido que
a segunda, ocasionando um período de aumento do crescimento vegetativo e, por-
tanto, de grande acréscimo populacional. Warren Thompson ainda especificou quatro
fases de transição: pré-moderna, moderna, industrial madura e pós-industrial.

Esquema dos Conceitos-chave


O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais importantes deste es-
tudo.
 

  ESPAÇO 

   MUNDIAL 

 
Desenvolvimento  Divisão 
 
geográfico  internacional 
  desigual  do trabalho 
  EUROPA 

  Diferentes 
formas e 
 possibilidades de  Diferenças físicas 
e territoriais 
  regionalização 
AMÉRICA 
ANGLO‐
SAXÔNICA  Desigualdades 
econômicas e 
Globalização   sociais 

OCEANIA E 
ANTÁRTIDA 

Exclusão de 
espaços e 
pessoas  

Integração aos fluxos 
internacionais de 
reprodução do 
capital 

Figura 1 Esquema dos conceitos-chave – Geografia Regional I.


© Caderno de Referência de Conteúdo 17

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os con-
teúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dis-
sertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões pode ser uma forma de você avaliar o seu
conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você
estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma ma-
neira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua
prática profissional.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só
a ela. Consulte, também, as bibliografias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte integrante dos conteúdos, ou seja,
elas não são meramente ilustrativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos estudados, pois relacio-
nar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo desta obra convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como pro-
cesso de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas,
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas
descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você obser-
va, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não
havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma forma-
ção conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do
tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem
o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de
Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de
produções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Co-
teje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às
videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são im-
portantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram
significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses pro-
cedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é parti-
cipar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

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18 © Geografia Regional I

Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este estudo, entre em contato
com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

3. referências bibliográficas
AB’SÁBER, A. N. Bases conceituais e papel do conhecimento na previsão de impactos. In: MÜLLER PLANTENBERG, C.; AB’SÁBER,
A. N. (Orgs). Previsão de impactos: o estudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul, experiências no Brasil, na Rússia e na
Alemanha. São Paulo: Edusp, 1998.
CORRÊA, R. L. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 2000.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 16. ed. São Paulo: Record, 2008.
Regionalização do Espaço
Mundial: Fundamentos
Teóricos e Históricos
1

1. Objetivos
• Entender os fundamentos teóricos da análise regional aplicada ao estudo do espaço
geográfico.
• Conhecer conceitos geográficos fundamentais para subsidiar a compreensão da regio-
nalização mundial.
• Identificar as diferentes formas de regionalização do espaço mundial.
• Compreender a construção das teorias geográficas relacionadas ao subdesenvolvimento.
• Entender a regionalização do espaço mundial no contexto das transformações econô-
micas e políticas do século 20.

2. Conteúdos
• Análise regional.
• Os conceitos de região e regionalização ao longo da história do pensamento geográfico.
• Diferentes concepções de regionalização nos estudos geográficos.
• Teorias do subdesenvolvimento.
• Desenvolvimento geográfico desigual.
• As regionalizações do espaço mundial no século 20.
20 © Geografia Regional I

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a se-
guir:
1) Antes de iniciarmos os estudos desta unidade, atente aos objetivos indicados. Você
notará que nossa preocupação principal será oferecer informações de forte caráter
reflexivo.
2) Tenha em mente que a diferenciação entre áreas não é resultado de fatores isolados.
A combinação diferenciada de múltiplos e complexos processos naturais, econômicos,
políticos e sociais é o que orienta a particularidade da organização espacial em deter-
minado momento histórico. Nesse sentido, a escala geográfica tem papel fundamen-
tal, pois a combinação desses elementos pode assumir diferentes formas, de acordo
com a unidade de análise: local, nacional ou global.
3) É importante que você saiba que uma expressão muito utilizada quando estudamos
os países denominados “subdesenvolvidos” é “Terceiro Mundo”. Segundo Fernandez
(1996, p. 5), ela apareceu pela primeira vez em 14 de agosto de 1952. De acordo com
a autora:
[...] surgiu num artigo da revista francesa L’ Observateur, intitulado, ‘Trois mondes, une planète’ (Três
Mundos, um só planeta), escrito pelo demógrafo francês Alfred Sauvy: ‘O que é o terceiro estado? Tudo.
O que foi ele até agora na ordem política? Nada. O que pode ele? Tornar-se alguma coisa dentro dessa
ordem. [...] Este Terceiro Mundo, ignorado explorado, desprezado como o terceiro estado, também
pode ser alguma coisa’. [...] Nascida assim, como um trocadilho jornalístico, lembrando as reivindica-
ções formuladas pelo terceiro estado às vésperas da Revolução francesa de 1789 a expressão foi aos
poucos abrindo caminho.
4) Para aprofundar o seu conhecimento sobre a aplicação do termo “subdesenvolvimen-
to” na Educação Básica, faça uma consulta aos livros didáticos de Geografia escritos
nas últimas décadas do século 20 e no início do século 21 e analise a importância e as
mudanças na utilização do termo.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Antes de iniciarmos nosso estudo, pense por um instante na imagem do mundo e nas
diversas relações que se desenvolvem e interagem em seu espaço. Que relações e limites terri-
toriais aparecem em sua construção mental? Como você os desenharia?
Dedique-se por alguns minutos a esse exercício. Se possível, faça anotações ou esboce um
desenho e reflita sobre o “seu mundo”. Quem ou quais informações condicionaram seu modo
de pensar e ver o mundo? Observe a Figura 1. Ela transmite uma ideia de mundo dinâmico que
temos hoje, espaços interligados por fluxos e redes virtuais de informações, capital, poder, entre
outros. A imagem foi elaborada por um funcionário do Facebook, mostrando as conexões entre
os usuários da rede social.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 21

Figura 1 Espaço de fluxos. Representação de um planeta interligado pela dinâmica de informações sociais (Facebook – 500 milhões
de usuários em dezembro de 2010).

Atividades simples, mas muito relevantes na ciência e na licenciatura (na verdade, em


qualquer atividade profissional), são a autoavaliação e a autocrítica de nossas ideias, posições e
postura diante dos problemas, sempre que estivermos na privilegiada condição de “formadores
de opinião”. Sociólogos e antropólogos compartilham o argumento de que o indivíduo é fruto do
ambiente em que vive, ou seja, absorvemos ao longo de nosso desenvolvimento um olhar social
para o mundo, tendencioso à cultura que nos rodeia. Ainda mantemos a tradição grega de julgar
como bárbaro tudo aquilo que não pertence à nossa cultura.
Somos bombardeados por princípios, costumes, culturas, ideias e informações inevita-
velmente subjugadas a um ponto de vista social, e isso obviamente se refletirá no modo que
vemos o “nosso mundo” e na maneira que julgamos o “mundo dos outros”! No entanto, quando
compreendemos os fatores que condicionam a nossa visão de mundo, temos a possibilidade do
crescimento pessoal.
Provavelmente, todos que visualizam mentalmente o mapa do mundo recorrem à divisão
entre porções de terras e águas e, sobre essa divisão, surgem localizações e limites de alguns
países, blocos de poder, regiões econômicas, culturais ou naturais, relações mercantis e sociais.
Mas de onde vem sua construção mental do mundo? O que se relaciona com os aspectos
naturais, o que é histórico ou socialmente construído?
Uma das questões-chave desta obra é a compreensão do espaço mundial. No decorrer de
nosso estudo, lançaremos mão de uma gama de conceitos e teorias geográficas capazes de nos
ajudar a construir e reconstruir mentalmente nosso mapa do mundo!
Dessa forma, vale ressaltar que um dos objetivos aqui propostos é fornecer os elementos
necessários para enriquecer nossa leitura geográfica do mundo atual, a fim de que entendamos
um pouco de sua dinâmica, bem como avancemos na discussão de alguns conceitos geográficos
essenciais para compreender a organização do espaço. Acreditamos que tais reflexões são es-
senciais para a construção do saber geográfico.
Para compreender o mundo, é comum dividi-lo em regiões que, embora sejam unidades
espaciais simplistas e genéricas, são parcelas coerentes que nos ajudam a entender uma totali-
dade.

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22 © Geografia Regional I

De acordo com Roberto Lobato Corrêa (2000), um dos estudiosos dedicados à investiga-
ção do conceito de região, a Geografia tem suas raízes na busca e na compreensão da diferen-
ciação de lugares, regiões, países e continentes, resultantes das relações humanas e naturais.
O autor destaca que se a superfície da Terra fosse homogênea e não houvesse diferença entre
as áreas, a Geografia não teria surgido. Portanto, região é um conceito-chave que devemos ter
bem definido antes de partir para a compreensão geográfica do espaço mundial.
A Geografia escolar tradicionalmente utiliza a regionalização em diversas escalas para es-
tudar o mundo. Portanto, é de extrema relevância que nós, professores e futuros professores,
compreendamos as diferenças entre as inúmeras formas de regionalização, e tentemos desven-
dar um pouco de suas ideologias.
As divisões podem se basear em critérios políticos, naturais, culturais ou econômicos.
Além disso, as diversas regionalizações do mundo retratam as necessidades sociais de épocas
específicas. Logo, podem tornar-se obsoletas perante novas relações de poder. Ou seja, as trans-
formações socioeconômicas e o desenvolver da História tendem a condicionar novas formas e
limites das regiões.
Por uma perspectiva mais específica, acrescentamos alguns elementos espaciais aos fatos
históricos, como o meio físico, que justificam ações políticas e sociais e nos permitem afirmar
que, para cada época histórica, houve distintas regionalizações do mundo, sempre prevalecen-
do aquela mais condizente com o pensamento geográfico dominante.
Dessa forma, buscaremos oferecer condições teóricas para a compreensão dos conceitos
de região e regionalização e como eles podem ajudar a compreender o espaço mundial, quais
são as regionalizações do mundo mais aceitas e, por fim, refletir qual seria a melhor forma de
regionalizar o mundo atualmente.

5. FUNDAMENTOS DA ANÁLISE REGIONAL NO DISCURSO GEOGRÁFICO


O processo de diferenciação de áreas não é um problema novo para a Geografia; ao con-
trário, ele constitui um dos pilares sobre os quais se construiu o discurso geográfico. Desde a sua
gênese, a Geografia tem, na diferenciação regional, um dos fundamentos metodológicos para a
compreensão do espaço geográfico.
Não foram raros os geógrafos que fizeram da diferenciação de áreas, fundamentados em
distintas bases teóricas, objeto e método da ciência geográfica. Haesbaert (1999) reconhece
em Vidal de La Blache, Carl Sauer e Richard Hartshorne a “paternidade” da região na Geografia.
Nessa lista, certamente poderíamos incluir o geógrafo alemão Alfred Hettner.
Segundo Gomes (1995), Hettner foi o maior defensor de uma geografia regional, como
síntese do trabalho geográfico. Entretanto, os conceitos de Hettner sobre a diferenciação de
áreas adquiriram maior projeção por meio dos escritos de Hartshorne.
O livro The Nature of Geography, publicado em 1939, é um marco epistemológico para a
Geografia, pois nele Hartshorne divulga amplamente os princípios da diferenciação de áreas, já
utilizados por Hettner. De acordo com Gomes (1995, p. 59):
Neste livro Hartshorne tenta demonstrar que desde Kant, passando por Humboldt e Ritter, a geografia
teria se caracterizado por ser o estudo das diferenças regionais. Este é, pois, o traço distintivo que marca
a natureza da geografia e a ele devemos nos ater. O método regional, ou seja, o ponto de vista de pro-
curar na distribuição dos fenômenos a caracterização das unidades regionais, é a particularidade que
identifica e diferencia a geografia das demais ciências.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 23

Os princípios de Hartshorne, ainda que não consensuais no debate acadêmico, contribuí-


ram para a afirmação de algumas categorias de análise, tais como: a semelhança, a similaridade,
a diferença, a identidade, o contraste e a variação, que, em seu entrelaçamento, conferiram ao
método geográfico uma especificidade (MOREIRA, 2008).
Esses princípios orientaram grande parte dos trabalhos geográficos, especialmente as mo-
nografias regionais, alicerçadas nos métodos empiricista e descritivo. Todavia, a partir da segun-
da metade do século 20, com as mudanças na ordem internacional e no pensamento geográfico,
período que caracterizou a própria crise da Geografia Clássica, a noção de “região” passou a
receber críticas e novos significados.
Uma das principais críticas referia-se à utilização da perspectiva regional-descritiva e à cen-
tralidade em fatos excepcionais, que “[...] se limitava à descrição, sem procurar estabelecer rela-
ções, análises e correlações entre os fatos” (GOMES, 1995, p. 62). Era, portanto, necessário uma
reconceituação de “região” pela Geografia.
Nesse processo, Gomes (1995, p. 63) explica que “[...] a região passa a ser um meio e não
mais um produto”; dessa forma, o método regional que apresentava um fim em si mesmo é
substituído pela análise regional.
Ainda segundo Gomes (1995, p. 63):
Nessa abordagem a região é uma classe de área, fruto de uma classificação geral que divide o espaço,
segundo critérios ou variáveis arbitrários que possuem justificativa no julgamento de sua relevância
para uma certa explicação.

A partir de então, diferentes correntes teóricas utilizaram a análise regional com diversas fi-
nalidades, dentre elas, a Geografia Quantitativa, aplicando métodos estatísticos para compreen-
der a funcionalidade do espaço geográfico; a Geografia Crítica, utilizando a análise regional, mas
inserindo um novo conteúdo, no qual se entendia a diferenciação do espaço como produto da
divisão social e territorial do trabalho, gestadas a partir das contradições do capitalismo. Além
disso, tivemos a inserção de novos temas de estudo, tais como a questão da identidade regional
e dos movimentos regionalistas pela Geografia Humanista.
Em síntese, a regionalização tornou-se um processo-chave para a Geografia, apesar das
suas diferenças históricas e da base teórica e metodológica utilizada para entender a realidade
(DUARTE, 1980).
Para Corrêa (2000), todos esses conceitos podem ser utilizados pelos geógrafos porque
são meios para se conhecer a realidade, quer num aspecto espacial específico, quer numa di-
mensão totalizante.
No próximo tópico, são apresentadas diferentes noções de regionalização. Acompanhe.

6. Diferentes formas de regionalização


Segundo Duarte (1980) e Gomes (1995), os processos de regionalização podem ser classi-
ficados em:
1) Diferenciação de áreas.
2) Classificação.
3) Instrumento de ação.
4) Processo.
5) Identificação do espaço vivido.

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24 © Geografia Regional I

É importante considerar que os diferentes conceitos coexistem no tempo (e algumas vezes


até no espaço) e também que cada uma das noções de regionalização se identificam com uma
corrente do pensamento geográfico. Portanto, para melhor compreendê-las, é importante ter-
mos clara a evolução do pensamento geográfico.
A seguir, vejamos sobre cada uma das diferentes noções de regionalização.

Região como diferenciação de áreas


Essa abordagem está ligada à noção tradicional de paisagem geográfica e de síntese re-
gional. Autores como Vidal de La Blache, na França, Hettner, na Alemanha, e Herberson, na
Grã-Bretanha, produziram inúmeros estudos monográficos regionais com base na descrição (de-
nominada método regional) entre o final do século 19 e as três primeiras décadas do século 20.
Regionalizar sob a perspectiva dessa abordagem é identificar diferentes escalas caracteri-
zadas por diferentes paisagens na superfície terrestre. Max Sorre (1957) explicita a relação entre
regionalização e paisagem ao definir região como área ou extensão da paisagem geográfica.
Metodologicamente, o conceito de regionalização nesta abordagem consiste em subdividir um
espaço maior em subespaços, ou seja, regiões complexas, com alta coesão dos elementos que
a definem.
Inicialmente, prevaleceram trabalhos que enfatizavam o conceito de região natural sob a
perspectiva do determinismo geográfico, em que predominava a ideia de que o ambiente natu-
ral se impõe à orientação e desenvolvimento da sociedade.
Contrariando tal postura, desenvolveram-se trabalhos sob a perspectiva possibilista, se-
gundo a qual a natureza pode influenciar e moldar gêneros de vida, mas é sempre a sociedade
– seu nível de cultura, educação e civilização – que tem a responsabilidade da escolha.
Nesse contexto, a região é definida como resultado da intervenção humana em determi-
nado ambiente, podendo identificar os traços distintivos responsáveis pela unidade regional,
que podem ser o clima, a morfologia, ou qualquer outro elemento (GOMES, 1995).
Duarte (1980) afirma que considerar a regionalização apenas uma diferenciação de área
implica considerar o espaço total como a somatória das partes (ou seja, das regiões). No en-
tanto, o princípio da diferenciação de áreas não é substituído pelas posteriores concepções de
região, ele está sempre presente, podendo ser considerado objetivo final da própria Geografia.

Região como classificação


Essa abordagem conceitual se desenvolveu com o movimento das técnicas quantitativas e
as teorias de postura neopositivistas difundidas a partir da década de 1960. Duas características
a definem: a analogia entre regionalização e os princípios de classificação e a utilização de mé-
todos quantitativos na metodologia operacional.
Para Grigg (1974), um dos primeiros estudiosos a sistematizar essa concepção, o propó-
sito da classificação é o de dar ordem aos objetos estudados, sistematizar informações, fazer
generalizações indutivas, conferindo a ela uma precisão científica que não existia nos estudos
regionais tradicionais.
Destacam-se dois conceitos para definir os meios de regionalização:
• Sintética: na qual os indivíduos semelhantes são agrupados em classes.
• Analítica: na qual a divisão das áreas é feita a partir de métodos dedutivos, em que as
características definidas a priori vão orientar o processo.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 25

A definição dos atributos, então, dependerá dos propósitos da regionalização.


Dessa forma, há regiões homogêneas agrícolas, regiões funcionais urbanas, regiões admi-
nistrativas etc. A região pode ser conceituada como classe de área, o espaço é visto como uma
totalidade, e as hierarquias regionais são consideradas escalas em que se verifica mudança na
acurácia da classificação. Sob o ponto de vista do método de investigação, essa é uma aborda-
gem analítico-formal (DUARTE, 1980).

Regionalização como instrumento de ação


As décadas de 1950 e 1960 foram marcadas pelas teorias econômicas de desenvolvimento
regional e de regionalização, que se preocupavam com as desigualdades espaciais do desenvol-
vimento econômico. Nesse período, o planejamento regional destaca-se, enquanto as estraté-
gias para a política de desenvolvimento econômico e os estudos geográficos foram estimulados
pela ideologia desenvolvimentista.
A regionalização passou a ser considerada um instrumento de ação e tornou-se um estudo
interdisciplinar. O papel do geógrafo, então, seria fundamental, mas não exclusivo.
O conceito de região passou a se referir a qualquer unidade espacial definida segundo
atributos homogêneos ou funcionais selecionados e conforme o propósito da regionalização;
porém, destaca-se como sinônimo de espaço econômico. A região funcional é a região polariza-
da. Identifica-se com a teoria dos polos de desenvolvimento e expressa relações entre áreas, por
meio de fluxos e movimentos.
A região homogênea encerra-se como a área na qual se identificam semelhanças essen-
ciais de algumas características ou variedade econômica, em que se podem ter tantas regiões
quantas forem as características selecionadas. Ou seja, configura-se como econômica e centra-
da em um polo de desenvolvimento. O espaço total não é considerado uma unidade. Qualquer
espaço, independentemente de sua escala e de sua organização político-institucional, precisava
ser dividido em subespaços ou regiões, que, por sua vez, seriam submetidos a estratégias de
desenvolvimento.
Essa abordagem foi bastante criticada por enfatizar o pragmatismo em detrimento das
contribuições teóricas e conceituais (DUARTE, 1980).

Regionalização como processo


A partir da análise geográfica das desigualdades regionais do desenvolvimento econômico
nos países do Terceiro Mundo, constatou-se que as diferenças regionais resultavam de proces-
sos sociais e econômicos que ocorriam em determinado espaço nacional e eram reflexos de
relações ocorridas em nível internacional. Essas constatações determinaram a revisão das abor-
dagens teórico-metodológicas vigentes na temática regional (DUARTE, 1980).
Gomes (1995) afirma que a corrente geográfica denominada geografia radical ou crítica,
desenvolvida a partir da década de 1970, argumentava que a diferenciação do espaço se deve
à divisão territorial do trabalho e ao processo de acumulação capitalista que produz e distingue
espacialmente possuidores de despossuídos.
Sob este enfoque, as regiões passam a ser consideradas unidades espaciais em diferentes
níveis de desenvolvimento ou modernização, que se relacionam entre si, dentro de uma organi-
cidade global. As relações entre as regiões que expressam o estado do processo de desenvolvi-
mento se destacam como os elementos mais importantes na regionalização.

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26 © Geografia Regional I

Ao contrário das abordagens anteriores, esta privilegia mais as relações entre espaços
regionais do que entre espaços de uma região e seu centro. As regiões apresentam funções
específicas na funcionalidade total do espaço. A teoria sistêmica contribuiu nessa abordagem
epistemológica. Sob o enfoque sistêmico, o conceito de região era como um subsistema, e o
espaço total era o sistema regional.
Essa concepção foi um avanço teórico-metodológico nos conceitos anteriores, especial-
mente por conceituar a totalidade espacial e as relações das regiões entre si e com o todo.
Mais do que um método para identificar regiões, a regionalização passa a ser conceituada
como processo de sua formação.

Regionalização como identificação do espaço vivido


Em meados da década de 1970, observou-se a ascensão da corrente humanista da Geo-
grafia (Geografia da Percepção), que buscou revalorizar a dimensão regional por meio de alguns
elementos como consciência regional, sentimento de pertencimento, mentalidades regionais.
Os defensores desse pensamento retomaram a dimensão regional como espaço vivido. Nesse
sentido, a região existe como um quadro de referência na consciência das sociedades e estabe-
lece um código social comum que tem uma base territorial bem definida.
Dessa forma, a regionalização e a análise regional a partir de critérios externos ao cotidia-
no e cultura da sociedade são descartadas, e considera-se que, para compreender a região, é
preciso vivenciá-la. Portanto, a regionalização deve se basear em descrições detalhadas, obtidas
mediante um contato direto e prolongado com a realidade (GOMES, 1995).
De acordo com Fremont (apud GOMES, 1995, p. 69-70):
A região é concebida como uma realidade auto evidente, fisicamente construída, seus limites são, pois,
permanentes e definem um quadro de referência fixo percebido muito mais pelo sentimento, de iden-
tidade e de pertencimento, do que pela lógica.

Trata-se de uma dimensão espacial das especificidades sociais em uma totalidade espaço-
social (GOMES, 1995).
Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006) afirmam que a regionalização pode ser concebida
como um recorte espacial coerente dentro de determinados princípios ou características, ou
como um espaço determinado por processos sociais específicos, especialmente os regionalis-
mos (políticos) e as identidades culturais (regionais).
Com base nessa afirmação, se você retomar a leitura das concepções de regionalização,
perceberá que há um grupo que se caracteriza pela concepção de regionalização enquanto dis-
tinção de áreas, classificação ou instrumento de ação. No outro grupo estão as concepções de
regionalização enquanto processo e identificação do espaço vivido. Em resumo, no primeiro
grupo, prevalece o princípio de regionalizar para compreender e, no segundo, o princípio de
compreender para regionalizar.

7. Regionalizações globais e origem da divisão Norte-Sul


Agora que já vimos um pouco sobre os conceitos região e regionalização, buscaremos
compreender as principais propostas de regionalizações do planeta.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 27

Continentes fisiográficos
A regionalização mais conhecida é a separação do mundo em continentes, que se baseia
em critérios naturais e foi feita a partir da distinção entre porções de água e terra. A definição
dos limites dessa regionalização tem por critério os processos geológicos de milhões de anos,
que configuraram os conhecidos continentes fisiográficos: América, Eurásia, África e Oceania.
Como sabemos, há centenas de milhões de anos, todos os continentes formavam um só
bloco, denominado Pangeia (do grego pan = toda e geo = terra). Com o movimento das placas
tectônicas, a Pangeia dividiu-se em duas partes: Gondwana e Laurásia. Posteriormente, essas
partes foram fragmentadas até atingir a distribuição atual.
É sob a perspectiva da Geografia Tradicional (positivista), carregada, ora de um empiris-
mo mais descritivo, ora de uma lógica determinística pautada na sobrevalorização do ambiente
físico e natural, que a regionalização por continentes foi enfatizada (HAERBAERT; PORTO-GON-
ÇALVES, 2006).
Nessa proposta de regionalização, a estabilidade dos limites é uma das principais carac-
terísticas, uma vez que suas alterações não são imperceptíveis dentro da vivência de tempo do
homem. Mas, como para toda regra há exceção, o homem, na tentativa de superar os limites
impostos pela natureza, buscou também alterar os limites dos continentes, na maioria das ve-
zes, com fins econômicos.
Nesse contexto, destaca-se a construção do Canal de Suez, em 1869, interligando o Medi-
terrâneo ao Mar Vermelho e ao Oceano Índico. Isso representou, nas palavras de Magnoli (1997,
p. 10): “[...] a capacidade humana de refazer o desenho dos continentes e das rotas marítimas”.
Podemos citar, também, o Canal do Panamá (Figura 2), inaugurado em 1914, que liga o
Oceano Pacífico ao Atlântico, e a recente construção de ilhas artificiais em Dubai (Figura 3), nos
Emirados Árabes Unidos, que atrai turistas do mundo todo.

Figura 2 Dubai. Figura 3 Canal do Panamá.

Esta regionalização, como já dissemos, é a que estrutura este estudo. Nesse sentido, é ne-
cessário apontar que, apesar de reconhecermos seus limites e os ranços positivistas ainda pre-

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28 © Geografia Regional I

sentes nesta forma de regionalização, que inclusive perpassam para os livros didáticos distribuí-
dos para a Educação Básica em todo o país, a proposta não é se ater à descrição dos elementos
físicos, econômicos e populacionais de cada área, mas, utilizando-se deles, analisá-los em uma
perspectiva crítica, objetivando entender o espaço geográfico enquanto totalidade.
Nesse sentido, o conceito de "espaço total" formulado pelo professor Ab'Sáber mostra-
nos a importância de entender que a estrutura espacial é feita por ações humanas sobre um es-
paço herdado da natureza. Esse conceito, apresentado pelo geógrafo em 1998, é definido como:
[...] o arranjo e o perfil adquiridos por uma determinada área em função da organização que lhe foi
imposta ao longo dos tempos. Neste sentido pressupõe um entendimento – na conjuntura do presen-
te – de todas as implantações cumulativas realizadas por ações, construções e atividades antrópicas
(AB'SÁBER, 1998, p. 30).

Assim, se os limites naturais do globo terrestre não são suficientes para compreender o
espaço mundial, eles também não devem ser ignorados. Da mesma forma, são importantes as
faixas climáticas, os biomas, os solos, o relevo, a hidrografia e outros elementos e características
do meio físico e natural.
O que podemos concluir com a avaliação do conceito de espaço total é que, para ser com-
preendido em sua totalidade, o espaço mundial deve ser analisado mediante uma visão integra-
da desses elementos (atributos físicos e naturais) e sua interação com os elementos antrópicos.

Regionalizações políticas e econômicas


Ainda com relação ao conceito de espaço total, vamos enfatizar os aspectos relacionados
ao que Christofoletti (1999) denomina “ações, construções e atividades antrópicas”, ou seja, a
atuação humana sobre o meio natural.
Nessa perspectiva, para compreender o espaço mundial, a cultura, a política e a economia
são elementos indispensáveis, uma vez que, ao mesmo tempo em que determinam as formas
da relação sociedade e natureza, são construções decorrentes dessa relação. Considerando o
espaço mundial, enfatizaremos a perspectiva política e econômica, aspectos inseparáveis de
uma única realidade, responsáveis por sua configuração em diferentes tempos históricos.
É importante, então, compreender a divisão do mundo em Estados-Nações, uma invenção
histórica europeia generalizada para o mundo devido ao colonialismo e ao imperialismo. Sua
origem foi na Europa renascentista, quando as monarquias absolutas empreenderam a centra-
lização do poder político, destruindo os particularismos feudais. As terras do reino, submetidas
aos poderes locais, passaram ao domínio dos monarcas, as fronteiras políticas tornaram-se mais
precisas, as sedes dos poderes fixaram-se em capitais permanentes. Inventou-se, assim, a “so-
berania”, que pode ser definida como o “[...] exercício do poder político sobre um espaço geo-
gráfico delimitado por fronteiras” (MAGNOLI, 1997, p. 39-40).
A estreita relação entre o surgimento do Estado-Nação e o desenvolvimento do conceito
de região é também destacada por Gomes (1995). Para ele, tal conceito tem implicações funda-
doras no campo das discussões políticas, da dinâmica do Estado, da organização da cultura e do
estatuto da diversidade espacial.
Além disso, considera que o debate sobre a região (ou seus correlatos como nação) possui
um componente espacial, ou seja, o viés na discussão desses temas, da política, da cultura e das
atividades econômicas está relacionado especificamente às projeções no espaço das noções de
autonomia, soberania, direitos etc.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 29

Gomes (1995) fala de nação como correlato de região, o que significa que os limites das
nações são, em origem, limites regionais. Tão marcante foi essa relação que, em qualquer re-
gionalização do mundo, o Estado-Nação é um dos principais pontos de partida (HAESBAERT;
PORTO-GONÇALVES, 2006).
A regionalização do espaço mundial pela perspectiva política e econômica normalmente
está vinculada: à ordem internacional; ao equilíbrio instável dos países e grupos; à disputa (ou
cooperação) entre as grandes potências mundiais características de um certo período histórico.
Para compreender a oscilação na ordem internacional, retomemos o século 20: a Inglater-
ra, grande potência mundial na ordem monopolar da segunda metade do século 18, viveu seu
declínio no fim do século 19, o que fez com que se multiplicassem os embates pela hegemonia
mundial.
A partir de então, vigorou uma ordem mundial multipolar, ou seja, com base em vários
polos ou centros de poder que disputavam a hegemonia internacional. Foi um período marcado
por acirradas disputas territoriais, mercados e recursos na África, Ásia e Europa, propiciando um
clima pré-guerra.
Nesse período, inúmeros pensadores dedicaram-se a tarefa de compreender o equilíbrio
das forças no espaço mundial e as condições que levariam determinado Estado-Nação à situa-
ção de grande potência. Segundo esses estudiosos, o fundamental para a época era a quantida-
de de recursos – mercados, povos (mão de obra e soldados), solos agriculturáveis, minérios. A
expansão territorial e o controle dos espaços configuravam-se, portanto, como formas capazes
de fortalecer e tornar hegemônico um Estado (VESENTINI, 2005).
A Figura 4 traz um mapa que representa a ordem internacional no fim desse período, que
terminou com a Segunda Guerra Mundial. Ele retrata as conquistas territoriais das potências
mundiais do mundo multipolar, ou seja, indica a distribuição territorial do domínio europeu,
materializado em suas colônias.

Figura 4 Mundo multipolar – 1945.

No fim da Grande Guerra, as potências europeias estavam arrasadas e, consequentemen-


te, seus impérios na Ásia e na África. O Japão, igualmente arrasado, perdeu as áreas que havia
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30 © Geografia Regional I

conquistado no Extremo Oriente. Duas novas potências mundiais – Estados Unidos e União So-
viética – destacaram-se no cenário mundial e dividiram o mundo entre si. Foi a época da bipo-
laridade, que durou cerca de 45 anos (desde o fim da Segunda Guerra até meados de 1991). O
período foi marcado pela disputa entre a economia de mercado, representada pelos Estados
Unidos, e a economia estatal, simbolizada pela União Soviética.
Para esclarecer a nova organização econômica e sociopolítica do Planeta, formulou-se a
divisão do sistema internacional nas três macroáreas, como aponta Magnoli (1996):
• Primeiro Mundo: países que, tendo realizado a Segunda Revolução Industrial, dispu-
nham de parque industrial complexo, formado pelos setores de produção de bens de
capital e bens de consumo duráveis. Englobava os aliados políticos dos Estados Unidos
– líder político do Oriente/Oeste – na Europa, América e Pacífico.
• Segundo Mundo: correspondia à União Soviética e sua zona de influência no Leste
europeu. Abrigava os países que optaram pela modernização acelerada com base no
monopólio estatal dos meios de produção e na planificação central da alocação de re-
cursos.
• Terceiro Mundo: países que não acompanharam a arrancada industrial, cuja economia
dependia da produção de bens primários, agrominerais. Apresentavam fraca urbaniza-
ção, concentração demográfica no meio rural, elevado crescimento vegetativo e alar-
mantes índices de pobreza.
O mapa da Figura 5 apresenta a regionalização conforme essa organização econômica e
sociopolítica. Observe.

