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1 Introdução
Este documento tem o objetivo de relatar as atividades diárias e enumerar os dados coletados durante
viagem de campo à Terra Indígena Rio Gregório, do povo Yawanawá, entre os dias 15 de agosto e 10
de setembro de 2017. A viagem foi realizada pelos linguistas Livia Camargo Souza e Rafael Nonato,
pesquisadores do projeto “Línguas Indígenas Ameaçadas: Pesquisa e Teorias Linguísticas para a Revita-
lização”, que visa o desenvolvimento de metodologias de revitalização linguística e criação de materiais
e técnicas pedagógicas para três línguas indígenas brasileiras. Sob a coordenação da profa. dra. Bruna
Franchetto, o projeto é fruto da colaboração entre a FUNAI e o AIATSIS (Instituto Australiano de
Estudos Aborígenes), que treinou os linguistas envolvidos em técnicas de revitalização linguística.
No contexto da comunidade Yawanawá, o atual projeto dá continuidade ao trabalho de documentação
e salvaguarda da língua, iniciado pelo ProDocLin (Museu do Índio/UNESCO, 2010-2013). O objetivo
principal desta viagem foi dar continuidade à produção de uma Gramática Pedagógica (GP) da língua
Yawanawá, em colaboração com os professores indígenas. As oficinas para a produção da GP foram
coordenadas pela linguista Livia Camargo Souza, orientada pelo professor Luiz Amaral (UMass Amherst),
pesquisador pioneiro no desenvolvimento de GPs para línguas indígenas. A GP é dividida em temas
gramaticais, cada um abordado em uma unidade contendo pequenos textos, ilustrações, explicações e
exercícios.
Foi realizada uma oficina de uma semana de duração para a criação da GP Yawanawá na aldeia Amparo.
Participaram professores da própria aldeia, assim como das comunidades Yawarani e Matrinchã. Esta
aldeia foi escolhida devido à intensa participação e interesse que os professores locais apresentaram no
ano anterior.
A seção 2 apresenta as atividades realizadas durante a viagem, dia-a-dia e a seção 3 enumera os materiais
coletados. Por fim, a seção final consiste em um curto parágrafo apresentando ideias para a próxima
viagem.
2 Atividades diárias
dia Atividades
05/08 Voo para Rio Branco com conexões em São Paulo e Brasília. Chegada às 22 horas.
07 – 11/08 Os linguistas Livia Camargo e Rafael Nonato realizaram uma oficina de capacitação na
FUNAI de Rio Branco para os servidores da Frente de Proteção Etnoambiental Envira
(Fpeenv).
12 – 13/08 Final de semana: interação informal com servidores da Fpeenv.
14 – 15/08 Logística e planejamento da viagem para a T.I. Rio Gregório. Reunião com o cacique
Joaquim Tashka Yawanawá na sua casa em Rio Branco. Uma demanda do cacique
é que a oficina inclua o maior número de participantes possível, de todas as aldeias.
Todos devem ser convidados, para que o material produzido não seja visto como um
livro apenas da aldeia Amparo.
16/08 Translado para Tarauacá.
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17 – 18/08 Compras em Tarauacá, contato com barqueiro e consultores Yawanawá que estavam na
cidade.
19 – 20/08 Subida do rio Gregório com paradas nas aldeias Matrinchã (deixamos gasolina para
subida dos professores para a oficina na aldeia Amparo); Amparo (deixamos lá toda a
nossa carga), colocação Terra Alta, aldeia Yawarani, aldeia Tibúrcio, aldeia Escondido
e aldeia Mutum (deixamos gasolina para a descida dos professores). Retorno para a
aldeia Amparo no final da tarde do dia 20/08.
21/08 Reunião de planejamento com Inácio e Alderina Yawanawá, lideranças da aldeia Am-
paro. Entrega do material produzido no ano anterior. Devido à agenda de trabalho da
aldeia, decidimos realizar a oficina na semana seguinte. A primeira semana seria dedi-
cada ao trabalho de elicitação e coleta de dados, assim como a preparação da oficina.
