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Inseminação Artificial em
Tempo Fixo (IATF)
Em Bovinos Leiteiros
3.1 Introdução
102 IEPEC
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
104 IEPEC
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Para se obter sucesso nos programas de IATF, alguns requisitos são necessários
para a sua implantação. Dentre eles, destacam-se: controle sanitário eficiente;
bom manejo nutricional; meio ambiente favorável para o bem-estar animal;
mão-de-obra especializada; e avaliação geral e ginecológica periódica das fê-
meas.
O manejo sanitário para o gado leiteiro deve ser eficiente a fim de evitar que os
animais venham a contrair doenças que possam prejudicar a sua produção leiteira
e a eficiência reprodutiva do rebanho, causando prejuízos ao produtor. O orga-
nismo do animal está em contato direto com diferentes agentes que provocam
diversas doenças, abaixo listadas:
O leite é considerado o alimento mais perfeito da natureza, com uma rica compo-
sição de proteínas, vitaminas, gordura, carboidratos e sais minerais; é produzido
durante a lactação das vacas, a partir de elementos que passam do sangue para
as células especializadas do úbere. Durante o processo de lactação, medicamen-
tos ou drogas administradas podem passar para o leite, comprometendo assim
a sua qualidade e causando prejuízos à indústria de leite (inibição de culturas
lácteas utilizadas na fabricação de iogurte e outros fermentados) e problemas a
saúde humana (reações alérgicas ou tóxicas).
Quando o animal está sadio, bem alimentado e em conforto, espera-se que eles
expressem o máximo de sua capacidade reprodutiva. Neste tópico, não serão
abordados detalhes das enfermidades que acometem os bovinos de leite, e sim,
sugerir um programa sanitário eficiente.
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Está bem documentado que vacas muito gordas ao parto frequentemente apre-
sentam redução de apetite e, assim, desenvolvem balanço energético negativo
maior do que suas companheiras de rebanho. Essas vacas apresentam mobiliza-
ção mais intensa da gordura corporal e maior acúmulo de triglicerídeos no fígado
(RUKKWAMSUK et al., 1998), levando à lipidose hepática, que está associada, se-
gundo muitos autores, ao comprometimento da fertilidade no período pós-parto.
Além disso, relatou-se que um grave balanço energético negativo pode prolongar
o intervalo de partos e a primeira ovulação. A baixa disponibilidade energética
durante as primeiras semanas de lactação afeta a secreção de LH, mas também
reduz a resposta do ovário à estimulação do LH (JOLLY et al., 1995; BUTLER, 2000).
E como já foi dito anteriormente, animais magros geralmente não apresentam
atividade ovariana devido à deficiência energética. Este fato ocorre pela falta de
reserva de gordura para a produção de esteroides.
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
»» Desconforto;
»» Medo e estresse.
Estar confortável significa que o animal atingiu certo nível de bem-estar. Por isso,
o manejo que os animais estão submetidos, independentemente do tipo de
sistema adotado, tem que garantir amenidades que proporcionem conforto. Por
exemplo: controle da temperatura (quando necessário), abrigo, espaço físico, ar e
água limpos, dieta nutritiva, ausência de dor, de pânico, de ansiedade e de abuso.
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
De acordo com Russi et al. (2009), a falta de pessoas capacitadas é um dos fatores
limitantes para a expansão da IA no Brasil. Além disso, os autores destacaram que
um manejo inadequado (nutricional, sanitário etc.) também pode acarretar resul-
tados indesejados. Dobson e Smith (2000) mostraram que um manejo aversivo,
que gera estresse, pode alterar a resposta aos tratamentos recebidos durante os
protocolos de IATF e até mesmo resultar em perdas embrionárias.
