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ESCOLA DE MÚSICA
NATAL
2009
I
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
NATAL
2009
II
PRISCILA GOMES DE SOUZA
NATAL
2009
III
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN. Biblioteca Pe. Jaime Diniz.
IV
PRISCILA GOMES DE SOUZA
BANCA EXAMINADORA
NATAL
2009
V
Aos meus pais, Daniel e Eunice,
exemplos de vida para mim.
VI
AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Zilmar Rodrigues de Souza, pela orientação e apoio para contar esta
história.
VII
Cantai ao Senhor um cântico novo, tocai bem e com alegria.
Salmos 33.3(Bíblia Sagrada)
VIII
RESUMO
IX
ABSTRACT
The objective of this study is to document the history of the band of the Evangelical
Assembly of God Temple Center in the neighborhood of Rosemary, the city of Natal-
RN (now Philharmonic Gospel Genesis), the oldest evangelical Pentecostal group
instrumental in the city. The band has performed music in the liturgies and other
religious activities of the church, besides standing out as an area of training of young
musicians, representing a significant moment in the history of gospel music in the city
of Natal. However, even in the absence of a documentary record on this issue, we made
a work that aims to investigate and document factors that would show this trend by
establishing a chronological history of the activities of the band date of its creation until
today. It created a documentary record, making use of bylaws, articles, scores, photos,
and testimonials from musicians, magazines, newspapers, information analysis and a
literature inherent in discussions of music and religion. As well as a description of the
practice and reporting aspects of music education in the Assemblies of God Church
Temple Central through the band's music. This work is the end that might contribute
somehow to the academic community and music, evangelicals and others interested in
the subject and specialist publications in the area.
X
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
XI
Figura 23: Recital de Alunos da Escola de Música da IEADERN, 28 de novembro de
2009. ............................................................................................................................... 46
Figura 24: Recital de Alunos da Escola de Música da IEADERN, dezembro de 2008.
Templo Central, Natal/RN (1). ....................................................................................... 47
Figura 25: Recital de Alunos da Escola de Música da IEADERN, dezembro de 2008.
Templo Central, Natal/RN (2). ....................................................................................... 47
Figura 26: Recital de Alunos da Escola de Música da IEADERN, 28 dezembro de 2009.
Templo Central, Natal/RN (3). ....................................................................................... 48
XII
LISTA DE SIGLAS
XIII
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 49
REFERENCIAS ............................................................................................................. 52
XIV
INTRODUÇÃO
15
Este trabalho foi tema também de um projeto de pesquisa cientifica que faz parte
do Grupo de Estudos em Música (GRUMUS), pertencente à Escola de Música da
UFRN, no qual participei como aluna de iniciação científica na graduação.
O trabalho começa no primeiro capítulo fazendo um relato sobre a banda de
música no contexto musical e evangélico, fazendo uma abordagem introdutória,
relatando as mudanças de comportamento ocorridas no meio. Descrevendo a banda
evangélica nas suas várias liturgias e especificidades como hinários, formações diversas,
repertório, sua estrutura, questões relativas ao comportamento, à relação com o contexto
militar, farda, repertório.
Já no segundo capítulo, falaremos do surgimento e contexto da Banda de Música
da Igreja Evangélica Assembléia de Deus do Templo Central, no bairro do Alecrim,
cidade do Natal e a formação dos músicos, repertório, a questão do gênero com a
inserção da mulher, a banda na liturgia da igreja e atividades religiosas.
No terceiro capítulo descreveremos a Orquestra Gênesis entre a tradição e
modernidade, na transição para a formação atual, Orquestra Filarmônica Evangélica
Gênesis (OFEG), e o espaço de iniciação e formação musical. Mostrando o
desenvolvimento musical, os aspectos da prática e do ensino musical, a metodologia, a
origem e a formação dos músicos, a escola de música da igreja, a Orquestra de Alunos
(OFEGAL), as atividades de recital de alunos, repertório, estilos, formação
instrumental.
Fazemos a conclusão retomando os principais focos do trabalho.
16
1 A BANDA DE MÚSICA NO CONTEXTO EVANGÉLICO
1
O termo “evangélico", em alguns países anglo-saxões, se refere à quase todas as doutrinas cristãs protestantes. Na
Alemanha, se refere especificamente aos membros da Igreja Luterana. No Brasil, o termo é utilizado para as correntes
protestantes, sejam, tradicionais, pentecostais e neopentecostais. Muito embora, algumas correntes neopentecostais
não sejam consideradas evangélicas, como por exemplo, a Universal do Reino de Deus.
