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OS LIMITES DA PRÉ-COMPREENSÃO NAS DECISÕES JUDICIAIS.

Uma breve análise da prova pericial judicial em sede de benefícios


previdenciários.

David Santos Salomão1

INTRODUÇÃO

A função da Jurisdição Constitucional em tutelar os direitos e garantias fundamentais


na sociedade revela-se uma tarefa árdua, pois através do Poder Judiciário, o Estado deve tentar
alcançar posicionamentos renováveis diante de cada caso concreto para chegar perto daquela
considerada uma resposta adequada ao anseio perquirido e de acordo com os ditames
constitucionais.
A discussão quanto a postura mais ativa ou passiva do juiz em um processo deflagra o
conflito do ativismo judicial com posturas self restraint, ao passo que a linha que separa
decisões arbitrárias daquelas consideradas constitucionalmente legais é muito tênue. Os
interesses que motivam a atuação e fundamentação das decisões judiciais são diversos, contudo
a sentença final de um processo deve estar sempre atenta a interpretação e motivação mais

1
Mestrando em Direito pela Universidade Federal do Ceará, Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela
Faculdade entre Rios do Piauí. E-mail: davidssalomao@gmail.com
terceira
próxima dos princípios constitucionais e das diretrizes mais recentes da Hermenêutica
Constitucional.
Nesse contexto, o estudo da interpretação e cognição do magistrado no processo levam
à análise da limitação de sua própria atuação, nesta explanação, nos casos de concessão do
benefício previdenciário de auxílio doença. Nestes processos, pode-se observar que o âmbito
de ingerência que o juiz tem é limitado em face do desconhecimento técnico das demandas
apresentadas, e a sentença é norteada pela conclusão do laudo pericial judicial.
Diante da perspectiva do magistrado, não se faz necessário que o mesmo tenha
formação acadêmica de medicina para sentenciar processos que tenham como objeto benefícios
da Previdência Social. Contudo, na justiça federal do Ceará, não existe nenhum tipo de controle
ou avaliação dos laudos periciais, tampouco existe algum tipo de meio de defesa contra laudos
feitos com negligência, imperícia, e que acabam por determinar o direito à saúde e à vida da
sociedade.
No primeiro tópico será abordado como a formação cognitiva do magistrado traz
limites a sua pré-compreensão com fundamentos na Epistemologia e autores como Hans-Georg
Gadamer; no segundo tópico será explanado sobre a evolução da Hermenêutica Jurídica e o
pensamento dos magistrados; No terceiro tópico, explicitar-se-á com base em dados dos
processos do Juizado Especial Federal, a importância dos laudos periciais médicos nas
sentenças judiciais que analisam processos de benefícios previdenciários (auxílio doença e
aposentadoria por invalidez) e o papel que a Previdência Social tem exercido perante a
sociedade. No último tópico será exposta a relação entre os limites da pré-compreensão do
magistrado e do terceiro (perito médico judicial), as possíveis modificações e critérios para que,
com base no Direito visto como integridade, seja admissível perícias médicas judiciais mais
coerentes e que as partes tenham plenamente seu Direito de defesa garantido no processo.

1. A FORMAÇÃO DE UM ESPÍRITO CIENTÍFICO E OS LIMITES DA PRÉ-


COMPREENSÃO.

A compreensão da realidade do ser passa necessariamente pelo conceito da linguagem,