Um estudo desenvolvido por Fernandes Jr. (2001) mostrou que as variáveis ha-
bilidade, curso de IA e reciclagens geram diferenças significativas entre os inse-
minadores, medidas pela taxa de prenhez. Tal estudo reforça a necessidade de
revisar todo o processo de IA periodicamente, a fim de aumentar a habilidade
e a autoconfiança do inseminador. Outra consideração importante feita por esse
mesmo autor é em relação ao comprometimento afetivo com o trabalho. Inse-
minadores com maior comprometimento afetivo obtiveram melhores taxas de
gestação (85%) que aqueles que apresentaram comprometimento apenas por
Outro fator que pode afetar os resultados e que deve ser sempre levado em
consideração é o cansaço do inseminador. Dados revisados por Russi et al. (2009)
mostraram que algumas manifestações indicativas de cansaço ocorrem antes
mesmo de o inseminador solicitar sua substituição, podendo resultar em queda
no rendimento do profissional. Reforçando a importância de realizar o treinamen-
to do maior número possível de pessoas dentro das propriedades que realizam
IA/IATF.
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Outro fator que interfere nos resultados, tanto dos programas de inseminação,
quanto na monta natural, é o anestro pós-parto. Dependendo do sistema de
produção, o intervalo de partos ideal é 12-14 meses. Para que isto seja possível,
o período de serviço (intervalo entre o parto e a concepção) deve ser de 45
a 90 dias, e às vezes até 120 dias (dependendo do sistema de produção). Se
considerarmos que, os primeiros 30-45 dias pós-parto a fêmea ainda recupera o
útero e o eixo hipotálamo-hipófisario-gonadal do parto anterior, sobra de 45-75
dias para que o animal cicle, seja inseminado ou coberto e emprenhe. O anestro
pós-parto prolongado significa um maior período de serviço, obrigando, o produ-
tor a recorrer ao apoio veterinário, com o intuito de diminuir a grande parcela de
animais não-gestantes, aumentando o número de dias improdutivos e o custo
de produção das bezerras.
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Desta forma, com o prejuízo exposto, o produtor poderia ter em sua propriedade
um acompanhamento veterinário mensal ou até mesmo quinzenal do rebanho,
que não seria oneroso ao mesmo.
Algumas vantagens ao produtor: maior número de vacas prenhes por ano, maior
número de bezerras nascidas ao ano, menor gastos com hormônios, menor per-
da de leite, maior produção de leite por ano, menor intervalo de partos, maior
controle efetivo da reprodução, produção e sanidade do rebanho.
Bem-estar e
conforto animal Mão de obra
Nutrição
especializada
Exame ginecológico
Acasalamento
periódico (matrizes
direcionado
e novilhas)
Sucesso
da IATF
Hormônios de
Sanidade qualidade e bem
armazenados
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Em vacas com ovários ativos, o ciclo estral pode ser manipulado de três formas:
corpo lúteo;
3.4.1 Prostaglandinas
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IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
dominante e, por isso, apresentam um intervalo mais longo e mais variável até
a apresentação do estro.
40
35
30
% dos animais
25
20
15
10
5
0
Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1
Dia após a administração de PGF
Figura 37: Distribuição da ocorrência do estro em vacas tratadas com PGF2α. FONTE:
40
INTERVET (2006)
35
30
Como as prostaglandinas agem no corpo lúteo, elas só podem ser eficazes em
% dos animais
25
vacas que estiverem ciclando. Podem-se usar as prostaglandinas de diversas
20para manipulação do estro, de acordo com as intenções do tratador, o
maneiras
15
tipo do animal e as condições da fazenda. Uma visão geral adaptada de Cavalieri
et al. (2006)
10 delineia os sistemas usados com maior frequência (Figura 38).
5
0
Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1 Dia 1
Dia após a administração de PGF
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Figuro 38: Programas de sincronização do estro com PGF2α. FONTE: CAVALIERI et al.
(2006).
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Figura 39: Protocolo Ovsynch; FD, folículo dominante. FONTE: INTERVET (2006).