22 – 27/08 Trabalho de elicitação com diversos consultores: Manoel Tika Matxuru, José Martins,
Arlindo Yawanawá. Coleta de história para o capítulo “Línguas Pano”do livro Índio não
fala Tupi. Trabalho com o dicionário Yawanawá no software Flex. Trabalho de prepa-
ração da oficina. Revisão dos capítulos produzidos no ano anterior com os professores
da aldeia Amparo.
28/08 Primeiro dia de oficina na aldeia Amparo. Participantes: Inácio (cacique e professor da
aldeia Amparo), Alderina (liderança e professora da aldeia Amparo), Aldaíso Vinnya,
Manoel Tika Matxuru, Manoel Kapakuru, Arlindo, Aldelícia, Jonata, Marco (profes-
sores da aldeia Amparo), Francisco (Chicão) (professor, colocação Terra Alta), Isaac
(professor da aldeia Yawarani), Hélio e Evandro (professores da aldeia Tibúrcio), diver-
sos jovens alunos da escola da aldeia Amparo. Explicamos novamente o conceito da
GP, com exemplo da English Grammar in Use, da GP Ikpeng, produzida pela equipe
do ProDocLin, e das unidades da GP Yawanawá que foram produzidas no ano anterior.
Havia novos participantes que ainda não conheciam o tipo de trabalho que estávamos
desenvolvendo e além disso, os próprios professores que produziram as unidades no ano
anterior também se beneficiaram de revisar a proposta e os conceitos. Conversamos
sobre metodologia de ensino e algumas questões gramaticais. TEMA: ergativo – morfo-
logia nominal e suas variações. Os participantes tiveram dificuldade de entender alguns
conceitos, mas aos poucos foram capazes de criar textos e desenvolver exercícios no
formato da GP.
29/08 Segundo dia de oficina na aldeia Amparo. Continuamos explorando o tema do dia an-
terior: ergativo e morfologia nominal. Como no ano anterior, a “explicação”do tema
gramatical é a parte mais difícil para os participantes entenderem – envolve generaliza-
ções sobre dados e pensamento abstrato sobre regras da língua. Eles têm dificuldade de
entender a noção de “morfema” e acabam confundindo com “sílaba”. É difícil explicar a
ideia de que apesar da nasalização expressar ergatividade, não são todas as instâncias
de nasalização que o fazem. Foram produzidos bons textos e ilustrações, apesar das
dificuldades.
30/08 – 01/09 Terceiro, quarto e quinto dias de oficina na aldeia Amparo. TEMA: Singular e plural.
Eu esperava que seria um tema mais simples para a compreensão geral, mas não foi
o caso. Houve muita confusão em torno do conceito de “morfema” e muitas digressões
por conta disso. Trabalhamos o plural tanto na morfologia nominal (sufixo -hu) quanto
na morfologia verbal (sufixos -hu e -kani). Desde o início, senti que faria muita falta a
ausência do professor Fernando Kate Yuve (Nane). Ele é uma pessoa com grande capa-
cidade de abstração e com muito interesse no estudo da língua. Ele consegue traduzir e
explicar bem as questões trabalhadas. Foi muito mais difícil sem ele.
02 e 03/09 Final de semana, encerramento das atividades. Trabalho de backup de materiais digitais,
coleta e organização dos materiais em papel, pagamentos e organização da prestação de
contas, confraternização e pescaria.
04/09 Translado para Tarauacá, descanso.
05 – 07/09 Trabalho de elicitação com Raimundo Sales e Arlindo Yawanawá, organização dos ma-
teriais coletados e prestação de contas
08 e 09/09 Translado para Rio Branco, descanso.
10/09 Retorno para RJ.
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3 Inventário de materiais coletados
Os materiais audiovisuais coletados durante a viagem de campo consistiram de gravações em áudio e
vídeo das reuniões e oficinas, além de sessões de elicitação de dados linguísticos e uma narrativa para o
livro Índio não fala Tupi. Também foi coletado todo o material produzido durante as oficinas – textos,
exemplos, ilustrações e explicações gramaticais para as unidades da GP.
4 Anexos
4.1 Fotos
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Figura 2: Participantes produzindo textos na aldeia Amparo
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Figura 4: Hora do almoço na aldeia Amparo
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Figura 6: Texto produzido durante a oficina
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Figura 8: Velho João e Manoel Kapakuru conversando sobre a língua
4. Naxitani ukĩ ũiya tetepã takaranẽ vake atxishũ urũtamekãinaitũ ũiyã. Tete iwi keyatapaũ tsaua.
Ẽ aki tuwea, pakea.