os sinais, a forma como ele deduz o mundo e o transmite para o outro. E para alcançar a
compreensão, é necessário entender como percebemos o conceito de compreensão, ou seja, qual
é a perspectiva da apreensão do conhecimento que se adota. Esta é uma análise epistemológica
específica, na qual está imbuído a própria filosofia.
Se a filosofia pode ser considerada como “a auto reflexão do espírito sobre seu
comportamento valorativo e prático e, igualmente, aspiração a uma inteligência das conexões
últimas das coisas, a uma visão racional de mundo” (HESSEN, 2003, p. 9), independente do
ponto de partida para essa reflexão ser uma visão de mundo ou uma visão de si (HESSEN, 2003,
p. 8), a atitude do filósofo deve ser uma incursão cognitiva e explanatória, ou seja, não aceitar
aquilo que é desconhecido e procurar por si mesmo novos caminhos para o conhecimento
(RUSSEL, 2001, p. 10). A partir dessa atitude cognitiva de uma reflexão ao mesmo tempo
individual e geral, é possível entender como se obtêm o conhecimento e de como se compreende
o mundo.
A teoria do conhecimento ou epistemologia procura trazer algumas respostas para o
estudo dos problemas filosóficos obtidos no decurso da investigação científica, além de “ (...)
propone soluciones claras a tales problemas, en particular soluciones consistentes en teorías
rigurosas e inteligibles, así como adecuadas a la realidad de la investigación científica, en lugar
de teorías confusas o inadecuadas a la experiencia científica” (BUNGE, 2002, p. 29). Assim,
não é suficiente apenas conhecer, mas também entender os fundamentos desse conhecimento,
bem como os aspectos metodológicos envolvidos na percepção dessa realidade.
Diante desse quadro, pode-se entender que o ato de conhecer nada mais é que o
“conjunto de opiniões verdadeiras” (AFTALIÓN, 2004, p. 23), mas como a verdade é um
conceito de difícil evidenciação, poderia se afirmar que o conhecimento é o conjunto de
opiniões que buscam a verdade de maneira exploratória e investigatória pelo ser. A relação de
conhecimento se dá entre sujeito e objeto, e é antes de mais nada, uma relação recíproca na
medida em que o sujeito somente o é para o objeto, e o objeto somente o é perante o sujeito
(HESSEN, 2003, p. 20).
O argumento verdadeiro deverá sempre ser renovado em sua essência, pois o que
aparenta ser a realidade (o que está sendo iluminado) produz sombras, e dessas sombras serão
percebidas evidências, e, consequentemente, será mais próximo da verdade o que se deveria ter
pensado e não o que se poderia achar (BACHELARD, 1996, p.17). Um obstáculo
epistemológico na busca dessa realidade é a própria mente humana, à proporção que o que já é
conhecido pelo ser é mais facilmente aceito em seu raciocínio; o conhecimento que inova,
desmitifica, suplanta teorias anteriores, é visto pelo próprio cérebro como algo rejeitável ou
mesmo incorreto inicialmente: “com o uso, as ideias se valorizam indevidamente”
(BACHELARD, 1996, p.19).
Dessa maneira, aceder ao denominado espírito científico pressupõe a superação de
obstáculos como a opinião (que surge de necessidades e utilidades, não trazendo consigo a
preocupação investigatória e explanatória da ciência), e todos os preconceitos que o ser possui
fruto de suas experiências e do contexto social no qual está inserido (BACHELARD, 1996,
p.18). Existem limitadores linguísticos, temporais, culturais presentes nos fatos, e o
reconhecimento de que as ideias são influenciadas por estes fatores, faz com que a noção do
obstáculo epistemológico seja superada, dando vazão a um aprofundamento da investigação
cientifica e do pensamento. Diante do estudo de determinado termo, por exemplo, cabe ao
epistemólogo traçar uma escala de conceitos de determinado assunto, e fazer uma progressão e
relação que eles têm uns com os outros, trazendo uma maior eficácia epistemológica e científica
(BACHELARD, 1996, p.22).
Traçar uma perspectiva epistemológica da compreensão do mundo é um passo para
tentar entender a relação do conhecimento entre o ser e o objeto, tendo como desdobramento a
própria Hermenêutica, na medida em que o ser conhece, e somente é possível entender esse
saber pelo o estudo da interpretação e da captação do sentido das coisas. Para Gadamer, o
homem é hermenêutico, finito e histórico, e essa análise da temporalidade torna o problema,
antes de tudo, ontológico na visão do autor. A compreensão é histórica e, na medida que um
método é empregado para se chegar a uma verdade, no ato de sua escolha desse método, a
verdade já havia sido definida. O autor propõe uma fusão de horizontes entre o intérprete e o
texto, pois na medida que o pensamento moderno concebe que somente será possível se chegar
a um pensamento racional se não fosse levado em consideração a tradição e a metafísica, irá se
estar agindo com pré-conceito2.
Essa análise epistemológica dos valores envolvidos na compreensão da realidade é
essencial para que se entenda os limites da compreensão, pois ele começa na própria formulação
do conhecimento. Existe a necessidade real de um perfil investigatório naquele que produz e
estuda a ciência, não sendo diferente com o Direito. À luz do caso concreto, a busca pela
verdade deve ser um norteamento para o juiz, e o ato de captar o sentido da norma é sempre
influenciado por sua pré-compreensão, que deverá ter valores semelhantes a toda a sociedade:
a Constituição é o ponto de encontro entre o Direito e a Sociedade, entre o juiz e o cidadão
(MAGALHES FILHO, 2001, p.45).

