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Código de Processo Penal – Princípio da Identidade Física do Juiz – decisão TRF2

Relativização do princípio da identidade


física do juiz no processo penal
Texto de : Elisa Maria Rudge Ramos

Data de publicação: 02/03/2009

Primeira Turma realiza julgamento pioneiro sobre o princípio da identidade física


do juiz no processo penal

O juiz que presidiu a instrução do processo criminal não está vinculado, ou seja, não
está obrigado a proferir a sentença se tiver sido convocado, licenciado, afastado (por
qualquer motivo), promovido ou aposentado. Nessas hipóteses, a causa passa ao seu
sucessor. A conclusão é da 1ªTurma especializada do TRF2, que, em um julgamento
pioneiro sobre o princípio da identidade física do juiz no processo penal, determinou
que os autos referentes a um caso de tráfico de drogas sejam julgados pela 3ª Vara
Federal Criminal(VFC) do Rio de Janeiro.

Foi lá que tramitou toda a instrução do processo. Só que, antes de ser proferida a
sentença, o juiz que conduziu a instrução foi transferido para a 2ª VFC da capital
fluminense. Por conta disso, em dezembro do ano passado, a 3ª VFC remeteu os autos
para a nova vara do juiz federal. Só que ele devolveu o processo para a 3ª VFC,
entendendo que ele deveria ser resolvido onde correu a fase de instrução.

O Ministério Público Federal (MPF) não concordou com esse posicionamento,


sustentando que a pessoa física do juiz (e não a vara) que presidira a instrução, e que
analisara as provas, teria melhores condições de dar uma sentença "mais fiel ao sentido
do conjunto probatório da causa do que aquela que dela conhecer apenas pelo que
estiver reproduzido nos autos". Assim, o MPF pediu que a questão fosse decidida pelo
TRF. A questão foi recebida na 1ª Turma Especializada como conflito de competência.

A controvérsia tem origem na inovação criada com a Lei nº 11.719, de 2008, que alterou
alguns pontos do Código de Processo Penal. Muito recente, a lei dá uma nova redação
ao artigo 399,parágrafo 2º, estabelecendo que "o juiz que presidiu a instrução deverá
proferira sentença".
O relator do processo no Tribunal, juiz federal convocado Aluisio Gonçalves de Castro
Mendes, ponderou que o artigo 3ºdo Código de Processo Penal admite a "interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de
direito". No entendimento do magistrado, isso significa que deve ser aplicado, no caso,
o artigo 132 do Código de Processo Civil, que estabelece justamente que "o juiz, titular
ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado,
licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que
passará os autos ao seu sucessor". Para o relator, é com base nessa regra que deve ser
interpretada a Lei nº 11.719/08: "A necessidade de relativização fica até mais evidente
no Processo Penal, diante de processos com réus presos, que não poderiam, obviamente,
aguardar o retorno de licença ou férias, para que fossem sentenciados. Do mesmo modo,
se o juiz foi promovido, removido ou designado para outra vara, não deve perdurar a
vinculação, diante do afastamento do juiz da vara competente para o processamento e
julgamento. O princípio, todavia, é de grande importância para se impedir a prática
alternadamente entre juízes na mesma vara, especialmente quando houve colheita de
prova, como depoimentos e interrogatório", afirmou AluísioMendes.

O processo que deu origem ao conflito de competência envolve réus presos. E foi em
razão disso que a 1ª Turma concluiu que a causa deve ser sentenciada pelo magistrado
que se encontra em exercício na3ª VFC, tendo em vista a transferência do juiz que havia
presidido a audiência de instrução e julgamento.

Fonte: Portal do TRF 2 ª Região

NOTAS DA REDAÇÃO

O cerne da questão diz respeito ao princípio da identidade física do juiz, trazido ao


processo penal pela Lei 11.719, de 20 de junho de 2008.

"Art. 399. § 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008)."

Em relação ao juiz, há que se observar mais dois princípios: o princípio do juiz natural e
o princípio da imparcialidade do juiz, os quais, ao lado do princípio da identidade física
do juiz, são direitos fundamentais das partes, pois visam a garantir um processo justo.

O primeiro decorre do disposto no artigo 5°, incisos LIII e XXXVII, da Constituição


Federal:

" LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;"

"XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;"

O princípio da imparcialidade do juiz, por sua vez, impõe a neutralidade do julgador.


Para isso, o juiz conta com as garantias constitucionais da vitaliciedade,
inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.

"Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício,
dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz
estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;

II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;

III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º,
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)"

Este princípio decorre do disposto no artigo 8°, 1, do Pacto de San José da Costa Rica:

"Artigo 8º - Garantias judiciais. 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as
devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações
de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza."

Voltemos ao princípio da identidade do juiz.

Antes do advento da Lei 11.719/2008, tal princípio não era aplicável ao processo penal,
conforme entendimento da jurisprudência.