Primeiro Mundo

Segundo Mundo

Terceiro Mundo

Figura 5 Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo.

Nesse período, utilizam-se, também, as divisões do mundo em Leste/Oeste e em Norte/


Sul. A expressão Leste/Oeste, como aponta Magnoli (1996), refletia a ruptura da economia mun-
dial em sistemas econômicos contrapostos e o isolamento acentuado dos países socialistas em
relação aos fluxos internacionais de capitais e mercadorias. Refletia, ainda, a rivalidade geopolí-
tica das superpotências nucleares e a constituição de esferas diplomáticas e militares.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 31

Já a tensão Norte/Sul estava relacionada com as relações entre o Primeiro e o Terceiro


Mundo, que refletiam a subordinação econômica derivada da distribuição desigual do capital e
da tecnologia.
Podemos, portanto, ler a expressão Leste/Oeste como uma oposição entre sistemas eco-
nômicos e políticos, ou seja, Capitalismo versus Socialismo, e a expressão Norte/Sul como uma
oposição em termos econômicos que expressa apenas diferenças no nível de desenvolvimento
dos países de economia capitalista, ou seja: países capitalistas desenvolvidos versus subdesen-
volvidos.
A noção de subdesenvolvimento inclusive adquiriu grande destaque no pensamento geo-
gráfico a partir da segunda metade do século 20, por isso, a importância de compreendê-la.

8. O SUBDESENVOLVIMENTO
Desde a publicação do livro Geografia do Subdesenvolvimento, na década de 1960, por
Yves Lacoste, a noção de subdesenvolvimento passou a ser objeto de discussão, de defesas e
de críticas no debate acadêmico, mas também passou a ser amplamente utilizada nos bancos
escolares.
Portanto, o surgimento do termo “subdesenvolvimento” é recente e está ligado à am-
pliação do conhecimento do mundo pelo processo de expansão capitalista Pós Segunda Guerra
Mundial. De acordo com Lacoste (1966, p. 12):
A aparição do conceito de subdesenvolvimento é contemporânea de duas das maiores descobertas das
ciências econômicas e humanas. Esta coincidência está longe de ser um acaso. A primeira descoberta
foi a de um fenômeno muito antigo: a miséria e a fome. A segunda foi a de um fenômeno completamen-
te novo: o extraordinário aumento da população mundial a partir do começo do século XX.

A combinação desses dois fatores motivou os debates acadêmicos, bem como os políticos,
em face da ameaça que poderia representar a estrutura de poder vigente capitalista no seu em-
bate com as ideias socialistas.
Assim, como explica Furtado (2000, p. 25), ao discutir as ideias de desenvolvimento esta-
belecidas no seio dessas relações:
Mais do que um tema acadêmico, essa reflexão foi alimentada pelo debate político nascido das grandes
transformações produzidas pela Segunda Guerra Mundial, tais como o desmantelamento, das estru-
turas coloniais e a emergência de novas formas de hegemonia internacional fundadas no controle da
tecnologia e da informação e na manipulação ideológica.

Nesses debates acadêmicos e políticos, houve, de um modo geral, a prevalência de duas


tendências teóricas na explicação do subdesenvolvimento. De um lado, as diversas instituições
internacionais (ONU, FMI, Banco Mundial, CEPAL) e os seus teóricos, que entendiam o subde-
senvolvimento como uma fase, um estágio para alcançar o desenvolvimento e, do outro, au-
tores e políticos mais críticos, que compreendiam o subdesenvolvimento como um produto
contraditório do desenvolvimento capitalista.
Na primeira visão, com uma perspectiva evolucionista, os países pobres estariam em uma
situação transitória de miséria, que seria superada a partir da repetição dos mesmos processos
que levaram os países ricos a se tornarem desenvolvidos. Deriva disso, também, a aplicação do
termo “países em desenvolvimento”, comum aos relatórios de instituições multilaterais e inter-
nacionais.

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32 © Geografia Regional I

Já na segunda, conforme afirma o geógrafo brasileiro Josué de Castro (1973, p. 2):


O subdesenvolvimento não é, como muitos pensam equivocadamente, insuficiência ou ausência de
desenvolvimento. O subdesenvolvimento é um produto ou um subproduto do desenvolvimento, uma
derivação inevitável da exploração econômica colonial ou neocolonial, que continua se exercendo sobre
diversas regiões do planeta.

Para Celso Furtado (2000, p. 28, grifos do autor), outra importante referência ao estudo
do subdesenvolvimento:
A formação do sistema econômico mundial apoiou-se, assim, tanto no processo de transformação das
estruturas sociais como no processo de modernização do estilo de vida. Desenvolvimento e subdesen-
volvimento, como expressão das estruturas sociais, viriam a ser resultantes da prevalência de um ou
outro desses dois processos. Cabe, portanto, considerar subdesenvolvimento e desenvolvimento como
situações históricas distintas, mas derivadas de um mesmo impulso inicial e tendendo a reforçar-se mu-
tuamente [...]. Portanto, para compreender as causas da persistência histórica do subdesenvolvimento,
faz-se necessário observá-lo como parte que é de um todo em movimento, como expressão da dinâmi-
ca do sistema econômico mundial engendrado pelo capitalismo industrial.

Dessa forma, como afirma Gomes (1987-1988, p. 39), “[...] jamais podemos dissociar dois
componentes, tendo em vista que um – o desenvolvimento capitalista – é causa determinante
do outro – o subdesenvolvimento capitalista”. Essas formulações contribuíram para compreen-
der o desenvolvimento do espaço geográfico como um processo desigual e contraditório.
Por sua vez, Theis (2009, p. 249) explica que:
[...] a co-existência, simultânea e dinâmica, de espaços mais desenvolvidos e menos desenvolvidos é o
resultado do desenvolvimento geográfico desigual. Mas, também, é condição para o processo de con-
tinuada valorização do capital.

Os processos de valorização do capital tendem a uma concentração econômica e espacial,


potencializando as diferenças regionais; todavia, a seletividade e a circulação acelerada dos ca-
pitais criam possibilidades de mudanças para áreas restritas.
Ainda segundo o autor:
De qualquer maneira, desses processos de centralização e dispersão resulta uma paisagem geográfica
em constante mudança. Regiões bem-sucedidas são espaços nos quais a economia tende a crescer e a
sociedade a se tornar mais rica; regiões perdedoras, em contrapartida, constituem espaços nos quais o
processo de acumulação parece estar travado e sua sociedade, em consequência, parece empobrecer
além da pobreza herdada. De fato, regiões bem-sucedidas e regiões perdedoras conformam a paisagem
do capitalismo mundializado, expressão concreta do desenvolvimento geográfico desigual. O capital ig-
nora os espaços em que as perspectivas de lucro são baixas e, por entre as diversas escalas, se move em
direção aos espaços em que as perspectivas de lucro são as mais altas. Daí que regiões perdedoras de
ontem podem ser as que propiciem melhores condições de valorização para o capital amanhã (THEIS,
2009, p. 249, grifos do autor).

Essas condições tornam a noção de desenvolvimento geográfico desigual, o qual é um


importante instrumento teórico para entendermos a desigualdade espacial manifestada na pai-
sagem e a produção do subdesenvolvimento. Contudo, uma questão importante ainda perma-
nece: quais são os elementos que caracterizam o subdesenvolvimento?
Vejamos a seguir.

Características do subdesenvolvimento: primeiras definições


A expansão desigual do capitalismo pelo mundo e as suas particularidades de inserção em
cada país dificulta a criação de uma definição consensual para o subdesenvolvimento. Ao longo
do tempo, as mudanças econômicas e sociais transformaram o espaço geográfico e exigiram
mudanças teóricas e critérios diferençados para a classificação dos países.
Lacoste (1970, p. 9) já alertava que um “[...] dos traços mais importantes do fenômeno do
subdesenvolvimento é sua complexidade, a superposição de sintomas sociológicos e econômi-
cos e o emaranhado de suas interações”.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 33

Além disso, segundo Lacoste (1966, p. 17-18):


A definição de subdesenvolvimento fenômeno global, situação complexa, só pode ser entendida, to-
mando-se em consideração, não somente um único critério, nem um único fator (por mais significativo
que seja, como a fome), mas uma combinação de fatores maiores.

Por isso, diversas são as combinações, e diferentes podem ser os critérios de classificação
dos países subdesenvolvidos.
Yves Lacoste (1966-1970) propôs uma classificação dos países com base nos seguintes
critérios:
1) Insuficiência alimentar.
2) Recursos negligenciados ou desperdiçados.
3) Grande número de agricultores de baixa produtividade.
4) Industrialização restrita e incompleta.
5) Hipertrofia e parasitismo do setor terciário.
6) Situação de subordinação econômica.
7) Violentas desigualdades sociais.
8) Estruturas tradicionais deslocadas.
9) Ampliação das formas de subemprego e trabalho das crianças.
10) Baixa integração nacional.
11) Graves deficiências das populações.
12) Aumento do crescimento demográfico.
13) Lento crescimento dos recursos de que dispõem, efetivamente, as populações.
14) Tomada de consciência e uma situação em plena evolução.
Já Gomes (1987-1988, p. 39) defende que, para caracterizar o subdesenvolvimento, há de
existir, nos espaços nacionais:
[...] estruturas políticas subdesenvolvidas corruptas, corruptíveis e subservientes; comunidades
atrasadas, dotadas de baixo nível de consciência política, portanto, acríticas e alienadas do processo
histórico transformador; abundante potencial de recursos naturais renováveis e não renováveis, e de
matérias-primas existentes no meio geográfico do mundo subdesenvolvido; elevada mão-de-obra
disponível submetida a baixos salários, etc.

Em síntese, poderíamos dizer que o subdesenvolvimento é caracterizado por uma situação


econômica e social na qual predominam a dependência econômica e a grande desigualdade
social, ambas oriundas de processos históricos que criaram um abismo entre ricos e pobres.
A Figura 6 apresenta a divisão característica entre o mundo subdesenvolvido e o mundo
desenvolvido, ou, ainda, países do Norte e países do Sul.

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34 © Geografia Regional I

Figura 6 Países do Norte e países do Sul.

Os critérios elencados por Lacoste (1966-1970) e Gomes (1987-1988) para caracterizar o


subdesenvolvimento são produto de um determinado momento histórico, o qual era marcado
pela expansão das relações capitalistas pelo mundo e pela transição de uma população rural
para a cidade, impulsionada pelos processos de industrialização.
Assim, durante a Guerra Fria, a discussão sobre desenvolvimento versus subdesenvolvi-
mento ou o correspondente conflito Norte versus Sul, bem como a regionalização em países
de primeiro, segundo e terceiro mundo acabou dominando os debates e embates teóricos no
campo da Geografia.
Contudo, na década de 1990, essa classificação, também conhecida como Teoria dos Mun-
dos, perdeu muito seu sentido devido ao fim da oposição entre países socialistas e capitalistas,
simbolizado pela queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Além disso, como apon-
tam Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006), percebeu-se que essa separação era muito mais de
ordem militar e ideológica do que propriamente político-econômica, visto que a maioria dos
países socialistas (Segundo Mundo) reproduzia uma espécie de capitalismo de Estado, e a indus-
trialização não era mais um elemento que diferenciava claramente países de Primeiro e Terceiro
Mundo.
É nesse momento que “[...] o muro Leste-Oeste sucumbe, ao mesmo tempo em que novos
muros Norte-Sul se levantam” (HAESBAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 9). Essa frase destaca
o simbolismo da queda do muro de Berlim como marco do fim da Guerra Fria e início de outro
período em que a palavra de ordem é globalização, e a regionalização do mundo passa a ser
mais bem expressa pela divisão entre ricos e pobres.
Segundo Magnoli (1996), a nova ordem mundial, mediante a revolução técnico-científica
dos países de Primeiro Mundo, aponta duas tendências em vigor:
• A tendência à globalização do mercado, que estimula os fluxos internacionais de mer-
cadorias e investimentos, atuando para eliminar entraves à competição no espaço
mundial.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 35

• A tendência à regionalização dos mercados, que atua na busca por erguer barreiras
protetoras, consolidando megablocos que se enfrentam em disputas comerciais e fi-
nanceiras.
Nesse cenário da globalização, a atuação do Estado-Nação é motivo de controvérsias entre
estudiosos. Alguns acreditam que o Estado-Nação tende a ocupar um lugar marginal na política
internacional, enquanto outros julgam que o Estado-Nação vai se fortalecer, pois, posicionado
no interior da economia mundial, pode escolher políticas capazes de moldar o próprio processo
de globalização.
Considerando esse contexto, em que também prevalece a ideia de uma economia unifica-
da e da dinâmica cultural sustentadas pela ação da globalização, Gomes (1995) indica que uma
sociedade só pode ser compreendida no processo de reprodução social global. Seria a globaliza-
ção, portanto, o fim da diferenciação das áreas do globo e, consequentemente, o fim da região?
A essa questão Santos (1999, p. 16) responde que:
A região continua a existir, mas com um nível de complexidade jamais visto pelo homem. Agora, ne-
nhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é,
individualização e regionalização.

Essas mudanças derivadas dos processos de globalização levaram alguns autores a procla-
mar o fim da região. Entretanto, como esclarece Gomes (1995, p. 72):
A tão decantada globalização parece concretamente não ter conseguido suprimir a diversidade espa-
cial, talvez nem a tenha diminuído. Se hoje o capitalismo se ampara em uma economia mundial não
quer dizer que haja uma homogeneidade resultante desta ação. Este argumento parece tanto mais
válido quanto vemos que o regionalismo, ou seja, a consciência da diversidade continua a se manifestar
por todos os lados.

Segundo essa versão, os movimentos regionais ou regionalistas são, em geral, movimen-


tos de resistência à homogeneização, movimentos de defesa das diferenças (GOMES, 1995).
No entanto, sua lógica também produz diferenciações, segrega e exclui, como apontam
Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006, p. 38):
À medida que parece organizar-se gradativamente uma espécie de “território-mundo” globalmente
articulado, o capitalismo se reproduz contraditoriamente e, sobretudo, difunde as desigualdades, apro-
priando-se ou mesmo produzindo a diferenciação, a fim de expandir a lógica mercantil que lhe é ine-
rente.

Apesar de toda a pretensa homogeneização promovida pelos processos de globalização,


ainda é possível delimitar claramente enormes espaços relativamente à margem das benesses
da globalização, e outros extremamente privilegiados, enquanto ainda há os que podem ser
vistos como potências.
No contexto da globalização, uma potência mundial é um Estado (ou uma confederação,
como a União Europeia) que possui tecnologia moderna e força qualificada de trabalho (e pres-
supõe elevado nível de escolaridade), e não aquele que possui basicamente um grande territó-
rio, boa estratégia militar e armamentos pesados (VESENTINI, 2005).
Se tomarmos essa concepção de potência mundial da atualidade, notaremos que, via de
regra, essas potências ocupam o Hemisfério Norte e, portanto, a divisão Norte-Sul ainda é uma
possibilidade de compreender a organização do mundo atual, ainda que seja importante des-
tacar que essa divisão não é absoluta devido às transformações constantes na economia atual.
Portanto, regionalizar mediante critérios político-econômicos no contexto da globalização
é uma tarefa bastante complexa. Quais seriam, então, os fundamentos dos processos de regio-
nalização na atualidade?

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36 © Geografia Regional I

Para Haesbaert (1999, p. 32), o processo de regionalização na atualidade deve considerar:


[...] o grau de complexidade muito maior na definição dos recortes regionais, atravessados por diversos
agentes sociais que atuam em múltiplas escalas; a mutabilidade muito mais intensa que altera mais
rapidamente a coerência ou a coesão regional; a inserção da região em processos concomitantes de
globalização e fragmentação.

Além disso, Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006), apontam a importância de observar


algumas divisões que se institucionalizaram: os Estados-Nações, as grandes organizações ou
blocos econômicos e as relações centro-periferia, ou simplesmente Norte-Sul, considerando a
complexidade dessa relação na atualidade.
Ainda sob a perspectiva da globalização, surgem algumas propostas de regionalização do
mundo. Entre essas propostas, destaca-se a de Castells (1999). O autor afirma que a economia
global apresenta diferenciações que podem ser representadas por três regiões principais e suas
áreas de influência: a América do Norte; a União Europeia e a região do Pacífico asiático, concen-
trada em torno do Japão, mas com peso crescente da Coreia do Sul, Indonésia, Taiwan, Cingapu-
ra e China. Em torno do triângulo de riqueza, poder e tecnologia, o resto do mundo organiza-se
em uma rede hierárquica e assimetricamente interdependente à medida que países e regiões
diferentes competem para atrair capital, profissionais especializados e tecnologia.
Para caracterizar esse momento histórico, o autor usa a expressão “economia global re-
gionalizada”, uma vez que há de fato uma economia global devido ao processo interativo que
ultrapassa as fronteiras territoriais. Porém, essa economia não é a mesma em cada região, não é
unificada, e os governos têm um papel importante nos assuntos econômicos (CASTELLS, 1999).
Outra classificação, que surge sob a perspectiva da globalização e é bastante difundida, é a
regionalização centro/periferia. Ressalta-se que tal divisão é complementar à divisão Norte/Sul.
Tal interpretação remonta aos tempos desenvolvimentistas de um capitalismo que acreditava
poder, um dia, difundir o desenvolvimento do centro para a periferia (HAESBAERT; PORTO-GON-
ÇALVES, 2006).
Essa diversidade de tentativas para compreender o espaço mundial globalizado é enfatiza-
da por Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006, p. 134):
Fica evidente que o espaço mundial sob a “nova (des)ordem” é um emaranhado de zonas, redes e
‘aglomerados’, espaços hegemônicos e contra-hegemônicos que se cruzam de forma complexa na face
da Terra. Fica clara, de saída, a polêmica que envolve a nova regionalização mundial. Como regionalizar
um espaço tão heterogêneo e em parte fluido, como é o espaço mundial contemporâneo?

Dessa forma, na próxima unidade, tentaremos entender de maneira mais aprofundada a


regionalização do espaço mundial em tempos de globalização.

9. questões autoavaliativas
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões indicadas a se-
guir, que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, que apresenta um caráter fortemente
teórico dos conceitos de região e regionalização, bem como o papel da ciência geográfica na
interpretação do espaço mundial. Se tiver dificuldade, releia o material e, se não ficar satisfeito,
consulte a bibliografia indicada.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho.
Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que você faça uma revisão
desta unidade. Lembre-se de que, na Educação a Distância, a construção do conhecimento ocor-
re de forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas descobertas com os seus
colegas.
© U1 – Regionalização do Espaço Mundial: Fundamentos Teóricos e Históricos 37

Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta
unidade:
1) Qual a importância do conceito de região para a ciência geográfica?

2) Regionalizar é o mesmo que classificar? Pode-se assumir qualquer critério natural ou social como parâmetro
para a delimitação de áreas?

3) Desenvolva o raciocínio sobre a seguinte afirmativa: “Regionalizar para compreender e compreender para re-
gionalizar”.

4) Atualmente, considerando o paradigma da sustentabilidade ambiental, por que é importante que o espaço
mundial seja analisado mediante uma visão integrada dos elementos físicos e naturais com os elementos an-
trópicos?

5) Quais os fatos políticos e históricos que justificaram a regionalização do Planeta em Norte e Sul?

10. considerações
Considerando os objetivos propostos para a Unidade 1, entendemos ser de grande rele-
vância que você tenha compreendido a importância dos conceitos de região e regionalização,
que, embora possam carregar diferentes concepções teóricas e metodológicas, são fundamen-
tais para a compreensão do espaço geográfico.
Como vimos, as diferentes formas de regionalização estão vinculadas a determinados con-
textos históricos, que, dado a dinamicidade da realidade, podem ser suprimidos ou entrarem
em desuso. Este é o caso da regionalização Norte/Sul, que apesar de ser central na explicação da
organização da ordem mundial bipolar, com a emergência da globalização e das novas relações
políticas e econômicas que se estabelecem entre os países, perdeu o seu poder explicativo, co-
locando a necessidade de outras explicações.
É o que veremos na próxima unidade, na qual estudaremos as possibilidades de regionali-
zação em tempos de globalização.
Até lá!

11. e-referências

Lista de figuras
Figura 1 Espaço de fluxos. Representação de um planeta interligado pela dinâmica de informações sociais (Facebook 500 milhões
de usuários em dezembro de 2010). Disponível em: <http://www.facebook.com/notes/facebook-engineering/visualizing-
friendships/469716398919>. Acesso em: 3 jun. 2011.
Figura 2 Dubai. Disponível em: <http://articles.privateislandsonline.com/wp-content/uploads/img_9272_jpg.jpg>. Acesso em:
11 abr. 2011.
Figura 3 Canal do Panamá. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/canal-panama.htm>. Acesso em 11 abr.
2011.
Figura 4 Mundo multipolar – 1945. Disponível em: <http://politics-blog.ashbournecollege.co.uk/unit-4-extended-themes-in-
political-analysis/route-d-global-political-issues/conflict-war-and-terrorism/>. Acesso em: 28 jun. 2014.
Figura 5 Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo. Disponível em: <politics-blog.ashbournecollege.co.uk/unit-4-extended-themes-
in-political-analysis/route-d-global-political-issues/conflict-war-and-terrorism/>. Acesso em: 11 abr. 2011.
Figura 6 Países do Norte e países do Sul. Disponível em: <http://paisesdesenvolvidosesubdesenvolvidos.blogspot.com/>. Acesso
em: 17 jan. 2012.

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38 © Geografia Regional I

Sites pesquisados
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HAESBAERT, R. Região, diversidade territorial e globalização. Geographia – Revista da Universidade Federal Fluminense, Rio de
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Acesso em: 2 fev. 2012.
THEIS, I. M. Do desenvolvimento desigual e combinado ao desenvolvimento geográfico desigual. Novos Cadernos NAEA, v. 12,
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2012.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.
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VESENTINI, J. W. Sociedade e espaço: Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2005.
Regionalização do Espaço
Mundial no Contexto da
Globalização
2

1. Objetivos
• Fornecer as condições necessárias para a compreensão conceitual, teórica e histórica
dos diferentes processos de regionalização mundial.
• Compreender os processos históricos que culminaram no fenômeno da globalização e
analisar como esse fenômeno pode contribuir com as disparidades socioespaciais.
• Apresentar indicadores socioeconômicos que permitam comparar os níveis de desen-
volvimento entre países.

2. Conteúdos
• Nova Ordem Mundial.
• Globalização e fragmentação do espaço.
• Desigualdades espaciais.
• Índices para avaliação das desigualdades econômicas, sociais, tecnológicas e educacio-
nais.
• BRICS.
• Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
• Índice de Gini.
40 © Geografia Regional I

3. OrientaçÕES para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a se-
guir:
1) Atente-se aos indicadores socioeconômicos que justificam as possibilidades de regio-
nalização no período atual.
2) Procure refletir sobre como o curso da história e dos fatos políticos que contribuíram
para a fragmentação do espaço geográfico e os processos de segregação espacial.
3) No decorrer deste estudo, é importante que você analise a relação entre o processo
de globalização e a atual organização espacial.
4) O documentário The Corporation, de Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan
(2003), é uma ótima referência para conhecer como as grandes corporações transna-
cionais atuam nos países pobres, destacando as relações humanas e ambientais. Vale
a pena assistir!
5) Leia os livros da bibliografia indicada para que você possa ampliar seus horizontes
teóricos e esteja atento às mudanças territoriais associadas à geopolítica atual, obser-
vando os fatos políticos e as relações entre os países.
6) Uma boa dica de leitura ligada ao tema “desigualdade espacial”, mas voltado à Geo-
grafia Econômica, é o livro de George Benko e Alan Lipietz – Les régions qui gagnet
– Districts et réseaux: les nouveaux paradigmes de la géographie économique (com
versão traduzida para a língua portuguesa).

4. INTRODUÇÃO à unidade
Para iniciar a Unidade 2, é interessante ler atentamente a letra da música Cibernética, de
Gilberto Gil:
Cibernética
Lá na alfândega Celestino era o Humphrey Bogart Solino sempre estava lá
Escrevendo: “Dai a César o que é de César”
César costumava dar

Me falou de cibernética
Achando que eu ia me interessar
Que eu já estava interessado
Pelo jeito de falar
Que eu já estivera estado interessado nela

Cibernética
Eu não sei quando será
Cibernética
Eu não sei quando será

Mas será quando a ciência


Estiver livre do poder
A consciência, livre do saber
E a paciência, morta de esperar
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 41

Aí então tudo todo o tempo


Será dado e dedicado a Deus
E a César dar adeus às armas caberá

Que a luta pela acumulação de bens materiais


Já não será preciso continuar
A luta pela acumulação de bens materiais
Já não será preciso continuar

Onde lia-se alfândega leia-se pândega


Onde lia-se lei leia-se lá-lá-lá

Cibernética
Eu não sei quando será
Cibernética
Eu não sei quando será (LETRAS.TERRA, 2011).

A letra da música de Gilberto Gil é uma interpretação muito pertinente da atualidade. Ela
nos apresenta aspectos extremamente importantes para a compreensão do mundo atual.
O desenvolvimento técnico e científico informacional é representado pelo termo “ciberné-
tica”, e os fluxos comerciais em escala mundial é visto no trecho “Onde lia-se alfândega leia-se
pândega”. Além de apresentar elementos contemporâneos, a música revela uma preocupação
importante: a contribuição do desenvolvimento técnico, científico e informacional na desigual-
dade social, uma vez que esse desenvolvimento tem se prestado à acumulação de capitais. Essa
ideia está evidente nos trechos: “Mas será quando a ciência/Estiver livre do poder” e “A luta
pela acumulação de bens materiais/Já não será preciso continuar”.
As críticas ao discurso da globalização enquanto unificação do mundo, cantada por Gilber-
to Gil, é partilhada por um dos grandes estudiosos do tema: Milton Santos. Em seu livro Por uma
outra globalização: do pensamento único à consciência universal, o autor destaca a atuação
maléfica da globalização, que, em vez de integrar o mundo, se coloca a favor da acumulação do
capital e amplia as desigualdades intrínsecas do sistema capitalista a nível global. De acordo com
Milton Santos (2000, p. 38-39):
Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da in-
formação. [...] as novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta,
dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca.
Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado
de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são
apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação
de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais
periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a
possibilidade de controle.

É nesse mundo atual, descrito nas letras de Gilberto Gil e avaliado por Milton Santos
(2000), que você vai se aprofundar um pouco mais nesta unidade. Dessa forma, discutiremos
os aspectos do atual estágio de globalização, buscando aprofundar temas já apresentados na
Unidade 1 e enfatizando discussões como o desenvolvimento técnico, científico e informacional
atual, os blocos econômicos, o papel do Estado e das fronteiras nacionais na atualidade e as
desigualdades socioespaciais em escalas mundiais.

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42 © Geografia Regional I

5. Globalização e Espaço Mundial atual


Para entender o período atual, devemos voltar um pouco na História. A queda do muro de
Berlim, em 1989, marcou o fim do período denominado Guerra Fria, anunciando a reunificação
alemã e a implosão da União Soviética. Esses acontecimentos simultâneos, junto com a com-
pleta integração da China nos fluxos internacionais de mercadorias e investimentos, diluíram a
fronteira que separava as economias estatizadas da economia mundial de mercado. Eles tam-
bém reintroduziram uma antiga abordagem geográfica, geopolítica e histórica, que pode ajudar
a entender o capitalismo moderno: a globalização.
Esse fenômeno é tão antigo quanto a origem do Estado, e seu desenvolvimento está as-
sociado às políticas definidas por ele. Podemos dividir a globalização, portanto, em três fases
históricas, conforme apresenta Magnoli (1997):
• Primeiro estágio da globalização: o ponto de partida remonta às grandes navegações
europeias nos séculos 15 e 16, que configuram, pela primeira vez, a imagem geográfica
do planeta na consciência do homem. Essa primeira fase se caracterizou pela circulação
de mercadorias, que eram produzidas pelo trabalho escravo ou servil, na economia
mercantil internacional. A expansão comercial mercantilista, impulsionada pelas via-
gens de descobrimento, representou um empreendimento combinado que conciliou o
poder e a riqueza do Estado à iniciativa dos empreendedores particulares.
• Segundo estágio da globalização: o segundo estágio da globalização tem como
marco a Revolução Industrial do século 19, que teve como condição a transi-
ção do modo de produção escravista pelo trabalho assalariado. A fusão dos ca-
pitais industriais aos capitais bancários originou o novo mundo das finan-
ças. A formação de conglomerados econômicos poderosos foi uma de suas
expressões. A disponibilidade de capitais para investimentos em lugares distantes
abriu caminho para uma integração muito mais profunda na economia internacional.
Esse período teve como pano de fundo o desenvolvimento de transportes terrestres
(ferrovias) e oceânicos (navios a vapor), e o desenvolvimento das comunicações (telé-
grafo).
• Terceiro estágio da globalização: o terceiro e atual estágio começa quando termina a
Segunda Guerra Mundial. No período denominado Guerra Fria, uma parte do mundo
ficou isolada do processo de integração internacional dos mercados, estabelecendo
uma fronteira geopolítica para a globalização. Porém, fora desses territórios, a inter-
dependência das economias de mercado se aprofundou e consolidou. Sob a liderança
geopolítica dos Estados Unidos, a reconstrução da Europa e do Japão impulsionou o
crescimento da economia mundial.
A descolonização da África e da Ásia, paralelamente à modernização das economias da
América Latina, permitiu a expansão da economia industrial para territórios nos quais, até en-
tão, prevaleciam a exportação de produtos primários e a economia rural.
As corporações transnacionais passaram a lucrar com as economias nacionais menos de-
senvolvidas, por meio da exploração de seus recursos naturais, como jazidas minerais e reservas
petrolíferas e, usufruindo, quando possível, do potencial hidrelétrico e do baixo custo de mão
de obra. Na iminência do fim da Guerra e já pensando na reconstrução, os Estados Unidos e
seus aliados europeus estabeleceram na Conferência de Bretton Woods, em 1944, um sistema
internacional de câmbio em que a valorização da moeda dos Estados integrantes estavam inde-
xadas ao dólar americano, passando a funcionar como divisa internacional. Ao mesmo tempo,
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 43

ergueram-se instituições intergovernamentais destinadas a assegurar empréstimos internacio-


nais, amenizando os riscos de colapsos econômicos. Assim nasceram o Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), também
conhecido como Banco Mundial.
No início da década de 1970, a paridade entre o dólar e o ouro e a divisa dos Estados Uni-
dos da América passou a flutuar conforme os movimentos de oferta e procura, o que refletia o
encerramento da hegemonia econômica norte-americana, representando riscos para a evolu-
ção e estabilidade do intercâmbio mundial de mercadorias e para os fluxos de investimentos.
A partir desse momento, o sentido político da economia mundial ficou ainda mais eviden-
te. Assim, as potências econômicas começaram a coordenar suas políticas de câmbio mediante
a realização de reuniões anuais (inicialmente G5: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e
Grã-Bretanha, posteriormente agregou-se a Itália e o Canadá, formando o G7 e, atualmente, a
Rússia), e seus governos revelaram-se capazes de evitar o precipício das guerras comerciais e
das retaliações protecionistas.
O ciclo de expansão da economia mundial no Pós-guerra baseou-se no aperfeiçoamento
das tecnologias tradicionais, cujas premissas tinham sido estabelecidas na transição do século
19 para o 20. Esse ciclo encerrou-se na década de 1970, quando crises recessivas marcaram o
fim de uma época.
O que caracteriza o estágio atual do processo de globalização é que ele já não se apoia
nas tecnologias tradicionais. A grande novidade é a revolução da informação, que possibilita,
mediante uma base tecnológica, um salto na unificação do mercado mundial.
Na década de 1970, o movimento de descobertas tecno-científicas alavancou o panorama
da produção mundial. Essa nova era foi marcada pelas novas tecnologias de transmissão de
informações e de microeletrônica. Por outro lado, trouxe, também, a automatização e a roboti-
zação dos processos de produção, que posteriormente geraram novas crises.
Novas indústrias voltam-se à produção de computadores e softwares, telecomunicações,
química fina, robótica, biotecnologia e outras tecnologias revolucionárias, deslocando o núcleo
de acumulação de riquezas e marginalizando as indústrias tradicionais. As indústrias da revolu-
ção tecno-científica caracterizam-se pela intensa aplicação de ciência e do conhecimento para
elaborar novos produtos. Ao contrário das indústrias tradicionais, que buscam se instalar em lu-
gares favoráveis à geração de energia, reservas minerais, jazidas de reservas carboníferas e mão
de obra barata, por exemplo, essas indústrias têm como condição para seu desenvolvimento a
localização em centros de pesquisa e mão de obra altamente qualificada.
A evolução da indústria tecno-científica conduziu-nos a uma etapa da globalização que
pode ser compreendida como a integração entre diversas partes do mundo mediada por fluxos
de mercadorias, de investimentos e de informações, os quais são detalhados a seguir:
• Fluxos de mercadorias: tem um papel de vanguarda na estrutura da economia glo-
balizada. O crescimento vertiginoso do comércio de mercadorias nos últimos anos do
século 20 foi um grande passo na integração dos mercados. Em consequência, as eco-
nomias nacionais tornaram-se mais dependentes da econômica global, com atividades
produtivas voltadas para o mercado externo.
• Fluxos de investimentos: podem ser classificados em dois grupos. Um que compreen-
de o empréstimo de capital concedido por instituições intergovernamentais ou bancos
para governos e empresas privadas e ainda os capitais financeiros aplicados em mer-
cados de ações, moedas ou títulos públicos. O outro compreende os investimentos
diretos materializados na implantação de unidades produtivas em países estrangeiros.

