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São Paulo, SP
2014
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
WAGNER BATISTA JUNIOR
São Paulo, SP
2014
À toda a sociedade brasileira, em especial àqueles
que cuidam e se preocupam com os direitos e
interesses dos menores.
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9
1 PRINCÍPIOS ......................................................................................... 11
1.2 Princípios do Direito Penal ....................................................................................... 12
1.2.1 Princípio da ofensividade ou da lesividade ................................................................ 12
1.2.2 Princípio da alteridade .............................................................................................. 13
1.2.3 Princípio da intervenção mínima ............................................................................... 14
1.3 Princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente .................................................. 15
1.3.1 Princípio da prevenção geral ..................................................................................... 16
1.3.2 Princípio da prevalência dos direitos do menor ......................................................... 17
1.3.3 Princípio da proteção integral ................................................................................... 18
2 A CANNABIS ..................................................................................................... 20
2.1 O uso medicinal ........................................................................................................ 24
2.2 Os males e riscos ...................................................................................................... 26
3 O FRACASSO DA POLÍTICA INTERNACIONAL DE COMBATE
AS DROGAS .................................................................................................................. 30
3.1 A Holanda ................................................................................................................ 33
3.2 A Suécia ................................................................................................................... 34
3.3 O Uruguai................................................................................................................. 35
4 A POLÍTICA NACIONAL DE COMBATE AS DROGAS ................. 37
4.1 A lei 11.343/06 ......................................................................................................... 38
4.2 O bem jurídico tutelado ............................................................................................ 41
5 A LEGALIZAÇÃO DA MACONHA E A PROTEÇÃO À CRIANÇA
E AO ADOLESCENTE .............................................................................................. 43
5.1 As medidas de proteção à criança e ao adolescente ................................................... 45
5.2 A adolescência e o uso de drogas .............................................................................. 48
5.3 A acessibilidade dos menores as drogas .................................................................... 50
5.4 O combate ao tráfico ilícito de drogas visando a proteção da criança e do
adolescente .......................................................................................................................... 52
5.5 A não legalização do uso recreativo da maconha visando a proteção da criança e do
adolescente .......................................................................................................................... 55
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 60
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 63
9
INTRODUÇÃO
Assim como o álcool fez nos últimos anos, a legalização do uso recreativo da maconha
colocaria, ainda mais, em risco a saúde mental de nossas crianças e adolescentes e
consequentemente o futuro do país?
Quais os pontos negativos das políticas de combate ao tráfico e uso de drogas e o que
poderia ser mudado para atingir o objetivo esperado?
Certamente estas são perguntas que muitos desejam respostas e seriam os balizadores para a
implementação de novas medidas para a solução desse problema que há tempos assombra a
sociedade brasileira.
Nas próximas páginas faremos um grande estudo desse tema de tamanha complexibilidade,
finalizando nossa pesquisa com as respostas destes questionamentos, afim de, contribuir com o
debate e implementação de novas medidas para a busca de uma solução para este problema.
11
1. PRINCÍPIOS
Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer.
(MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 25 ed. São
Paulo: Malheiros, 2008. p. 943.)
É certo que abordar todos os princípios fundamentais do Direito acabaria por tirar o
foco de nossa discussão e não acrescentaria significativamente em nosso estudo, assim sendo,
nos atentaremos ao estudo dos princípios utilizados para fundamentar defesas e contraditórios
de nossa pesquisa, bem como, aos necessários para verificar se a intervenção justifica-se ou
não.
Diante de tamanha agressão que esse instrumento estatal possui, é necessário frear a
ação do sistema, colocar um limite para que sua atuação seja extremamente necessária e não
ultrapasse a barreira dessa necessidade e se torne justificativa para arbitrariedades.
Como já dito anteriormente, abordaremos apenas alguns princípios que tenham relação
direta com nosso objeto de estudo, em especial, aqueles que têm um peso maior na
justificativa de aumento ou diminuição da intervenção estatal.
relevante bem.
Isto significa que a conduta deve ocasionar lesão à bem jurídico relevante ou perigo de
lesão, para justificar e limitar o direito de punir estatal.
Um dos princípios balizadores das discórdias na proibição das drogas, segundo esse
princípio, o comportamento deve ultrapassar a esfera individual do autor e atingir ou colocar
em risco o direito de terceiro.
Isto posto, aquele que praticar autolesão, cortado os pulsos, por exemplo, ou mesmo a
prostituição do próprio corpo, não estariam praticando crime algum, sendo injustificável
qualquer intervenção punitiva.
Por outro lado, se aquele que prática autolesão visa à obtenção de vantagens, como por
exemplo, receber prêmio de seguro de vida, este estaria sujeito a punição, isto porque, a
autolesão praticada, tem como objetivo principal a fraude no seguro, o que atinge ou coloca
em perigo o direito da seguradora que teria que indenizar o acidentado.
avistado uma viatura, por exemplo, digamos que uma criança passe pelo local e encontre a
droga, isto poderia instigá-la a consumir ou até mesmo poderia ocorrer um consumo
involuntário dependendo do conhecimento e capacidade do menor. Daí a justificativa para a
punição da simples posse de drogas para consumo próprio.
O mais importante princípio para controle da intervenção estatal, tem por base a
atuação penal somente em interesses de grande valor social. De acordo com este princípio, o
Direito Penal só deverá punir as ações que violem direitos de grande valor se não for possível
a proteção através de outros meios e normas extrapenais, isto quer dizer que, o Direito Penal
tem caráter fragmentário e subsidiário, devendo ser aplicado minimamente para a prevenção
de condutas que possam lesar um bem jurídico de significante valor.
Segundo Heleno Fragoso, “É inútil tentar evitar certas ações tornando-as delituosas”
(FRAGOSO, 1979), pois a criminalidade é fruto de um fenômeno sociopolítico, com ligação a
condições sociais, sendo pouco atuante o sistema punitivo neste sentido.
Mas, assim como a corrente que defende a liberação da maconha se apoia em valioso
princípio, há possibilidade também de utilizar-se desse princípio, combinado com demais
medidas, para justificar a intervenção estatal, em prol de um bem jurídico de extrema
valiosidade e de grande vulnerabilidade, que é a saúde psicológica de nossas crianças e
adolescentes.
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Para garantir a concretização dessa proteção foram criadas diversas estratégias, afim
de, distribuir as responsabilidades, incentivar e garantir a participação de toda a sociedade,
possibilitando o exercício pleno desse direito.
