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O juiz que presidiu a instrução do processo criminal não está vinculado, ou seja, não
está obrigado a proferir a sentença se tiver sido convocado, licenciado, afastado (por
qualquer motivo), promovido ou aposentado. Nessas hipóteses, a causa passa ao seu
sucessor. A conclusão é da 1ªTurma especializada do TRF2, que, em um julgamento
pioneiro sobre o princípio da identidade física do juiz no processo penal, determinou
que os autos referentes a um caso de tráfico de drogas sejam julgados pela 3ª Vara
Federal Criminal(VFC) do Rio de Janeiro.
Foi lá que tramitou toda a instrução do processo. Só que, antes de ser proferida a
sentença, o juiz que conduziu a instrução foi transferido para a 2ª VFC da capital
fluminense. Por conta disso, em dezembro do ano passado, a 3ª VFC remeteu os autos
para a nova vara do juiz federal. Só que ele devolveu o processo para a 3ª VFC,
entendendo que ele deveria ser resolvido onde correu a fase de instrução.
A controvérsia tem origem na inovação criada com a Lei nº 11.719, de 2008, que alterou
alguns pontos do Código de Processo Penal. Muito recente, a lei dá uma nova redação
ao artigo 399,parágrafo 2º, estabelecendo que "o juiz que presidiu a instrução deverá
proferira sentença".
O relator do processo no Tribunal, juiz federal convocado Aluisio Gonçalves de Castro
Mendes, ponderou que o artigo 3ºdo Código de Processo Penal admite a "interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de
direito". No entendimento do magistrado, isso significa que deve ser aplicado, no caso,
o artigo 132 do Código de Processo Civil, que estabelece justamente que "o juiz, titular
ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado,
licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que
passará os autos ao seu sucessor". Para o relator, é com base nessa regra que deve ser
interpretada a Lei nº 11.719/08: "A necessidade de relativização fica até mais evidente
no Processo Penal, diante de processos com réus presos, que não poderiam, obviamente,
aguardar o retorno de licença ou férias, para que fossem sentenciados. Do mesmo modo,
se o juiz foi promovido, removido ou designado para outra vara, não deve perdurar a
vinculação, diante do afastamento do juiz da vara competente para o processamento e
julgamento. O princípio, todavia, é de grande importância para se impedir a prática
alternadamente entre juízes na mesma vara, especialmente quando houve colheita de
prova, como depoimentos e interrogatório", afirmou AluísioMendes.
O processo que deu origem ao conflito de competência envolve réus presos. E foi em
razão disso que a 1ª Turma concluiu que a causa deve ser sentenciada pelo magistrado
que se encontra em exercício na3ª VFC, tendo em vista a transferência do juiz que havia
presidido a audiência de instrução e julgamento.
NOTAS DA REDAÇÃO
"Art. 399. § 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008)."
Em relação ao juiz, há que se observar mais dois princípios: o princípio do juiz natural e
o princípio da imparcialidade do juiz, os quais, ao lado do princípio da identidade física
do juiz, são direitos fundamentais das partes, pois visam a garantir um processo justo.
" LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;"
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º,
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)"
Este princípio decorre do disposto no artigo 8°, 1, do Pacto de San José da Costa Rica:
"Artigo 8º - Garantias judiciais. 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as
devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações
de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza."
Antes do advento da Lei 11.719/2008, tal princípio não era aplicável ao processo penal,
conforme entendimento da jurisprudência.
Porém, hoje, a aplicação deste princípio decorre da própria lei. Daí surge um
questionamento: a aplicação desse princípio é obrigatória, absoluta? Haverá nulidade
decorrente de sua não observância?
A questão foi enfrentada pelo TRF 2, que entendeu pela possibilidade de relativização
do princípio da identidade física do juiz, quando o julgador que presidiu a instrução
estiver impossibilitado de proferir a sentença.
CPC, Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide,
salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou
aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. (Redação dada pela Lei nº
8.637, de 31.3.1993)"
Ora, entender pela aplicação absoluta do princípio da identidade física do juiz poderia
até mesmo prejudicar o réu, como nos casos em fosse necessário o adiamento do
julgamento até o retorno no juiz, enquanto o réu aguardaria preso, e até mesmo poderia
culminar na impossibilidade do julgamento, nos casos de afastamento definitivo do juiz!
Por outro lado, a relativização desse princípio deve ser vista com cautela, tendo em
conta que se trata da garantia de um processo penal justo.
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