2
Para Gadamer, foi nesse momento que expressões como pré-conceito e pré-juízo tiveram conotações
pejorativas, sendo que tais palavras denotam a existência de conceitos e juízos anteriores a interpretação do ser
(MAGALHES FILHO 2001. p. 42).
2. A EVOLUÇÃO DA HERMENÊUTICA JURÍDICA E A CONSTRUÇÃO DE UM
RACIOCÍNIO HERMENÊUTICO JURÍDICO NA ATUAÇÃO DOS MAGISTRADOS

A origem da Jurisdição Constitucional remete aos diversos países precursores do


Constitucionalismo, a diversas culturas, pois segundo preleciona Canotilho (1993, p.61) não
existe somente um movimento constitucional, mas vários em contextos próprios e
diversificados, como os ocorridos no Direito Inglês, Americano e Francês, que repercutiram em
todo conhecimento jurídico mundial.
No direito inglês, os movimentos desde a Magna Carta de 1215 até a Revolução
Gloriosa de 1688, marcaram o advento de um pensamento liberal, com fortalecimento do
Parlamento e criação de mecanismos para a proteção de liberdades individuais. O filósofo John
Locke foi a maior influência deste período para a conscientização de um ideal libertário. De
acordo com sua teoria contratualista, o homem vive em um estado natural que já detêm direitos,
e para que o convívio social seja ainda mais profícuo, os cidadãos delegam esses direitos ao
governante para que os garanta. Na medida que o governante utilizava do poder a ele conferido
pelo povo contra o povo, deveria cair, ser retirado. O autor acreditava que o Poder legislativo
seria um dos mais confiáveis, pois a sociedade confiou a ele a proteção de seus interesses,
adotando a tese da supremacia do Poder Legislativo (LOCKE, 2004, p.98). Crítico árduo do
Absolutismo, o filósofo foi essencial influência para a queda deste regime e ascensão de ideias
liberais na Inglaterra .
No direito americano, os movimentos ocorridos em 1776 demonstraram em sua
ideologia que os norte-americanos não confiavam mais do poder do Estado, tampouco
apostavam no virtuosismo do legislador, baseando-se em fundamentos como o individualismo
e o historicismo, preferiram apostar na Constituição para limitar o âmbito de atuação do
legislador (STRECK, 2002, p.261). Thomas Jefferson teve influência direta da filosofia de
Locke, e verifica-se na Declaração da Independência dos Estados Unidos da América, a pré-
existência de direitos naturais que devem ser defendidos como a vida, a liberdade, a procura da
felicidade, e que sempre que o governo instituídos para defendê-los seja destrutivo aos mesmos,
deverão ser retirados ou alterados pelo povo.
A Revolução Francesa de 1789 foi fundamental na influência mundial da concepção
de Direito, bem como mudou o paradigma do Estado Absolutista. Em análise de um momento
anterior ao Poder Absoluto do monarca, o Feudalismo foi um período que havia grande
instabilidade política, pois cada feudo tinha seu governo, moeda, milícia. Dessa forma, o
comércio cresceu e precisava de maior estabilidade para dar suporte, e sentiu-se a necessidade
da centralização do poder.
Contudo essa concentração do poder ultrapassou os limites previamente imaginados
nas mãos do monarca, caracterizando o Absolutismo. O poder absoluto corrompeu o rei, e em
meio à crise Luís XVI convocou Os Estados Gerais na tentativa de acalmar os ânimos
revolucionários, o que não logrou êxito, ocorrendo a Revolução Francesa. Tendo caráter de uma
revolução liberal, foi inaugurado na França o Estado Liberal, onde as ideologias de Rousseau e
Montesquieu traziam a rígida separação de poderes e um papel secundário ao Judiciário. De
acordo com Lenio Streck (2002, p.278) os franceses têm até os dias atuais desconfiança com o
Poder Judiciário, pois na fase imediatamente anterior à Revolução, ele era um poder
conservador, aristocrático e a favor do governo. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade
foram enviados como dogmas mundiais do conceito de democracia, e posteriormente do Estado
Democrático de Direito.
Desse modo, observa-se uma evolução na importância do papel do Poder Judiciário ao
longo dos anos. Mas se questiona como estabelecer um limite na atuação do mesmo, pois se a
atuação do Poder Legislativo vem sendo limitada pelo Judiciário, quem o limitaria? A
desconfiança do Constitucionalismo Francês é devida na medida que nada impede que o juiz
ao julgar ultrapasse o limite estabelecido como razoável para a conservação dos direitos
fundamentais. Devem portanto ser estabelecidos critérios para a solução desse problema.