2
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 27 jan. 2010.
17
Tempos depois, a música na igreja evangélica ganhou espaço nas campanhas de
evangelização ou, como é comum se chamar até hoje no meio evangélico, “cruzadas
evangelísticas”, ou seja, a mobilização de grandes concentrações de pessoas em praças
públicas, objetivando a propagação do Evangelho por meio de pregações e o uso da
música. É importante salientar que, nos Estados Unidos, no inicio do século XX,
dirigentes de cânticos, como Charles M. Alexander, usou pela primeira vez o piano num
culto, o que de certa forma foi bem aceito pela comunidade evangélica. Em certo
sentido, o uso da música e instrumentos, tinha como objetivo, além da sua função
litúrgica, atrair a atenção das pessoas para essas reuniões.
Nas cruzadas evangelísticas cantavam-se geralmente os chamados hinos
evangelísticos, canções que eram adaptadas do folclore americano. Dwight Lyman
Moody (1837-1899) evangelista e editor americano, sempre usava canções em suas
pregações. Seu cantor mais freqüente nas campanhas de evangelização era Ira D.
Sankey (1840-1908), cantor americano que também compunha hinos para as campanhas
de evangelização de Moody. (VICENTINI, 2007, p. 102).
No Brasil, Segundo Souza (2002), a música evangélica, durante o seu processo de
formação, assimilou vários elementos oriundos da música popular, o que a converte
num fenômeno complexo e dinâmico. Mesmo tendo-se uma carência de registros
bibliográficos no que concerne a uma literatura brasileira específica desse fenômeno,
como constatou o autor, o que se verifica é uma produção musical na qual cada uma
dessas denominações (Presbiterianas, Batistas, Metodistas, Assembléias de Deus, dentre
outras) possui peculiaridades litúrgicas e doutrinárias, fundamentados por suas
ideologias e concepções. Essas especificidades acabam por influenciar no modo como
cada uma dessas denominações concebe a música no âmbito litúrgico, com hinários
específicos, formações corais e instrumentais diversas.
Segundo Benjamim (1997, p. 68-69), “a música congregacional evangélica de
igrejas tradicionais nos anos de 1940 e 1950 era acompanhada por órgão, harmônio
(mais comum na região sul do país) ou o piano (região norte-nordeste)”. Nas igrejas
batistas os músicos acompanhantes eram amadores. O fato é que os seminários
teológicos incentivaram à prática musical, inserindo muitas vezes a música em seus
currículos.
Já a Igreja Assembléia de Deus, fundada em 1911, em Belém, Pará, “possue coros
que cantavam em uníssono, pois poucas eram as pessoas que tinham uma formação
18
musical acadêmica ou conservatorial. As bandas marciais foram bastante comuns em
suas igrejas”. (BRAGA, 1960, p. 221).
Essa breve síntese panorâmica acerca da música evangélica, teve por objetivo
oferecer subsídios para uma melhor compreensão dessa temática.
Musicalmente o cenário evangélico passou por significativas transformações. Por
volta de 1950 houve uma acentuada utilização de ‘‘corinhos’’ 3. em ritmo de marcha nas
campanhas evangelísticas. Os corinhos, aos poucos, quebraram a rigidez devocional e
litúrgica existentes nas igrejas, uma vez que já se aceitava o acompanhamento com
palmas, coisa que não era comum no Brasil e instrumentos até então inaceitáveis no
culto (como o violão, guitarra, bateria) por serem considerados profanos pelo meio
evangélico. Anos mais tarde, a partir da década de 1970, as igrejas pentecostais
começam a utilizar, em seus cultos, ritmos nordestinos característicos (como o baião e o
xote, a música sertaneja tradicional e guarânea, entre outros estilos), e na década de
1980, o Rock. (Souza, 2002, p. 87).
3
Corinhos são melodias simples, breves e curtas, repetidas como um refrão, utilizando-se de uma linguagem bastante
coloquial, facilmente memorizáveis e ritmados.
4
Segmento religioso e evangélico cuja estrutura eclesiástica é semelhante hierarquia das patentes militares; uma
espécie de organização religiosa e filantrópica, fundada por William Booth, (1829-1912), cristão metodista
Wesleyano inglês.
5
Culto matutino dominical no qual o objetivo é o ensino e estudo sistemático das doutrinas bíblicas.