Fui tomar banho e quando vinha voltando, eu vi o gavião pegando os pintinhos e levando nos pés.
Sentou no pau bem alto. Eu atirei nele e ele caiu.
texto do Tika e Txini
5. Ẽwẽ shanũ takaranẽ vatxi pakea. Tuxiatiã takara shuku mixtĩhãu wasãshũ mitupishũ piahu.
A galinha da minha avó colocou ovo depois que saíram do ovo, eles mesmo começaram a ciscar e
mexer com os pezinhos pra comer.
texto do Tika e Txini
6. Vinnyã iyã ũi kashũ. Iyã ketahuãki ũiya. Kape vatxia rakaixĩa. Iyã kesemẽ hushetiniwã nãmã.
Vinyã vetxixina. Ẽ ave kakĩ kapetã vatxi hishũ, ẽ Vinya inãxina.
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Vinnya foi olhar um lago/igapó. Beirando, achou um jacaré ovado debaixo de umas folhas. Vinya
encontrou. Eu fui junto, peguei o ovo do jacaré e dei pro Vinya.
texto do Hélio (Ezinho), Vinnya
7. Kãmãnẽ nami pitxã pikĩ keyua. Ẽ kãmã kuxa.
O cachorro comeu toda a carne cozida. Eu bati no cachorro.
texto da Lili Vimiuma
8. Wai naki kashũ marĩ atsa piaitũ ẽ ũiya. Ẽ mari reteshũ vea.
Fui pro roçado e vi a cotia comendo macaxeira. Eu matei e trouxe a cotia.
texto da Lilda.
9. Ewẽ kãmã xara. Ẽ nii kashũ anu retea. Ewẽ kãmãnẽ anu mapu pia.Anũ ewẽ atsa keyua.
Meu cachorro é bom. Eu fui caçar e matei paca. Meu cachorro comeu a cabeça da paca. A paca
acabou com minha macaxeira.
texto do Isac (Tracajá)
10. Takara venẽ sheki pi. Ewẽ vakẽ pima. Tetepã takaranẽ vake pia. Ẽ tete retea. Puyãumanẽ
wetsa atxia, puyãuma kini mera ikia.
o galo está comendo milho. Meu filho está alimentando. O gavião comeu os pintos. Eu matei o
gavião. A cobra pegou outro e mergulhou pra dentro do buraco.
texto do Yuaxi e Manoel Mico
Exercícios:
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1. yurahu/yurahãu wai kuakani.
2. mari/marĩ miriari pia. (uricuri - palmeira)
3. kãmã/kãmãnẽ anu axĩã.
4. tuata/ tuatanẽ katsu retea.
5. tunũ/tunumã shui piti xara.
6. nunũ/nunumã vatxi pakea.
7. mui/ mũĩ ewẽ tari pia.
exercício da Aldelícia e da Lilda
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• Awĩhãu xiri vãna awẽ wai venaki. Vari keranainũ, shakupaikĩ. Askashũ awĩhãu xiri pitxãpaikĩ.
A mulher plantou xiri(araruta) no roçado novo para que no ano que vem ela possa arrancar. A
mulher cozinhou xiri.
• Shavama yumehu waka tsakai huahu. Misĩnutsi westima atxiahu. Mã nukuahu. Askashũ
shuikãni. (shui pakekãni – foram assando de pouco em pouco.)
Os jovens hoje pela manhã foram jogar bolinha de tingui. Pegaram muito piau. Já chegaram. E
agora estão assando.
Fui caçar e descendo no igarapé e vi as piabinhas subindo. Então eu vi alguém que tinha pisado
tingui. Chegando em casa, vi os jovens que iam pescar no outro igarapé.
texto do Vinnya e Hélio (Ezinho)
• Nukẽ shushutitiã nũ shushumisi. Askaitũ ũi, nukẽ vakehuhu rihi nukẽve ravẽkãi shushumisihu.
Askasipãnã. Ahãu rihi tapĩkãni.