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44 © Geografia Regional I

• Fluxos de informação: a revolução da informação a partir de inovações tecnológicas é


um avanço na unificação do mercado mundial. Para que essa revolução fosse efetiva-
da, o mercado das finanças precisou de uma base tecnológica gerada pela revolução
científica. Os satélites de comunicação e as redes de computadores tornaram possíveis
as operações ininterruptas entre os mercados de moedas, títulos e ações ao redor do
planeta. O desenvolvimento da internet e a posterior internacionalização da rede com
a incorporação de centenas de milhões de usuários iniciou uma etapa crucial do fluxo
de informações. Sob o ponto de vista cultural, a Internet disseminou (e ainda o faz)
modos de pensar e enxergar o mundo e contribui com a circulação de mercadorias
culturais, de diversão e entretenimento. A internet atua na padronização do gosto e
das demandas de consumo, além de difundir globalmente as marcas divulgadas pelas
corporações. Sob esse aspecto, ela possibilita a ruptura das singularidades nacionais e
locais que funcionaram até hoje como barreiras para a expansão do consumo globali-
zado (MAGNOLI, 1997).
Depois das informações apresentadas, uma pergunta essencial é: a liberdade para os flu-
xos de mercadorias, investimentos e informações foi acompanhada pela liberdade do fluxo de
pessoas?
Paramos aqui, um pouco, para essa reflexão. A desigualdade desencadeada pelo processo
de globalização, ou seja, para que um país consiga alcançar um bom nível de desenvolvimento,
dependerá da “doação” de esforços de um segundo, restringindo, assim, a utópica igualdade
(até o presente momento de nossa história). Logo, os problemas sociais se evidenciam, abrindo
espaço para a criminalidade e ações terroristas, respostas xenófobas.
A sensação de insegurança que o terrorismo inspira na sociedade também atinge os Es-
tados, especialmente em termos econômicos. Dessa forma, o maior protecionismo econômico
é barrar um dos pilares da globalização: o fluxo de pessoas. Contraditoriamente, o conceito de
soberania surge novamente e a proteção de fronteiras físicas mostra-se nítida, ocasionando o
baixo fluxo no espaço real, com sua contrapartida no elevado fluxo “virtual” (informações, mer-
cadorias etc.).
Na realidade, o fluxo de pessoas segue na contramão da integração mundial. Num mundo
sem fronteiras para o capital e as informações, a liberdade de deslocar-se fica ameaçada (HAES-
BAERT; PORTO-GONÇALVES, 2006). A Figura 1 mostra o muro que separa os Estados Unidos e o
México. Embora os dois países tenham um acordo de livre comércio, o fluxo de pessoas ocorre
de maneira ilegal.
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 45

Figura 1 Fronteira dos Estados Unidos com o México.

A proposta de Lei SB 1070, apresentada pelo Estado do Arizona em janeiro de 2010 e pro-
mulgada em julho do mesmo ano, é um exemplo explícito da contramão dos fluxos de pessoas
no mundo. O texto autoriza que a polícia do Estado aborde pessoas nas ruas caso suspeitem que
elas sejam imigrantes ilegais, sendo a ausência de documentação considerada um grave delito.

Lei SB 1070–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para ler na íntegra o texto de lei SB 1070, acesse o seguinte link: <http://www.azleg.gov/legtext/49leg/2r/bills/
sb1070s.pdf>. Acesso em: 2 set. 2011.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

O Estado-Nação e os blocos econômicos


Outra questão que se coloca para a compreensão do mundo na atualidade tem relação
com o papel do Estado-Nação no mundo globalizado. Leia atentamente as seguintes citações:
O Estado Nação não é mais o que costumava ser. [...] Parece inconcebível que tão diminuta criatura pos-
sa por muito tempo continuar sendo a unidade básica das relações internacionais, a entidade que firma
tratados, participa de alianças, desafia inimigos, vai a guerra. Não estará seguramente o Estado-Nação,
a caminho de se dissolver em algo maior, mais poderoso, mais capaz de encarar as conseqüências da
tecnologia moderna: alguma coisa que será a nova e poderosa unidade básica do mundo de amanhã?
(THE ECONOMIST apud MAGNOLI, 1997, p. 33).
[...] a edificação de blocos regionais representa uma estratégia dos Estados direcionada para a inserção
das suas economias na economia-mundo (MAGNOLI, 1997, p. 6).

A primeira citação é um texto ironizando a postura de alguns estudiosos que defendem


que o Estado-Nação esteja envolvido em um rápido processo de fragilização que culminará com
sua extinção. Para esses estudiosos, o Estado seria incapaz de gerir a organização social e geo-
gráfica global-fragmentada e se dissolveria tanto no liberalismo quanto nos blocos de culturas

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46 © Geografia Regional I

supranacionais. Há outra perspectiva, compartilhada por inúmeros autores, que divulga a teoria
exposta na segunda citação, afirmando que o Estado está se reestruturando sob novas bases e
adquirindo distintas funções na nova geopolítica mundial, pautada pela sociedade de controle –
o novo discurso a legitimar o reforço de poder de muitos Estados.
De qualquer forma, é essencial admitir que houve mudanças muito importantes com re-
lação ao poder do Estado a partir do fortalecimento das empresas transnacionais e a formação
de grandes entidades econômicas ou político-econômicas supranacionais. Nesse processo, até
algumas funções antes consideradas essencialmente estatais passaram a ser exercidas por en-
tidades privadas. Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006) mencionam o caso da segurança pública,
mas são inúmeros os exemplos de privatização, como serviço de água e luz, telefonia e empresas
de grande porte do setor primário, como a Vale do Rio Doce (atualmente Vale).
De fato, os Estados são desafiados pelas novas tendências de integração e globalização.
Magnoli (1997, p. 43) define muito bem atuação do Estado-Nação no contexto da globalização:
A globalização implica uma nova reformulação das relações entre o Estado e o mercado. O Estado aban-
dona uma série de funções que tinha assumido desde a década de 1930 e se reorganiza para lidar com
a economia globalizada. As empresas públicas são privatizadas. As taxas alfandegárias são reduzidas
ou, em certos casos, abolidas. As políticas econômicas são coordenadas em escala internacional. Em
conseqüência, a noção de soberania é submetida a mais uma revisão.
Essa revisão não se confunde com a sua supressão ou com o desfalecimento do Estado-Nação, que
representa a única instância capaz de conduzir o próprio processo de globalização. Ao contrário, sob
diversos aspectos, o Estado reforça a sua capacidade de operar como intermediário entre as forcas ex-
ternas e a sociedade nacional. Alguns geógrafos compreenderam perfeitamente o sentido desse nexo,
capacitando-se para afirmar como o faz Luiz Navarro de Britto, que ‘o Estado constitui a sociedade
global dos nossos dias'.

Agora que já esclarecemos o papel do Estado no cenário mundial atual, vamos buscar
compreender a atuação dos blocos econômicos.
Segundo Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006), a ideia de formação de grandes blocos eco-
nômicos começa após as guerras mundiais, justamente em uma tentativa de minimizar o poder
de Estados com grande poder beligerante e garantir a paz e o crescimento econômico em um
período de grave crise. A iniciativa de maior sucesso até hoje, e também a primeira a se conso-
lidar, é a União Europeia.
Existem, segundo Magnoli (1997), quatro tipos de tratados econômicos e, ainda, uma mo-
dalidade de bloco regional espontâneo:
1) Zona de Livre Comércio: constitui-se de um acordo entre Estados com objetivo de
eliminar as restrições tarifárias e não tarifárias que incidem sobre a circulação de mer-
cadorias entre os integrantes. Trata-se de um acordo circunscrito à esfera comercial,
que não restringe o intercâmbio de cada Estado com países externos ao bloco. Sua
finalidade, do ponto de vista da teoria econômica, é ampliar a exposição da economia
dos países integrantes à concorrência externa, a fim de estimular ganhos de produti-
vidade. Como exemplo dessa categoria, podemos citar o Nafta, formado pelo Canadá,
México e Estados Unidos.
2) União Aduaneira: trata-se de um acordo na esfera comercial que define duas metas: a
eliminação das restrições alfandegárias e a fixação de uma tarifa externa comunitária.
Essa tarifa consiste em um imposto de importação comum cobrado sobre mercadorias
provenientes de países externos ao bloco. A finalidade desse tipo de tratado é atrair
investimentos produtivos para seu território. Os principais benefícios para as empre-
sas são o aumento do mercado consumidor e a proteção alfandegária, que eliminam a
concorrência de países que não fazem parte do bloco. Como exemplo dessa categoria
de tratado podemos citar o Mercosul, formado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uru-
guai (a tendência é de que o Mercosul se torne um Mercado Comum).
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 47

3) Mercado Comum: é a categoria de tratado cujo objetivo é assegurar não somente


a livre circulação de mercadorias, mas também a de capitais, serviços e pessoas por
meio das fronteiras políticas dos integrantes. Não se restringe, portanto, à esfera co-
mercial. Invade domínios da legislação industrial, ambiental, financeira e educacional.
O objetivo econômico do mercado é incentivar os países participantes a integrar suas
corporações financeiras e de produção, em uma unificação que determina a concor-
rência vantajosa sobre os países que não integram o bloco.
4) União Econômica e Monetária: trata-se de um mercado comum acrescido de uma
moeda única. Em seu interior, as moedas seriam substituídas por uma divisa comuni-
tária, emitida e controlada por um banco central supranacional. Assim, as flutuações
de câmbio desapareceriam, e não mais limitariam as economias nacionais. Não ha-
veria nenhum sentido econômico nas fronteiras entre os países integrantes, mas elas
continuariam a desempenhar funções políticas e militares. Um exemplo dessa catego-
ria de tratado é a União Europeia.
O Quadro 1 resume as características dos quatro tipos de tratado mencionados anterior-
mente. Acompanhe.

Quadro 1 Tipologias dos tratados econômicos regionais.


ZONA DE LIVRE UNIÃO ECONÔMICA E
UNIÃO ADUANEIRA MERCADO COMUM
COMÉRCIO MONETÁRIA

Mercadorias Livre circulação Livre circulação Livre circulação Livre circulação

Tarifa externa Definida por cada país Imposto comum Imposto comum Imposto comum

Capitais serviços e
Regras nacionais Regras nacionais Livre circulação Livre circulação
pessoas

Moeda Nacional Nacional Nacional Comunitária


Fonte: adaptado de Magnoli (1997).

Há mais um tipo de bloco regional, denominado áreas de integração por investimentos.


São espaços geográficos fluidos nos quais se verifica uma dinâmica de crescimento econômico
bastante interdependente. As corporações integrantes direcionam pesados investimentos para
os países vizinhos, deslocando unidades produtivas, implantando filiais, adquirindo empresas
locais. Esses investimentos geram um comércio intrarregional, material e invisível.
Com o tempo, os setores mais modernos dos países da área evoluem num ritmo comum
e sofrem as crises e flutuações de um ciclo econômico integrado. Essas áreas não têm limites
definidos pelos Estados e sua área de atuação pode aumentar ou contrair, independentemente
da vontade dos governos ou da ação de diplomatas (MAGNOLI, 1997).
A Figura 2 mostra os principais processos de integração regional no início do século 21 e a
participação do Produto Interno Bruto (PIB) de cada uma das regiões. Acompanhe.

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48 © Geografia Regional I

Figura 2 Principais processos de integração regional no ano de 2007.

Agora que você já conhece um pouco mais sobre os blocos econômicos, vamos analisar
uma questão relevante: a tendência à regionalização com base nos blocos econômicos seria um
obstáculo à integração global dos mercados?
De acordo com Magnoli (1997), há duas consequências da consolidação das áreas de livre
comércio:
• Redirecionamento dos fluxos comerciais para a área, restringindo as áreas de exporta-
ção e desfavorecendo a globalização.
• Criação de novos fluxos, pois a ausência das barreiras alfandegárias incentiva a impor-
tação de produtos a preços menores, favorecendo a globalização.
É importante considerar que a globalização não somente se limita ao comércio, mas tam-
bém à área de investimentos e à ampliação do campo das transnacionais. Esses aspectos tam-
bém estão por trás da estruturação de um mercado globalizado.

Concepção geográfica da regionalização do mundo em blocos econômicos


Você pode perceber que a divisão do mundo em blocos regionais é uma tendência na
atualidade. Agora que você já sabe mais sobre esse assunto, vamos tentar compreender os prin-
cípios metodológicos da regionalização.
Inicialmente, seria interessante classificar em que categoria de regionalização (as quais
vimos na Unidade 1) a divisão do mundo em blocos econômicos se enquadra. Para isso, desta-
quemos algumas de suas peculiaridades:
• Os blocos econômicos são fruto de acordos econômicos e fazem parte de um plano de
ação entre países com a intenção de fortalecê-los no cenário mundial.
• Alguns blocos integram países com grandes disparidades nos níveis de desenvolvimen-
to econômico.
• Há, entre os países participantes, diferentes características culturais.
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 49

Logo, a regionalização do mundo em blocos econômicos pode ser classificada como “ins-
trumento de ação”, ou seja, é uma unidade espacial definida segundo atributos econômicos e
com o propósito de crescimento econômico, podendo ser entendida como sinônimo de espaço
econômico.
Dessa forma, podemos dizer que a divisão do mundo em blocos econômicos é uma forma
de regionalização muito importante para compreender o mundo globalizado. Porém, não é ex-
clusiva, tampouco esgota a compreensão do espaço mundial.

A pobreza global
Retomemos, agora, as ideias da introdução desta unidade, contidas na música de Gilberto
Gil, que denunciam as desigualdades em um mundo que ironicamente tende a se homogeneizar.
Magnoli (1997, p. 21) define globalização como o “[...] processo pelo qual o espaço mun-
dial adquire unidade [...]”, ou seja, um processo econômico e social que estabelece integração
entre todas as regiões do mundo através do fluxo de mercadorias, investimentos e informações,
como já vimos. Porém, essa globalização que unifica também separa, segrega, exclui.
O processo de globalização agravou as desigualdades entre a acumulação de riquezas e
a disseminação da pobreza. O desenvolvimento econômico assume padrões perversos, margi-
nalizando grandes parcelas da população. As novas modalidades de indústria, que englobam
tecnologia e ciência, são responsáveis pela diminuição de empregos, redução de salários reais e
supressão dos direitos trabalhistas tradicionais, atingindo diretamente as parcelas da população
de média e baixa qualificação profissional (MAGNOLI, 1996).
Milton Santos (2000, p. 23) analisa o atual momento da globalização interpretando-o
como “[...] ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista [...]”, momento em
que as perversidades intrínsecas a esse sistema socioeconômico atingem escalas globais. Segun-
do o autor:
Os fatores que contribuem para explicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade da técnica,
a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na his-
tória, representado pela mais-valia globalizada. Um mercado global utilizando este sistema de técnicas
avançadas resulta nessa globalização perversa (SANTOS, 2000, p. 24).

Para compreender melhor a interpretação que Milton Santos (2000) dá à globalização


atual, vejamos a seguir cada fator citado por ele:
1) Unicidade das técnicas: o que representa o sistema atual é a técnica da informação
que assegura o comércio global e tem um papel determinante no uso do tempo, per-
mitindo em todos os lugares a convergência de momentos e assegurando simultanei-
dade das ações. Consequentemente, isso acelera o processo histórico.
2) Convergência dos momentos: tornamo-nos capazes de conhecer o que é o acontecer
do outro. Essa possibilidade é oferecida pela técnica.
3) Cognoscibilidade do planeta: é a possibilidade de conhecer o planeta extensiva e pro-
fundamente, fato jamais observado, e que se deve aos progressos da ciência.
4) Motor único: esse motor seria uma mais-valia universal, que só é possível porque a
produção se efetiva em escala global, por intermédio de empresas mundiais.
A universalização do capitalismo mediante a universalização da mais-valia origina o que
Milton Santos (2000) denomina “pobreza estrutural”. A pobreza é estrutural, e não mais local
nem nacional, porque está presente em toda parte do mundo. O autor ainda destaca que: “Há
uma produção planetária e uma produção globalizada da pobreza, ainda que esteja mais pre-
sente nos países já pobres” (SANTOS, 2000, p. 69).

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50 © Geografia Regional I

A segregação socioespacial, organização espacial da pobreza inerente ao sistema capita-


lista que, de acordo com Villaça (2001, p. 142), “[...] é um processo segundo o qual diferentes
classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais
[...]”, passa, portanto, a ser um fenômeno global, compreendido em diversas escalas. De acordo
com Magnoli (1997, p. 94):
[...] O espaço geográfico é também o espelho desse movimento de segregação econômica e social, que
se manifesta em escala mundial e nacional e, de modo mais evidente, nas escalas regionais e locais.

Para compreender melhor essa desigualdade característica do capitalismo, acentuadas


com a emergência da globalização, vejamos no próximo tópico alguns dados geopolíticos.

6. Desigualdades DE UM MUNDO GLOBALIZADO


Neste tópico, vamos analisar indicadores e variáveis que permitam comparar os níveis de
desenvolvimento econômico, educacional e de tecnologia, além dos padrões de qualidade de
vida entre os países do mundo, representados em mapas temáticos.
Todos os mapas estão disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Por meio deles, podemos visualizar espacialmente como a globalização, que unifica o
mundo, também contribui, contraditoriamente, com sua diferenciação.

Desigualdades quanto aos níveis de desenvolvimento econômico


Um dos indicadores mais utilizados para indicar os níveis de desenvolvimento econômico
é o Produto Interno Bruto (PIB) e o PIB per capita.
De acordo com Lourenço e Romero (2002), o PIB é o indicador-síntese de uma economia.
É a soma de todos os bens e serviços produzidos em um país em um período definido.
Além do PIB, é comum utilizar o PIB per capita, que corresponde ao quociente entre o PIB
nominal e a população de um país. Com esse índice, é possível inferir o padrão de vida da popu-
lação. Um país pode ter um PIB total elevado, porém, devido ao grande número de habitantes,
apresentar um PIB per capita baixo.
Observe o mapa da Figura 3, que apresenta o PIB per capita (em dólares) dos países para
o ano de 2010.
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 51

Figura 3 Produto Interno Bruto per capita 2010.

Observando o mapa do PIB (Figura 3), podemos constatar que os maiores valores desse
índice ocorrem predominantemente nos Estados Unidos, Espanha, França, Alemanha, Japão e
China, localizados no hemisfério Norte. No hemisfério Sul, de acordo com a classificação temáti-
ca da legenda, destacam-se países com valores médios de PIB, como Brasil, Argentina, África do
Sul e alguns países do Pacífico Sul. De maneira geral, observamos uma tendência de queda dos
valores do PIB no sentido Norte-Sul.
Quanto ao PIB per capita, podemos constatar que também predominam os maiores valo-
res para os países do hemisfério Norte, com exceção da Austrália, que apresenta elevado valor
e ocupa o hemisfério Sul. No hemisfério Sul, destacam-se países como Argentina, Brasil, África
do Sul e Venezuela, que apresentam, de acordo com a classificação adotada pelo IBGE, valores
médios para o PIB per capita.
Quando se compara o PIB com o PIB per capita, observa-se que alguns países, como a
China e a Índia, embora apresentem elevados PIB, não apresentam PIB per capita elevado. Isso
ocorre porque esses países são populosos.
Outra forma de observar as desigualdades regionais em tempos de globalização é a com-
paração das exportações de mercadorias. A Figura 4 mostra a exportação mundial de mercado-
rias entre os anos de 2005 e 2010 por continentes.

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Figura 4 Participação das exportações mundiais de mercadorias por regiões entre os anos 2005 e 2010.

Conforme pudemos observar na Figura 4, as regiões que apresentam a menor participação


nas exportações de mercadorias são as que historicamente estiveram submetidas a uma situa-
ção de dependência política, ou seja: América Latina, África, Oriente Médio e CEI (Comunidade
dos Estados Independentes). Observe que nessas regiões ocorreu um crescimento percentual
da participação nas exportações mundiais de mercadorias, enquanto na América do Norte e na
Europa ocorreu um decréscimo, mas que ainda não afeta o poderio econômico dessas áreas,
evidenciando as desigualdades espaciais entre grandes áreas do globo.
Em relação à Ásia, é importante percebermos que a elevada participação das exportações
no comércio mundial se deve, sobretudo, à economia da China, ao Japão e à Índia, enquanto a
maior parte dos países apresenta baixos níveis de integração no comércio mundial.
Conforme Lacoste (1966), para um número muito grande de países subdesenvolvidos, a
dependência foi, a princípio, de natureza política, contudo, mesmo com o processo de descolo-
nização, persistiram formas duráveis de subordinação econômica.
Atualmente, essas formas de subordinação econômica se realizam pela ação do mercado,
por meio de empréstimos internacionais, pagamento de royalties, remessa de lucros pelas gran-
des empresas multinacionais e dependência tecnológica pelos países pobres.
A título de exemplo, veja, na Tabela 1, os valores da dívida externa e o serviço da dívida
por grandes áreas do mundo.

Tabela 1 Dívida externa e serviço da dívida por regiões em bilhões de dólares.


REGIÕES 2002 2004 2006 2008 2010
África 280,4 321,0 252,9 286,8 324,7
América 763,0 802,3 746,9 864,4 881,5
Comunidade dos Estados Independentes 212,4 298,1 464,8 724,8 734,6
Economias em desenvolvimento na Ásia 682,5 781,4 910,3 1.077,6 1.263,8
Europa Central e Ocidental 327,8 492,3 694,2 1.051,8 1.061,0
Oriente Médio 178,4 215,9 413,6 524,3 428,8
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 53

A dívida externa, ainda que seja um problema para diferentes nações, tem efeitos mais
perversos sobre as economias mais frágeis, pois reduz a capacidade de investimento e, conse-
quentemente, a eficiência de políticas sociais.
Outro elemento novo do espaço geográfico globalizado é a combinação da aplicação das
políticas neoliberais com o crescimento do desemprego estrutural, que contribui para a amplia-
ção da diferença de renda interna em vários países, inclusive nos mais ricos.
De acordo com Castells (1999, p. 105):
[...] há uma disparidade considerável na evolução da desigualdade interna de distribuição de renda de
diversas regiões do mundo. Nas últimas duas décadas, a desigualdade na distribuição de renda cresceu
nos Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Peru, Tailândia e Rússia, e, nos
anos 80, no Japão, Canadá, Suécia, Austrália, Alemanha e Japão.

Dessa forma, a desigualdade social e o desemprego rompem as barreiras dos países de


economia dependente e se instalam em espaços privilegiados da economia capitalista.

Desigualdades quanto aos níveis de desenvolvimento tecnológico


É irônico o fato de a mesma tecnologia unificar o mundo e segregar as pessoas.
Como vimos anteriormente, a Tecnologia da Informação unificou o mercado mundial. Por-
tanto, elementos como a internet indicam a inserção de um país no contexto econômico mun-
dial. Porém, esse elemento que caracteriza o desenvolvimento não é distribuído igualmente
entre os países do mundo, como você pode ver no mapa da Figura 5. Ele demonstra que há, no
mundo, inúmeros países à mercê do desenvolvimento técnico e científico.
A falta de acesso a essas e outras tecnologias configura-se um novo fator de exclusão e
denuncia níveis baixos de desenvolvimento tecnológico.
Nesse sentido, é importante destacar o caso da China. Apesar de ter um grande desenvol-
vimento tecnológico e um mercado em franca expansão, observa-se a intervenção política no
acesso à internet. Não que o Estado Chinês impeça a população de acessá-la. Mas há, na verda-
de, um filtro no conteúdo disponibilizado.
Pesquisa feita pela OpenNet Initiative (ONI) em 2004/2005 constatou que o governo chi-
nês filtra severamente os sites cujos tópicos são considerados “perigosos” para seu poder. Se-
gundo a instituição, os assuntos filtrados e frequentemente bloqueados incluem pornografia,
independência de Taiwan e do Tibet, Falun Gong, Dalai Lama, incidente da Praça Tiananmen,
partidos políticos de oposição e movimentos anticomunistas.

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Figura 5 Internautas (1991-2006).


© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 55

O mapa da Figura 5 demonstra que o menor número de internautas está localizado na


África, Ásia e América Latina. Entre os países que apresentam o menor número de internautas,
estão o Tadjiquistão, Afeganistão e Iraque, no continente asiático, e Etiópia, Níger e Serra Leoa,
na África. Em contraposição, os países com o maior número de internautas estão na Europa,
América do Norte, além de Japão, Austrália e em outras áreas de grande concentração industrial.
Assim, os dados expostos exemplificam como a implantação de um meio técnico-científi-
co-informacional reafirma as diferenças entre os países.

Desigualdades quanto aos níveis de desenvolvimento educacional


Os investimentos em ciência e tecnologia e a qualificação da força de trabalho são funda-
mentais para que um país se destaque atualmente. Para tanto, a garantia de acesso à educação
configura-se como ponto de partida.
Como pode um país almejar desenvolvimento no mundo globalizado se um grande per-
centual da população não tem nem acesso à alfabetização?
Não existe qualificação da mão de obra onde há altos níveis de analfabetismo. Esses países
estão à mercê dos benefícios da globalização.
Entretanto, vale ressaltar que os altos níveis de alfabetização não garantem a qualificação
da mão de obra e tampouco o desenvolvimento científico, mas são pré-requisitos para tanto.
O mapa da Figura 6 apresenta os dados de taxa de analfabetismo para a população de 15
anos ou mais entre os países do mundo, considerando o cenário de 2009.

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Figura 6 Analfabetismo, 2009.

Observe, na Figura 6, que os países com as maiores taxas de analfabetismo estão na África,
sendo Mali o país com a maior taxa de analfabetismo (73,8%).
Já as menores taxas de analfabetismo estão nos países do Norte, incluindo países Euro-
peus, da América do Norte, Japão e Austrália. Como explica o mapa (Figura 6), nesses países o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) atribui uma taxa de 1% ao calcu-
lar o IDH. Os países da América do Sul não apresentam índices extremamente altos, com desta-
que para a Argentina, Chile e Uruguai, que possuem as menores taxas de analfabetismo.

7. Possibilidades de Regionalização
O espaço geográfico, no dizer de Santos (1978), é um acúmulo de tempos desiguais, e,
assim, a organização mundial continua a preservar velhas estruturas do passado, mas também
assume novas formas e manifestações com a emergência da globalização.
Como vimos, a regionalização é uma das formas de explicitar essas diferenças e desigual-
dades espaciais, por isso, deve estar atenta aos novos cenários sem, contudo, perder os referen-
ciais históricos da constituição do espaço.
A Figura 7 exemplifica uma das possibilidades de regionalização do mundo atual, mas que
preserva elementos históricos, como a linha que divide o Norte, desenvolvido, do Sul, subdesen-
volvido. Observe-a atentamente.
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 57

Figura 7 Regionalização contemporânea.

Os países nessa classificação são divididos pelo critério de participação nas relações eco-
nômicas globalizadas, ou seja, a inserção na economia de mercado; contudo, antigas desigual-
dades não foram superadas, e sim superpostas por uma nova dinâmica espacial.
Nesse momento de reordenamento da economia mundial, é fundamental destacar a pre-
sença cada vez mais significativa dos países considerados de integração autônoma, como é o
caso do Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul, na cena política e econômica mundial.

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Apresentando um crescimento econômico por muitos anos superior ao dos países centrais
do capitalismo, os países considerados “emergentes” alcançaram a condição de importantes
lideranças regionais e ampliam, continuamente, sua participação no mercado mundial.
Além disso, essa condição favorece a participação desses países no debate político in-
ternacional. A ascensão do G20 – grupo que reúne as economias mais avançadas e os países
emergentes, formado no final da década de 1990 –, como principal fórum de discussão da agen-
da econômica e financeira internacional, reflete a importância política dos países emergentes
diante das sucessivas crises econômicas que afetam o mundo no início do século 21.
O G20 é formado por 19 países e pela União Europeia, e conjuntamente representam cer-
ca de 90% do PIB mundial e 80% do comércio global.
A Figura 8 exibe os países que compõem o G8 – composto pelas sete economias mais
avançadas do mundo e pela Federação Russa – e os países emergentes que, somados a estes,
formam o G20.

Figura 8 G8 e G20.