Ocorre que, após 24 anos de existência do ECA, o sistema de garantias ainda não
funciona exatamente da forma planejada, nossas crianças e adolescentes estão cada vez mais
jogados a vulnerabilidade e essa realidade não tem culpa exclusiva das políticas públicas. Em
alguns casos a falta de investimento municipal ajuda a dar causa ao problema. Acerca do
assunto Leal e Andrade (2005, p.37) levantam o problema:
É certo que a política pública não tem conseguido por em prática, de forma plena, o
sistema de garantias previsto no ECA, porém, o próprio Estatuto divide as responsabilidades,
esperando a colaboração de todos, para que o sistema funcione com toda plenitude necessária.
A grande falha talvez esteja na sociedade, pois cada dia mais deixa-se de lado a
moralidade, o valor da família, a preocupação com os demais membros da sociedade, para dar
valor, somente, a conquista material, preocupando-se somente com os próprios problemas,
acreditando que o problema dos demais não atingirá sua subjetividade, o que é um engano,
pois quanto maior a criminalidade, maior o risco de se tornar uma vítima.
Nos dias atuais os pais com a necessidade enorme de trabalhar, ou trabalhando demais
visando apenas o sucesso, não conhecem os próprios filhos, não conseguem identificar seus
problemas e, cada dia mais, nossos menores se encontram desamparados.
16
Ora como colocar em prática o princípio da intervenção mínima sem por em prática
um princípio de prevenção máxima? Seria mais correto punir adolescentes, criados pelos
novos valores da sociedade, ou aqueles que colocam em perigo o desenvolvimento dos
menores, fazendo com que futuramente se tornem um delinquente juvenil, alvo de criticas da
sociedade?
Não devemos defender jamais os atos cruéis praticados por um adolescente, mas
devemos agir preventivamente para que aquele adolescente não se torne cruel.
Por esse princípio, entende-se que é obrigação de todos zelar pela integridade e pelo
pleno exercício dos direitos fundamentais dos púberes e impúberes, prevenindo a ocorrência
de qualquer ameaça ou violação desses direitos.
Assim sendo, não somente o Estado, mas toda a sociedade deve agir no sentido de
prevenção dos direitos dos menores, principalmente no que diz respeito a educação, cultura e
demais medidas necessárias para o seu desenvolvimento moral.
17
Talvez o principal princípio para o presente estudo, decorre deste todos os demais
princípios inerentes ao ECA.
Por outro lado, o Estado é a sociedade como um todo. Embora haja representantes
legitimados a tomar decisões e agir em nome da sociedade, o Estado continua sendo fruto da
sociedade como um todo, e esta é a responsável pelo seu fortalecimento e sua grandeza. É
certo que se a própria sociedade deixar tudo nas mãos de seus representantes esse
fortalecimento e grandeza dependerão desses, porém continuarão sendo fruto de uma
sociedade omissa e se os resultados não forem positivos a maior culpa será da sociedade que
se tornou omissa.
uma maior atenção e certa prioridade para que não sejam colocados em situações de risco,
bem como, para que seja garantido um desenvolvimento pleno, saudável, culto, educativo,
digno e livre, desenvolvendo-se valores e atitudes positivas, para que possam se tornarem
cidadãos de bem e possam contribuir com um estado melhor, afinal de contas, eles são os
responsáveis pelo futuro da nação.
Por exemplo, um adulto usuário de droga não deve ser tratado como um criminoso e
ser colocado na prisão, porém, aquele que consome drogas, lícitas ou ilícitas, em locais
públicos, deveria sofrer intervenções, como multas, participações em programas educativos
etc. Isto porque, da proteção integral, decorre a prevenção geral, e, consumir drogas em locais
públicos, certamente faz com que os menores vejam as drogas como algo normal e ao invés
de prevenir que ele venha consumi-la futuramente, incentiva a consumir cada vez mais cedo.
2. A CANNABIS
A droga é um mundo falso, irreal e distante.
Aprenda a viver no seu mundo. (Zeli Luiz Gomes Filho – Investigador de Polícia
Civil e Integrante da Divisão de Tóxicos e Entorpecentes em Teófilo Otoni – MG)
A cannabis surgiu na Ásia, tendo uma teoria que defende seu surgimento na Ásia
Central, ao norte do Himalaia e uma segunda que defende que sua origem se deu mais a leste,
na China. Nos dias atuais porém, é possível cultivar a erva em qualquer localidade do mundo,
sendo possível inclusive o cultivo indoor, ou seja, dentro de um ambiente fechado, utilizando
algumas técnicas.
O TCH, grande vilão da história, principalmente por causa de seu poder psicotrópico,
também possui seu lado heróico. A substância possui efeitos terapêuticos muito importantes
para auxiliar o tratamento do câncer, por exemplo, a droga é indicada para tratar alguns
efeitos colaterais da quimioterapia, como náuseas e enjoos. O THC tem ações específicas
sobre dores que acometem nervos e músculos (neuropáticas e miopáticas).
Como o CBD custa caro, aproximadamente US$ 1.000,00 e muitas vezes é barrado na
alfândega brasileira, há muitas pessoas que se arriscam cultivando o vegetal e utilizando sem
orientação e acompanhamento clínico e sem mesmo saber as dosagens das substâncias
recebidas pelo organismo.
Além dos riscos e males que a utilização inadequada da erva pode causar no
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organismo e saúde dessas pessoas que iremos abordar mais adiante, elas também correm um
grande risco que é a intervenção do Estado. Conforme disciplina a lei 11.343, de 23 de agosto
de 2006, a Lei de Drogas:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I- advertência sobre os efeitos da droga;
II- prestação de serviços à comunidade;
III- medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia,
cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de
substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
§2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.
Isso significa que aqueles que importam o CBD estão sujeitos as penas do artigo 28 da
referida lei, pois o CBD encontra-se na lista das substâncias proscritas da ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), sendo, desta forma, tratado como substância ilícita e
passível das referidas penas, assim como os que cultivam a erva, que é a principal causa da
inclusão do CBD na lista dos proscritos.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena: reclusão de 5 (cinco) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.
Como se pode observar, o artigo transcrito elenca mais de uma dezena de verbos do
tipo penal e, certamente, muitas das pessoas que utiliza a cannabis medicinal poderá se
encaixar em um ou mais tipo, estando sujeita a pena de reclusão descrita no caput do referido
artigo. Por exemplo, a mãe ou pai que importam ou cultivam cannabis ou seus derivados para
ministrar ao seu filho que possuí alguma enfermidade que pode ser tratada ou controlada com
o uso da erva ou de seus componentes. No mesmo sentido, aquele que importa uma
quantidade significativa, que pode ser interpretada como importação destinada à venda.