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
1-4 23 % 94 %
5-9 96 % 89 %
10-16 54 % 85 %
17-21 77 % 81 %
Geral 64 % 87 %
Deste estudo pode-se concluir que é possível obter maiores taxas de concepção
quando se inicia o protocolo Ovsynch entre os dias 5 e 12 do ciclo estral. Entre-
tanto, monitorar o ciclo estral da vaca para selecionar o momento mais promissor
para iniciar o protocolo Ovsynch não é viável e, de certa forma, vem contra toda a
ideia de praticidade deste sistema, de não depender do estágio do ciclo da vaca.
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
A pré-sincronização pós-parto com GnRH também pode ser realizada 7 dias antes
do protocolo Ovsynch clássico. Este protocolo tem a vantagem de ser potencial-
mente eficaz, tanto nas vacas cíclicas quanto nas que se encontram em anestro
(THOMPSON et al., 1999; STEVENSON et al., 2000).
O protocolo Heat Synch, mais amplamente usado nos EUA, envolve a substitui-
ção da segunda injeção de GnRH por ésteres de estradiol (GEARY et al., 2000;
STEVENSON et al., 2004). Os adeptos deste sistema afirmam que o estradiol
melhora a sincronização da ovulação do folículo dominante e provoca aumento
da expressão comportamental de estro nas vacas tratadas. Com o aumento da
preocupação com o uso de estrógenos em animais para produção de alimentos,
e praticamente com a impossibilidade de seu uso na Europa, a aplicação desse
sistema fica limitada geograficamente.
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
gonadorelina, mas com uma dose de apenas 100 mcg. Essa dose de GnRH é
empregada rotineiramente nos EUA e se mostrou de considerável interesse em
muitos outros países, pois oferece a possibilidade de reduzir os custos do trata-
mento. Contudo, a redução da dose de gonadorelina representaria uma redução
substancial da potência biológica, uma vez que se estima que a buserelina seja
entre 40 e 200 vezes mais potente do que a gonadorelina (CHENAULT et al.,
1990).
Desde então, muitos autores têm questionado a eficácia de uma dose reduzi-
da de gonadorelina para a indução da ovulação, principalmente nos sistemas
complexos de sincronização do tipo Ovsynch, nos quais a indução da ovulação
em alta porcentagem das vacas determina tanto a precisão quanto a eficácia da
sincronização. Demonstrou-se que doses mais baixas de gonadorelina (25 mcg e
100 mcg) são eficazes apenas parcialmente (100 mcg) ou insuficientes (25 mcg)
para ovular um folículo dominante em fase luteínica (Mihm et al., 1998).
Isso, por sua vez, teria um efeito claramente deletério sobre a manutenção da
prenhez e sobre as taxas de prenhez das vacas tratadas. Cordoba e Fricke (2002)
e Shephard (2002) relataram um aumento da incidência de ciclos curtos em
vacas tratadas com o protocolo Ovsynch quando doses de 50 mcg ou 100 mcg de
gonadorelina foram utilizadas, encurtamento da fase luteínica e falha na concep-
ção. Esses ciclos curtos ocorreram tanto nas vacas que estavam ciclando como nas
que se encontravam em anestro. É provável que a formação anormal do corpo
lúteo esteja associada ao fato de que a dose reduzida de GnRH apresente eficácia
limitada sobre a atresia do folículo, ovulação e o desenvolvimento do corpo lúteo.
Essa segunda função dos ésteres de estradiol, usados em conjunto com os im-
plantes de progesterona, é de especial importância, uma vez que todos os siste-
mas liberadores de progestágeno/progesterona geram níveis sub-luteínicos de
progesterona na circulação de vacas tratadas. Esses níveis são suficientes para
criar um feedback negativo e evitar um pico pré-ovulatório de LH e ovulação.