Os principais países emergentes que formam o G20 são: Argentina, Brasil e México, na
América Latina; África do Sul, na África, e Arábia Saudita, China, Coréia do Sul, Índia, Indonésia e
Turquia, na Ásia. Em geral, esses países tiveram em comum o fato de apresentaram um passado
de dependência colonial ou imperialista, bem como estarem entre o grupo dos países subde-
senvolvidos.
No Pós Segunda Guerra Mundial, em contrapartida, o intenso processo de industrialização
a que esses países foram submetidos, impulsionadas pelo ingresso de empresas multinacionais,
garantiram-lhes um elevado nível de produção econômica que os diferencia dos demais países
subdesenvolvidos, apesar de não terem superado diversos problemas sociais.
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 59

Os BRICS
Entre os países emergentes elencados anteriormente, destacam-se, no cenário interna-
cional, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que, juntos, formam o
acrônimo BRICS.
A sigla criada em 2001, pelo economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, inicialmen-
te como conceito analítico da economia e das finanças mundiais, popularizou-se rapidamente
nos meios jornalísticos.
Apenas em 2006 esse conceito se transformou em um grupo político diplomático, reunin-
do Brasil, Rússia, China e Índia. Em 2011, a África do Sul também passou a fazer parte do agru-
pamento, definindo a sigla BRICS.
Os BRICS representam uma nova força econômica e política no contexto da globalização,
dispondo de extensa superfície terrestre, quase metade da população mundial, recursos naturais
abundantes, mão de obra barata, mercado consumidor em expansão e economias diversificadas
com elevado ritmo de crescimento. Esse grupo de países já representa parcela expressiva do PIB
mundial.
De acordo com dados do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (2012):
Entre 2003 e 2007, o crescimento dos quatro países (Brasil, Rússia, Índia e China) representou 65% da
expansão do PIB mundial. Em paridade de poder de compra, o PIB dos Brics já supera hoje o dos Estados
Unidos ou o da União Europeia. Para dar uma ideia do ritmo de crescimento desses países, em 2003
os BRICs respondiam por 9% do PIB mundial, e, em 2009, esse valor aumentou para 14%. Em 2010, o
PIB conjunto dos cinco países (incluindo a África do Sul), totalizou US$11trilhões, ou 18% da economia
mundial.

Dados do Fundo Monetário Internacional para 2011 apontam, também, que, individual-
mente, esses países figuram no topo da lista dos maiores PIB mundiais: China (2º lugar), Brasil
(6º lugar), Rússia (9º lugar), Índia (10º lugar) e África do Sul (29º lugar).
Não há dúvidas de que o crescimento econômico desses países tem provocado um reor-
denamento na geografia mundial, ampliando a importância dos países emergentes nas decisões
políticas internacionais.
As avaliações dessas mudanças ainda não são conclusivas, e os rumos das transformações
ainda são incertos, dadas as questões particulares de cada país, combinadas com a instabilidade
da economia mundial. Dessa forma, é fundamental mantermo-nos atualizados se de fato quiser-
mos compreender o mundo no século 21.
A seguir, analisaremos dois indicadores de classificação das condições sociais dos países:
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice de Gini, como forma de entendermos a
desigualdade social e econômica que caracteriza o mundo contemporâneo.
Acompanhe.

8. A QUANTIFICAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
As condições de vida da população de um país também podem ser dimensionadas a partir
dos elementos quantitativos. As diferentes interpretações teóricas que analisaram a questão
do subdesenvolvimento, ou da desigualdade entre os países, procuraram fundamentar-se em
dados econômicos e sociais para proceder à classificação dos países.
Como vimos anteriormente, entre os indicadores mais utilizados nos estudos econômicos
e geográficos, está o PIB – Produto Interno Bruto per capita. No entanto, atualmente, esse indi-

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cador é muito criticado na quantificação da riqueza e da pobreza de um determinado país, por


ser considerado insuficiente para representar a distribuição real da riqueza, pois a média oculta
as desigualdades sociais internas.
Além disso, outros problemas estão relacionados à utilização do PIB per capita como indi-
cador de desenvolvimento; dentre eles, destacamos: a não mensuração da economia informal,
a desconsideração do poder real de compra da moeda, a falta de um critério internacional de
medição do PIB, o que dificulta a comparação entre os países e, especialmente, o fato de consi-
derar apenas uma dimensão do desenvolvimento – a econômica.
Outros indicadores foram formulados para aprofundar o entendimento sobre as condi-
ções de vida em um país, integrando aspectos sociais como: índice de mortalidade infantil, índi-
ce de natalidade, acesso à educação e à saúde, entre outros.
Um indicador que procura combinar esses diversos aspectos é o Índice de Desenvolvi-
mento Humano (IDH). O IDH foi formulado em 1990, pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), para contrapor a ideia de mensurar o desenvolvimento utilizando
apenas o PIB per capita como parâmetro.
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano (2012), o Índice de Desenvolvi-
mento Humano (IDH) mede o grau, em média, de três dimensões básicas de desenvolvimento
humano, nomeadamente: saúde (expectativa de vida ao nascer); educação (média dos anos de
escolaridade e anos de escolaridade esperados); e um nível de vida digno (rendimento nacional
bruto per capita).
A Figura 9 apresenta, de forma resumida, os componentes do IDH.

Fonte: PNUD (2010, p. 13).


Figura 9 Componentes do IDH.

De acordo com as condições mensuradas, o IDH dos países podem ser classificados como
baixo, médio, elevado e muito elevado. A metodologia de classificação do IDH pode sofrer alte-
rações anualmente, incorporando novos indicadores ou redefinido os valores das notas para um
país alcançar determinada condição de desenvolvimento.
De qualquer forma, em 2010, ao completar 20 anos de elaboração de relatórios anuais, é
possível comparar a condição dos países, bem como os progressos e retrocessos em suas con-
dições sociais.
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 61

O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010 afirma, por exemplo, que:


Em alguns aspectos básicos, o mundo é um lugar muito melhor hoje do que era em 1990 – ou em 1970.
Ao longo dos últimos 20 anos, muitas pessoas de todo o mundo alcançaram melhoramentos profundos
em aspectos fundamentais das suas vidas. Em geral, são mais saudáveis, possuem mais instrução, têm
maior riqueza e têm maior poder para eleger e responsabilizar os seus líderes do que nunca (PNUD,
2010, p. 3).

Entretanto, o mesmo relatório indica uma acentuação das desigualdades no interior dos
países, sobretudo nos que pertenciam à antiga União Soviética e nos países da Ásia Oriental e
do Pacífico.
Apesar do IDH ser um índice amplamente utilizado em análises relacionadas ao grau de
desenvolvimento de diferentes países, sua utilização recebe muitas críticas, especialmente por
“[...] concentrar-se numa média aritmética dos desempenhos da renda per capita, da saúde e
da educação [...] como se participassem de torneios mundiais de desenvolvimentismo” (VEIGA,
2006, p. 27).

Índice de GINI
Outro indicador muito utilizado para quantificar as condições sociais de um país é o Índice
de Gini. Criado pelo estatístico italiano Corrado Gini, esse indicador é uma medida da concentra-
ção ou da desigualdade, comumente utilizada na análise da distribuição de renda.
Além da desigualdade social, o indicador pode ser aplicado para medir o grau de concen-
tração de qualquer distribuição estatística, tais como concentração de terra, urbana, industrial,
entre outras. Na prática, o índice varia de 0 a 1, em que o valor 0 representa a completa igualda-
de de renda, e o valor 1 indica a completa desigualdade.
Essa é uma das dimensões importantes para analisarmos o subdesenvolvimento, pois a
desigualdade social é um dos seus aspectos marcantes. Ribeiro (2006) argumenta que a desi-
gualdade aumenta a pobreza, dificulta o crescimento econômico e aumenta os conflitos sociais.
A Tabela 2 apresenta os valores medianos do Índice de Gini por região, entre os anos de
1960 e 1990. Acompanhe.

Tabela 2 Coeficiente de Gini e Medianos de Gini por região e decênios.


REGIÃO 1960 1970 1980 1990
Europa Oriental 0,25 0,25 0,25 0,29
Ásia Meridional 0,36 0,34 0,35 0,32
OCDE e países de alta renda 0,35 0,35 0,33 0,34
Ásia Oriental e Pacífico 0,37 0,40 0,39 0,38
Oriente Médio e África do Norte 0,41 0,42 0,41 0,38
África Subsaariana 0,50 0,48 0,44 0,47
América Latina 0,53 0,49 0,50 0,49
Brasil 0,54 0,60 0,60 0,60

Os dados da Tabela 2 demonstram como o nível de desigualdade é maior na América La-


tina e na África Subsaariana.
Essa situação mostra o grave problema social que essas regiões sofrem. Ainda que a pro-
dução de mercadorias cresça com o incipiente processo de industrialização, a concentração de
renda impede uma melhor qualidade de vida para a maioria da população.

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O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010 comprova, também, que:


No interior dos países, a regra é o crescimento da desigualdade de rendimentos: mais países têm agora
um coeficiente de Gini superior ao que tinham nos anos 80. Por cada país onde a desigualdade melho-
rou nos últimos 20-30 anos, piorou em mais de dois (PNUD, 2010, p. 77-78).

A análise dos Índices de Gini, combinada com outros indicadores econômicos, aponta,
portanto, para uma assincronia entre o crescimento econômico e a melhoria das condições de
vida da população, reforçando a tese de que mais do que crescimento econômico, é fundamen-
tal a distribuição social da riqueza.

9. questões autoavaliativas
Para ajudar você a pensar nesta unidade de modo integrado, sugerimos que responda às
seguintes questões:
1) Qual é a relação entre globalização e produção desigual do espaço geográfico?

2) O espaço geográfico atual pode ser explicado sem considerarmos a História?

3) Quais as principais mudanças provocadas pela globalização no espaço geográfico?

4) Como se manifestam as desigualdades regionais no período da globalização?

5) Qual a importância dos BRICS para a economia mundial na atualidade?

6) Quais são as dimensões analisadas pelo IDH? Elas são suficientes para mensurar a qualidade de vida da popu-
lação?

10. considerações
Esta unidade apresentou diversos fatos históricos de maneira integrada e ofereceu um
método de interpretação que justifica as atuais relações de poder e a organização espacial.
Apesar de contar com forte embasamento teórico, as informações aqui descritas ultrapas-
sam o campo da teoria e articulam os fatos vividos pelas sociedades.
Dessa forma, a leitura desta unidade configura-se num grande exercício de atenção, pois o
texto apresenta ideias sequenciais, retomando inclusive informações da Unidade 1.
Assim, é primordial que, antes de avançarmos para a próxima unidade, a partir das qual
iniciaremos o estudo das grandes áreas continentais pela Europa, você tenha a percepção clara
e objetiva dos fatos e conceitos que definiram a regionalização entre hemisférios, bem como os
fatores históricos e geográficos que respaldaram, motivaram e justificam essa divisão.

11. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Fronteira dos Estados Unidos com o México. Disponível em: <http://ocastendo.blogs.sapo.pt/367778.html>. Acesso
em: 28 abr. 2011.
Figura 2 Principais processos de integração regional no ano de 2007. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/
cartotheque/21C_integration_regionale_2005.jpg>. Acesso em: 2 fev. 2012.
Figura 3 Produto Interno Bruto per capita 2010. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/en/node/2608>. Acesso em:
28 jun. 2014.
Figura 4 Participação das exportações mundiais de mercadorias por regiões entre os anos de 2005 e 2010. Disponível em:
<http://www.wto.org/spanish/res_s/statis_s/its2011_s/its11_charts_s.htm>. Acesso em: 18 jan. 2012.
© U2 – Regionalização do Espaço Mundial no Contexto da Globalização 63
Figura 5 Internautas (1991-2006). Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/cartotheque/35C_internautes_2005.jpg>.
Acesso em: 2 fev. 2012.
Figura 6 Analfabetismo, 2009. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/en/node/2412>. Acesso em: 28 jun. 2014.
Figura 7 Regionalização contemporânea. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/cartotheque/20_C_typologie%20
des%20états%20dans%20la%20mondialisation.bmp>. Acesso em: 23 mar. 2010.
Figura 8 G8 e G20. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/cartotheque/01_G8_G20.jpg>. Acesso em: 2 fev. 2012.
Figura 9 Componentes do IDH. Disponível em: <http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2010_PT_Complete_reprint.pdf>. Acesso
em: 18 jan. 2012.

Lista de tabelas
Tabela 1 Dívida externa e serviço da dívida por regiões em bilhões de dólares. Disponível em: <http://www.imf.org/external/
spanish/pubs/ft/weo/2009/02/pdf/tblsPartBs.pdf>. Acesso em: 2 fev. 2012.
Tabela 2 Coeficiente de Gini e Medianos de Gini por região e decênios. Disponível em: <http://observatorio.iuperj.br/artigos_
resenhas/Um_panorama_das_desigualdades_na_America_Latina.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2010.

Sites pesquisados
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. BRICS – Agrupamento Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Disponível em:
<http://www.itamaraty.gov.br/temas/mecanismos-inter-regionais/agrupamento-brics>. Acesso em: 18 jan. 2012.
______. Ministério das Relações Exteriores. Mercosul. 2010. Disponível em: <http://www.mercosul.gov.br/>. Acesso em: 28 abr.
2011.
______. Congresso Nacional. Área de Livre Comércio das Américas. 2010. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/mercosul/
blocos/ALCA.htm>. Acesso em: 28 abr. 2011.
LETRAS. TERRA. Cibernética. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/gilberto-gil/574299/>. Acesso em: 23 de mar. 2011.
PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório de desenvolvimento Humano – 2010.
Disponível em: <http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2010_PT_Complete_reprint.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2012.
RIBEIRO, A. C. Um panorama das desigualdades na América Latina. In: Observatório Político Sul-Americano. OPSA. Instituto
universitário de pesquisas do Rio de Janeiro. IUPERJ/ UCAM. 2006. Disponível em: <http://observatorio.iuperj.br/artigos_
resenhas/Um_panorama_das_desigualdades_na_America_Latina.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2010.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CASTELLS, M. Fim de milênio. Tradução de Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 3.
HASBAERD, C. R. H.; PORTO-GONÇALVES, C. W. A nova des-ordem mundial. São Paulo: Editora Unesp, 2006.
LACOSTE. Y. Geografia do subdesenvolvimento. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966.
LOURENÇO, G. M.; ROMERO, M. Indicadores Econômicos. Coleção gestão empresarial 2. Curitiba: Associação Franciscana de
Ensino Senhor Bom Jesus, 2002.
MAGNOLI, D. O novo mapa do mundo. 12. ed. São Paulo: Moderna, 1996.
_____. Globalização: estado nacional e espaço mundial. São Paulo: Moderna, 1997.
SANTOS, M. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo: Hucitec/EDUSP, 1978.
_____. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 19. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
VEIGA, J. E. Meio ambiente e desenvolvimento: São Paulo: SENAC, 2006.
VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Estúdio Nobel, Fapesp, 2001.

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Europa

1. Objetivos
• Descrever os aspectos populacionais, econômicos e naturais mais representativos do
continente europeu.
• Analisar as condições econômicas e sociais dos países centrais do capitalismo, localiza-
dos na Europa.
• Inter-relacionar os atributos físicos e antrópicos dos países selecionados.

2. Conteúdos
• Caracterização da homogeneidade dos países europeus com base na apresentação de
índices demográficos e econômicos.
• Descrição de aspectos humanos e naturais da Alemanha, Reino Unido, Itália e França.

3. Orientações para o estudo da unidade


1) Nesta unidade, iniciaremos o estudo das áreas continentais pela Europa, destacando
os aspectos econômicos, populacionais e naturais da Alemanha, Reino Unido, Itália e
França. Esse conjunto de países selecionados possui, de modo geral, status de desta-
que no cenário mundial, devido a inúmeras variáveis que lhes conferem uma expres-
siva importância nas relações econômicas atuais. Como dito anteriormente, várias
leituras e integrações podem ser realizadas, porém, é preciso proceder sempre com
olhar crítico, pois destacamos que grande parte dos dados e indicadores apresentados
nesta unidade é de uma mesma fonte (THE WORLD FACTBOOK DA CIA, 2010), para
que haja padronização, mas essa tentativa de padronizar um grande conjunto de in-
formações pode se mostrar tendenciosa.
66 © Geografia Regional I

2) Para entendermos um pouco mais, o The World Factbook é uma publicação anual
da CIA, agência pertencente ao governo norte-americano, que disponibiliza informa-
ções de base (na forma de um compendio) sobre os países do mundo, fornecendo um
resumo de informações como demografia, localização, telecomunicações, governo,
indústria, capacidade militar entre outros, de todos os países e territórios do mundo
reconhecidos diplomaticamente pelos EUA.
3) Destacamos, também, que o The World Factbook é preparado pela CIA para o uso do
governo federal estadunidense, sendo assim, sua cobertura e conteúdo são elabora-
dos para prover a essa necessidade. Como se torna inviável neste material contrapor
diversos dados de um mesmo país para que se estabeleça juízo e consenso entre eles,
cabe a você, também, a responsabilidade de indagar sobre o que for apresentado!
4) É importante que você saiba que, além dos dados disponibilizados pela CIA, outros da-
dos foram obtidos de órgãos ambientais ou agências de estudos populacionais oficiais
ligados ao governo dos países estudados.

4. INTRODUÇÃO à unidade
Nesta unidade, vamos conhecer a geografia do continente europeu, analisando com mais
especificidade os seguintes países: Alemanha, Reino Unido, Itália e França.
Para compreender os países em sua totalidade, sabemos que é importante observá-los
como o resultado do longo processo de ações humanas sobre a natureza. Devemos, portanto,
analisar elementos naturais, antrópicos e históricos que conduziram tal configuração, buscando
compreender as relações entre esses elementos.
Sabemos que o atual período de globalização é caracterizado pelo elevado fluxo de merca-
dorias e pela mobilidade das indústrias e empresas transnacionais. Portanto, os condicionantes
naturais e mesmo territoriais que foram determinantes para o desenvolvimento econômico de
uma nação no período colonial tornam-se secundários. No entanto, as características naturais,
como clima, relevo e localização também podem ser consideradas condicionantes da estrutura
cultural, o que contribui para alavancar ou restringir o desenvolvimento econômico de um país.
Um exemplo é a presença ou ausência de fontes de energia que são fundamentais para o desen-
volvimento industrial.
Para que você compreenda melhor esta unidade, é importante ter claramente definido
alguns conceitos fundamentais relacionados à demografia e à economia. São eles: PIB, PEA, PIB
per capita e IDH, disponíveis no Glossário de Conceitos, para facilitar sua leitura.

5. EUROPA: CARACTERIZAÇÃO NATURAL E TERRITORIAL


Com uma superfície de 10.180.000 km2, a Europa forma, juntamente com a Ásia, um bloco
continental conhecido como Eurásia. Apesar dos Montes Urais (a leste) serem considerados um
limite natural entre os dois continentes, as relações históricas, políticas e culturais conferiam, ao
longo dos séculos, uma identidade característica à Europa, que atualmente exerce forte influên-
cia política, econômica e cultural sobre grande parte do planeta. Assim, a definição da Europa
como continente está relacionada mais aos aspectos históricos e culturais do que naturais.
O território europeu está localizado totalmente no Hemisfério Norte, limitando-se a oeste
com o Oceano Atlântico, a leste com a Ásia, ao norte com o Oceano Glacial Ártico e ao sul com
o Mar Mediterrâneo. Observe, na Figura, 1 os limites territoriais da Europa e as características
do seu relevo.
© U3 – Europa 67

Figura 1 Europa Físico.

Do ponto de vista geológico, o continente é constituído basicamente por três grandes


compartimentos: Escudos ou Maciços Cristalinos Antigos (Pré-Cambriano/Proterozoico) locali-
zados ao norte; as Bacias Sedimentares (Cenozoicas) na porção central e os Dobramentos Mo-
dernos do Terciário (Cenozoico) ao sul (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2008).
Devido a essa configuração geológica, o relevo europeu apresenta, genericamente, as se-
guintes características: ao norte os escudos cristalinos antigos, que, desgastados pelos proces-
sos erosivos, formaram importantes montanhas cristalinas como os Montes Urais e os Alpes Es-
candinavos. Nessa parte norte da Europa, também há presença de fiordes (feições construídas
pela erosão glacial e posteriormente, invadidas pelo mar), que estão localizados especialmente
na Noruega.
Na região central, predominam as planícies sedimentares, que, no sentido oeste-leste,
se estende da planície parisiense a planície oriental, que abrange partes da Rússia, Romênia,
Polônia e o leste da Alemanha.

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68 © Geografia Regional I

Já na área meridional, os dobramentos recentes oriundos de tectonismos do período ter-


ciário formaram cadeias montanhosas que se estendem dos Pirineus a oeste ao Cáucaso a leste,
passando pelo Alpes, Apeninos, Balcãs e Cárpatos. Nesta área está o ponto mais elevado da Eu-
ropa, o Monte Branco, com 4.807 metros, localizado na cordilheira do Alpes, na fronteira entre
a França e a Itália (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2008).
Ainda na área meridional, os movimentos tectônicos recentes contribuem para a intensa
atividade sísmica e vulcânica. Na Península Itálica, por exemplo, estão alguns dos principais vul-
cões ativos da Europa, entre eles, o Etna, o Vesúvio e o Vulcano.
Essas configurações do relevo são determinantes para a hidrografia do continente. De
modo geral, a Europa apresenta uma importante rede hidrográfica, que historicamente foi im-
portante para a ocupação do território e atualmente traz vantagens econômicas, seja por meio
do transporte de mercadorias ou da geração energética.
Os principais rios da Europa são o Reno, o Ruhr, o Danúbio, o Volga, o Ródano e o Pó. A
seguir, conheça um pouco mais sobre as características de cada um destes rios:
1) Rio Reno: é a via fluvial mais importante da Europa. Com suas nascentes localizadas
nos Alpes Suíços, o rio percorre 1.326 quilômetros até desaguar no mar do Norte. Nes-
se trajeto, liga-se por canais a outros importantes rios, como o Danúbio, Oder, Weser,
Elba, Sena e Ródano (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2008).
2) Rio Danúbio: localiza-se no centro-leste da Europa. Com 2.860 quilômetros de com-
primento, é o segundo mais extenso rio da Europa. Suas nascentes estão localizadas
no sul da Alemanha e percorrem o território da Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia,
Sérvia, Romênia e Bulgária até desaguar no mar Negro. Ao longo desse trajeto, banha
importantes cidades com Linz e Viena (Áustria), Bratislava (capital da Eslováquia), Bu-
dapeste (Hungria), Belgrado (Sérvia), entre outras, constituindo um importante canal
de transporte. Além disso, é muito utilizado para a geração de energia elétrica (NATIO-
NAL GEOGRAPHIC, 2008).
3) Rio Volga: é o maior rio do continente europeu com 3.531 quilômetros de compri-
mento. Suas nascentes estão localizadas na Rússia Central e sua foz no Mar Cáspio.
Neste trajeto, constitui uma importante via de transporte e geração de energia elé-
trica. O rio Volga está ligado ao mar Báltico pelo canal Volga-Báltico e ao mar Negro
através do Volga-Don (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2008).
4) Rio Ródano: nasce nos Alpes Centrais na Suíça e deságua no mar Mediterrâneo, per-
correndo um trajeto de 812 quilômetros. É importante fonte de geração de energia
hidrelétrica para os países europeus (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2008).
5) Rio Pó: nasce no monte Viso, na cordilheira do Alpes, próximo à fronteira com a Fran-
ça, e percorre o território italiano em direção ao leste até desaguar no mar Adriático.
Suas águas são muito utilizadas para a irrigação e geração de energia elétrica (NATIO-
NAL GEOGRAPHIC, 2008).

Clima e vegetação
Na Europa, há uma grande variedade de climas, com significativas diferenças de tempera-
tura e precipitação entre as áreas norte e sul. Grosso modo, os climas europeus são determina-
dos basicamente pelos seguintes fatores climáticos:
1) Latitude: tendência a elevação das temperaturas no sentido norte e sul. De acordo
com a Agência Espacial Europeia (ESA):
De um ponto de vista termodinâmico, o clima divide a Europa em três partes, do Norte ao Sul. As áreas
do norte incluem as regiões polares, as áreas do sul incluem as regiões tropicais e as áreas centrais estão
localizadas nas latitudes intermédias, onde varia mais o gradiente da temperatura Norte-Sul. Por outras
palavras, é onde as massas frias de ar polar encontram o ar tropical quente (ESA, 2014, s.p.).
© U3 – Europa 69

2) Maritimidade e continentalidade: tendência à diminuição da umidade e aumento da


amplitude térmica com o afastamento do litoral.
3) Relevo: diminuição das temperaturas em áreas montanhosas. Além disso, nas áreas
elevadas, o relevo atua como uma barreira natural à penetração da massa de ar polar
ártica ao norte e da massa saariana ao sul.
4) Correntes marítimas: influenciam na temperatura e na umidade do ar na região na
qual atuam. A corrente quente do Golfo, por exemplo, contribui para amenizar a tem-
peratura na zona temperada, especialmente no Reino Unido.
A partir da influência desses fatores, podemos distinguir cinco tipos climáticos europeus:
clima temperado oceânico; clima temperado continental; clima mediterrâneo; clima subpolar
ou polar; clima de montanha. Observe, na Figura 2, a distribuição desses tipos climáticos.

Figura 2 Europa: tipos climáticos.

Como as condições climáticas contribuem para a distribuição dos tipos de vegetação pre-
sentes no continente, a seguir, apresentaremos, resumidamente, as características de cada tipo
climático e as formas de vegetação a eles associadas.
Observe a Figura 3, que apresenta a distribuição da vegetação original e compare com a
Figura 2.

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70 © Geografia Regional I

Figura 3 Europa: vegetação.

O Quadro 1 apresenta os principais tipos de climas do continente europeu. Observe como


os fatores climáticos atuam em cada uma das porções do continente e as correspondentes for-
mas de vegetação em cada uma destas áreas.

Quadro 1 Principais tipos climáticos do continente europeu.


Este tipo de clima predomina na maior parte da região
oeste da Europa, nas áreas próximas ao Oceano Atlântico. A
maritimidade e a influência das correntes marítimas quentes
contribuem para elevação dos índices de precipitação ao longo
do ano e verões e invernos amenos, sem grande amplitude
Clima temperado oceânico
térmica ao longo do ano.

A vegetação é marcada pela presença de florestas temperadas,


que podem ser formadas tanto por árvores caducifólias (que
perdem suas folhas em determinadas épocas do ano) como
perenifólias (que mantêm suas folhas ao longo do ano).
© U3 – Europa 71

Domina a região centro-oriental da Europa. Neste tipo


climático, a continentalidade contribui para os baixos índices
de umidade e elevada amplitude térmica, cuja principal
Clima temperado continental
característica é a presença de verões quentes e invernos
rigorosos.

Nesta região climática, predominam as estepes temperadas e


as pradarias cujas espécies arbóreas são adaptadas a elevada
amplitude térmica e as baixas precipitações.
Ocorre no sul da Europa e é caracterizado por verões quentes
e baixa umidade no verão devido a influência das massas de ar
provenientes do deserto do Saara; por outro lado, os invernos
apresentam temperaturas mais amenas e maior umidade, em
Clima mediterrâneo
razão da atuação de massas oceânicas. Dado a estas condições
climáticas, nesta área predominam espécies arbustivas de
pequenos portes e adaptadas a longos períodos de estiagem
(vegetação mediterrânea).
Ocorre especialmente em áreas próximas à região ártica, no
norte da península Escandinávia e da Rússia. A influência das
massas de ar polar faz do inverno extremamente rigoroso,
com temperaturas muito baixas, próximas a -50ºC. Já no
verão, as temperaturas são mais amenas ficam entre 10ºC e
20ºC. Nestas áreas predominam a vegetação de tundra que
Clima subpolar ou polar
aparece somente nos períodos curtos de verão.

Nas regiões de clima subpolar, localizadas mais distantes ao


sul da área polar, nas quais, não obstante os verões sejam
curtos, os invernos são menos rigorosos, e a cobertura vegetal
é formada pela taiga ou florestas de coníferas, muito presentes
ao norte da Rússia, Suécia e Noruega.
É encontrado em áreas montanhosas, especialmente
localizadas no sul do continente (Pirineus, Alpes, Balcãs e
Clima de montanha
Cárpatos). As baixas temperaturas no inverno contribuem
para intensas geadas e nevascas. Além disso, as baixas
temperaturas dificultam o desenvolvimento de plantas e
arbustos, por isso, o domínio de gramíneas, líquens e musgos.
Fonte: adaptado de ESA (2014); Grandes Impérios e Civilizações (1997); National Geographic (2008).

Aspectos econômicos
O mapa político do continente europeu, ao longo da história, passou por várias transfor-
mações territoriais. Somente no século 20, em decorrência das duas grandes guerras mundiais,
do fim da Guerra Fria e de inúmeros conflitos regionalizados, o mapa europeu foi redefinido di-
versas vezes. Atualmente, os conflitos na Ucrânia, no nordeste da Espanha e sudoeste da França
envolvendo a etnia basca são os principais focos de disputa territorial e política.
O mapa da Figura 4 apresenta a atual configuração política e territorial da Europa. Acom-
panhe.

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72 © Geografia Regional I

Figura 4 Europa: político.

Como vimos na Unidade 2, neste continente consolidou-se uma das principais iniciativas
de integração regional: a União Europeia. Nascida logo após a segunda Guerra Mundial, como
forma de evitar novos conflitos e garantir a estabilidade econômica. Conforme explica Naime
(2005, p. 2):
© U3 – Europa 73

Em 1951, os países do Benelux – Bélgica, Países Baixos (Netherlands) e Luxemburgo – juntamente


com a Alemanha Ocidental, França e Itália, pelo Tratado de Paris, formam a Comunidade Econômica
do Carvão e do Aço (CECA) que visava garantir e gerenciar as reservas de carvão e aço, importantes
insumos para o desenvolvimento da indústria europeia da época. Esse foi o primeiro passo no sentido
de unificar os estados europeus.

Após esse acordo inicial envolvendo o controle de carvão e aço, em 1957, os mesmos
países ampliaram as formas de cooperação com a criação da Comunidade Europeia de Energia
Atômica (Euratom) para fomentar o uso de energia nuclear para fins pacíficos e formaram, tam-
bém, a Comunidade Econômica Europeia (CEE), estabelecendo uma união aduaneira, suprimin-
do as restrições comerciais entre estados-membros e definindo uma tarifa externa comum para
o bloco (NAIME, 2005).
Outro passo importante para integração regional da Europa foi dado na cúpula em Haia,
no ano de 1969, quando ficou acordado entre os países-membros a criação de uma união eco-
nômica e monetária, além da abertura ao ingresso de novos países. Assim, de “[...] 1957 a 1995,
a ‘Europa dos Seis’ transformou-se em ‘Europa dos Quinze’, com a incorporação da Grã-Breta-
nha, Irlanda e Dinamarca (1973); Grécia (1981); Portugal e Espanha (1986); Áustria, Finlândia e
Suécia (1995)” (MRE, 2011, p. 15).
Com a expansão do bloco e a ampliação do comércio entre os países, criou-se a neces-
sidade de estabelecer mecanismos de maior controle e transparência nas políticas de desre-
gulamentação e liberalização econômica, ao mesmo tempo em que se buscava aprofundar a
institucionalidade do bloco. Em consequência, após diversas reuniões, foi ratificado, em 1992, o
Tratado de Maastricht, que criava a União Europeia.
De acordo com Naime (2005, p. 5):
O Tratado de Maastricht veio substituir os textos anteriores constitutivos do processo de integração
europeu. Isso pois agrupava em seu cerne as demais organizações previamente estabelecidas entre os
Estados membros. Assim, a UE estabelecia-se sobre três pilares: as Comunidades Européias, a Política
Externa e de Segurança Comum (Pesc), e a cooperação nas áreas da justiça e das questões internas.

Com ratificação do tratado, a UE passou a aprofundar os mecanismos de integração entre


os países membros, adotando políticas de estímulo a livre circulação de mercadorias, serviços,
mão de obra e capitais, até a adoção da moeda única em 1999.
Na década de 2000, o bloco passa por um novo processo de expansão com a adesão de
países anteriormente vinculados ao regime socialista soviético. Em 2004, dez novos países pas-
sam a fazer parte do bloco: Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia,
Malta, Polónia e República Checa. Em 2007, Bulgária e a Roménia também aderem ao bloco. E,
em 2013, a Croácia torna-se o 28º país a compor a União Europeia. Observe, no mapa da Figura
5, os países que fazem parte da União Europeia.

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74 © Geografia Regional I

Figura 5 União Europeia.