2.1. A quebra de paradigma na Hermenêutica.

O estudo da interpretação do direito e consequentemente a captação de seu sentido


surge como instrumento necessário para a resolução do paradigma da atuação do Poder do
Judiciário na esfera do particular e sua ingerência sobre os demais poderes. Faz-se necessário,
uma recapitulação cronológica e histórica da compreensão do mundo medieval até os dias
atuais.
A idade Média ficou marcada pela crença na metafísica, influências de superstições,
religião como raciocínio de compreensão do mundo. O pensamento moderno teve a busca no
racionalismo como forma de percepção do mundo, dando ênfase a métodos objetivos e
racionais, com destaque ao empirismo, que através de experimentos científicos procurava
demonstrar a realidade.
Somente com Dilthey houve a separação entre ciências naturais e ciências do espírito,
sendo o ato de conhecimento da primeira a explicação e da segunda a compreensão
(MAGALHAES FILHO, 2001, p. 39). Ele propôs um método que buscava explanar que o ato
humano é sempre adicionado de valor, sentido, significação e realidade, fundamentando a
Hermenêutica Metodológica (LOPES FILHO, 2009, p.200-201).
Contudo, o método meramente indutivo e científico foi contestado por cientistas como
Popper, que tinha uma concepção Construtivista, não aceitando o padrão de verdades absolutas,
e que a ciência seria uma hipótese temporária da realidade, pois poderia em um momento
porvindouro ser substituída por outra hipótese mais adequada.
Com a Reviravolta Linguística e uma ampliação do conceito da filosofia da linguagem,
esta passa a ser não apenas a reprodução da realidade (designação), mas sim que o indivíduo
nunca poderá ter verdades absolutas não presas a cultura, valores dele mesmo. Conforme a
professora Juliana Diniz (2015, p. 777):

A reviravolta linguístico-pragmática resultou no reconhecimento da


intersubjetividade como elemento indispensável à razão, que passa a ser definida
como razão discursiva, ou comunicativa. Esse pressuposto teórico-filosófico é
essencial às teorias procedimentalistas, que utilizam o diálogo como procedimento
legitimador das normas éticas, aí incluídas as normas morais e as normas jurídicas. A
forma de garantir a validade das normas jurídicas é justamente a definição de
condições ideais de diálogo entre os sujeitos, a fim de que as melhores razões
prevaleçam no embate discursivo.

Portanto houve a quebra de paradigmas, inclusive os jurídicos, de subsunção da norma


e para a construção da nova Hermenêutica Constitucional, pois o método científico e purista de
interpretação legal deu origem a movimentos como a Escola da Exegese, e posteriormente o
Positivismo Jurídico, que limitava o âmbito da interpretação e ação do juiz, que praticamente
só reproduzia a própria lei.