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Todas as questões acima estão relacionadas com o atraso nas pesquisas acerca do uso
medicinal da droga, mas atualmente o cenário está mudando, e como já narrado, muitos
desconhecem a planta enquanto outros pegam carona para motivar uma possível liberação do
uso recreativo da droga, que certamente trará graves consequências para a sociedade, em
especial para nossas crianças e adolescentes, bem como, para o futuro do país, que
abordaremos nos próximos capítulos.
É preciso sim avançar nos estudos científicos para o uso medicinal da droga, é preciso
facilitar o acesso daqueles que realmente necessitam do tratamento, mas é preciso ter muita
cautela para não confundir os benefícios e não deixar de lado os malefícios para autorizar o
uso indiscriminado da droga.
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Dentre as mais de 400 substâncias encontradas na erva, 70 delas são substâncias com
capacidade de interagir com alguns receptores do neurônio humano e são denominadas
fitocabinoides. Dos fitocabinoides presentes na cannabis os mais estudados são o canabidiol
(CBD) e o tetraidrocanadibiol (THC).
Segundo as pesquisas de Carlini, o CBD não é tóxico e nem tem efeitos psicotrópicos.
Após a família relatar a história de Anny e sua luta para continuar o tratamento no
documentário Iegal (2014), muitas famílias com parentes diagnosticados com a doença
trilharam o mesmo caminho para conseguir autorização para importar a droga, isto estimulou
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Embora o CBD tenha demonstrado-se muito útil para auxiliar a cura de algumas
doenças e para o controle de outras, o neurologista Edward Maa, chefe do Programa de
Compreensão da Epilepsia na Fundação Denver Health, no colorado, levanta algumas
questões sobre o tratamento experimental com cannabis natural, uma delas é a
complexibilidade da erva que além de possuir 70 fitocabinoides identificados e que podem
variar sua proporção de acordo com o tipo de planta, parte utilizada e local de cultivo, há
centenas de outras substância capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, estrutura que
atua principalmente para proteger o sistema nervoso central de substâncias químicas presentes
no sangue. (Revista Mente e cérebro, 2014)
Muitos dos que defendem a cannabis para uso não medicinal utilizam argumentos
medicinais para fundamentar suas opiniões. O oportunismo desses grupos e a desinformação
confundem as pessoas e dificultam muito os debates e avanços das pesquisas que visam o uso
medicinal da droga.
Não podemos ser ignorantes a ponto de reprimimos a utilização da droga para fins
medicinais, mas não podemos possuir uma fé gigante para idolatrarmos a erva como um
milagre.
Isso explica o motivo pelo qual as pessoas acabam se tornando dependentes da droga.
O grande prazer obtido pelo consumo sem a necessidade de muito esforço, faz com que o
indivíduo procure novamente aquela sensação sem precisar se esforçar tanto.
Porém quando o assunto é cannabis há uma grande diferença das demais drogas, isto
porque, os fitocabinoides são muito semelhantes a compostos químicos produzidos
naturalmente pelo nosso organismo e que interagem com os receptores do sistema
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endocabinoide.
Drogas como heroína, cocaína e crack são devastadoras porque podem matar a curto
ou curtíssimo prazo. Além disso, é difícil se livrar dessas substâncias pelo alto grau
de dependência que apresentam.
Os danos que elas causam ao cérebro, porém, cessam quando deixam de ser usadas.
Ou seja, passado o período de abstinência, as funções do organismo se restabelecem.
Com a maconha a história é outra. É a única droga a interferir nas funções cerebrais
de forma a causar psicoses definitivas, mesmo quando seu uso é interrompido.
com o paciente e a doença a ser tratada. Em outras palavras, o uso medicinal da erva pode
causar riscos sim.
Dentre as verdades relatadas pela ciência está a que o consumo de maconha aumenta
em 4,8 vezes o risco de enfarto em pessoas com doenças cardiovasculares na hora seguinte ao
uso. Usuários regulares têm problemas de memorização e atenção, que podem ser
irreversíveis quando o uso começa na adolescência. O consumo da droga também está
associado com o câncer de testículos, e embora ainda haja poucos estudos, também há
indícios de que pode reduzir a fertilidade de homens e mulheres. Fator de risco para o
desenvolvimento de doenças psicóticas, aumenta em 2 vezes o risco de depressão e transtorno
bipolar, em 3,5 vezes o risco de esquizofrenia, especialmente na adolescência e 5 vezes mais
o de transtorno de ansiedade.
Fumar maconha trás sim diversos riscos à saúde, especialmente quando o uso se inicia
durante a adolescência. Os estudos científicos acerca dos riscos, assim como os do uso
medicinal, ainda precisam avançar muito. Certamente com a evolução de um o outro
consequentemente também evoluirá, mas as evidências de que o uso da maconha é mais
prejudicial na puberdade estão presentes em quase todos os estudos realizados acerca da
droga.
Combater a venda e o uso indevido da cannabis deveria ir muito além da tão protegida
saúde pública, pois deveria ser uma medida de proteção à criança e ao adolescente, que
certamente são os maiores prejudicados pelo consumo indevido da droga, colocando em risco
a saúde mental de nossas crianças e consequentemente o futuro do Estado brasileiro.
É certo que as medidas repressivas e educativas sobre drogas não tem dado os
resultados esperados, é necessário modernizar as medidas e mudar o foco da causa,
passaremos a estudar esta questão nos próximos capítulos.
30
A primeira guerra internacional contra drogas talvez tenha sido a guerra do ópio,
substância entorpecente, altamente viciante, que acarreta em dependência química do
usuário.
Havia, porém, um produto que aparentava despertar o interesse dos chineses, este
produto era o ópio. Visando o equilibrio em sua balança comercial e uma compensação
econômica, a Inglaterra passou a exportar ópio ilegalmente para a China, o consumo explodiu
em pouco tempo no país, causando diversos problemas sociais.
O governo chinês nunca viu com bons olhos essa troca imposta pelos ingleses e
constantemente tentou deter o problema. Em 1800 baixou o primeiro decreto proibindo o
consumo do ópio, o que nunca foi respeitado. Devemos frisar que o primeiro decreto imperial
proibia o consumo do ópio, ou seja, desde o ínicio tentavam solucionar o problema proibindo
o consumo.