Com cerca de 500 milhões de habitantes, a população da UE é inferior apenas a da China


e da Índia, dados que por si só indicam a importância do bloco em termos comerciais, econômi-
cos e financeiros. Em conjunto, o PIB dos países da UE representa 23% do total mundial (União
Europeia, 2014).
O comércio externo do bloco é responsável por cerca de 20% das importações mundiais
e é o principal mercado exportador mundial. Observe a Figura 6, que mostra o percentual de
exportação dos principais mercados mundiais. Já a Figura 7 apresenta os principais produtos
exportados pela UE.

Figura 6 Participação da UE nas exportações mundiais de bens e serviços.


© U3 – Europa 75

Figura 7 Exportações da UE por setor.

É importante ressaltar que a Europa apresenta uma economia diversificada, com eleva-
da produção e produtividade industrial e agrícola. O setor de serviços emprega, atualmente, a
maior parte da população economicamente ativa, contribuindo expressivamente para o cresci-
mento econômico dos países.
Desde o século 15, os países europeus estiveram à frente do processo de expansão do
capitalismo pelo mundo e difusão de uma sociedade urbana e industrial. Nesse processo, vastos
territórios na América, África, Ásia e Oceania foram colonizados e serviram a reprodução am-
pliada do capitalismo.
O imperialismo europeu na África e na Ásia só chegou ao fim na forma de ocupação terri-
torial direta no final do século 20, o que não impediu que a dominação permanecesse. Como vi-
mos nas Unidades 1 e 2 desta obra, com a emergência da globalização e a mundialização da pro-
dução, o poderio econômico europeu, expresso na figura das empresas transnacionais continua
a ser exercido pelos mecanismos de comércio, controle tecnológico, informacional e financeiro.
Dessa forma, a expressão da riqueza em muitos países europeus só pode ser compreendi-
da pela análise das formas de reprodução do capital em nível mundial, uma vez que a descentra-
lização da produção industrial faz com que a rentabilidade das grandes empresas seja produzida
muitas vezes em outros países.
Do ponto de vista interno, também há uma dispersão espacial das indústrias pela Europa,
na medida em que as empresas buscam se aproveitar de vantagens locacionais, como isenção
de impostos, redução do custo da mão de obra e o valor do solo; porém, esse fenômeno recente
ainda não foi capaz de alterar a geografia da distribuição industrial do continente, que continua
concentrada na Alemanha, França, Reino Unido e Itália.
Nesses países ocorrem grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento que con-
tribuem para o intensivo emprego de tecnologia nas atividades industriais, com destaque para

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76 © Geografia Regional I

setores considerados de ponta como eletrônica, informática, telecomunicações, biotecnologia,


entre outros. Em contrapartida, esse desenvolvimento tecnológico tem agravado um dos princi-
pais problemas sociais da atualidade: o desemprego.
Já nos países do leste europeu, especialmente Rússia, Polônia e Hungria, que, no século
20, passaram pela experiência do socialismo real, destaca-se a presença das indústrias de base.
Essas indústrias que foram, na época, implantadas pelo Estado, com o processo de abertura
econômica desses países ao capitalismo, foram privatizadas e hoje recebem aportes financeiros
de capitais estrangeiros para modernização e aumento da produtividade.
A agricultura dos países europeus também se destaca pela alta produtividade e elevados
índices de mecanização. Nas áreas de clima temperado, que ocupam grande parte do centro,
norte e nordeste da Europa, predominam pequenas e médias propriedades com elevados ín-
dices de mecanização e produtividade. Nessas áreas, prevalece a produção de cereais (trigo,
aveia, centeio, cevada etc.), batata, beterraba, vinha, rebanho bovino e suíno.
Já as regiões de clima mediterrâneo apresentam propriedades maiores e menos produ-
tivas. Nessas áreas, os principais produtos cultivados são: tabaco, milho, vinha, oliva, rebanho
caprino. A Figura 8 mostra a produção dos principais gêneros agrícolas europeus.

Figura 8 Produção anual dos agricultores europeus.


© U3 – Europa 77

A pesca é outra atividade fundamental para a economia europeia, especialmente para os


países nórdicos (Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Islândia) e para os países da Europa
Meridional (Portugal, Itália e França) que dispõem de frotas e instrumentos sofisticados para a
atividade pesqueira.
Segundo o boletim Pesca e Assuntos Marítimos da União Europeia: “Os mares e os ocea-
nos têm também um papel econômico crucial. Atualmente, 3% a 5% do PIB da EU provém do
setor marítimo, que emprega cerca de 5 600 000 pessoas e gera 495 mil milhões de euros. Cer-
ca de 90% do comércio externo e 43% do comércio interno da UE fazem-se por via marítima”
(União Europeia, 2014, p. 3).
Contudo, o setor que mais emprega na Europa é o setor terciário (serviços e comércio).
Os grandes centros urbanos, especialmente as capitais, são centros comerciais de grande atra-
tividade e dispõem de uma moderna e ampla rede de serviços. O turismo é uma atividade eco-
nômica importante para diversos países europeus, dinamizando atividades ligadas ao comércio,
hotelaria, transportes, alimentação, entre outros.

População e condições sociais


O continente europeu abrigava, em 2013, cerca de 742 milhões de pessoas, que, se com-
parado a outros continentes, se distribui de forma mais regular. As maiores concentrações po-
pulacionais estão localizadas nas regiões metropolitanas das capitais em áreas de grande desen-
volvimento industrial.

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78 © Geografia Regional I

Figura 9 Densidade demográfica da Europa.

Como pode ser observado na Figura 9, as áreas mais povoadas estão nos Países Baixos,
Alemanha, Reino Unido, norte da Itália, regiões próximas a Moscou, Barcelona e em capitais
como Paris e Madri. Já as áreas mais despovoadas estão ao norte dos países escandinavos e no
norte da Rússia.
© U3 – Europa 79

Vale ressaltar que a maioria dos países europeus já passou pela chamada transição demo-
gráfica, que é definida pela redução significativa da mortalidade e a posterior redução nas taxas
de natalidade.
De acordo com o relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) de 2011:
Na Europa, de norte a sul e de leste a oeste, são as baixas taxas de fecundidade – e não o crescimento
populacional – que causam alarme. Alguns países adotaram programas de incentivo para estimular as
pessoas a terem mais filhos. Tais políticas, chamadas natalistas ou pró-nascimento, quase sempre são
acompanhadas de apelos às famílias para terem mais filhos em nome da sustentação do crescimento
econômico nacional (UNFPA, 2011, p. 55).

O relatório aponta ainda que:


[...] baixa fecundidade prevalece em todo o sul e leste europeus, incluindo a Rússia, com taxas de fecun-
didade de 1,5 ou menos em toda a região. (A exceção é Montenegro, com 1,6). As taxas de fecundidade
da Europa ocidental também são baixas, com médias regionais de 1,6, enquanto a França e Irlanda
apresentam taxas mais altas, de cerca de 2,0 (UNFPA, 2011, p. 56).

Somado a isso, a tendência ao envelhecimento da população não gerou deficiência na


oferta da força de trabalho nos países mais desenvolvidos devido à entrada de imigrantes. Des-
de o final da Segunda Guerra Mundial, milhões de estrangeiros passaram a entrar na Europa,
especialmente das colônias na África e na Ásia, para desempenhar tarefas que exigiam baixa
qualificação ou para aquelas cujos europeus não se dispunham a realizar. Segundo a UNFPA, em
2010, a Europa apresentava o maior número de imigrantes estrangeiros entre todos os conti-
nentes, totalizando 69,8 milhões de pessoas.
Além dessa migração de outros continentes, a migração interna dos países mais pobres
para os mais desenvolvidos contribuiu para a manutenção nas taxas de reprodução da força de
trabalho. Contudo, com a globalização e as elevadas taxas de desemprego nos períodos de crise
econômica, têm aumentado as manifestações xenófobas em diversos países europeus.
De modo geral, os países europeus também apresentam elevados indicadores socais, ape-
sar de importantes diferenças regionais. Quando consideramos o IDH, por exemplo, verificamos
que há uma grande desigualdade entre os países nórdicos e da Europa Ocidental para os paí-
ses do leste europeu e da região dos Balcãs. Em 2010, a Noruega ocupava o primeiro lugar no
ranking do IDH, e a Moldávia – último colocado entre os países europeus, estava em centésimo
lugar.

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80 © Geografia Regional I

Figura 10 Melhores e piores IDHs da Europa.

Esses dados são exemplares para evidenciar que, sob a aparência da generalização de uma
pretensa Europa rica, há profundas desigualdades entre os países e o seu interior. Na própria
União Europeia existem “[...] atualmente cerca de 116 milhões de pessoas que vivem abaixo do
limiar de pobreza ou em risco de pobreza e de exclusão social, o que corresponde a cerca de 23%
da população total" (UNIÃO EUROPEIA, 2013, p. 4).
© U3 – Europa 81

Em seguida, ampliaremos a nossa compreensão sobre o território europeu com base na


análise de quatro importantes países europeus: Alemanha, França, Reino Unido e Itália.

6. ALEMANHA
Para darmos início a este tópico, observe a Figura 11.

Figura 11 Localização da Alemanha.

A Alemanha localiza-se na Europa central, entre o mar do Norte e o mar Báltico e entre os
Países Baixos e a Polônia, logo ao sul da Dinamarca. Ocupa uma extensão de 357.022 km2.
Por ostentar a maior economia e a segunda maior população da Europa (depois da Rús-
sia), a Alemanha é muito importante nas organizações econômicas, políticas e de defesa de todo
o continente europeu. Durante a Guerra Fria, o país foi dividido em dois Estados (1949): a Oeste,
a República Federal da Alemanha, e a Leste, a República Democrática da Alemanha Oriental
(CIA, 2010).
O declínio da União Soviética e o fim da Guerra Fria ocasionaram a reunificação alemã
(1990). Desde então, a Alemanha gastou fundos consideráveis para equiparar a produtividade e
os salários do setor oriental aos do setor ocidental.
A Alemanha integra o mais importante bloco econômico do mundo, a União Europeia,
que, desde janeiro de 1999, compartilha uma moeda comum de câmbio, o euro, com dez outros
países. A Alemanha unificada compreende 16 estados, dos quais três (Berlim, Bremen e Ham-
burgo) são cidades-estado. Observe no mapa da Figura 12 a divisão política do país.

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82 © Geografia Regional I

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 12 Divisão política da Alemanha.

A relação entre o homem e o meio natural


Temos destacado, ao estudar os demais países, que é a relação entre o homem e o meio
natural que nos permite compreender um país em sua totalidade. De igual forma, vamos, na
sequência, conhecer as características naturais e humanas que formam o espaço total da Ale-
manha. Acompanhe.

Relevo
Observe o mapa físico da Alemanha na Figura 13.
© U3 – Europa 83

Figura 13 Mapa dos aspectos físicos da Alemanha.

Pela simples observação do mapa (Figura 13), podemos constatar que:


• O país apresenta altitudes moderadas. Na maior parte do Norte, as altitudes médias
são inferiores a 200m.
• As altitudes aumentam no Sul, onde predominam altitudes maiores que 200m e me-
nores que 1.000m.
• Em alguns pontos isolados, o relevo atinge altitudes acima de 1.000m.
De maneira simplificada, o relevo da Alemanha divide-se em cinco regiões. De Norte a Sul,
podemos observar: as terras baixas do Norte e as colinas e montanhas baixas do Mittelgebirge;
a Oeste e ao Sul, planaltos e montanhas alemãs, ao Sul estão a região dos lagos e os alpes da
Baviera, onde se localizam os maiores picos da Alemanha, próximo a Garmisch.

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84 © Geografia Regional I

A Alemanha subdivide-se em cinco grandes regiões geográficas: a planície setentrional, as


montanhas centrais (de altitudes médias), a região das chapadas do Sudoeste, a região Pré-alpi-
na e os Alpes da Baviera. As serras da região central separam o Norte do Sul do país. O vale do
Reno e a baixada de Hessen servem como linha natural de escoamento do tráfego entre o Norte
e o Sul.
A erosão e a sedimentação ocorridas nas glaciações quaternárias formaram a planície lo-
calizada ao sul da Alemanha. Destacam-se, nessa paisagem, alguns setores com maior elevação
topográfica (BRASIL, 2011a).

Relevo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O relevo é um dos elementos físicos mais importantes de um país ou região, pois determina seus tipos de solo e
aptidões, influencia o deslocamento de massas de ar e condiciona o uso e a forma de ocupação humana.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Clima
O clima da Alemanha configura-se como a transição entre os climas atlântico e continen-
tal. Ou seja, possui temperaturas suaves com chuvas abundantes e regulares e, no inverno,
temperaturas baixas e menos umidade. Observe as Figuras 14 e 15.

Figura 14 Média anual de precipitação na Alemanha.


© U3 – Europa 85

Figura 15 Temperatura média anual na Alemanha.

Para compreender o clima da Alemanha, você mesmo pode elencar algumas características a
partir da observação dos mapas de precipitação e temperatura (Figuras 14 e 15). O que pode contri-
buir ainda mais para sua análise é tentar estabelecer relações com a topografia. Por exemplo:

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86 © Geografia Regional I

1) há aumento da precipitação no sentido Sul e Sudeste;


2) as temperaturas também diminuem no sentido Sul e Sudeste;
3) as áreas com maiores registros de precipitação coincidem com as de menores tempe-
raturas, destacando-se os setores mais elevados do país, ao Sul;
4) o progressivo esfriamento no sentido Sul e Sudeste deve-se à altitude e à continenta-
lidade;
5) no setor de planícies, ao Sul, predominam precipitações entre 600 e 1.000 milímetros
anuais, associado a médias anuais de temperaturas mais elevadas (cerca de 10°C).

População e organização espacial


É nesse território de dimensões restritas que vive a 15ª maior população do mundo: cerca
de 82 milhões de habitantes, que ocupam principalmente as áreas urbanas (74%) (CIA, 2010).
A integração da União Europeia e do Ocidente, o desmembramento do Bloco Oriental e
a imigração de países asiáticos e africanos levaram ao aumento do número de estrangeiros na
Alemanha. A grande Berlim, que, desde a unificação do país, cresce rapidamente, conta, atual-
mente, com mais de 4,3 milhões de habitantes. Na região industrial entre o Reno e o Ruhr, vivem
mais de 11 milhões de pessoas (com as maiores densidades demográficas do país). Aproxima-
damente um terço dos habitantes da República Federal da Alemanha vive numa das 82 grandes
cidades (com mais de 100.000 habitantes). A maioria das pessoas vive em vilarejos e pequenas
cidades (BRASIL, 2011a).
Para melhor compreender a organização espacial dessa população, observe a Figura 16,
que demonstra a densidade populacional do país.
© U3 – Europa 87

Figura 16 Densidade populacional da Alemanha.

Pela observação do mapa da Figura 16, podemos constatar que:


• O país apresenta algumas áreas com elevada densidade populacional.
• Se sobrepusermos o mapa de temperatura (Figura 15) com o de densidade (Figura 16),
constata-se que um grande setor de alta densidade (no Vale do Rhur, próximo à cidade
de Dortmund) coincide com temperaturas médias mais elevadas.

É possível dividir o país em duas regiões com base na análise da densidade: Leste e Oeste.
Você sabe responder o que justifica essa diferença?

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88 © Geografia Regional I

Durante a Guerra Fria existiam duas Alemanhas: a capitalista, a Oeste, e a socialista, a


Leste. Sabendo-se que a economia capitalista estabelece uma sociedade urbano-industrial, a
diferença de densidade entre as regiões é justificada.
Agora que já compreendemos um pouco da organização espacial da população alemã, va-
mos compreender suas características demográficas. Para tanto, atente-se ao gráfico da Figura
17 e a Tabela 1.

Figura 17 Estrutura etária da população.

Tabela 1 Aspectos demográficos da Alemanha.

Taxa de Natalidade (nascimentos/mil habitantes) 8,21

Taxa de mortalidade (mortes/1.000 habitantes) 11

Taxa de crescimento -0,061

Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 1,42

Expectativa de vida 79,41

Fonte: adaptado de CIA (2010).

Quanto à estrutura etária, destaca-se a faixa de 16 a 64 anos.


Predomina na Alemanha, conforme observado na Figura 17, a população acima de 15
anos, porém, há elevado número de pessoas com 65 anos ou mais (mais de 20%). Essa estrutu-
ra, como já vimos, é típica de países desenvolvidos e reflete a qualidade de vida do país.
Outro aspecto importante é o fato de a taxa de crescimento populacional ser negativa
(-0,061), indicando decréscimo da população total. Mesmo com uma taxa de migração positiva
(2,19 migrantes/mil habitantes), o país tende a um decréscimo populacional.
Agora que já conhecemos um pouco dos aspectos físicos e populacionais, uma questão
pertinente é: quais as principais atividades exercidas por essa população? Como se organiza sua
economia? Vejamos a seguir.
© U3 – Europa 89

Economia
A economia alemã está entre as maiores do mundo se considerado o Produto Interno Bru-
to. Seu PIB per capita, em 2010, era de cerca de 34.200 dólares. O país é um dos principais ex-
portadores de máquinas, veículos, produtos químicos e equipamentos de uso doméstico. Conta,
também, com uma mão de obra altamente qualificada (CIA, 2010).
A Alemanha enfrenta significativos desafios demográficos para manter seu crescimento a
longo prazo. As baixas taxas de fecundidade e a diminuição dos fluxos migratórios líquidos estão
aumentando a pressão sobre o sistema de bem-estar social do país, que necessita de reformas
estruturais.
A modernização e integração da economia da Alemanha Oriental – em que o desemprego
pode ultrapassar os 20% em alguns municípios – continua a ser um processo caro e com resulta-
dos de longo prazo. São transferidas, anualmente, do Oeste para o Leste, altas cifras, totalizando
(apenas em 2008) cerca de 12 bilhões de dólares (CIA, 2010).
Neste momento, é interessante lembrar que, ao observarmos o mapa de densidade po-
pulacional (Figura 16), já havíamos refletido sobres as heranças da Guerra Fria na determinação
da organização espacial do país. Agora sabemos que esse período histórico influencia, inclusive,
na economia atual do país.
Algumas reformas lançadas pelo governo no período de 1998 a 2005 para resolver o pro-
blema do desemprego crônico contribuíram com um forte crescimento em 2006 e 2007 e com a
diminuição das taxas de desemprego. A atuação do governo, com a redução da jornada de tra-
balho, ajudou a explicar o aumento relativamente modesto no desemprego durante a recessão
da Alemanha em 2008 e 2009 – a mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial.
A Alemanha saiu da recessão no segundo e terceiro trimestres de 2009 graças à manu-
tenção da produção e das exportações – especialmente para países de fora da Zona Euro – e à
demanda do consumidor relativamente constante (CIA, 2010).
A maior parte da População Economicamente Ativa da Alemanha está empregada no setor
terciário da economia. Este setor também é responsável pelo maior percentual da composição
do PIB nacional. Observe os gráficos nas Figuras 18 e 19.

Figura 18 Quantificação do setor da economia segundo o PIB. Figura 19 Quantificação do setor da economia segundo a PEA.

Destacam-se no setor primário as atividades voltadas à produção de batata, trigo, cevada,


beterraba, frutas, couves, criação de bovinos, suínos e aves (CIA, 2010).
Apesar da agricultura, silvicultura e pesca serem responsáveis por apenas 1,2% do PIB do
país, o setor cumpre um papel social de extrema importância, pois a atividade agrícola é carac-
terizada pela empresa familiar rural (BRASIL, 2011a).

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90 © Geografia Regional I

A distribuição espacial dessas atividades pode ser observada na Figura 20.

Figura 20 Uso da terra na Alemanha.

O mapa da Figura 20 permite-nos compreender a organização espacial do setor primário.


A sobreposição dele com os demais – densidade populacional, precipitação, temperatura e re-
levo – nos faz compreender melhor o espaço alemão em sua totalidade. Ou seja, permite que
façamos uma análise da estrutura espacial herdada da natureza e modificada a partir de ações
humanas.
O setor secundário é caracterizado por indústrias tecnologicamente avançadas que co-
locam a Alemanha entre os maiores produtores do mundo de ferro, aço, carvão, cimento, pro-
dutos químicos, máquinas, veículos, máquinas-ferramentas, eletrônicos, alimentos e bebidas,
construção naval e têxteis (CIA, 2010).
O setor terciário, responsável pelo maior percentual na composição do PIB, é marcado
pela inserção do país no cenário comercial internacional.
© U3 – Europa 91

7. REINO UNIDO
Para darmos início a este tópico, observe a Figura 21.

Figura 21 Localização do Reino Unido.

O Reino Unido é um estado insular que se localiza na costa noroeste da Europa continental
e ocupa uma área de 243.610 km2. Engloba a ilha da Grã-Bretanha, a parte Nordeste da ilha da
Irlanda e muitas outras ilhas menores. É cercado pelo Oceano Atlântico, o Mar do Norte, o Canal
da Mancha e o Mar da Irlanda. A Irlanda do Norte é a única região do Reino Unido com fronteira
terrestre, limitando-se com a República da Irlanda.
Para compreender um pouco mais da divisão política do Reino Unido, observe a Figura 22.

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92 © Geografia Regional I

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 22 Divisão política do Reino Unido.

O Reino Unido é um Estado formado por quatro países: Inglaterra, Escócia, País de Gales
e Irlanda do Norte. O chefe de Estado é um monarca (rei/rainha), e o de governo, um primeiro-
ministro eleito por um Parlamento Central, em Londres. As grandes questões de governo, como
a política econômica, são decididas pelo Parlamento. Mas a Escócia, o País de Gales e a Irlanda
do Norte também têm assembleias nacionais, com certa autonomia para tratar de questões de
cunho local, como saúde.
© U3 – Europa 93

Antes de prosseguirmos nossos estudos, um esclarecimento. Há muita confusão entre as


denominações Inglaterra, Reino Unido e Grã-Bretanha. A Inglaterra é um dos países do Reino
Unido, e este se originou a partir da imposição política da Inglaterra sobre seus vizinhos. Grã
-Bretanha é a grande ilha em que estão Inglaterra, País de Gales e Escócia.
O Reino Unido desempenhou um papel importante no desenvolvimento da democracia
parlamentar e no avanço da literatura e da ciência. Em seu apogeu, no século 19, o Império
Britânico estendeu-se por um quarto da superfície da Terra. Na primeira metade do século 20,
o Reino Unido entrou em declínio após as duas Guerras Mundiais. Na segunda metade, o país
conseguiu se restabelecer como uma nação moderna e próspera.
Como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o Reino
Unido busca uma abordagem global da política externa. O país é também um membro ativo da
União Europeia, apesar de permanecer fora da União Econômica e Monetária (CIA, 2010).

A relação entre o homem e o meio natural


Vamos agora conhecer as características naturais e humanas e suas inter-relações na orga-
nização do espaço total do Reino Unido.

Relevo
Para compreender o relevo do Reino Unido, vamos observar a Figura 23.

Figura 23 Mapa físico do Reino Unido.

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94 © Geografia Regional I

Dessa observação (Figura 23), podemos fazer algumas constatações:


• As regiões Norte e Oeste da Grã-Bretanha apresentam maiores altitudes.
• Ao Sul, as planícies dominam o relevo a Leste e o terreno eleva-se a Oeste no País de
Gales.
• Na Irlanda do Norte, predominam altitudes abaixo de 400m.
A Grã-Bretanha divide-se em duas regiões geográficas principais: uma de planícies e baixa-
das (Lowlands) e outra de montanhas pouco elevadas e planaltos (Highlands). A primeira abran-
ge basicamente o Sul e o Sudoeste da ilha, correspondendo à maior parte da Inglaterra. Nessa
região, encontram-se planícies e pequenas elevações, com altitude máxima de 305 metros. A
Irlanda do Norte também se caracteriza por relevo de planícies (que chegam a 300 metros de
altitude). A região de Highlands compreende toda a Escócia, a chamada Região dos Lagos, uma
cadeia central conhecida como Peninos, o País de Gales e os distritos ingleses da Cornualha e de
Devon. Caracteriza-se por elevações superiores a 300 metros e atinge altitude máxima de 1.342
metros.
As montanhas que se destacam na parte Oeste da Grã-Bretanha correspondem a maciços
muito antigos que apresentam formas arredondadas e aplainadas com altitudes, predominan-
temente, inferiores a mil metros (BRASIL, 2011; ICID, 2011).

Clima
Observe, nas Figuras 24 e 25, os mapas de precipitação média anual e temperatura média
anual. Por meio deles, podemos entender um pouco do clima no Reino Unido.
© U3 – Europa 95

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 24 Temperatura média anual do Reino Unido.

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Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 25 Precipitação no Reino Unido.

Devido à sua localização latitudinal e à configuração do relevo, o Reino Unido possui clima
temperado, com chuvas bem distribuídas por todo o ano, sendo pouco comuns os extremos
de temperatura. A média anual varia de 7°C a 12°C, podendo atingir temperaturas mínimas de
-12°C (dezembro e janeiro) e máximas de 32°C (julho e agosto) (BRASIL, 2011; ICID, 2011).
Podemos constatar que o Sul da ilha da Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte apresentam as
maiores temperaturas médias anuais, enquanto as menores médias anuais ocorrem na Escócia.
© U3 – Europa 97

Quanto à precipitação média anual, observam-se os maiores registros em toda a costa


oeste do país, coincidindo com as regiões com relevo mais elevado.
Mais uma vez, é interessante que você busque estabelecer relações entre os dados de pre-
cipitação, temperatura e as características do relevo. Para tanto, retome o mapa físico do Reino
Unido (Figura 23) e identifique as possíveis relações.

População e organização espacial


Agora vamos compreender um pouco da organização e da estrutura da população que
ocupa esse cenário.
Em 2010, o Reino Unido tinha a 22ª maior população do mundo, com 62.348.447 habitan-
tes. Caracterizando-se por ser um país extremamente urbano, com 90% da população residindo
em cidades (CIA, 2010).
A Figura 26 mostra a densidade populacional do Reino Unido. Observe que há elevada
concentração da população nos centros urbanos, enquanto alguns setores, como o Norte da Ilha
da Grã-Bretanha, são pouco povoados.

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 26 Densidade populacional do Reino Unido (habitantes/km2).

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98 © Geografia Regional I

Ao analisarmos as nações do Reino Unido, constata-se que a Inglaterra é a mais povoada.


A comparação destes dados com o mapa de temperaturas médias anuais (Figura 24) permite-
nos verificar que a densidade é maior nos setores de temperatura média anual mais elevada.
Mas será o fator natural condicionante para a ocupação humana neste caso? Para responder
tal questão, não podemos nos atentar apenas aos fatores naturais, é preciso relembrarmos um
pouco da história do Reino Unido, que condicionou o desenvolvimento urbano. Cabe lembrar
que foi na Inglaterra, justamente a nação com maior densidade populacional, que, por meio da
acumulação de capital do período colonial, se iniciou a Revolução Industrial. Este fato importan-
tíssimo teve, entre outras condições favoráveis para tal desenvolvimento, um grande contingen-
te populacional rural que passou a se concentrar nos centros urbanos.
Para entender um pouco as características desta população, vamos verificar como esta se
organiza quanto à estrutura. Para tanto, observe o gráfico da Figura 27 e a Tabela 2.

Figura 27 Estrutura etária do Reino Unido.

Tabela 2 Dados demográficos do Reino Unido.


Taxa de Natalidade (nascimentos/mil habitantes) 12,34

Taxa de mortalidade(mortes/1.000 habitantes) 9,33

Taxa de crescimento 0,563

Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 1,92

Expectativa de vida (anos) 79,92

Fonte: adaptado de CIA (2010).

Como vimos, nos demais países representativos do poder econômico atual, a estrutura
etária e os dados demográficos refletem a riqueza e as boas condições de vida do país. Chama-
se a atenção para a sua baixa taxa de crescimento (0,563) e de fecundidade (1,92) (CIA, 2010).
© U3 – Europa 99

A expectativa de vida atinge quase 80 anos e revela que o Reino Unido apresenta boas
condições de vida. No entanto, assim como as demais economias de livre mercado, o país apre-
senta desigualdade socioeconômica e uma taxa de desemprego de 7,6%.

Economia
De acordo com a CIA (2010), o Reino Unido, potência comercial e centro financeiro, é
uma das principais economias da Europa Ocidental. Possui uma agricultura intensiva, altamente
mecanizada e eficiente para os padrões europeus, produzindo cerca de 60% das necessidades
alimentares com menos de 2% da força de trabalho. O país tem grandes reservas de carvão, gás
natural e petróleo, mas suas reservas de petróleo e gás natural estão limitadas, o que gerou a
importação de energia a partir de 2005.
Em 2008, a crise financeira global atingiu a economia do Reino Unido devido à importância
de seu setor financeiro. O declínio acentuado dos preços das casas, a dívida dos consumidores
de alta renda e a desaceleração econômica global agravaram os problemas econômicos do país,
ocasionando uma recessão no segundo semestre de 2008. Deste modo, o governo teve de im-
plementar uma série de medidas para estimular a economia e estabilizar os mercados financei-
ros.
O setor de serviços destaca-se expressivamente em relação à proporção do PIB, enquanto
a indústria tende a diminuir sua importância. É também no setor de serviços que se concentra a
maior parte da população economicamente ativa (CIA, 2010). Observe os gráficos das Figuras 28
e 29, os quais demonstram a composição do PIB e a distribuição do PEA por setor da economia.

Figura 28 Quantificação do setor da economia segundo o PIB. Figura 29 Quantificação do setor da economia segundo a PEA.

As principais atividades do setor primário são agricultura e pecuária, com destaque para
o cultivo de cereais, oleaginosas, batata, verduras, a criação de bovinos, ovinos, aves, a pesca e
a extração de carvão, petróleo e metais.
No setor secundário destacam-se as indústrias voltadas para a produção de máquinas-
ferramentas, equipamentos de energia elétrica, equipamentos de automação, ferroviários, de
construção naval, aeronaves, veículos automóveis, produtos eletrônicos e equipamentos de co-
municações, produtos químicos, papel e derivados, processamento de alimentos, têxteis, ves-
tuário e outros bens de consumo.
O setor terciário é característico de economias de livre-mercado, com fluxos de mercado-
rias no cenário internacional.

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100 © Geografia Regional I

8. ITÁLIA
Como você pode ver na Figura 30, a Itália situa-se ao centro-sul do continente europeu,
ocupando toda extensão da península que se prolonga sobre o Mar Mediterrâneo. Apresenta
uma área de aproximadamente 301.340km².

Figura 30 Localização da Itália.

De acordo com a CIA (2010), o país tornou-se um Estado-Nação em 1861, quando os esta-
dos regionais da península, junto com a Sardenha e a Sicília, foram unidos pelo rei Vítor Emanuel
II. Um longo período de governo parlamentar chegou ao fim no início de 1920, quando Benito
Mussolini estabeleceu uma ditadura fascista. Sua aliança com a Alemanha nazista lhe rendeu a
derrota na Segunda Guerra Mundial. A república democrática substituiu a monarquia em 1946,
e foi caracterizada pela recuperação econômica do país.
A Itália foi um dos membros fundadores da Comunidade Econômica Europeia (CEE), hoje
União Europeia. Desde então, está na vanguarda da unificação econômica e política do conti-
nente.
Entre os principais problemas atuais do país estão a imigração ilegal, o crime organizado,
a corrupção, o desemprego, o lento crescimento econômico e os baixos rendimentos do Sul em
comparação aos do Norte.
Na Figura 31, você pode observar a divisão política do país.
© U3 – Europa 101

Figura 31 Mapa político da Itália.

Relevo
Para compreender o espaço geográfico da Itália, iniciaremos nossa análise pelas caracte-
rísticas do relevo. Observe o mapa da Figura 32.

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102 © Geografia Regional I

Figura 32 Mapa físico da Itália.

