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Aula 28
Tema: Redução da maioridade penal
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31/03/2015 13h00 - Atualizado em 31/03/2015 13h38
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Os menores e as penas
Vale lembrar que o atual sistema já
prevê internações (que é um eufemismo
para prisão) em caso de delitos graves. Elas
podem chegar a até três anos. Pode parecer
pouco diante dos até 30 anos que o Código
Penal reserva para maiores, mas, na prática,
quem tem advogado não costuma passar
tanto tempo na cadeia. Um réu primário
consegue a progressão de regime após
cumprir 1/6 da pena e o livramento
condicional depois de 1/3. Um homicida
neófito e bem assessorado que tenha sido condenado a 15 anos, consegue ir para o semiaberto (o que
muitas vezes significa liberdade vigiada) após 2,5 anos e obtém a condicional depois do mesmo tanto.
Menores condenados a três anos de internação tipicamente cumprem a medida até o fim.
As principais diferenças, fora o fato de a etiqueta de pena aparecer de forma mais transparente no
caso dos menores, acabam sendo um juiz especializado (homicídios dolosos vão a júri no direito comum)
e o jovem delinquente ter sua ficha zerada ao sair da unidade de internação (já o maior perde sua
primariedade para sempre). No restante, os dois sistemas são bem parecidos. As unidades de
aprisionamento dificultam ao máximo as possibilidades de reintegração e são verdadeiras escolas do crime.
(...)
Então vamos aos números. Em São Paulo, cumprem medida socioeducativa por homicídio 134
adolescentes. Eles correspondem a 1,5% dos 9.016 internos da Fundação Casa (antiga Febem). No mundo
adulto, de acordo com dados compilados pela Secretaria da Justiça paulista, os homicidas representam,
12% da população carcerária do Estado. (...)
Outro ponto a questionar é o real poder de penas longas na prevenção do crime. Não há dúvida de
que a existência da sanção é fundamental. Modelos matemáticos mostram que sociedades só são estáveis
quando punem os indivíduos que tentam levar vantagem indevida. Mas será que uma previsão de 5, 10,
20 ou 30 anos faz muita diferença? Criminosos acionam uma calculadora mental antes de cometer seus
delitos? Acho bastante improvável. De novo, o apelo a penas altas é mais fruto de nossas noções
retributivistas do que de relações de causa e efeito conhecidas.
(...) É importante, porém, que resistamos ao impulso de legislar sobre matéria penal sob o calor
do momento. Nós já cometemos esse erro, como se viu com a Lei dos Crimes Hediondos (nº 8.072/90),
uma das piores peças jurídicas de nosso já pouco judicioso sistema judicial. No fundo, ela é um catálogo
dos crimes que mais abalaram a sociedade nas últimas décadas. O problema é que, para contentar os
apetites aguçados, ela se choca com uma série de princípios básicos do direito penal e com a própria
Constituição. O STF anulou um de seus dispositivos.
Defender que o sistema esteja baseado na razão não implica desconhecer a importância das
emoções. É evidente que, se alguém, maior ou menor, matasse um familiar ou amigo meu, eu
experimentaria o desejo de vingança em sua plenitude. Só que eu não posso querer que o Estado
personifique minhas emoções. O que diferencia a justiça da vingança é o fato de que a primeira é aplicada
de forma impessoal e universal por uma entidade neutra e que, por definição, só pode atuar sob o primado
da razão. Ignorar isso é retroceder quase 300 anos na história do direito.
Hélio Schwartsman
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5. A redução da maioridade penal iria afetar, preferencialmente, jovens negros, pobres e moradores de áreas periféricas
do Brasil, na medida em que este é o perfil de boa parte da população carcerária brasileira. Estudo da UFSCar
(Universidade Federal de São Carlos) aponta que 72% da população carcerária brasileira é composta por negros.
A favor
1. A mudança do artigo 228 da Constituição de 1988 não seria inconstitucional. O artigo 60 da Constituição, no seu inciso
4º, estabelece que as PECs não podem extinguir direitos e garantias individuais. Defensores da PEC 171 afirmam que
ela não acaba com direitos, apenas impõe novas regras;
2. A impunidade gera mais violência. Os jovens "de hoje" têm consciência de que não podem ser presos e punidos como
adultos. Por isso continuam a cometer crimes;
3. A redução da maioridade penal iria proteger os jovens do aliciamento feito pelo crime organizado, que tem recrutado
menores de 18 anos para atividades, sobretudo, relacionadas ao tráfico de drogas;
4. O Brasil precisa alinhar a sua legislação à de países desenvolvidos com os Estados Unidos, onde, na maioria dos
Estados, adolescentes acima de 12 anos de idade podem ser submetidos a processos judiciais da mesma forma que
adultos;
5. A maioria da população brasileira é a favor da redução da maioridade penal.Em 2013, pesquisa realizada pelo
instituto CNT/MDA indicou que 92,7% dos brasileiros são a favor da medida. No mesmo ano, pesquisa do
institutoDatafolha indicou que 93% dos paulistanos são a favor da redução.
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A sociedade tem o desafio de reinserir quem
comete atos infracionais, a partir de sanções que
tenham eficácia e impeçam o infrator de voltar a
delinquir. Enquanto os jovens em conflito com a lei
que passam por unidades socioeducativas têm
reincidência de 20%, no sistema penitenciário esse
índice é de 70%.
Os presídios brasileiros se converteram em
verdadeiras universidades do crime. A população
carcerária já é composta, em sua maioria, por jovens.
Reduzir a idade penal vai ajudar aumentar o
encarceramento da juventude e fazê-la engrossar o
contingente que está a serviço do crime organizado.
Proposta 1 - Baseando-se na leitura dos textos motivadores e nos seus conhecimentos sobre o assunto,
escreva um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema CAMINHOS PARA CONTROLAR A VIOLÊNCIA
JUVENIL apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Seu texto
deve ter entre 07 e 30 linhas.