Na época do nosso festival, nós sempre brincamos. Vendo isso, nossos filhos também se juntam e
sempre brincam juntos. askasipãnã = além disso, não é só isso.
texto do Evandro
• Nukẽ shushutitiã vakehuhu rihi tapĩ shushumisihu. Nukẽ shushutihu ũishũ, tapĩkãni. As-
kaihãu xara ũi nũ inimai.
Durante nosso festival, as crianças também aprendem brincando. Vendo as brincadeiras, eles
aprendem. Assim ficam todos animados.
texto do Bolinha
Exercícios:
• Na mahu ane westirasi anekĩ wixia. Itxapa ikikaisa washũ wixawe, aneshe.
1. Kamanẽ takara naka.
2. Ãwĩhãu shupa hiika.
3. Ãwĩhãu xiri shakui. a mulher está arrancando xiri (araruta)
4. vakehãu peshe mawama. – o menino desenhou uma casa
5. nunũmã vatxi muxia. – o ovo da pata quebrou.
6. uatũ yuma piãka aquele lá flechou o peixe.
7. ua awĩhãu yukã pi. – aquela mulher está comendo goiaba.
8. akã mapi atxia. – o socó pegou o camarão
9. vitxũ yuma txatxishũ pi. a garça furou o peixe e está comendo
10. nesheshenẽ txũi pi. – a cigana (pássaro da beira do igapó) está comendo capim.
11. kãmãnẽ amẽ yuka. – o cachorro acuou a capivara.
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12. Kamanẽ katsu yuka.
13. Kehũ mewe pi. (barreiro)
14. Peshe tsaua.
15. ẽ isã hitana – fui buscar patóa
16. ẽ yuxĩ vea (ameixa da mata) tupitana. – eu fui juntar ameixa (espalhada)
17. awapã umushe pia. – a anta comeu imbú (umbu)
18. kumãwã shũiki – nambu azul (grande) cantando
19. Isu mania. – tem um bando de macaco preto. => Isuhu maniahu.
20. Xipĩ taxi pi. – O soim está comendo sapotinha pequena
• Na wixihu aneshũ hanimãi mahu itxapa yuiki turu wawe.
1. Kãmãhãu katsu pakeshũ atxiahu
2. Unuhãu nuke atsa keyuitamea.
3. Kaxihãu ewẽ manĩa patxiahu txaka txaka wamisi.
4. Nukẽ epahu nawa rayashũpaunihu.
5. Nukẽ iyuahuhu nawã tsãi ipaunihuma.
6. Na yametã yumehu nii huxĩahu/ nii taxĩahu. Askahiashũ awea axĩahuma / vetxixinahuma/
retexinahuma.
7. Kuskuhãu yuma pikani.
8. vakehuhãu wai vanai huahu.
9. Ãwĩhuhãu atsa meshakani.
10. Txunahãu vimi pikani. os macacos estão comendo fruta (txunapã vimi pi. – singular)
11. Kãmãhu naka-na-kani. os cachorros estão brigando (se mordendo)
12. Yuinahu nuyakani.
13. Nunũmã vatxihu tuxiahu. – os patinhos nasceram, saíram do ovo
14. takarahãu vakehu txatxixinahu.
• Na maiuri yuina ãne westihu/westirasi(cada um) ũishũ na ãne ture ”hu”atuki wixapakewe:
veja o nome da aves escritos abaixo e use o -hu para escrever o plural:
1. nunũ – pato
2. shuke – tucano
3. tumi – curica
4. rurũmi – massarico (quero-quero)
5. shetsĩ tatiri – matita pereira, petica (parecido com aracoã, alma de gato – mas é branco)
6. weshatau – cãcãu (de fogo)
7. tekerewe – espécie de pica-pau, canta ”tekerewe”(pássaro de agouro)
8. vitxu – garça branca
9. vitxuwã – jaburu
10. kuka matsara – pica-pau da cabeça vermelha
11. txarashe – martim-pescador
12. pitsu – piriquito
13. paka vixki – bem-te-vi
14. tikũ – bico-de-brasa
15. wakãshua – macucau
16. huxtĩ nĩnĩ - uirapuru da terra firme
17. mawa isã – imita todos os pássaros, menos o bem-te-vi e o bico-de-brasa
18. txana - japinim (tbm imita)
19. isku - japó
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