Podemos identificar algumas características importantes no mapa (Figura 32):


• O país apresenta terrenos que variam de 0 a 3 mil metros de altitude.
• Predominam altitudes inferiores a 500 metros.
• As maiores altitudes são observadas ao Norte, nas fronteiras com a França, a Suíça e a
Áustria.
A Itália está na linha de contato das placas europeia e africana. Portanto, está sujeita a
terremotos, além de possuir quatro vulcões: o Etna, o Vesúvio, o Vulcano e o Stromboli (estes
dois últimos localizados no mar).
Geomorfologicamente, a Itália está dividida em três grandes unidades regionais:
• Sistema Alpino: estende-se pelo território italiano em quase toda a vertente Meridio-
nal. Os alpes ocidentais rodeiam o Piemonte e a Ligúria. Os Alpes orientais têm diver-
sas dobras: alpes de Otztal, dolomíticos, cárnicos e julianos. Nesse setor, destacam-se
as formações calcárias dos Dolomitas (Marmolada). No setor cristalino, encontram-se
formas mais agrestes, com algumas das principais cimeiras de todo o sistema alpino: o
Monte Rosa (4.634 m) e o Cervino (5.350 m).
• Planície do Pó: entre os Alpes e os Apeninos se estende a Planície do Pó, com 46 mil
km2. O rio do Pó é o mais longo do país, com 652 km de extensão. Caracteriza-se por
uma fossa tectônica entulhada de sedimentos carregados pelos rios que descem as
regiões montanhosas.
• Setor Peninsular Articulado pelos Apeninos: a cordilheira dos Apeninos forma a espi-
nha dorsal da península italiana. Ela se estende de costa a costa ao longo de 1.500 km.
© U3 – Europa 103

Nela, distinguem-se três setores: os Apeninos setentrionais, de menor altura e formas


mais suaves; os Apeninos centrais, que apresentam modelados de tipo cárstico; e os
Apeninos meridionais, que têm seu ponto culminante no monte Pollino. Existem, ain-
da, as terras insulares, representadas principalmente pelo território de Sicília e Sarde-
nha (BRASIL, 2011d).

Clima
A Itália tem um clima temperado mediterrâneo que se caracteriza por ser quente e seco
no verão e ameno no inverno. No entanto, há variações regionais devidas a diferentes latitudes,
a variação topográfica e a influência do mar. As temperaturas mais baixas ocorrem nas regiões
do Norte e as temperaturas mais elevadas nas regiões do Sul. Em particular no inverno de 2010,
no nível nacional, a temperatura média foi de 5,3°C, 0,2°C abaixo do inverno de 2009 e 0,6°C
inferior à média invernal do período 1971-2000 (BRASIL, 2011d).
No Norte da Itália, os invernos são mais rigorosos. As temperaturas anuais médias variam
pouco, entre 11°C e 19°C.
Observe as Figuras 33 e 34.

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Figura 33 Precipitação anual da Itália.


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Figura 34 Mapa de temperatura anual na Itália.

As precipitações são mais abundantes nas montanhas que nos vales e diminuem de Norte
a Sul, como você pode observar no mapa de precipitação (Figura 33).
Há grande variação da temperatura, sobretudo no inverno. A média em janeiro da Planície do
Pó é de 3°C, em Turim é de 11°C e, em Milão, de 1,5°C. Na região da Sicília e da Calábria, as médias
de janeiro atingem os 10°C. As médias em julho vão dos 23°C, em Milão, aos 26,2°C, em Palermo.

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106 © Geografia Regional I

População
Para que compreendamos o espaço geográfico da Itália em sua totalidade, lançaremos mão
de algumas características humanas e buscaremos estabelecer a relação entre os atributos físicos
e humanos. Para tanto, vamos avaliar a organização espacial e estrutural de sua população.
A população atual da Itália é de cerca de 60 milhões de habitantes, dos quais 68% ocupam
as áreas urbanas. Embora seja uma taxa de urbanização elevada, ela é menos expressiva do que
as que apresentam os demais países analisados nesta unidade (CIA, 2010).
O Norte é a região com o maior número de habitantes, (45,7%). No centro estão 19,7% dos
habitantes, enquanto que no sul 34,6% (BRASIL, 2011d).
A Figura 35 demonstra a densidade de ocupação no território italiano.

Figura 35 Mapa de densidade populacional da Itália.


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O mapa da Figura 35 confirma a concentração da população italiana na região norte do


país.

Tente sobrepor este mapa (Figura 35) aos mapas físicos e estabeleça comparações entre a
densidade de ocupação e as características naturais de clima e relevo.
Como no Norte observamos um relevo com elevadas altitudes, há possibilidade e dispo-
nibilidade para geração de energia hidroelétrica, que é fundamental para o desenvolvimento
industrial. Além disso, é no Norte que se encontra a fronteira com países europeus, com os quais
a Itália realiza intenso fluxo comercial. Tais fatos justificam a alta densidade populacional que
está sempre atrelada ao elevado desenvolvimento econômico.
Para compreender a estrutura etária dessa população, vamos agora observar o gráfico da
Figura 36 e a Tabela 3.

.
Figura 36 Estrutura etária da Itália.

Tabela 3 Dados demográficos da Itália.


Taxa de natalidade (nascimentos/mil habitantes) 8,01

Taxa de mortalidade (mortes/1000 habitantes) 10,83

Taxa de crescimento -0,075

Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 1,32

Expectativa de vida (anos) 80,33


Fonte: adaptado de CIA (2010).

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A avaliação da estrutura etária revela um elevado percentual da população com 65 anos


ou mais (20,2%). Apresenta um dos maiores percentuais de idosos observado no mundo, fican-
do atrás apenas do Japão (22,9%) e da Alemanha (20,6%). Tal característica, associada à elevada
expectativa de vida (80,33 anos), confirma que o país se caracteriza por uma elevada qualidade
de vida.

Economia
O país apresenta uma economia industrial diversificada, e é dividido entre o Norte, que
possui um parque industrial desenvolvido e dominado por empresas privadas, e o Sul, menos
desenvolvido, voltado para atividades agrícolas e com elevada taxa de desemprego.
A economia italiana é impulsionada em grande parte pela fabricação de bens de consumo
de alta qualidade, produzidos por pequenas e médias empresas, muitas delas familiares.
A maior parte do PIB do país vem do setor terciário, que emprega a maioria da população
economicamente ativa do país, como você pode observar nos gráficos das Figuras 37 e 38.

Figura 37 Quantificação do setor da economia segundo o PIB. Figura 38 Quantificação do setor da economia segundo a PEA.

Observe o mapa da Figura 39. Ele mostra a distribuição do PIB por região da Itália no ano
de 1999.
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Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 39 PIB per capita por região da Itália em 1999.

Comparando este mapa (Figura 39) com o de densidade populacional (Figura 35), é pos-
sível relacionar as regiões de maior densidade populacional e, portanto, que oferecem maior
possibilidade de remuneração e emprego.
Cabe ressaltar que no Norte se destaca a atividade industrial, na região central o turismo,
enquanto no Sul predomina a agricultura.
A Figura 39 também evidencia a desigualdade socioespacial no país, uma vez que o Norte
é mais desenvolvido e rico do que o Sul.

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Quanto aos setores da economia, observa-se que:


• setor primário: destaca-se o cultivo de frutas, legumes, uva, batata, beterraba, soja,
grãos, azeitonas, pesca e criação de animais de corte e leite;
• setor secundário: destacam-se indústrias voltadas para a produção de máquinas, ferro
e aço, produtos químicos, processamento de alimentos, têxteis, automóveis, vestuário,
calçado e cerâmica.
• setor terciário: é extremamente representativo na proporção do PIB, e tal fato se deve
à expressiva inserção da economia italiana no cenário internacional, com intenso fluxo
de mercadorias.

9. França
Para começarmos nossos estudos sobre a França, observe o mapa disponível na Figura 40.

Figura 40 Localização da França.

A França localiza-se na Europa Ocidental. Seu território é limitado pelo Oceano Atlântico
a Oeste, pelo Canal da Mancha (que a separa do Reino Unido) e o Mar do Norte, ao Norte, pela
Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Suíça e Itália ao Leste, e pelo Mar Mediterrâneo, Andorra, Mô-
naco e Espanha, ao Sul.
Possui territórios no Norte da América do Sul (Guiana Francesa), no Caribe (Guadalupe e
Martinica) e no Oceano Índico (Reunion). Ocupa uma área de 551.500 km2, e com os seus terri-
tórios fora da Europa soma 643.427 km2.
Atualmente, a França é um dos países mais modernos do mundo e é líder entre as nações
europeias. Nos últimos anos, sua reconciliação e cooperação com a Alemanha provaram ser
fundamentais para a integração econômica da Europa, incluindo a introdução de uma moeda
comum de troca, o euro, em janeiro de 1999. Atualmente, a França está na vanguarda dos esfor-
ços para desenvolver as capacidades militares da UE para complementar o progresso em direção
a uma política externa da UE (CIA, 2010).
© U3 – Europa 111

Observe o mapa político da França na Figura 41.

Figura 41 Mapa político da França.

A relação entre o homem e o meio natural


Vamos agora conhecer os aspectos naturais e humanos da França e correlacioná-los para
compreender o espaço geográfico desse país, a exemplo do que fizemos com os demais países
representativos do poderio econômico e político atual.

Relevo e paisagem
Geograficamente, a França pertence tanto ao Norte quanto ao sul da Europa e tem uma
costa mediterrânea e outra atlântica. Todas as fronteiras – exceto no Nordeste, perto da Bélgica
– são naturais, quer sejam mares, altas montanhas, ou amplos rios, como o Reno.

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Vamos conhecer um pouco mais a França partindo do entendimento do seu relevo. Para
tanto, observe atentamente o mapa físico da França na Figura 42.

Figura 42 Mapa físico da França.

Podemos verificar, em um primeiro momento, que:


• o Norte e o Oeste do país são predominantemente planos;
• o Leste, o Centro e o Sul são predominantemente montanhosos.
As montanhas mais antigas são as colinas mais baixas das Ardenas, os Vosgos e o maciço
Central, que datam de aproximadamente 250 milhões de anos. A meseta de bosques das Arde-
nas, composta de rocha de xisto, estende-se até a Bélgica. A cadeia montanhosa de Vosgos, de
bosques espessos, atinge cotas de 1.424m antes de voltar a descer rapidamente para a planície
do Reno, no Leste (GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES, 1997).
No extremo meridional, possui cumes arredondados de rocha cristalina. O comprimento
maciço central, que cobre parte do centro-sul da França, está composto de mesetas de rochas
cristalinas a Norte, vulcões apagados no centro e maciços de granito e de pedra calcária no Sul.
© U3 – Europa 113

Os cumes mais altos são os vulcânicos ao sul de Clermont Ferrand, atingindo até 1.886m
no Puy de Sancy. Ao Sul estende-se a ampla meseta calcária dos Causses, cortada pela garganta
do Rio Tarn e por outros desfiladeiros de grande profundidade.
A Sudeste dos Causses fica a cadeia das Cevenas, cujas montanhas de granito e xisto estão
cobertas de bosques de pinheiros e de castanheiros. Finalmente, o maciço Armoricano, basi-
camente granítico, atravessa o centro da Bretanha e o sul da Normandia, e seu pico mais alto
alcança somente 417m, e é, mesmo assim, o ponto mais elevado de todas as planícies ocidentais
da França (GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES, 1997).
Os Pirineus são montanhas muito mais jovens, que remontam ao período Terciário ou
Quaternário – de 65 a 2 milhões de anos – formando uma barreira natural comprida entre a
França e a Espanha, e com cumes de 3.404m, como o pico Aneto, do lado espanhol da fronteira.
Os alpes franceses estão apenas na parte ocidental da grande cadeia alpina, mas neles estão o
cume mais alto, o Monte Branco (4087m), e as duas maiores regiões de glaciares e neves perma-
nentes da Europa. Os picos centrais dos Alpes são de rocha cristalina, enquanto as mais baixas
montanhas do Jura e Norte, e ao longo da fronteira suíça, são pregas de pedra calcária e formam
uma série de mesetas cortadas por vales profundos e que se elevam a 1.723m na Crête de La
Neige (GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES, 1997).
Entre essas cadeias montanhosas e a costa estendem-se algumas planícies. As mais impor-
tantes são a bacia de Paris, formada por baixas mesetas férteis que vão diminuindo à medida
que se aproximam da depressão onde está Paris. A Norte e a Leste se encontram as planícies
calcárias da Normandia, Picardia e da Champanha.
A vasta planície do vale bastante fértil do Loire está dominada pela meseta baixa e cristali-
na de Anjou e pelas mesetas calcárias da Turena. A bacia da Aquitânia, a Sul, é atravessada pelo
rio Garona e por seus afluentes, que provêm do maciço central. É nela que se encontra a grande
extensão de areia das Landes, que foi artificialmente transformada em bosque de pinheiros no
século 19.
A Leste, o rio Ródano, à medida que se aproxima do mar, corta uma vasta planície dividida
por colinas de arbustos baixos e de pedras conhecidas, como garrigues. Finalmente, na paisa-
gem francesa, surge a fértil planície do Rossilhão, que se estreita entre o mar e as colinas do
Leste dos Pireneus.
As águas dos quatro grandes rios: Rodna, Garona, Loire e Senna e dos seus afluentes cor-
rem entre essas mesetas até o mar (GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES, 1997).
A paisagem da costa francesa é variada. No Norte, o cabo Griz Nez é o mais alto de uma
série de falésias calcárias que continuam até o Leste da Normandia, alternando com praias de
areia. No Oeste da Normandia e da Bretanha, a costa é mais acidentada, com saliências de gra-
nito e pequenas enseadas de areia.
A longa costa ocidental francesa é, em sua maioria, plana, pantanosa em alguns pontos
e com muitas ilhotas próximas. A costa das Landes, a Oeste de Bordéus, tem uma ilha contínua
de praia de areia fina, protegida por dunas altas. No mediterrâneo, a costa do Vermelhão, jun-
to à fronteira da Espanha, é de altos penhascos avermelhados e enrugados. Na costa plana do
Languedoc há muitas lagoas, preparadas para o veraneio. No delta do Ródano está a Camarga,
que é uma atrativa e estranha região de lagoas e pântanos, repleta de pássaros e outros animais
(GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES, 1997).

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114 © Geografia Regional I

Clima
Situada na encruzilhada da faixa ocidental da Europa, a França é influenciada por três
tipos diferentes de clima: atlântico, continental e mediterrâneo. Estes se combinam para dar
variedade a um clima que é geralmente temperado, com pluviosidade suficiente para atender
às necessidades agrícolas.
Para compreender o clima da França, analise atentamente as Figuras 43 e 44.

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 43 Temperatura média de janeiro.
© U3 – Europa 115

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 44 Temperatura média de julho.

Agora, veja na Figura 45 a média anual de precipitação.

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116 © Geografia Regional I

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 45 Precipitação média anual (mm).

Na Bretanha, os ventos ocidentais que sopram do oceano trazem muita umidade e inver-
nos quentes (esses ventos atravessam a França, que está exposta às depressões ciclônicas que
vêm do Atlântico). A Leste, a influência continental gera diferenças extremas de temperatura,
com invernos gelados, limpos e verões quentes, mas com tempestades frequentes.
Perto do Mediterrâneo, os verões são prolongados, quentes e secos, o que é propício a
incêndios florestais, e os invernos são temperados, porém um vento frio e violento do Norte
atinge a região durante vários dias (GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES, 1997).

População e organização espacial


A localização dos principais centros urbanos relaciona-se com as explorações minerais, as
rotas comerciais ou ambos. Paris estabeleceu-se nos primeiros tempos sobre uma bacia fértil
num ponto onde o rio Sena é facilmente navegável a partir do mar. Situado no centro da planí-
cie, foi sempre a atração da hipercentralização francesa, com um crescimento crescente. Com
seus arredores, certamente é o maior centro urbano.
© U3 – Europa 117

A área de Lille, no Norte, densamente povoada, pôde desenvolver-se primeiro devido a


sua estratégica posição comercial, próxima da Inglaterra e dos Países Baixos. Depois, a região
cresceu até se tornar um grande centro industrial, quando exploraram suas minas de carvão
(GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES, 1997).
Do mesmo modo, o Norte de Lorena utilizou as reservas de carvão e de ferro como base
para a indústria. Lion tornou-se uma importante cidade industrial e comercial devido à sua posi-
ção-chave na encruzilhada dos vales do Ródano e do Saone. Há duas grandes cidades nos vales
próximos, afastados das vias comerciais: Saint-Etienne, que concentra-se na indústria pesada
e nas minas de carvão; Grenoble, que passou por um crescimento surpreendente depois da
guerra, apoia-se em seu grande potencial hidrelétrico e no turismo (GRANDES IMPÉRIOS E CIVI-
LIZAÇÕES, 1997).
Também o turismo explica o crescimento urbano da Costa Azul, à volta de Nice, um im-
portante enclave residencial e de veraneio desde o século passado. A Oeste está Marselha,
originalmente uma colônia grega, localizada exatamente na foz do Ródano, sendo o maior por-
to mediterrâneo da França. Outras cidades importantes possuem paisagem tipicamente rural.
Apesar dessa característica, desenvolveram-se como capitais regionais por motivos comerciais,
como Toulouse, no Garonne, capital da Bretanha; e Estrasburgo, no Reno, capital da Alsácia.
Desde a Segunda Guerra Mundial, há uma tendência notável da população francesa de
se deslocar para a costa, especialmente para o Sul, onde o clima e as paisagens são bastante
atraentes. Ao mesmo tempo, uma faixa ampla do centro, que vai das Ardenas até os Pireneus
Centrais pelo maciço Central, historicamente bastante despovoada, começa a se destacar.
Agora que já compreendemos um pouco mais sobre a organização espacial da população,
vamos tentar entender a estrutura demográfica.
A estrutura etária da população é típica de países com desenvolvimento recente: elevada
expectativa de vida e elevado percentual de população adulta. Observe o gráfico da Figura 46 e
a Tabela 4.

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Figura 46 Estrutura etária da França.

Tabela 4 Dados demográficos da França.


Taxa de natalidade (nascimentos/mil habitantes) 12,43

Taxa de mortalidade (mortes/1.000 habitantes) 8,65

Taxa de crescimento 0,53

Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 1,97

Expectativa de vida (anos) 81,44

Fonte: adaptado de CIA (2010).

Economia
Atualmente, a economia francesa está na transição de uma economia caracterizada pela
propriedade extensiva do governo para uma economia moderna, com maior liberdade de mer-
cado. O governo tem privatizado grandes empresas, total ou parcialmente, como bancos e se-
guradoras, e cedeu participações em empresas líderes, tais como a Air France, France Telecom,
Renault e Thales (CIA, 2010).
Com cerca de 75 milhões de turistas estrangeiros por ano, a França é o país mais visitado
do mundo e mantém a terceira maior renda proveniente do turismo. Seus líderes continuam
comprometidos com um capitalismo que visa a manter a equidade social, por meio de leis, polí-
ticas fiscais e gastos sociais que reduzam a desigualdade de renda e o impacto do livre mercado
na saúde pública e bem-estar (CIA, 2010).
A França tem resistido à crise econômica global melhor que a maioria das grandes econo-
mias da UE, por ter um mercado consumidor mais resistente, mais gastos do governo e menor
exposição à desaceleração da demanda global.
© U3 – Europa 119

No entanto, o PIB real da França contraiu 2,2% em 2009, enquanto a taxa de desemprego
aumentou de 7,4%, em 2008, para quase 10%. Em resposta à crise econômica, o governo apro-
vou um plano de estímulo de 35 bilhões de dólares em fevereiro de 2009, que centra no investi-
mento em infraestrutura e incentivos fiscais para pequenas empresas (CIA, 2010).
A maior parte do PIB nacional compõe-se do setor terciário. É esse setor também que em-
prega a maioria da população economicamente ativa. Observe a composição do PIB (Figura 47)
e a distribuição da PEA (Figura 48) por setores da economia.

Figura 47 Quantificação do setor da economia segundo o PIB. Figura 48 Quantificação do setor da economia segundo o PEA.

As principais atividades do setor primário são o cultivo de trigo, cereais, beterraba, batata,
uvas para vinho, criação de animais para produção de carne e produtos lácteos e pesca.
No setor secundário, destacam-se indústrias voltadas para a produção de maquinário,
produtos químicos, automóveis, metalurgia, aeronaves, eletrônica, têxtil e processamento de
alimentos.
No setor terciário, destacam-se os serviços do turismo e o comércio em escala internacio-
nal (CIA, 2010).

10. questões autoavaliativas


Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta
unidade:
1) Qual a relação entre os tipos climáticos e a vegetação no continente europeu?

2) Qual a importância da rede hidrográfica para a economia dos países europeus?

3) Faça uma linha cronológica de criação da UE. Quais são as suas principais características?

4) Qual a importância das migrações para o continente europeu e quais os problemas isto tem acarretado?

5) Analise a dinâmica populacional europeia. Quais as tendências de seu crescimento?

11. Considerações
Nesta unidade, examinamos as características naturais, econômicas e sociais dos países
europeus. Inicialmente apresentamos as características gerais para, em seguida, enfocar nas
particularidades de quatro países com importância econômica significativa para a dinâmica in-
terna do continente, mas também para o conjunto das relações internacionais.

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120 © Geografia Regional I

É importante ter clareza de que a descrição dos principais aspectos populacionais, eco-
nômicos e físicos de alguns dos países mais representativos do poderio econômico mundial
objetivou aprofundar o conhecimento sobre a realidade europeia. No entanto, esta exposição
traz um retrato e as perspectivas de uma realidade que não é estática, por isso, a necessidade
da atualização e do estudo constante.
Além disso, os atributos dos países selecionados foram descritos em tópicos individuais
(com pequenas ligações entre os condicionantes físicos e as atividades sociais), mas reafirma-
mos a necessidades de interpretá-los de modo integrado, pois vimos que o espaço geográfico é
materializado pelos processos históricos e pela relação do homem com a natureza.
Dessa forma, nossa capacidade de explicar a organização do espaço mundial será tão sa-
tisfatória quanto for a compreensão das partes que o constituem. Assim, observamos que os
métodos utilizados pela Geografia fornecem-nos a sistemática necessária para avaliar indivi-
dualmente um conjunto de países, indicando aqueles que apresentam homogeneidade segun-
do determinados atributos.
Seguindo esta compreensão, na próxima unidade, estudaremos a América Anglo-Saxônica.
Até lá!

12. e-referências

Lista de figuras
Figura 1 Europa Físico. Disponível em: <http://www.europa-turismo.net/mapas/europa-mapa.htm>. Acesso em: 10 jul. 2014.
Figura 2 Europa: tipos climáticos. Disponível em: <http://geografiapraquemnaosabia.blogspot.com.br/>. Acesso em: 10 jul.
2014.
Figura 3 Europa: vegetação. Disponível em: <http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/11/vegetacao-europa.
jpg>. Acesso em: 22 jan. 2015.
Figura 4 Europa: político. Disponível em: <http://geografia-mgf.blogspot.com.br/2013/06/jogo-paises-da-europa.html>. Acesso
em: 10 jul. 2014.
Figura 5 União Europeia. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/world-middle-east-24367705>. Acesso em: 17 jul. 2014.
Figura 6 Participação da UE nas exportações mundiais de bens e serviços. Disponível em: <http://europa.eu/pol/pdf/flipbook/
pt/trade_pt.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2014.
Figura 7 Exportações da UE por setor. Disponível em: <http://europa.eu/pol/pdf/flipbook/pt/agriculture_pt.pdf>. Acesso em:
18 jul. 2014.
Figura 8 Produção anual dos agricultores europeus. Disponível em: <http://europa.eu/pol/pdf/flipbook/pt/agriculture_pt.pdf>.
Acesso em: 18 jul. 2014.
Figura 9 Densidade demográfica da Europa. Disponível em: <http://kids.britannica.com/comptons/art-143547/Population-
density-of-Europe>. Acesso em: 18 jul. 2014.
Figura 10 Melhores e piores IDHs da Europa. Disponível em: <http://www.mapsofworld.com/europe/thematic/european-
countries-with-hdi.html>. Acesso em: 18 jul. 2014.
Figura 11 Localização da Alemanha. Disponível em: <http://www.mapsofworld.com/europe/thematic/european-countries-with-
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Figura 12 Divisão política da Alemanha. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/paises/alemanha/mapa_alemanha.htm>.
Acesso em: 19 jul. 2014.
Figura 13 Mapa dos aspectos físicos da Alemanha. Disponível em: <http://www.viewsoftheworld.net/?p=914>. Acesso em: 21
jul. 2015.
Figura 14 Média anual de precipitação na Alemanha. Disponível em: <http://www.stadtentwicklung.berlin.de/umwelt/
umweltatlas/ed408_01.htm>. Acesso em: 21 jul. 2015.
Figura 15 Temperatura média anual na Alemanha. Disponível em: <http://www.europeanunionmaps.com/wp-content/
uploads/2011/05/2011-germany-solar-map.jpg>. Acesso em: 21 jul. 2015.
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2015.
© U3 – Europa 121
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Figura 37 Quantificação do setor da economia segundo o PIB. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/
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Lista de tabelas
Tabela 1 Aspectos demográficos da Alemanha. Adaptado do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-
world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Tabela 2 Dados demográficos do Reino Unido. Adaptado do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-
world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Tabela 3 Dados demográficos da Itália. Adaptado do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Tabela 4 Dados demográficos da França. Adaptado do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.

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122 © Geografia Regional I

Sites pesquisados
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gov.br/ARQUIVOS/Publicacoes/ComoExportar/CEXAlemanha.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011a.
______. Ministério das Relações Internacionais. Como exportar – França (2009). Disponível em: <http://www.brasilglobalnet.
gov.br/ARQUIVOS/Publicacoes/ComoExportar/CEXFranca.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011c.
______. Ministério das Relações Internacionais. Como exportar – Itália (2010). Disponível em: <http://www.brasilglobalnet.gov.
br/ARQUIVOS/Publicacoes/ComoExportar/CEXItalia.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011d.
______. Ministério das Relações Internacionais. Como exportar – Reino Unido (1998). Disponível em: <http://www.schualm.
com.br/artigos/Reino_Unido.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011e.
______. Ministério das Relações Internacionais. Como exportar – União Europeia (2011). Coleção: Estudos e Documentos
de Comércio Exterior. Disponível em: <http://www.brasilglobalnet.gov.br/ARQUIVOS/Publicacoes/ComoExportar/
CEXUniaoEuropeia.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2014.
CGIAR – Consortium for Spatial Information. SRTM Data Selection Options. Disponível em: <http://srtm.csi.cgiar.org/SELECTION/
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CIA – Central Intelligence Agency. The World Factbook. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
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ESA - European Space Agency. Tempo e clima da Europa. 2014. Disponível em: <http://www.esa.int/SPECIALS/Eduspace_
Weather_PT/SEMQIB0UDSG_0.html>. Acesso em 15 de jul. de 2014.
ICID – Internacional Commission on Irrigation and Drainage. Great Britain. Disponível em: <http://www.icid.org/v_uk.pdf>.
Acesso em: 20 jun. 2010.
NAIME, J. União Europeia: histórico. PUC Minas: Conjuntura Internacional, 2005. Disponível em: <http://www.pucminas.br/
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UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas. Relatório sobre a Situação da População Mundial 2011. Disponível em: <http://
www.un.cv/files/PT-SWOP11-WEB.pdf http://www.un.cv/files/PT-SWOP11-WEB.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2014.
União Europeia. Compreender as políticas da União Europeia: agricultura. Luxemburgo: Serviço das Publicações da União
Europeia, 2013a. Disponível em: <http://europa.eu/pol/pdf/flipbook/pt/agriculture_pt.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2014.
______. Compreender as políticas da União Europeia: comércio. Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2014.
Disponível em: <http://europa.eu/pol/pdf/flipbook/pt/trade_pt.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2014.
______. Compreender as políticas da União Europeia: pescas e assuntos marítimos. Luxemburgo: Serviço das Publicações da
União Europeia, 2013b. Disponível em: <http://europa.eu/pol/pdf/flipbook/pt/fisheries_pt.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2014.

13. Referências BIBLIOGRÁFICAS


GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES. França. Madrid: Edições Del Prado, 1997.
NATIONAL GEOGRAPHIC. Atlas. 2008. (Coleções Abril).

14. Referência VIDEOGRÁFICA


ESRI. Data & Maps for ArcGis 10. Redlands: ESRI, 2010. DVD.
América Anglo-Saxônica

1. Objetivos
• Conhecer os aspectos populacionais, econômicos e naturais mais representativos dos
países da América Anglo-Saxônica.
• Analisar as condições econômicas e sociais dos países centrais do capitalismo atual:
Estados Unidos e Canadá.
• Inter-relacionar os atributos físicos e antrópicos dos países selecionados.

2. Conteúdos
• Aspectos naturais, econômicos e populacionais dos Estados Unidos da América.
• Aspectos naturais, econômicos e populacionais do Canadá.

3. Orientações para o estudo da unidade


1) Para conhecer um pouco mais sobre a ação geopolítica dos Estados Unidos na Améri-
ca Latina, sugerimos o livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira, Geopolítica e política exte-
rior: Estados Unidos, Brasil e América do Sul. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão,
2009. O livro está disponível para download em: <http://www.funag.gov.br/bibliote-
ca/dmdocuments/0578.pdf>. Acesso em: 30 set. 2014.
2) Do mesmo autor, sugerimos também a obra: A Segunda Guerra Fria? Geopolítica e
dimensão estratégica dos Estados Unidos, publicado em 2013, pela editora Civilização
Brasileira.
124 © Geografia Regional I

3) O documentário Capitalismo: uma história de amor, de Michael Moore, é uma re-


ferência interessante para entender os efeitos da crise econômica de 2008 e alguns
aspectos da economia americana recente.
4) Ao longo desta Unidade, apresentaremos vários dados e informações sobre a Geo-
grafia dos Estados Unidos e do Canadá. Procure, ao longo dos seus estudos, anotar e
sintetizar as informações mais relevantes para facilitar a sua compreensão do espaço
enquanto uma totalidade.

4. INTRODUÇÃO à unidade
O continente americano apresenta a maior extensão latitudinal, do norte do Canadá ao
sul da Argentina, e é marcado por uma grande diversidade de paisagens e diferenças sociais.
Quando considerados os aspectos físicos, este continente pode ser dividido em três grandes
áreas: América do Norte, Central e do Sul. Porém, quando consideramos os processos históricos
e culturais, o continente pode ser regionalizado em duas grandes áreas: América Latina e Amé-
rica Anglo-Saxônica.
Esta denominação está relacionada a influência dos povos colonizadores e as formas de
colonização. Enquanto a América Latina apresentou uma colonização baseada no sistema de ex-
ploração mercantilista aplicado predominantemente por portugueses e espanhóis, os territórios
da América Anglo-Saxônica tiveram uma colonização inglesa denominada povoamento.
Dessa forma, a América Anglo-Saxônica é formada por Estados Unidos e Canadá, cujo
processo de colonização foi realizado especialmente pelos ingleses e, por isso, apresentam im-
portantes laços históricos, étnicos, linguísticos e culturais com povos saxões.
Estes dois países têm em comum também o fato de apresentarem os maiores índices de
desenvolvimento econômico e social, que em muitos aspectos contrasta com a maioria dos
países latinos.
Cabe destacar que, no decorrer deste estudo, nos aprofundaremos nos aspectos físicos,
econômicos e populacionais dos Estados Unidos e do Canadá.
Bons estudos!