Entretanto, são incapazes de bloquear totalmente a liberação de LH, mantendo-
se uma pequena secreção pulsátil, permitindo a persistência de um folículo do-
minante caso ele esteja presente no ovário no início do tratamento. Sabe-se que
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Categoria
Dia 0 Dia 6 Dia 9 IATF
animal
Implante do
Crestar® e 48-54
1 mg de
administração horas após a
Novilhas ----- benzoato de
de 2 mg de remoção do
estradiol
benzoato de implante
estradiol
Remoção do
Vacas de Implante e implante e 56 horas após
leite de baixa injeção de ----- injeção de a remoção do
produção Crestar® 300-500 UI de implante
eCG
Remoção do
Vacas de Implante e Administração implante e 56 horas após
leite de alta injeção de de prostaglan- injeção de a remoção do
produção Crestar® dina 300-500 UI de implante
eCG
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Isso significa que o benzoato de estradiol tem um tempo de atuação mais pon-
tual, fazendo com que sua atuação seja mais sincrônica que o cipionato e o va-
lerato. Essa maior sincronia do benzoato está descrita em diversos experimentos
onde se acompanhou, por ultrassonografia, a dinâmica de ovulações do grupo
sincronizado. Nesses experimentos houve uma menor variação de tempo entre
a primeira e a última ovulação das vacas tratadas com BE. Com o benzoato, as
fêmeas ovularam num intervalo bem menor do que 24 horas, enquanto que com
o cipionato, as fêmeas ovularam num intervalo igual ou maior do que 24 horas.
(REIS et al., 2004; MARTINS et al., 2005)
17ß estradiol
Benzoato de Estradiol
Valerato de Estradiol
Cipionato de Estradiol
1 2 3 4 5 6 7 8 9 Dias após
Benzoato de Estradiol
134 Valerato de Estradiol IEPEC
Cipionato de Estradiol
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
IATF 70 h
SEMEN VIABILITY
SEMEN VIABILITY
BE
CE
São vários os protocolos de IATF, mas todos tem uma base em comum que é a
utilização da progesterona. Serão expostos a seguir vários protocolos hormonais
com boas taxas de prenhez (40 a 60 %).
136 IEPEC
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Retirar P4 + 1 mL de FSH +
Dia 8 às 6h Dia 8 às 16h
2 mL de PGF2α
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE
Dia 9 às 8h 1 mL de BE
Esse tipo de protocolo também pode ser utilizado para se aumentar a eficiência
de uso de doses de sêmen de alto valor, diminuindo as perdas de sêmen (alta
taxa de concepção), porém comprometendo um pouco a taxa de serviço (o que
pode compensar pelo alto custo das doses).
138 IEPEC
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE
Recentemente, tem sido utilizada a base dos protocolos de IATF para a indução
da puberdade de novilhas (corte e leite) no intuito de antecipar a cronologia
puberal destes animais. Na realidade, não é IATF e sim um programa de indução
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE
Dia 8 às 8h Retirar P4 + 1 mL de BE
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE
Para novilhas leiteiras, pode-se utilizar o protocolo da Tabela 3.9, com possibili-
dade de substituição do benzoato pelo cipionato.
140 IEPEC
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 2 mL de BE
Na Tabela 16, tem-se o protocolo de IATF com eCG , ao invés do FSH, para vacas
mestiças. Este protocolo também tem a vantagem de manejar os animais so-
Dia 0 às 8h Inserir P4 + 1 mL de CE
Dia 11 às 8h IATF
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Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
a) Tronco de contenção;
b) Aplicador de progestágeno;
c) Balde;
e) Luva descartável;
f) Seringas e agulhas;
h) Papel toalha;
j) Tesoura;
k) Luva de palpação;
m) Kilol®;
n) Material de IA
144 IEPEC
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
Organização: horário, dia, critério com o manejo dos animais, manipulação dos
hormônios com luva descartável, contenção adequada dos animais e higiene.
146 IEPEC
Capítulo 3
IATF como ferramenta no melhoramento genético de bovinos de leite
reprodutivos do rebanho.
Material Complementar
148 IEPEC
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