19
Já o surgimento da banda de música no contexto evangélico do movimento
pentecostal no Brasil, tendo a Igreja Evangélica Assembléia de Deus, como a sua maior
expressividade, foi organizada oficialmente em 18 de março de 1936 em Belém do Pará.
Cidade aonde dois missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, chegaram em
19 de novembro de 1910. O movimento pentecostal eclodira em 1906 nos Estados
Unidos. Movidos pelo entusiasmo dessa nova crença, Daniel Berg e Gunnar Vingren
fundaram então, no dia 18 de junho de 1911 a Igreja Pentecostal no Brasil, com o nome
provisório de “Missão de Fé Apostólica”, que posteriormente foi oficializado para Igreja
Evangélica Assembléia de Deus, no dia 11 de janeiro de 1918 na cidade de Belém do
Pará.
Nesse contexto, a banda de música da Igreja Assembléia de Deus em Belém do
Pará, surgia participando dos cultos, tocando os hinos do hinário oficial da igreja, a
Harpa Cristã. Segundo registra o
livro História Oficial da Igreja-
Mãe da Assembléia de Deus a
banda foi idealizada pelo Senhor
Trajano, então pastor da igreja e
alguns membros que tocavam
instrumentos musicais. Essas
pessoas se reuniram para ensaiar
sob a regência do senhor José Dias.
Fonte: Livro Oficial da Igreja-Mãe da Assembléia de Deus.
A organização da banda de música
Figura 1: Banda de Música da Assembléia de Deus - Belém (PA) 1936.
da Assembléia de Deus em Belém
do Pará começou a ser pensada a partir de conversas entre dois senhores membros da
igreja, José Maria e Garcia, em 1935, quando viajavam em um bonde na cidade de
Belém do Pará, na ocasião em que liam uma revista sueca, com fotografia de uma
orquestra. Sentiram-se motivados para organizar uma também em Belém. A banda de
música da Assembléia de Deus em Belém do Pará teve um professor de música por
nome Juventino, que não era evangélico, mas que instruía os componentes para que as
músicas ou hinos como denominados pelos evangélicos, fossem executados, segundo
sua visão, com toda a “inspiração divina”.
20
A banda de música de Belém do Pará foi oficializada no
dia 13 de dezembro de 1954, composta por 21 componentes.
Possuía muitos instrumentos de metal e sopro e poucas cordas.
Fazia desfiles pela comunidade, tocando em datas
comemorativas como no dia da Bíblia, todos uniformizados.
(HISTÓRIA Oficial da Igreja-Mãe da Assembléia de Deus no
Brasil, 2001, p.69-70).
Figura 2: Banda de Música da Assembléia de Deus tocando na Praça Gentil Ferreira, no Alecrim.
6
Soldados somos de Jesus / E campeões do bem, da luz; / Nos exércitos de Deus, batalhamos pelos céus, / Cantando,
vamos combater, / O vil pecado e seu poder; / A batalha ganha está; / A vitória Deus nos dá. (Hino 305 da H.C)
7
Lutemos todos contra o mal, / e vamos a Jesus seguir; / Ele é o nosso General, / E a glória do porvir! (Hino 108 da
H.C)
21
Podemos ver isto também em alguns dos hinos da Harpa Cristã, hinário da
Assembléia de Deus. Temas como “batalha”, “combate contra o mal”, “guerreiros” 8,
“alvorada” e “soldado (de cristo)”.
As bandas evangélicas, também, receberam forte influência militar, sobretudo
por parte dos seus maestros e regentes que advinham das forças armadas e que
incorporavam tais características ao grupo; até nos uniformes e fardas usados nas
apresentações, que representava a figura do soldado. A banda de música foi marcada
sempre pela disciplina, horários de ensaio, farda, que era sempre orientada e dito pelos
seus regentes, cabendo ao músico, aceitar e obedecer.
Neste contexto, a banda de música, se apresenta como uma das formações
instrumentais de maior tradição e importância no âmbito de denominações evangélicas
pentecostais como as Assembléias de Deus, sendo utilizada nos cultos e nas cruzadas
evangelísticas. Sendo a banda de música importante canal na propagação da mensagem
pregada pela Assembléia de Deus.
Ainda conforme Braga (1960), a banda de música teve associação direta com a
Igreja Evangélica Assembléia de Deus, sendo portadora de uma tradição que se
associam as denominações pentecostais, principalmente a Assembléia de Deus.
8
Os guerreiros se preparam para a grande luta / é Jesus, o capitão, que avante os levará. / A milícia dos remidos
marcha impoluta; / Certa que a vitória alcancará!. (Hino 212 da H.C).