5. ESTADOS UNIDOS
Antes de começarmos a falar sobre os Estados Unidos, observe nas Figuras 1 e 2, respec-
tivamente, sua localização e seu mapa.
© U4 – América Anglo-Saxônica 125

Figura 1 Localização dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos da América (EUA) localizam-se na América do Norte, na fronteira com


o Oceano Atlântico, a Leste; o Pacífico, a Oeste; o Canadá, ao Norte, e o México, ao Sul. Ocupa
uma área de 9.826.675km2 (um pouco maior que o Brasil) e é o terceiro maior país do mundo
em extensão (CIA, 2010).
O país esteve sob domínio colonial da Inglaterra até 1776, quando rompeu com a me-
trópole. Já sua independência foi reconhecida em 1783, após o Tratado de Paris, e, durante os
séculos 19 e 20, 37, novos estados foram adicionados aos 13 originais (CIA, 2010).
Atualmente, o país está dividido em 50 estados e um Distrito Federal. O Alasca é um terri-
tório descontínuo, a Noroeste do continente, fazendo fronteira a Leste com o Canadá. No Pacífi-
co central está o estado do Havaí, um arquipélago; também há vários territórios no Caribe, como
podemos observar na Figura 2.

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126 © Geografia Regional I

Figura 2 Mapa político dos Estados Unidos.


© U4 – América Anglo-Saxônica 127

As experiências mais traumáticas da história do país foram a Guerra Civil (1861-1865),


na qual a União norte dos estados derrotou uma confederação separatista de 11 estados es-
cravistas do sul, e a Grande Depressão dos anos 1930, uma recessão econômica que causou o
desemprego de cerca de um quarto da força de trabalho. Entretanto, fortalecidos pelas vitórias
na Primeira e Segunda Guerra Mundial, com o fim da Guerra Fria, em 1991, os Estados Unidos
estabeleceram-se como a nação mais poderosa do mundo. Durante mais de cinco décadas, a
economia atingiu um crescimento constante, baixas taxas de desemprego e inflação e rápidos
avanços tecnológicos (CIA, 2010).

A relação entre o homem e o meio natural


Agora, vamos aprofundar nosso conhecimento com relação aos aspectos humanos e natu-
rais dos Estados Unidos da América e exercitar a análise integrada de tais variáveis, com a fina-
lidade de compreender os Estados Unidos da América sob a perspectiva da totalidade espacial.
Acompanhe.

Relevo e hidrografia
Como sabemos, o relevo é um dos elementos físicos mais importantes de um país ou re-
gião, pois determina seus tipos de solo e suas aptidões, além de influenciar o deslocamento de
massas de ar e determinar a forma de ocupação humana. Desse modo, para conhecermos um
pouco melhor os Estados Unidos, vamos compreender seu relevo e hidrografia.
A divisão dos Estados Unidos em províncias geomorfológicas, mais utilizada atualmente,
foi produzida pelo United States Geological Survey (USGS) e divide o país em 25 províncias geo-
morfológicas. Cada província geomorfológica tem relativa semelhança quanto à forma do relevo
e à estrutura e história geológica. Porém, de maneira mais simplificada, podemos compreender
o relevo dos EUA a partir de seis grandes unidades de relevo. Observe a Figura 3, que apresenta
o mapa físico dos EUA.

Figura 3 Mapa físico dos Estados Unidos.

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128 © Geografia Regional I

Genericamente, de acordo com Fennemam (1931), de Leste a Oeste, podemos identificar


seis grandes unidades geomorfológicas. Embora tal compartimentação seja um tanto genérica,
demonstra inúmeras especificidades do relevo norte-americano, tais como:
1) Planície Litoral Atlântica.
2) Montes dos Apalaches.
3) Planície Central ou do Interior.
4) Montanhas Rochosas.
5) Planaltos Intermontanos.
6) Sistema Montanhoso do Pacífico.
Da fronteira com o México até o Norte do país, está a Planície Litoral Atlântica, abran-
gendo o litoral Atlântico desde o Cabo Cod, um pouco ao Sul de Boston. Essa faixa se alarga à
medida que avança para o Sul. Caracteriza-se por altitudes máximas de 200 metros e recebe os
sedimentos provenientes dos montes Apalaches. Em alguns setores como no litoral do Texas,
Mississipi e Alabama, o relevo apresenta formas de colinas e cristas. Na Flórida central e na
maioria dos estados do Sudeste há trechos acidentados, e pântanos e lagoas ocorrem em pon-
tos diversos do litoral da Virgínia, Carolina do Norte, Flórida e Louisiana (FENNEMAM, 1931).
A cadeia de montanhas dos Apalaches estende-se por 2.500km entre a fronteira do país
com o Canadá e o estado do Alabama. Caracteriza-se pelo predomínio de planaltos e montanhas
baixas com o ponto mais alto representado pelo Monte Mitchell, com 2.037m, na região das
montanhas Azuis (Blue Ridge), a Sudoeste, na área montanhosa central (HENRY, 2007).
As Planícies do interior são áreas planas que se situam entre as vertentes ocidentais dos
Apalaches e as vertentes orientais das Montanhas Rochosas. A Oeste do Mississipi-Missouri,
gradualmente ganham altitude ao se aproximarem do sopé das montanhas Rochosas. Podem
ser subdivididas em planícies centrais a Leste e grandes planícies a Oeste. Em sua porção norte,
encontram-se vestígios de glaciações quaternárias, como os Grandes Lagos. A costa do golfo
do México e o baixo vale do Mississipi, ao Sul, são muito planos e pouco acima do nível do mar
(HENRY, 2007).
A província denominada Montanhas Rochosas, apresenta picos que podem chegar a qua-
tro mil metros de altitude e ocupa uma extensão superior a dois mil quilômetros. Estende-se da
fronteira com o Canadá e cobre os estados de Montana, Idaho, Wyoming, Colorado, Utah e o
norte do Novo México. Funciona como barreira natural entre os oceanos Pacífico e Atlântico, e
as maiores altitudes localizam-se no Sul (HENRY, 2007).
O domínio dos Planaltos intermontanos situa-se entre as montanhas rochosas, a Leste, e
a Serra Nevada e a cadeia das Cascatas, a Oeste. Pode ser dividido em três subunidades: o Pla-
nalto de Colúmbia, que ocorre na região Leste do estado de Washington e Oregon e a porção sul
de Idaho; a Grande Bacia, que se caracteriza como uma região desértica e plana, pontilhada por
montanhas vegetadas e oasis, abrange a maior parte do estado de Nevada, o sul da Califórnia,
oeste de Utah e sul do Arizona, Novo México e Texas; e o Planalto do Colorado, que ocupa as
áreas central e sul de Utah, oeste de Colorado, norte do Arizona e noroeste do Novo México. É
nesta província, na região sudoeste, que se formam profundos cânions, dentre estes o famoso
Grand Canyon (HENRY, 2007).
O Sistema montanhoso do Pacífico estende-se ao longo da costa do Oceano Pacífico, do
Canadá ao México, e inclui a Serra Nevada, a cadeia das Cascatas, Klamath e da Costa. Na Serra
Nevada, situa-se o ponto culminante dos Estados Unidos, o monte Whitney, com 4.418m de
altitude (HENRY, 2007).
© U4 – América Anglo-Saxônica 129

O reconhecimento das unidades geomorfológicas e das principais formas de relevo de um


território é fundamental, pois ajuda-nos a compreender a rede hidrográfica. Nesse contexto, no
território norte-americano, podemos identificar duas grandes vertentes: a atlântica e a pacífica.
Na vertente pacífica, destacam-se os extensos rios Colúmbia e Colorado. Ambos caracterizam-
se por cânions que cortam montanhas e planaltos. A vertente atlântica compreende a maior
porção do território americano (cerca de 75%). Associado aos Montes Apalaches, os rios carac-
terizam-se por apresentarem pequena extensão e serem caudalosos. Merece destaque, como
principal sistema hidrográfico do país, a bacia Mississipi-Missouri, que se estende por vasta área
entre os Apalaches, a Leste, e as Rochosas, a Oeste. O rio Bravo nasce nas Montanhas Rochosas
e constitui, em parte, a fronteira natural entre o México e os Estados Unidos, desembocando no
golfo do México (USA, 2011).

Clima
A grande variação de temperatura no país deve-se à extensão norte-sul. O país caracteri-
za-se pela diversidade de domínios climáticos. No norte do Alasca predomina o clima polar, de
menor representatividade espacial. O clima continental úmido aparece a Leste do Rio Mississipi
e dos montes Apalaches, na metade norte desta região e também ocorre em alguns pontos a
Oeste das Montanhas Rochosas (PACIEVITCH, 2010).
Nas latitudes médias, o clima é seco e aparece nas zonas centrais dos Estados Unidos, a
Leste do rio Mississipi e nas depressões das Montanhas Rochosas. O clima marítimo da costa
oeste limita-se a uma estreita faixa da costa do Pacífico (desde o norte da Califórnia até a fron-
teira com o Canadá e na costa do Alaska). Na costa oeste, também em faixa estreita, aparece o
clima mediterrâneo. Em todo o Sudoeste, predomina o clima subtropical úmido. Já nas imedia-
ções do deserto do sul e nos vales sul das montanhas rochosas aparece o clima subtropical seco
(PACIEVITCH, 2010).

Antrópico: urbanização e população


Nesse ambiente diversificado, de grandes rios e montanhas e com grande variação climá-
tica, uma das maiores economias do mundo desenvolveu-se. Além das características naturais,
que atuaram decisivamente, os elementos humanos também contribuíram com o crescimento
do país.
Agora que conhecemos um pouco da dinâmica natural do país, vamos conhecer algumas
características antrópicas. Inicialmente, analisaremos a população e sua distribuição espacial.
Observe a Figura 4. Nela está representada a densidade populacional, com destaque para
os principais centros urbanos.

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130 © Geografia Regional I

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 4 Densidade populacional dos Estados Unidos (habitantes por Km2).

Cerca de 254 milhões de habitantes (82% da população dos Estados Unidos) concentram-
se nas áreas urbanas (CIA, 2010). Destaca-se a região Nordeste com maior densidade popula-
cional e, na sequência, a região Sudeste e costa oeste. A região Nordeste concentra algumas
megalópoles: entre Boston e Washington, entre Chicago e Pittsburg. O mesmo ocorre na costa
oeste, no estado da Califórnia, entre Los Angeles e San Francisco.
Tentemos analisar simultaneamente a distribuição espacial da população e os atributos
físicos que acabamos de conhecer.
Relacione os atributos naturais, políticos e a densidade de ocupação. Como vimos nas uni-
dades anteriores, a organização espacial é fruto de inter-relações de diversos fatores, entre eles,
os históricos. Não restrinja seu raciocínio aos fatores indicados. Recorde-se de que o povoamen-
to dos Estados Unidos começou na costa Leste, devido à chegada dos colonizadores europeus.
Depois disso, diversas iniciativas de ocupação foram empreendidas pelos governantes.
Pode-se dizer que esse processo de ocupação também determinou a distribuição da po-
pulação pelo país. Seguindo esse raciocínio, podemos considerar que os fatores históricos são
condicionados pelo meio físico? Vejamos alguns dados:
• As maiores concentrações populacionais estão no Nordeste, na região dos Grandes La-
gos, e em algumas áreas da costa Sul e Oeste. A região Nordeste, do ponto de vista
geomorfológico, compreende a Planície Litoral Atlântica, passando pelos Montes Apa-
laches e chegando à Planície Central, na região dos Grandes Lagos. As temperaturas
da região variam de 10°C a -30°C, e diminuem à medida que avançamos para o Norte.
© U4 – América Anglo-Saxônica 131

• No Oeste, a região que apresenta maior densidade possui clima marítimo, com tempe-
raturas e máximas mínimas elevadas (de 20°C a 30°C).
• O Centro-Oeste do país (a Norte de Denver) caracteriza-se por áreas desérticas e semi
-áridas, com baixa ocupação humana.
Ressalva-se que o Alasca, ao Norte e Leste do Canadá, apresenta baixíssima densidade
populacional que é justificada pela localização latitudinal (parte do seu território está na Zona
Polar) que determina um clima muito frio e certo isolamento geográfico.
Atualmente, os Estados Unidos têm a terceira maior população do mundo, com 310.232.863
habitantes. Destes, 20,2% tem entre 0 e 14 anos, 67% entre 15 e 64 anos e 12,8% tem 65 anos
ou mais. Essa distribuição pode ser observada na Figura 5.

Figura 5 Estrutura etária dos Estados Unidos da América.

A pirâmide etária da Figura 6 mostra com mais detalhes a distribuição da população por
faixa etária para o ano 2000.

Figura 6 Pirâmide etária dos Estados Unidos (2000).

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132 © Geografia Regional I

Observe que a base da pirâmide ainda é relativamente larga, ampliando ligeiramente a lar-
gura na faixa adulta e estreitando-se no topo (Figura 6). Se compararmos a pirâmide dos Estados
Unidos com a do Japão, notaremos que a base da primeira é mais larga, devido à maior taxa de
natalidade (13,83 contra 7,41), vinculada à maior taxa de fecundidade (2,06 filhos por mulher
nos Estados Unidos contra 1,2 no Japão).
Os fatores que condicionam essa estrutura estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 Dados demográficos dos Estados Unidos.


Taxa de natalidade (nascimentos/mil habitantes) 13,83

Taxa de mortalidade (mortes/1.000 habitantes) 8,38

Taxa de crescimento (%) 0,97

Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 2,06

Expectativa de vida 78,24

Fonte: adaptado de CIA (2010).

A estrutura etária dos Estados Unidos é também influenciada pela migração, com a taxa
de 4,25 migrantes/mil habitantes, a 22ª maior do mundo. Grande parte desse percentual cor-
responde à população de países da América Central e do Sul, que migram para o país em busca
de oportunidades de trabalho. Quanto à expectativa de vida, o país está em 49º lugar. Essa ca-
racterística e o elevado IDH (um dos maiores do mundo) demonstram que o país oferece ótimas
condições de vida para a sua população.
No entanto, há desigualdade social. Em 2004, 12% da população vivia abaixo da linha da
pobreza. Cabe ressaltar que a pobreza dos Estados Unidos atinge especialmente os negros e
hispânicos.
Observe o gráfico da Figura 7, que demonstra a composição étnica do país.

Figura 7 Quantificação da composição étnica dos Estados Unidos em 2007.

A ausência de miscigenação entre as raças é uma característica marcante da população, e


a diferenciação entre etnias tem um forte viés socioeconômico.
Um fato a ser mencionado é que os Estados Unidos recebem inúmeros imigrantes de ori-
gem hispânica. São consideradas hispânicas pessoas de origem dos países com língua espanhola
da América Latina (incluindo de origem do México, Cuba, Porto Rico e República Dominicana).
Essa população não está representada no gráfico, pois pode enquadrar-se em qualquer grupo
étnico (CIA, 2010).
© U4 – América Anglo-Saxônica 133

Economia
Atualmente, os Estados Unidos têm a maior e, tecnologicamente, mais poderosa econo-
mia do mundo, com um PIB per capita de 46 mil dólares. As empresas particulares tomam a
maioria das decisões, e até os governos federal e estadual compram bens e serviços do mercado
privado.
Tais empresas têm mais flexibilidade do que as instaladas na Europa Ocidental e no Ja-
pão em inúmeras decisões, como expansão de capital, demissão coletiva e desenvolvimento de
novos produtos. As indústrias norte-americanas estão na vanguarda dos avanços tecnológicos,
especialmente em computação e na indústria aeroespacial, médica e militar (CIA, 2010).
No entanto, a liberdade das empresas no cenário norte-americano tem diminuído diante
da crise econômica iniciada em 2008. O país enfrenta problemas estruturais, como investimen-
to insuficiente em infraestrutura econômica; rápido aumento dos custos médicos e de pensão,
devido ao déficit comercial de envelhecimento da população; e estagnação da renda familiar
dos grupos econômicos mais baixos. O déficit da balança comercial atingiu um recorde de 840
bilhões de dólares em 2008, antes de recuar para 450 bilhões em 2009 (CIA, 2010).
A crise econômica atingiu escalas globais: houve a crise das hipotecas, falhas de bancos de
investimentos, os preços dos imóveis caíram e o crédito apertado colocou os Estados Unidos em
uma recessão em meados de 2008 (CIA, 2010).
O PIB contraiu-se até o terceiro trimestre de 2009, caracterizando essa como a maior re-
cessão desde a Grande Depressão (CIA, 2010). Dessa forma, foi inevitável a intervenção do Con-
gresso norte-americano, por meio da criação de alguns fundos em outubro de 2008 para ajudar
a estabilizar os mercados financeiros. O governo usou alguns desses fundos para comprar parti-
cipações em bancos dos Estados Unidos e de outras corporações industriais.
Em janeiro de 2009, o Congresso aprovou uma lei que estimulou a criação de empregos
para ajudar a recuperar a economia. Em julho de 2010, o presidente estabeleceu metas para
promover a estabilidade financeira e proteger os consumidores contra abusos. Destinou o apoio
monetário a empresas financeiras e a grandes bancos em crise para otimizar a responsabilidade
e a transparência no sistema financeiro, impondo mecanismos favoráveis à regulamentação e
supervisão do governo (CIA, 2010).
Devemos destacar que essa crise econômica levou inúmeros estudiosos a defenderem a
interferência do Estado na economia capitalista.

Setores da economia
No setor primário, destaca-se a produção de trigo, milho, frutas, hortaliças, algodão, car-
ne bovina, suína, aves, produtos lácteos, produtos florestais, peixes e extração de petróleo (3º
maior produtor, 1º consumidor e 13º maior exportador do mundo). O cartograma da Figura 8
apresenta a organização em cinturões das principais atividades desse setor no país (CIA, 2010).

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134 © Geografia Regional I

CAL IFÓR nia

Figura 8 Atividades agropecuárias dos Estados Unidos.

Retome, mais uma vez, o mapa de densidade populacional (Figura 4) e tente estabelecer
relações com o mapa de atividades agropecuárias (Figura 8). Observe que:
• O cinturão de laticínios está próximo aos setores de maior densidade populacional – a
região Nordeste. Ou seja, está próximo ao mercado consumidor.
• O setor de criação extensiva de gado localiza-se nas áreas de menor densidade popula-
cional. No entanto, os centros abatedores se aproximam dos grandes centros urbanos.
No setor secundário, destacam-se indústrias relacionadas ao petróleo e à mineração,
além de siderurgia, veículos automotores, aeroespacial, telecomunicações, química, eletrônica,
processamento de alimentos, bens de consumo, madeira e minérios. Com um parque industrial
altamente diversificado e tecnologicamente avançado, o país é considerado uma potência in-
dustrial.
É o setor terciário o mais importante para a economia do país, com maior percentual de
empregos e com maior participação no PIB do país. Cabe destacar que a rede comercial norte
-americana se estende pelo mundo e coloca o país como um dos mais poderosos atualmente
(MAGNOLI, 2005).
Os gráficos das Figuras 9 e 10 demonstram a importância de cada setor da economia na
composição do PIB e na geração de empregos (PEA).
© U4 – América Anglo-Saxônica 135

Figura 9 Quantificação dos setores da economia segundo o Figura 10 Quantificação do setor da economia segundo a PEA.
PIB.

6. CANADÁ
Observe a Figura 11 e veja que o Canadá se localiza na América do Norte, limitando-se ao
Sul com os Estados Unidos, a Leste com o Oceano Atlântico, a Oeste com o Oceano Pacífico e
ao Norte com o Oceano Ártico. Ocupa uma área de 9.984.670km², o que lhe confere a segunda
colocação em extensão do mundo. Sua capital é Otawa e está na região Sudeste, próxima à
fronteira com os Estados Unidos.

Figura 11 Localização do Canadá.

O país caracteriza-se pela vasta extensão e riqueza em recursos naturais e desenvolveu-se


economicamente e tecnologicamente em paralelo com os Estados Unidos, seu vizinho ao Sul.
Atualmente, o Canadá enfrenta o desafio de atender às demandas públicas para melhorar a
qualidade nos serviços de saúde e educação, bem como responder às preocupações específicas
da população francófona (descendente de franceses) de Quebec (CIA, 2010).
O Canadá divide-se em dez províncias e três territórios, como você pode observar no
mapa da Figura 12.

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136 © Geografia Regional I

Figura 12 Divisão política do Canadá.

A relação entre o homem e o meio natural


A exemplo dos países estudados anteriormente, buscaremos, na sequência, aprofundar
nosso conhecimento com relação às características humanas e naturais, bem como iniciar uma
avaliação das suas inter-relações para compreendermos o espaço total do Canadá.

Relevo
O relevo do Canadá é muito diversificado, composto de várias regiões fisiográficas, ou
seja, regiões que relacionam diretamente as características de uma paisagem. Cada unidade
fisiográfica tem sua própria topografia e geologia. Observe a Figura 13; nela estão identificadas
as principais regiões fisiográficas.
© U4 – América Anglo-Saxônica 137

Figura 13 Regiões fisiográficas do Canadá.

Observe (Figura 13) que o Canadá pode ser divido em duas grandes regiões fisiográficas:
The Shield (o escudo) e The Borderlans (bordas ou regiões fronteiriças). A região denominada
The Shield é geologicamente caracterizada por rochas cristalinas que datam do Pré-Cambriano,
enquanto a região The Borderlans é formada por rochas mais jovens que cercam o escudo. Nos
territórios mais próximos ao escudo, o relevo caracteriza-se por planícies e planaltos de baixas
altitudes, geralmente formados por rochas sedimentares. Afastando-se do escudo, a formação
do relevo é de áreas descontínuas de montanhas e planaltos. Cada uma dessas grandes regiões é
subdivida em regiões com características peculiares de topografia e geologia (CANADÁ, 2011a).
Retorne ao mapa das unidades administrativas (Figura 12, divisão política) e tente
estabelecer a relação entre a área ocupada pelas unidades administrativas e a província
fisiográfica predominante. Esse exercício é muito importante para compreender a relação entre
a organização espacial e as feições naturais do Canadá.
Vamos agora nos atentar às características peculiares de cada região:
• The Shield: por ser mais antigo, apresenta uma paisagem caracterizada pelo nivela-
mento do relevo. Por milhares de anos, a paisagem sofreu ações erosivas que propi-
ciaram um horizonte plano, interrompida por cumes arredondados ou achatados no
topo e serras isoladas. A superfície da shield é essencialmente resultado de glaciação, e
grande parte é coberta de lagos, lagoas e pântanos. A característica mais marcante do
escudo é a homogeneidade do terreno em regiões como Labrador, norte de Quebec e
Ontário, nos territórios do Noroeste.
• The Borderlans: divide-se em:
a) Planície Costeira do Ártico (Acrtic Coastal Plain): inclui o terreno costeiro ao longo das
margens do Oceano Ártico a partir da Ilha de Meighen até o Alaska. É dividido em três
sub-regiões, cada uma com características fisiográficas distintas: a Ilha Costeira, que

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138 © Geografia Regional I

apresenta setores planos e uniformes alternando-se com setores montanhosos que


são cobertos por gelo; o Delta do Mackenzie, que inclui outros inúmeros deltas e se
caracteriza pela deposição de sedimentos provenientes do rio e do mar; e a Planície
Costeira Yukon, uma superfície de erosão, que fica a uma altitude mais elevada que o
Delta do Mackenzie.
b) Planícies do Ártico (Arctic Lownsland): incluem o Planalto Lancaster, as planícies Foxe
e Boothia, a Planície Victoria e as Montanhas Shaler. A superfície do Planalto Lancaster
segue suavemente para o sul, começando com cerca de 770 metros, no sul da ilha de
Ellesmere, Devon, e atingindo uma altitude média de 300 a 600 metros, em Somerset
Island, e o Noroeste da Península Brodeur Baffin Island. A paisagem é uniforme. Mais
ao Sul, as altitudes diminuem ainda mais formando uma planície denominada Boo-
thia.
c) Região Innuitian: caracterizada por duas zonas de montanhas separadas por terrenos
extensos e descontínuos de topografia mais suave formados por chapadas, planaltos
e planícies. As cordilheiras incluem a Grantland, o Axel Heiberg e as montanhas de
Victoria e Albert. Entre essas duas grandes zonas montanhosas está o Planalto Eureka.
Ao Sul estão o Planalto Perry e as planícies Sverdrup, uma região de baixo relevo e de
planície escarpada.
d) Região da Cordilheira (Cordileran Region): dividida em três grandes zonas de lineares
chamadas de Sistema de Leste, Sistema do Interior e Sistema Ocidental. Cada sistema
é dividido em áreas e subdividido conforme características geológicas e fisiográficas.
Destacam-se no setor Oeste formas de relevo produzidas por vulcanismo.
e) Planícies interiores (Interior Plain): região de baixas altitudes que ocupa a região en-
tre o escudo, a Leste, e as montanhas da região da cordilheira, a Oeste. A parte sul é
caracterizada pela pradaria do semiárido, a parte central apresenta cobertura arbórea
e, ao Norte, a superfície está coberta pela tundra.
f) Região dos Apalaches: estende-se do Sul do Quebec e Gaspésie e abrange New Bruns-
wick, Nova Scotia, Prince Edward Island e Ilha Newfoundland.
g) St. Lawrence Lowlands: localiza-se a Sudeste do escudo. São áreas planas que foram
afetadas pela glaciação (CANADÁ, 2011a).

Clima e vegetação
Clima, relevo e vegetação são variáveis da paisagem que estão diretamente inter-relacio-
nados. As formas do relevo são resultado do trabalho dos agentes do intemperismo ao longo
dos anos e variam de acordo com o tipo climático da região. Também associada a esta variabili-
dade climática está a vegetação, é o que denominamos domínio climatobotânico.
No Canadá, a variedade de paisagens geomorfológicas e de vegetação denuncia a diver-
sidade de tipos climáticos. No Norte, a baixa precipitação e as frias temperaturas favorecem o
permafrost, que dificulta o crescimento de vegetação. O resultado é uma região em que predo-
mina a vegetação de tundra sem árvores.
A Sul da tundra, na região do Escudo Canadense, os verões são curtos e quentes, e os
invernos, longos e frios. A precipitação anual é abundante, permitindo o crescimento das flores-
tas de coníferas. Na costa do Pacífico, a combinação de chuvas fortes e temperaturas amenas
durante o ano todo faz com que as florestas temperadas se desenvolvam.
Nas pradarias, há grande quantidade de dias de sol, o que pode afetar o desenvolvimento
agrícola. No litoral, a proximidade com o Oceano Atlântico ameniza o clima, favorecendo in-
vernos longos e suaves, e os verões são curtos e frescos. Essas condições são favoráveis para o
desenvolvimento das florestas.
© U4 – América Anglo-Saxônica 139

Finalmente, em torno dos Grandes Lagos e ao longo do rio St. Lawrence, tanto a jusante
como a cidade de Quebec, o clima é caracterizado por verões relativamente quentes e invernos
frios. Essas condições são adequadas para o desenvolvimento de vegetação de porte arbóreo
com folhas largas (CANADÁ, 2011b).
Para avançarmos na análise do clima do Canadá, vamos observar nas Figuras 14 e 15 os
mapas de temperatura. Cabe lembrar que a temperatura é apenas uma das variáveis para defi-
nir tipos climáticos de uma região.

Figura 14 Variação das temperaturas mínimas para o mês de janeiro. Figura 15 Variação das temperaturas mínimas para o mês de julho.

Como podemos observar nos mapas (Figuras 14 e 15), janeiro marca o auge do inverno
no Canadá e, com exceção das regiões costeiras do sul da Ilha de Vancouver, as temperaturas
mínimas abaixo de zero são normais. A baixa incidência de sol faz que, na maior parte do país,
as temperaturas fiquem abaixo de -15°C. A fraca luminosidade, ou mesmo a ausência de luz do
sol, não possibilita variação de temperatura durante o dia. O extremo norte permanece coberto
de gelo com temperaturas máximas em torno de -30°C. A temperatura máxima aproxima-se do
ponto de fusão em Ontário e em partes das províncias do Atlântico. As temperaturas máximas,
acima de zero, ocorrem apenas no litoral da Colúmbia Britânica e no extremo sul da Nova Escó-
cia (CANADÁ, 2011c).
Em julho, as temperaturas mínimas abaixo de zero ocorrem apenas em altitudes mais ele-
vadas e no extremo norte do Canadá. Em grande parte do sul do país predominam temperaturas
mínimas superiores a 10°C. Ao longo da costa norte, do Lago Erie e Lago Ontário, e ao longo do
vale do rio St. Lawrence, tanto a Leste como em Montreal, as temperaturas mínimas ultrapas-
sam os 15°C. As temperaturas máximas em julho ficam acima de zero em todo o Canadá, com
exceção das grandes altitudes na ilha de Ellesmere (CANADÁ, 2011c).
As temperaturas máximas superam os 25°C nos vales do sul da Colúmbia Britânica, nas
pradarias do Sul, no sul de Ontário e ao longo do vale do rio St. Lawrence, e prolongam-se até
perto de Quebec e em partes da região central de Nova Brunswick.
Para uma visualização melhor dessa distribuição espacial da temperatura, observe os ma-
pas de temperaturas em janeiro (Figura 14) e julho (Figura 15) juntamente com o mapa de divi-
são política do Canadá (Figura 12) (CANADÁ, 2011c).

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140 © Geografia Regional I

Outro fenômeno importante para a compreensão do clima é a precipitação. Observe o


mapa de precipitação na Figura 16. Ele mostra a precipitação anual do Canadá.

Figura 16 Média anual de precipitação em mm no Canadá.

Observe na Figura 16 que o volume de precipitação diminui à medida que avançamos para
o Norte. Isso se deve em parte à baixa temperatura do ar, que restringe a formação de vapor de
água e, portanto, a produção de precipitação (CANADÁ, 2011d).
Na maior parte do território continental do Canadá, a precipitação atinge seu máximo
anual nos meses de verão. Outubro marca a transição do período de chuvas para o período de
neve, principalmente na região Norte (CANADÁ, 2011d).
Em janeiro, a precipitação em todo o país caracteriza-se especialmente pela neve. A costa
oeste recebe fortes precipitações na forma de chuva nas altitudes baixas e na forma de neve
nas altitudes mais elevadas. Na costa leste, onde massas de ar frio continental se chocam com
massas de ar quente do Atlântico, há uma mistura de chuva e neve, com prevalência de chuva
perto do Atlântico e de neve na região de Quebec Sul e Labrador (CANADÁ, 2011d).
Abril é um mês de transição no sul do Canadá, quando a neve ainda ocorre, mas chuvas
começam com muito mais frequência (CANADÁ, 2011d).
© U4 – América Anglo-Saxônica 141

Agora que você já conhece um pouco das características físicas do Canadá, vamos pensar
na seguinte situação: Imagine que você vive no Canadá, na cidade de Yelowkinfe. Localize-a no
mapa de divisões políticas (Figura 12). Como seria viver nessa cidade? Observe o mapa de pre-
cipitação (Figura 16) e os de temperatura (Figuras 14 e 15). Analisando-os, você pode constatar
que, nos meses de janeiro, você sentiria um frio de cerca de -30°C, e em julho, você se sentiria
bem menos desconfortável numa temperatura de cerca de 10°C. A precipitação seria predo-
minantemente em forma de neve. Volte no mapa de regiões fisiográficas (Figura 13) e imagine
como seria a paisagem desse lugar. A que domínio fisiográfico a cidade pertence?
Para conseguir imaginar como seria a vida nessa cidade, você precisa saber um pouco
mais. Em que você trabalharia? Para responder à pergunta é preciso conhecer a economia da
região.
Para avançar em nossa reflexão, precisamos compreender um pouco mais os aspectos
humanos e econômicos do Canadá. Vejamos.

Antrópico: urbanização e população


Iniciaremos nossa análise pela compreensão da população e sua distribuição espacial.
Para tanto, observe o mapa da Figura 17. Nele, está representada a densidade populacional do
Canadá no ano de 2001.

CANADÁ

Figura 17 Densidade populacional do Canadá.