STF. HC 74333. EMENTA: "HABEAS CORPUS". CRIME DE TRÁFICO DE


ENTORPECENTE (art. 12 da Lei nº 6.368/76). ARGÜIÇÕES DE NULIDADE: PROVA
ILÍCITA; INÉPCIA DA DENÚNCIA; FALTA DE CITAÇÃO PARA O
INTERROGATÓRIO DE RÉU PRESO; VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL; EQUÍVOCO DA PRISÃO EM FLAGRANTE
DELITO; INVERSÃO DO PROCEDIMENTO PENAL; IDENTIDADE FÍSICA DO
JUIZ; INSUFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO NA DECISÃO; EXASPERAÇÃO DA
PENA: IMPROCEDÊNCIA DOS ALEGADOS VÍCIOS. VALORAÇÃO DA PROVA;
REEXAME DE PROVAS. 1. (...) 8. O princípio da identidade física do juiz não se
aplica ao processo penal. 9. Incensurável o acórdão que fundamenta, com lucidez
jurídica e coerência, o julgamento dos diversos temas suscitados nos recursos de
apelação interpostos pelo Ministério Público e pela defesa. 10. (...) 13. "Habeas
Corpus" conhecido, em parte, e, nessa parte, indeferido.

STJ. HC 88225. CONSTITUCIONAL - PENAL - PROCESSO PENAL - HABEAS


CORPUS - CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA - RÉU DOMICILIADO E
RESIDENTE NA ITÁLIA - INTERROGATÓRIO MEDIANTE CARTA ROGATÓRIA -
AUSÊNCIA DE PREVISÃO ESPECÍFICA NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL -
INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ -
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS - ACORDO FIRMADO ENTRE BRASIL
E ITÁLIA PARA COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA E ASSISTÊNCIA MÚTUA EM
MATÉRIA PENAL - DECRETO 862/1993 - ORDEM CONCEDIDA. 1. Encontrando-se
o agente em País estrangeiro, mas em local sabido, sua citação deve ocorrer via carta
rogatória. Inteligência do artigo 368 do Código de Processo Penal. 2. É possível a
realização do interrogatório do agente em País estrangeiro, desde que resguardadas
todas as garantias legais e constitucionais atinentes à espécie, notadamente quando há
acordo de cooperação judiciária e assistência mútua em matéria penal devidamente
firmado pelo Brasil, promulgado no ordenamento interno via Decreto. 3. Ademais, o
princípio da identidade física do juiz não é aplicável ao processo penal. 4. Ordem
concedida.

STJ. HC 72043. HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO


(ART. 302, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO IV, DA LEI N.º 9.503/97). CONDENAÇÃO
DEVIDAMENTE AMPARADA NO CONJUNTO PROBATÓRIO DOS AUTOS.
PERÍCIA. EFICÁCIA PROBATÓRIA. VALORAÇÃO DAS PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE NA VIA ELEITA. IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. NULIDADE
DA SENTENÇA. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES. 1. O magistrado, no exato teor do
art. 184, do Código de Processo Penal, não está obrigado à deferir a realização de
diligências, quando as julgue desnecessárias ou inconvenientes para o deslinde da
causa. 2. O Juízo monocrático, de todo modo, antes de prolatar a sentença, converteu o
julgamento em diligências, para que o perito subscritor ratificasse ou não a conclusão
apresentada no incluso laudo pericial, o que veio a ser feito, de forma minudente e
circunstanciada, com a expressa ratificação de todo o seu teor. Ademais, ao contrário
do alegado, a condenação imposta ao Paciente não se deu apenas com base tão-
somente no laudo pericial impugnado. 3. É inviável no presente writ a análise do valor
das provas contidas nos autos para a condenação, uma vez que, além de ferir o
princípio do livre convencimento do Juiz, tal matéria escapa ao âmbito de apreciação
do habeas corpus, em face da necessidade do exame minucioso do material cognitivo
colhido no processo. 4. Inexiste nulidade no fato de a sentença não ter sido proferida
pelo Magistrado que acompanhou a instrução criminal. No processo penal brasileiro
não vigora o princípio da identidade física do Juiz. 5. Ordem denegada.

Porém, hoje, a aplicação deste princípio decorre da própria lei. Daí surge um
questionamento: a aplicação desse princípio é obrigatória, absoluta? Haverá nulidade
decorrente de sua não observância?

A questão foi enfrentada pelo TRF 2, que entendeu pela possibilidade de relativização
do princípio da identidade física do juiz, quando o julgador que presidiu a instrução
estiver impossibilitado de proferir a sentença.

Assim, aplicando a interpretação analógica (artigo 3° CPP), o TRF 2 entendeu, com


base no artigo 132 do CPC, que o princípio da identidade física do juiz não será de
observância obrigatória quando o juiz que presidiu a instrução criminal tiver sido
convocado, licenciado, afastado, promovido ou aposentado.

"CPP, Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

CPC, Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide,
salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou
aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. (Redação dada pela Lei nº
8.637, de 31.3.1993)"

Ora, entender pela aplicação absoluta do princípio da identidade física do juiz poderia
até mesmo prejudicar o réu, como nos casos em fosse necessário o adiamento do
julgamento até o retorno no juiz, enquanto o réu aguardaria preso, e até mesmo poderia
culminar na impossibilidade do julgamento, nos casos de afastamento definitivo do juiz!
Por outro lado, a relativização desse princípio deve ser vista com cautela, tendo em
conta que se trata da garantia de um processo penal justo.

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