22
2 A BANDA DE MÚSICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA
DE DEUS DO TEMPLO CENTRAL
9
Disponível em: < http:// http://www.ieadern.org.br/historia/ >. Acesso em: 28 jan. 2010
23
de 1937 tem-se a inauguração do novo templo passando este a se instalar à na Rua
Manoel Miranda nº1425, até hoje endereço sede da IEADERN.
Observam-se por longos períodos indícios de atitudes discriminatórias em relação
aos evangélicos. Já com a banda em vias de consolidação, repercutia muito sua atuação
nas evangelizações, e daí surgiam muitos convites para a banda tocar no interior do
estado. A cidade de Jundiá (RN), segundo relato do ex-componente e atual pastor
Diomédes Jacome, foi a primeira cidade a ser contemplada com uma visita da banda
para tocar numa cerimônia (culto) de aniversário da congregação daquele município, o
que, segundo o citado depoente, muito marcou a vida de todos os integrantes e do
maestro Nelson Bezerril. Fato marcante para o grupo foi ainda o apedrejamento, após
saírem do culto, voltando para Natal às 11h30m da noite, aproximadamente, sofrido por
eles ainda decorrentes da intolerância religiosa vivenciadas no ano de 1949.
24
‘’Mensageiro da Paz’’, até hoje circulando nacionalmente e foi, também, tratado sobre o
ministério e o trabalho da mulheres na igreja.
Nesse contexto de expansão foram criados o Coral Filemon, da igreja em Natal,
no ano de 1935, e um pequeno grupo instrumental que se apresentavam juntos na
liturgia dos cultos, sendo estes dois grupos depois separados. O major Andrade, por esta
ocasião, organizou e criou em 1938 o coral e a orquestra da igreja, que juntos cantavam
e tocavam os hinos. Depoimentos e relatos do ex-componente e ex-regente da banda de
música, o senhor Abinoam Praxedes, ex-componente (1965-1980) e ex-regente (1972-
1973 e 1980-1997), relatam que no ano de 1935, cinco músicos formaram um pequeno
conjunto: Tenente Onel, (violoncelo), o senhor Saraiva (Saxofone), o senhor Nelson
Bezerril (clarinete), Paulo Gonzaga (sax-soprano), e Afrodísio (clarinete).
A Banda de Música da Igreja Evangélica Assembléia de Deus no Rio Grande do
Norte (IEADERN), originou-se da iniciativa de alguns destes músicos, membros da
igreja, entre eles: Nelson Bezerril (clarinete), Manoel Andrade, Paulo Gonzaga (sax-
soprano), Saraiva (bombardino) e Afrodísio (clarinete), no dia 24 de janeiro de 1938.
No dia primeiro de agosto de 1954, o Pastor Nelson Bezerril10 fundava a Banda de
Música da Igreja Evangélica Assembléia de Deus em Natal-RN, com 32 componentes
do sexo masculino.
O Pastor Nelson Bezerril foi um grande incentivador da música na igreja, com
muita dedicação, incentivou o crescimento espiritual, técnico e patrimonial da banda de
música. Chegando a comprar com recursos próprios e mandando trazer de navio todos
os instrumentos musicais da recém-inaugurada banda de música da igreja.
10
Os regentes que sucederam o pastor Nelson Bezerril foram, em ordem cronológica, Mário Rodrigues de Paiva,
Clemenceau Souza Alves Ribeiro, Omar Batista da Silva, Otoniel Sotero, Emanuel Cícero de Lima, Jeremias Pedro
de Souza Neto, Raimundo Matias Diniz, Abinoan Praxedes Marques, Pr. Daniel Batista de Souza, Paulo Henrique
Albino da Silva e Pr. Daniel Batista de Souza novamente.
25
2.2 A FORMAÇÃO DOS MÚSICOS
26
próprio instrumento’’ (uma vez que os instrumentos eram todos da igreja), e, a segunda
era: “a Escola de Música da UFRN é o lugar ideal para se progredir na teoria, no solfejo
e na prática Instrumental”. (Adoniram, 2009).
Da aula de música saíram muitos para o quadro das bandas militares, prefeitura e
para orquestra do Estado. O pastor Nelson Bezerril, primeiro regente e fundador da
banda de música da Igreja Evangélica Assembléia de Deus do Templo Central, tinha a
preocupação em passar os seus conhecimentos musicais de teoria musical e solfejo e
práticas instrumentais de sopro para os membros da igreja para que pudesse se ter e
manter a continuidade do trabalho da banda de música tocando nos cultos e atividades
da igreja.