Com o passar do tempo, a droga trazia, além dos reflexos sociais, reflexos
econômicos, chegou a representar metade das exportações britânicas para a China e refletiu
no preço da prata, que caiu ligeiramente por conta do pagamento da droga. Gravemente
ameaçada, a China baixou um novo decreto e tomou medidas, como a destruição de um
carregamento de ópio inglês.
os ingleses e abertura do comércio internacional. Após 14 anos, por não respeitar algumas
cláusulas do Tratado de Nanquim, a Inglaterra se uniu a França e Irlanda para atacar a China
novamente, era a Segunda Guerra do Ópio, uma continuação da primeira e que teve como
derrotado, mais uma vez, o Estado chinês, que fora obrigado a assinar o Tratado de Tianjin,
que impunha que dez portos chineses deveriam estar abertos para o comércio internacional, a
liberdade de estrangeiros para viajar e fazer comércio na China e a legalização da importação
de ópio pelo país que perdurou por anos.
Daí pra frente, o consumo de ópio se espalhou pelo mundo viciando uma grande
parcela da população mundial, dando origem à primeira convenção internacional de combate
as drogas. Convocada pelos Estados Unidos, a Primeira Conferência Internacional de
Controle de Drogas contava com 13 nações e previa que os contratantes se esforçariam para
controlar a fabricação, importação, venda, distribuição e exportação de morfina, cocaína e
seus respectivos sais.
Nos anos 70, os Estados Unidos declararam “Guerra às Drogas”, o consumo, cada vez
mais, foi definido um crime punido com cadeia.
Ocorre que, um usuário frequente, muitas vezes já é um dependente e, por mais que
tema as forças do governo, sua vontade e sua dependência química é incontrolável, o que faz
com que desrespeitem qualquer norma ou imposição afim de satisfazer seu desejo
enlouquecedor.
32
Por outro lado, muitos dos defensores da liberação geral, defendem suas teses
alegando que o proibicionismo está diretamente ligado a interesses econômicos de alguns
grupos que possuem fonte no tráfico, enquanto outros defendem que a liberação traria grandes
benefícios econômicos.
É certo que, punir o usuário e tratá-lo como criminoso não ajudará em nada no
combate ao tráfico e uso de entorpecentes, mas, liberar o uso e produzir entorpecentes para
sua população consumir é repetir o que a China fez, forçadamente, na ocasião do ópio e
consequentemente um retrocesso e uma atitude de um Estado falído, que declarou a derrota e
reconhece que jamais conseguirá vencer essa batalha.
tráficante, mas previnindo para que nossas crianças e adolescentes não sejam abocanhados por
esse grupo. Se o mundo evoluiu tecnologicamente, se foram quebradas muitas barreiras que
impediam as comunicações e harmonia entre diversas nações, porque juntos não conseguimos
encontrar uma alternativa viável para a solução do problema, sem termos que aceitar a
imposição de tamanho mal?
A questão é complexa, os debates são fervorosos, a solução não é fácil, mas se até os
criminosos tem uma segunda chance de se reabilitar em diversos sistemas penais do mundo,
por que é que não nos damos uma segunda chance de encontrar uma nova solução para o
problema? Admitirmos que erramos ou que o que propussemos fracassou é preciso, porém,
aceitar que continue da forma que está, retroceder acreditando que vamos obter benefícios,
recuarmos ou não nos importamos é uma opção e, certamente, não é uma opção nem um
pouco inteligente e digna de um Estado falido.
3.1. A HOLANDA
Isto quer dizer que, a política holandesa buscou a solução de parte de problema, pois
assim como todos temos consciência, resolver o problema como um todo é muito mais difícil.
34
Ocorre que, no mesmo documentário, o Chefe de Polícia Willian Kramer afirma que
apreensões de maconha são feitas diariamente na Holanda e uma cena que mostra uma
apreensão real, mostra nitidamente que as quantidades não são poucas.
Isto demonstra que, talvez a metade do problema não tenha sido resolvida, pois, se há
grande quantidade de apreenssão de maconha todos os dias, isso significa que há um mercado
para consumir essa maconha ilegal. De outro lado, se o estoque de maconha e o comércio é
limitado nos coffee shops holandeses, significa que o governo controla a compra e a venda
realizadas por estes estabelecimentos, que certamente recorrem a maconha ilegal, produzida
pelo mesmo traficante de antes, para obterem uma quantidade acima da permitida.
3.2. A SUÉCIA
O que muitos devem imaginar ao ter acesso a esta informação, é a respeito do sistema
carcerário suéco, talvez, muitos imaginem que seja parecido com o dos Estados Unidos, onde
usuários de drogas representam parte significativa da população carcerária, porém, em 2013 a
Suécia fechou quatro presídios por falta de condenados (o Globo, 2013), o que demonstra que
a proibição naquele país não possui relação nenhuma com o numero de detentos, apesar de o
uso de drogas ser considerado crime punido com cadeia ou medida alternativa.
Isto posto, fica visível que o sucesso da política de drogas suéca não está no ponto de
“tolerância zero” ou na repressão aos usuários, mas sim na política integrada de combate as
drogas, principalmente na proteção das fronteiras e nas medidas educativas que tem como
prioridade as crianças e adolescentes.
3.3. O URUGUAI
A lei uruguaia prevê que somente maiores de 18 anos, residentes no país e cadastrados
no Instituto de Regulação e Controle de Cannabis, poderão comprar a droga em farmácias
licenciadas, mediante apresentação da carterinha de cadastro, que não conterá dados do
comprador, limitadamente.
Isto demonstra que, talvez, a proposta uruguaia de combater o poder do tráfico não
alcance os objetivos esperados, isto porque, no mundo moderno, os cidadãos, cada vez menos,
aceitam ser controlados pelo Estado, e a criação de cadastros para um controle de acesso,
evitando por exemplo o acesso de turistas e menores as drogas, aparenta aos demais como
uma forma de registrar e taxar os usuários para futuramente ter um controle sobre eles.
Há também a questão da limitação mensal de compra, assim como nos coffee shops
holandeses há uma parte ilegal, onde se mantém em estoque e é vendida quantidade maior que
a delimitada pelo governo, no Uruguai os usuários, mesmo que cadastrados na programa
estatal, se sentirem necessidades de consumirem uma quantidade maior da droga,
inevitavelmente, terão de recorrer ao tráfico para compra, após esgotar sua cota.
