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16/04/2016 A GAMBIARRA DA CAIXA PRETA, por Gabriela Lima

24th July 2013 A GAMBIARRA DA CAIXA PRETA, por Gabriela Lima


        O termo gambiarra é pejorativamente na maioria das vezes, confundido com o “jeitinho brasileiro” e usado para definir

uma forma de improvisação precária do uso de objetos e aparelhos, geralmente por falta de recursos . Nas artes visuais, o

termo estética da gambiarra está ligado a artistas brasileiros que utilizam materiais “pobres”, precários ou ainda o lixo

tecnológico. Todavia, o coletivo Gambiologia surgiu para nos explicar como tudo isso está ligado, na realidade, à uma opção

formal consciente e mais do que isso, a uma postura política.

            A cultura brasileira e dos chamados países de terceiro mundo está mundialmente vinculada à carência de

recursos e acesso restrito à educação. Com isso, em 2003 na Gasworks em Londres foi inaugurada uma exposição com
o seguinte título: "Gambiarra - New Art from Brazil" e os artistas eram: Jarbas Lopes, Efrain Almeida, Marepe, Ducha e
Capacete Entretenimentos. Esses artistas usaram a linguagem da cultura popular do Brasil como fonte de inspiração e
suas obras comentavam sobre os aspectos políticos e sociais do país e suas contradições econômicas e desigualdades
sociais, usando materiais de baixa tecnologia e de uso comum das comunidades brasileiras.

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Jarbas Lopes, O Debate 2002, série de tecidos de campanhas eleitorais em cartazes

            Entretanto, de acordo a crítica de arte Lisette Lagnado, a estética da gambiarra tem um acento político para
além do valor estético e seria um desserviço assemelhar o termo àquela extensão elétrica que não foi instalada dentro

de medidas regulamentares, ou ao pedaço de Bombril posto na antena de TV. A gambiarra, tomada como conceito,
envolveria transgressão ou fraude, mas sem jamais abdicar de uma ordem, uma ordem muito simples. Ainda segundo

Lagnado, a gambiarra teria ecos do Parangolé, pelo fato de abranger toda uma rede de subsistência a partir de uma
economia informal, com soluções de baixo custo e de puro improviso. "Da adversidade vivemos!", conclamava Hélio

Oiticica em 1966. E para ele, "adversidade" não significava apenas "pouquidão", mas também "oposição".

            O fato é que tal falta de acesso a políticas sociais justas, realmente forçou o brasileiro a criar um senso

peculiar de improvisação, cujo resultado atende comumente pelo nome de gambiarra. Em 2008, o trio de artistas de

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Belo Horizonte, Fred Paulino, Lucas Mafra e Paulo Henrique Pessoa ("Ganso") adotou o nome Gambiologia para os seus
trabalhos inspirado na "Ciência da Gambiarra". E assim, em um sentido diverso ao da exposição da Gasworks e bem

mais abrangente, tornaram a Gambiologia em uma ciência do improviso aliada a técnicas eletrônico-digitais, que

surge  para afirmar a gambiarra como postura crítica e atitude política. A gambiarra como uma opção afirmada, é uma

forma de desprendimento criativo,  que origina sim, dessas famosas estratégias de adaptabilidade brasileira, porém

pretende tensionar o status quo da arte em geral  e a lógica do mundo real.

            A filosofia dos artistas adeptos à Gambiologia, pensa a tecnologia a partir do seu deslocamento funcional,
valorizando aquilo que ficou obsoleto e reciclando não somente suas peças, mas também seus significados. Ao mesmo

tempo em que eletrodomésticos estragados ganham nova vida, perdem sua função original. Os chamados gambiólogos

questionam o nosso ideal de futuro high tech, a partir da afirmação material de sua obsolescência.

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Ain da estão vivos, Paulo Waisberg, 2010

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Quadro gambiológico, Lucas Mafra, 2010

                      Suas obras são objetos produzidos a partir de materiais reciclados, objetos do cotidiano reinventados,

acoplados a sistemas eletrônico-digitais e lixo tecnológico. Assim, essa gambiarra tecnológica consegue com muita

seriedade e também muito humor, articular temas como computação e tecnologia em desuso, opção pelo low tech no
lugar de tecnologias de ponta e também o deslocamento industrial, utilizando aparelhos para finalidades distintas

daquelas para qual foram programados.

            Assim a gambiologia, tornou-se uma maneira de questionar o acúmulo de tecnologia ao utilizar-se dos restos

da sociedade industrial. Essa arte da precariedade, tem uma visão menos utópica da “natural” evolução tecnológica e

ao utilizar-se das ruínas materiais da sociedade de consumo, refletem em consequência, o fracasso desse modelo de
sociedade. Essa transformação do desperdício critica ética e politicamente o consumismo desenfreado de nossa

sociedade.
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Colecion ismo psicodélico, Gan so, 2010 

            Hoje vivemos um mundo de aparatos eletrônicos como extensão dos nossos próprios corpos, um mundo de

caixas pretas, mas não nos interessa o que acontece ali dentro, ou como foram construídas, desde que funcionem ao

apertarmos o botão, como um milagre. Enquanto que no sentido inverso, Vilém Flusser, em seu célebre texto

Filosofia da Caixa Preta, defende que os artistas deveriam apropriar-se da intenção do aparelho e submetê-lo a sua

própria. A arte consistiria na dominação do programa da máquina e na superação dos limites das suas funções

originais. E é exatamente isso que propõe a Gambiologia ao questionar o determinismo do uso tecnológico e a

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suposta autoridade dos fabricantes em determinar os usos possíveis de seus produtos. Para a Gambiologia a afirmação

“isso serve para...” é substituída por “o que mais pode ser feito com isso?”.

                      Os gambiólogos desarmam as caixas pretas e as reconstroem novamente, exibem, suas conexões, fios e

engrenagens. Entretanto ao subverterem suas funções e principalmente os seus significados, expõem não só seu

funcionamento interno, mas também o modus operandi nossa própria sociedade.

BIBLIOGRAFIA:

LAGNADO, Lisette. “O malabarista e a gambiarra”. Disponível em http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1693,1.shl


[http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1693,1.shl]
http://www.gambiologos.com/gambiologia-a-criatividade-que-nos-faz-humanos [http://www.gambiologos.com/gambiologia-

a-criatividade-que-nos-faz-humanos]

http://www.gambiologos.com/download/catalogo_gambioactivos_web.pdf

[http://www.gambiologos.com/download/catalogo_gambioactivos_web.pdf]

FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002

KOZAK, Claudia (Ed.). Tecnopoéticas Argentinas: Archivo blando de arte y tecnologia. Buenos Aires: Ed. Caja Negra,
2012

Postado há 24th July 2013 por Juliana Gontijo


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