2.3 REPERTÓRIO
O repertório executado pela banda, dizem respeito aos “hinos da harpa”, hinos
avulsos, marchas religiosa, e dobrados Militar. Parte das partituras eram adquiridas nos
arquivos das Forças Armadas e na Polícia Militar e com bandas de igrejas pertencentes
a outros Estados como Rio de Janeiro, Recife e João Pessoa. Havia também
compositores e arranjadores locais11.
Atualmente, o seu repertório abrange composições sacras tradicionais como Tu és
fiel Senhor, Grandioso és Tu, do repertório erudito são executadas as obras de J.S. Bach
e G. F. Handel, estão ainda incluídos os hinos da Harpa Cristã.
11
Entre esses, destacam se como compositores: Nestor, Clemenceau Ribeiro, Wilson Ribeiro. Os arranjadores: Omar
Batista, Irmão Mário, Irmão Diniz, a minha pessoa, Geremias Pedro, Adoniram Prqxedes, Gilton Duarte, Paulo
Albino, Getro Botelho, Jomessias, e outros que não me recordo. (Abinoam Praxedes)
27
2.4 A QUESTÃO DO GÊNERO: A INSERÇÃO DA MULHER NA BANDA
DE MÚSICA
28
próprio Pastor, descreveu a estrutura da banda, composta por homens e mulheres. Tal
iniciativa foi imediatamente aceita pelo pastor, maestro e demais membros da igreja.
Segundo depoimento do senhor Abinoam Praxedes Marques, ainda no ano de
1974 o pastor Nelson Bezerril vendeu um terreno no bairro de Tirol, em Natal, e com os
recursos construiu o Salão da Banda de Música e comprou cinco clarinetes para atender
essas novas componentes.
29
2.5 A BANDA: LITURGIAS E DEMAIS ATIVIDADES RELIGIOSAS
30
Corroborando com essa afirmação o Sr. Abinoam Praxedes relata:
Figura 8: Banda de Música da Assembléia de Deus desfilando nas ruas da Zona Norte de
Natal, 1982.
31
3 ORQUESTRA FILARMÔNICA EVANGÉLICA GÊNESIS (OFEG)
32
ritmos não muito aceitos no nosso meio tais como bossa nova e samba.
Foi duro para os irmãos antigos ouvirem o hino 39 [da Harpa Cristã],
muito cantado na Santa Ceia do Senhor, em ritmo de samba. Os
músicos gostavam muito, e eu na visão de segurar os músicos na igreja
eram quem "pagava o pato", tendo que dar explicações aos amados
irmãos da igreja e do ministério. (PRAXEDES, 2009).
33
Fonte: acervo particular do Sr. Daniel Batista
Figura 10: Orquestra Gênesis – 1998, Natal/RN. Aniversário do 44º ano de Fundação.
34
No ano de 1997 foram iniciadas as primeiras turmas de práticas de instrumentos
de cordas, madeiras, metais, flauta doce, canto, teclado, violão, teoria musical módulo 1
e 2. Os professores pioneiros em instrumentos de cordas foram os seguintes: Quefrem
Lemoel Mendonça (Violino), Priscila Gomes de Souza (Violoncelo), Wallace Albino da
Silva (Viola) e Willames Costa da Silva (Contra Baixo)12.
12
Todos alunos da Escola de Música da UFRN. Willames Costa da Silva é atualmente professor
substituto da EMUFRN.
35
Fonte: acervo particular do Sr. Daniel Batista
Considere-se ainda nesse contexto de mudanças, que mais uma vez encontrou-se
resistências às novas propostas sonoras. Num meio onde a tradição se perpetua as
mudanças, não são vistas com bons olhos, uma vez que trata-se de mudanças
comportamentais, na formação instrumental e repertório.
Figura 13: Nova formação com a inclusão de instrumentos de cordas e do novo nome:
Orquestra Filarmônica Evangélica Gênesis – agosto de 2000. Aniversário do 46º
aniversário de fundação.
36
3.3 OFEG: ATUAÇÃO, PERFIL E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
A OFEG tem por objetivo principal a participação na liturgia dos cultos, com
repertório próprio (hoje arranjado por seus próprios componentes), acompanhando
também os cânticos congregacionais, cantores e demais grupos. No ano de 2003 a
OFEG realiza seu primeiro registro fonográfico, gravado no auditório Onofre Lopes da
Escola de Música da UFRN.