Punir usuários certamente não é uma medida inteligente, mas pensar que vai conter o
tráfico e diminuir os problemas gerados pelo consumo de drogas através da regulação da
venda e consumo, talvez, seja mais ignorante do que impor medidas educativas e de
reabilitação de usuários.
37
O artigo 281 do Código Penal Brasileiro em seu inciso II, §3º, penalizava com
detenção de seis meses a dois anos aquele que utilizasse local, de que tinha a propriedade,
posse, administração ou vigilância, ou consentisse que outrem dele se utilizasse, ainda que a
título gratuito, para uso ou guarda ilegal de entorpecente.
Revogado pela lei 6368/76, a pena para o usuário não sofreu alteração, pois, o artigo
16 da referida lei penalizava com detenção de seis meses a dois anos aquele que adquirisse,
guardasse ou trouxesse consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
É certo que as penas aplicadas aos usuários eram inferiores as penas aplicadas aos
traficantes, ocorre que, na prática, os usuários sempre foram mais coibidos que os traficantes,
sem contar com o preconceito que sofriam por grande parte da sociedade.
Com o passar dos anos e com o fracasso das políticas internacionais de drogas, os
usuários começaram a ser enxergados de maneira diferente, começou-se a reconhecer o
usuário como um doente e passou-se a tratar as drogas como um problema de saúde pública.
Com o advento da lei 11.343/2006, o usuário de drogas passou a ser tratado de forma
diferenciada, o artigo 28 da referida lei extinguiu a pena de detenção, sendo esta substituída
por penas de advertência, prestação de serviços à comunidade ou comparecimento a programa
ou curso educativo.
38
Por outro lado, o STF entende que a lei 11.343/06 não implicou abolitio criminis, pois
o delito de porte de entorpecente é crime de perigo presumido (STF, HC 102.940/ES, 1ªT.,
rel. Min. Dias Toffoli, j. 22 fev. 2011, Dje de 25 mai 2011).
No seu artigo 4º, a lei de tóxicos dispõe acerca dos princípios e objetivos do SISNAD
e assim os elenca:
Dispõe ainda que a execução da política de drogas, no campo da prevenção, deve ser
descentralizada nos municípios, com o apoio dos Conselhos Estaduais de políticas públicas
sobre drogas e da sociedade civil organizada, adequada às peculiariedades locais e priorizando
as comunidades mais vulneráveis, identificadas por um diagnóstico. Para tanto, os municípios
devem ser incentivados a instituir, fortalecer e divulgar o seu Conselho Municipal sobre
Drogas.
40
Analisando a lei 11.343/06, é possível afirmar que o Brasil evoluiu bastante com
relação ao tratamento dos usuários de drogas e na política nacional de drogas, isto é claro,
normativamente falando, pois, na prática, não avançou significativamente e os problemas de
drogas continuam crescendo.
Assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a nova lei de drogas também trás
um sistema bastante importante e em tese eficaz, ocorre que, a falta de conscientização da
sociedade acaba por não despertar interesse algum para a capacitação e mobilização social
para efetiva prevenção do problema.
É certo que, a falta de políticas públicas contribui bastante para que haja tamanha falta
de interesse, porém não seria correto afirmar que a nova política nacional de drogas fracassou,
pois na verdade ela não foi colocada em prática.
Não podemos aceitarmos o problema e essa realidade cruel de cabeça baixa, pois,
assim como a Suécia com suas políticas integradas obteve êxito na prevenção e combate ao
tráfico, porque o Brasil com toda grandeza que possuí não conseguiria colocar em prática suas
políticas integradas, já descritas na nova lei de drogas e até mesmo criar novas políticas,
prevenindo o uso, conscientizando e mobilizando a população e combatendo o verdadeiro
traficante, cortando o mal pela raiz?
41
Temos capacidade de bater de frente com o problema das drogas, sem utilizar somente
da força e repressão, pois isso seria persistir em um erro antigo e demonstraria ignorância.
Por outro lado, Maria Lúcia Karam entende que o proibicionismo não protege a saúde
pública e sim a coloca em risco, conforme as escritas da autora:
Não podemos desprezar a tutela da saúde pública como se não fosse um objeto de
relevante importância a ser tutelado, principalmente quando o que está em risco é a saúde
psíquica de nossas crianças e adolescentes que são, sem sombra de dúvidas, os mais
importantes sujeitos para o futuro de uma nação justa, equilibrada e desenvolvida.
43
Após todo estudo realizado nas página anteriores, certamente, adquirimos uma
capacidade maior para o debate e analise da existência ou não de compatibilidade entre a
permissão legal do uso recreativo da maconha e a proteção da criança e do adolescente.
Não há dúvidas de que esse grupo seria o principail interessado a respeito do tema, isto
porque, de acordo com as pesquisas citadas anteriormente, os principais riscos do consumo da
droga é maior quando o uso é iniciado precocemente.
Por outro lado, de acordo com o princípio da prevalência dos direitos do menor, os
interesses desse grupo deverá sobrepor-se os interesses de terceiros.
Ocorre que, embora os interesses e direitos dos menores devam ser observados, os
debates até o presente momento não colocaram em evidência estes interesses e direitos,
preocupando-se apenas com os interesses gerais da sociedade e os gastos públicos realizados
até o presente, que não obtiveram resultados positivos, deixando de lado a preocupação com a
proteção à criança e ao adolescente.
Exemplo claro da inobservância dos interesses do menor, está na obra de Maria Lúcia
Karam que critica duramente o proibicionismo, defendendo entre outras teses a de que a
permissão da produção e consumo de drogas traria impacto positivo na economia brasileira e
seria uma fonte geradora de empregos, conforme a exposição da autora:
De acordo com a Teoria Geral dos Contratos, o contrato deve ser celebrado por
pessoas capazes e deverá atender a função social.
A própria história demonstra que não seria possível que o comércio legal de drogas
impactasse positivamente na economia de um país, pois, embora haja possibilidade de gerar
lucros, os prejuízos sociais são bem maiores, podendo gerar cidadãos improdutivos e
aumentar o gasto com saúde pública significativamente, sendo irrelevante qualquer lucro
obtido com o comércio legal de drogas.
Com toda a certeza, não há possibilidade nenhuma de um menor decidir com plena
capacidade se deve ou não consumir maconha, tendo em vista não somente a fase de
formação moral e mental, mas também o ensino público e a inexistência de medidas
preventivas eficazes em nosso país.