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142 © Geografia Regional I

Atualmente, o Canadá possui cerca de 33.759.742 habitantes, dos quais 80% estão em
área urbana. O setor mais populoso do país é o Sul, paralelamente à fronteira com os Estados
Unidos e a região Sudeste, destacando as cidades de Toronto, Otawa e Montreal. Essa ocupação
se justifica pelas amenidades climáticas, uma vez que o inverno é muito rigoroso. Compare a
Figura 17 com os mapas de temperatura (Figuras 14 e 15). Veja que os setores com maior den-
sidade populacional coincidem com as temperaturas mais elevadas.
Observe agora a Tabela 2, com as características populacionais do Canadá, e o gráfico da
estrutura etária da Figura 18.

Tabela 2 Dados demográficos do Canadá.


Taxa de natalidade (nascimentos/mil habitantes) 10,28

Taxa de mortalidade (mortes/1.000 habitantes) 7,87

Taxa de crescimento (%) 0,80

Taxa de mortalidade infantil (óbitos/1.000 nascidos vivos) 4,99

Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 1,58

Expectativa de vida 81,29


Fonte: adaptado de CIA (2010).

Figura 18 Estrutura etária do Canadá.

Constata-se que, quanto à estrutura etária populacional, destaca-se a faixa etária entre 15
e 64 anos. A taxa de natalidade do país é de 10,28 nascimentos/mil habitantes, e a de mortali-
dade é de 7,87. O nível de vida do canadense mostra-se elevado, com taxas de analfabetismo de
apenas 1%. Ao mesmo tempo, a maioria da população (76%) vive nas cidades, o que contribui na
qualidade de vida (em função da infraestrutura que as áreas urbanas oferecem). O crescimento
da população, assim, apresenta-se como na maioria dos países desenvolvidos, muito baixo, com
dados indicando que pouco menos de 30% da população têm menos de 19 anos e 15% tem mais
de 60, o que denota seu envelhecimento acentuado (CIA, 2010).
© U4 – América Anglo-Saxônica 143

Outro fator que interfere na estrutura etária canadense é a elevada taxa de migração
(5,64 migrantes/mil habitantes) caracterizando-o como o 15° maior país do mundo em fluxo
migratório. A população de imigrantes é geralmente adulta, contribuindo no aumento da
população entre 15 e 64 anos (CIA, 2010).
Quanto à expectativa de vida, o país possui a décima melhor do mundo, indicativo de
ótima qualidade de vida da população, junto com um dos maiores IDHs do mundo. No entanto,
assim como no caso dos Estados Unidos, o país convive com a desigualdade socioeconômica.

Economia
Agora vamos compreender um pouco melhor a estrutura econômica do Canadá. Com uma
sociedade industrial de alta tecnologia, o país assemelha-se aos Estados Unidos em seu sistema
econômico de mercado, padrão de produção e padrões de vida, e que atualmente tem o nono
maior PIB do mundo e um PIB per capita de 38.100 dólares.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o crescimento impressionante da indústria, mineração
e setor de serviços transformou uma economia basicamente rural em uma economia industrial
e urbana. Em 1989, Estados Unidos e Canadá firmaram um acordo de livre comércio que, e em
1994, se transformou no NAFTA (North American Free Trade Agreement) depois da inclusão
do México. Tal acordo gerou um aumento significativo no comércio e na integração econômica
com os Estados Unidos, seu principal parceiro comercial. O Canadá tem um grande excedente
comercial, e os Estados Unidos absorvem quase 80% das exportações canadenses a cada ano
(CIA, 2010).
O Canadá está entre os maiores produtores mundiais de energia e fornece a maior parte
da energia importada pelos EUA. Quase todas as exportações canadenses de energia são para
os EUA e inclui óleo, gás natural, carvão e eletricidade (BRASIL, 2011b).
A estreita relação econômica com os Estados Unidos fez com que o país também fosse
afetado pela crise imobiliária americana em 2007 (que teve como algumas das causas a
desvalorização do dólar e a quebra de bancos americanos em 2008).
Vale destacar que o Canadá foi o último dos países do Grupo G-8 a entrar em recessão e o
que experimentou o melhor desempenho entre as economias industrializadas (BRASIL, 2011b).

Setores da economia
Observe os gráficos das Figuras 19 e 20.

Figura 19 Composição do PIB por setor da economia. Figura 20 Quantificação do setor da economia segundo a PEA.

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144 © Geografia Regional I

Por meio das informações, podemos constatar que a PEA do Canadá concentra-se no
setor terciário, e é esse setor o responsável pelos maiores percentuais do PIB do país. O grande
desenvolvimento desse setor caracteriza a sociedade canadense como uma sociedade de con-
sumo e altamente inserida no mercado internacional.
No setor primário, os principais produtos do Canadá são: trigo, cevada, sementes olea-
ginosas, tabaco, frutas, legumes, peixes, produtos lácteos, produtos florestais, petróleo e gás
natural.
No setor secundário, destacam-se equipamentos de transporte, produtos químicos, mi-
nerais, processados, produtos alimentícios, produtos de madeira e papel e produtos da pesca.
Observe no mapa da Figura 21 a distribuição das atividades econômicas no território ca-
nadense.

Fonte: adaptado de Charlier (2002).


Figura 21 Mapa de uso da terra.

Observe que as baixas latitudes limitam, além da ocupação humana, o uso do solo, devido
à cobertura de gelo sobre ele (Figura 21).
Agora que você já conhece um pouco mais das características humanas, econômicas e
populacionais do Canadá, volte a refletir sobre o modo de vida na cidade de Yelowknife.
Podemos constatar que, para viver lá, certamente você deveria se ocupar com atividades
voltadas à comercialização de produtos florestais. Caso prefira trabalhar no setor terciário da
economia, você deve analisar cidades ao Sul. Faça a mesma avaliação para as cidades de Otawa
e Regina: observe as características climáticas, paisagísticas e as principais atividades econômi-
cas de cada cidade, assim como a densidade populacional. Esse exercício é importante para que
você compreenda a organização espacial do país e a relação entre o homem e o espaço natural.
© U4 – América Anglo-Saxônica 145

7. questões autoavaliativas
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta
unidade:
1) Observe a estrutura etária dos dois países apresentados nesta unidade e avalie se elas apresentam semelhan-
ças. Além disso, reflita sobre a relação entre a economia e a estrutura etária da população dos espaços geográ-
ficos estudados.

2) Explique as principais características da agricultura dos Estados Unidos e sua distribuição espacial.

3) Qual a relação entre o clima e a densidade demográfica do Canadá?

4) Avalie as informações apresentadas para um dos países aqui descritos, faça a integração dos dados e reflita
sobre sua organização espacial.

8. Considerações
Nesta unidade, aprendemos um pouco mais sobre a geografia dos Estados Unidos e do
Canadá, duas importantes economias no cenário das relações internacionais. Além disso, é im-
portante ressaltar que os Estados Unidos são a principal potência econômica, militar e cultural
da atualidade, com peso determinante para a configuração do quadro geopolítico e comercial
mundial; por isso, é sempre importante estar atento às mudanças no quadro político desse país.
Na próxima unidade, estudaremos a Geografia da Oceania.
Até lá!

9. e-referências

Lista de figuras
Figura 1 Localização dos Estados Unidos. Disponível em: <http://caminhandopelasamericas.blogspot.com.br/2012/05/
hidrografia-do-norte.html>. Acesso em: 21 jul. 2014.
Figura 2 Mapa político dos Estados Unidos. Imagem adaptada do site disponível em: <http://www.infoescola.com/geografia/
geografia-dos-estados-unidos/>. Acesso em: 10 ago. 2010.
Figura 3 Mapa físico dos Estados Unidos. Imagem adaptada do site disponível em: <http://srtm.csi.cgiar.org/SELECTION/
inputCoord.asp>. Acesso em: 22 ago. 2011.
Figura 5 Estrutura etária dos Estados Unidos da América. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/
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Figura 6 Pirâmide etária dos Estados Unidos (2000). Imagem adaptada do site disponível em: <http://factfinder.census.gov/
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Acesso em: 5 ago. 2011.
Figura 7 Quantificação da composição étnica dos Estados Unidos em 2007. Imagem adaptada do site disponível em: <https://
www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Figura 8 Atividades agropecuárias dos Estados Unidos. Imagem adaptada do site disponível em: <http://www.geografiaparatodos.
com.br/img/infograficos/cinturoes_agricolas.jpg>. Acesso em: 20 jun. 2010.
Figura 9 Quantificação dos setores da economia segundo o PIB. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/
library/publications/the-world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Figura 10 Quantificação do setor da economia segundo a PEA. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/
library/publications/the-world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Figura 11 Localização do Canadá. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/paises/canada/mapa_canada.htm>. Acesso em:
26 out. 2014.
Figura 12 Divisão política do Canadá. Imagem adaptada do site disponível em: <http://www.eia.gov/countries/cab.cfm?fips=CA>.
Acesso em: 21 jun. 2011.

Claretiano - Centro Universitário


146 © Geografia Regional I

Figura 13 Regiões fisiográficas do Canadá. Imagem adaptada do site disponível em: <http://atlas.nrcan.gc.ca/site/
english/maps/environment/land/arm_physio_reg?scale=42051275.911682&mapxy=1008657.3563084113%20
610607.9978815261&mapsize=525%20466&urlappend=>. Acesso em: 22 jun. 2011.
Figura 14 Variação das temperaturas mínimas para o mês de janeiro. Imagem adaptada do site disponível em: <http://atlas.
nrcan.gc.ca/site/english/maps/environment/climate/temperature/temp_winter>. Acesso em: 22 jun. 2011.
Figura 15 Variação das temperaturas mínimas para o mês de julho. Imagem adaptada do site disponível em: <http://atlas.nrcan.
gc.ca/site/english/maps/environment/climate/temperature/temp_summer>. Acesso em: 22 jun. 2011.
Figura 16 Média anual de precipitação em mm no Canadá. Imagem adaptada do site disponível em: <http://atlas.nrcan.gc.ca/
site/english/maps/environment/climate/temperature>. Acesso em: 22 jun. 2011.
Figura 17 Densidade populacional do Canadá. Disponível em: <http://geodepot.statcan.ca/Diss/Highlights/Page3/
AnimatedMap_e.cfm>. Acesso em: 5 ago. 2011.
Figura 18 Estrutura etária do Canadá. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-
world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Figura 19 Composição do PIB por setor da economia. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/
publications/the-world-factbook/index.html>Acesso em: 20 ago. 2010.
Figura 20 Quantificação do setor da economia segundo a PEA. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/
library/publications/the-world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.

Lista de tabelas
Tabela 1 Dados demográficos dos Estados Unidos. Adaptado do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/
the-world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Tabela 2 Dados demográficos do Canadá. Adaptado do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-
world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.

Sites pesquisados
CANADÁ. Natural Resources Canadá. Physiographic Regions. Disponível em: <http://atlas.nrcan.gc.ca/site/english/maps/
environment/land/arm_physio_reg/1>. Acesso em: 22 jun. 2011a.
______. Natural Resources Canadá. Climate. Disponível em: <http://atlas.nrcan.gc.ca/site/english/maps/environment/
climate/1>. Acesso em: 22 jun. 2011b.
______. Natural Resources Canadá. Temperature. Disponível em: <http://atlas.nrcan.gc.ca/site/english/maps/environment/
climate/temperature/1>. Acesso em: 22 jun. 2011c.
______. Natural Resources Canadá. Mean total precipitation. Disponível em: <http://atlas.nrcan.gc.ca/site/english/maps/
environment/climate/precipitation/precip/1>. Acesso em: 22 jun. 2011d.
CGIAR – Consortium for Spatial Information: SRTM Data Selection Options. Disponível em: <http://srtm.csi.cgiar.org/SELECTION/
inputCoord.asp>. Acesso em: 22 ago. 2011.
CIA – Central Intelligence Agency. The World Factbook. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
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HENRY, J. Geomorphic Regions of the United States. Middle Tennessee State University (2007). Disponível em: <http://frank.
mtsu.edu/~mabolins/geomorph.htm>. Acesso em: 22 jun. 2011.
ICID – Internacional Commission on Irrigation and Drainage. Great Britain. Disponível em: <http://www.icid.org/v_uk.pdf>.
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PACIEVITCH, T. Geografia dos Estados Unidos (2009). Disponível em: <http://www.infoescola.com/geografia/geografia-dos-
estados-unidos/>. Acesso em: 20 jun. 2011.
USA. The U.S. Geological Survey (USG). Water Resources of the United States. Disponível em: <http://water.usgs.gov/>. Acesso
em: 23 jun. 2011.

10. Referências BIBLIOGRÁFICAS


CHARLIER, J. Atlas du 21 siécle. Paris: Nathan, 2002.
FENNEMAN, N. M. Physiography of Western United States & Physiography of Eastern United States. New York: McGraw-Hill,
1931.
MAGNOLI, D. O poder das nações no tempo da globalização. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

11. Referência VIDEOGRÁFICA


ESRI. Data & Maps for ArcGis 10. Redlands: ESRI, 2010. DVD.
Oceania

1. Objetivos
• Conhecer os aspectos populacionais, econômicos e naturais mais representativos da
Oceania.
• Analisar as condições econômicas, sociais e naturais da Austrália.
• Inter-relacionar os atributos físicos e antrópicos da Austrália.

2. Conteúdos
• Aspectos naturais, econômicos e populacionais da Oceania.
• Características geográficas da Austrália.

3. Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a se-
guir:
1) No decorrer da leitura, procure destacar e sintetizar as ideias principais de cada tópico.
Isto facilita a organização dos estudos e a retomada dos conteúdos para a avaliação.
2) Para compreender melhor os conteúdos desta unidade, sugerimos o filme Austrália,
de Baz Luhrmann (2009). Nele, além de visualizar algumas paisagens europeias, é pos-
sível entender o modo de vida dos aborígenes.
3) Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a Austrália, indicamos, também, o livro
Explorando a Austrália, de Kate Darian Smith. Nessa obra, o autor faz uma interessan-
te descrição das paisagens e dos povos nativos da região ao longo da história.
4) Fique atento aos mapas e à configuração econômica e social da Austrália e procure
refletir sobre a relação natureza e sociedade na organização desse espaço geográfico.
148 © Geografia Regional I

4. INTRODUÇÃO à unidade
A Oceania também é conhecida como "Novíssimo Mundo" por integrar a história ociden-
tal europeia apenas no século 18, quando os ingleses passaram a colonizar a Austrália.
Esse continente, formado em sua maioria por ilhas situadas no Pacífico Sul, tem em co-
mum o fato de, no passado, ter sido ocupado por potências coloniais, sendo que algumas delas
ainda mantêm o domínio sobre várias ilhas nesta região. Assim, nesta unidade, conheceremos
um pouco mais sobre a geografia deste continente, destacando os aspectos populacionais, eco-
nômicos e naturais da Austrália.
Como vimos na primeira unidade deste estudo, é importante entender o espaço geográfi-
co como uma totalidade em sua unidade e diversidade. Por isso, é importante atentar-se a cor-
relação dos aspectos históricos e econômicos, objetivando entender como cada área faz parte
do conjunto das relações que se desenvolvem a nível global.
Bons estudos!

5. Oceania: AspEctos naturais e territorais


A oceania é o menor dos continentes. Sua área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados
equivale ao território brasileiro. Localizado no hemisfério sul, o continente é formado por uma
massa continental – a Austrália – e por inúmeras ilhas divididas em três regiões. No leste fica a
Polinésia, no centro a Melanésia e, no norte, a Micronésia.
O continente é formado por 14 países e várias possessões. Austrália, Nova Zelândia e Pa-
pua Nova Guiné são os maiores países e os que mais se destacam. Veja na Figura 1 a divisão
política da Oceania.
Oceania

Figura 1 Oceania Político.


© U5 – Oceania 149

Além dos países independentes, muitas ilhas são possessões de países externos. Observe
o Quadro 1 as principais dependências do continente.

Quadro 1 Dependências na Oceania.


DEPENDÊNCIA PAÍS

Clipperton França
Guam Estados Unidos
Havaí Estados Unidos
Ilhas Cook Nova Zelândia
Ilhas Marianas do Norte Estados Unidos
Ilhas Midway Estados Unidos
Ilha Norfolk Austrália
Ilhas Pitcairn Reino Unido
Ilhas Wake Estados Unidos
Ilhas Wallis e Futuna França
Niue Nova Zelândia
Nova Caledônia França
Pascoa, Sala e Gómez Chile
Polinésia Francesa França
Samoa Americana Estados Unidos
Toquelau Nova Zelândia
Fonte: National Geographic (2008).

Do ponto de vista econômico, o continente apresenta grandes contrastes. Austrália e Nova


Zelândia são países com elevados níveis de desenvolvimento econômico, enquanto, em geral,
as demais nações dependem de ajuda externa. Muitas ilhas procuram afirmar-se como destino
turístico, explorando as belezas naturais do continente.
Para conhecer um pouco mais sobre a Oceania, estudaremos a seguir as características
físicas, econômicas e populacionais da Austrália.

6. AUSTRÁLIA
A Austrália localiza-se na Oceania, entre o Oceano Índico e o Pacífico Sul, como você pode
ver na Figura 1. Ocupa uma extensão de 7.741.220km2, classificando-se como o 6º maior país do
mundo em extensão territorial. Sua capital é Camberra (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2008).
O território da Austrália está dividido em Austrália Ocidental, Austrália Meridional, Queens-
land, Nova Gales do Sul, Victoria e Tasmânia. Observe o mapa político na Figura 2.

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150 © Geografia Regional I

Figura 2 Divisão política da Austrália.

A ocupação do continente começou há cerca de 40 mil anos, quando colonos aborígenes


chegaram ao continente, vindos do Sudeste da Ásia. Em 1770, tornou-se colônia da Grã-Breta-
nha, e, no final do século 18 e início do 19 (1901), seis colônias foram criadas e federalizadas,
formando a Comunidade da Austrália. O novo país tirou proveito de seus recursos naturais para
desenvolver rapidamente a agricultura e a indústria. Na primeira e segunda Guerra Mundial,
aliou-se aos britânicos.
Nas últimas décadas, a Austrália transformou-se em uma economia competitiva de merca-
do. Apresentou um expressivo crescimento econômico durante os anos 1990, devido, em gran-
de parte, às reformas econômicas adotadas nos anos 1980 (CIA, 2010).

A relação entre o homem e o meio natural


Para compreendermos a Austrália mediante o conceito de espaço total, estudado nas uni-
dades anteriores, buscaremos, na sequência, aprofundar nosso conhecimento com relação às
características humanas e naturais e suas inter-relações.

Relevo
A Austrália é o país mais plano, com uma altitude média de apenas 330 metros. Seus solos
são muito antigos e pouco férteis. A maior parte do território é ocupada por deserto ou terras
semiáridas, conhecidas como Outback. Também é o país habitado mais seco: apenas as regiões
Sudeste e Sudoeste têm um clima temperado. Observe na Figura 3 a topografia da Austrália.
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Figura 3 Mapa físico da Austrália.

É uma terra de opostos geológicos, com alguns dos recursos mais antigos do mundo ao
lado de rochas que ainda estão em processo de formação. Existem ali rochas datadas de mais de
3 bilhões de anos, enquanto outras são resultado da atividade vulcânica que se manteve apenas
alguns milhares de anos atrás. Embora a formação da Austrália se deva, em grande parte, à de-
corrência de movimentos tectônicos da Terra e mudanças do nível do mar, a maior parte de sua
topografia resulta da erosão prolongada pelo vento e pela água. Muitas das características no
padrão de drenagem demonstram uma história geológica muito longa, e alguns vales individuais
têm mantido sua posição durante milhões de anos.
O Rio Finke, que está no centro da Austrália, é um dos mais antigos do mundo e os lagos
salgados da região Yilgarn, a Oeste, testemunham um padrão de drenagem que estava ativo an-
tes de a deriva dos continentes separar a Austrália da Antártica. A Austrália começou sua viagem
pela superfície terrestre como um continente isolado de 10 a 55 milhões de anos atrás, e ainda
move-se para o Norte, em média, sete centímetros por ano. O relevo atual é resultado de pro-
cessos prolongados (de milhões de anos) e contínuos de movimentação e erosão, dando origem
a uma variedade de paisagens. Esses processos continuam a sofrer transformações conforme o
movimento do continente para o Norte (AUSTRALIAN GOVERNEMENT, 2010).

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Clima
A Austrália é a terra de extremos climáticos, com temperaturas variando entre máximas
de 40°C nas regiões do deserto central e registros de temperaturas abaixo de zero nas regiões
mais altas do Sudeste do país. Do Cabo York até o sul da Tasmânia, o país experimenta quase
todas as condições climáticas de outras partes do mundo e ainda algumas características únicas.
Entre essas características estão verões longos, quentes e muitas vezes secos. Observe o mapa
da Figura 4. Ele apresenta a variação da temperatura média anual no território australiano.

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 4 Média anual de temperatura na Austrália.

Como você pode ver no mapa da Figura 5, o regime de chuvas na Austrália é bastante
variado, com baixa precipitação média anual sobre a maior parte dos continentes e intensas
quedas sazonais nos trópicos.
© U5 – Oceania 153

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 5 Distribuição espacial da chuva anual na Austrália.

O padrão de precipitação é concêntrico (radial). A região central do continente caracteri-


za-se pela aridez, que a Oeste e em partes da Austrália Meridional se estende até a costa. Em
torno do centro árido há uma margem descontínua de condições mais úmidas que aumenta o
nível de precipitação quando se aproxima da costa, particularmente no Leste do continente, em
virtude da topografia que impede a passagem das massas úmidas para o interior do continente.
As regiões mais úmidas estão em torno de Cairns, em Queensland, e de Strahan, costa
oeste da Tasmânia, cerca de 1.600 km para o Sul. Em decorrência desse regime de chuvas, a
rede hidrográfica da Austrália pode conduzir a água para o interior do continente em época de
estiagem, provocando cheias nas áreas atingidas pela seca ao Sul, que fica a milhares de quilô-
metros de distância.
Observe agora simultaneamente o mapa físico da Austrália (Figura 3) e o de precipitação
(Figura 5) e tente identificar algumas características topográficas que podem interferir no regi-
me pluviométrico. Exemplo: as mais elevadas precipitações registradas na linha da costa leste
possivelmente se relacionam à barreira topográfica que se forma paralelamente à linha de cos-
ta, bloqueando a umidade que vem do oceano, a exemplo do que ocorre na Serra do Mar, no
Estado São Paulo.
São as características de precipitação e temperatura registradas sistematicamente ao lon-
go de anos que definem os tipos de clima predominantes no país. Os tipos de clima, por sua vez,
determinam o domínio vegetacional. Observe o mapa da Figura 6. Ele apresenta os principais
climas da Austrália, associando a cada um deles os domínios vegetacionais.

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Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 6 Os domínios climáticos da Austrália.

População e atividades econômicas


As condições climáticas da Austrália determinam muito mais que sua vegetação. Deter-
minam, também, a ocupação humana, as atividades econômicas e as formas de uso e ocupa-
ção do solo. Com uma das menores densidades populacionais do mundo, a maioria dos seus
21.500.000 habitantes (89%) ocupa os centros urbanos (CIA, 2010). Observe o mapa na Figura
7, que demonstra a densidade de ocupação do país.
© U5 – Oceania 155

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 7 Densidade demográfica Austrália (habitantes/km2).

Busque comparar a densidade populacional (Figura 7) com as características naturais


apresentadas nos demais mapas.
Quanto ao uso e ocupação do solo, podemos verificar que os principais centros urbanos
localizam-se no litoral do Sudeste, onde predomina o clima temperado. Além disso, as restrições
de algumas zonas climáticas também condicionam as formas de uso e ocupação do solo.
Observe o mapa da Figura 8 e relacione as principais atividades com os setores climáticos.
Para tanto, retome o mapa de domínios climáticos (Figura 6).

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156 © Geografia Regional I

Fonte: adaptado de ESRI (2010).


Figura 8 Uso do solo na Austrália.

A população, que se concentra em grande parte nos centros urbanos, apresenta algumas
características demográficas importantes. Analise o gráfico da Figura 9 e a Tabela 1.

Figura 9 Estrutura etária da Austrália.


© U5 – Oceania 157

Tabela 1 Dados demográficos da Austrália.

Taxa de natalidade (nascimentos/mil habitantes) 12,39

Taxa de mortalidade (mortes/1.000 habitantes) 6,81

Taxa de crescimento 1,171

Taxa de fecundidade (filhos por mulher) 1,78

Expectativa de vida 81,72

População urbana (%)


89
66%

Fonte: adaptado de CIA (2010).

Tanto o gráfico da Figura 9 quanto a Tabela 1 demonstram que, na estrutura etária da


Austrália, assim como nos demais países centrais do capitalismo, predomina a população adulta
(dos 14 aos 64 anos), o que caracteriza essa nação como de regime demográfico maduro. Tal
fato se deve ao desenvolvimento socioeconômico recente, que propiciou uma elevada qualida-
de de vida.
A tendência de declínio da taxa de crescimento (atualmente 1,171%) e o aumento da
expectativa de vida demonstram a tendência de alterações da estrutura etária do país. Outro
aspecto que contribui com o predomínio da população adulta é o elevado fluxo migratório.
Atualmente, a taxa de migração do país é de 6,13/1.000, a 14º maior do mundo.
Mas como vive esta população? No que trabalham?
Para responder a essas questões, vamos nos aprofundar um pouco na interpretação dos
aspectos econômicos do país. Acompanhe.

Economia
A diversidade e a abundância de recursos naturais na Austrália atraem elevados níveis de
investimento estrangeiro. O país possui extensas reservas de carvão, minério de ferro, cobre,
ouro, gás natural e urânio, além de fontes renováveis de energia. A Austrália também tem um
grande setor de serviços e destaca-se como país exportador de recursos naturais, energia e ali-
mentos.
A economia australiana cresceu por 17 anos consecutivos antes da recente crise financeira
global. Posteriormente, o governo introduziu um pacote de estímulo fiscal no valor de mais de 50
bilhões de dólares para compensar o efeito da desaceleração na economia mundial, enquanto o
Banco Central da Austrália cortou as taxas de juros para mínimos históricos. Essas políticas – e a
contínua demanda por commodities, especialmente da China – ajudou a economia da Austrália
a se recuperar, depois de apenas um trimestre de crescimento negativo. A economia cresceu
1,5% durante os três primeiros trimestres de 2009. O desemprego, inicialmente previsto para
atingir entre 8% e 10%, atingiu 5,7% no final de 2009 e caiu para 5,3% em fevereiro de 2010.
Como resultado da melhoria da economia, o déficit orçamental deve atingir o pico abaixo
de 4,2% do PIB e o governo poderia voltar a superávits antes de 2015. Além disso, a Austrália
está engajada nas negociações de acordos de livre comércio com a China e o Japão.
Atualmente, o PIB da Austrália está entre os 18 maiores do mundo, e o PIB per capita che-
ga a 39.900 dólares (19º maior do mundo).

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População economicamente ativa e produção econômica do país


Veja as Figuras 10 e 11: a maior parte da PEA dedica-se ao setor terciário da economia.
Esse setor é também o maior responsável pelo PIB nacional.

Figura 10 Distribuição do PIB por setor da economia.


Figura 11 Quantificação do setor da economia segundo a PEA.

Os principais ramos de atividade do setor primário são: o cultivo de trigo, cevada, cana,
frutas, a criação de gado, ovinos e aves, a exploração de minerais, com destaque para bauxita,
carvão, minério de ferro, cobre, estanho, ouro, prata, urânio, tungstênio, níquel, chumbo, zinco,
diamantes, gás natural e petróleo.

No setor secundário, destaca-se a produção de equipamentos de mineração, industriais e


de transporte, processamento de alimentos, produtos químicos e aço.
O destaque do setor terciário deve-se à atividade do país no mercado internacional.

Fluxos de mercadorias
A prova de que a Austrália está inserida no processo de globalização atual está no fato de
ela estar classificada em 24º no ranking mundial quanto ao montante de exportação e em 21º
quanto ao montante de importações.
Os principais produtos exportados pela Austrália são carvão, minério de ferro, ouro, car-
ne, lã, alumina, trigo, máquinas e equipamentos de transporte. Os países receptores de gran-
de maioria destes produtos são: China (21,81%), Japão (19,19%), Coreia do Sul (7,88%), Índia
(7,51%), Estados Unidos (4,95%), Reino Unido (4,37%) e Nova Zelândia (4,1%) (CIA, 2010).
Quanto às importações, o destaque é das máquinas e equipamentos de transporte, com-
putadores e máquinas para escritório, equipamentos de telecomunicações; petróleo bruto e de-
rivados. Os principais países fornecedores desses produtos são: China (17,94%), Estados Unidos
(11,26%), Japão (8,36%), Tailândia (5,81%), Cingapura (5,54%) e Alemanha (5,3%) (CIA, 2010).

7. questões autoavaliativas
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta
unidade:
1) Retome os mapas de relevo (Figura 3), de clima (Figuras 4, 5 e 6) e uso do solo (Figura 8) e anote as suas conclu-
sões sobre a relação entre a dinâmica da natureza e a agricultura na Austrália.

2) Quais as características principais da estrutura etária da Austrália?


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3) Observe a participação da Austrália nos fluxos comerciais internacionais e responda: Qual o papel do país no
contexto econômico da globalização?

4) Reveja as Figuras 10 e 11 e estabeleça relações entre a composição do PIB e a distribuição da população por
setores econômicos.

8. Considerações
Esta unidade encerra os objetivos fundamentais deste estudo. Nele, foram descritos os
principais aspectos populacionais, econômicos e físicos de alguns dos países mais representati-
vos do poderio econômico mundial. Todavia, é necessário destacar que essa classificação não se
esgota e que novas relações de poder condicionam novas formas de regionalizar e interpretar o
espaço mundial.
Os atributos dos países selecionados foram descritos em tópicos individuais (com peque-
nas ligações entre os condicionantes físicos e as atividades sociais), mas reafirmamos a necessi-
dade de interpretá-los de modo integrado, pois vimos que o espaço geográfico é materializado
pelos processos históricos e pela relação do homem com a natureza.

9. e-referências

Lista de figuras
Figura 1 Oceania Político. Disponível em: <http://santamariapaulaivannablog.blogspot.com.br/2013/05/mapa-politico-de-
oceania.html>. Acesso em: 23 jul. 2014.
Figura 2 Divisão política da Austrália. Disponível em: <http://paragrafogeografico.blogspot.com.br/>. Acesso em: 23 jul. 2014.
Figura 3 Mapa físico da Austrália. Modificado de SCIAR-CSI, 2004. Disponível em: <http://srtm.csi.cgiar.org/SELECTION/
inputCoord.asp>. Acesso em: 22 ago. 2011.
Figura 9 Estrutura etária da Austrália. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-
world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Figura 10 Distribuição do PIB por setor da economia. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/
publications/the-world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.
Figura 11 Quantificação do setor da economia segundo a PEA. Imagem adaptada do site disponível em: <https://www.cia.gov/
library/publications/the-world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.

Tabela
Tabela 1 Dados demográficos da Austrália. Adaptado do site disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-
world-factbook/index.html>. Acesso em: 20 ago. 2010.

Sites pesquisados
AUSTRALIAN GOVERNEMENT. Geoscience Australia. Landforms ant their History. Disponível em: <http://www.ga.gov.au/
education/geoscience-basics/landforms/australian-landforms-and-their-history.html>. Acesso em: 22 nov. 2010.
CGIAR – Consortium for Spatial Information: SRTM Data Selection Options. Disponível em: <http://srtm.csi.cgiar.org/SELECTION/
inputCoord.asp>. Acesso em: 22 ago. 2011.
CIA – Central Intelligence Agency. The World Factbook. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
factbook/>. Acesso em: 2 ago. 2010.

10. Referência BIBLIOGRÁFICA


NATIONAL GEOGRAPHIC. Atlas. 2008. (Coleções Abril).

11. Referência VIDEOGRÁFICA


ESRI. Data & Maps for ArcGis 10. Redlands: ESRI, 2010. DVD.

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