37
A OFEG é composta de músicos membros da nossa igreja, de diversas faixas
etárias e ocupações. Alguns músicos se profissionalizaram e hoje integram as bandas
militares do nosso país e alguns fazem parte da Orquestra Sinfônica do Estado do Rio
Grande do Norte, Bandas Militares. A sua atual formação é dividida entre os seguintes
naipes: cordas (Violino, Viola, Violoncelo e Baixo acústico), madeiras (Flauta e
Clarinete), saxofones (soprano, alto, tenor e barítono), metais (Trompa, Trompete e
Trombone) e base (Bateria, baixo elétrico e teclado).
38
Nasci na cidade de São Paulo (SP) em um lar evangélico. Meus pais, avós, tios e
primos, tiveram uma educação cristã evangélica e grande parte da minha família teve
um grande envolvimento com música na igreja, em corais, bandas, conjuntos
instrumentais. Meus pais desde os seus onze anos começaram a estudar e frequentar as
aulas de música ensinadas na igreja e tocaram na banda de música.
Posteriormente ainda na juventude, meu pai, pastor, com formação musical e
eclesiástica, assumiu a regência do coral e da orquestra da igreja, isto proporcionou a
mim e as minhas irmãs, desde muito cedo poder acompanhar e participar de várias
atividades e trabalhos musicais na liturgia dos cultos na igreja Assembléia de Deus em
São Paulo.
Ainda criança, participei de conjuntos infantis. Tudo isto foi um estímulo para que
despertasse em mim o interesse em estudar e aprender música e tocar um instrumento. E
incentivado pelo prazer de participar de um grupo, pelo puro prazer de estar
participando de uma atividade musical na igreja ainda criança freqüentei as aulas de
teoria musical e solfejo dado pelo meu pai nos cursos de música da igreja.
Com o tempo, já na universidade, descobri que este estímulo para música advindo
da igreja, não estava restrito somente a minha experiência. Observei o caso de vários
artistas, celebridades, de fama nacional e internacional que começaram cantando ou
tocando em suas igrejas. Como também constatei nos depoimentos colhidos, relatos que
situam a igreja evangélica como grande incentivadora da prática musical. Essa
impressão foi reforçada em conversas informais com colegas da universidade e
professores, ocasiões em que destacavam que tinham se iniciado musicalmente na
igreja. Nesse sentido, destaco o depoimento do Sr. Abinoam Praxedes Marques:
Entrei para aula de música na IEADERN em 1965 e no final do ano iniciei a tocar na
Banda. Meus irmãos mais velhos já tocavam na banda e continuavam estudando música
na Igreja com os Maestros da época [...]. Eu cantava no coral infantil, regido pelo
Missionário Edson Alves e participava da dramaturgia do Natal, isto já me dava um
bom convívio musical, que é peculiar às crianças que participam na Igreja, findam se
beneficiando com um bom desenvolvimento de suas potencialidades, entre as quais eu
destaco o enfrentar de um público, fazer uso da Palavra no Púlpito da Igreja, isto é uma
oportunidade rara na sociedade. (PRAXEDES, 2009).
39
participação em ensaios, cultos, reuniões, escola dominical, batismo, festas e
aniversários. Nesse sentido, apresento agora aspectos gerais relacionados ao ensino da
música desenvolvido no âmbito da OFEG.
Havia vários conjuntos (em uníssono) de hinos populares, havia a banda de música
(modelo militar), e o coral, também havia Coral da Mocidade, e quartetos tanto
masculino e misto. Depois surgiu uma banda infantil de percussão e flauta doce, que
forneceu futuros músicos para nossa Banda. A Banda mantinha uma escola de música
gratuita, pois, os que a procuravam eram em sua maioria pessoas carentes. Em sua
maioria a origem e a formação dos músicos da banda de música eram de nossa própria
aula de música. Alguns militares passavam tempos por aqui. (PRAXEDES, 2009).
40
Fonte: acervo particular do Sr. Daniel Batista
41
concursos e passam nas bandas militares, orquestra sinfônica, e
continuam também atuando na igreja sem perder o objetivo
principal dos primeiros conhecimentos musicais. (SOUZA,
2009).
42
utilização do espaço para ministrar as aulas de teoria e prática de instrumentos musicais.
As aulas de teoria musical são ministradas aos sábados no período matutino na
ESTEADEB. As aulas práticas de instrumentos são ministradas nas salas de aula do
DEMAD no Templo Central.