2.2. A constituição de uma compreensão hermenêutica jurídica.

Sobre o estudo da atuação do magistrado existem teorias como as de Hart, Dworkin e


Lenio Streck, que discutem a liberdade de ação e formação do convencimento do juiz, a partir
das múltiplas possibilidades da interpretação do caso concreto. Em uma análise preliminar é
necessário verificar como ocorre a construção do pensamento e do papel que a escolha do
magistrado tem no processo.
O positivismo jurídico de Hart prevê o denominado Poder discricionário, como sendo
a liberdade de atuação que o juiz tem a partir da textura da norma (multiplicidade de sentidos
possíveis dentro de um texto) para resolver determinado caso quando há uma indeterminação
jurídica. Para o autor, em uma ausência normativa, o juiz deverá aplicar o seu poder
discricionário, podendo criar direito para o caso em análise, e não simplesmente aplicar direitos
pré-estabelecidos.
Contudo, Ronald Dworkin leciona que o poder discricionário não leva a lugar nenhum
(DWORKIN, 2002, p. 71-72), pois abre séria margem para uma atuação não coerente do
Judiciário, na medida que se ficaria a mercê das convicções pessoais do juiz, tornando-o
arbitrário. Ele diferencia ainda o poder discricionário em fraco (padrões que se faz necessário
o uso da capacidade de julgar) e forte (temas não limitados pelos padrões).
Dworkin criou um modelo ideal de juiz que denominou Hércules, que seria um ser
diferenciado com capacidade, sabedoria, paciência e sagacidade sobre-humanas para a solução
dos casos com lacunas legais, aqueles denominados hard cases (DWORKIN, 2002, p. 165). De
fato, nenhum juiz conseguiria ser o Juiz Hércules do autor, e ele não propõe isto, mas esse
modelo deve ser algo a ser buscado, alcançado.
Dessa forma, o direito deve ser visto a partir de uma leitura moral, pois tem relação
indissociável com a política. A resposta correta para o determinado caso submetida à análise
do Poder Judiciário deverá levar em consideração a Teoria da Integridade do Direito
(DWORKIN, 1999, p. 202). Para Dworkin, o Direito como integridade baseia-se na superação
do conceito do Positivismo (neutralidade e subsunção das normas), do Convencionalismo
(apego demasiado aos precedentes) e do Pragmatismo (não dá importância ao precedente,
fundamentando decisões em elementos do contemporâneo e do futuro); essa teoria fundamenta-
se nas virtudes da equidade, justiça e devido processo adjetivo (DWORKIN, 2002, p. 203).
Segundo ainda o autor, a decisão judicial é como um romance continuado em diversos
capítulos. Ele faz essa comparação, pois cada juiz seria tal qual um romancista que faz uma
leitura do capítulo anterior (precedentes) para então contribuir para o engrandecimento da obra.
Dessa forma o magistrado deverá não somente interpretar, mas ver o direito como um todo, e
aperfeiçoá-lo, ajustando-o à prática social e demonstrando um valor ou finalidade, partindo de
um direito pré-estabelecido e da moralidade pública como dimensões no argumento jurídico
(LUIZ, 2013, p. 174 e 175)
Lenio Streck critica a teoria da resposta correta como sendo a única resposta, pois para
o autor ela não é única e nem a melhor, e sim, é a que se adequa a Constituição. Para se evitar
o protagonismo judicial deverá se utilizar da Hermenêutica Filosófica aliando Dworkin e
Gadamer (STRECK, 2013, p. 107). Logo, o intérprete deverá estar sempre em um processo de
auto conhecimento e questionamento de sua pré-compreensão, na medida em que percebe o
Direito em sua plenitude. Para Streck, a resposta adequada à Constituição deve ter seu
fundamento na mesma, na medida que somente será possível por meio do círculo hermenêutico
e na fusão de horizontes entre o juiz (intérprete) e a Constituição (texto) (LUIZ, 2013, p. 178).
Ainda, segundo o autor, os princípios passaram a ter papel não restritos à interpretação,
bem mais que isso, impondo direito e obrigações, na medida que os princípios devem
estabelecer padrões hermenêuticos com o intuito de : a) preservar a autonomia do direito,
respeitando a Constituição, bem como sua rigidez, efetividade e força normativa; b) estabelecer
condições hermenêuticas para a realização de um controle da interpretação constitucional,
impondo limites às decisões judiciais; c) garantir o respeito à integridade e coerência no direito
através de princípios que nortearão as decisões judiciais; d) estabelecer que a fundamentação
das decisões é um dever fundamental dos juízes e tribunais, tendo em vista que o texto
constitucional não pode ser deslegitimado; e) garantir que cada cidadão tenha sua causa julgada
a partir da Constituição e que haja condições para aferir se essa resposta está ou não
constitucionalmente adequada, preservando a fundamentação das decisões (STRECK, 2009, p.
541-543).