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Por outro lado, haverá quem replique alegando que a droga seria liberada apenas para
o consumo adulto e que dessa forma não traria riscos aos menores, porém, se observarmos a
realidade do cotidiano, o álcool e o tabaco são drogas liberadas apenas para maiores de 18
anos, mas é muito comum vermos menores consumindo-as e comprando-as sem nenhum
problema.
Quando se inicia um debate buscando fundamentos que tutelam seu ponto de vista,
caminha-se para a conquista de seu pleito, mas, quando abrimos espaço para os fundamentos
que tutelam um interesse maior, caminhamos no sentido da justiça.
As medidas protetivas estão elencadas no artigo 101 do ECA que traz a seguinte
redação:
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao
adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar
ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a
alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta
O artigo 98 por sua vez dispõe que as medidas de proteção à criança e ao adolescente
são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos no ECA forem ameaçados ou violados,
tanto por ação ou omissão do Estado ou da sociedade quanto por omissão ou abuso dos pais,
bem como em razão de determinada conduta praticada pelo menor.
Dentre as medidas elencadas no artigo 101 do ECA, as que mais se relacionam com o
nosso estudo são as presentes nos incisos I, II e VI.
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O presente fato demonstra não somente a falta de respeito que ocorre diariamente entre
a polícia militar e civil do Estado de São Paulo, mas também o total despreparo da polícia
militar, desconhecimento da lei, principalmente no que dispõe sobre os direitos do menor.
Ora se a polícia militar que é tratada como policia preventiva desconhece a legislação
infanto-juvenil e seus principais princípios, não podemos cobrar o conhecimento de qualquer
cidadão e consequentemente não conseguiremos jamais aplicar o princípio da proteção
integral e da prevenção geral, que somente ocorrerá com a integração da sociedade, Estado e
instituições públicas e privadas.
A medida posta pelo inciso I, é medida protetiva e deveria sim ser aplicada no caso do
menor surpreendido pela polícia militar fumando maconha, pois possibilitaria uma ação dos
pais ou responsáveis para prevenção do uso da droga pelo menor e consequentemente
protegê-lo-ia de uma possível dependência ou dano causado pelo consumo da droga.
Ocorre que, na prática, o inciso II é aplicado com maior frequência no caso do menor
infrator, quando não é aplicada uma medida socioeducativa, determinando o juiz o
encaminhamento do menor para os pais ou responsáveis e a orientação, apoio e
acompanhamento pelos órgãos competentes, quando aplicada a liberdade assistida.
Não é preciso pesquisar relatórios da ONU ou qualquer outra pesquisa para sabermos
que o consumo de drogas entre adolescentes vem crescendo a cada dia.
basta passar por estes locais para verificar que a maior parte das pessoas que fumam maconha
nestes locais são adolescentes.
Quem tem um convívio próximo dos mais jovens enxerga ainda mais esta realidade.
Com a evolução das redes sociais, é muito comum nos grupos do Whatsapp onde contém
muitos jovens, postagem de fotos com cigarro de maconha na mão, fumando maconha ou até
mesmo da própria droga prensada.
Nos dias atuais, o consumo de maconha está se tornando algo muito comum entre os
adolescentes e muitos até se vangloriam em suas postagens consumindo ou preparando a
droga, como se isso trouxesse algum glamour ou status.
Assim como o álcool, a maconha está se popularizando cada vez mais entre os jovens
trazendo um sério risco para a saúde mental de nossas crianças e adolescentes.
Com base nos estudos apresentados neste trabalho, conclui-se que, “é expressivo o
número de adolescentes que se envolvem com comportamentos de risco, como uso de drogas
e a prática de infrações, razão pela qual é indispensável a criação de programas preventivos
direcionados especificamente para os adolescentes” (MARTINS, 2008, p. 1.114).
Se fizermos uma pesquisa entre os usuários de drogas, indagando qual a idade que
usou a primeira droga, é possível de antemão afirmar que a grande maioria iniciou o uso na
infância ou juventude, esta afirmativa é embasada na convivência com uma juventude usuária
de drogas e uma centena de usuários adultos que indagados, informalmente, todos declararam
iniciar o consumo de determinada droga na infância ou juventude.
Isto demonstra que os menores estão mais vulneráveis ao primeiro consumo de drogas
do que os maiores que já possuem seu cérebro completamente desenvolvidos e possuem
maior poder de decisão.
Isto posto, toda e qualquer política de prevenção ao uso de drogas deve ser direcionada
principalmente aos menores, pois estes, além de serem a parte mais vulnerável da sociedade e
possuidores de direitos especiais, estão em condição de risco muito maior que os demais
quanto ao primeiro consumo de drogas.
No contemporâneo cenário nacional, muitas vezes não é mais preciso chegar até os
traficantes para ter acesso as drogas, isto porque, no cenário atual, existe a figura do
microtraficante, que é aquele que trafica uma pequena quantidade de drogas para conseguir
financiar o próprio consumo. O microtraficante está presente em todo e qualquer lugar da
cidade, nas escolas, praças, campos, parques e muitas vezes são muito próximos dos
adolescentes.
Antigamente era necessário buscar a droga nos pontos de venda mantidos pelos
traficantes, as chamadas “biqueiras”, atualmente, o adolescente consegue comprar a droga na
mão de outro usuário que a vende por um preço maior ou pelo mesmo preço em uma
quantidade menor, dentro da escola que estuda ou até mesmo em seu domicílio, sem ter a
necessidade de adentrar em uma favela por exemplo.
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Isso facilitou muito o acesso dos menores às drogas, pois, muitos antes não as
compravam porque tinham certo receio de entrar em favelas ou locais do subúrbio para
adquirí-las.
Por outro lado, a expansão dos bailes funks de rua, além de motivarem cada vez mais
os menores a consumir drogas e terem atitudes delinquentes, aproximam cada vez mais os
jovens com as drogas e com os locais de venda dos entorpecentes, isto porque, a maioria dos
chamados “pancadão” ou “fluxo”, nome dado aos bailes funk de rua, ocorrem principalmente
próximo as periferias e aos locais de venda de drogas, pois, nestes locais, a autuação da
polícia é menos frequente.
Há também relatos de que a polícia tem um acordo com o narcotráfico para deixar o
baile rolar a noite toda, sendo ineficaz qualquer reclamação da comunidade, pois a polícia não
atende os chamados e denúncias e não intervêm, por conta do acordo.
Há muitos adultos que por trabalharem muito e não terem tempo de enxergarem a
realidade desse novo cenário, não fazem nem ideia do que acontece nas ruas, escolas, parques
etc. Alguns não sabem que seus filhos frequentam “pancadões” ou “fluxos”. Muitos não
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sabem sequer da existência desses locais, frequentados não apenas por pessoas de classe
social mais baixa, mas também por muitas pessoas da classe alta.