São oferecidas aulas duas vezes por ano de teoria musical, regência, canto, violão,
teclado, bateria, guitarra, violino, viola, violoncelo, baixo, flauta transversal, clarinete,
saxofone, trompete, trombone, tuba, trompa. Cada professor é voluntário não tendo
nenhum vinculo empregatício com a IEADERN. O aluno é avaliado conforme sua
participação e desempenho nas atividades propostas: testes e avaliação formal de
aprendizagem. A metodologia utilizada são aulas expositivas, exercícios dirigidos,
pratica de conjunto na OFEGAL. Quanto aos conteúdos é a teoria inicial da música:
notas musicais, valores, claves, compassos, escalas, tonalidades, dinâmicas, etc.
43
com 60 vagas no total. As aulas aconteciam nas dependências da Escola Teológica da
Assembléia de Deus do Brasil – ESTEADEB, com duração de nove meses e duas horas
de aula, uma vez por semana, o que aconteceu todos os sábados. Todos os alunos
pagavam uma taxa simbólica para a aquisição do material didático e pagamento dos
professores.
44
ao final do ano para a OFEG. Sendo um celeiro na formação de muitos novos músicos
na nossa igreja.
45
Desde o ano de 1997 e até 2009 já freqüentaram o Curso Básico de Teoria
Musical aproximadamente 2000 alunos. Destes 80% continuaram, ingressaram nas
práticas de instrumentos musicais, prática básica de canto ou prática básica de regência.
Destes 80%, aproximadamente equivalente a 1600 alunos. Dos 1600 alunos 40%
escolheram prática básica de canto ou regência equivalente a 640 alunos. Do total 1600
alunos, 60% escolheram prática de instrumentos equivalente a 640 alunos. Destes 640
alunos, 30% escolheram prática de violão, 15% prática de violino, 5% prática de
teclado, e 10% os demais instrumentos. Ficou constatado em depoimento que a procura
pela prática de canto e regência se deve ao fato do aluno não precisar comprar seu
instrumento e também a prática de canto atende as necessidades almejadas para compor
os conjuntos vocais da igreja assim como cantar com a congregação na liturgia do culto.
46
A prática do violino é muito procurada pelos alunos da Escola de Música da
IEADERN, verificamos que o valor do instrumento, a prática de ensino da professora e
do professor de violino
são fundamentais nesta
escolha.
De todo modo a
maior demanda ainda é
por tocar instrumentos de
sopro pelo desejo de
prestar concurso para
bandas militares,
atentando para o fato que
Fonte: acervo particular do Sr. Daniel Batista o maior objetivo deles
Figura 24: Recital de Alunos da Escola de Música da IEADERN, estarem aprendendo a
dezembro de 2008. Templo Central, Natal/RN (1).
prática musical é servir
voluntariamente na Igreja, tocando na OFEG (Orquestra Filarmônica Evangélica
Gênesis). A senhora Eunice observa que um número expressivo de dezenas de alunos ao
longo desses 12 anos de escola de música que ingressaram e hoje fazem parte tocando
nas bandas militares do exército, aeronáutica, da policia militar, banda sinfônica da
prefeitura, orquestra sinfônica do estado.
47
Fonte: acervo particular do Sr. Daniel Batista
Figura 26: Recital de Alunos da Escola de Música da IEADERN, dezembro de 2008. Templo
Central, Natal/RN (3).
48
CONCLUSÃO
13
“Os evangélicos dão o tom”. Revista Veja (06/06/2007).
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Prelúdio feito com 2 a 3 hinos pela OFEG ou outro grupo antes de começar o culto.Oração de abertura do culto; 2.
Três hinos congregacionais (Harpa Cristã) acompanhados pela OFEG, com toda a igreja cantando; um hino pelo
Coral Filemom; um hino pelo Conjunto Vitória, 1hino pelo Conjunto Betel, 1hino pelo Coral Jovem Rosa de Sarom
na maioria acompanhado pela OFEG, Avisos das atividades da igreja e apresentações de visitantes, Leitura da Bíblia
com toda a igreja, Oração pelo recolhimento das ofertas, Ofertório, neste momento o pastor designa quem cantará ou
tocará durante o recolhimento das ofertas e dízimos voluntários, Pregação da Palavra, que dura uns 20 a 25 minutos,
1hino congregacional (Harpa Cristã) acompanhado pela OFEG com toda a igreja, Oração Final, Benção Apostólica
dada pelo pastor.