3. A LIMITAÇÃO DOS JULGAMENTOS DE AÇÕES PREVIDENCIÁRIAS PELA


PROVA PERICIAL.

A construção de um sentido para a norma jurídica baseada na persecução dos valores


constitucionais, norteados pelos princípios do ordenamento jurídico, conceituando o Direito
como Integridade e admitindo-se a limitação da pré-compreensão do ser, são importantes
diretrizes que devem estar na essência de uma teoria da decisão judicial. Mais do que
simplesmente entender que a verdade de uma situação é temporária, deve-se ter em mente que
o conceito para se apropriar da verdade é sempre renovável; ora se a luz sobre determinado
conceito sempre deixará sombras à sua volta, não se pode ser ingênuo de não perceber a
constante mudança de paradigmas e metodologia em busca do conhecimento.
O estudo científico do Direito deve passar por importantes etapas em sua investigação:
da percepção da realidade, o ser que conhece, tem como característica imanente a busca pelo
conhecimento, ou seja, o que é verdadeiro. Adotado o conceito de verdade (seja ele com base
na teoria da coerência, da correspondência, pragmatista, semântica ou da verdade como
redundância3 ) a sua perspectiva realista ou instrumentalista (CHALMERS, 1993, p. 190-192),

3
Segundo HAACK, (2002, p.128), na teoria da verdade como coerência, existiria um conjunto de crenças, e seria
considerado verdadeiro aquele argumento que demonstrasse a relação dessas crenças; a verdade como
o cientista do direito deve estar atento as limitações do método que escolheu, do conhecimento
que possui e julga coerente, bem como das provas trazidas pelo próprio caso concreto.
A teoria pragmatista da verdade traz uma essência coerente para a construção do
conhecimento científico no Direito, pois considera verdadeiro aquilo que tem correspondência
com a realidade e também tem coerência com outros fatos sistematicamente. Nesse ensejo, o
papel do magistrado e a sua compreensão dos fatos e da realidade é fundamental para essa
edificação jurídica de maneira eficaz, à proporção que a ele pertence a capacidade de produzir
provas de acordo com seu livre convencimento, e efetivamente sentenciar (emitindo através de
um ato volitivo) o processo.
O conteúdo que irá acompanhar o ato final do juiz em um processo, muitas vezes é
moral, político, econômico e cultural, relacionados aos seus próprios preconceitos e forma uma
opinião e não ciência. É fato que o Direito é indissociável da política e da moral, mas não pode
ser absolutamente corrompido e ocupado em seus critérios por questões outras de ordem
econômica e politica, ao ponto de se impossibilitar a construção de uma identidade jurídica. É
o que tem ocorrido na realidade da Previdência Social no Brasil, tendo em vista que a concessão
de benefícios pelo INSS, muitas vezes, não segue os ditames previstos em leis, e de uma
maneira mais agravada, o ultimo remédio da população ( o Poder Judiciário) está limitado pela
sua própria cognição.
Antes de analisar as sentenças das ações previdenciárias, é importante observar a
relação de causa e consequência estruturada nesse enleio, que reflete uma crise dos valores da
própria Constituição. Os direitos fundamentais e sociais não podem estar submetidos
unicamente a um dimensionamento econômico, pois embora o desenvolvimento de um país
seja fundamental para que ocorra a melhoria de condições e infraestrutura para seus cidadãos,
o Estado não pode esquecer daqueles que não acompanharam esse desenvolvimento
econômico, devendo garantir condições mínimas de sobrevivência digna para todos.
No contexto brasileiro, as políticas de saúde, educação, trabalho, assistência social e
previdência social foram imprescindíveis para a manutenção da qualidade de vida dos cidadãos
e do cumprimento das funções constitucionais do desenvolvimento econômico nacional, e a
garantia da ordem social como forma de promover uma existência digna, segundo a própria
Constituição de 1988: “Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como
objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. A seguridade social é definida nos termos
constitucionais no artigo 194 como: “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes

correspondência, em contrapartida, seria estabelecida com a própria realidade e não com outras crenças; sendo a
teoria pragmatista a união destes dois conceitos.
Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social”. Dessa forma, o Estado tem nesses 3 direitos da seguridade social, a
implementação de importantes políticas públicas para o avanço de melhores condições sociais
para a população, sendo direitos sociais e humanos de acordo com o artigo 25 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos da ONU:

Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua
família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de
subsistência fora de seu controle.

Além do artigo 6o da Constituição Federal que estabelece a previdência social como


direito social, a partir do artigo 201 são estabelecidas regras e princípios específicos da mesma,
que tem sua aplicação complementada pela legislação extravagante (principalmente a lei
8.213/91 e o decreto 3.048/99, além de outras). Na base do conceito de previdência social está
a ideia de que, através das contribuições do Custeio da Seguridade Social, será possível cobrir
os eventos que põem em risco a vida e a saúde humana, bem como os que são inevitáveis.
A legislação previdenciária traz os requisitos formais para o obtenção de um benefício
como o auxílio doença e a aposentadoria por invalidez, como a qualidade de segurado, a
previsão de carência (12 contribuições), e que o requerente do benefício esteja acometido de
uma doença que o incapacite temporariamente ou permanentemente para sua atividade laboral
respectivamente. Os critérios são objetivos, mas ocorre que a leitura do Direito por vezes não
está dissociada da Política e no exemplo brasileiro, não só é influenciada, como é determinada
por ela.
Dessa forma, o que se apreende de uma pesquisa obtida a partir de processos do
Juizado Especial Federal na cidade de Fortaleza e no interior do Estado do Ceará, é que por
diversas vezes o requerente é portador de uma doença que o impossibilita totalmente para o
trabalho, mas tem seu benefício negado, como por exemplo um ruralista que tem câncer de pele
e teve seu benefício administrativo negado, onde o Instituto Nacional da Seguridade Social
afirmou que ele tinha condições de trabalhar.
Os exemplos do desvio da finalidade da Seguridade Social e da Previdência Social são
inúmeros pelo Estado, mas, além disto, quando os requerentes dos benefícios pleiteiam a
revisão da decisão judicialmente, eles são arbitrariamente injustiçados. A cognição do
magistrado e os limites da sua pré-compreensão da realidade vinculam as decisões judiciais aos
resultados dos laudos periciais médicos na maioria dos casos, tanto por causa do
desconhecimento técnico dos temas medicinais, quando pela ausência de mecanismos jurídicos
e administrativos do controle do resultado dos laudos.
Não é difícil concluir que como o magistrado não conhece os termos e especificidades
de cada doença discutida no bojo das ações previdenciárias, ele nomeia um perito judicial, que
pela própria escassez dos médicos interessados, muitas vezes não é especialista, e acaba
fornecendo um laudo médico com base em suas convicções, que acabam sendo as mesmas do
magistrado em grande parte dos casos.

4. OS CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS PERICIAS MÉDICAS NAS


AÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.