A triste verdade é que, assim como o consumo de drogas cresce na população infanto-
juvenil, o acesso ao comércio de drogas também cresce de forma expressiva a cada dia.
É certo que parte do problema deve, certamente, ser combatido por agentes de
segurança pública, e esse problema sem sombras de dúvida é o combate ao narcotráfico com
uma ênfase maior ao grande traficante e não aos microtraficantes como é feito nos dias atuais.
Para que esse combate seja eficaz de fato, é preciso combater a corrupção policial, que
não é segredo para ninguém que ela existe e é muito maior do que os telejornais brasileiros
acreditam ou fingem acreditar que seja.
Uma medida que poderia ser muito eficaz para o combate a corrupção policial seria o
monitoramento do trabalho policial através de câmeras e microcâmaras instaladas nas viaturas
oficiais e no fardamento do agente, gravadores de voz e a utilização de toda tecnologia
disponível. Além de combater a corrupção policial, esta medida diminuiria os abusos
cometidos pelas autoridades e geraria provas materiais inequívocas para a instrução de um
processo penal mais justo, diminuindo os casos de flagrante forjado, muito comum nos dias
atuais.
Sem dúvidas, o passo inicial para o combate ao grande traficante deve começar com o
combate a corrupção policial e dos agentes de fronteira.
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Por outro lado, um grande aliado ao combate ao tráfico seria a diminuição significativa
do consumo, talvez por este motivo utilizaram-se da política de combate ao uso em todo o
mundo. A diminuição do consumo seria a mais eficaz forma de combate, pois, se não há
consumo, não haverá lucros e nem verbas para investimento e estruturação da rede de tráfico,
porém, o uso não deve ser combatido e sim prevenido.
A nova lei de drogas e uma série de leis e decretos derivados dela estabelecem
medidas preventivas como capacitação dos educadores para detectarem e saber como agir
diante do problema com drogas, orientação escolar nos três níveis de ensino, manter nos
estabelecimentos de ensino serviços de apoio, orientação e supervisão de professores e alunos,
dentre outras.
relação com os pais, influência do grupo e o nível de escolaridade (MARTINS, 2008, pag.
1119).
Quando falamos em nível escolar, todos terão a visão de nível fundamental, médio e
superior, porém, se analisarmos com um ponto de vista diferente, podemos concluir que
quando falamos em nível escolar, estamos referindo ao grau de educação do sujeito, ou seja, o
nível de educação e conhecimento que o indivíduo possui, isto quer dizer que, segundo a
pesquisa sugere, aqueles que possuem um conhecimento menor, possui um maior risco de
usar drogas.
Isto posto, não trará resultados campanhas de prevenção que desperta o medo do
indivíduo para evitar que consuma drogas, é necessário um alto grau de instrução com relação
as drogas, fazendo com que o indivíduo enxergue que por mais que a droga tenha um lado
prazeroso, ela possui um lado destruidor que poderá arruinar sua vida em um longo prazo e
não de imediato. É preciso conscientizá-lo de que todos que consomem drogas correm o risco
de dependência e todos os demais riscos que as drogas podem causar.
O combate ao tráfico também é medida de prevenção ao uso, pois, quanto menor for a
acessibilidade dos menores às drogas, certamente menor será o consumo.
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Por outro lado, há a justificativa que a proibição é o fato gerador da violência e que a
liberação da venda e do uso recreativo da maconha diminuiria o poder dos traficantes e
afastaria os usuários de outras drogas com maior potencial ofensivo.
Por fim, um grande posicionamento de defesa é de que o cidadão é livre para fazer o
que bem entender, desde que, não prejudique terceiros e dessa maneira, deve ser invocado o
princípio da intervenção mínima para tornar ilegítima a ação do Estado na proibição do
consumo da maconha.
Isto posto, cada droga possuí sua peculiaridade, não importando se é lícita ou não, o
certo é que cada droga agirá de maneira diferente em cada individuo que a consumir, podendo
a maconha trazer mais danos para um, enquanto o álcool trás mais danos para outro.
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Muitos entendem que a liberação da maconha seria um grande avanço, mas, talvez, a
restrição ao álcool seria um avanço muito maior. Talvez, não seria retrocesso algum iniciar
uma conscientização e tratamentos para a diminuição do consumo do álcool e uma restrição
rígida para a venda e, futuramente, dependendo do impacto da política preventiva, porque
não, proibir de vez a venda de bebidas alcoólicas ou restringir o teor alcoólico das bebidas
permitidas.
Não devemos comparar algum ruim com algo pior para justificarmos qualquer tipo de
defesa, devemos pensar a frente, devemos eliminar o pior sem ter que substituí-lo pelo ruim.
Por que ao invés de nos preocuparmos em defender o ruim porque existe o pior, não nos
preocupamos em eliminar o pior para que o melhor entre em seu lugar?
Mas ai vai ter quem diga que o assalto é um crime de violência por si só, mas e o
tráfico? A destruição do usuário e a desestabilidade que a droga gera na família dos
consumidores? Por outro lado também, o furto não é um crime de violência, mas trás
prejuízos financeiros, por isso deve ser proibido enquanto tráfico que só gera prejuízos à
saúde do usuário, à relação familiar, à relação deste com a sociedade não deveria ser proibido
porque gera violência?
Essa inversão de valores criadas pela sociedade moderna visa apenas a proteção
financeira desvalorizando a proteção de outros bens essenciais como a saúde por exemplo.
Ilusão seria pensar que a liberação do uso recreativo da maconha diminuiria o poder
do narcotráfico, pois, assim como os exemplos da Holanda e do Uruguai, a venda ilegal
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Por outro lado, o traficante não vende exclusivamente a maconha, ele vende diversas
outras drogas e por mais que a liberação diminuísse seu lucro, não seria uma diminuição
significativa que impactaria na diminuição de seu poder. Além do mais, ao ver a diminuição
do lucro, o traficante poderia migrar para outros crimes para complementar seus ganhos.
Outra ilusão seria a de que liberar a maconha afastaria os usuários de outras drogas
com maior potencial ofensivo, pois o afastaria do traficante. Como já abordado nos capítulos
anteriores, nos dias de hoje, qualquer droga é acessível em qualquer lugar, principalmente nos
locais de diversão e lazer, não sendo necessário que qualquer pessoa vá até um ponto de droga
de um traficante para obtê-lá.
