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uma forma de improvisação precária do uso de objetos e aparelhos, geralmente por falta de recursos . Nas artes visuais, o
termo estética da gambiarra está ligado a artistas brasileiros que utilizam materiais “pobres”, precários ou ainda o lixo
tecnológico. Todavia, o coletivo Gambiologia surgiu para nos explicar como tudo isso está ligado, na realidade, à uma opção
A cultura brasileira e dos chamados países de terceiro mundo está mundialmente vinculada à carência de
recursos e acesso restrito à educação. Com isso, em 2003 na Gasworks em Londres foi inaugurada uma exposição com
o seguinte título: "Gambiarra - New Art from Brazil" e os artistas eram: Jarbas Lopes, Efrain Almeida, Marepe, Ducha e
Capacete Entretenimentos. Esses artistas usaram a linguagem da cultura popular do Brasil como fonte de inspiração e
suas obras comentavam sobre os aspectos políticos e sociais do país e suas contradições econômicas e desigualdades
sociais, usando materiais de baixa tecnologia e de uso comum das comunidades brasileiras.
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16/04/2016 A GAMBIARRA DA CAIXA PRETA, por Gabriela Lima
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Entretanto, de acordo a crítica de arte Lisette Lagnado, a estética da gambiarra tem um acento político para
além do valor estético e seria um desserviço assemelhar o termo àquela extensão elétrica que não foi instalada dentro
de medidas regulamentares, ou ao pedaço de Bombril posto na antena de TV. A gambiarra, tomada como conceito,
envolveria transgressão ou fraude, mas sem jamais abdicar de uma ordem, uma ordem muito simples. Ainda segundo
Lagnado, a gambiarra teria ecos do Parangolé, pelo fato de abranger toda uma rede de subsistência a partir de uma
economia informal, com soluções de baixo custo e de puro improviso. "Da adversidade vivemos!", conclamava Hélio
Oiticica em 1966. E para ele, "adversidade" não significava apenas "pouquidão", mas também "oposição".
O fato é que tal falta de acesso a políticas sociais justas, realmente forçou o brasileiro a criar um senso
peculiar de improvisação, cujo resultado atende comumente pelo nome de gambiarra. Em 2008, o trio de artistas de
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Belo Horizonte, Fred Paulino, Lucas Mafra e Paulo Henrique Pessoa ("Ganso") adotou o nome Gambiologia para os seus
trabalhos inspirado na "Ciência da Gambiarra". E assim, em um sentido diverso ao da exposição da Gasworks e bem
mais abrangente, tornaram a Gambiologia em uma ciência do improviso aliada a técnicas eletrônico-digitais, que
surge para afirmar a gambiarra como postura crítica e atitude política. A gambiarra como uma opção afirmada, é uma
forma de desprendimento criativo, que origina sim, dessas famosas estratégias de adaptabilidade brasileira, porém
A filosofia dos artistas adeptos à Gambiologia, pensa a tecnologia a partir do seu deslocamento funcional,
valorizando aquilo que ficou obsoleto e reciclando não somente suas peças, mas também seus significados. Ao mesmo
tempo em que eletrodomésticos estragados ganham nova vida, perdem sua função original. Os chamados gambiólogos
questionam o nosso ideal de futuro high tech, a partir da afirmação material de sua obsolescência.
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Ain da estão vivos, Paulo Waisberg, 2010
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16/04/2016 A GAMBIARRA DA CAIXA PRETA, por Gabriela Lima
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Suas obras são objetos produzidos a partir de materiais reciclados, objetos do cotidiano reinventados,
acoplados a sistemas eletrônico-digitais e lixo tecnológico. Assim, essa gambiarra tecnológica consegue com muita
seriedade e também muito humor, articular temas como computação e tecnologia em desuso, opção pelo low tech no
lugar de tecnologias de ponta e também o deslocamento industrial, utilizando aparelhos para finalidades distintas
Assim a gambiologia, tornou-se uma maneira de questionar o acúmulo de tecnologia ao utilizar-se dos restos
da sociedade industrial. Essa arte da precariedade, tem uma visão menos utópica da “natural” evolução tecnológica e
ao utilizar-se das ruínas materiais da sociedade de consumo, refletem em consequência, o fracasso desse modelo de
sociedade. Essa transformação do desperdício critica ética e politicamente o consumismo desenfreado de nossa
sociedade.
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Hoje vivemos um mundo de aparatos eletrônicos como extensão dos nossos próprios corpos, um mundo de
caixas pretas, mas não nos interessa o que acontece ali dentro, ou como foram construídas, desde que funcionem ao
apertarmos o botão, como um milagre. Enquanto que no sentido inverso, Vilém Flusser, em seu célebre texto
Filosofia da Caixa Preta, defende que os artistas deveriam apropriar-se da intenção do aparelho e submetê-lo a sua
própria. A arte consistiria na dominação do programa da máquina e na superação dos limites das suas funções
originais. E é exatamente isso que propõe a Gambiologia ao questionar o determinismo do uso tecnológico e a
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16/04/2016 A GAMBIARRA DA CAIXA PRETA, por Gabriela Lima
suposta autoridade dos fabricantes em determinar os usos possíveis de seus produtos. Para a Gambiologia a afirmação
“isso serve para...” é substituída por “o que mais pode ser feito com isso?”.
Os gambiólogos desarmam as caixas pretas e as reconstroem novamente, exibem, suas conexões, fios e
engrenagens. Entretanto ao subverterem suas funções e principalmente os seus significados, expõem não só seu
BIBLIOGRAFIA:
a-criatividade-que-nos-faz-humanos]
http://www.gambiologos.com/download/catalogo_gambioactivos_web.pdf
[http://www.gambiologos.com/download/catalogo_gambioactivos_web.pdf]
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002
KOZAK, Claudia (Ed.). Tecnopoéticas Argentinas: Archivo blando de arte y tecnologia. Buenos Aires: Ed. Caja Negra,
2012
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