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acompanhamentos dos hinos nos cultos e a participação em grupos vocais, corais. O que
se enfoca mais neste sentido é em curto espaço de tempo preparar o músico para tocar,
com isso o pouco conhecimento de teoria musical e solfejo só vai ser buscado depois
num plano secundário.
O crescimento de bandas e orquestras nas igrejas evangélicas coincidem com o
bom momento no mercado de trabalho para músicos eruditos. Na orquestra sinfônica do
Estado de São Paulo (OSESP), uma das mais conceituadas do país, trinta e cinco por
cento dos músicos brasileiros são evangélicos15.
Muitas oportunidades se abriram no mercado, muitos músicos evangélicos,
formados em boas escolas voltam para lecionar nas igrejas onde aprenderam com isto
ajudam a formar novos e melhores músicos e com isto a qualidade do ensino musical
nas igrejas tem melhorado e crescido mais também a procura.
Por meio deste trabalho monográfico concluímos que, a banda de música no
contexto evangélico, ao ser inserido nas cerimônias religiosas, mobiliza e aglutina
sentimentos coletivos. Sendo a banda de música considerada um fenômeno cultural e
não somente musical, pois no geral, no contexto não evangélico, ela exerce no meio em
que atua funções de natureza comunitária e pedagógica, além de ser um espaço propício
a preservação do patrimônio cultural. Afirmamos, portanto, sendo o mais antigo grupo
instrumental evangélico pentecostal da cidade, sua importância histórica no contexto
que extrapola esse segmento religioso.
Verificamos que um dos papéis mais importantes para a criação da banda de
música foi a suas atividades nas evangelizações na capital e nas cidades do interior do
RN, onde era muito requisitada para acompanhar os pastores nas aberturas e
inaugurações de templos no interior do estado e com também em aberturas de
congregações nos bairros da capital.
Conforme observamos ao longo desta trajetória a banda de música tem atuado na
liturgia e atividades da igreja, exercendo uma intensa atividade no acompanhamento dos
hinos congregacionais e demais atividades litúrgicas.
Observamos ainda que o ensino de música na igreja tem como objetivo principal
preparar em curto prazo de tempo músicos para as atividades da liturgia da igreja.
A banda de música se destacou como um espaço de formação de novos músicos
da Assembléia de Deus no estado do RN. A banda como instituição social agrupa
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pessoas de diferentes faixas etárias, grupos sociais e sua relação com a comunidade
evangélica é de incentivar a participação de todos os membros no uso da música nos
cultos sendo cantando ou tocando.
Concluímos que na liturgia dos cultos e atividades da Igreja Evangélica
Assembléia de Deus há uma intensa participação de seus membros envolvidos em canto
, tanto congregacional ou em grupos vocais e também instrumentais ,despertando neles
o desejo de aprimorar a música sacra (música gospel)..Sendo assim os primeiros
conhecimentos musicais é dado na própria Igreja através do incentivo do ensino de
Música, ministrado por membros que tem uma capacitação musical.
Sendo depois os membros indo para escolas especializadas de música para
aperfeiçoar seus conhecimentos, o que observamos foi um grande numero de pessoas
que saíram da igreja para estudar música e se profissionalizar. Alguns são profissionais
e integrantes hoje de bandas militares do estado, orquestra sinfônica do estado,
professores na universidade. Sendo a reflexão sobre a prática e o ensino de música na
igreja um tema que deverá ser ampliado nos próximos trabalhos numa pós-graduação.
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REFERENCIAS
BAGGIO, Sandro. A revolução na música gospel no Brasil. São Paulo: Êxodos, 1997.
BLANCHARD, John et. al. Rock in... Igreja?! São Paulo: Fiel, 1986.
GELINEAU, Joseph S.J. Canto e Música no culto cristão. Traduzido por Maria Luiza
Jardim de Amarante. Rio de Janeiro: Vozes, 1968.
KEITH, Edmond D. Hinódia Cristã. Tradução de Nennie May Oliver. Rio de Janeiro:
Casa Pub. Batista, 1987.
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MARIANO, Ricardo. Análise sociológica do crescimento pentecostal no Brasil. São
Paulo. Tese (doutorado em sociologia) – Departamento de Sociologia da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2001.
SOUZA, Eunice Gomes dos Santos de. Eunice Gomes dos Santos de Souza:
coordenadora pedagógica dos cursos de música do Departamento de Música do Templo
Central em Natal e componente da Orquestra Filarmônica Evangélica Gênesis,
depoimento [ mai. de 2009]. Entrevistador: Priscila Gomes de Souza. Natal, RN, 2009.
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