Esta idéia poderia até funcionar há alguns anos atrás, quando para comprar maconha
era necessário ir até as chamadas “biqueiras”, nos dias atuais, não haveria possibilidade
alguma de prevenir o uso de outras drogas liberando a maconha para afastar os usuários do
traficante.
Quanto a liberdade do cidadão para fazer o que bem entender, desde que não
prejudique ou não coloque em risco o direito de terceiros, tendo em vista que, o envolvimento
dos menores com drogas é cada dia maior, não podemos, de qualquer forma, afirmar que uma
criança ou um adolescente tem plena capacidade de decidir se deve ou não fumar maconha,
até porque, conforme demonstra as pesquisas sobre a cannabis, o uso precoce aumenta os
riscos, inclusive o de dependência, podendo causar danos irreversíveis.
Isto posto, é possível invocar o princípio da intervenção mínima para não punir
penalmente os usuários da maconha, mas não para liberar o uso livre, pois, quando a droga é
usada por menores, estes não tem plena capacidade de decidir se deve ou não usá-la.
Por outro lado, além de nem todos adultos terem capacidade de decidir se deve ou não
usar maconha, tendo em vista o grau de dependência que cada indivíduo pode ter, o consumo
de maconha em locais públicos poderá estimular e incentivar que uma criança ou um
adolescente venha usar a droga, isto porque, ao ver um adulto fumar maconha ao ar livre, o
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menor enxergará aquilo como algo comum e poderá por como uma restrição ao uso apenas a
maioridade, assim como acontece com o álcool e, consequentemente, quebrará a barreira da
maioridade quando se achar preparado para decidir sozinho o que pode fazer, mesmo não
tendo ainda essa capacidade, e consumirá a droga precocemente.
O Estatuto da Criança e do Adolescente por sua vez, dispõe que é dever de todos zelar
pelos direitos do menor e pela prevenção dos riscos, criando um sistema descentralizado e
integrado para a concretização dos objetivos ali postos.
De acordo com a realidade atual, estes sistemas não funcionam da maneira esperada,
pois não foram colocados em prática por falta de iniciativa do Estado. É certo que são
objetivos de grande complexibilidade e exige o envolvimento de todos, porém, cabe ao Estado
conscientizar sobre a importância da participação de todos, bem como, a capacitação dos
envolvidos para que cada um possa realmente contribuir de maneira significativa.
Já que os dois sistemas não foram postos em prática de forma plena e devem ser
colocados para que haja resultados positivos, talvez, seria mais proveitoso integrar as duas
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Certamente além de mais proveitoso, este plano traria um gasto menor aos cofres
públicos tendo em vista que integraríamos dois sistemas em um, gerando uma ação para duas
prevenções.
Por outro lado, há uma necessidade de conscientizar os que já são usuários de drogas
que não é legal consumir drogas em locais públicos, pois poderiam incentivar os menores a
consumi-las, criando uma multa pecuniária para aqueles que forem surpreendidos consumindo
drogas em locais públicos, revertendo os valores arrecadados para a política integrada de
proteção aos menores e prevenção do uso de drogas.
CONCLUSÃO
Por outro lado, além de ser a droga ilícita mais consumida no Brasil, o consumo da
erva está crescendo significativamente entre os menores.
Isto posto, a legalização da maconha acabaria por colocar ainda mais em risco a
população infanto-juvenil, tendo em vista que abriria um mercado legal da droga, que
facilitaria ainda mais o alcance dos menores a ela.
A inversão de valores criadas pela atual sociedade faz com que, cada dia mais, nossos
menores deixem de desenvolver valores morais e éticos, o que culmina na formação de
indivíduos materialistas e, de alguma forma, desumanos.
A sociedade que possui dever de zelar pelos direitos inerentes aos menores e observar
os princípios fundamentais que os guiam, desrespeita muitos desses direitos e, enquanto tem o
dever de prevenir, acaba por colocar mais em risco ou incentivar os menores a cometerem
condutas de risco.
Por outro lado, o sistema de prevenção de drogas, que deve ser descentralizado,
contando com o envolvimento de todos, assim como o sistema de proteção integral do ECA,
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não funciona da forma que deveria por falta de ações públicas para conscientizar e incentivar
o envolvimento de toda sociedade e de instituições públicas e privadas.
Uma sociedade livre, justa e solidária só poderá ser construída através de cidadãos
saudáveis e desenvolvidos.
Acerca da planta Cannabis, esta possui efeitos medicinais em algumas de suas mais de
400 substâncias que deveriam ser isoladas e pesquisadas para manipulação de medicamentos
específicos e necessários, sem contanto, liberar o uso recreativo da maconha.
Assim sendo, a legalização do uso recreativo da maconha não deve ocorrer, visando
principalmente a proteção da criança e do adolescente, pois, são os mais prejudicados com o
consumo da droga, devendo ser aplicado o princípio da prevalência dos interesses do menor,
revendo-se as permissões para pesquisa para o uso medicinal da droga, orientando-se a
isolação de cada substância, para que se utilize apenas as necessárias para cada caso,
diminuindo os riscos e prejuízos dos que necessitam da planta para tratamento.
Um Brasil sem drogas é possível, desde que, resgatemos valores, protegermos nossas
crianças e adolescentes, demos o exemplo, prevenirmos o uso, eduquemos, combatemos a
corrupção policial e nas fronteiras e combatermos o grande traficante e a entrada de drogas no
país.
Não são medidas simples, não é um resultado de curto prazo, é preciso o envolvimento
e comprometimento de todos, é preciso inovação, dedicação e persistência, é preciso atitude.
Com comodismo não chegaremos a lugar algum, só depende de nós, TODOS NÓS.
REFERÊNCIAS
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ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
LOPES, Adriana Dias. Maconha faz mal sim: quem afirma é a medicina. Revista Veja,
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MARTINS, Mayara Costa; PILLON, Sandra Cristina. A relação entre a iniciação do uso
de drogas e o primeiro ato infracional entre os adolescentes em conflito com a lei.
Cadernos de Saúde Pública, v.24, n.5, p.1112-1120, 2008. Disponível em:
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MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 25 ed. São
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O GLOBO. Suécia fecha quatro presídios por falta de condenados. Jornal O Globo,
[S.I], 13 nov. 2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/mundo/suecia-fecha-
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TIBA, Içami. Juventude e Drogas: Anjos Caídos. 11. Ed. São Paulo: Integrare, 2007.