Como explanado no tópico anterior, os laudos médicos periciais nas ações


previdenciárias que julgam a concessão dos benefícios de auxilio doença e aposentadoria por
invalidez são, em grande parte dos casos, determinantes para a sentença dos processos. Isso se
deve ao fato do não reconhecimento do magistrado da limitação da sua pré-compreensão, e
consequentemente, na busca pelas produções de provas necessárias para o seu livre
convencimento. Se o juiz do processo não entende que somente o laudo médico pericial pode
ser insuficiente para a formação de uma cognição exauriente, que o conceito do que é verdadeiro
no processo deve corresponder a realidade e ter coerência com os demais fatos, e que ao
enxergar as sombras sobre o que parecia verdadeiro ele deve produzir novas provas, o processo
se distanciará de um resultado coerente com os preceitos constitucionais e o anseios sociais.
Além da própria limitação da percepção do magistrado, outro fator que necessita ser
alterado é o próprio procedimento das ações previdenciárias. Por correrem no Juizado Especial
Federal, essas ações tem seu rito simplificado, o que muitas vezes não corresponde a real
necessidade do processo, pois a dilação probatória se torna mais complexa, e muitas vezes os
magistrados optam por não realizar as diligências necessárias sob argumento de estender a
dimensão e complexidade da ação.
No procedimento atual, não há por exemplo, a intimação das partes para impugnar o
laudo pericial, o que representa um desrespeito ao princípio do Contraditório e da Ampla
Defesa. Além deste fato, quando se estiver diante de um erro técnico grosseiro presente no
laudo pericial, em poucos casos o juiz determina a marcação de nova perícia, ou sequer a
realização de uma audiência de instrução para fazer o saneamento do processo, sob argumento
de não previsão no procedimento, ou mesmo sob o argumento de desnecessidade por economia
processual e financeira, quando estão em jogo a vida e a saúde dos requerentes.
Dessa forma, é necessária uma mudança no procedimento e na escolha dos peritos
judiciais para que as partes possam, diante de seu direito obstado por um laudo pericial feito
com imperícia ou negligência, alcançar o resultado esperado de seus pleitos, resguardando o
direito à saúde e à vida.

CONCLUSÃO

O estudo sistemático da Epistemologia Jurídica e da Hermenêutica Jurídica traz


diretrizes para a análise dos limites da pré-compreensão da realidade por parte do ser, e no
trabalho em explanação, do magistrado.
A partir da análise cronológica da interpretação e da modificação dos paradigmas que
envolveram o papel do Poder Judiciário, determina-se que o magistrado em um processo deve
ter uma atitude explanatória diante do caso apresentado, para que a realidade dos fatos não seja
oculta pelos os pré-conceitos e pré-juízos que o mesmo tem do mundo e da sociedade.
Dessa forma, no momento que o juiz identifica a limitação da sua compreensão da
realidade, são traçados novos critérios hermenêuticos para a resolução dos conflitos, e
consequentemente uma decisão adequada ao texto constitucional e seus princípios.
No âmbito do Juizado Especial Federal no Ceará, em processos que tem como objeto
o restabelecimento do benefício previdenciário de auxílio-doença cessado pelo INSS, observou-
se que o laudo pericial judicial é na maioria das vezes determinante para sentença dos mesmos.
A atitude do juiz que sentencia e decide não explorar o caso concreto no processo, muitas vezes,
diante de sérios indícios de erros nos laudos periciais, associados a falta de critérios na escolha
mais eficaz dos peritos, traz prejuízos irreparáveis às partes. Deve-se mudar o procedimento
dessas ações, para que quando seja necessário haja maior dilação probatória, e mudar o critério
de seleção dos peritos judiciais para estes casos.
Portanto, a partir da percepção conjunta da limitação da pré-compreensão do
magistrado da realidade do processo e a busca por uma decisão coerente, aliadas às
modificações dos critérios de escolha dos peritos médicos judiciais, bem como as modificações
no próprio procedimento das ações previdenciárias que julgam o auxilio doença, é possível
realizar alterações para efetivar de maneira plena o direito à vida e à saúde.

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